IX C O N GR ESSO D E ED U C A ÇÃ O D O NO R TE P IO N EIR O Educação: Horizontes Possíveis: Desafios Imediatos UENP – Centro de Ciências Humanas e da Educação Centro de Letras Comunicação e Artes A N A IS – ISSN – 18083579 AN TON I O CAN DI DO E O “ DI REI TO À L I TERA TURA ” Mar ília de Me lo PER EIR A 1 RESUM O Par a Anto nio C andido , a lite r atur a é um be m “ inco mpr e ssíve l” , o u se ja, algo e sse ncial à e xistê ncia humana. N ão é so me nte o que suste nta o co r po que po de se r co nside r ado co mo fundame ntal par a o se r humano , mas també m o que nutr e se u e spír ito . Ne ce ssitamo s diar iame nte de um mo me nto de de vane io , me smo que isso aco nte ça ape nas atr avé s do so nho , e a “ ar te da palavr a” cumpr e e sse pape l, po is inst iga a imaginação , e ncanta, distr ai e , e mbor a pare ça co ntr aditó r io , te m o po de r de humaniz ar se r e s humano s. Esta co municação pr e te nde co mpar tilh ar a co nce pção de lite r atur a ado tada pe lo auto r , co nte mplando - a co mo um be m que não po de se r r e cusado , um gr ande dir e ito de to do s, já que “ ne gar a fr uição da lite r atur a é mutilar a no ssa humanida de ” . Palavr as- chave : O dir e ito lite r atur a. Anto nio Candido . à lite r atur a. A função humaniz ado r a da Anto nio C andido é co nside r ado um do s maio r e s cr ítico s lite r ár io s do Br asil. Sua ge nial pro dução biblio gr áf ica te ve pape l de cisivo na for mação de uma cultur a lite r ár ia no país. O br as co mo Fo r mação da lite r atur a br asile ir a : mo me nto s de cisivo s (1 95 9 ), O s par ce ir o s do r io B o nito (1 9 64 ) e L ite r atur a e so cie dade (1 96 5 ) são impo r tant íssi mas par a que se co nce ba a ide ntidade que o e scr ito r de se java impr imir à no ssas o cor r ê ncias lite r ár ias. So ció lo go por fo r mação , o pr ó pr io escr ito r afir ma que “ as re laçõ e s so ciais, for am a co luna ver te br al de minha visão de mundo lite r ár ia” , o que é e xtre mame nte coe re nte , po is a lite r atur a é um pro duto so cial. Impr imiu uma visão bastante pe culiar às le tr as br asile ir as e e mbo r a não e ste ja mais atuando ativame nte , suas palavr as eco am e m discur so s de inte le ctua is do país, s uas co nce pçõe s manté m- se ativas e co ntínuas e to das as suas teo r ias o faz e m um do s mais r e spe itáve is e scr ito r e s e m me io à cr ítica lite r ár ia. Em 1 97 0 publico u Vár io s e scr ito s, o br a e m que e stá inse r ido o capítulo “O dir e ito à lite r atur a” . Embo r a já te nha passado quase quatr o dé cadas da pr ime ir a publi cação do te xto , e e le te nha sido de stina do a um público que vive nciava a dé cada de 7 0 , o re fe r ido capítu lo co ntinua a ser 1 P ó s - g r a d u a n d a do c u r s o de E s t u d o s L i n g u í s t i c o s e L i t e r á r i o s e M e m b r o do G r u p o de P e s q u i s a “ L i t e r a t u r a e E n s i n o ” do C e n t r o d e Le t r a s , C o m u n i c a ç ã o e A r t e s d a UENP, Jacarezinho-PR. E-mail [email protected] 168 IX C O N GR ESSO D E ED U C A ÇÃ O D O NO R TE P IO N EIR O Educação: Horizontes Possíveis: Desafios Imediatos UENP – Centro de Ciências Humanas e da Educação Centro de Letras Comunicação e Artes A N A IS – ISSN – 18083579 estudado e discu tido , de vido a sua impo r tância te ór ica. Vale de stacar a co nte mpo r ane idade co m que os assunto s são r e latado s pe lo escr ito r , se ndo que muito s de le s ide ntificam - se pe r fe itame nte co m as te máticas de no ssa atualida de . As te or ias de C andido são de fundame ntal impo r tânc ia par a o pro fe sso r que tr abalha co m a lite r atur a e m sala de aula, po is a mane ir a pe la qual a lite r atur a é co nte mplada , se ado tada pe lo do ce nte , co m ce r te z a, far á co m que o co ntato aluno - te xto lite r ár io se e fe tive de fo r ma pr az e ro sa e be la. Po r isso , é pr aticame nte vital par a o pr o fe sso r de lite r atur a te r co ntato co m os te xto s do auto r , be m co mo fr uí- lo s e tr ansfo r mar as ide ias co ntidas no s me smo s e m pr ática e fe tiva de se u tr abalho didático e m sala de aula. Pe lo Ensino ” mo tivo atua, acima citado , o siste mati came nte , G r upo a fim de de Pe squisa e nco ntr ar “ L ite r atur a e me to do lo gias per tine nte s e e ficaz e s par a a abor dage m do te xto lite r ár io e m sala de aula, já que a ausê ncia da lite r atur a e a carê ncia me to do ló gica apre se ntada pe lo s pro fe sso re s to r na-se algo e xtre mame nte pr e o cupante e m no sso siste ma e ducacio nal. Pre se ncia- se um ce nár io e ducacio nal tão calamito so , em que pr o fe sso re s de sco nhe ce m teo r ias e me to do lo gias e não apre se ntam aptidão e se nsibil idade alguma pe r ante co nte údo s que , supo stame nte , de ve r iam ensinar . Assim, de sde sua cr iação , há um esfo r ço co ntínuo po r par te do s me mbr o s do G P e m e studar co nce pçõ e s lite r ár ias que le ve m pr o fe ssor e s atuante s e futur o s a tr atar o te xto lite r ár io da mane ir a mais co er e nte e humaniz ada po ssíve l. A co ntr ibuição do discur so de C andido , quanto à co nce pção de lite r atur a, pre se nte no capítulo “O dir e ito à lite r atur a” , de ve se r so cializ ada co m o s pr o fe sso r e s que e stão car e nte s de bo a fundame ntação teó r ica, visando cr iar co ndiçõ e s par a que tr anspo nham o s ho r izo nte s po ssíve is e impo ssíve is de se us aluno s. Por tanto , e ste ar tigo abo r dar á a co nce pção de lite r atur a de fe ndida po r Anto nio C andido , alice r ce do s de mais te ó r ico s e studado s pe lo gr upo , salie ntando a impo r tância da “ ar te da palavr a” na vida de cada se r humano , be m co mo o po der tr ansfo r mado r e xe r cido po r e la. C andido , que stão do s ao po stular dir e ito s sua humano s, co nce pção por 169 isso de lite r atur a, faz -se apo ia- se ne ce ssár io na explanar IX C O N GR ESSO D E ED U C A ÇÃ O D O NO R TE P IO N EIR O Educação: Horizontes Possíveis: Desafios Imediatos UENP – Centro de Ciências Humanas e da Educação Centro de Letras Comunicação e Artes A N A IS – ISSN – 18083579 sucintame nte a mane ir a co mo e le abo r da e sse assunto , ante s de e xplo r ar o ce r ne do te xto . Co mpactuan do co m uma situação so cial, po lítica e eco nô mica muito se me lhante a do pe r ío do e m que Vár io s escr ito s fo i pro duz ido , a so cie dade atual enco ntr a- se numa fase de gr ande r acio nalidade te cno ló gica, que le va o ho me m a to r nar - se , a cada dia, mais ir r acio nal e m suas atitu de s e co mpo r tame nto s. O pro gr e sso ate nde as ne ce ssidade s supé r fluas de po uco s e de spr ez a o que ser ia ne ce ssár io par a muito s, o que , infe liz me nte , co nfigur a a pé ssima distr ib uição de re nda do país. Atin gimo s a civiliz ação e che gamo s a uma er a e m que é po ssíve l vive r um be m co mum e é nisso que e stá e ntr o ncada a que stão do s dir e ito s humano s. Talve z o maio r pr o ble ma da atualid ade está no fato de haver po ssibili dade s par a mudanças no siste ma, mas em co ntr apar ti da e xistir po uquíssima s pe sso as que que ir am de se mpe nhar esse pape l. A vio lê ncia e a br utalid ade e stão e stampadas no co tid iano e o s canais midiát ico s ape lam muito à se nsibil idade das gr ande s massas, o que le va à co mo ção so cial fre nte ao s pro ble mas. A cada dia, a de sigualdade pare ce mais insupo r táve l, ge r ando um se ntime nto de indig nação que se re fle te na busca por de finir o que se r iam ver dade ir ame nte o s dir e ito s humano s. O gr ande pr e ssupo sto do s dir e ito s humano s, que par e ce estar esque cido pe la maio r ia das pe sso as, é que tudo o que é indispe nsá ve l par a o indiv íduo també m o é par a o se u pr ó ximo e a base de sse s dir e ito s situase em incluir o o utr o e m tudo o que é re ivindi cado e m favo r pr ó pr io . Por é m, há uma te ndê ncia e m qualific ar co mo mais ur ge nte o que ser á o btido e m favo r pró pr io do que o que se r á co nquistado em favor do o utro . Diante disso , o auto r e mpre sta o s te r mo s “ be ns inco mpr e ssíve is” e “ be ns co mpr e ssíve is” (19 95 , p. 24 0 ), cunhado s pe lo so ció lo go fr a ncê s Lo uis Jo se ph Le bre t, par a C andido , a par a e vide nciar a impo r tância da lite r atur a, já que , co nce pção do que se r ia um “ be m inco mpr e ssíve l” qualific ar ia um dir e ito humano . Se gundo o estudio so fr ancê s, co mpr e ssíve l e quivale a tudo o que é supé r fluo na vida humana, o que não é ne ce ssár io par a uma e xistê ncia ínte gr a e digna, e nquanto inco mpr e ssíve l cor re spo nde r ia a tudo o que é e xtre mame nte ne ce ssár io e vital . Ne ssa qualific ação r eside m do is pro ble mas, se gundo C andido : a co nce pção do que se r ia inco mpr e ssíve l situa- se e m co ndiçõ e s e xte r nas ao me io so cial, o 170 IX C O N GR ESSO D E ED U C A ÇÃ O D O NO R TE P IO N EIR O Educação: Horizontes Possíveis: Desafios Imediatos UENP – Centro de Ciências Humanas e da Educação Centro de Letras Comunicação e Artes A N A IS – ISSN – 18083579 que to r na muito tê nue a linha entr e o supé r fluo e o indis pe nsáve l e , pr incipal me nte , o fato de se co nside r ar esse be m ape nas co mo o que suste nta o físico , me no spr ez ando o que for tale ce o espír ito . Ultr apassada a e xplanação so br e o e nte ndime nto do s dir e ito s humano s pe lo auto r , co mpe te agor a o apro fundame nto da e ssê ncia do pe nsame nto de Anto nio C andido : a fr uição da lite r atur a co r re spo nde a ne ce ssidade s pr o fundas do se r e sua ausê ncia po de de so r ganiz ar e mutilar o ser humano , pe sso al e e spir itual me nte ? A r espo sta a e ssa que stão car acter iz ar á a lite r atur a co mo um dir e ito humano o u não , e é a par tir de sse pre ssupo sto que e le de te r minar á de que mane ir a de fine a lite r atur a. C andido , po sicio name nto s ho me m so cialis tas, de índo le qualifica no tadame nte da mane ir a fr anciscana mais e de mo cr ática po ssíve l a lite r atur a, co mo t o d a s a s c r i a ç õ e s de t o q u e p o é t i c o , f i c c i o n a l o u d r a m á t i c o e m t o do s o s n í v e i s de u m a s o c i e d a d e , e m t o d o s o s t i p o s de c u l t u r a , de s d e o q u e c h am a m o s f o l c l o r e , l e n d a , c h i s t e a t é a s f o r m a s m a i s c o m p l e x a s e d i f í c e i s d a p r o d u ç ão e s c r i t a d a s grandes civilizações. (1995, p. 242) No ta- se que a mane ir a co mo a lite r atur a é co nte mplada ate nde a uma gama ampla e dive r sa de fo nte s cultur a is, valo r iz ando tanto o er udito quanto o po pular . Se gundo e ssa co nce pção , e la está pr e se nte de for ma inte nsa e co nstante na vida de to das as pe sso as, manife stando - se e m tudo o que faz par te do unive r so fabulado , e stando pr e se nte de sde a le itur a de um r o mance até a distr ação o btida po r me io do aco mpanhame nto de um capítulo de no ve la te le visiva ou da fr uição de um po e ma a um de vane io amor o so . N ingué m está ise nto do so nho pro vo cado pe lo unive r so lite r ár io , me smo que isso oco rr a de fo r ma co nscie nte o u inco nscie nte . Então , se ninguém pode passar vinte e quatro horas sem mergulhar no universo da ficção e da poesia, a literatura (...) no s e n t i d o a m p l o ( . . . ) p a r e c e c o r r e s p o n de r a u m a n e c e s s i d a d e universal, que precisa ser satisfeita e cuja satisfação constitui um direito. (1995, p. 242) Se não é po ssíve l pa ssar um dia to do se m e star e m co ntato co m o unive r s o da fantasia e se ausê ncia de la no s de sco nfigur a e spir itual me nte , “ ne gar a fr uição da lite r atur a é mutilar a no ssa humanida de ” (1 99 5 , p. 171 IX C O N GR ESSO D E ED U C A ÇÃ O D O NO R TE P IO N EIR O Educação: Horizontes Possíveis: Desafios Imediatos UENP – Centro de Ciências Humanas e da Educação Centro de Letras Comunicação e Artes A N A IS 25 6 ) Assim, é um “ be m – ISSN – 18083579 inco mpr e ssíve l” , car acte r iz ando -se , po r tanto , co mo um dir e ito humano , e se é um dir e ito humano de ve se r o fer tado a to do s, se m distinção de níve l de esco lar idade , faixa e tár ia o u situação finance ir a, po r que se u ace sso to r na- se altame nte ne ce ssár io e inalie náve l . E, par a car acte r iz ar a lite r atur a co mo um dir e ito , é pr e ciso abo r dar to do s o s aspe cto s que a faze m ser co nside r ada co m o maio r be m par a o e spír ito humano . Ao analisar a lite r atur a, C andido co nse gue faze r a distinção de trê s face s apr e se ntadas por e la: (1) ela é construção de objetos autônomos como estrutura e s i g n i f i c a d o : ( 2 ) e l a é u m a f o rm a d e e x p r e s s ã o , i s t o é , m a n i f e s t a e m o ç õ e s e a v i s ã o d o s i n d i v í d u o s e do s g r u p o s ; ( 3 ) e l a é u m a f o r m a de c o n h e c i m e n t o , i n c l u s i v e c o m o incorporação difusa e inconsciente. (1995, p. 244) Em ge r al, cre dita - se a gr ande impo r tância da lite r atur a ao te r ce ir o aspe cto , por se pe nsar única e e xclusivame n te que e la exe r ce pape l so br e a so cie dade po r que de la é po ssíve l extr air co nhe cime nto s. Po ré m, os tr ê s aspe cto s co mungam em igual impo r tância , por que atuam simultane ame n te so bre o suje ito le ito r , se ndo que a tr íade pr o po sta po r C andido é impo r tantíss ima par a car acte r iz ar as fe içõe s do te xto lite r ár io abo r dadas pe lo te ór ico . A fo r ma pe la qual o te xto é co nstr uído é um tó pico de e xtr e ma re le vância, por que é e sse aspe cto que po de o u não co nfer ir lite r ar ie dade ao te xto . O te xto lite r ár io te m o po de r de tr ansfo r mar as palavr as num to do or ganiz ado capaz de faz e r ple no se ntido ao le ito r . T r ansfor mar as palavr as e m um unive r so ar ticulado po ssibil ita ao le ito r a o r ganiz ação de se u pr ó pr io espír ito , po r que Q u e r pe r c e b a m o s c l a r a m e n t e o u n ão , o c a r á t e r organizada da obra literária torna-se um fator que mais capazes de ordenar a nossa própria s e n t i m e n t o s ; e e m c o n s e q u ê n c i a , m a i s c a p a z e s de a v i s ã o q u e t e m o s do m u n d o . ( 1 9 9 5 , p . 2 4 5 ) . da coisa nos deixa mente e organizar Por isso , as palavr as dispo stas e m um te xto lite r ár io po ssue m um alto po de r humaniz ado r , por que auxiliam o le ito r a dar um se ntido par a o se u pr ó pr io mundo . 172 IX C O N GR ESSO D E ED U C A ÇÃ O D O NO R TE P IO N EIR O Educação: Horizontes Possíveis: Desafios Imediatos UENP – Centro de Ciências Humanas e da Educação Centro de Letras Comunicação e Artes A N A IS – ISSN – 18083579 “ A or ganiz ação da palavr a co munica- se ao no sso e spír ito e o le va, pr ime ir o , a se or ganiz ar ; e m se guida, a o r ganiz ar o mundo ” (1 9 95 , p. 24 6 , gr ifo me u). Q uando um te xto apr e se nta- se de fo r ma quase intr anspo níve l , o u de mane ir a re buscada, não pe r mitindo a infe r ê ncia de se ntido po r par te do le ito r , po de tanto de se ncade ar o dista nciame n to do le ito r co mo també m mo tivá- lo a tr anspo r se us limi te s, mer gulhan do no cao s, a fim de e xtr air das palavr as os mais amplo s signi fica do s par a suas vivê ncias. Atr avé s do po der e xe r cido pe las palavr as, a lite r atur a tr anspõ e o te mpo , atr ave ssa é po cas. Por tanto , o apar ato que o pro fe sso r de ve ter quanto ao mo do de tr atar a fo r ma lite r ár ia é pr aticame nte vital par a a e xistê ncia de um le ito r ativo e de safiado r . Enfim , A s p a l a v r a s o r g a n i z a d a s s ã o m a i s do q u e a p r e s e n ç a d e u m código: elas comunicam sempre alguma coisa, que nos toca po r q u e o b e d e c e a c e r t a o r d e m . ( . . . ) Q u a n d o d i g o q u e u m t e x t o m e i m p r e s s i o n a , q u e r o d i z e r q u e e le i m p r e s s i o n a po r q u e a s u a p o s s i b i l i d a d e d e i m p r e s s i o n a r f o i de t e r m i n a d a pe l a o r d e n a ç ã o r e c e b i d a d e q u e m a p r o d u z i u . E m p a l a v r a s u s u a i s : o c o n t e ú d o s ó a t u a po s c a u s a d a f o r m a , e a f o rm a t r a z e m s i , v i r t u a l m e n t e , u m a c a p a c i d a d e d e v i do à c o e r ê n c i a mental que pressupõe o que sugere. (1995, p. 246, grifo meu) Co nside r ando a se gunda face ta da lite r atur a, co nclui- se que co nte údo e for ma são par e s indisso ciáve is . Fr uir a lite r atur a é dir e ito de to do s, se m exce çõe s, por que e la é capaz de satisfaz e r ne ce ssidade s básicas do se r humano , auxilia ndo - o a agigantar suas co nce pçõ e s so bre o mundo que o ro de ia. T anto o dito po pular co mo a mais e r udita po e sia são capaze s de e nr ique ce r e o r ganiz ar a pe r so nalidade , re dimindo - no s das co nfusõ e s mo der nas. Alé m de ar ticul ar o s se ntime n to s e as emo çõe s, e la també m po de apre se ntar - se carr e gada de ide o lo gias e cre nças do auto r , o que car acter iz a o e ngajame nto lite r ár io , que po de ser manife sta do da mane ir a mais be la e ide aliz ada, mas també m da mane ir a mais cr ua, se ca e áspe r a. Ela po de apre se ntar - se co m car áte r e mancipado r o u alie nado r , o que co mpro va que e la e stá acima do be m do mal, visto que apre se nta se mpr e o s do is lado s de uma me sma situação . Q uando um e scr ito r faz uso das palavr as a fim de e ngajar - se e m algum tipo de causa ide o ló gica, o te xto assume uma função so cial, que e stimula o le ito r a agr e gar o u r e pudiar 173 IX C O N GR ESSO D E ED U C A ÇÃ O D O NO R TE P IO N EIR O Educação: Horizontes Possíveis: Desafios Imediatos UENP – Centro de Ciências Humanas e da Educação Centro de Letras Comunicação e Artes – ISSN – 18083579 A N A IS situaçõ e s existe nte s na so cie dade . Essa função e stá imbr icada ao s dir e ito s humano s, por que , ao pr o mo ve r o de smascar ame nto , faz o le ito r se nsibi liz ar - se co m o s pr o ble mas e se ntir ur gê ncia e m te ntar mo dificá- lo s. Co nfo r me e xpo sto e m A lite r atur a e a fo r mação do ho me m (1 97 2 ), a lite r atur a e xer ce influê ncia so bre a for mação da pe r so nalidade e do s valo re s de cada um. Assim, a lite r atur a exe r ce ime nso po de r so br e o ser humano , po r que sua fr uição pr o vo ca a humaniz ação , o que , no e nte ndime nto de C andido , é o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a a q u i s i ç ã o d o s a be r , a b o a d i s p o s i ç ã o p a r a c o m o p r ó x i m o , o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos p r o b l e m a s d a v i d a , o s e n s o d a b e l e z a , a pe r c e p ç ã o d a c o m p l e x i d a d e do m u n d o e do s s e r e s , o c u l t i v o d o h u m o r . A l i t e r a t u r a d e s e n v o l v e e m n ó s a q u o t a de h u m a n i d a d e n a m e d i d a e m q u e n o s t o r n a m ai s c o m p r e e n s i v o s e a be r t o s para a natureza, a sociedade, o semelhante . (1972, p. 249, grifo meu) Ape sar de apr e se ntar uma co nce pção ple name nte humaniz ada e humaniz ado r a de lite r atur a, o auto r e stá cie nte de que o ace sso a esse be m ainda é r e str ito no B r asil, visto que a má distr ib uição de re nda eco nô mica é idê ntica à pro pagação da cultur a. Uma pe que na par ce la da po pulação br asile ir a mo dalidade s tinha lite r ár ias, – e ainda e nquanto a é assim gr ande - ace sso maio r ia fica a to das as re le gada ao po pular , o que é lastimáve l , co nside r ando que não é a po sição so cial, ne m a e sco lar iz ação , que de te r minam a fr uição de um te xto . Co m ce r tez a, a o fe r ta da lite r atur a e r udita ao s me no s pr ivile gi ado s tr ar ia bo ns r e sultado s, já que po der ia favor e cer o aume nto do núme r o de le ito r e s e a co nse que nte pro pagação das o br as. A visão de mo cr ática de C andido quanto ao ace sso irr e str ito à cultur a lite r ár ia de mo nstr a sua afinida de co m pr o je to s que e fe tivar iam o co ntato entr e per mane nte . o A le ito r e e xistê ncia o de te xto lite r ár io bibl io te cas de que mane ir a ate ndam co ncr e ta os e le ito re s satisfato r iame nte , quanto ao ace r vo , e a pr eo cupação co m a ambie ntação física são fato r e s pr imo r diais par a a o fer ta da le itur a lite r ár ia. Apr o ximar a lite r atur a do le ito r das mais amplas e dive r sas mane ir as po ssíve is e valo r iz ar a cultur a po pular , de mo nstr ando - a co mo o po nto de par tida par a se atingir a e r udita, já que uma e mana da o utr a, são 174 IX C O N GR ESSO D E ED U C A ÇÃ O D O NO R TE P IO N EIR O Educação: Horizontes Possíveis: Desafios Imediatos UENP – Centro de Ciências Humanas e da Educação Centro de Letras Comunicação e Artes A N A IS – ISSN – 18083579 alguns do s caminho s suge r ido s po r e le . T al atitude po de r ia se r ado tada na atualida de , co nside r ando - se que ainda não se che go u à de mo cr atiz ação da cultur a no B r asil. Em busca de image ns que co ncr e tiz e m sua co mpr e e nsão humaniz ado r a da lite r atur a, C andido també m me ncio na [...] o po d e r universal dos grandes clássicos, que ultrapassam a barreira da estratificação social e de certo modo po d e m redimir as distâncias impostas pe l a de s i g u a l d a d e e c o n ô m i c a , p o i s t ê m a c a p a c i d a d e de i n t e r e s s a r a t o do s e p o r t a n t o d e v e m s e r l e v a d o s e m m a i o r n ú m e r o . (1972, p. 261) Sua visão de mo nstr a que a o fe r ta da le itur a de ve o co r re r de mane ir a e qüitat iva, afinal to do s po ssue m a co ta de humanid ade suficie nte par a se e ncantar e m e fr uír e m te xto s de bo a qualid ade , que de té m alcance unive r s al, cir cunstânc ia esta que muitas vez e s não se co ncre tiz a de vido à se gr e gação cultur a l. Tal se gre gação pr iva as pe sso as de te re m ace sso a um be m que lhe s é le gítimo , de ixando que m re alme nte de se ja te r um co ntato co m a lite r atur a se m po ssibil idade s , e nquanto a classe do minante abando na o de se jo inco mpr e ssíve l par a faz e r da lite r atur a um o bje to de e ngr ande cime nto ape nas po r vaidade . A pre cio sa co nce pção de C andido so bre a lite r atur a o fez “ me str e ” de pe squisado r e s muito r e spe itado s, co mo R ildo Co sso n, Ne lly No vae s Co e lho , W illiam Ro be r to Ce r e ja, Ver a T e ixe ir a de Aguiar e Mar ia da G ló r ia Bo r dini, e ntr e o utr o s, que utiliz am suas ide ias co mo fundame nto de no vo s co nce ito s, po nto s de vista e me to do lo gias, o que faz co m que o discur so do so ció lo go te nha tr anspo sto se u te mpo e co ntinue vivo e atuante na inte le ctual idade co nte mpo r âne a. A par tir do po nto de vista so bre a lite r atur a, ado tado po r C andido , pude e nr ique ce r minha pr ática didática e m sala de aula. C o mo e xe mplo , cito a abo r dage m tr ansdiscip li nar do po e ma “ Mor te do le ite ir o ” , de C ar lo s Dr ummo nd de Andr ade , fe ita e m co njunto co m me us aluno s do 1º ano do e nsino mé dio . T rate i o te xto da for ma mais ampla po ssíve l, co nside r ando sua te mática e sua dispo sição fo r mal co mo me io par a tr anspo r os limi te s da poe sia, a fim de pr o mo ve r uma or ganiz ação no s se ntime nto s do s pró pr io s aluno s. Po r fim, o que fo i o btido atr avé s da análise fo i um re sultado muito po sitivo , que se fez 175 no tar pe lo fato do s e ducando s IX C O N GR ESSO D E ED U C A ÇÃ O D O NO R TE P IO N EIR O Educação: Horizontes Possíveis: Desafios Imediatos UENP – Centro de Ciências Humanas e da Educação Centro de Letras Comunicação e Artes A N A IS e fe tivar e m sua co mpr e e nsão – ISSN – 18083579 atr avé s da asso ciação co m o utr o s co nhe cime nto s que não se re str ingia m ape nas ao lite r ár io . A lite r atur a manife sto u- se e m se u po der humaniz ado r quando o s aluno s asso ciar am a for ma ao co nte údo par a pr o mo ver sua pr ó pr ia o r ganiz ação pe sso al e espir itu al. As palavr as de Jo sé Luiz Passo s, dir e to r do Ce ntr o de Estudo s Br asile ir o s da Unive r sidade da C alifó r nia, e m de po ime nto ao jo r nal Estado de S. Paulo , e m maté r ia co me mo r ativa ao s 9 0 ano s de C andido , de finiu muito be m qual fo i a maio r lição que e le le go u à so cie dade : S u a l i ç ã o m a i o r ? A de q u e n ã o h á p o r q u e t o m a r o t e x t o isoladamente, fora da relação entre o esforço singular e o p a c t o c o l e t i v o q u e o t o r n a t e x t o l i t e r á r i o . E l e o f e re c e ao l e i t o r o r a r o e xe m p l o d a a l i a n ç a e n t r e o a p u r o d a f o r m a , a relevância do tema e a síntese de processos sociais. Com Antonio Candido parece fácil mostrar como a literatura, o d i r e i t o à l i t e r a t u r a , é p a r t e f u n d am e n t a l d o e xe r c í c i o d a nossa cidadania. (2008) É e ssa a lição que to do s o s pr o fe sso re s que amam a lite r atur a e a co mpar tilham co m se us aluno s pr e cisam co lo car em pr ática, mo str ando que a lite r atur a é uma ne ce ssidade so cial ine vitáve l. REFERÊN CI A S C AN DIDO , Anto nio . A lite r atur a e a fo r mação do ho me m. In: C iê ncia e C ultur a . v. 2 4 , n. 9 . São Paulo : 1 97 2 . __ __ __ __ . O dir e ito à lite r atur a. In: Vár io s escr ito s . 3 . ed. r ev. e ampl. São Paulo : Duas C idade s, 1 99 5 . PASSO S, Jo sé L uiz . In: AN T ON IO C AN DIDO , 9 0 AN O S. Dispo níve l e m: 176 IX C O N GR ESSO D E ED U C A ÇÃ O D O NO R TE P IO N EIR O Educação: Horizontes Possíveis: Desafios Imediatos UENP – Centro de Ciências Humanas e da Educação Centro de Letras Comunicação e Artes A N A IS – ISSN – 18083579 < http:/ /w w w .e stadao .co m .br /e sta dao de ho je /2 0 0 80 72 0 /cade r no 2 .htm> . Ace sso e m: 0 7 de maio de 2 00 9 . AN TO N IO C AN DIDO , O MEST R E DO B R ASIL . Dispo níve l e m: < http:/ /supe r .a br il. co m.br /s upe r ar quivo /2 0 0 4 /co nte udo _ 12 4 38 2 .shtml> . Ace sso e m: 0 4 de maio de 2 00 9 . Par a citar e ste ar tigo : PER EIR A, Mar ília de Me lo . A nt o nio Ca nd id o e o “ d ir eit o à lit er a t ur a” . In: IX CO N GR ESSO DE EDUC AÇ ÃO DO N OR T E PIO N EIRO Jacar e z inho . 2 00 9 . Anais.. . UEN P – Unive r sidade Estadua l do N o r te do Par aná – C e ntr o de C iê ncias Humanas e da Educação e C e ntr o de Le tr as C o municação e Ar te s. Jacar ez inho , 2 00 9 . ISSN – 18 08 35 7 9 . 177