CARACTERIZAÇÃO DE PASTAGEM DE BRACHIARIA
DECUMBENS NA ZONA DA MATA DE PERNAMBUCO*
CHARACTERIZATION OF BRACHIARIA DECUMBENS PASTURES IN THE COASTAL
REGION OF PERNAMBUCO
Cavalcanti Filho, L.F.M.1, M.V.F. Santos2#, M.A. Ferreira2#, M.A. Lira#, E.C. Modesto2,
J.C.B. Dubeux Jr.2#, R.L.C. Ferreira2# e M.J. Silva2
Instituto Agronômico de Pernambuco. IPA. Av. Gal. San. Martin. 1371 Bonji. Caixa Postal 1022. CEP 50761000. Recife. Pernambuco. Brasil. [email protected]
2
Universidade Federal Rural de Pernambuco. UFRPE. Av. Dom Manoel de Medeiros s/n. Bairro Dois Irmãos.
CEP 52171-900. Recife-PE. Brasil. [email protected]; [email protected]; [email protected];
[email protected]; [email protected]
#
Bolsista do CNPq.
1
PALAVRAS CHAVE ADICIONAIS
ADDITIONAL KEYWORDS
Extrusa. Florística. Pastejo.
Extrusa. Floristic. Grazing.
RESUMO
O experimento foi conduzido na Estação Experimental de Itambé-PE, pertencente à Empresa
Pernambucana de Pesquisa Agropecuária-IPA,
tendo como objetivo caracterizar uma pastagem
de Brachiaria decumbens submetida a lotação
contínua. A composição botânica da pastagem foi
determinada pelo método do peso seco escalonado e da massa de forragem. Foram utilizados três
métodos diferentes (corte do pasto rente ao solo,
pastejo simulado e animal esôfago-fistulado). Na
composição botânica foram identificadas 10
famílias, 24 gêneros e 28 espécies. Independente
do período de avaliação, a B. decumbens foi o
componente de maior participação e ervas e
arbustos o de menor. Evidenciou-se redução na
massa de forragem e altura média do pasto,
passando de 5731,5 a 3766,0 kg de MS/ha e de
25,75 a 10,03 cm do início para o final do período
de avaliação, respectivamente. O pasto apresentou
valores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB),
fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) de 46,9; 6,3; 78,3 e 45,1%,
respectivamente. Já a extrusa e o pastejo simulado apresentaram, respectivamente, teores médios
de 19,4 e 9,7; 75,0% e 40,4%; 25,8 e 11,7%; 65,9
*Parte da dissertação do primeiro autor, acordo
IPA UFRPE.
Recibido: 19-10-06. Aceptado: 17-4-07.
e 34,6% para MS, PB, FDN e FDA. O pasto
apresentou altas proporções de caule e material
morto, porém, os animais selecionaram uma dieta
rica em folhas.
SUMMARY
The experiment was carried out at Itambé
Experimental Station from IPA, and aimed to
characterize a Brachiaria decumbens pasture
under continuous stocking. Botanical composition
was determined using the dry weight rank method
and herbage mass. Nutritive value was estimated
by three different methods: herbage sample
harvested at ground level simulated grazing, and
samples collected by esophageal fistulated animals.
Pasture botanical composition included 10 families,
24 genus, and 28 species. Regardless of the
evaluated period, Brachiaria decumbens was the
major component of the pasture; herbs and shrubs
had minimal participation in the botanical
composition. Herbage mass and sward height
decreased with grazing, from 5731.5 to 3766.0 kg
DM/ha and from 25.75 to 10.03 cm from the
beginning to the end of the evaluation period,
respectively. Herbage availability presented average values of 46.9 %; 6.3 %; 78.3 % and 45.1%
for concentration of DM, CP, NDF, and ADF,
Arch. Zootec. 57 (220): 391-402. 2008.
CAVALCANTI FILHO ET AL.
respectively. Extrusa and simulated grazing
presented average values of 19.4 and 9.7%; 75.0
and 40.4%; 25.8 and 11.7%; 65.9 and 34.6% for
DM, CP, NDF, and ADF, respectively. Herbage
presented high proportion of stem and dead material, however, the grazing animals presented
high proportion of leaves in their diet.
INTRODUÇÃO
A Zona-da-Mata de Pernambuco possui
predominantemente cultivo da cana-deaçúcar. No entanto, a pecuária ocupa lugar
de destaque, pois, além da proximidade do
mercado consumidor, fatores como precipitação pluvial, temperatura e luminosidade
são bastante favoráveis ao cultivo de plantas, apesar da baixa fertilidade natural do
solo. As pastagens também constituem uma
alternativa ecologicamente correta do uso
do solo, pois se bem manejadas, propiciam
cobertura vegetal e proteção desses solos
de topografia acidentada.
Apesar da Zona-da-Mata apresentar
pluviosidade satisfatória para a manutenção
de várias gramíneas, com elevado potencial
forrageiro, durante a estação seca, a
disponibilidade e a qualidade da forragem
diminuem bastante, prejudicando principalmente os animais em crescimento, cuja
exigência é bastante elevada. De acordo
com Nascimenio Júnior et al. (1994), o manejo da pastagem visa obter equilíbrio entre o
rendimento e a qualidade da forragem
produzida, com resultados satisfatórios tanto em desempenho como em produtividade.
Assim, o conhecimento das inter-relações
dos componentes envolvidos é de vital
importância no controle e na manipulação
dos sistemas de pastejo. Lopes et al. (2000)
relatam que avaliações freqüentes na
pastagem e ajustes na taxa de lotação são
necessários para se obter um manejo
adequado de forrageiras para determinada
exploração. Assim, estas avaliações podem
ser feitas de diferentes formas, mas o método utilizado deverá principalmente representar a realidade da vegetação, sem
contudo, se tornar excessivamente trabalhoso e dispendioso.
Pedreira (2002) afirmou que independente do objetivo da avaliação, algumas
respostas são imprescindíveis e sua
quantificação, seja nos ensaios de corte ou
nos de pastejo, devem ser feitas de maneira
criteriosa para que valores precisos possam
ser auferidos. Segundo o autor, do ponto de
vista quantitativo, talvez a variável-resposta
mais importante a ser quantificada seja a
massa de forragem.
O gênero Brachiaria, representado principalmente pelas espécies B. brizantha, B.
decumbens e B. humidicola, é responsável
por cerca de 80% de toda a área de pastagens
cultivadas no Brasil (Hodgson e Silva, 2002).
A facilidade na aquisição de sementes de
boa qualidade, boa tolerância a solos de
baixa fertilidade, rápido estabelecimento,
alta competição com plantas invasoras e
boa eficiência na proteção do solo contra a
erosão contribuíram para a rápida disseminação dessas espécies.
Segundo Goedert et al. (1988), a B.
decumbens pode alcançar uma produtividade anual entre 5 a 12 t/ha de matéria
seca. Com relação ao valor nutritivo, Gomes
Júnior et al. (2001a) avaliaram a composição
químico-bromatológica da B. decumbens sob
pastejo em Felixlândia- MG, e observaram
que a mudança da estação chuvosa para
seca implicou em maturação do capimbraquiária, com redução dos carboidratos
solúveis e aumento da fração não-degradável da parede celular, acarretando perda
de digestibilidade. Observaram também um
reflexo semelhante sobre o teor protéico,
gerando nível global deficitário de proteína,
agravado pela elevação concomitante da
fração indisponível dos compostos nitrogenados.
Assim, este trabalho teve como objetivos caracterizar quantitativamente e qualitativamente pastagem de B. decumbens,
submetida a lotação continua, durante diferentes meses na Zona da Mata de Pernambuco.
Archivos de zootecnia vol. 57, núm. 220, p. 392.
CARACTERIZAÇÃO DE PASTAGEM DE BRACHIARIA DECUMBENS
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado na Estação
Experimental da Empresa Pernambucana de
Pesquisa Agropecuária - IPA, ltambé - PE,
numa área de pastagem de 7,7 ha formada
predominantemente por Brachiaria decumbens, no período de 11 de maio de 2001 a 21
de novembro de 2002.
Este município encontra-se na microregião fisiográfica da Zona da Mata Norte
do Estado de Pernambuco. A precipitação
média anual é de aproximadamente 1300 mm,
com temperatura média anual em torno de
26°C (Vieira, 2000). Os solos da região são
classificados de acordo com Jacomine et al.
(1972).
Os dados médios da precipitação pluvial
durante o período de execução do experimento foram obtidos na Estação Meteorológica do IPA, Itambé, PE. As precipitações
pluviais ocorridas durante o período experimental apresentaram grandes variações. O
total de chuvas foi de 559,6 mm, sendo que
o maior percentual (38,07%) foi observado
nos meses de novembro e junho de 2001.
Foram utilizados 18 novilhos 5/8 Holandês/Zebu, provenientes do programa de
melhoramento genético animal do IPA,
tendo esses animais, no início do experimento, média de 20 meses de idade e 267,33
kg de peso vivo (PV). Os animais utilizaram
pastagem de Brachiaria decumbens, Stapf
continuamente, tendo acesso a sal mineralizado e água a vontade. Os animais foram
submetidos a um sistema de pastejo extensivo com uma carga animal de 1,7 UA/ha.
A estimativa da composição botânica,
massa de forragem, altura média, proporção
relativa das frações da planta e composição
químico-bromatológica foram realizadas a
cada 28 dias, totalizando sete avaliações.
A estimativa da massa de forragem foi
obtida através do método do rendimento
comparativo (Haydock e Shaw, 1975),
enquanto que os dados para estimar a
composição botânica da pastagem foram
obtidos utilizando-se a metodologia do peso
seco ordenado, descrita por t'Mannetje e
Haydock (1963), posteriormente melhorada
por Jones e Hargreaves (1979). Para o
processamento dos dados foi empregado o
programa computacional BOTANAL (Hargreaves e Kerr, 1978).
A área experimental foi dividida em
quatro transectos paralelos imaginários, no
sentido do maior comprimento, ao longo
dos quais foram realizadas estimativas visuais em 50 pontos por transecto, distanciados um do outro de 5 m aproximadamente.
A avaliação quanto à composição
botânica da pastagem foi realizada nos
mesmos pontos amostrados para a massa
de forragem, utilizando-se o método de peso
seco ordenado. Exemplares das espécies
encontradas na área experimental e identificadas pelo nome vulgar regional. Uma vez
acondicionados em campo, os exemplares
foram conduzidos para o Herbário da Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária-IPA, em Recife, PE, e classificadas de
acordo com Cronquist (1981).
Após a realização das amostragens, foi
efetuado, o corte rente ao solo da forragem
contida nos quadrados-padrões. Foi realizado a pré-secagem em estufa de circulação
forçada de ar a 65°C, durante 48 horas,
pesadas e registradas para obtenção da
equação de regressão. Posteriormente, o
material foi enviado para o Laboratório de
Nutrição Animal - UFRPE, para realização
das análises química-bromatológicas.
As espécies encontradas na pastagem
foram agrupadas em quatro componentes
de maior ocorrência na vegetação: 1Brachiaria decumbens, 2- Leguminosas, 3Outras gramíneas e 4- Ervas e arbustos.
Utilizou-se toda vegetação contida em
15 quadrados de 20 x 20 cm, distribuídos ao
acaso na área experimental. Nessa amostra,
procederam-se à separação manual das
frações folha, caule e material senescente
(Stobbs, 1973). O material referente a cada
fração da planta foi pesado verde e
novamente após présecagem.
Para amostrar a composição químico-
Archivos de zootecnia vol. 57, núm. 220, p. 393.
CAVALCANTI FILHO ET AL.
bromatológica do pasto foram utilizados
três métodos, corte rente ao solo, pastejo
simulado e animal esôfago-fistulado. O animal utilizado para a coleta da extrusa foi um
bovino Girolando, fistulado no esôfago,
conforme técnica descrita por Bishop e
Froset (1970). O animal teve acesso à área
experimental por três dias consecutivos, em
cada período, recolhido no final da tarde e
solto na manhã seguinte para a coleta de
extrusa. Este animal era colocado em pastejo
por, aproximadamente, 40 minutos (Goes et
al., 2001; Gomes Júnior et al., 2001b) e em
seguida contido para coleta das amostras.
Estas amostras eram acondicionadas em
gelo durante o transporte até o Laboratório
de Nutrição Animal - UFRPE. As amostras
foram divididas em duas partes, uma para
determinação da proporção relativa das
frações da planta na dieta (folha, caule e
material senescente) e a outra foi seca a
65°C durante 72 horas, moída em moinho
com peneira de 1 mm e armazenadas visando
posterior análise química-bromatológica e
determinação da digestibilidade in situ da
MS.
No primeiro dia da entrada do animal
fistulado foram coletadas amostras obtidas
pelo método do pastejo simulado (Oliveira
et al., 2001). A obtenção dessas amostras
eram realizada após um período prévio de
observação do comportamento de pastejo
dos animais, manualmente, objetivando
obter uma porção da planta similar àquela
selecionada pelos animais. Foram coletados
aproximadamente 500 g de material, sendo
em seguida seco a 65ºC, durante 48 horas.
Todas as análises química-bromatológicas foram realizadas no Laboratório
de Nutrição Animal - UFRPE, segundo
metodologia descrita por Silva e Queiroz
(2002), para determinação da matéria seca
(MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente
ácido (FDA).
O método utilizado para análise da composição botânica do material ingerido foi o
do ponto microscópico (Harker et al., 1964).
As amostras de extrusa, por dia e por
período, após descongelamento, foram prensadas manualmente para retirada do excesso
de saliva. Posteriormente, tomaram-se cerca de 400 g de material da dieta referente a
cada dia por período. A leitura para cada
amostra foi de 400 pontos. O material observado era classificado como folha, caule ou
material senescente.
No delineamento experimental foram
considerados na análise de variância os três
métodos de amostragem, as épocas de
amostragem, em esquema fatorial 3 x 6. Os
dados foram analisados através do programa estatístico SAS (2001) e avaliados por
meio de análise de variância com desdobramento da interação, quando significativa. O teste de comparação de médias utilizado foi o de Tukey ao nível de 5% de
probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observou-se grande diversidade de
famílias compondo a pastagem, com
identificação de 10 famílias, 24 gêneros e 28
espécies (tabela I). As famílias com maior
número de espécies identificadas foram
Gramíneas e Leguminosas.
Destaca-se a presença de espécies
pioneiras no processo de sucessão e
espécies típicas de Mata Atlântica, tais como
Pau de Lagarto e Espinheiro. A presença
dessas espécies indica o retorno natural da
vegetação anteriormente existente na área e
a necessidade de um manejo mais adequado,
para que não ocorra uma diminuição da
espécie cultivada.
Como esperado, a B. decumbens foi a
espécie mais freqüente na área variando de
98,5% em julho e setembro a 96,4% em agosto (tabela II). Estes resultados evidenciam
que apesar da presença de espécies invasoras (tabela I), a pastagem encontrava-se em
bom estado de conservação, mostrando
assim boa persistência e adaptabilidade ao
manejo adotado. Por outro lado, é importante um manejo adequado da pastagem, para
Archivos de zootecnia vol. 57, núm. 220, p. 394.
CARACTERIZAÇÃO DE PASTAGEM DE BRACHIARIA DECUMBENS
que as espécies invasoras não tenham
oportunidade de proliferarem. Segundo
Nascimento Jr. et al. (1994), a pastagem se
encontra numa condição ótima de manutenção quando a participação da espécie
introduzida foi superior a 85%.
Dando suporte aos resultados obtidos,
Lucena et al. (2002), trabalhando em
pastagem de B. decumbens pastejada por
novilhas, encontraram valores semelhantes
aos observados neste trabalho, obtendo
uma participação média da B. decumbens
variando de 94% a 91%, nos meses de
fevereiro a maio de 2001, respectivamente.
Os autores observaram também baixas
participações dos componentes leguminosas, outras gramíneas e ervas e arbustos na
composição botânica da pastagem.
Apesar de ter sido observado um grande
número de espécies de leguminosas na área
(tabela I), possivelmente em decorrência da
agressividade da B. decumbens, esse componente apresentou baixo percentual de
participação na composição botânica da
pastagem (tabela II).
A massa de forragem da espécie predominante (B. decumbens) sofreu redução ao
longo do período experimental, passando
de 5625,4 kg de MS/ha em maio para 3701,1
kg de MS/ha em novembro (tabela III).
Tabela I. Espécies botânicas presentes na área de pastagem de Brachiaria decumbens,
Itambé-PE. (Species present in Brachiaria decumbens pasture in Itambé-PE).
Família
Espécie
Nome vulgar
Asteraceae
Asteraceae
Asteraceae
Byttneriaceae
Cyperaceae
Cyperaceae
Flacourtiaceae
Gramineae
Gramineae
Gramineae
Gramineae
Gramineae
Legurninosae
Legurninosae
Leguminosae
Leguminosae
Leguminosae
Leguminosae
Legurninosae
Leguminosae
Legurninosae
Legurninosae
Malvaceae
Malvaceae
Malvaceae
Scrophulariaceae
Smilacaceae
Solanaceae
Ageratuni conyzoides L.
Vernonia brasiliana (L.) Druce
Vernonia cinerea (L.) Less.
Walteria indica L.
Rynciospora ciliata (VahI) KUK
Cyperus distans L.
Casearioa sylvestris SW
Brachiaria decumbens Stapf
Sporobolus indicus (L.) R.
Eleusine indica (L.) R.
Paspalum maritimum Trin.
Brachiaria humidicola (Rendle) Schweickt
Crotalaria retusa L.
Desmodium incanum (SW.) DC
Indigofera hirsuta L.
Calopogonium mucunoides Dcsv.
Tephrosia cinerea Pers.
Machaerium aculeatum Raddi
Schrankia leptocarpa DC.
Stylosanthes capitada Vogel.
Stylosanthes viscosa SW
Macropitilium sp.
Sida linifolia Cav.
Sida spinosa L.
Sida acuta Burm.
Scoparia dulcis L.
Smilax brasiliensis Spreng
Solanum paniculatum L.
Não determinado
Não determinado
Não determinado
Malva branca
Branquinha
Capim junco
Pau de lagarto
Braquiária
Capim luca
Capim-pé-de-galinha
Capim gengibre
Braquiária humidicola
Xique-Xique
Amor de vaqueiro
Anil
Calopogônio
Anil bravo
Espinheiro
Malícia
Estilosantes
Vassourinha
Vassoura
Malva
Malva
Não determinado
Não determinado
Não determinado
Jurubeba
Archivos de zootecnia vol. 57, núm. 220, p. 395.
CAVALCANTI FILHO ET AL.
Tabela II. Composição botânica da pastagem (%) de Brachiaria decumbens sob pastejo, em
diferentes períodos de avaliação, Itambé- PE. (Pasture botanical composition (%) of Brachiaria
decumbens under grazing in different periods of assessment, Itambé-PE).
Componentes
Maio
Junho
Julho
B. decumbens
Leguminosas
Outras gramíneas
Ervas e arbustos
98,2
0,4
1,3
0,1
97,8
1,3
0,5
0,4
98,5
0,6
0,6
0,3
Provavelmente, essa redução deve estar
associada ao elevado consumo e efeito dos
fatores climáticos, ao fato de que esta gramínea é amplamente selecionada pelo animal, devido a características como palatabilidade e tolerância ao pisoteio (Matos,
1985).
A produção de matéria seca de uma
espécie é dependente da sua adaptação aos
fatores de meio e do manejo aplicado. A
resposta das plantas ao pastejo varia de
acordo com a espécie e é dependente da
localização do ponto de crescimento, da
área foliar residual, das substâncias de reserva e da ocorrência de fatores de estresse.
Nem todas as espécies estão sujeitas à
mesma resposta ao pastejo, apresentando,
dessa forma, crescimento e produção de
forragem diferenciados.
Os resultados observados para a massa
total de forragem no presente trabalho foram
semelhantes aos obtidos em trabalhos ante-
Avaliações
Agosto Setembro
96,4
2,2
0,8
0,6
98,5
1,4
0,1
0,0
Outubro Novembro
97,0
2,1
0,6
0,3
98,3
0,3
0,7
0,7
riores realizados com B. decumbens na
mesma estação experimental. Lucena et al.
(2002) observaram uma variação de 4494 kg
de MS/ha em fevereiro a 1920kg de MS/ha
em maio de 2001. Entretanto, Llamoca Zárate
(1992) e Dubeux Júnior et al. (1997),
encontraram uma massa de forragem média
anual de 4250 e 6550 kg de MS/ha, respectivamente.
A proporção de folhas e de matéria seca
verde diminuiu ao final do período experimental, aumentando a proporção de material seco (tabela IV). Dubeux Júnior et al.
(1997) observaram que não houve associação entre o ganho de peso diário e a massa
de forragem. No entanto, a disponibilidade
de forragem verde apresentou correlação
positiva significativa com o ganho de peso
vivo diário.
Observou-se uma redução na altura
média do pasto ao longo dos períodos
amostrados, o que provavelmente está
Tabela III. Massa de forragem (kg de MS/ha) de pastagem de Brachiaria decumbens sob
pastejo, em diferentes períodos de avaliação, Itambé-PE.(Herbage mass (kg of DM/ha) of
Brachiaria decumbens under grazing in different periods of assessment, Itambé-PE).
Componentes
B. decumbens
Leguminosas
Outras gramíneas
Ervas e arbustos
Total
Maio
Junho
Julho
5625,4
30,3
73,8
2,0
5731,5
5017,3
61,8
31,2
19,2
5129,5
4123,1
26,0
28,3
9,6
4187,0
Archivos de zootecnia vol. 57, núm. 220, p. 396.
Avaliações
Agosto Setembro
4182
55,3
102,4
41,8
4381,5
3694,7
52,5
4,4
3,0
3754,6
Outubro Novembro
3898,2
82,2
22,4
10,6
4013,4
3701,1
14,8
24,0
26,1
3766,0
CARACTERIZAÇÃO DE PASTAGEM DE BRACHIARIA DECUMBENS
Tabela IV. Disponibilidade (kg de MS/ha) das frações folha, caule e material senescente (ms)
em pastagem de Brachiaria decumbens sob pastejo, em diferentes períodos de avaliação,
Itambé-PE. (Availability (kg of MS/ha) of leaf, stem and senescent material (ms) in Brachiaria
decumbens pastures under grazing, in different periods of evaluation, Itambé-PE).
Avaliações
Folha
Caule
Folha+Caule
ms
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
1100,28
621,03
825,24
1121,73
652,96
535,30
282,51
904,68
768,75
832,57
1179,06
933,86
602,07
478,75
2004,97
1389,78
1657,81
2300,80
1586,82
1137,36
761,27
3620,43
3627,52
2465,29
1881,21
2107,88
2760,84
2939,83
associado ao consumo animal. O menor e
maior valor obtidos (10,03 e 25,75 cm), em
novembro e maio, respectivamente, estão
acima dos 7 cm recomendados por McClymont (1974) para pastagens densas, e dentro dos limites mínimos de 10 a 20 cm mencionados por Stobbs (1973), para que ocorra
maior facilidade de apreensão do bocado e
maior seletividade. Dessa forma, observase que a altura do pasto não limitou o consumo e conseqüentemente o desempenho dos
animais durante o período experimental.
Foram observados efeitos significativos para métodos de amostragem, períodos
de coleta e sua interação para os teores
médios de MS, PB, FDN e FDA (tabela V).
Houve diferença significativa (p<0,05),
exceto para os teores de FDA, entre os
meses de coleta. Essa diferença, bem como
as diferenças (p<0,05) observadas entre os
meses de coleta na MS e PB do pasto e FDA
da extrusa, deve estar associada ao pastejo
dos animais e às condições climáticas do
local, que afetaram o estádio fenológico das
plantas.
A porcentagem de MS da extrusa em
todos os períodos de coleta, foi semelhante
à observada no pastejo simulado e inferior
(p<0,05) à porcentagem de MS do pasto, o
que se deve, além da seletividade animal, à
presença da saliva na extrusa, umedecendo
a ingesta. Os teores médios de MS obtidos
neste trabalho foram diferentes dos obser-
vados em trabalhos realizados em pastagem
de B. decumbens Detmann et al. (1999),
estudando os métodos pastejo simulado e
extrusa, MG, observaram 27,78% e 12,64%
de MS, respectivamente. Vieira (2000),
avaliando a seletividade de bovinos em
Itambé, PE encontrou durante o período
chuvoso um teor médio de 18,3% de MS na
pastagem. Todavia, Gomes Júnior et al.
(2001a), avaliaram a qualidade de amostras
obtidas pelos métodos do corte da pastagem,
pastejo simulado e extrusa, e encontraram,
respectivamente, teores médios de 48,73%,
46,44% e 14,03% de MS.
A superioridade do conteúdo protéico
da extrusa em relação ao pasto (p<0,05)
confirma a capacidade de seleção dos bovinos em piquetes com alta massa de forragem
(tabela III), fazendo com que o teor de PB da
forragem ingerida seja superior aquela
amostrada no pasto. Tal superioridade
deveu-se em parte a incorporação de
nitrogênio à amostra de extrusa, em virtude
de uréia e mucinas (Lima et al., 1998) contidas
naturalmente na saliva de ruminantes e à
preferência por folhas demonstrada pelos
animais durante o pastejo. Provavelmente,
os animais, além de selecionarem folhas em
relação ao caule, fizeram uma seleção dentro
do dossel foliar, preferindo folhas novas às
mais velhas. Assim, a maior participação de
folhas na dieta e o elevado conteúdo
protéico dessas, em relação à planta inteira,
Archivos de zootecnia vol. 57, núm. 220, p. 397.
CAVALCANTI FILHO ET AL.
Tabela V. Teores médios de matéria seca (MS), proteína bruta (PB) fibra em detergente
neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) determinados em amostras de corte rente
ao solo (Pasto), extrusa (EXT) e pastejo simulado (PS) expressos em porcentagem na MS de
pastagem de Brachiaria decumbens em diferentes períodos de coleta, Itambé-PE. (Average
concentration of dry matter (MS), crude protein (PB), neutral (FDN), and acid (FDA) detergent fiber in
samples obtained cutting at ground level (pasture), extrusa of esophageal phistulated animals (EXT) and
simulated grazing (PS) in Brachiaria decumbens pasture in different periods of evaluation, Itambé-PE;
samples are expressed as percentage of MS).
Meses
Pasto
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
CV (%)
51,8aB
32,6aB
39,8aB
40,5aB
44,9aB
73,9aA
Meses
Pasto
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
CV (%)
80,1aA
79,8aA
77,1aA
78,3aA
76,2aA
78,2aA
MS (%)
EXT
18,0bA
20,1bA
20,2bA
16,1bA
19,8bA
22,1bA
19,7
PS
Pasto
24,3bA
21,6abA
23,3bA
25,5bA
22,7bA
37,2bA
5,1bBC
5,3bBC
7,6bAB
6,6bABC
8,7bA
4,3bC
PS
Pasto
72,3bA
67,1bA
66,1bA
67,0cA
58,0bA
65,1bA
46,8aA
46,6aA
44,6aA
42,9aA
43,4aA
46,0aA
FDN (%)
EXT
77,8aA
76,0aA
77,2aA
72,5bA
74,9aA
71,4bA
2,98
PB (%)
EXT
10,3aA
10,5aA
9,2abA
10,1aA
9,7abA
8,3aA
14,20
FDA (%)
EXT
42,7bA
41,4b AB
42,7aA
40,9aAB
38,0bBC
36,8bBC
3,84
PS
9,6aA
11,8aA
12,3aA
11,6aA
13,8aA
11,2aA
PS
31,6cA
35,6cA
37,5bA
34,3bA
29,3cA
39,2bAB
Médias seguidas pelo menos de uma mesma letra minúscula na linha e maiúscula na coluna, não diferem
(p<0,05), pelo teste F.
contribuíram para esse fato.
Os resultados obtidos neste trabalho
para os teores médios de PB dos métodos
pastejo simulado e extrusa foram próximos
aos obtidos por Detmann et al. (1999), de
9,78 e 9,93% de PB, respectivamente; e superiores aos encontrados por Gomes Júnior
et al. (2001a), que encontraram, teores
médios de 3,96% e 6,76% de PB , respectivamente. Com relação ao pasto, os teores
médios de PB obtidos em alguns meses
(junho, julho, setembro e novembro), podem
ser considerados baixos do ponto de vista
nutricional, já que, segundo Minson e
Milford (1967), os ruminantes precisam de,
no mínimo, 7,0% de PB para que possam
alcançar níveis de consumo e digestibilidade
suficientes para sua manutenção.
Para os teores de fibra, as diferenças
encontradas entre pasto e extrusa foram
menos evidentes. Diante da preferência
animal por folhas em vez de caule, e material
verde em vez de material senescente, a
diferença entre a dieta e a pasto não foi
substancial. O avanço do estado fenológico
das espécies e a elevada disponibilidade de
caule e material senescente na pastagem
(tabela IV), possivelmente, limitaram a
seletividade por plantas e partes menos
fibrosas, contribuindo para elevar o
conteúdo de fibra da dieta, tornando mais
estreitas as diferenças entre a dieta e o
Archivos de zootecnia vol. 57, núm. 220, p. 398.
CARACTERIZAÇÃO DE PASTAGEM DE BRACHIARIA DECUMBENS
pasto. Outro fato que pode ter contribuído
é que embora as folhas e o material verde
tenham sido os principais constituintes da
dieta, ocorreu a presença de material
senescente, que mesmo em baixos porcentuais, provavelmente, contribuiu para elevar o conteúdo de fibra da dieta.
Torregroza Sanchez et al. (1993)
explicaram que ocorre uma recuperação incompleta do material coletado pelos animais,
ou seja, o que fica na bolsa de coleta são as
partes mais fibrosas da ingesta, continuando no esôfago aquelas mais mastigadas e
menos fibrosas, bem como a lixiviação dos
carboidratos solúveis, que passam com a
saliva através dos orifícios de drenagem
das bolsas coletoras. Diante do exposto,
deve-se considerar que, provavelmente, o
conteúdo de fibra da dieta dos animais, no
presente trabalho tende a ser superestimada.
Os teores de fibra em detergente neutro,
em todos os períodos e métodos de
amostragem, atingiram valores acima de
60%, o que pode ter limitado o consumo dos
animais. Mertens (1994) afirma que o teor de
FDN é um fator limitante para o consumo
voluntário. Para Van Soest (1994), o consumo é inversamente relacionado ao teor de
fibra em detergente neutro em dietas que
contenham acima de 60% de FDN.
Os resultados obtidos para os teores de
FDN pelos métodos pastejo simulado e
extrusa foram próximos aos obtidos por
Detmann et al. (1999), de 65,57% e 71,72%,
respectivamente. Gomes Jr. et al. (2001b),
estudando a parede celular da B. decumbens,
encontraram, de dezembro de 1997 a outubro
de 1998, valores para o pastejo simulado
que variaram de 70,98% a 80,48% de FDN.
Para amostras obtidas pelo corte do pasto.
Estes resultados concordam com os obtidos
por Gomes Júnior et al. (200la), que
observaram diferença entre os três métodos
com médias de 48,23%, 41,66% e 42,82% de
FDA para o pasto, pastejo simulado e
extrusa, respectivamente.
Os teores de fibra em detergente ácido,
em todos os períodos e métodos de
amostragem, atingiram valores acima de
30%, o que pode ter limitado o consumo dos
animais. Segundo Noller et al. (1996),
forragem com valores de FDA abaixo de
30% são consumidas em altos níveis,
enquanto aquelas com FDA acima desse
nível serão consumidas em baixos níveis.
Segundo Paulino et al. (2001), a atitude
dos bovinos em pastejo por selecionar dieta
com a mais alta qualidade possível é uma
manifestação da estratégia para otimizar o
balanço nutricional. Em conseqüência e
como resultado da preferência manifestada
em pastejo, a dieta, é geralmente, de maior
digestibilidade, maior conteúdo de proteína
e menor conteúdo de parede celular que o
pasto oferecido. Neste contexto, a literatura
é unânime em afirmar que, independente da
espécie selecionada, o melhor valor nutritivo da dieta, em relação à pastagem, deve-se
à nítida preferência dos animais por folhas.
Observou-se que mesmo num pasto que
apresentou altas proporções de material
senescente, os animais selecionaram uma
dieta muito rica em folhas durante todo
período experimental (figura 1). Vale
ressaltar que mesmo nos últimos dias de
pastejo (novembro), onde a proporção de
folhas no pasto era muito baixa, menos de
10%, os animais selecionaram cerca de 63%
de folhas, confirmando assim, que os animais
pastejam seletivamente, mesmo em condições onde a quantidade de folhas na
pastagem é limitante.
Os resultados observados no presente
trabalho concordam com os resultados de
Chacon e Stobbs (1976), em pastagem de B.
decumbens observaram que os animais
selecionaram 90% de folhas no inicio do
experimento e 56% no final do experimento.
Neste sentido, Euclides et al. (1992),
trabalhando em pastagem de capimbraquiária, observaram que os bovinos,
durante o período seco, selecionaram folhas
em nível 10,5 vezes maior que sua disponibilidade total na pastagem. Segundo Van
Soest (1994), o maior consumo de folhas em
relação ao caule, é atribuído a mais rápida
Archivos de zootecnia vol. 57, núm. 220, p. 399.
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Folha
Caule
ms
Mai.
Jun.
Jul.
Ago.
Set.
Out.
Participação na Pastagem (% )
Participação na Pastagem (% )
CAVALCANTI FILHO ET AL.
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Folha
Caule
ms
Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov.
Nov.
Avaliações
Avaliações
Figura 1. Proporção relativa das frações folha, caule e material senescente (ms) em pastagem
e na dieta de Brachiaria decumbens sobre pastejo, conforme os períodos de avaliação, ItambéPE. (Relative proportion of leaf, stem, and senescent material (ms) of the pasture and of the diet in
Brachiaria decumbens pasture under grazing, for different evaluation periods, Itambé-PE).
digestão e ao menor tempo de retenção no
rúmen, bem como à maior acessibilidade e
facilidade de apreensão. Por outro lado, os
fatores que atuam condicionando a seletividade, além de complexos, são vários e,
de certa forma interagem entre si. Dentro
dessa interação, possivelmente, há os
fatores que exercem influência direta e os
que exercem influência indireta no comportamento seletivo dos animais. Apesar disso,
a preferência dos animais por folhas é
nutricionalmente vantajosa, devido ao fato
de que, geralmente, as folhas são as mais
ricas em proteína bruta, apresentam teor
mais baixo de fibra e, conseqüentemente,
digestibilidade mais elevada em relação ao
caule e à planta inteira.
A pastagem apresentou altas proporções
de caule e material morto, porém os animais
selecionaram uma dieta rica em folhas.
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Archivos de zootecnia vol. 57, núm. 220, p. 402.
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caracterização de pastagem de brachiaria decumbens na zona da