7 - TORNAR-SE PAI-MÃE “Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36) A pintura de Rembrandt oferece um contexto no qual descobrimos que o estágio final da vida espiritual não é somente aceitar que os dois filhos habitam em nós. O pai não pode ser simplesmente o “outro”, aquele que nos recebe, nos perdoa, nos oferece um lar e nos dá paz e alegria. Nossa jornada espiritual nunca se completa enquanto o pai for um estranho. Rembrandt, que nos mostrou um Pai extremamente vulnerável, faz-nos compreender que a nossa vocação final é realmente nos tornar como o Pai e exercer no nosso dia-a-dia sua divina compaixão. Apesar de que somos tanto o filho mais jovem como o mais velho, não devemos permanecer como eles, mas nos tornar o Pai. Nenhum pai ou mãe se tornaram pai e mãe sem antes ter sido filho ou filha, mas cada filho(a) tem que, conscientemente, decidir pôr de lado sua infância e se tornar pai e mãe para outro. Embora Rembrandt não coloque o pai fisicamente no centro da pintura, é claro que ele é o centro do acontecimento que a obra retrata. Dele vem toda a luz, para ele vai toda a atenção. Por que prestar tanta atenção nos filhos quando é o pai que está no centro e é com o pai que queremos nos identificar? A misericórdia de Deus é descrita por Jesus não simplesmente para nos mostrar como Deus está disposto a sentir por nós ou a perdoar nossos pecados e nos oferecer uma vida nova de felicidade, mas também a nos convidar a nos assemelhar a Deus e a mostrar a outros a mesma compaixão que Ele tem por nós. Vemos agora que as mãos que perdoam, consolam, curam e oferecem uma refeição festiva tem de ser as nossas. O Deus que Jesus anuncia é o Deus da compaixão, o Deus que se oferece a si mesmo como exemplo e modelo para todo o comportamento humano. O Pai na obra de Rembrandt é um pai esvaziado pelo sofrimento. Através de muitas mortes que sofreu, tornou-se inteiramente livre para receber e dar. Suas mãos estendidas não estão pedindo, agarrando, exigindo, prevenindo, julgando ou condenando; são mãos que somente abençoam, tudo dando e nada pedindo em troca. O que vemos aqui é Deus como mãe, acolhendo de volta no seu ventre aquele que foi criado à sua semelhança. Os olhos quase cegos, as mãos, o manto, o corpo curvado... evocam o amor maternal de Deus, marcado por pesar, desejo, esperança e interminável expectativa. O quadro de Rembrandt nos mostra o itinerário a ser vivido: passar do lugar ocupado pelo filho mais novo, ajoelhado e esfarrapado, ao lugar do pai ancião, de pé e inclinado; passar do lugar onde sou abençoado ao lugar da bênção. A comunidade cristã não precisa de mais um filho, mais jovem ou mais velho, convertido ou não, mas de um pai que viva com mãos estendidas, sempre querendo deixá-las descansar nos ombros de seus filhos que voltam. Quando olho minhas mãos devo saber que me foram dadas para que as estenda a todos os que sofrem, para que as apoie sobre os ombros de todos os que se aproximam e para oferecer a bênção que nasce do imenso amor de Deus.As mãos são expressão daquilo que está presente no meu coração; um coração cheio de ternura, bondade, compaixão... se expressa através das mãos ternas, bondosas, compassivas, que praticam a acolhida... Um coração cheio de violência, arrogância, preconceitos, malícias... se expressa através de mãos violentas, maliciosas, fechadas... As mãos... são o espelho da alma. Na oração: - Será que desejo ser não somente aquele que está sendo perdoado, mas também aquele que perdoa? não somente aquele que é bem-vindo, mas aquele que acolhe? não unicamente aquele que é tratado com compaixão, mas aquele que tem compaixão? - Sendo eu o filho mais jovem ou o mais velho, não devo me esquecer que sou o filho de meu Pai compassivo. Sou um herdeiro. Como filho e herdeiro devo me tornar sucessor. Devo assumir o lugar do meu Pai e oferecer a outros a mesma compaixão que ele teve por mim. A volta ao Pai é o desafio para me tornar o Pai e a Mãe. - Estar na casa do Pai exige que eu faça da Vida do Pai a minha própria vida e me transforme em sua imagem. - Contemplar minhas mãos: foram dadas para serem estendidas em direção de todos aqueles que sofrem. Pedir a graça: pedir a graça de reconhecer e de experimentar com tal força a Boa Nova da Misericórdia, do perdão e da alegria proclamada por Jesus. Textos bíblicos: Rom 8,14-17 Lc 6,27-36 FONTE: CEI-JESUÍTAS - Centro de Espiritualidade Inaciana Rua Bambina, 115 - Botafogo – RJ – 22251-050 [email protected] / www.ceijesuitas.org.br