Sustentabilidade, mais uma vez Ou, como diriam os italianos, ancora una volta. Apesar de a palavra ser usada em todo o lugar, o que implica seu natural desgaste, a impressão é que as pessoas não entenderam a questão essencial da Sustentabilidade. Podemos abordá‐la de várias formas. 1. Sustentabilidade = Sobrevivência Neste sentido, a Sustentabilidade é intrínseca à vida. Todo ser vivo luta pela Sobrevivência da sua espécie, para que seus descendentes continuem a existir mesmo depois que ele morra. Esta Sobrevivência depende também de outros fatores, já que não estamos sós. Estamos inseridos num ecossistema, que, por sua vez, está inserido na Biosfera (leia‐se: Planeta Terra). 2. Sustentabilidade = Ética Já que não vivemos sozinhos, desde os primórdios da civilização ‐ para que ela mesma sobrevivesse ‐ o ser humano teve que estabelecer regras de convívio. Basicamente: não faça com o outro aquilo que você não quer que façam com você. 3. Sustentabilidade = Espiritualidade A última fase do desenvolvimento humano é a busca pela transcendência. Para quem já conseguiu garantir a sobrevivência, sua e de sua prole, e estabeleceu um modo de convívio mínimo com seus semelhantes, este é o próximo passo. Alguns chamam de Religião, outros de Arte. P.: O que o Design de Interiores tem a ver com isto? R.: Tudo. 4. Sobrevivência + Ética + Espiritualidade A abordagem mais primordial de qualquer espaço projetado ao ser humano é a garantia do abrigo, metáfora para satisfação das necessidades fisiológicas básicas de todos nós. Portanto: luz, ventilação, mínimo conforto higrotérmico (temperatura e umidade) e segurança. Esta é a mais básica função da arquitetura. No entanto, parece que muita gente – digo: os responsáveis pelos projetos ‐ andou se esquecendo disto. Ou delegaram a outros: engenheiros, consultores, etc. A questão Sustentabilidade simplesmente ajudou a lembra‐los desta sua responsabilidade inerente. E isto nos remete à questão Ética. Como cidadãos, habitantes do Sistema Fechado Terra (onde o único elemento externo é a energia proveniente do Sol, e todo o resto é finito, metamorfoseando‐se em ciclos), nós temos responsabilidades, dentre elas aquelas que dizem respeito à atividade profissional. O setor construção civil, englobando aí tudo que se relaciona com a modificação do espaço no planeta, tem, exatamente por isto, um impacto gigante no funcionamento deste último. Grosso modo: metade de toda a sua água, energia e recursos materiais passa, direta ou indiretamente, pela cadeia da construção civil. Assim, todas as decisões, em todas as instâncias do nosso trabalho como projetistas, impactam, mais ou menos, o meio ambiente. No momento que desenvolvemos o layout do mobiliário, posicionando‐o em relação às aberturas (janelas), à orientação do edifício, ou quando escolhemos os acabamentos, ou as peças sanitárias, estamos definindo a medida de sustentabilidade do ambiente, estejamos conscientes disto ou não. Saber quanta energia consome uma determinada lâmpada; qual o desempenho térmico e acústico de determinado caixilho; qual a vazão de determinada ducha; de onde vem a matéria prima usada em determinada cerâmica, e que impactos são gerados desde a sua origem até o seu descarte, quanta energia foi utilizada para a sua fabricação e quanta energia será gasta para sua reciclagem. E também como tudo isto vai impactar a saúde dos usuários, tanto a física como a psicológica. Isto tudo nos diz respeito. Talvez esteja sendo utópico. Talvez nunca tenhamos, de forma precisa, todas estas informações. No entanto, esta minha atitude é consciente. E remete a Espiritualidade. Seja ela entendida com for. O que nos move? Que força faz com que levantemos, trabalhemos todo o dia, já que um dia vamos morrer mesmo, o ser humano não estará aqui para sempre e o universo vai acabar? Eu chamo isto de Espiritualidade. Mas poderia chamar de Sobrevivência. *Paulo Pascotto, da Susplan Projetos Sustentáveis é Arquiteto LEED AP. [email protected] www.susplan.com.br