A LEITURA DOS PROCESSOS GRUPAIS NA ARTE DE REMBRANDT1
Carmem Maria Sant’Anna2
Maria Angela S.Kafrouni3
O presente texto tem a finalidade de destacar a sensibilidade de um autor que
em pleno século XVII, demonstrou tremenda sensibilidade para ler a alma
humana, quando ainda pouco se sabia sobre inconsciente, aspectos
subjacentes, reações e sentimentos. Na beleza de sua obra estão implícitos
muitos ensinamentos sobre a leitura do processo grupal durante um grupo em
funcionamento
Acreditamos que existe retratado na arte de Rembrandt, um mesmo objeto de
estudo que despertou o interesse de Kurt Lewin, ou seja, o comportamento dos
grupos, quando fundou o Centro de Pesquisa de Dinâmica de Grupo do
Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), em 1945.
No Instituto, Lewin fez diversos trabalhos e formou profissionais no campo da
Psicologia e da Sociologia. Introduziu um novo olhar sobre o funcionamento
dos grupos: os movimentos de integração, a autenticidade e fluidez na
comunicação e como as pessoas “aprendem a aprender”, aprendem a dar
ajuda e a operar de maneira colaborativa. Estudou também as normas do
grupo, suas disputas, o afastamento social de membros e a atuação
independente dentro de um grupo.
1 O presente texto é reprodução de partes do livro “La Dinámica de los Grupos Pequenõs” de Didier
Anzieu y Jacques Ives Martin.
2
Carmem Maria Sant’Anna é Mestre em Educação, formada em Administração, especialista em Gestão
de Empresas e de Pessoas, Didata em Dinâmica dos Grupos, Membro Certificada em Análise
Transacional Organizal pela UNAT-Brasil, consultora e coache.
3
Maria Angela S.Kafrouni é Mestre em Sociologia, formada em Administração. Certificada em Dinâmica
dos grupos pela SBDG Sociedade Brasileira de Dinâmica dos Grupos.
A arte do retrato coletivo de Rembrandt "Os síndicos da corporação dos
tecelões" é uma abordagem inovadora frente aos pintores da sua época que,
até então, representavam os membros de uma confraria, estáticos, formais,
inexpressivos, um ao lado do outro, em várias filas, da maneira menos natural
possível.
Rembrandt surpreende o grupo em plena discussão. É muito interessante ver
a tela, não só pela bela obra de arte, mas pela riqueza de detalhes do
funcionamento do grupo, os papéis de cada membro e o clima emocional,
contado através de expressões faciais e corporais pelo magnífico talento do
artista.
Olhando o quadro de frente, à esquerda, o orador, que já havia concluído,
senta-se, cansado como que vencido por antecipação. Seu adversário, no lado
direito do quadro, prepara o documento sobre o qual fundamenta sua réplica.
Entre eles, o presidente se esforça para manter a neutralidade. No extremo
direito, o mais jovem, parecendo impulsivo e inexperiente não suporta a tensão
crescente e esboça a intenção de retirar-se.
No extremo esquerdo, o mais idoso, parece adotar um ar de fastio, como se
quisesse dizer ao jovem: “Facilmente te cansas, meu jovem amigo; as reuniões
são sempre assim: cedo ou tarde, os desacordos se expressam com violência,
sempre há um momento em que as coisas ficam feias.” Enfim, até o servo, de
pé, atrás, meio malicioso, inquieto, eterniza o breve momento de silêncio antes
da tormenta.
Rembrandt demonstra grande capacidade perceptiva em relação ao
comportamento humano ao captar os disfarces, a tensão, os movimentos de
fuga frente ao aumento de tensão e as relações de poder. É possível afirmar
que Rembrandt utiliza na arte competências desejáveis para os líderes das
organizações contemporâneas, que é a capacidade de identificar os
sentimentos coletivos do grupo – expressos por maneiras sutis e pouco
perceptíveis – que alimentam as dificuldades de relacionamento e conflitos de
idéias, a luta pelo poder e a tendência da individualização das tarefas nos
grupos, deixando de contribuir criativamente para a capacidade de resposta do
organismo corporativo.
O retrato dos síndicos expressa a percepção do que entendemos como
o conceito da dimensão sócio-emocional dos grupos, implícito na teoria da
dinâmica dos grupos, que se refere ao pensamento e sentimento coletivo de
grupo, expresso algumas vezes de forma tênue e dissimulado. Esses aspectos
sócio-emocionais não são facilmente decodificados e identificados no trato
social, mas são determinantes para as ações e reações das pessoas.
Os aspectos subjacentes às tarefas do grupo - as emoções,
sentimentos, medos, cultura da época – são captados pela “leitura” feita por
Rambrandt. Ele capta duas dimensões que atuam lado a lado, a modalidades
de interação técnica de tarefa e a interação socio-emocional. No plano
concreto, as tarefas realizadas incluem os aspectos práticos do trabalho, as
posturas adotadas, os comportamentos observáveis, as ações praticadas. No
plano subterrâneo do grupo estão as emoções, que se manifestam sob o filtro
do que é considerado como socialmente correto, prudente em relação à
tradição e a cultura do ambiente, portanto codificada.
A dimensão sócio-emocional corre o risco de ser ignorada pelo fato de
não ser material, difícil de ser mensurada, segundo a opinião de alguns
gestores que estão com o olhar fixo nos resultados concretos, que é fruto da
dimensão “tarefa”, ou seja, os gráficos que apresentam os processos de
trabalho em comparação com as metas estipuladas. Entretanto, os resultados
mensurados nas organizações incorporam e são produzidos pelas pessoas,
que constituem o chamado capital humano. Os resultados numéricos de uma
organização é um produto das relações sociais de pessoas que interagem
entre si, compartilhando competência, criatividade, disponibilidade física e
emocional, como fruto das suas crenças, valores e clima cooperativo.
Assim como Rembrandt introduz um novo retrato coletivo em sua época, a
Educação Corporativa hoje tem a opção de considerar a base científica para a
aprendizagem em grupo e inovar o processo educativo, tradicionalmente
instrucionista, adotando um modelo que implica o ser humano em sua
totalidade. Utilizar um processo que se dirige aos canais cognitivos e
emocionais, promovendo reflexão e decisões de mudanças de comportamento.
Com bases nestes pensamentos a SK Aprendizagem constrói conteúdos e
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que estuda as melhores práticas para orientar adultos a aprender,
proporcionando um aprendizado efetivo e permanente.
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a leitura dos processos grupais na arte de rembrandt.