Simetrias Discretas da Teoria de Dirac Já foram vistas as transformações de Lorentz contínuas. Agora discutiremos três operadores que implementam algumas simetrias discretas no campo de Dirac. Duas delas, paridade e reversão temporal, dizem respeito a operações espaço-temporais, que não podem ser obtidas através de transformações de Lorentz contínuas (próprias) partindo da identidade mas preservam xµxµ =t2−x2. São elas: • • • Paridade (P): (t, x ) → (t, −x ) , revertendo a quiralidade do espaço. Reversão temporal (T): (t, x ) → Conjugação de Carga (C): partícula (−t, x ) , trocando futuro pelo passado. anti-partícula. – Qual o status experimental dessas operações de simetria? Apesar de qualquer teoria ter que ser invariante sobre transformações de Lorentz próprias (ortocrono), elas não precisam necessariamente ser invariante por P, C e T. • • • • P, C e T : forças gravitacional, eletromagnética e forte. C e P : violadas (separadamente) pela interação fraca mas T é preservada. CP e T : violada apenas em certos processos (K0, B). CPT : todas as observações indicam ser uma simetria perfeita da natureza. Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes 1 Paridade O operador paridade (P) deve reverter a direção do momento de uma partícula, mas sem inverter seu spin (p e x mudam mas momento angular não muda): Matematicamente deve ser implementada por operação unitária U(P) ou, por simplicidade, P: transforma o estado as†p|0> Æ as†-p|0>, i.e., quer-se uma operação tal que • ηa e ηb são possíveis fases fixadas pela condição de que duas aplicações sucessivas de P deve fazer as observáveis retornarem ao valor original. • Como observáveis são construídas com número par de operadores fermiônicos, isto requer que η2a, η2b =±1 (fase complexa). • A transformação de paridade deve ser representada por matriz constante 4×4, da mesma forma que a transformação contínua de Lorentz era dada por S. Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes 2 Para encontrar P , e determinar ηa e ηb , aplica-se P a ψ(x): P ψ (x ) P = P ∫ d 3p (2π )3 1 2Ep ∑ ( asp ∫ d 3p (2π )3 1 2Ep ∑ ( ηa a−s p us (p)e−ip.x + ηb* b−s †p vs (p)eip.x ) = s ) u s (p) e−ip .x + bps † vs (p) e ip .x P = s 0 Faz-se uma mudança de variável p → p = (p , −p ) (lembrando de mudar o sinal de d3p e dos limites de integração). Note que: p.x = (p 0x 0 − p.x ) = [ p 0t − (−p ).(−x )] = p.(t, −x ) • Produto escalar: • Produtos com σ : p.σ = (p 0, p ).(σ 0, σ ) = (p 0 , −p ).(σ 0, −σ ) = p.σ p.σ = (p 0, p ).(σ 0, −σ ) = (p 0, −p ).(σ 0, σ ) = p.σ • Espinores: γ0 ⎛ 0 1 ⎞ ⎛⎜ p.σ ξ ⎞⎟ ⎟⎟ ⎜ ⎟⎟ = γ 0u(p ) = ⎜⎜⎜ ⎜ ⎟ ⎜⎝ 1 0 ⎟⎠ ⎜⎜⎝ p.σ ξ ⎟⎟⎠ ⎛ 0 −1 ⎞ ⎜⎛ p.σ η ⎟⎞ ⎟⎟ ⎜ ⎟⎟ = −γ 0v ( p ) = ⎜⎜⎜ ⎜ ⎟ ⎜⎝ −1 0 ⎟⎠ ⎜⎜⎝ − p.σ η ⎟⎟⎠ − γ0 Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes 3 Dessa forma, a ação de P em ψ(x) torna-se: Isto deveria ser igual a uma matriz constante multiplicando ψ(t,–x). Vê-se que esta condição é verificada se η*b= – ηa ou seja . ηaηb = −ηaηa* = −1 X Forma final da transformação de paridade (P) sobre X Transformação de paridade (P) sobre ψ(x): ψ (x ) : = [ηaγ 0ψ (t, −x )]† γ 0 = ηa*ψ (t, −x )γ 0 Pψ (t, x )P = ηa∗ψ (t, −x )γ 0 Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes 4 – Transformação dos bilineares de Dirac sob paridade P: • Escalar: • Vetorial (mesmo sinal negativo que xµ nas componentes espaciais) • Pseudo-escalar (sinal extra sob paridade) • Pseudo-vetorial (sinal extra sob paridade) As propriedades de transformação de bilineares fermiônicos são independentes de ηa : poder-se-ia impor ηa=− ηb =1 sem perda de generalidade, desde o início. Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes 5 Reversão Temporal (T) Se impusermos que operador de reversão temporal seja uma simetria de Dirac Temos [T , H ] = 0 ψ (t , x ) = e iH t ψ (x )e − iH t ⇒ T ψ (t , x )T = e iH t [T ψ (x )T ]e − iH t T ψ (t , x )T 0 = e iH t [T ψ (x )T ]e − iH t 0 = e iH t [T ψ (x )T ] 0 o lado direito é uma soma apenas de termos com freqüência negativa mas do esquerdo, seT reverte t em ψ(t,x), é uma soma apenas de termos com freqüência positiva : ψ (−t , x ) 0 = e −iH t ψ (x ) 0 Portanto T não pode ser implementado como um operador linear unitário. Para resolver isto, supomos que T seja unitário (T † = T -1) mas que atue tanto sobre = ∗T os números complexos, quanto nos operadores como: T Assim, mesmo tendo-se [T,H]=0, a dependência temporal de todos os fatores exponenciais é revertida, i.e., Como toda a evolução temporal é feita com tais fatores, isso muda efetivamente o sinal de t. Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes 6 Portanto, sob reversão temporal: • x não deve mudar mas p ∝ dx/dt deve mudar • Momento angular ( x×p ) também tem que mudar de sinal: X Devemos encontrar uma quantidade que flip o spin Spin (antes, s=1,2), agora s é componente física do spin ao longo de um eixo específico (com coordenadas polares θ e φ). A forma do espinor us(p): Escrevendo p em coordenadas esféricas e tomando a forma explícita de ξ temos os espinores de duas componentes (up e down) ao longo desse eixo: Então, agora Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes , para s=1, 2. 7 Podemos definir a operação de “spin flip” (reversão de spin) como: a quantidade resultante é o espinor revertido. No exemplo acima: A relação de reversão de spin segue, de maneira mais geral, da identidade: o implica que, se ξ satisfaz, para algum eixo n , então: Com a convenção acima para a reversão de spin, então, duas aplicações sucessivas faz com que retorne ao spin a: (–1) X estado original: (ξ −s )−s = −iσ 2 (−iσ 2ξ s * )* = (−i )(+i )σ 2 (σ 2 )* ξ s = −ξ s ⎛ 0 −i ⎞⎛ 0 i ⎞ ⎛ −1 0 ⎞ ⎟⎜ ⎟⎟ = ⎜⎜ ⎟⎜ σ (σ ) = ⎜⎜⎜ ⎟⎟⎟ = −I ⎟⎜ ⎟ ⎜ ⎜⎝ i 0 ⎟⎜ ⎠⎝ −i 0 ⎟⎠ ⎝⎜ 0 −1 ⎟⎠ 2 2 * Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes 8 Podemos associar vários estados fermiônicos de spin aos espinores assim definidos: X X asp : destrói um elétron cujo espinor us(p) contém ξs bsp : destrói um pósitron cujo espinor vs(p) contém ξ−s Analogamente a ( ), define-se: – Relação dos espinores u e Define-se novamente o vetor p.σ = p.σ v e a reversão temporal p = (p 0, −p ) e usando p.σ = e p.σ pode-se mostrar que: e Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes 9 • Relação entre u s (p) ↔ u −s (p) : ⎛σ 2 ⎜ = −i ⎜⎜ ⎜⎜ 0 ⎝ • Relação entre 0 ⎞⎟ ⎛ p .σ ξ s ⎞∗ ⎟⎟ ⎟⎟ ⎜⎜ = ⎜ s σ 2 ⎟⎟⎠ ⎜⎝ p .σ ξ ⎟⎟⎠ vs (p) ↔ v−s (p) Usando a notação adotada em ( ), define-se a reversão temporal dos operadores de criação e destruição de férmions como: Como uma fase global não teria efeito sobre o restante da discussão, como aconteceu no caso da paridade, ela será omitida Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes 10 – Ação da reversão temporal) sobre o campo ψ(x): sendo que, para escrever a 3ª igualdade, usou-se: p.(t, −x ) = (p 0, −p ).(t, −x ) = (p 0, −p ).(−1)(−t, x ) = −p.(−t, x ). O sinal (−) relativo nas leis de transformação de partícula-antipartícula ainda estão implicitamente presentes na relação acima, através da convenção de espinor revertido usada em v-s. – Ação da reversão temporal) sobre o campo ψ : TψT = (Tψ †T )(γ 0 )∗ = [(−γ 1γ 3 )ψ (−t, x )]† γ 0 = = ψ (−t, x )† (−γ 1γ 3 )† γ 0 = −ψ (−t, x )(γ 3γ 1 ) = ψ (−t, x )(γ 1γ 3 ) Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes 11 – Ação da reversão temporal sobre os bilineares de Dirac • Escalar: • Pseudo-escalar: • Vetorial: • Pseudo-vetorial: T ψγ µγ 5ψ T = ψ (−t, x )γ 1γ 3 (γ µγ 5 )* (−γ 1γ 3 )ψ (−t, x ) µ 5 ⎪⎪⎧ ψ (−t, x )γ γ ψ (−t, x ) (µ = 0) =⎨ ⎪⎪ − ψ (−t, x )γ µγ 5ψ (−t, x ) (µ = 1, 2, 3) ⎪⎩ Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes 12 Conjugação de Carga (C) Operador conjugação de carga (C ) é unitário e linear. Definição convencional: X Leva um férmion com uma dada orientação de spin a um antiférmion com a mesma orientação de spin • Escolha conveniente: – Ação de C em • ψ(x) Relação entre vs(p) e us(p) : ou seja: Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes =ξ−s =−iγ2 = us(p) 13 Substituindo as expressões para vs(p) e us(p) na expressão para o operador de campo fermiônico e então transformando-o com C, temos: ∫ d 3p (2π )3 1 C 2E p ∑ ( a sp s ) u s (p ) e−ip .x + bps † v s (p ) e ip .x C (ψ † = (ψ ∗ )T → (ψ † )T = [(ψ ∗ )T ]T = ψ ∗ ) – Ação de C sobre ψ : – Ação de C sobre ψ : Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes 14 – Ação da Conjugação de Carga sobre os bilineares de Dirac • Escalar: (o sinal (−) na 3ª. igualdade vem da anticomutação de fermions) • Pseudo-escalar: • Vetorial: • Pseudo-vetorial: Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes 15 Resumindo Notação: Æ e Æ ). Assim, a lagrangiana livre de Dirac é invariante separadamente, por C, P e T. Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes 16 Lista 5 Exercício 14: A expressão do momento angular total é dada por: J = ∫ d 3x ψ † ⎡⎢⎣ x ×(−i∇) + 12 Σ ⎤⎥⎦ ψ ⇔ Ji = para fermions não relativísticos: ∫ d 3x ψ † ⎡⎢⎣ ε ijkx j (−i )∂k mom. angular orb. + 1 Σi 2 ⎤ψ ⎥⎦ mom. ang. spin Considerando partículas relativísticas em repouso (momento angular orbital não contribui) mostre que o momento angular de fermions e antifermions é dado por: 1 1 J za 0s † 0 = ± a 0s † 0 ; J zb0s † 0 = ∓ b0s † 0 , 2 2 discutindo derivação dos resultados em cada caso. Exercício 15: • Obtenha as relações abaixo para os campos quantizados de Dirac: d 3 p 1 −ip .(x −y ) e 〈0 | ψa (x )ψb (y ) | 0〉 = (i ∂ x + m )ab ∫ (2π )3 2Ep d 3 p 1 −ip .(y −x ) e 〈0 | ψb (y )ψa (x ) | 0〉 = −(i ∂ x + m )ab ∫ (2π )3 2Ep • Mostre a relação da combinação dos resultados acima, na forma de anticomutador , com o comutador dos campos de Klein-Gordon, i.e.: 〈0 | Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes { ψa (x )ψb (y ) } | 0〉 = (i ∂x + m )ab 〈0 | [ φ(x ), φ(y ) ] | 0〉 17 Exercício 16: Sendo a função Green retardada para a equação Dirac dada por: Sendo a função dede Green retardada para a equação dede Dirac dada por: DR (x − y ) ≡ θ (x 0 − y 0 ) 0 [φ (x ), φ (y ) 0 , mostre que: Mostre que: se relaciona com a função de Green retardada de Klein-Gordon por: • SR(x-y) • SR(x-y) seS relaciona de Green de Klein-Gordon por: (x − y ) com ≡ (i a∂ função + m )D (x − yretardada ) R x R • Demonstre que, de fato, SR(x-y) é a função de Green do operador de Dirac, • Demonstre que, de fato, S (x-y) é a função de Green do operador de Dirac, R ou seja: ou seja: (i ∂ x − m )SR (x − y ) = iδ (4)(x − y ).14×4 •Expandindo SR(x-y) (e a(efunção delta acima) como integral de Fourier: • Expandindo SR(x-y) a função delta acima) como integral de Fourier: mostre que: mostre que: d 4 p −ip .(x −y ) SR (x − y ) = ∫ e S R (p ) (2π )4 i( p + m ) S R (p ) = 2 p −m Exercício 17: Demonstre que, ao integrar em p0 a0 função de Green na forma de integral de Fourier, Demonstre que, ao integrar em p a função de Green na forma de integral de com Fourier, as condições decondições contorno de pág. 31longo do livro) obtém-se: com as deFeynman contorno (contorno de Feynman (ao do contorno da 4 p +livro), m ) obtém-se: d p 31i(do SF (x − y ) ≡ ∫página e−ip.(x −y ) 4 2 2 NOTA: (2π ) p − m + iε = 0 ψ (x )ψ (y ) 0 - 0 ψ (y )ψ (x ) 0 ≡ 0 Tψ (y )ψ (x ) 0 Sandra S. Padula & Sérgio F. Novaes 1 1 = 2 0 2 2 [(p ) − (p + m 2 − iε )] p − m + iε (y 0 > x 0 ) (contorno por cima) 1 ≈ 0 [ p − (Ep − iε )][ p 0 + (Ep − iε )] (x 0 > y 0 ) (contorno por baixo) 2 18