A o mesmo tempo em que evolui comercialmente, o mercado de empresas de diagnóstico e remediação de áreas contaminadas também vê seus problemas crescerem de forma proporcional. A grande aceleração dos negócios iniciada com as recentes preocupações ambientais da sociedade, notoriamente a partir de meados da década de 90, acabou por atrair em demasia um sem-fim de interessados em ganhar dinheiro com a nova demanda, provocando uma espécie de corrida do ouro que, no final das contas, diminuiu a qualidade dos serviços ofertados. A seriedade na aplicação de tecnologias para descontaminação e para elaborar relatórios de passivos ambientais foi lentamente substituída, em vários casos, por um jogo de faz-de-conta em que técnicas de prateleira são aplicadas sem muito critério e controle, apenas para dar uma resposta às autoridades e clientes sem muito preparo para checar e fiscalizar o andamento dos projetos, e por uma verdadeira indústria do diagnóstico ambiental, documento necessário para celebrar contratos de compra e venda ou para oficializar termos de mudança de uso da área. O fenômeno de “degeneração” do mercado tem a ver, em primeiro lugar, com o inchaço de oferta de empresas na área. Formado inicialmente por cerca de 15 empresas especializadas, o segmento sofreu um boom a partir de 2000, talvez por influência da publicação da resolução 273 do Conama, que disciplinou os procedimentos de fiscalização, controle e licenciamento de postos de combustíveis, incentivando negócios com esses clientes. “Vários ex-funcionários dos grupos mais fortes do mercado, e até mesmo alguns aventureiros com formação técnica duvidosa, passaram a criar consultorias Ilustração Sueli Rojas R e m 48 Química e Derivados - maio - 2008 para aproveitar o novo filão do mercado”, explicou Giovanna Galante, gerente da Essencis Remediação, joint-venture entre o grupo francês Solvi e a construtora brasileira Camargo Corrêa. Uma estimativa é a de que atualmente cerca de 140 consultorias se engalfinhem para dividir os fornecimentos da área. “O mercado está prostituído”, completou Giovanna. Embora boa parte dessas novas empresas hoje se concentre nos serviços para postos de combustíveis, o que fez os grupos tradicionais saírem quase totalmente desse nicho de mercado, a preocupação atual é a “invasão” dos novatos em clientes industriais. Com contaminações mais complexas, o risco de uma remediação mal feita em um sítio industrial passa a ser bem maior. E trata-se aí de algo muito possível de ocorrer. Não só por causa da má qualidade do serviço ofertado, mas porque poucos órgãos ambientais no Brasil estão devidamente empenhados e preparados para avaliar e controlar as remediações. Só para se ter uma idéia, a grande maioria das agências ambientais do país nem mesmo conta com levantamento das áreas contaminadas de seus estados. Na verdade, apenas São Paulo, por meio de trabalho iniciado pela Cetesb em 2002, renova constantemente um inventário dos sítios contaminados, cuja última publicação, em novembro de 2007, demonstrou haver 2.272 casos confirmados, sendo 70% deles postos de combustíveis. Ocorre que mesmo no estado paulista a estimativa é a de que o número real seja muito maior do que o de conhecimento do órgão ambiental (só em São Paulo, há 120 mil indústrias). Mercado adolescente – Os temores com os caminhos tomados pelo mercado brasileiro de remediação de solos e águas subterrâneas são maiores ainda quando se compreende que o estágio geral de desenvolvimento tecnológico do setor, e d i a ç ã o de solos Indústria do diagnóstico e consultorias nanicas afetam a qualidade do serviço Marcelo Furtado 2008 - maio - Química e Derivados 49 remediação de solos Cuca Jorge mesmo excluindo-se a maioria das consulverticais para a garantia da captura torias mais novas, ainda é muito imaturo. necessária, implicando em uma quanEssa espécie de perfil “adolescente” do tidade exagerada de poços de extração. segmento, não raro, dá curso a erros de Na maioria das vezes, o espaçamento interpretação que prejudicam a elaboração ideal não é determinado e não se obtêm de projetos. É comum os mentores não raios de influência apropriados. Com avaliarem direito as condicionantes do isso, as plumas migram para fora das solo, tornando muitas tecnologias quase áreas com fases livres retidas pelo inócuas. E o pior: as falhas são difíceis de solo (fontes secundárias). As incertezas ser rastreadas pela fiscalização ambiental existentes associadas a uma geologia ou simplesmente checadas pelos clientes, de elevado grau de heterogeneidade, por ambos não estarem suficientemente nestes casos, deveriam demandar soluinstrumentalizados para a tarefa. ções mais adequadas, o que dificilmente Os “erros”, involuntários ou não, ocorre no Brasil. ocorrem, como exemplo, na implantação Problemas desse tipo, na opinião de sistemas de bombeamento e tratamento do especialista Manoel Maia Nobre, denominados MPE, de extração multifáresponsável por vários projetos avançasica para contaminantes, que permitem a dos de remediação no Brasil, sobretudo extração simultânea de fase livre, dissolvipara a petroquímica Braskem, para Maia Nobre: trincheira para da e de vapor do solo. Muito empregados quem presta serviço como consultor combater desleixo técnico em contaminações por hidrocarbonetos, corporativo, ocorrem muito por causa mas também em sítios com solventes clorados e outros com- da visão do mercado brasileiro de remediação ainda bastante ponentes voláteis, a sua implantação por poços não raramente atrelada às tecnologias padrões. “A remediação, principaldeixa escapar plumas de contaminantes para além da área mente na indústria, precisa ser vista de maneira particular, contaminada. engenheirada. Um solo heterogêneo e uma fonte de contamiIsso ocorre por causa de um problema aparentemente nação cuja complexidade foge do conhecimento daquele a que óbvio, mas que costuma ocorrer: a colocação de vários poços se propõe a remediá-la já são motivos para pensar o projeto para cercar a pluma. Quando não bem projetados, torna-se dessa forma. Caso contrário, o trabalho corre o risco de ser insuficiente para extrair o lençol freático e os vapores con- mais decorativo do que de fato”, critica Maia Nobre. taminados. Sítios onde há elevado grau de heterogeneidade geológica demandam pequenos espaçamentos entre poços Trincheiras – Para evitar a falha de concepção do MPE, uma solução pensada e já executada em trabalhos da Maia Nobre Engenharia (escritórios em Maceió-AL e Salvador-BA) seria a construção das chamadas trincheiras interceptantes (ver Trincheira interceptante esquema). Trata-se de paredes construídas no solo, ao redor da área com contaminantes, com materiais permeáveis, brita ou cascalho, Sistema de conjugadas com poços de extração, por bomba monitoramento ou gravidade, que removem segregadamente as fases de contaminantes (livre, gasosa e dissolvida). A técnica, explica Maia Nobre, é empregada Sistema de remoção Zona de fase livre nos Estados Unidos há quase duas décadas vadosa como alternativa ao MPE em sítios com conção iliza b a e taminações por LNAPLs (fluidos orgânicos m er Imp imiscíveis e mais leves do que a água, como Zona os hidrocarbonetos do petróleo), onde pode Brita /cascalho saturada ser realizado o controle da migração de fases Sistema de extração livre e dissolvida, além da remoção de massa. de gás Adequadas para sítios com grandes heterogeneidades geológicas, onde o fluxo de águas subterrâneas ocorre aleatoriamente em zonas de LNAPLs Sistema de (fase livre) maior permeabilidade e em material arenoso, as extração de água trincheiras funcionam como camada infinita de Fonte: MNE 50 Química e Derivados - maio - 2008 remediação de solos nantes se dá pela alteração da piezometria (captura) com o bombeamento da água subterrânea, por meio de um sistema de extração/drenagem mais profundo, sem gerar turbulência (e emulsão) onde existir fase livre de LNAPLs. O rebaixamento do aqüífero freático, decorrente do bombeamento, possibilita remoção facilitada de fase livre móvel de LNAPLs, que fluirá para o interior da trincheira interceptante por gravidade. Para a extração de fase gasosa contaminada, assim como para a exaustão do sistema, são instalados poços na zona vadosa como parte da remediação. A configuração segmentada, com sistemas específicos para a remoção da contaminação em suas diferentes fases (livre, gasosa e dissolvida), facilita o reúso de água de sistemas de remediação, evitando poços de extração ao longo de sua extensão. São relativamente os sistemas de separação de fases na superfície. “Fazer o fáceis e baratas de construir, com custo de operação também tratamento depois da extração é caro e ambientalmente inadebaixo em virtude da operação por fluxo gravitacional para o quado, pois gera efluentes em demasia”, afirma Maia Nobre. interior da trincheira, possível pelo rebaixamento do nível Aliás, a engenharia da extração dos efluentes das trincheiras é a responsável pela possibilidade maior do reúso da água. Ela freático. Por causa das características do material de preenchimento, pode ser pelo método passivo (fluxo gravitacional da fase livre as trincheiras interceptantes criam uma região de elevada de LNAPLs) ou ativo (uso de bombas para induzir o fluxo de permeabilidade (e transmissividade) no aqüífero freático, fases livre e dissolvida de LNAPLs). O primeiro método é utilizado, geralmente, para a remoção com uma zona de influência abrangente, e garantindo extensa área de cobertura pelo bombeamento. Em geral, a tecnologia de fase livre em sítios onde a profundidade do aqüífero freático é instalada transversalmente ao sentido de fluxo de águas seja inferior a 6 metros ou em solos de baixa permeabilidade, subterrâneas, a jusante das fontes primárias/secundárias de em condições nas quais o bombeamento de água não aumenta LNAPLs. O controle da migração de plumas de contami- significativamente as taxas de extração. Nesses casos, a fase livre deve ser removida periodicamente, de forma manual (por bailers) ou com o uso de bombas/skimmers de separação in-situ. Já na Evolução da classificação das operação com sistema ativo, o rebaixamento áreas contaminadas em São Paulo do lençol promove maiores taxas de remoção 10.000 de fase livre associada ao controle concomitante da dissolvida. 1.822 2.272 1.664 1.504 1.596 Quando a recuperação de fase livre de 1.336 1.148 937 859 833 859 727 LNAPLs é o objetivo principal, sistemas 1000 884 510 564 ativos podem ser projetados para evitar 710 682 255 622 a emulsificação (mistura da fase livre de 485 137 157 144 151 146 LNAPLs com água). “Isso ajuda a reduzir 122 100 a possibilidade de smearing (incremento 94 46 32 da zona contaminada com fase residual) e 29 24 19 diminui a quantidade de efluente gerado a 14 10 ser tratado”, afirma Maia Nobre. Para o bombeamento e rebaixamento do lençol, podem 5 ser utilizados drenos horizontais ao longo da trincheira assim como poços verticais 1 mai/02 out/03 nov/04 mai/05 nov/05 mai/06 nov/06 nov/07 em pontos específicos. A definição depende, além da existência ou não de fase livre, do Áreas contaminadas Contaminadas com proposta rebaixamento necessário, e também da conContaminadas sem proposta de remediação Fonte: Cetesb Dioxinas e furanos/ 2 Anilinas /3 Radionuclídeos / 4 Microbiológicos / 5 Ftalatos / 15 PCBs / 21 Biocidas / 35 Solventes aromáticos halogenados / 43 Fenóis halogenados / 53 Outros inorgânicos / 54 Outros contaminantes / 82 Solventes halogenados / 142 Metais / 276 PAHs / 902 Combustíveis líquidos / 1.455 Solventes aromáticos / 1.495 Número de áreas Fonte: Cetesb Grupos de contaminantes em São Paulo de remediação Remediação em andamento 52 Remediação concluída Química e Derivados - maio - 2008 Cuca Jorge Giovanna: Essencis considera estratégica a remediação figuração da trincheira e metodologia construtiva adotada. Apesar das vantagens, Maia Nobre acrescenta que a tecnologia não é recomendada para contaminações em grandes profundidades (acima de 18 metros), em razão da elevação dos custos da execução e da necessidade de remoção de grande volume de solo escavado, parte dele contaminado. Além disso, ainda é limitante sua eficiência em solos de permeabilidade muito reduzida (K < 10-5cm/s) e sítios com edificações existentes, sobretudo instalações subterrâneas. A concepção do projeto, aliás, não foge da boa preparação de uma remediação: estudo do deslocamento de plumas dissolvidas ao longo de caminhos preferenciais de fluxo, boa configuração da obra e das vazões de extração e fundamentação das heterogeneidades geológicas existentes. Cuca Jorge Crescimento não pára – A despeito dos problemas relativos à imaturidade do mercado, as empresas mais conhecidas da área continuam a ampliar os negócios e a ficar atentas às novas oportunidades. Demonstram satisfação com o desempenho comercial atual e não perdem tempo de anunciar planos de expansão, lançando modalidades novas de serviços e produtos. De forma unânime, estão convencidas de que, mesmo sofrendo com as novas concorrências de empresas menores com custos igualmente diminutos, as taxas de crescimento do mercado continuarão a ser consideradas bem altas. E motivos para o oti- Alarsa estuda lançar a “bolsa do solo” 2008 - maio - Química e Derivados 53 Divulgação remediação de solos Unidade piloto de UV e H2O2: reúso de água nos projetos mismo não faltam: o recente interesse e necessidade da indústria de mineração e siderurgia em dar cabo a projetos de remediação (fenômeno capitaneado principalmente pela Vale, empresa em globalização e por isso mais comprometida com boas condutas ambientais) e o crescimento do mercado de brownfields (ocupação imobiliária de áreas contaminadas em centros urbanos) são dois movimentos de destaque nesse campo. A Essencis Remediação, para começar, tem planos de expansão por todo o país, segundo revelou a gerente Giovanna Galante. Muito focada como empresa de destinação de resíduos, administrando e operando aterros, incinerador e unidades de coprocessamento, o grupo pretende fechar a oferta como provedor de solução ambiental para a indústria, cuidando também de seus passivos mais complicados em solos e águas subterrâneas. Depois de algumas tentativas não muito bem-sucedidas de se expandir nessa seara, a Essencis organizou três escritórios exclusivos para a remediação, em Belo Horizonte-MG, São Paulo e Porto Alegre-RS, contratou gente especializada e passou a ter ação mais ativa comercialmente, aproveitando a carteira de 4 mil clientes da área de resíduos para ofertar projetos de descontaminação. “A remediação passou a ser estratégica”, ressaltou Giovanna, geóloga com experiência em outras empresas de remediação (Geoklock e Servmar). Outra empresa com perfil parecido com o da Essencis, por ser originária da área de gerenciamento e tratamento de resíduos, a Cetrel Lumina, do grupo Odebrecht, conta também com planos ambiciosos de crescimento. Segundo explicou o coordenador técnico de remediação da empresa, Marcelo Alarsa, depois de três anos consolidada como prestadora de serviços ambientais (após fusão da Lumina, da área de gerenciamento ambiental da Construtora Norberto Odebrecht, com a central de tratamento de efluentes e resíduos do pólo de Camaçari-BA, da Braskem), a intenção é buscar novas frentes para explorar negócios com a remediação. A principal dessas novas frentes, em cujo planejamento Alarsa se envolve atualmente, é criar uma modalidade de serviço ambiental denominada de forma preliminar como “bolsa de solo”. O princípio é o mais simples possível e tem público 2008 - maio - Química e Derivados 55 remediação de solos Áreas contaminadas por região Fonte: Cetesb Região Comercial Industrial Resíduos Postos de combustíveis Acidentes/ desconhecida TOTAL São Paulo 32 66 22 621 2 743 RMSP - Outros 17 87 12 322 4 442 Interior 49 110 23 591 13 786 Litoral 14 32 12 93 2 153 Vale do Paraíba 2 27 0 118 1 148 114 322 69 1.745 22 2.272 TOTAL bem definido: empreendedores imobiliários de grandes centros urbanos. Trata-se de uma oferta que abrange a remoção completa de solo contaminado e a sua troca por outro limpo, ou seja, livre de poluentes. O tratamento pode parecer elementar demais, mas para o perfil da operação a que se presta, isto é, a ocupação de áreas contaminadas para novos usos, comerciais ou residenciais, as chances de se mostrar eficaz são muito grandes, na opinião do coordenador da Cetrel Lumina. “O empreendimento imobiliário, na maioria das vezes, não tem tempo para esperar uma remediação in-situ, que pode levar vários anos para ser concluída. Além disso, faz parte das atratividades do produto imobiliário o respeito a um cronograma predeterminado de entrega das chaves”, explica Alarsa. Encontrar uma saída rápida para a remediação, além de facilitar a comercialização dos terrenos e imóveis, também atrairia empreendedores ainda receosos em ocupar áreas industriais contaminadas. Nesses casos, o coordenador imagina que as soluções tecnológicas possam envolver operações on-site (com o solo contaminado removido, mas tratado no mesmo terreno, com soluções térmicas portáteis ou em biopilhas, Fitorremediação/1 Barreiras reativas /2 Biopilha/2 Lavagem de solo / 3 Bioventing / 3 Barreira física / 7 Biosparging/10 Outros / 14 Biorremediação / 16 Cobertura resíduo/solo contaminado / 17 Oxidação/redução química / 19 Barreira hidráulica / 44 Atenuação natural monitorada / 61 Air sparging / 96 Remoção de solo/resíduo / 183 Extração de vapores / 196 1 Extração multifásica / 233 10 Recuperação de fase livre / 395 Número de áreas 100 Bombeamento e tratamento /472 1000 Encapsulamento geotécnico/ 7 Técnicas de remediação implantadas por exemplo) ou ex-situ (quando se transporta o solo para tratamento externo). Ambas as soluções, segundo Alarsa, precisam ser estudadas em cada situação, dependendo do tipo de contaminante e da equação de custo. Se o solo for muito perigoso, por exemplo com PCBs (policloreto de bifenila, o isolante térmico ascarel) ou organoclorados, há a possibilidade de serem encaminhados para incineração (no próprio equipamento da Cetrel, em Camaçari, que de acordo com o coordenador passou por recente otimização para baixar seu custo de operação). Outros tipos de solo, com poder calorífico, podem seguir para coprocessamento, operação também ofertada pela empresa em unidades de blendagem e por acordos com cimenteiras. Mas não serão todos os solos com chance de serem viáveis para essas soluções. Há a hipótese de a Cetrel Lumina preparar um galpão de tratamento, possivelmente em São Paulo (onde deve haver maior demanda pelo serviço), para realizar operações de oxidação química ou de biorremediação. Já a colocação do solo novo no local, Alarsa considera como uma operação de prospecção. “A saída mais provável é procurar na região obras civis em operação, para requisitar o em São Paulo solo removido nas fundações. Por lei, ele não pode ser vendido, apenas cedido, o que torna apenas uma questão de pagar o frete para sua remoção”, explicou. Embora pareça algo não tão garantido de ocorrer, Alarsa ressalta que a Cetrel Lumina realiza duas operações do tipo atualmente, que se utilizam desses artifícios. E ressalta ainda que remediações fora dos sítios contaminados, com troca de solos e portanto mais rápidas no livramento das áreas do impacto ambiental, Fonte: Cetesb 56 Química e Derivados - maio - 2008 2008 - maio - Química e Derivados 57 Divulgação são comuns por exemplo na Alemanha, onde ele visitou vários projetos de remediação. “Eles têm muita necessidade de ocupação de solo e possuem várias áreas contaminadas, tanto por causa da antiga industrialização como em virtude das guerras mundiais em que se envolveram”, explica. “Não é incomum os alemães resolverem o problema de um sítio poluído, entregando-o para um novo uso, em apenas um ano, removendo o solo totalmente”, completa. Mesmo ainda não sendo uma oferta oficial, a “bolsa de solo” pretende tirar proveito de um mercado visto com grande expectativa pelas empresas do ramo. Embora a Cetrel Lumina esteja se preparando para atuar apenas como prestadora de serviço nesse nicho denominado brownfields (áreas marrons, assim denominadas por representar as regiões urbanas industriais com histórico de contaminação e com várias fábricas abandonadas), outras pensam em participar de forma mais proativa nesses possíveis novos negócios. A Geoklock, pioneira no Brasil em diagnóstico e remediação ambiental, é o melhor exemplo. Recentemente, ela firmou parceria com a empresa Urban Systems, especializada em análise de oportunidades e riscos de empreendimentos urbanos, para ofertar no mercado novas opções de uso para terrenos impactados. Uma área de negócios criada pelas empresas vai analisar, quantificar e planejar as possibilidades de reocupação. Tomando como base o consenso técnico de que o custo de recuperação de áreas contaminadas em regiões centrais das grandes cidades é, em média, 20% do valor do terreno recuperado, o propósito é estruturar investimentos que garantam lucro a empreendimentos imobiliários compatíveis com as demandas. A oferta é sintetizada pela elaboração de relatório indicando as possibilidades de ocupação mais vantajosas, a quantificação dos passivos e os custos e prazos para recuperação da área. Uma operação pioneira ocorreu no moderno condomínio de escritórios Rochaverá, em São Paulo, construído sobre antiga fábrica de pesticidas (Ciba), cujo solo foi removido e o lençol freático tratado pela Geoklock. Não é só pela entrada nessa nova área de negócios que a Geoklock demonstra sua confiança com o desempenho do mercado. Uma outra oferta recente visa a tirar proveito do amadurecimento dos serviços de remediação, ainda sua especialidade. Conforme explica o diretor de engenharia, Rubens Spina, é um novo sistema para reúso de água extraída de sistemas de remediação de aqüíferos, baseado em lâmpadas de UV e dosagem de peróxido de hidrogênio que também tratam gases extraídos dos sítios contaminados. Tecnologia da alemã IBL, com quem a Geoklock tem parceria também para outras tecnologias de remediação, o diferencial do sistema, ainda de acordo com Spina, é a tecnologia ultravioleta, integrada com o H2O2 dosado antes da passagem do gás ou da água pelas lâmpadas, possibilitar a degradação total dos compostos orgânicos, o que permite o reúso da água descontaminada. “Normalmente, o UV está associado apenas à desinfecção da água”, ressaltou o diretor. Outro ponto vantajoso, em comparação com os sistemas de carvão ativado empregados em extração multifásica de líquidos e vapores, Spina: UV apenas para as obras mais longas é não gerar resíduos, no caso o carvão saturado. Há uma linha completa de lâmpadas para cada tipo de família de contaminantes e o tratamento de gases e de líquidos é feito por reatores dedicados. Segundo Spina, já foram instalados desses sistemas em projetos de remediação da Geoklock. São obras com duração mínima de quatro anos, período que justifica o investimento no sistema. Já se a descontaminação for de curto prazo, no seu entendimento ainda vale mais a pena tratar a água e os gases com o “velho” carvão ativado. O diretor também ressalta que, ao término da obra, a tendência é o cliente desviar o sistema para aplicação em outros reúsos na fábrica, o que ocorrerá em pelo menos um caso já vendido. Tudo isso para ajudar a tornar a remediação de solos e águas subterrâneas o mais próxima possível do bom senso, predicado ultimamente um pouco em falta a esse segmento no Brasil. n remediação de solos Um bom parâmetro para compreender a evolução do segmento de remediação de solos e águas subterrâneas é prestar atenção no desempenho dos fornecedores de equipamentos e produtos da área. A Clean Environment, de Campinas-SP, serve bem para esse propósito, principalmente por ser uma das primeiras a se estabelecer, em 1995, no Brasil para atender as empresas de consultoria e projetos com sistemas de bombeamento, extração, skimmers, produtos de monitoramento e controle e sistemas químicos de remediação. Para começar pelo lado mais positivo, basta saber que a empresa, segundo seu sócio-fundador e diretor-técnico, Paulo Negrão, tem crescido de 30% a 50% ao ano, o que demonstra a quantidade cada vez maior de projetos de remediação em atividade no Brasil. Outro bom aspecto é apontado por Negrão como uma mudança em curso em grandes clientes industriais: “Hoje o nível de exigência é maior do que no começo do mercado, há cerca de 15 anos. É mais comum haver clientes com maior conhecimento técnico.” Mas, de modo geral, a percepção do diretor da Clean confirma o que boa parte de seus clientes, ou seja, as empresas de consultoria e remediação, constata com pesar. Há uma superpopulação de consultores e “empresinhas”, com intuito oportunista, cujo principal problema foi ter descido a qualidade técnica do segmento, fenômeno ocorrido sobretudo a partir da publicação 273 do Conama, que disciplina a remediação de postos de combustíveis. “Isso tem provocado muitas frustrações no mercado”, afirmou Negrão. Uma dessas frustrações, explica, ocorreu Negrão acredita que o mercado ainda vai ser depurado 58 Química e Derivados - maio - 2008 Divulgação Fornecedor de equipamentos aproveita boom, mas também percebe piora na qualidade Divulgação recentemente no próprio órgão ambiental paulista, a Cetesb. Desconfiado da seriedade de vários projetos de remediação em São Paulo, o órgão fiscalizador resolveu auditar o trabalho de investigação ambiental de forma aleatória. “Eles encontraram um verdadeiro circo de horrores. Até laudo técnico feito por açougue foi descoberto”, ressalta Negrão. Mas o melhor foi o resultado da operação: a partir daí a Cetesb passou a exigir certificação do Inmetro e da Secretaria do Meio Ambiente de todos os laboratórios de análises ambientais empregados pelas empresas de remediação e diagnóstico. Outra iniciativa nesse sentido foi passar a exigir das consultorias a assinatura de um termo de responsabilidade pelas informações prestadas ao órgão ambiental, com implicações legais nas esferas cíveis e penais. Mas a visão do diretor da Clean é otimista. Com experiência internacional, por ter trabalhado durante seis anos nos Estados Unidos em fornecedora de equipamentos para remediação, de onde também prestava serviços para vários locais do mundo, Negrão acredita que o Brasil passará por um processo de depuração do mercado. “É sempre assim: no começo há uma euforia com os novos negócios de remediação, o que provoca em seguida o aparecimento das pequenas empresas oportunistas. Mas isso não dura muito, depois há uma filtragem e só ficam os sérios”, explicou. Para ele, dentro de cinco anos, esse ciclo de depuração deve se concluir no Brasil. “Depois que os problemas ocasionados pelas empresas de fundo de quintal começarem a aparecer, não haverá mais espaço para amadorismo”, completa. Oxalá Negrão esteja certo. n Linha nacionalizada de bombas para remediação 2008 - maio - Química e Derivados 59