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1 DE NOVEMBRO
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Opinião
Mais uma vez Reuni
Cláudio Thomás Bornstein*
A discussão acerca do Reuni é difícil. Se
por um lado existe uma série de críticas que
se pode fazer à universidade atual, dentre
elas, a falta de inserção dentro da sociedade
onde ela se situa e que lhe paga as contas,
por outro lado, a solução proposta pelo
governo através do Reuni não é fácil de
aceitar.
Existe ainda uma outra dificuldade. O
reitor, Aloisio, evidentemente é favorável ao
Reuni, pois o que é o PRE senão uma versão
do Reuni? Ora, o Aloisio, para muitos,
representa o grande suspiro de alívio dos
tempos pós-vilhenianos. Se de um lado
cabem críticas pela forma açodada em que
estão sendo conduzidas as discussões sobre
o PRE/Reuni por outro lado cabe tomar
cuidado para não desgastar excessivamente
uma gestão que tem sido democrática.
Tempos difíceis estes em que se é obrigado
a ficar entre o sim e o não, em que se é
obrigado a abandonar o maniqueísmo
simplista e simplificador que tanto facilita a
nossa vida. Em que o não a uma universidade
encastelada na torre do saber, sempre à
procura de longínquas terras estrangeiras, não
representa automaticamente o sim a um
projeto míope e imediatista de conquista de
popularidade.
Neste espaço, tão pequeno para abordar
questão tão complexa, quero analisar só um
argumento que tem sido freqüentemente
utilizado para defender o Reuni/PRE: a
elitização da universidade atual.
Elite, segundo o Houaiss vem do latim
eligere, escolher. Escolher significa
selecionar. Selecionar os mais aptos? Estas
palavras, em função do contexto social em
que nos encontramos, estão de tal forma
associadas a sentimentos e emoções que é
difícil uma análise serena (propositalmente
não digo neutra, pois isto não existe).
Permitam-me a heresia ou, se preferirem, o
politicamente incorreto, mas não consigo ver
nada errado na atividade de selecionar. Errado
é o que vem depois da seleção: uns vão para
o lixo, outros para o luxo.
Não me parece haver nada errado na
expressão os mais aptos desde que ela não
seja utilizada num sentido absoluto. Mais apto
significa (ou deveria significar) sempre mais
apto para determinada coisa ou tarefa. E mais
apto para uma tarefa A costuma significar
menos apto para uma tarefa B, na medida
em que não existem (a exceção confirma a
regra) pessoas aptas a realizar todo tipo de
tarefa. O erro está em que à tarefa A associase o luxo e à tarefa B, o lixo, e aí, mais apto
para a tarefa A passa a ser mais apto, pura e
simplesmente.
Como resolver este problema? Os
apologistas da livre iniciativa propõem, como
sempre, o mercado como panacéia universal.
Será que é dentro deste contexto que se
explica o Reuni? Inunda-se o mercado com
universitários, na esperança que o seu valor
caia, e que diminuam as diferenças entre
quem faz A e quem faz B? Será que se espera
desta maneira enxugar o mercado de pessoas
sem diploma, para assim aumentar o seu
valor? Com o devido respeito, parece-me um
pensamento um tanto elaborado para a nossa
realidade. Ademais, duvido que funcione. Se
caem os salários dos universitários será que
automaticamente aumentam os salários dos
peões? Não será muito mais provável caírem
os salários dos universitários e continuarem
baixos os salários dos peões? Quem seria o
grande beneficiado com esta última situação?
Na verdade a conjetura acima é pura
quimera, retórica pura.A universidade pública
há muito não tem mais o peso na economia
nacional necessário para provocar tais abalos.
A realidade é muito mais prosaica se bem
que talvez seja ainda o mercado, além do
populismo, a dar uma explicação plausível
para o Reuni.A popularização da universidade
pública, onde hoje está concentrado o ensino
universitário de qualidade, vai provocar a
debandada geral dos alunos provenientes da
classe média que passam a correr para a
universidade privada que já os espera de
braços abertos, sequiosos das polpudas
anuidades que vão poder cobrar de quem tem
os recursos para pagá-las.
Nada contra a popularização. Nada contra
a fuga da classe média. Mas será que
atendendo a alunos mal formados, provenientes de uma escola pública que se
deteriora ano após ano há pelo menos 30 anos,
a universidade pública poderá ainda assim
manter a mesma qualidade de ensino? E quem
será o grande beneficiado com esta queda de
qualidade?
Quem acredita que a popularização da
universidade vai provocar a derrocada dos
encastelados esquece-se que o povo
invadindo o castelo não necessariamente
expulsa os senhores de suas torres de marfim.
Há muito que estes não mais recebem os seus
suprimentos por terra e para é que existem os
helicópteros? Guantánamo prova que é
perfeitamente possível um território
sobreviver cercado de hostes inimigas.
Quem acha que a popularização da
universidade necessariamente vai baixar a
vista da nossa elite pensante para a nossa
realidade, esquece-se de duas coisas. A
primeira foi mencionada no parágrafo
anterior. A segunda é que é puro preconceito
achar que a solução dos problemas nacionais
requer mão-de-obra menos qualificada. Pelo
contrário, questões novas vão requerer
soluções originais, sem as muletas da
pesquisa dita internacional e isto há de exigir
criatividade e inventividade.
Se o povo não tem acesso à universidade
não é por fatores genéticos. Não consigo ver
a relação dos genes com a conta bancária.
Se o povo não tem acesso à universidade é
por causa da formação que é ruim. Logo há
que melhorar a formação e não piorar a
universidade. É simples assim. Pode ser caro,
mas é simples. Não se corrige um erro com
outro pior ainda.
*Professor da Coppe
Anote
Socialismo em pauta no Fórum
Meio Ambiente e comunicação
Creche da UFRJ
O Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ abrigará o
ciclo de discussões “A Atualidade do Socialismo e
as Lições da História - A propósito dos 90 anos da
Revolução Russa e dos 140 anos de O capital”. O
evento, promovido pelo programa de Pósgraduação em Serviço Social, ocorrerá nos dias 12
e 13 de novembro, no Salão Pedro Calmon. A
atividade conta com o apoio da ESS, do
Laboratório de Estudos Marxistas José Ricardo
Tauile, do Laboratório de Economia Política da
Saúde e do Centro de Filosofia e Ciências
Humanas. Entrada gratuita.
O Programa de Educação Tutorial da Escola de
Comunicação da UFRJ (PET-ECO) vai realizar de 6 a
8 de novembro de 2007 a Semana Nacional de
Comunicação Ambiental. O evento contará com mesas
ministradas, das 9h às 12h, por acadêmicos, ativistas
e profissionais vinculados a temas e projetos
específicos de áreas ligadas à temática ambiental nas
suas variadas formas, com foco na comunicação
social. O encontro ocorrerá no Salão Moniz de Aragão
do Fórum de Ciência e Cultura e na Central de
Produção Multimídia da ECO. Inscrições gratuitas em
www.eco.ufrj.br/semanaambiental.
A Escola de Educação Infantil da UFRJ abre vagas para o ano
letivo de 2008. São 28 vagas e podem concorrer crianças entre 4
meses e 5 anos e 11 meses. Pais, mães ou responsáveis legais
que sejam servidores ativos da UFRJ têm a possibilidade de
efetuar a inscrição de seus filhos, e as vagas serão preenchidas
por meio de sorteio público. O formulário de requerimento de
inscrição deverá ser obtido na Escola de Educação Infantil –
Prédio do IPPMG – campus Fundão, ou nas páginas da PR4
(www.pr4.ufrj.br), da EEI-UFRJ (www.eei.ufrj.br). A inscrição
deverá ser feita entre os dias 05 a 14 de novembro de 2007, no
horário de 10h às 16h, na Escola de Educação Infantil – Prédio do
IPPMG – Fundão.
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