COMO EU VEJO A A.N.E. (27/4/2000)
Acadêmico Pe. Pedro Magalhães Guimarães Ferreira S.J.
Empossado em maio de 1999, sou, portanto, um novato na Academia Nacional de
Engenharia. Solicitado a apresentar minha visão da A.N.E. nesta “home page” da nossa
Academia, quero, antes de mais nada, afirmar minha identidade com os seus objetivos .
Creio que, nos seus oito pontos, eles englobam tudo o que uma Academia Nacional de
Engenharia deve ser.
Consequentemente, o que se segue são considerações nesta linha, enfatizando pontos que
ocorrem a alguém que, durante toda vida profissional labutou no ensino e pesquisa de
ciências de engenharia numa Universidade, sendo atualmente também o Vice-Reitor da
mesma.
Quando se olha o panorama das organizações de engenheiros no país, verificamos que há
um grande número de “Sociedades” de Engenharia, nas suas diversas especialidades: SBT,
SBMO, SBA, ABCM, para citar apenas algumas poucas. Todas elas desempenham papel
importante, organizando Congressos e Simpósios especializados, alguns de escopo
internacional, editando periódicos, alguns gozando de boa ou mesmo excelente reputação
nacional e internacional. As Sociedades de Engenharia, algumas mais voltadas para as
Ciências de Engenharia e outras mais orientadas para a Engenharia propriamente dita,
desempenham papel importantíssimo na nossa sociedade, importância que não precisa ser
enfatizada. Mas seja observado que não existe uma “Sociedade Brasileira de Engenharia”
ou “Sociedade Nacional de Engenharia”.
E isto ocorre também em outros países. Nos Estados Unidos, por exemplo, existem
Sociedades e Associações para as diversas especialidades da engenharia, IEEE, ASME,
AIChE, etc..., mas não existe uma “Sociedade de Engenheiros” ou “Associação de
Engenheiros”.
Entende-se porque: nas Sociedades e Associações de profissionais, os requisitos de entrada
costumam ser mínimos, a idéia sendo precisamente de congregar o maior número de
associados naquela especialidade. Freqüentemente, principalmente nos países do “primeiro
mundo”, nomeadamente os Estados Unidos, existem nas Associações graus do tipo
“senior” e “follow”, aos quais são convidados os membros mais ilustres. É neste contexto
de excelência que se insere o conceito de uma Academia Nacional de Engenharia. Seria
pretensioso, provavelmente, referir-se aos seus membros como os de fato melhores do país.
Mesmo porque não parece que seria exequível catalogar “os melhores” engenheiros do
país, tantos são os critérios e perfís existentes. Mas a posição de destaque dos acadêmicos
no cenário da engenharia do país é certamente uma necessidade ineludível.
As academias costumam ser também grupos de “seniores”, não somente no seu sentido
derivado, de excelência, como já mencionado acima, mas também no seu sentido original,
de idade. Efetivamente, a excelência e a experiência não se obtêem, a não ser em casos
atípicos, em pouco tempo, resultando, pelo contrário, de esforço aturado por longos anos.
Tomas Edison, um dos maiores gênios inventivos da história da humanidade, dizia que
“genius is 99% perspiration and 1% inspiration”.
Em função destas características da Academia Nacional de Engenharia podemos então
explicitar um pouco melhor seus objetivos.
Quer-me parecer que a Academia Nacional de Engenharia não precisa ser tímida quanto ao
seu valor e, consequentemente, deve-se apresentar à sociedade como, o que ela de fato é,
um grupo de engenheiros certamente bem qualificado, seus membros tendo larga
experiência, “seniores” nos dois sentidos antes mencionados.
Consequência disto também é que a Academia deve procurar dar sua contribuição para
problemas que sejam realmente complexos, multi-disciplinares. A solução de um problema
de engenharia não é, meramente, quase nunca, o resultado de um algoritmo matemático,
pois envolve quase sempre aspectos políticos, estéticos, éticos, etc... além, claro, do aspecto
econômico. E é no julgamento desta complexidade de aspectos que a experiência vale. A
Academia se encontra, portanto, em situação impar pela “senioridade” dos seus membros, a
prestar colaboração de grande valor, colaboração que se fará tanto mais necessária, quanto
mais complexos forem os problemas.
Nossa Academia é ainda jovem, com menos de 10 anos e, por isto mesmo, pouco conhecida
pela sociedade.
Creio que se faz necessário um esforço especial nos seus inícios para se tornar conhecida,
não como um grupo “condecorado”, mas como uma verdadeira Academia de Engenharia
que mostre competência na contribuição para a solução de problemas complexos.
Por outro lado, a solução de problemas complexos sempre envolve a competência e o
talento de engenheiros mais jovens e eventualmente mais familiarizados com modernas
ferramentas, especialmente as computacionais. Neste sentido, em boa hora têm sido
convidados engenheiros “associados” à Academia.
Apesar de jovem, nossa Academia já começa a “aparecer” no cenário nacional. Todos
esperamos e temos certeza de que ela se tornará mais e mais uma referência obrigatória,
sempre que se tratar de equacionar e solucionar os grandes problemas de engenharia do
nosso país.
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COMO EU VEJO A A.N.E. (27/4/2000) Acadêmico Pe. Pedro