3 de novembro
2009
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www.adufrj.org.br
Movimento
“O Reuni é uma bomba-relógio”
Movimentos da UFRJ
criticam Plano Diretor e
a expansão precarizada
Um dia antes de o Conselho Universitário discutir a proposta final da reitoria para o
Plano Diretor 2020, professores e estudantes
realizaram um Assembléia Comunitária sobre o tema no auditório do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), no campus
da Praia Vermelha. A Assembleia foi convocada pelas entidades representativas AdufrjSSind, Diretório Central dos Estudantes, Associação de Pós-Graduandos e pela decania
do Centro de Filosofia e Ciências Humanas.
Durante as intervenções, a estudante
Clara Saraiva, da Faculdade de Educação,
destacou que o projeto do Plano Diretor não
considera a descisão dos cursos da Praia Vermelha que não desejam a transferência para
o campus do Fundão. Com exceção da Faculdade de Educação e da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis (FACC),
todas as outras unidades optaram pela permanência no local. A estudante lembrou
ainda que, caso a reitoria insista na mudança para o Fundão, estaria rompendo com a
resolução 09/07 do Consuni, que preserva a
autonomia de decisão de cada curso.
Os presentes à Assembleia Comunitária
criticaram também a situação precária em
que se encontram os campi da UFRJ de Macaé, no norte do estado, e de Xerém: “Em
Macaé, os alunos dos três cursos, Medicina,
Enfermagem e Nutrição, têm aula na mesma
sala, juntos, com os mesmos professores, o
mesmo currículo. E as matérias são muito
generalistas como, por exemplo, Biologia da
Educação”, destacou Clara Saraiva. Em Xerém, a situação seria ainda pior: “Lá, os alunos não têm sala de aula. Eles têm aula numa
espécie de campo de futebol, todos juntos”,
afirmou a estudante.
O diretor da Adufrij-SSind e professor da
FE, Roberto Leher, enfatizou que as políticas
do Reuni denotam um processo de empresariamento educacional: “O PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação) pressupõe “todos pela educação”. “Todos pela educação” é,
na verdade, todos os empresários pela educação. E não é por acaso que o Reuni, essa reestruturação, parte dessa matriz”, denunciou.
O diretor questionou também a criação
de bacharelados interdisciplinares. Segundo
Leher, essa ideia representa a construção de
cursos altamente generalizantes, nas áreas de
saúde, humanas e tecnológicas que estariam
disponíveis a uma massa de estudantes. Entretanto, o acesso às graduações realmente profissionais que, de fato, preparam para o mercado de trabalho, continuaria restrito apenas
a uma minoria: “Fatiar os cursos dessa forma
diferencia quem vai fazer pesquisa e quem só
vai fazer um curso técnico”, completou.
Uma das principais críticas dos segmen-
Resenha
Deborah Urbach
Deputados envolvidos
com a Cutrale
Quatro deputados federais que assinaram o requerimento favorável à criação
da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) contra o MST receberam
doações da Sucocítrico Cutrale, empresa
que monopoliza o mercado de laranjas no
Brasil e acumula denúncias na Justiça.
Segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), as terras
da Cutrale ocupadas no mês de outubro
por trabalhadores rurais em Iaras, São
Paulo, é uma área pública grilada (AndesSN, 27/10)
Espanha admite
contaminação dos
transgênicos
Clara Saraiva, Roberto Leher e o Decano Marcelo Corrêa e Castro
tos ao Plano Diretor da Reitoria é que este foi
construído de modo antidemocrático. Desde
2007, os movimentos da UFRJ reivindicam
uma metodologia de debate que respeitasse o
protagonismo dos segmentos na idealização
do projeto. “Essa discussão está desvinculada do debate sobre a universidade no futuro.
Abandonou-se a discussão acadêmica para
se implantar, às pressas, o Plano”, declarou
Leher, durante a Assembleia Comunitária.
Recursos
Os presentes lembraram que até o ministro da Educação, Fernando Haddad, já anunciou que as verbas do Reuni a serem destinadas as universidades já teriam acabado. Essa
declaração é motivo de preocupação com
relação a implementação do Plano Diretor
2020 anunciado pela reitoria, já que este se
pautou prioritariamente nas verbas prometidas pelo Reuni, em 2007. “Ainda não há recursos identificáveis. Mais do que isso, não
aparece a origem desses recursos. Não tem
como se apostar numa coisa que nós não podemos acompanhar”, lembrou Leher. A preocupação da comunidade docente e discente
é com a captação de recursos não orçamentários para as obras de expansão previstas
no Plano Diretor. Uma das soluções que da
proposta que está em discussão no Conselho
Universitário para cobrir a falta de verbas
para os projetos seria alienar parte da área do
campus da Praia Vermelha, que possui um
alto valor imobiliário, e construir, no local,
um hotel, com sala de conferência e estacionamento subterrâneo: “Isso é um absurdo.
A Praia Vermelha é um espaço público, que
deve servir à população, para nos dar educação, e não virar mais um empreendimento
particular”, ressaltou Clara.
Precarização
Foi reforçado pelos presetnes que a expansão proposta pelo Plano Diretor deverá ser feita
de forma bastante precarizada: “A UFRJ vai
receber 70% mais matrículas, devido à criação
de vagas. Entretanto, o número de professores vai aumentar somente cerca de 30%. Isso
prejudica muito a qualidade de trabalho dos
docentes”, apontou o diretor da Adufrj-SSind.
Não há, hoje, na universidade salas suficientes
para alocar este percentual de novos alunos.
A infraestrutura do campus do Fundão
para receber outros cursos (no caso de uma
transferência das unidades da Praia Vermelha, do IFCS e do Direito) é deficitária,
já que as políticas de assistência estudantis
ainda não estão previstas e os atuais números de ônibus existentes são insuficientes:
“As barcas, o metrô e até o Maglev, que
seria a grande novidade do Fundão, ainda
não saíram do papel”, destacou Leher.
Outro destaque foi a política de alojamentos prevista na proposta do Plano
Diretor. As unidades para moradia de estudantes poderão ter taxas de aluguel a serem pagas pelo alojado.
Universidade desmobilizada
Também presente à assembleia, o decano do CFCH, Marcelo Corrêa e Castro, destacou que o projeto do Plano Diretor não é hegemônico na universidade,
mas toma uma grande proporção diante
da desmobilização dos professores.
Ao final, os presentes deliberaram pela
organização de um ato na sessão do Consuni do 29 (ver matéria nas páginas 4 e 5)
para reivindicar o adiamento da votação final do Plano Diretor e um novo diagnóstico
da realidade da UFRJ para que, com base
em uma nova sistemática de organização,
a universidade possa, com a participação
democrática de seus segmentos decidir sobre o futuro das suas instalações e de suas
atividades.“O Reuni é uma bomba-relógio.
Queremos uma ampliação, mas democrática”, resumiu o diretor da Adufrj-SSind.
Na contramão da tendência da União
Europeia em rejeitar o cultivo de transgênicos está a Espanha. Apesar disto, o país,
através do Ministério do Meio Ambiente,
Meio Rural e Marítimo, reconheceu, pela
primeira vez, no dia 21 de outubro, a contaminação dos transgênicos em lavouras
convencionais. As organizações ecologistas e agrárias da Espanha denunciam os
males dos transgênicos há dez anos. Ao
contrário da Espanha, no dia 10 de outubro, a Irlanda foi declarada Zona Livre de
Transgênicos. O país se soma aos europeus França, Áustria, Grécia, Luxemburgo, Hungria, Polônia, Alemanha e Itália
(Brasil de Fato, 29/10).
Universitários emigram de
países pobres
Uma pesquisa, que faz parte do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH),
apontou que, após concluírem o ensino superior, 89% das pessoas moradoras de países pobres deixam sua nação de origem.
Em Guiana, por exemplo, 9 em cada 10
pessoas que terminam a faculdade saem
do país. Desigualdades salariais, conflitos
armados e precariedade nas condições de
trabalho estão entre os principais fatores
que contribuem para que as pessoas com
maior grau de instrução deixem os países
pobres (Portal Vermelho, 27/10).
Lei da Caducidade
continua
O plebiscito realizado no Uruguai no
dia 25 de outubro rejeitou a anulação da
chamada Lei da Caducidade, que anistiou
os militares acusados de violar os direitos humanos durante a ditadura no país
(1973-1985). No dia 19, a Suprema Corte
do Uruguai havia declarado que a lei era
inconstitucional para um caso específico.
Apesar dos apelos de diversas instituições de direitos humanos, como a Anistia
Internacional, 48% dos uruguaios votaram a favor da anulação. O índice necessário era de pelo menos 50% (G1, 25/10)
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“O Reuni é uma bomba