PARASITOS INTESTINAIS EM HORTALIÇAS COMERCIALIZADAS EM LAVRAS, MINAS GERAIS INTESTINAL PARASITES FROM VEGETABLES COMERCIALIZED IN LAVRAS, MINAS GERAIS Endrigo Gabellini Leonel Alves 1 , Antônio Marcos Guimarães 2 , Henrique César Pereira Figueiredo2 , Geraldo Márcio da Costa3 INTRODUÇÃO O Brasil, como um país tropical em desenvolvimento, possui clima e situação sócio-econômica favoráveis a ocorrência de doenças parasitárias. Dentre os mais importantes e prevalentes estão as enfermidades intestinais provocadas por protozoários e/ou helmintos, cuja transmissão ocorre principalmente, pela ingestão de formas parasitárias como ovos, larvas, cistos ou oocistos1 . As hortaliças, em especial as consumidas cruas na forma de saladas, podem servir como via de transmissão de enfermidades intestinais , uma vez que helmintos, protozoários, bactérias e vírus podem estar presentes nessas verduras, as quais são freqüentemente irrigadas com águas contaminadas por dejetos fecais de animais e/ou homem2 . Este trabalho teve como objetivo determinar a freqüência de enteroparasitos em amostras de alface (Lactuca sativa), comercializadas em supermercados, sacolões e feiras livres de Lavras, MG. MATERIAL E MÉTODOS Neste experimento, utilizou-se 120 amostras de alface coletadas aleatoriamente de sacolões, feiras livres e supermercados de Lavras, no período de abril de 2001 a maio de 2002. A pesquisa de enteroparasitas foi realizada após duas lavagens das verduras. Primeiramente, por enxaguadura, colocando 300 ml de água destilada no saco plástico contendo a verdura e agitando-o manualmente. Na segunda lavagem, após desfolhamento de cada pé de alface, as folhas foram pinceladas individualmente em um pirex de vidro com 250 ml da solução detergente neutro recém-preparada. Em seguida, a solução detergente das lavagens foi deixada em repouso em cálice cônico de sedimentação por 24 horas após a filtragem em gaze. Após essa etapa, 0,1 ml do sedimento obtido foi examinado, primeiramente, através de lâmina corada com solução de lugol, em exame direto com microscópio óptico (10x e 40x). Em seguida, aproximadamente 50 ml do sedimento foram divididos em tubos de 15 ml e centrifugados a 2500 rpm durante um minuto, desprezando o sobrenadante. Uma parte do sedimento obtido foi ressuspendido em solução de sulfato de zinco a 33% e examinada em microscópio óptico (40x). Na pesquisa de oocistos de Cryptosporidium sp. e Cyclospora cayetanensis foi utilizado o método de Kinyoun modificado3 . Na pesquisa de coproantígeno específico de Giardia (GSA 65), em 85 pés de alface, utilizou-se o kit comercial ProSpecT Ensaio Imunoenzimático para Giardia em microplaca (Alexon, Inc., BIOBRÁS). Para estimar a contaminação fecal em 50% das verduras, foram coletadas 50 ml da solução do primeiro enxágüe em frascos estéreis, logo após as duas lavagens de cada pé de alface, formando uma amostra composta de 100 ml para cada ponto de venda da hortaliça. Foi determinado o número mais provável de bactérias dos grupos coliformes totais e coliformes fecais (NMP), que foi determinado com auxílio da tabela do NMP-série de três tubos4 . RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos revelaram que, em todas as amostras, independente do tipo de estabelecimento comercial, ocorreu algum tipo de contaminação. Das 120 amostras analisadas, em ordem decrescente, as formas parasitárias mais freqüentes foram: larvas de nematóides (47,5%), ovos de ácaros (41,7%), ácaros (40,8%), insetos (34,2%), ovos de nematóides (30,8%), oocistos não esporulados (23,3%), ovos tipo estrongilóides (15,0%), ovos de ancilostomídeos (6,7%), cistos de Entamoeba sp. (5,0%) e ovos de Toxocara sp. (1,7%). Oocistos de Crytosporidium sp. e C. cayetanensis não foram identificados em nenhuma das amostras de alface examinadas. O mesmo resultado foi obtido para verduras avaliadas por meio do Ensaio Imunoenzimático para Giardia em Microplaca. Os resultados determinados para cada tipo de estabelecimento comercial constam na Tabela 1. A contaminação por formas parasitarias foram iguais (p> 0,05) entre as verduras comercializadas nos diferentes pontos de venda, pelo teste de Qui-quadrado. Quando se compara o resultado obtido neste trabalho com os de outros autores 5,6,7,2 , observa-se uma grande variação na freqüência de enteroparasitas, em função da localidade e das verduras analisadas, entretanto, todos estudos assinalam elevados níveis de contaminação de hortaliças. A avaliação microbiológica de todas amostras de alface apresentou alta contagem de coliformes totais e fecais (coliformes em NMP por 100 ml de água). _________________________________ 1 Acadêmico do Curso de Graduação em Medicina Veterinária - Universidade Federal de Lavras (UFLA). Bolsista do PIBIC/CNPq. Prof. Adjunto – Depto. Medicina Veterinária - UFLA. 3 Prof. Assistente – Depto. Medicina Veterinária - UFLA. 2 Tabela 1. Contaminantes e enteroparasitos em amostras de alface comercializadas em Lavras, MG, no período de abril de 2001 a maio de 2002. Contaminates e Supermercados* Sacolões* Feiras livres* enteroparasitos n° de postivos (%) n° de postivos (%) n° de postivos (%) Larvas de nematóides 34 85% 40 100% 40 100% Ovos de ácaros 32 80% 32 80% 36 90% Ácaros 30 75% 32 85% 34 85% Insetos 30 75% 22 55% 30 75% Ovos de nematóides 28 70% 18 45% 28 70% Oocistos não esporulados 18 45% 14 35% 24 60% Ovos tipo estrongilóides 6 15% 10 25% 20 50% Ovos de ancilostomídeos 0 0% 6 15% 10 25% Cistos de Entamoeba sp. 2 5% 6 15% 4 10% Ovos de Toxocara sp. 2 5% 2 5% 0 0% *n= 40 A contagem média global de coliformes fecais para cada tipo de estabelecimento comercial, em ordem decrescente, foi: feiras livres (8,6 x 105 ), sacolões (3,8 x 105 ) e supermercados (3,2 x 105 ). A análise de variância apresentou diferença significativa (p< 0,01) no grau de contaminação por coliformes fecais entre os tipos de estabelecimento, no entanto, apenas 15,3% dessa variação se deve ao tipo de ponto de venda, os outros 84,7% da variação encontrada deve-se a outros fatores que não o local de comercialização das verduras. No Brasil, outros trabalhos também têm demonstrado hortaliças com alto grau de contaminação por coliformes fecais 5,6 . A alta contagem de coliformes fecais, determinada neste estudo, demonstra que em algum momento, seja na produção, manipulação ou armazenagem da hortaliça, houve contato dessas verduras com fezes de homem e/ou animais. A relevância desse resultado deve-se as diversas enfermidades com transmissão oro-fecal, que podem ser contraídas pela ingestão destas verduras e, em se tratando da alface, é ainda pior, uma vez que está hortaliça é consumida crua, não sendo submetida a ação do calor, que poderia destruir grande parte dessas formas parasitarias. As amostras de alface comercializadas em supermercados, sacolões e feiras livres de Lavras, apresentaram baixo padrão higiênico, ou seja, estavam fora dos padrões recomendados pela Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Isso foi evidenciado pela alta contaminação por formas parasitarias de origem animal e/ou homem e pela presença de coliformes fecais, ressaltando o papel das hortaliças na transmissão de agentes infecciosos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. OLIVEIRA, C.A.F.; GERMANO, P.M.L.. Rev. Saúde. Públ., 26: 283-89, 1992. 2. WOLLHEIM, C.; ZOPPAS, B.C.A.; BASSO, R.M.C.; WIEHE, C.S.; FABRIS, F.; SEGER, L.A.; COSTANZI, M.A.; AMBROSI, P.. Rev. Cient. 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