45 ANOS ACOMPANHANDO O EDUCADOR
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ANO 45 . Nº 388
JUNHO . 2012
AMAE educando - 388 . Junho . 2012
1
Konvyt
2
AMAE educando - 388 . Junho . 2012
Capa de Renata Pimenta
JUNHO . 2012 . Nº 388
Fotos: arquivo Konvyt
Carta ao leitor
Nosso jeito de ser – A revista AMAE Educando é uma publicação da Fundação AMAE para Educação
e Cultura. Escrita por professores para professores, com uma abordagem ligada à realidade vivida
em sala de aula, seu diferencial é conter artigos práticos ou teóricos, usando uma linguagem clara e
objetiva. Dirige-se, principalmente, a educadores de Educação Infantil e Ensino Fundamental. Suas oito
edições anuais (quatro em cada semestre) são comercializadas por assinaturas.
Expediente
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de qualidade, na opinião do
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Editorial
por Cristina Ministerio
@MAE ON LINE
fixo
A Fundação AMAE e a revista AMAE
Educando na web
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ENCARTE
BOLETIM DE NOTAS
Notas sobre educação e cultura
Conte um conto
Tuca, minha
adorável amiga
46
PONTO FINAL
O compromisso ético dos educadores
ndrina
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3
Alexa
4
Índice
Nina
A escola tem usado, ao longo do tempo, vestimentas diversas,
sempre em nome do saber. No Brasil, ela já foi a escola catequizante
dos jesuítas, a escola rígida das palmatórias e a escola opressora dos
anos de chumbo. Na Grécia antiga, ela já foi até a escola que nem precisava de prédios para funcionar, porque, para ouvir as lições sobre
o bem comum, bastava aos alunos sentarem-se ao ar livre, em volta
do mestre. Hoje, a escola também deve se perguntar, por exemplo,
como organizar o pensamento sobre a realidade, na busca da ventura
suprema de ser democrática, de formar alunos cidadãos, de reunir
toda a comunidade para ouvir o que ela tem a dizer. É disso que fala
a matéria de capa desta edição (p. 8): como construir, coletivamente,
um Regulamento e um Projeto Político-Pedagógico que contemplem
todas as expectativas dos principais atores do processo educativo:
gestores e professores, alunos e suas famílias. Um processo que não
termina nunca, porque é construído durante a caminhada.
Bem elaborados, levando a harmonia, a solidariedade, o sucesso e o respeito ao ambiente escolar, o Regulamento e o Projeto
Político-Pedagógico podem se tornar fantásticos aliados contra uma
situação alarmante – as enfermidades que acometem, cada vez mais,
os professores (p.36), tirando-os das salas de aula. Dados estatísticos mostram que, hoje, ser professor é exercer uma profissão de
risco. Diante desse cenário, é hora de nos perguntarmos até quando
prosseguiremos nessa caminhada, com saúde. E se a violência entra
na escola como fator agravante desse mal, o ensino das artes pode
ter um efeito contrário. Assim nos diz a premiada artista mineira,
Yara Tupynambá, na entrevista da página 16: “A arte é uma atividade espiritual. Num mundo altamente materialista, é fundamental que
as pessoas tenham uma atividade espiritual para tornarem o mundo
melhor”. Para Yara, “a arte, ao sensibilizar as pessoas, torna-as
melhores cidadãos” e não é isso que a escola almeja?
Nesta mesma edição, ainda temos
dois artigos com relatos de experiências que
despertam o gosto pela leitura. Em um deles,
os alunos “saboreiam” os livros como se degustassem um prato especial (p.41). Saciam
a sua fome de conhecimentos. Em outro, além
de leitores, os alunos tornam-se contadores de
histórias, interagindo com os livros com o auxílio de fantasias, fantoches ou outro tipo de brinquedo (p.27). Levam a literatura a outros espaços. E, voltando à missão da escola como lugar de
reflexão sobre o bem comum e a realidade que nos
rodeia, não se pode esquecer de que a conscientização individual dos sujeitos envolvidos no processo
educativo não pode prescindir da ética. Assim diz o
Ponto final (p. 44).
Nesta edição
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16
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PENSANDO A ESCOLA
Orientações para que o Regimento e o Projeto Político-Pedagógico da escola seja uma
construção realmente coletiva
ENTREVISTA
Yara Tupynambá fala sobre arte e como ela
deve ser repassada às crianças e aos jovens
OPINIÃO
A escola dos sonhos é a que melhor “herança” deixará para seus alunos
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RELATO DE EXPERIÊNCIA
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TEMAS TRANSVERSAIS / MEIO AMBIENTE
32
TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO
36
ESPECIAL
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LÍNGUA PORTUGUESA
Em município de Minas Gerais, alunos
transformam-se em contadores de histórias e
apreciadores da literatura
Poesia como sugestão para atividades que proporcionem a
conscientização sobre problemas que o meio ambiente enfrenta
O auxílio que pode vir da boa utilização dos vídeos educativos
O que contribui para que a saúde do
professor não esteja tão boa assim e dicas
de como reverter esse quadro
Quando os livros são levados à mesa para serem
“saboreados” pelos alunos
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Pensando a escola
Construção coletiva
na escola:
Regimento e Projeto
Político-Pedagógico
O fato de a escola ganhar autonomia para elaborar seu
Regimento e o próprio Projeto Político-Pedagógico exige que
ela domine todas as variáveis que permitem a realização de um
trabalho realmente democrático.
Fotos: arquivo Konvyt
Maria Auxiliadora Campos Araujo Machado é
mestre em Educação pela UFMG, pós-graduada em
Políticas Educacionais pela Universidade de San
Diego – USA, professora do Prepes – PUC- Minas,
membro do Conselho Curador da Fundação AMAE,
consultora na área de Educação. Foi membro do
Conselho Estadual de Educação de Minas Gerais
(1994-2010), Ouvidora de Educação do Estado de
Minas Gerais (2004-2010) (Belo Horizonte – MG).
A escola é o local privilegiado
para o desenvolvimento da cidadania, do acesso ao saber e da
formação da consciência democrática.
A
democratização
desejada da escola não se
limita à oportunidade de
acesso para todos, ou à eleição direta para diretor, mas
caracteriza-se, principalmente, pela garantia do
ensino básico de qualidade para todos. O aprendi-
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zado da democracia deverá permear
todo o conjunto de relações que se
desenvolvem ao longo do processo de
construção da proposta política e pedagógica.
Pode-se afirmar que a maior
inovação na escola brasileira, a partir
dos novos paradigmas educacionais,
é o fato de que a própria instituição
escolar ganhou espaço para elaborar
o seu Regimento e construir a sua
proposta pedagógica definida como
Projeto Político-Pedagógico (PPP).
O princípio da descentralização das
decisões reforça a competência do
coletivo da escola para elaborar estes
documentos.
A escola passa a ser o centro
do sistema educacional e os órgãos
centrais e regionais passam a exercer
outras funções tais como: apoio, supervisão, acompanhamento, avaliação
e intervenções, quando necessárias.
O apoio dos órgãos centrais e
regionais em relação à construção do
Projeto Político-Pedagógico é de fundamental importância para a melhoria da qualidade do processo ensino/
aprendizagem. As ações de apoio,
supervisão, avaliação, intervenção e
acompanhamento ocorrem por meio
de programas e projetos a partir dos
resultados das avaliações internas e
externas centralizadas na aprendizagem dos alunos e na prática docente.
São olhares de fora somados com o
compromisso e a competência da instituição escolar na concretização das
intenções definidas nas normas vigentes, que perseguem a formação de cidadãos para os novos tempos. Os programas contam com monitoramento
constante e cobrança de resultados
para que a escola tenha instrumentos
e motivação necessários à oferta da
educação de qualidade.
A coparticipação dos diferentes segmentos da comunidade escolar
acontece a partir das reflexões e decisões coletivas, especialmente, quando
define objetivos, metas e ações reforçadas nas reuniões pedagógicas periódicas. A construção coletiva é tarefa
difícil e desafiadora para os educadores, pais, alunos e pessoal de apoio,
visto que constitui um processo de
busca permanente de solução para os
problemas da escola, na procura de alternativas viáveis à efetivação de sua
intencionalidade, isto é, da educação
desejada. A integração não é fácil, encerra outras dificuldades porque exige
respeito às individualidades e especificidades dos agentes envolvidos.
A luta pelo sucesso da ação coletiva encontra, muitas vezes, sérias
barreiras: formação não integrada dos
agentes, comodismo, imediatismo,
descompromisso existentes e naturais
nos processos de mudanças, além da
cultura cristalizada e avessa às inovações.
A instauração de formas flexíveis de decisões coletivas exige
compromisso, competência e vontade política de todos. O que parece
desgastante no primeiro impacto,
reverte-se, aos poucos, em momentos gratificantes expressos pelo companheirismo, pelo apoio, pela troca
de experiências, proporcionando uma
caminhada mais suave, mais agradável, mais enriquecedora.
O processo pedagógico não se
Colegiado escolar
O colegiado escolar tem, entre outras, a incumbência de aprovar o regimento que incorpora o PPP da
escola. Após sua aprovação é enviado à SRE para conhecimento, avaliação e intervenções quando ferirem
normas vigentes. A eficiência e eficácia do colegiado
requerem composição e funcionamento adequados dos
representantes dos diferentes segmentos da instituição
escolar e da comunidade. Os representantes da comunidade escolar devem ser indicados pelos seus pares e
nunca convidados pelo diretor. O horário e temas substantivos da vida escolar devem constituir a agenda das
reuniões periódicas e requerem divulgação prévia, pois
as decisões compartilhadas aliviam tensões, superam desafios e permitem maior acerto.
Conselhos de classe ou de turma
Os conselhos de classe ou de turma são órgãos
colegiados presentes na organização da escola para garantir reflexão coletiva e periódica, com participação
de professores das diversas disciplinas juntamente com
alunos, supervisores e coordenadores pedagógicos para
analisarem o trabalho educativo em desenvolvimento.
Constituem momentos de avaliação ao longo do ano letivo para reforçar resultados bem-sucedidos da aprendizagem bem como revisão dos procedimentos didáticos
necessários às recuperações evidenciadas nos casos de
desempenho insatisfatório.
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circunscreve à sala de aula e à escola,
mas envolve o ambiente escolar como
um todo, bem como a comunidade local. É um trabalho solidário uma vez
que exige socialização das contribuições, discussão transparente dos problemas e busca coletiva de decisões.
Responsabilidade do diretor/
gestor escolar
É de fundamental importância
a participação do diretor na construção permanente do Projeto PolíticoPedagógico da escola.
Um estilo de gestão democrática permite que o diretor abra espaços
para as reflexões e ações coletivas que
alimentam a construção do Projeto
Político-Pedagógico da instituição
escolar. Requer do gestor firmeza,
determinação, autoridade, sem autoritarismo, capacidade de ouvir, de superar desafios em situações conflitivas,
habilidade e competência para construir um ambiente de trabalho agradável e produtivo. Daí a importância
da escolha desse diretor. É necessário
que se conheça o seu estilo de liderança e seu comprometimento com
a aprendizagem dos alunos e com o
enfrentamento dos inúmeros desafios
que envolvem uma escola de qualidade.
O colegiado e os conselhos de
classe constituem instituições valiosas de apoio à gestão escolar. Trata-se
de uma forma integradora e geradora
de mudanças do processo educacional
que pode e deve ser um recurso crítico
e construtivo em relação às competências, aos valores e posturas que vêm
sendo impostas à sociedade.
Regimento escolar
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Os pareceres e resoluções dos
Conselhos Nacional e Estadual de
Educação, observados os princípios
de flexibilidade, de autonomia e da
liberdade, com responsabilidade, caracterizam as inovações preconizadas
pela LDBN/9.394/96.
Neste contexto, foram definidas as condições necessárias ao resgate do compromisso da escola e dos
educadores com uma aprendizagem
de qualidade. Dentro desse espírito,
foi atribuída, às instituições escolares,
a incumbência de elaborar e executar
seu Projeto Político-Pedagógico que
constitui a parte mais substantiva do
Regimento Escolar e que são perfeitamente integrados e articulados.
O Regimento Escolar refere-se
ao perfil da instituição, às suas características mais permanentes:
• denominação, instituição legal, localização, entidade mantenedora, organização administrativa e
financeira, estrutura organizacional;
• colegiados, conselhos, associações e outras instituições escolares;
• competências, atribuições,
direitos e deveres dos diferentes profissionais da escola e dos diferentes
órgãos;
• organização disciplinar, cursos oferecidos.
Ao longo do tempo, as modificações substantivas ou inovações
são introduzidas no Regimento por
meio de adendos ou observações. As
modificações terão vigência a partir
do novo período letivo, portanto, a
aprovação e o registro deverão ocorrer até o final do ano letivo em curso.
Outra inovação, hoje, diz respeito à aprovação do Regimento com
seu PPP no âmbito da própria escola,
pelo seu colegiado, no caso da escola
pública, e, pela entidade mantenedora, no caso da rede privada.
O Projeto PolíticoPedagógico na construção
da identidade escolar
Acoplado ao Regimento, o PPP
trata da organização pedagógica, do
desenvolvimento curricular, do sistema de avaliação e recuperação da
aprendizagem, dos projetos da escola
e da sala de aula, dos recursos didático-pedagógicos, do calendário, do
processo de articulação da escola com
a comunidade e de outros itens relacionados ao desempenho do aluno e à
prática docente.
O que se espera das escolas na
construção de seu Projeto PolíticoPedagógico é que seja pautado nos
princípios da democracia e na participação coletiva, envolvendo professores, especialistas, pessoal de apoio,
alunos, pais e a comunidade local.
Trata-se de um processo que pressupõe desvelar as aparências e chegar às
essências, conhecer as raízes do projeto educativo. Isto exige que se tenha
o desejo de mudar, estar disposto a investir nesta mudança, estudar, trocar
experiências, buscar caminhos novos,
construir raízes sólidas, assumir com
segurança novas posturas alicerçadas
nos pilares éticos, políticos, epistemológicos e didático-pedagógicos.
É um processo que requer
tempo para amadurecer, tempo para
construir, paciência, bom-senso, habilidade, criatividade e cumplicidade.
Pressupõe a ruptura de uma escola
que foi sempre tutelada com propostas e experiências advindas dos órgãos centrais, sem que estivesse con-
vencida ou preparada para recebê-las.
A nova proposta político- educacional
implantada constitui recurso valioso
para reverter esta forma vertical de
integração.
Nesse sentido, os novos paradigmas estimulam a escola a compreender a educação em suas múltiplas
dimensões: conhecimento, afetividade, sexualidade, cidadania, ética, senso de coletividade, justiça, humanismo e outras.
A escola é o local privilegiado
de convívio com as diferenças para
organizar o pensamento sobre a realidade. É aí que se aperfeiçoa a capacidade de observação e análise do universo. “É na escola que se aprende a
ler o mundo de maneira diferente, a
criticar, para nele interferir de modo
mais competente.” (Romão, 2001,
Guia de estudos 3. SEE/MG)
Esta modernidade, que se pretende, só se justifica se identificada
com a construção de uma sociedade
justa, democrática e solidária, que não
tenha medo da liberdade e de buscar a
felicidade. Cada escola tende a construir sua identidade. É a partir desta
identidade que ela tem condições de
garantir sua qualidade.
Ao construir, coletivamente, seu PPP, a escola vai refletir sua
história, suas condições reais, seus
problemas e suas possibilidades. “Se
nós não escolhermos qual é a nossa
filosofia, qual é o sentido que vamos
dar à nossa existência, a sociedade na
qual vivemos nos dará, nos imporá a
sua filosofia.” (Luckesi, 1990) Interpretando o autor, podemos dizer que,
se nós não definirmos nossa proposta de educação, a cultura pedagógica
dominante imporá a sua, assumirá o
direcionamento de nossa prática educativa, isto é, ocupará o nosso espaço.
Estamos em um momento propício à ênfase das políticas de educação vigentes que se desloca para a autonomia pedagógica da escola, como
estratégia de melhoria da qualidade do
ensino, fator relevante na efetiva democratização da sociedade. Esta autonomia não é passível de concessões
ou de normas, é conquistada, é construída no exercício da responsabilidade, da autodeterminação e exige plena
consciência nas decisões. Pressupõe a
capacidade de assumir as ações com
competência e consequência.
O Projeto Político-Pedagógico
nunca estará acabado, é construído
no caminhar. É suscetível às mudanças, incorpora inovações e reformulações em qualquer momento. Esse
movimento supõe rupturas, sonhos,
ousadias, comprometendo seus agentes com uma ação intencionada, com
definições explícitas de onde se deseja
chegar. Trata-se de buscar uma direção, um sentido.
Metodologia
A construção coletiva do PPP
da escola permite envolver todos os
segmentos da comunidade escolar e
local, por meio de diferentes recursos
e estratégias:
• comissões de trabalhos específicos para estudos e solução de dificuldades;
• reuniões plenárias para discussões e decisões coletivas;
• grupos de estudos sistematizados no processo de formação continuada;
• palestras, seminários, intercâmbios, parcerias, trocas de experiências, e outros;
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• utilização de recursos audiovisuais, textos, etc.
As leituras, os grupos de estudos sistemáticos, palestras, vídeos,
etc. alimentarão o processo de reflexão de forma continuada, em todas as
etapas do processo, tomando como referência os eixos de cada componente, sejam pedagógicos ou gerenciais.
Passos na construção do
projeto
Os passos ou etapas na construção do Projeto Político-Pedagógico
não acontecem em ordem hierárquica
e compartimentada, podem ocorrer,
ou não, ao mesmo tempo com envolvimento de vários componentes. São
indicados para efeito didático, norteadores de rumos e direcionamentos.
a) Definição de intenções
É o momento de clarear as
concepções de mundo, de sociedade, de homem e, em decorrência, a definição de competências, habilidades,
atitudes e valores que
devem ser desenvolvidos na escola. A visão
de homem, como ser
crítico, criativo, e a
da sociedade, como
produtora históricocultural dos conhecimentos,
atitudes
e valores, indicarão
posicionamentos mais
abertos, interativos e articulados na construção do
PPP da escola.
As intenções devem ser
definidas coletivamente e fortalecidas nos referenciais teóricos a partir dos textos de autores como Paulo
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Freire, Gandin, Gadotti, Romão, Ilma
Passos e outros que têm contribuído
para o enriquecimento do processo de
ação- reflexão-ação com perspectivas
de uma escola renovada.
Na fase de concepção do PPP,
na definição das intenções dos educadores sobre a formação que se deseja
oferecer aos alunos, inúmeros e diferentes recursos podem ser utilizados
nas reuniões e encontros pedagógicos
para motivar, despertar o interesse e a
participação de todos. Vídeos, textos,
artigos, poesias, músicas, filmes, publicações que suscitem questões sobre
temas nacionais, internacionais, situações econômicas, políticas e sociais
que interferem na nossa forma de vida
podem ser usados nesse momento.
“A construção do Projeto PolíticoPedagógico implica, acima de tudo,
um certo referencial teórico, filosófico e político. Envolve estratégias e
ações. Para educar, não basta indicar um horizonte e um caminho para
se chegar lá. É preciso indicar como
se chegar lá e fazer o caminho juntos.” ( Gadotti, SEE/MG, 2001)
Exemplos de questões motivadoras que podem detonar processos
coletivos de reflexões:
• Que utopias movem o mundo
hoje?
• Como entendemos o mundo
em que vivemos?
• Que cidadão queremos formar?
• Que competências, habilidades e valores são requeridos para o
sucesso pessoal no contexto da atualidade?
• Qual é a escola de nossos sonhos?
• O que impede a construção de uma escola de nossos sonhos?
As grandes invenções e descobertas foram frutos de
sonhos. “Eles não
sabem que o sonho
é uma constante da
vida tão concreta e
definida como outra
qualquer. Eles não
sabem nem sonham
que o sonho comanda a vida, pois sempre
que o homem sonha,
o mundo pula e avança
como bola colorida entre as
mãos de uma criança.” (Antônio Gedeão)
Dos dados coletados neste passo, será redigida a introdução/justifi-
Recursos humanos
 Alunos: Quem são? Qual a sua história de vida? O que buscam na escola? (Atenção às drogas, violência, sexualidade, desempenho escolar, evasão e
repetência, maiores dificuldades detectadas e encaminhamento de soluções a partir dos componentes curriculares.)
 Professores: Quem são? (Qualificação, envolvimento com a formação continuada, relacionamento dentro da escola com alunos, pais colegas e
direção.) Que apoio recebem para sua valorização profissional?
 Família: Quem são os pais? O que esperam da escola? (Participação na educação dos filhos, nível socioeconômico e cultural, relacionamento com os
filhos, com a escola e com a comunidade.)
Organização
curricular
 Existe preocupação em romper com a centralidade no conteúdo curricular para focalização no aluno e no processo da aprendizagem?
 Em que disciplinas os alunos apresentam maior ou menor desempenho?
 Há ênfase na problematização, interdisciplinaridade e contextualização?
 A socialização, a convivência, as relações de solidariedade, trabalho coletivo, as competências cognitivas, atitudes e valores exigidos pela vida cidadã
são priorizados?
Avaliação/
Recuperação
da aprendizagem
 Os profissionais da escola conhecem e discutem os resultados das avaliações internas e externas em relação à escola, tais como: Enem, Prova Brasil,
Simave, Proalfa, PAV, PIP e outros?
 A avaliação é qualitativa, formativa, continuada e investigativa? Pretende-se mudar o que precisa ser mudado, aperfeiçoar o que precisa ser
aperfeiçoado e construir o que precisa ser construído?
 É voltada para diagnosticar as dificuldades, sucessos durante todo o processo da aprendizagem, permitindo o redirecionamento da prática pedagógica
em qualquer momento?
 Permite que o ritmo do aluno seja respeitado e que as atividades sejam diversificadas para atendimento às diferenças?
 Indica a descrição dos desempenhos com anotações, por parte dos alunos e professores, sobre competências e a aplicação do conhecimento,
crescimento em torno de habilidades, socialização? Quais as dificuldades e sucesso em relação às disciplinas desenvolvidas?
A recuperação ocorre no momento em que a dificuldade é detectada e faz parte do processo, permitindo a progressão continuada com aprendizagem
durante todo o percurso? Caminham juntas avaliação, recuperação, aprendizagem?
 A progressão parcial permite ao aluno levar dificuldades para serem resolvidas na etapa letiva seguinte?
Classificação
O recurso da classificação, isto é, o posicionamento do aluno na turma, considera a idade e o nível de desempenho, mediante avaliação da escola?
 Há rompimento com os procedimentos burocráticos seletivos permitindo o acesso e o percurso escolar bem-sucedido durante a trajetória escolar?
Reclassificação
 É permitido o reposicionamento do aluno nos casos de aceleração e quando a frequência for inferior a 75% com desempenho satisfatório?
Aceleração
 Há possibilidade de aceleração de estudos para os alunos com atraso escolar?
Progressão continuada
 É adotada a progressão continuada que permite o percurso escolar do aluno sem interrupções e sem levar dificuldades para séries ou etapas seguintes?
Progressão parcial
 É permitido ao aluno avançar em componentes curriculares para os quais já apresente domínio de conhecimento, possibilitando-lhe novas
oportunidades de estudos na série ou etapa seguintes naqueles conteúdos curriculares nos quais apresente deficiência ou dificuldade?
Aproveitamento
de estudos
 É permitido o aproveitamento de estudos para continuação e enriquecimento que propiciam motivação e gosto pelos estudos, evitando repetições
enfadonhas e desestimuladoras?
Capacitação
de professores
 Há iniciativa de capacitação continuada dos professores exigida pelos desafios de uma sociedade em mudança e em constantes evoluções
tecnológicas?
 Existe espaço no calendário letivo para estudos, grupos de trabalho, troca de experiências e condições adequadas de trabalho?
 Há promoção e participação em eventos pedagógicos, culturais e de lazer?
 O Conselho de classe trata do desempenho dos alunos e da prática docente?
Recursos gerenciais
– Organização do tempo e espaço escolares
Percebe-se preocupação com:
 Tempo de permanência na escola e compromisso com o processo educativo oferecido?
 Horários e espaços, organização de turmas e melhores alternativas que promovam frequência e permanência na escola?
 Clima favorável à elevação da autoestima?
 Espaço de socialização e inserção social debatido e submetido ao crivo crítico e participativo do aluno?
 Plantões, monitoramento e outros recursos especiais de aceleração, recuperação ou outras necessidades evidenciadas?
Recursos
materiais existentes
 Acervo bibliográfico atualizado e de fácil acesso?
 Recurso de apoio didático como retroprojetores, televisores, vídeos, acesso à internet, laboratórios e outros?
Recursos físicos
 Em relação ao prédio: estrutura física, higiene, limpeza, jardinagem, iluminação, arejamento e outros?
 Existência de cantina em boas condições de atendimento?
 Instalações sanitárias bem-cuidadas?
 Espaço para jogos teatros, corais e outros?
Recursos financeiros
Como estão sendo aplicados os recursos do Fundeb/salário educação/tesouro e outros?
Serviços
complementares
oferecidos à
comunidade escolar
Instituições
em funcionamento
Projetos periódicos e
permanentes
Dentários, assistência médica, merenda escolar, livro didático, transporte, etc.
Como são constituídos e como funcionam conselhos, colegiado, assembleia de pais, grêmio estudantil e outros?
 Quais são e como estão sendo desenvolvidos?
(Pedagógicos, culturais, sociais, esportivos...)
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cativa do projeto e levantados os objetivos gerais e específicos.
b) Diagnóstico
Diagnosticar é atentar para a
distância entre uma situação real e
uma ideal. É conhecer a situação atual
da escola e investigar causas, levantar problemas e dificuldades e definir
ações em relação a cada componente
pedagógico e administrativo. É o ponto de partida da operacionalização das
intenções. Permite, portanto, identificar os obstáculos e as alternativas
entre a realidade existente e a escola
dos sonhos. A partir dos problemas
detectados nos diferentes componentes, o desenvolvimento das competências, das habilidades, da aplicação dos
conhecimentos curriculares, da construção de valores, são indicadas as
ações, as metas a serem cumpridas e
definidas, as comissões responsáveis.
Componentes a serem diagnosticados: ver o quadro da página anterior.
c) Registro (desenvolvimento
das ações)
O resultado do diagnóstico
possibilitará o registro dos problemas e das alternativas de solução em
relação a cada componente analisado. Poderá ser construído um quadro
onde serão registrados, em relação a
cada componente, os problemas ou
dificuldades, as ações a serem desenvolvidas, comissões encarregadas e
cronograma com indicação do cumprimento das metas.
Para enriquecer essas reflexões, faz sentido buscar na LDBN
9.394/96, nos Parâmetros Curriculares Nacionais, nos pareceres e resoluções do CNE do CEE/MG, nas
normas da SEE/MG, recursos que vão
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permitir mudanças metodológicas, didáticas e processuais.
Os resultados das atividades
desenvolvidas serão registrados para
acompanhamento e avaliação do coletivo da escola, o que permitirá a realimentação continuada do processo.
Insistimos em afirmar que a
separação da construção em etapas
acontece para efeito didático. Exemplo: no diagnóstico, evidenciou-se
acentuado índice de reprovação em
Língua Portuguesa, o que indica a necessidade de apoio aos professores da
área. Esse apoio poderá ser concretizado em grupos de estudos, palestras,
vídeos e outros que possibilitarão o
uso de recursos didático-pedagógicos
para a solução da dificuldade. Uma
comissão ficará encarregada dos encaminhamentos necessários, mesmo
antes do registro do projeto na SRE.
A redação do Projeto Político-Pedagógico poderá apresentar
o seguinte formato:
 Introdução/justificativa
 Objetivos gerais e específicos
 Metodologia
 Diagnóstico
 Plano de ação (desenvolvimento das ações a partir do diagnóstico)
 Avaliação e acompanhamento
Avaliação
Ao ser implantado, o sucesso
do projeto pressupõe uma avaliação
continuada que permita investigar se
as ações em desenvolvimento estão
solucionando os problemas e as di-
ficuldades detectadas. Possibilitará,
também, maior clareza na qualidade
da educação oferecida, assegurando
maior credibilidade da instituição escolar na comunidade e na superação
de influências externas desafiadoras.
O movimento dinâmico de
construção do Projeto Político-Pedagógico da escola nunca estará acabado. Os desafios não são maiores do
que o compromisso, a vontade política dos profissionais da sociedade organizada na concretização das intenções e dos sonhos.
Temos certeza de que a educação, por si só, não é competente
para superar todos os obstáculos que
têm interferido no desenvolvimento
da proposta pedagógica. São constatados problemas de ordem econômica
e social que repercutem na escola e
que dificultam o alcance dos objetivos
educacionais.
As políticas educacionais surtirão melhor efeito se articuladas com
outras políticas, como: saúde, habitação, emprego, segurança, entre outras.
Finalmente, espera-se que este
texto contribua para o exercício continuado do processo de reflexão dos
educadores comprometidos com a
revitalização da escola numa perspectiva transformadora de uma educação
de qualidade.
Bibliografia
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e LDB 9.394/96. Pareceres e resoluções do CNE e Parâmetros Curriculares Nacionais.
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AMAE educando - 388 . Junho . 2012
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