Marcos Antônio Abdalla Júnior Controle de um braço mecânico utilizando técnica de Interface Cérebro Máquina. Dissertação apresentada à banca examinadora designada pelo Colegiado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica, associação ampla entre a Universidade Federal de São João del-Rei e o Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Engenharia Elétrica. Orientador: Prof. Dr. Márcio Falcão Santos Barroso Co-orientador: Prof. Dr. Leonardo Bonato Félix São João del-Rei 2012 iii Dedicatória Aos meus pais Marcos e Maria Luı́za, por todo o esforço, pelo carinho e pelo amor. A toda minha famı́lia com um carinho especial aos meus tios Manoel, Cornélia e Flora. v Agradecimentos A Deus! Aos meus pais, tios e tias! Ao meu amor, Tatiana! Pela amizade, carinho e por estar ao meu lado sempre que precisei. Aos meus grandes mestres Erivelton, Barroso e Bonato! Muito obrigado, senhores, pela paciência! Aos eternos amigos da faculdade, Tadeu, Malu, João, Lucas, Suzanne, Alipio e a todos os outros que participaram desta caminhada! Ao Jim Jones companheiro de congresso! Aos amigos do GCoM e do NIAS. À CAPES, FAPEMIG e CNPq, pelo apoio financeiro ao longo de anos. vii Epı́grafe ”(· · · ) Gather ye rosebuds while ye may, Old Time is still a-flying; And this same flower that smiles today, Tomorrow will be dying”. Robert Herrick 1591 − 1674 ix Sumário Resumo xv Abstract xvii Lista de Tabelas xix Lista de Figuras xxvii Lista de Sı́mbolos xxix Lista de Siglas xxxi 1 Introdução 1 1.1 1.2 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1.1.1 Interface Cérebro Máquina . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1.1.2 Sinais Eletroencefalográficos (EEG) . . . . . . . . . . . 4 1.1.3 Potenciais Evocados por estı́mulo Visual . . . . . . . . 10 Fisiologia do Olho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 2 Materiais e Métodos 17 2.1 Relação Sinal Ruı́do - SNR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 2.2 Função de Coerência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 2.2.1 Magnitude quadrática da coerência (MSC) . . . . . . . 20 xi xii 2.2.2 Valores crı́ticos para K̂y2 (f ) . . . . . . . . . . . . . . . 21 2.2.3 Extensão da MSC para o caso multivariável (MMSC). . 23 2.2.4 Valores Crı́ticos para a MMSC . . . . . . . . . . . . . . 25 2.2.5 Coerência Múltipla em Tempo Real . . . . . . . . . . . 26 2.3 Resumo do Ferramental Matemático . . . . . . . . . . . . . . 26 2.4 Potencial Evocado por Foto-Estimulação Intermitente. . . . . 28 2.5 2.4.1 Estimuladores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 2.4.2 Frequência de Estimulação . . . . . . . . . . . . . . . . 30 2.4.3 Harmônicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 Eletroencefalógrafo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 2.5.1 Comunicação dos Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 2.5.2 Eletrodos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 2.5.3 Sistema Internacional 10-20 . . . . . . . . . . . . . . . 35 2.5.4 Protocolo de Exames . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 2.5.5 Filtros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 2.5.6 Parâmetros para a Coerência Múltipla . . . . . . . . . 38 2.6 Decisor HSD (Harmonic Sum Decision) . . . . . . . . . . . . . 40 2.7 Braço Robótico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 2.8 Acionamento dos Motores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 2.8.1 2.9 Acionamento do Braço por meio do Labview . . . . . . 43 Interface do Usuário para Operação em Tempo Real da ICC . 46 2.10 Resumo do Capı́tulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 3 Resultados 49 3.1 Resultados do Protocolo de Simulações . . . . . . . . . . . . . 49 3.2 Resultados do Protocolo de Análise dos Sinais de EEG Off-Line 52 3.3 Resultados do Protocolo de Análise dos Sinais em Tempo Real (On-Line) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 xiii 3.4 Resumo do Capı́tulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 4 Discussão e Conclusão 65 5 Trabalhos futuros 69 Bibliografia 74 Resumo Este trabalho apresenta o desenvolvimento de uma Interface entre Cérebro e Máquina (ICM) desenvolvida com o objetivo de controlar um braço mecânico. Para tanto foi realizado o estudo das principais técnicas de ICM que utilizam potenciais evocados, levando a escolha dos sinais evocados por foto estimulação intermitente. Os sinais do Eletroencefalograma (EEG) que continham as respostas evocadas foram coletados utilizando-se aparelho próprio para esta finalidade e operando a uma frequência de 600 Hz. Os sinais coletados pelo aparelho de EEG foram classificados utilizando a Magnitude Quadrática da Coerência (MSC) e de sua expansão para o caso múlti variável a Magnitude Quadrática da Coerência Múltipla (MMSC). Após a classificação dos sinais, as amplitudes da MSC foram incorporadas a um decisor do tipo Harmonic Sum Decision (HSD), responsável pelo envio de comandos quanto ao sentido de giros dos motores do braço mecânico. O acionamento do braço foi realizado em ambiente Labview. A eficiência do sistema foi dada por intermédio da similaridade, valor quantificado utilizando a correlação, entre os dados do encoder acoplado ao motor do braço, quando o mesmo era acionado manualmente e quando era acionado utilizando a Interface Cérebro Maquina proposta. Como resultados principais, foram obtidas correlações acima de 0,89. Palavras-chave: Interface Cérebro Máquina, Magnitude Quadrática da Coerência, Foto Estimulação Intermitente. xv Abstract This work presents the development of a Brain Computer Interface (BCI) system developed in order to control a mechanical arm. For this purpose a study of the main techniques on BCI that use evoked potencial was conducted leading to choose the Stady State Visual Evoked Potencial. The electroencephalogram (EEG) that contained the evoked responses was collected using apparatus for this purpose and operating frequency of 600 Hz. The collected signal was classified using de Mean Squared Corehence and it’s expantion to the multivable case the Multiple Mean Squared Corehence. After the classification the MSC and MMSC were incorporated to the Harmonic Sum Decision (HSD) which was responsible for sending commands to the direction of spin of mechanical arm engine. The arm drive was performed in Labview environment. The system efficiency is given by the similarity quantitated using the correlation value between data of the encoder coupled to the motor arm and the BCI response. As main results, correlations were above 0.89. Keywords: Brain Computer Interface, Stady State Visual Evoked Potencial, Mean Squared Corehence and Multiple Mean Squared Corehence. xvii Lista de Tabelas 1.1 Principais frequências componentes do EEG. . . . . . . . . . . 6 2.1 Mensagem enviada pelo BrainNet BNT-36. . . . . . . . . . . . 34 3.1 Parâmetros das Simulações, Frequência de Amostragem 600Hz, Janelas com 600 pontos, Nı́vel de Significância (α = 0,05), Número de Janelas antes do re inicio da MMSC (M),Total de Pontos (P), Pontos Certos (C), Pontos Errados (E), Porcentagem de acerto (%), Tempo de Simulação em segundos. . . . 51 3.2 Análise do Exame TesteM01. Intervalos com estimulação de 5Hz: 1 e 2. Intervalos com estimulação de 7Hz: 3 e 4. Intervalos sem estimulação: 5,6 e 7. Os intervalos 5f n , 6f n e 7f n , referem-se aos sinais de n = 7 e n = 7 encontrados quando não deveriam ou seja seriam falsos positivos. Respectivamente cada canal deveria ter 61,31,61,11,0,0,0,0 pontos. P P Σ= certos − erros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 3.3 Correlação entre o perfil e a resposta pelo controle da ICC. . . 57 3.4 Média e desvio padrão das correlação de cada voluntário. . . . 62 xix Lista de Figuras 1.1 Retirado de Ernst Niedermeyer e Fernando Lopes da Silva, Electroencephalography Basic Principles, Clinical Application and Related Fields, Editora Lippincott Williams & Wilkins, 5a edição, 2005. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2 5 Gráfico da publicação de pesquisas sobre ICC e EEG ao longo do tempo. Foi realizada uma pesquisa na Science Direct para atigos contendo as palavras ”BCI”e ”EEG”(sendo BCI BrainComputer Inteface ou ICC) entre os anos de 1950 e 2011. Consulta realizada em junho de 2011. . . . . . . . . . . . . . . 1.3 rı́tmos presentes em um sinal de EEG. Modificado de Lotte (2009). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.4 5 7 Sinal de P300. Um sinal raro e relevante ao usuário é percebido entre outro sinal qualquer com maior frequência. Modificado de (Wolpaw et al., 2002). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.5 9 Os gráficos a esquerda apresentam a corrente que correspondem ao estı́mulos (gráficos da direita) com frequências de 0,2, 0,5, 1, 2 e 5Hz. Modificado de (Demontis et al., 2005). . . . . 10 xxi xxii 1.6 Exemplo de estı́mulos usados para gerar VEPs e SSVEP. (A) Luz piscando, montada em óculos, (B) Diodo Emissor de Luz Piscando, (C) Imagens piscando em monitores de computador ou televisores. Modificado de (Vialatte et al., 2010). 1.7 . . . . . 11 Diferença entre VEP e SSVEP. A diferença é melhor observada utilizando-se a transformada de Fourier, porém caso seja levado em consideração que o tamanho da janela da transformada é menor que o perı́odo, a resposta obtida será semelhante a F1 e não a F2. Modificado de (Vialatte et al., 2010). . . . . 12 1.8 Fisiologia do olho humano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 1.9 Modificado de (Guyton and Hall, 2006). . . . . . . . . . . . . 14 1.10 Principais caminhos da visão e a transmissão dos sinais visuais do córtex visual primário para as demais regiões. Modificado de (Guyton and Hall, 2006). 2.1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Diagrama simplificado da ICM. O computador 1 gera o sinal com a frequência desejada de estimulo e o sinal do trigger. O sinal desejado é enviado para o acionamento dos LED′ s. As respostas evocadas pelo brilho intermitente dos LED′ s são captados pelo BrainN et e enviados via cabo de rede para o computador 2 onde os dados serão processados no M atLab. Após o processamento dos dados o M atlab envia os comandos para o Labview que aciona os motores do braço. . . . . . . . . 18 2.2 Modelo linear para representar a relação dos sinais de estimulação e a resposta cerebral. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 xxiii 2.3 Modelo linear multivariável para representar a relação dos sinais de estimulação e a resposta cerebral. x[n] é o sinal formado a partir da estimulação por dois sinais diferentes e simultâneos. Esse sinal é filtrado por Hi [n], representando as respostas evocadas em locais diferentes do cérebro. O EEG de fundo é representado por um ruı́do ni [n] e a com soma de vi [n], geram as respostas coletadas yi [n]. . . . . . . . . . . . . 23 2.4 Valor da MSC (a),c)) e MMSC (b),d)) com 30 janelas. Em vermelho o valor de K̂y2 crit. Observa-se um claro aumento no valor da amplitude do sinal utilizando a MMSC, bem como o aumento do valor crı́tico. Isto leva um sistema onde o sinal foi melhor separado do ruı́do tendo em vista que é a mesma forma de onda logo tem-se a mesma NSR. . . . . . . . . . . . 27 2.5 Foto estimuladores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 2.6 Conjunto de foto-estimulação. No centro da figura observa-se o LED RGB com encapsulamento branco, nas laterais tem-se os foto estimuladores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 2.7 Ondas quadradas utilizadas no acionamento dos estimuladores e sinal de trigger enviada ao aparelho de Eletroencefalografia. 2.8 30 Presença dos harmônicos nos sinais coletados e no uso da detecção para frequência de estimulação de 5Hz. a) Frequência fundamental com maior amplitude em relação aos demais harmônicos. b) Segundo harmônico com maior amplitude em relação à fundamental e presença do terceiro harmônico. Dados da simulação: Taxa de amostragem de 600Hz, Canais P 3P 4, Janelas de 600 pontos, Re inı́cio da mmsc a cada 15 janelas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 xxiv 2.9 Aparelho para Eletroencefalografia, modelo BrainNet BNT 36 33 2.10 Eletrodos de Ag/AgCl para Eletroencefalografia. . . . . . . . . 34 2.11 Posicionamento dos sensores de acordo com o sistema internacional 10-20. Modificado de Sharbrough et al. (1991) . . . . . 35 2.12 Voluntário posicionado dentro da cabine audiométrica. . . . . 37 2.13 Efeito dos filtros nos sinais. Em destaque o sinal coletado no ponto P3, com frequência de amostragem de 600Hz e janela de 600 pontos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 2.14 a) 4 Senoides de diferentes frequências somadas. b) Sinal resultante da soma das senoides. c) Inserção do ruı́do com SNR de −22dB. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 2.15 A figura mostra uma simulação utilizando o protocolo descrito. No intervalo onde a amplitude da primeira forma de onda foi amplificada, o decisor deveria ter como saı́da o valor 1. No intervalo onde a segunda forma de ontem teve sua amplitude modificada, o classificador deveria ter saı́da -1. Nos intervalos onde a terceira e a quarta formas de ondas foram modificadas, o decisor deveria atribuir os valores de 2 e -2 respectivamente. 40 xxv 2.16 As figuras mostram as análises de dois sinais reais de um mesmo indivı́duo. Os sinais foram evocados por foto estimulação intermitente com frequência de estimulação em 5Hz e 7Hz. A figura a) apresenta uma resposta onde o segundo harmônico teve uma amplitude maior do que a resposta da componente principal. No entanto a figura b) apresenta uma maior amplitude na frequência fundamental. Dados da rotina: frequência de amostragem em 600Hz, janelas de 600 pontos, re-inı́cio da MMSC a cada 15 janelas e canais observados P3 e P4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 2.17 Vista frontal e lateral do braço mecânico desenvolvido com peças do Lego M indstorms. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 2.18 Ambiente de Labview para a execução do movimento. . . . . . 43 2.19 Programação dos possı́veis comandos via Labview. . . . . . . . 45 2.20 Interface de operação do sistema em tempo real. . . . . . . . . 46 2.21 a) Representação geral de uma ICC apresentada por Wolpaw et al. (2002). b) ICC proposta neste trabalho. Nota-se que a semelhança da arquitetura da interface foi mantida. Porem a forma da realização do projeto foi alterado de acordo com a necessidade e aplicação. 3.1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 Fluxograma para a simulação e testes com a coerência múltipla. Af n é a amplitude do valor da MMSC e Kcrit o valor critico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 xxvi 3.2 Cinco possı́veis respostas para a simulação do sistema. O marcador verde representa a frequência detectada ou onde existe uma concentração da atenção. Os marcadores vermelhos são as demais frequências e a linha vermelha mostra o valor critico naquele momento. Qualquer valor abaixo da linha vermelha é estatisticamente nulo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 3.3 Protocolo para a aquisição dos sinais reais de EEG. Faixa vermelha indica não concentrar em nenhum estı́mulo, faixa verde, representa atenção ao estimulo da esquerda e faixa azul, atenção ao estimulo da direita. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 3.4 Sinais de trigger coletados pelo EEG em suas portas auxiliares. a) trigger da MMSC, constituı́do por pequenos pulsos com frequência de 1Hz. b) Trigger da luz vermelha. c) Trigger da luz azul. d) Trigger da luz verde. . . . . . . . . . . . . . . . . 53 3.5 Análise off-line do exame testeM02 Fs 601,5. Taxa de aquisição de 600Hz, janelas de 600 pontos, MMSC re-iniciada a cada 15 janelas. Valores basais 0,3292 0,2977 0,1085 0,0557 para as frequências de 5, 7, 10 e 14 Hz, respectivamente. . . . 55 3.6 Dados do encoder acoplado ao motor da Garra do braço robótico. O maior ângulo registrado foi de 3294o o que indica que no perı́odo de um minuto o motor realizou 9 voltas completas mais 54o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 3.7 Exemplo do funcionamento completo da ICM. Em detalhe as partes principais da ICM. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 3.8 Correlação entre o perfil e a resposta pelo controle da ICC. Observa-se um melhor desempenho nos exames 3 e 4 com uma queda de resultados após este intervalo. . . . . . . . . . . . . . 59 xxvii 3.9 Curvas referentes às melhores respostas de cada voluntário. . . 60 3.10 Detalhe do inı́cio do segundo minuto, onde as respostam tendem a iniciar depois de 10s. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 3.11 Detalhe do inı́cio do segundo minuto, onde o tempo de resposta da ICC não é suficientemente rápida para gerar a resposta desejada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 3.12 Exemplo de funcionamento da ICC. Em detalhe a detecção de um sinal de 5Hz. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 3.13 Exemplo de funcionamento da ICC. Em detalhe a detecção de um sinal de 7Hz. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 Lista de Sı́mbolos x(t) Sinal contı́nuo no domı́nio do tempo. x[n] Sinal discretizado no tempo discreto. X(f,T ) Transformada Rápida de Fourier de um sinal dividido em M janelas de tamanho T. γ(f ) Coerência. Sxy Espectro Cruzado de x(t) e y(t). Sxx Auto-espectro. M Número de janelas. N Número de sinais. K̂y2 Magnitude Quadrática da Coerência entre um sinal periódico e um aleatório. F2,2(M −1) Distribuição F central com 2 e 2(M-1) graus de liberdade. K̂N2 Magnitude Quadrática da Coerência Múltipla entre um sinal periódico e um aleatório. K̂N2 crit Valor crı́tico para K̂N2 . xxix Lista de Siglas ICM MSC MMSC ELA TC MEG PET MRI fMRI PE PCL EEG AR IM ERS ERS PERP VEP SSVEP SNR Interface Cérebro Máquina; Magnitude Quadrática da Coerência Magnitude Quadrática da Coerência Múltipla Esclerose Lateral Amiotrófica Tomografia Computadorizada Magnetoencefalografia Tomografia por Emissão de Pósitrons Imagem por Ressonância Magnética Imagem por Ressonância Magnética Funcional Potenciais Evocados Potenciais Corticais Lentos Eletroencefalograma Modelos AutoRegressivos Imagem Motora Eventos Relacionados à Sincronização Eventos Relacionados à Dessincronização Potenciais Evocados em Regime Permanente Potencial Evocado por Estimulo Visual Potencial Evocado por Foto-Estimulação Intermitente Relação Sinal-Ruı́do xxxi Capı́tulo 1 Introdução 1.1 Introdução No Brasil, o Comitê de Ajudas Técnicas (CAT), instituı́do pela Portaria no 142, de 16 de novembro de 2006 do Ministério da Saúde, propõe o seguinte conceito para a Tecnologia Assistiva: ”Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de caracterı́stica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiências, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social”. Com base nesta ideia de Tecnologia Assistiva, o presente trabalho apresenta o desenvolvimento de um sistema que pode ser usado como base para auxilio de pessoas com baixa ou nenhuma capacidade de se movimentar. 1.1.1 Interface Cérebro Máquina Os potenciais elétricos advindos das atividades cerebrais podem ser medidos, na superfı́cie do córtex cerebral ou no escalpo, por meio de eletrodos. A Interface Cérebro Máquina (ICM) é uma abordagem que almeja traduzir tais potenciais em sinais de saı́da que visem representar a intenção do usuário em se comunicar com o meio externo sem o uso de nervos periféricos ou músculos (McFarland and Wolpaw, 2008; Wolpaw et al., 2003; Galán et al., 2008). Estima-se que hoje nos Estados Unidos existam mais de 200.000 pacientes com lesões na medula espinhal que acarretam em deficiências motoras. Metade destes pacientes estão paralisados do pescoço para baixo. Há também 2 1 Introdução mais de 5.000.000 de sobreviventes de ataques do coração e 400.000 amputados (Kim et al., 2009). Nestes e em outros casos onde pacientes sofrem de doenças, como a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), derrames, danos cerebrais ou na espinha dorsal, paralisia cerebral, distrofia muscular, esclerose múltipla dentre outras doenças que podem afetar os caminhos neurais que comandam os músculos ou afetam diretamente os músculos (Curran and Stokes, 2003; Neuper et al., 2003; Patil and Turner, 2008). A ICC tem demostrado ser uma ferramenta tecnológica capaz de reabilitar e reintroduzir estes pacientes a seu ambiente familiar e profissional. Uma parte significativa dos estudos no desenvolvimento de ICM envolve o registro dos sinais eletroencefalográficos utilizando eletrodos colocados na superfı́cie do escalpo ou pela inserção eletrodos intracranianos (Hsu, 2010; Pfurtscheller et al., 2003; Babajani-Feremi and Soltanian-Zadeh, 2010). Existem outras tecnologias capazes de servirem de bases para uma ICM como: Tomografia Computadorizada (TC), Magnetoencefalografia (MEG), Tomografia por Emissão de Pósitron (PET), Imagem por Ressonância Magnética (MRI) e Magnética Funcional (fMRI) porém são de alto custo e complexas de operar. Segundo (Wolpaw et al., 2002), os métodos baseados em EEG, possuem uma constante de tempo pequena, podem funcionar em diversos lugares e são equipamentos simples de serem utilizados e mais baratos. Estado da Arte em ICM As ICMs podem ser divididas em grupos dependendo do tipo de sinal cerebral que são processados ou o modo de operação no qual a ICM está inserida. No caso dos sinais cerebrais, temos, por exemplo, grupos como Potenciais Evocados (PE), Potenciais Corticais Lentos (PCL) e componentes oscilatórias do eletroencefalograma (EEG). Nos modos de operação têm-se duas categorias principais, as ICMs Sı́ncronas e as Assı́ncronas. Na categoria de ICMs Sı́ncronas, o experimento é realizado em janelas de tempo definido e controlado por comandos temporizados. As análises, neste caso, são realizadas observando-se as mudanças nos PEs e nos PCs ou quantificando as oscilações do EEG. A segunda categoria de ICMs Assı́ncronas consiste na analise contı́nua dos sinais cerebrais, detectando prováveis potenciais relacionados a eventos ou mudanças nas oscilações do EEG (Pfurtscheller et al., 2003). Tendo como base os dados do paragrafo anterior, relata-se de forma su- 1.1 Introdução 3 cinta alguns dos principais grupos de pesquisa em ICM do mundo e seus trabalhos: • ICM Albany: Grupo de pesquisa em ICM do Wadsworth Center em Nova Iorque, Estados Unidos, trabalham com sinais de PCLs no controle de cursores de computadores. Os projetos são desenvolvidos por comandos (ICM sı́ncrona) e por parâmetros de modelos Autorregressivos (AR). O controle do cursor é feito por uma equação linear para a seleção dos caracteres de movimento. Um dos principais membros deste grupo é o Dr. Jonathan R. Wolpaw. Wolpaw e colaboradores utilizam os sinais de P300 para o controle do cursor. Com o uso de um monitor e um teclado virtual, no qual linhas e colunas piscam de forma alternada. O usuário ao fixar o olhar em uma letra, fixa automaticamente a atenção em uma linha e uma coluna que ao ser acesa dispara a resposta ou sinal P300 utilizado como detector pela ICM do grupo (Wolpaw et al., 2000). • ICM Tüebingen: Grupo da Universidade de Tübingen, Alemanha, utilizam os sinais de PCLs em um interpretador de pensamentos. Os PCLs são medidos em janelas de 2 segundo com base de tempo de 2 segundos. Pacientes são capazes de movimentar um objeto com forma arredondada em um monitor (e assim são capazes de) escrever palavras após algum treinamento no sistema. Um dos pesquisadores de destaque deste grupo é Niels Birbaumer. Birbaumer e colegas desenvolveram uma ICM que utiliza dois tons sonoros de comprimentos distintos, com intervalos de dois segundos. A fase de 2s entre o tom mais baixo e o tom mais alto era usado como fase ativa na qual o indivı́duo tentaria movimentar o cursor. A fase entre o tom mais alto e o tom mais baixo era usada como fase basal na qual o cursor permaneceria parado (Hinterberger et al., 2003). • ICC Graz: Grupo da Universidade de Graz, Austria, usa um sistema sı́ncrono de ICM, baseado em comando com imaginação motora como estratégia mental e classificação de oscilações em frequências de 10Hz a 20Hz. O grupo de Graz foi capaz de fazer um paciente caminhar em um ambiente virtual utilizando o pensamento (imaginação motora). Deste grupo 4 1 Introdução destaca-se o Professor Gert Pfurtscheller e o Dra. Christa Neupe. Na ICM do grupo, o indivı́duo é solicitado a escolher um paradigma da imaginação motora (e.g. mover braço direito ou esquerdo, mover perna direita ou esquerda) enquanto que os sinais de EEG da área do córtex sensorimotor são coletados. Estes dados são então avaliados no domı́nio da frequência para a retirada de caracterı́sticas (e.g. amplitudes da faixa de 5Hz a 30Hz). Assim para cada ação imaginada é criado um vetor de caracterı́sticas, o conjunto destes vetores gera um classificador particular (de cada indivı́duo), linear ou não linear. Posteriormente este classificador gera uma saı́da contı́nua ou discreta que é realimentada no sistema (indivı́duo) por um monitor conectado ao computador que executa os processos. 1.1.2 Sinais Eletroencefalográficos (EEG) Contexto Histórico Foi atribuı́do a Richard Caton (1842 − 1926), Figura 1.1, os primeiros trabalhos com relação à medição das atividades cerebrais. Caton, médico na cidade de Liverpool, era um entusiasta dos fenômenos eletrofisiológicos. Mais adiante recebeu da Associação Britânica de Medicina a autorização para fazer pesquisas sobre a atividade elétrica no cérebro de ratos e macacos. Para seus estudos Caton usou um Galvanômetro e um raio de luz que refletido no espelho dentro do aparelho, direcionado para uma escala grande presa na parede (Niedermeyer and da Silva, 2005). Com este experimento Caton observou que correntes com diferentes direções passam pelo multiplicador quando os eletrodos eram colocados na superfı́cie do cérebro ou quando um eletrodo era colocado na matéria cinzenta e outro na superfı́cie do cranio. Assim é reservado a Caton os créditos pela descoberta, dos potenciais flutuantes de que consiste o EEG. Caton desenvolveu seus trabalhos em, macacos, gatos, ratos e cachorros, mas foi Hans Berger (1873 − 1941), Figura 1.1 quem iniciou os trabalhos com pacientes humanos. Berger, um Neuropsiquiatra alemão, segundo relatos, era um medico meticuloso, uma pessoa bem consciente, porém indiferente com seus pacientes. Nos trabalhos a partir de 1926 Berger utilizou um poderoso galvanômetro da Siemens com núcleo duplo. Com este instrumento e eletrodos não polarizados, fez as primeiras gravações de EEG humano em papel fotográfico, com duração de 1 a 3 minutos. 1.1 Introdução 5 (a) Richard Caton (b) Hans Berger Figura 1.1: Retirado de Ernst Niedermeyer e Fernando Lopes da Silva, Electroencephalography Basic Principles, Clinical Application and Related Fields, Editora Lippincott Williams & Wilkins, 5a edição, 2005. O estudo do EEG passou por várias fases, nas quais observou-se aumentos e quedas nas pesquisas. Até a década de 1960, os trabalham desenvolvidos foram mantidos de forma constante, vindo a aumentar a partir da década de 1970 aos dias atuais. A Figura 1.2 mostra a evolução do número de publicações nas áreas de ICM e EEG, a partir dos anos de 1950. Figura 1.2: Gráfico da publicação de pesquisas sobre ICC e EEG ao longo do tempo. Foi realizada uma pesquisa na Science Direct para atigos contendo as palavras ”BCI”e ”EEG”(sendo BCI Brain-Computer Inteface ou ICC) entre os anos de 1950 e 2011. Consulta realizada em junho de 2011. 6 1 Introdução Sinal de EEG O sinal de EEG é constituı́do por várias ondas de diferentes frequências. Dentre estas, existem as frequências dominantes que estão relacionadas a fatores tais como estado de vigı́lia, idade, posição dos eletrodos, uso de medicamentos, presença ou ausência de doenças. Um adulto normal, relaxado e com olhos fechados, apresenta um frequência dominante nos lobos parietal e ocipital na faixa de 8Hz a 13Hz, chamado rı́tmo alfa (α). Ao abrir os olhos, o rı́tmo do EEG se torna menos sincronizado e a frequência aumenta para a faixa de 13Hz a 30Hz, chamado rı́tmo beta (β). Durante o sono surgem dois outros rı́tmos, o rı́tmo delta (δ) na faixa de 0,5Hz a 4Hz e o rı́tmo teta (θ) 4hz a 7Hz. Observando a região do córtex motor tem-se a presença do rı́tmo mu (µ) na faixa de 8Hz a 13Hz com variações nas amplitudes quando o indivı́duo realiza algum movimento. Acima dos 30Hz tem-se o rı́tmo gama (γ) que se estende até a frequência de 100Hz e está ligada às funções motoras e cognitivas (Niedermeyer and da Silva, 2005). Um resumo das frequências pode ser visto na Tabela 1.1 e de forma gráfica na Figura 1.3. Tabela 1.1: Principais frequências componentes do EEG. rı́tmo Faixa de frequência em Hz Estado do indivı́duo α 8 − 13 Relaxado, olho fechado. β 13 − 30 Olho aberto. δ 0,5 − 4 Durante sono θ 4−7 Durante sono µ 8 − 13 Realização de movimento γ 30 − 100 Realização de tarefas cognitivas 1.1 Introdução 7 Figura 1.3: rı́tmos presentes em um sinal de EEG. Modificado de Lotte (2009). Tipos de Sinais de EEG Como foi mostrado na subseção 1.1.1, exitem diferentes tipos de sinais de EEG para diferentes aplicações. 1. Sinais Espontâneos (SE): São os sinais que correspondem a rı́tmos relacionados a ações motoras, localizados nas bandas de frequências µ e β sobre o córtex motor. Estes rı́tmos podem ser controlados pelo usuário. Este controle no entanto é adquirido com longos treinamentos. 2. Imaginação Motora (IM): 8 1 Introdução A energia de uma banda de frequência de EEG pode ser classificada como sendo sincronizada ou dessincronizada. Caso ocorra um aumento desta energia, caracterizar-se-á um estado de sincronização (do inglês, Event Related Synchronization - ERS), ao contrario, a redução desta energia caracterizará uma dessincronização (do inglês, Event Related Desynchronization - ERD). Tais fenômenos são especı́ficos de cada banda de frequência de modo que uma mesma região do escalpo pode apresentar ERS e ERD ao mesmo tempo. A imaginação motora de membros, como braços, mãos, pés e dedos são exemplos de como gerar tais padrões. 3. Potenciais Evocados: Estes sinais são gerados de forma inconsciente pelo indivı́duo ao receber certo estı́mulo externo. Estes sinais também são conhecidos como Potenciais Evocados (PE) (do inglês, Evoked Potencials - EP). Nesta categoria tem-se dois principais grupos: os Potenciais Evocados em Regime Permanente (PERP) (do inglês, Steady State Evoked Potencial - SSEP) e o P300. A maior vantagem dos PEs, é que ao contrário dos SEs, não é necessário nenhum treinamento especı́fico do usuário, pois os sinais são gerados automaticamente pelo cérebro dado um estı́mulo externo. • P300: O P300 consiste de uma forma de onda positiva, que surge aproximadamente 300ms após um determinado estı́mulo (Pfurtscheller et al., 2008; Donchin et al., 2000; Lotte, 2009; Wolpaw et al., 2002). Este fenômeno é melhor observado nas regiões parietais. A Figura 1.4 mostra o uso do P300 no instante em que um estı́mulo raro e relevante é apresentado. 1.1 Introdução 9 Figura 1.4: Sinal de P300. Um sinal raro e relevante ao usuário é percebido entre outro sinal qualquer com maior frequência. Modificado de (Wolpaw et al., 2002). • Potenciais Evocados em Regime Permanente (PERP): São potenciais cerebrais que surgem quando um indivı́duo recebe um estı́mulo periódico como uma luz piscando ou um som modulado em amplitude. Os PERPs são definidos pelo aumento da amplitude da frequência que é a mesma do estimulador ou igual a suas harmônicas e/ou sub-harmônicas Figura 1.5. 10 1 Introdução Figura 1.5: Os gráficos a esquerda apresentam a corrente que correspondem ao estı́mulos (gráficos da direita) com frequências de 0,2, 0,5, 1, 2 e 5Hz. Modificado de (Demontis et al., 2005). 1.1.3 Potenciais Evocados por estı́mulo Visual Os sinais de Potenciais Evocados por estı́mulo Visual (do inglês, Visual Evoked Potential (VEP)) podem ser observados nas regiões relacionadas com a visão (por exemplo, região ocipital do cérebro). Existem vários tipos de estı́mulos que podem gerar um VEP, os mais comuns são estimulação por flash (lampejos de luz) ou estimulação por padrões (Figura 1.6). Considerase como VEP aquele estı́mulo visual de baixa frequência que geram respostas transitórias. Com o aumento da frequência de estimulação visual surgiu o termo Steady-State Visually Evoked Potential (SSVEP) traduzido para o português Potencial Evocado por Foto Estimulação Intermitente, que por sua vez gera uma resposta em regime permanente de maior amplitude (Vialatte et al., 2010). 1.1 Introdução 11 Figura 1.6: Exemplo de estı́mulos usados para gerar VEPs e SSVEP. (A) Luz piscando, montada em óculos, (B) Diodo Emissor de Luz Piscando, (C) Imagens piscando em monitores de computador ou televisores. Modificado de (Vialatte et al., 2010). A diferença entre uma VEP e SSVEP pode ser observada de forma mais simples na Figura 1.7. O formato da onda de resposta ao estı́mulo seja VEP ou SSVEP no domı́nio do tempo nem sempre é simples de se perceber. Porém quando observado pelo domı́nio da frequência, as respostas são mais distintas, em especial, pelo aparecimento de picos de energia nos SSVEP e a falta destes nos VEP. 12 1 Introdução Figura 1.7: Diferença entre VEP e SSVEP. A diferença é melhor observada utilizando-se a transformada de Fourier, porém caso seja levado em consideração que o tamanho da janela da transformada é menor que o perı́odo, a resposta obtida será semelhante a F1 e não a F2. Modificado de (Vialatte et al., 2010). Pelo fato de gerar uma resposta em regime permanente o SSVET se torna mais robusto com relação à contaminação do sinal por artefatos (ex. movimento dos olhos e piscadas). No trabalho de Herrmann (2001), o autor, apresenta três formas de classificar as oscilações do estı́mulo produzido pela SSVEP: em espontâneas, evocadas ou induzidas. As oscilações espontâneas, são assim chamadas pois não estão relacionadas ao estı́mulo. Também são conhecidas como atividades de fundo ou linha de basal. As oscilações evocadas, surgem após o estı́mulo e estão em fase com o mesmo, ao contrário das induzidas que apesar de ocorrer após o estı́mulo, não estão em fase com este. Segundo (Cheng et al., 2002) a SSVEP pode ser usada para detectar a vontade de indivı́duo ao focar a atenção em um determinado estı́mulo dentro de um grupo de estı́mulos. Este fato ocorre, segundo os autores, devido a SSVEP ser fortemente dependente da atenção espacial, sendo a resposta amplificada quando foca-se a atenção a um estı́mulo que pisca. Ao contrá- 1.2 Fisiologia do Olho 13 rio, a resposta diminui se o indivı́duo não prestar atenção. Por exemplo, em um sistema com quatro luzes, piscando em diferentes frequências, um indivı́duo focando a atenção em uma dessas luzes, produz um sinal de SSVEP proporcional ao sinal ao qual está focado. 1.2 Fisiologia do Olho Este capı́tulo é dedicado a uma breve introdução sobre a formação da imagem e o processamento da mesma no cérebro humano. A percepção visual, começa na retina e ocorre em dois estágios. A luz que atravessa a córnea é projetada na parte posterior do olho, onde é convertida em sinal elétrico por um órgão sensorial especializado, a retina. Esses sinais são então enviados por meio do nervo óptico à região superiores no encéfalo para um processamento posterior, necessário à percepção. O olho está organizado para focalizar a imagem visual na retina com mı́nima distorção. A luz é focalizada pela córnea e pelo cristalino e então atravessa o humor vı́treo que preenche a cavidade do olho antes de alcançar os foto-receptores na retina (Figura 1.8). A retina localiza-se à frente do epitélio pigmentado que delineia a parte posterior do olho. As células do epitélio pigmentado são preenchidas com um pigmento preto, a melanina, que absorve qualquer luz não capturada pela retina, impedindo que a luz seja refletida dentro do olho. ! Figura 1.8: Fisiologia do olho humano. Uma vez que os foto receptores localizam-se na parte posterior do olho, imediatamente à frente do epitélio pigmentado, todas as outras células da retina estão à frente dos foto receptores e mais próximas do cristalino. Por- 14 1 Introdução tanto, a luz deve atravessar camadas de outros neurônios retinianos antes de atingir os foto receptores. A retina humana (Figura 1.9) contém dois tipos de foto receptores: os bastonetes e os cones Figura 1.9. Os cones são responsáveis pela visão diurna, os bastonetes medeiam a visão noturna. Os bastonetes contêm mais pigmento visual fotossensı́vel do que os cones, o que lhes permite captar mais luz. Mais ainda importante, os bastonetes amplificam os sinais luminosos mais do que os cones. Quanto aos cones existem três tipo, cada um contendo um pigmento visual que é sensı́vel a uma faixa diferente do espectro luminoso. O cérebro obtém informação sobre a cor por comparar as respostas dos três tipos de cones. Os bastonetes respondem mais lentamente, de modo que os efeitos de todos os fótons absorvidos durante um intervalo de 100 ms são somados. Isso ajuda os bastonetes a detectar pequenas quantidades de luz, mas impede de analisar a luz que oscila mais rapidamente que 12 Hz. A resposta dos cones é muito mais rápida, eles são capazes de detectar oscilações de pelo menos até 55 Hz. (a) Representação da Retina (b) Bastonete e Cone Figura 1.9: Modificado de (Guyton and Hall, 2006). A informação visual é então transferida dos receptores para as células ganglionares por meio das células bipolares. As células ganglionares por sua vez se projetam para o encéfalo; seus axônios formam o nervo óptico. O nervo óptico de cada olho projeta-se para o quiasma óptico, onde as fibras de cada olho destinadas para um ou outro lado do encéfalo são separadas e reagrupadas em tratos ópticos bilaterais, que se projetam para três alvos subcorticais principais: o pré-teto, o colı́co superior e o núcleo geniculado lateral. As células ganglionares da retina projetam-se para o núcleo geniculado lateral no 1.2 Fisiologia do Olho 15 tálamo de uma maneira ordenada, criando no núcleo um mapa retinotópico do campo visual para cada olho. Daı́ duas vias independentes (vias M e P) estendem-se da retina até o córtex visual primário (Figura 1.10). !" ) ' # $ % % (# & Figura 1.10: Principais caminhos da visão e a transmissão dos sinais visuais do córtex visual primário para as demais regiões. Modificado de (Guyton and Hall, 2006). Capı́tulo 2 Materiais e Métodos Neste capı́tulo, serão apresentados os materiais e métodos utilizados no desenvolvimento matemático, com base nos trabalhos de Felix (2004); Felix et al. (2006); de Sá and Felix (2002); de Sá et al. (2009); Semmlow (2004), bem como o desenvolvimento da Interface Cérebro Máquina, seguindo o diagrama da Figura 2.1. 18 2 Materiais e Métodos ! " # $ Figura 2.1: Diagrama simplificado da ICM. O computador 1 gera o sinal com a frequência desejada de estimulo e o sinal do trigger. O sinal desejado é enviado para o acionamento dos LED′ s. As respostas evocadas pelo brilho intermitente dos LED′ s são captados pelo BrainN et e enviados via cabo de rede para o computador 2 onde os dados serão processados no M atLab. Após o processamento dos dados o M atlab envia os comandos para o Labview que aciona os motores do braço. 2.1 Relação Sinal Ruı́do - SNR Grande parte das formas de ondas são formadas pelo sinal a ser observado e ruı́do. Definindo-se sinal como a parte de interesse na forma de onda observada enquanto ruı́do é definido como os demais constituintes dessa forma de onda. Daı́ o objetivo de processar um sinal é separar o sinal do ruı́do, identificar o sinal imerso no ruı́do ou identificar as caracterı́sticas do sinal imerso em ruı́do. Uma forma de quantificar a quantidade de sinal e ruı́do em uma forma de onda é por meio da Relação Sinal/Ruı́do (do inglês - Signal to Noise Ratio - SNR ) (Semmlow, 2004). Como o proprio nome diz SNR é a relação entre sinal e ruı́do, ambos medidos em RMS (valor quadrático médio). Normalmente a SNR é dada em dB (decibel) como: SN R = 20 log Sinal , Ruido (2.1) 2.2 Função de Coerência 19 para converter o sinal em dB para uma escala linear, basta aplicar: dB SN Rlinear = 10 20 , (2.2) Por exemplo, uma SN R = 20dB significa que o sinal é 10 vezes maior que o ruı́do. Uma SN R = 0dB significa que o sinal e o ruı́do possuem em RMS a mesma amplitude e por fim uma SN R = −20dB, significa que o ruı́do é 10 vezes menor que o sinal (em RMS). 2.2 Função de Coerência A Coerência é uma ferramenta matemática bastante usada para quantificar a similaridade entre sinais como sinais de EEG. A Coerência se diferencia da Correlação pois é uma ferramenta que trabalha com os dados no domı́nio da frequência (ao contrario da correlação que trabalha no tempo). A Coerência, é obtida pela normalização do espectro cruzado, que é o resultado da divisão do espectro cruzado pelo produto dos auto espectros (Benignus, 1969). Por exemplo, dados os sinais x(t) e y(t): γ(f ) = p Sxy (f ) , Sxx (f )Syy (f ) (2.3) sendo que Sxy (f ) é o espectro cruzado entre os sinais x(t) e y(t) dado por: 1 E [X ∗ (f,T )Y (f,T )] , T →∞ T Sxy (f ) = lim (2.4) onde X ∗ (f,T ) e Y (f,T ) são, respectivamente, as transformadas de Fourier dos sinais x(t) e y(t) em trechos de T segundos, (·)∗ denota o conjugado complexo e T é o intervalo dos sinais em analise. No caso onde T é finito, a estimativa do espectro cruzado é: M 1 X ∗ Ŝxy (f ) = X (f,T )Y (f,T ), M T i=1 i (2.5) onde (ˆ·) indica estimativa, M é o número de segmentos utilizados na promediação. Sxx (f ) e Syy (f ) são os auto espectros e são dados por: 20 2 Materiais e Métodos M 1 X |Xi (f,T )|2 , Ŝxx (f ) = M T i=1 (2.6) O módulo ao quadrado da Equação 2.3, recebe o nome coerência e está restrita a uma faixa de valores de 0 a 1. Logo a coerência é dada por: 2 γxy (f ) = 2.2.1 |Sx y(f )|2 Sxx (f )Syy (f ) (2.7) Magnitude quadrática da coerência (MSC) A princı́pio o processamento do sinal enviado ao cérebro, será modelado pelo sistema linear apresentado na Figura 2.2. Nessa figura, um sinal de estimulação x(t) passa por um filtro com função de H(t) simulando o processamento da imagem pelo cérebro gerando um sinal v(t). A esse sinal é adicionado um ruı́do n(t) não relacionado a x(t) que modela o sinal de EEG de fundo, essa soma gera então a saı́da y(t). Figura 2.2: Modelo linear para representar a relação dos sinais de estimulação e a resposta cerebral. Dividindo-se os sinais discretos x[n] e y[n] (relacionados de acordo com a Figura 2.2) em M segmentos, pode se obter a estimativa da coerência entre esses sinais por meio das equações 2.4 e 2.5 da seguinte forma (de Sá and Felix, 2002): P 2 M ∗ i=1 Xi (f )Yi (f ) 2 , γ̂xy (f ) = PM 2 PM 2 i=1 |Xi (f )| i=1 |Yi (f )| (2.8) 2.2 Função de Coerência 21 onde Xi (f ) e Yi (f ) são as transformadas de Fourier da i-ésima janela e M é o número de janelas utilizada na estimação. Para um caso particular em que x[n] é um sinal determinı́stico e periódico, Xi (f ) tem o mesmo valor em cada janela na promediação, então Xi (f ) = X(f ), assim a Equação 2.8 pode ser simplificada: 2 P P 2 P 2 M M Y (f ) |X(f )|2 M Y (f ) i=1 Xi∗ (f )Yi (f ) i i i=1 i=1 2 = = γ̂xy (f ) = PM P P P 2 2 2 M 2 M |X(f )|2 M M M i=1 |Yi (f )| i=1 |Yi (f )| i=1 |Xi (f )| i=1 |Yi (f )| (2.9) A fim de se distinguir da Equação 2.8, a coerência entre um sinal aleatório e um sinal determinı́stico será denotado por K̂y2 : P 2 M i=1 Yi (f ) 2 K̂y (f ) = P 2 M M i=1 |Yi (f )| (2.10) Desta forma, a coerência entre um sinal determinı́stico e periódico e um sinal aleatório, pode ser estimada utilizando apenas o sinal aleatório y[n] desde que se garanta que o estı́mulo x[n] seja periódico. 2.2.2 Valores crı́ticos para K̂y2 (f ) Para uma análise quantitativa de resposta do sinal de EEG, é importante a obtenção de valores para os quais pode-se dizer que não há resposta detectada (limiar estatı́stico). Assim para a hipótese nula (H0) de ausência de resposta, considerando-se y[n] com distribuição gaussiana, a distribuição amostral de K̂y2 (f ) é dada por (de Sá and Felix, 2002): (M − 1) K̂y2 (f ) 1 − K̂y2 (f ) ∼ F2,2(M −1) , (2.11) onde ∼ denota ”é distribuı́do segundo”, F2,2(M −1) é a distribuição F de Fisher com 2 e 2(M-1) graus de liberdade. Por meio da Equação 2.11, os valores crı́ticos podem ser calculados como: K̂ycrit = Fcritα,2,2(M −1) M − 1 + Fcritα,2,2(M −1) (2.12) Mais recentemente de Sá et al. (2009) e colaboradores demonstraram uma 22 2 Materiais e Métodos formulação mais simplificada para o calculo do valor critico, dado por: 1 K̂y2 crit = 1 − α M −1 , onde α é nı́vel de significância. (2.13) 2.2 Função de Coerência 2.2.3 23 Extensão da MSC para o caso multivariável (MMSC). Neste trabalho, será observada a relação espectral para um sistema com duas entradas simultâneas que se somam e múltiplas saı́das conforma a Figura 2.3. Figura 2.3: Modelo linear multivariável para representar a relação dos sinais de estimulação e a resposta cerebral. x[n] é o sinal formado a partir da estimulação por dois sinais diferentes e simultâneos. Esse sinal é filtrado por Hi [n], representando as respostas evocadas em locais diferentes do cérebro. O EEG de fundo é representado por um ruı́do ni [n] e a com soma de vi [n], geram as respostas coletadas yi [n]. A estimativa da coerência múltipla para o sistema da Figura 2.3, é deno- 24 2 Materiais e Métodos tado por (Otnes and Enochson, 1978): 2 γ̂x:y1,y2,...,yN (f ) = −1 ŜH yx (f )Ŝyy (f )Ŝyx (f ) Ŝxx (f ) (2.14) , onde (·)H significa o hermitiano da matriz, f é a frequência e Ŝxx (f ) é a estimativa do espectro de potência de x[n]. As matrizes de auto-espectro e espectro cruzados são dadas por: Ŝy1y2 (f ) . . . Ŝy1yN (f ) Ŝy2y2 (f ) . . . Ŝy2yN (f ) Ŝyx (f ) = Ŝyy (f ) = . .. .. .. . . . ŜyN x (f ) ŜyN y1 (f ) ŜyN y2 (f ) . . . ŜyN yN (f ) (2.15) Os termos de espectro cruzado da Equação 2.15 podem ser calculados como: Ŝy1x (f ) Ŝy2x (f ) .. . Ŝypyq (f ) = Ŝy1y1 (f ) Ŝy2y1 (f ) .. . M X ∗ Ypi (f )Yqi (f ), (2.16) i=1 ∗ onde Ypi (f ) é a transformada de Fourier da i-ésima janela do sinal yp [n]. Os termos do auto espectro Ŝyy (f ) são obtidos como um caso especial onde p = q. O vetor de espectro cruzado Ŝyx (f ) é dado por: Ŝypx (f ) = M X ∗ Ypi (f )Xi (f ), (2.17) i=1 Semelhante ao caso monovariável, no caso de x[n] for um sinal periódico e determinı́stico, e as janelas serem sincronizadas (cada janela deverá ter o mesmo número de oscilações), a sua transformada de Fourier terá sempre o mesmo valor em todos os segmentos de X(f ). Logo a seguinte simplificação pode ser feita a Ŝyx (f ): PM ∗ i=1 Y1i (f )X(f ) P M ∗ i=1 Y2i (f )X(f ) Ŝyx (f ) = .. . PM ∗ i=1 YN i (f )X(f ) PM ∗ i=1 Y1i (f ) P M ∗ i=1 Y2i (f ) = X(f ) .. . PM ∗ i=1 YN i (f ) . (2.18) 2.2 Função de Coerência 25 Aplicando-se o resultado de 2.18 na equação 2.14 e lembrando que Ŝxx (f ) = M |X(f )|2 , tem-se que: 2 γ̂x:y1,y2,...,yN (f ) = PM ∗ i=1 Y1i (f ) P M ∗ i=1 Y2i (f ) X(f ) .. . PM ∗ i=1 YN i (f ) −1 ŜH yx (f )Ŝyy (f )Ŝyx (f ) Ŝxx (f ) H = PM ∗ i=1 Y1i (f ) P M ∗ i=1 Y2i (f ) (f ) · X(f ) · Ŝ−1 .. yy . PM ∗ i=1 YN i (f ) M |X(f )|2 (2.19) Logo a MMSC pode ser escrita como K̂N2 = YH (f )S−1 yy (f )Y(f ) , M (2.20) onde PM ∗ i=1 Y1i (f ) P M ∗ i=1 Y2i (f ) Y(f ) = .. . PM ∗ i=1 YN i (f ) 2.2.4 . (2.21) Valores Crı́ticos para a MMSC Considerando-se o modelo linear da Figura 2.3 e levando em conta que o número de canais de saı́da (N) é menor que o número de janelas (M) observadas. De acordo com (Felix, 2004), a distribuição amostral teórica de K̂N2 (f ) sob a hipótese H0 é dada por M − N K̂N2 (f ) ∼ F2N,2(M −N ) , N 1 − K̂N2 (f ) (2.22) onde F2N,2(M −N ) é a distribuição F com 2N e 2(M −N ) graus de liberdade. Logo com base na Equação 2.22, os valores crı́ticos teóricos para K̂N2 (f ) podem ser obtidos por (Felix, 2004): 26 2 Materiais e Métodos Fcritα,2N,2(M −N ) K̂N2 crit = $ M −N . + Fcritα,2N,2(M −N ) N 2.2.5 (2.23) Coerência Múltipla em Tempo Real A Equação 2.20 apresenta o valor da coerência múltipla utilizada em análises posteriores à coleta. Porém, com o intuito de se analisar a resposta do EEG em tempo real, a Equação 2.20 precisou ser modificada para uma forma recursiva conforme a Equação 2.24 a seguir: V(f,M ) = "M −1 X Y1i (f ) i=1 M −1 X i=1 Y2i (f ) · · · M −1 X i=1 # Y1N (f ) + (2.24) [Y1M (f ) Y2M (f ) . . . YN M (f )] Ŝypyq (f,M ) = M −1 X ∗ (f )YqM (f ) Ypi∗ (f )Yqi (f ) + YpM i=1 Nesta formulação o MMSC trabalha com dados da janela atual (M) e das janelas passadas (M-1) assim como os valores de Ŝypyq (f ) também contam com o os valores das janelas atuais e passadas. 2.3 Resumo do Ferramental Matemático Nas últimas seções foram apresentadas as ferramentas matemáticas utilizadas no decorrer deste trabalho. A Figura 2.4 mostra a aplicação da MSC e da MMSC respectivamente. Nesta figura, os mesmo sinais foram utilizados para comparar a resposta do classificador. A simulação foi realizada com o mesmo número de janelas (30) e a diferença entre as duas avaliações dos sinais pode ser percebida observando-se o valor MSC e da MMSC que atingiram 0.82 e 0.94 respectivamente. Assim com o valor de K̂y2 crit que foi 0.1 e 0.2, respectivamente. 2.3 Resumo do Ferramental Matemático 27 28 2.4 2.4.1 2 Materiais e Métodos Potencial Evocado por Foto-Estimulação Intermitente. Estimuladores Uma luz piscando de forma intermitente pode gerar potenciais evocados de alta amplitude utilizando-se bandas de baixas frequências (5 − 12Hz), frequências médias (12 − 25Hz) e altas (25 − 50Hz) Wu et al. (2008). Com o uso de Diodos Emissores de Luz (LED - Light-Emitting Diodes), os potenciais evocados podem variar nas frequências de 1 − 90Hz Herrmann (2001). Por sua vez os LED’s são dispositivos de baixo custo, não geram muito calor e não irradiam muito ruı́do sonoro Demontis et al. (2005), outra caracterı́stica dos LED’s é a possibilidade de controlar, por meio de corrente de alimentação, a intensidade luminosa do dispositivo Vialatte et al. (2010). Dadas estas caracterı́sticas optou-se por usar estimuladores com LED’s. Neste projeto foi escolhido o T ELU X T M , modelo V LW W 9900, da Vishay Semiconductors Figura 2.5 de cor branca com fluxo total de 2200 mililumens, intensidade luminosa de 0.8 milicandela por mililumens, tensão de operação na faixa TTL (Transistor-Transistor Logic) de 5 Volts. A corrente no dispositivo foi limitada por meio de um resistor de 33 ohms obtendo uma corrente de 0,15 ampers por LED. O conjunto de estimuladores foi então formado por dois LED’s modelo V LW W 9900. A fim de evitar a dissipação de luz, os dispositivos foram envolvidos por um material preto fosco na base e de forma cônica ao redor do LED. A base onde os dispositivos foram fixados, recebeu uma camada de tinta fosca na cor preta, também com intuito de minimizar a dissipação de luz Figura 2.5. 2.4 Potencial Evocado por Foto-Estimulação Intermitente. 29 (a) T ELU X T M modelo V LW W 9900 (b) LED encapsulado, minimizar dispersão de luz. Figura 2.5: Foto estimuladores. Os comandos de concentração, ou seja, onde o indivı́duo deveria concentrar a visão, foi feito por meio de um LED tricolor (vermelho, verde e azul) ou RGB. Para os comandos, foi escolhido o LED P LCC − 6 da Avago Technologies. Utilizando este mecanismo, é possı́vel entregar ao usuário três comandos diferentes sendo quando a luz vermelha estiver acesa, o usuário não deve prestar atenção em nenhum dos estimuladores, caso a luz verde ou azul acenda o usuário deve concentrar o olhar no estimulador da esquerda ou da direita respectivamente. Na Figura 2.6, observa-se ao centro o LED RGB e os dois estimuladores. Figura 2.6: Conjunto de foto-estimulação. No centro da figura observa-se o LED RGB com encapsulamento branco, nas laterais tem-se os foto estimuladores. 30 2.4.2 2 Materiais e Métodos Frequência de Estimulação Neste trabalho, foram adotadas duas frequências de estimulação da banda Teta. Devido ao uso em diversos trabalhos Gao et al. (2003); Zhang et al. (2011); Zhu et al. (2010), optou-se por usar as frequências de 5Hz e 7Hz. R Os sinais foram criados no ambiente M atLab utilizando onda quadrada com ciclo de operação de 50% ou seja metade do perı́odo a onda fica em nı́vel alto e na outra metade em nı́vel baixo conforme Figura 2.7. Na mesma rotina responsável por gerar o sinal de acionamento dos LED’s, foi criado também o sinal de trigger responsável por determinar o instante no qual o estı́mulo é dado. O trigger foi criado com uma frequência de 1Hz. Desta forma coincide-se o inı́cio e o fim de cada perı́odo dos sinais de estimulação. Figura 2.7: Ondas quadradas utilizadas no acionamento dos estimuladores e sinal de trigger enviada ao aparelho de Eletroencefalografia. O acionamento dos LED’s e o envio do sinal do trigger foi feito por meio do sistema multifuncional para aquisição de dados modelo NI USB-6221 da National Instruments. Um dos motivos de se usar este instrumento foi a R facilidade de seu controle junto ao M atLab , ter alimentação externa, ou seja independente da USB, a USB-6221 pode entregar correntes de até 24mA, valor este suficiente para a alimentação dos LED’s de estimulação e também por trabalhar em uma velocidade de até 250 mil amostras por segundo, o dispositivo é capaz de acionar e desligar o LED de forma mais rápida e eficiente de acordo com o comando dado pela onda de estimulação. 2.4 Potencial Evocado por Foto-Estimulação Intermitente. 2.4.3 31 Harmônicos Os sinais evocados por meio da estimulação intermitente, apresentam a mesma frequência fundamental que presente no sinal de estimulação. No entanto este sinal, também apresenta os harmônicos de ordem superior (MullerPutz et al., 2005; Muller-Putz and Pfurtscheller, 2008). Como pode ser visto na Figura 2.8, em alguns casos a amplitude do sinal harmônico em especial o segundo, e em alguns casos o terceiro, harmônico é encontrado maior que a amplitude da fundamental. Esta variação foi observada para diferentes frequências e em diferentes pessoas. Figura 2.8: Presença dos harmônicos nos sinais coletados e no uso da detecção para frequência de estimulação de 5Hz. a) Frequência fundamental com maior amplitude em relação aos demais harmônicos. b) Segundo harmônico com maior amplitude em relação à fundamental e presença do terceiro harmônico. Dados da simulação: Taxa de amostragem de 600Hz, Canais P 3P 4, Janelas de 600 pontos, Re inı́cio da mmsc a cada 15 janelas. 32 2 Materiais e Métodos Levando-se em conta este fato, optou-se por incluir (como será visto mais a frente), o sinal do segundo harmônico no sistema de decisão e assim não observar somente a frequência do primeiro harmônico. 2.5 Eletroencefalógrafo Para a aquisição dos sinais do eletroencefalograma, o Núcleo Interdisciplinar de análise e Sinais ou NIAS, laboratório do departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Viçosa no qual a parte prática do trabalho foi desenvolvido, dispõe de um eletroencefalógrafo modelo BrainNet BNT 36, produzido pela LYNX Tecnologia Eletrônica Ltda. e distribuı́do pela EMSA Equipamentos Médicos S.A. Figura 2.9. Este aparelho é microprocessado, utilizando tecnologia DSP (Processamento de Sinal Digital) com resolução de 16 bits. O dispositivo conta com 36 canais configuráveis e os filtros de cada canal podem ser configurados via software entre 0,1 e 100Hz. Os canais que vão de Fp1 ao 22, são todos monopolares com referência comum, neste trabalho, adotou-se referência em Cz. Em todos os canais, independente de serem monopolares ou bipolares, a entrada dos bornes é feita por plugues do tipo Pino de Segurança, de 4,5mm, onde não há contato entre o operador e o pino ”macho”do borne. Os canais de 33 a 36 foram utilizados como canais de trigger, sendo os canais 33, 34 e 36 os triggers de comando e 35 referente a foto estimulação. O BNT-36 possui ainda uma saı́da do tipo RJ45 para comunicação com computador, via rede Ethernet. O condicionamento do sinal é feito por meio de amplificadores de instrumentação, com entrada diferencial e rejeição de modo comum superior a 90dB. Para cada canal o aparelho pode filtrar sinais nas faixas de 0,1; 0,5; 1; 2; 5; 10; 20 e 50Hz por meio de filtro passa-altas e sinais nas faixas de 20,35,70,100Hz por meio de filtro passa-baixas. Além da opção de utilizar o filtro notch centralizado na frequência de 60Hz. Os sinais após filtrados podem ser amostrados em taxas de 100, 200, 240, 300, 400, 600 amostras por segundo, neste trabalho optou-se por uma taxa de amostragem de 600Hz. 2.5 Eletroencefalógrafo 33 Figura 2.9: Aparelho para Eletroencefalografia, modelo BrainNet BNT 36 2.5.1 Comunicação dos Dados Segundo o fabricante, a mensagem enviada pelo BrainNet é composta por 1472 bytes sendo 1440 de dados e 32 bytes de protocolo de comunicação. A Tabela 2.1, mostra a distribuição dos bytes enviados pelo aparelho. 34 2 Materiais e Métodos Tabela 2.1: Mensagem enviada pelo BrainNet BNT-36. Nome Caracterı́stica Cod Código do pacote R Reservado do fabricante # Pacote Número do pacote de dados Temp Grav Instante de gravação Freq Am Frequência de amostragem em Hz Burst Número de pacotes por transmissão # Canais Número de canais do equipamento IP IP do equipamento na rede Porta Número da porta Status Host Estado do elemento atual na rede R Reservado do fabricante Dados Conjuntos de dados Dados Conjuntos de dados 2.5.2 Número de bytes 2 2 4 4 4 4 2 4 2 4 4 720 720 Eletrodos Em conjunto com o BrainNet, optou-se por usar eletrodos de prata, mais precisamente de cloreto de prata Ag/AgCl. Estes, por sua vez, possuem uma melhor condução quando comparados aos eletrodos de Alpaca também conhecido como prata alemã. Os eletrodos de Ag/AgCl têm aproximadamente 8mm de diâmetro e fio condutor de 1,5m Figura 2.10. Figura 2.10: Eletrodos de Ag/AgCl para Eletroencefalografia. 2.5 Eletroencefalógrafo 2.5.3 35 Sistema Internacional 10-20 Em 1958, H.H. Jasper desenvolveu um método para o posicionamento dos eletrodos para eletroencefalografia de modo que fossem utilizados pontos de referência no crânio de cada indivı́duo. Este sistema de posicionamento ficou conhecido com sistema 10-20 (Oostenveld and Praamstra, 2001). O método consiste em utilizar quatro pontos de referência: nasium (raiz do nariz), inium (protuberância ocipital), depressão na raiz do zigoma anterior ao tragus (ponto pré auricular). As medidas ântero-posterior são obtidas a partir da distância entre o nasium e o inium. Seguindo uma linha reta entre estes dois pontos encontra-se (a partir do nasium) a 10% da distância o pólo frontal (Fpz),20% depois, encontra-se o ponto frontal (F), 20% depois, o ponto central (Cz), mais 20% após o Cz, encontra-se o ponto pariental (Pz), 20% a frente encontra-se o ponto occipital (Oz), 10% após Oz tem-se o inium. As medidas laterais são obtidas a partir do ponto pré auricular, 10% acima deste ponto, encontra-se o ponto temporal médio (T3), 20% acima deste, encontra-se o ponto central médio (C3) e 20% acima deste encontra-se o Cz. O restante dos pontos é obtido de forma semelhante e podem ser vistos na Figura 2.11. Figura 2.11: Posicionamento dos sensores de acordo com o sistema internacional 10-20. Modificado de Sharbrough et al. (1991) 2.5.4 Protocolo de Exames O protocolo deve ser seguido em cada exame sendo importante para tentar ajustar as condições nas quais o usuário deve operar o sistema. Parâmetros 36 2 Materiais e Métodos como frequência do estı́mulo, taxa de aquisição, comandos aos usuários, distância mı́nima entre a fonte de estı́mulo e o usuário devem ser observados antes do inı́cio dos exames e definidos em forma de protocolo. Neste trabalho, adotaram-se os seguintes parâmetros: • Frequência de amostragem: 600Hz, a fim de trabalhar com uma janela fixa de 600 pontos; • Canais utilizados para o cálculo da coerência múltipla: P3 e P4; • Janelas de 600 pontos; • Distância mı́nima do estimulo ao usuário de 30cm e máxima de 60cm; • Tempo de estimulação de 10 segundos a 60 segundo. A cada exame o voluntário é convidado a ficar sentado dentro de uma cabine acústica onde o estimulador é colocado em sua frente (Figura 2.12). O painel de estimulação conta com dois LED’s de estimulação na cor branca e um LED de comando que podem ser acionado nas cores verde, vermelha e azul. Durante o primeiro minuto o voluntário é instruı́do a não prestar atenção a nenhuma das luzes que piscam de forma intermitente nas frequências de 5 e 7Hz. Durante o perı́odo no qual não se deve prestar atenção a luz vermelha é apresentada ao indivı́duo. Após o primeiro minuto a luz verde se acende e apaga-se a luz vermelha. Isto indica que o voluntário deve focar sua atenção no sinal de 5Hz ou seja no LED à sua esquerda. Esta estimulação tem duração de 60 segundos. Após este intervalo de tempo a luz verde se apaga e a vermelha é novamente acesa e o voluntário deve parar de prestar atenção a qualquer estı́mulo. Depois de 60 segundos a luz vermelha é apagada e é acesa a luz azul, indicando que o voluntário deve focar sua atenção na frequência de 7Hz pelo perı́odo de um minuto. Após isto, a luz vermelha é acesa novamente. Este ciclo se repete mais uma vez porem com tempos de estı́mulos de 30 segundos para a frequência de 5Hz e de 10 segundos para frequência de 7Hz. Este exame foi repetido no mı́nimo 5 vezes para observar a resposta referente à fadiga e acomodação ao estı́mulo. 2.5 Eletroencefalógrafo 37 Figura 2.12: Voluntário posicionado dentro da cabine audiométrica. 2.5.5 Filtros Apesar do BNT-36 possuir uma grande quantidade de filtros programáveis, estes filtros foram implementados em seu interior de forma fı́sica, utilizando-se circuitos integrados. Após a análise dos dados utilizando estes filtros, observou-se que estes filtros não eram capazes de trabalhar em uma região mais estreita, fazendo com que dados de interesse fossem perdidos. Devido a isto, decidiu-se implementar o filtro de forma digital. Uma rotina em Matlab foi criada com quatro filtros do tipo Butterworth de quarta ordem a fim de rejeitar as faixas de frequências em torno de 60Hz (filtrando os sinais de 58 a 62Hz), 120Hz (filtrando os sinais de 118 a 122Hz), 180Hz (filtrando os sinais de 178 a 182Hz) e 240Hz (filtrando os sinais de 238 a 242Hz), ou seja sua função era filtrar a frequência fundamental em 60Hz e os três subsequentes harmônicos Figura 2.13. 38 2 Materiais e Métodos Figura 2.13: Efeito dos filtros nos sinais. Em destaque o sinal coletado no ponto P3, com frequência de amostragem de 600Hz e janela de 600 pontos. 2.5.6 Parâmetros para a Coerência Múltipla Os dados coletados, independentes de serem em tempo real ou não, foram divididos em janelas de mesmo intervalo de tempo, logo com mesmo número de pontos, estas janelas foram fixadas em 1s com 600 pontos devido à taxa de aquisição utilizada pelo aparelho que foi fixado em 600Hz. Por utilizar uma equação de formato recursivo, observou-se a necessidade de re-iniciar os dados que já foram processados e assim inicia-se o cálculo a partir de um valor inicial. Esta valor inicial foi fixado em 0 (zero) e o re-inicio dos cálculos ocorria a cada 25 segundos. Por se tratar de uma equação que trabalha com mais de um canal, estudou-se uma forma de melhorar as respostas da Equação 2.20, variando as combinações entre os canais. Como este trabalho foi desenvolvido a partir das respostas evocadas por foto estimulação, escolheram-se os canais próxi- 2.5 Eletroencefalógrafo 39 mos às regiões responsáveis pela visão e processamento da imagem no cérebro humano. Utilizando-se o sistema internacional 10-20 os canais observados foram: O1, O2, Oz, P 3, P 4, P z. Além de observar as repostas individuais, observou-se também as combinações com 2 dois canais. Devido ao número de repetições necessárias neste estudo, ele foi realizado na forma simulada. A simulação do sistema consistiu na criação de um sinal que representasse a resposta do cérebro a um estimula luminoso de forma intermitente. Este sinal então foi constituı́do pela soma de quatro sinais senoidais de diferentes frequências e somado a este, um ruı́do gaussiano branco com Relação Sinal/ruı́do (em inglês, signal to noise ratio ou SNR) de −22dB para simular o EEG de fundo conforme Figura 2.14. Figura 2.14: a) 4 Senoides de diferentes frequências somadas. b) Sinal resultante da soma das senoides. c) Inserção do ruı́do com SNR de −22dB. Um protocolo para esta simulação foi desenvolvido para garantir que sua reprodutibilidade fosse garantida. A simulação foi então desenvolvida da seguinte forma: Ensaio total é constituı́do por 9000 pontos. Nos intervalos de 0−1000, 2000−3000, 4000−5000, 6000−7000, 8000−9000, as amplitudes das frequências seria mantida a mesma para cada uma delas. No intervalo de 1001 − 1999 a amplitude do primeiro sinal é duplicado em relação aos demais, desta forma simula-se a ação da concentração em um dos estı́mulos. No intervalo 3001 − 3999 modifica-se a amplitude do segundo sinal e assim por diante para os demais sinais. A decisão de comando nesta simulação teria saı́da 1 para a primeira frequência, −1 para a segunda, 2 para a terceira e por fim −2 para a quarta. Desta forma a escolha do canal ou conjunto de canais deu-se por observar a relação do número de pontos certos em relação ao número de pontos errados. A Figura 2.15 mostra uma destas simulações. Nesta figura, a linha azul pode ser vista como uma curva de tendência. Os pontos fora da linha azul são 40 2 Materiais e Métodos considerados falsos positivos, ou seja, erros de simulação. Figura 2.15: A figura mostra uma simulação utilizando o protocolo descrito. No intervalo onde a amplitude da primeira forma de onda foi amplificada, o decisor deveria ter como saı́da o valor 1. No intervalo onde a segunda forma de ontem teve sua amplitude modificada, o classificador deveria ter saı́da -1. Nos intervalos onde a terceira e a quarta formas de ondas foram modificadas, o decisor deveria atribuir os valores de 2 e -2 respectivamente. 2.6 Decisor HSD (Harmonic Sum Decision) Após os dados serem processados por meio da Coerência Múltipla, as decisões foram tomadas utilizando-se o critério de Decisão de Soma de Harmônicos HSD (do inglês Harmonic Sum Decision). Este critério utiliza não apenas o valor da componente fundamental mas também dos harmônicos provenientes destas frequências (Muller-Putz et al., 2005). O uso deste tipo de decisor advém do fato que o sinal evocado gerar resposta que se difere entre indivı́duos. Por conta disto em alguns casos a resposta obtida pelo classificador se mostrava mais acentuada no segundo harmônico e não no primeiro. Outro motivo é que as respostas de diferentes frequências também variam a amplitude da coerência i.e. a resposta de um estı́mulo de 5Hz possui uma amplitude maior que de um sinal de 13Hz. Por isto optou-se por utilizar a HSD que normalizava as respostas com base em um valor basal, medido quando o usuário não estava prestando atenção em nenhuma das estimulações. Neste trabalho, foi utilizado o valor do primeiro e segundo harmônico. 2.7 Braço Robótico HSD = argmax 41 n X Hi F1 × blF1−1 , i=1 n X i=1 Hi F2 × blF2−1 , n X Hi F3 × blF3−1 . . . i=1 (2.25) Nesta equação n é o número de harmônicos, Hn F1 é o enésimo harmônico da frequência F1 e blF1 é o valor basal da frequência F1 . A Figura 2.16, exemplifica a presença de um sinal de amplitude mais alto no segundo harmônico e outro sinal onde o segundo harmônico é menor. Nesta figura, é possı́vel observar as frequências fundamentais dos estı́mulos (5Hz e 7Hz) bem como as suas harmônicas em 10Hz e 14Hz respectivamente. Figura 2.16: As figuras mostram as análises de dois sinais reais de um mesmo indivı́duo. Os sinais foram evocados por foto estimulação intermitente com frequência de estimulação em 5Hz e 7Hz. A figura a) apresenta uma resposta onde o segundo harmônico teve uma amplitude maior do que a resposta da componente principal. No entanto a figura b) apresenta uma maior amplitude na frequência fundamental. Dados da rotina: frequência de amostragem em 600Hz, janelas de 600 pontos, re-inı́cio da MMSC a cada 15 janelas e canais observados P3 e P4. 2.7 Braço Robótico O Braço Robótico utilizado neste experimento, foi construı́do utilizandose as partes do Lego M indstorms modelo N XT 2.0. Com uma polı́tica de desenvolvimento cientı́fico e educacional, a Lego desenvolveu conjuntos de peças para a criação de robôs. Estes conjuntos, além de conter as clássicas peças de encaixe também apresentam um bloco de processamento onde têmse inserido um microcontrolador e várias portas de comunicação. Algumas ! 42 2 Materiais e Métodos destas portas são dedicadas exclusivamente para o acionamento de motores e as demais portas para a comunicação com sensores, infra-vermelho, ultrasom, sensor de cor, sensor de contato, som e outros que podem ser comprados separadamente como o sensor laser de distância ou de temperatura. Sendo assim com este conjunto foi montado o braço mecânico da Figura 2.17. Figura 2.17: Vista frontal e lateral do braço mecânico desenvolvido com peças do Lego M indstorms. Na Figura 2.17 é possı́vel identificar o bloco de comando da Lego e os três motores responsáveis pela movimentação dos eixos horizontal, vertical e pelo movimento de abrir e fechar a garra de três dedos. A comunicação entre o bloco de comando e o computador é feita por meio de cabo USB. Se necessário, a comunicação também poderá ser feita por meio de uma comunicação sem fio via Bluetooth, e se necessário, acionar mais de um bloco de comando. Todos os três motores são de corrente contı́nua e possuem encoders com precisão satisfatória para o projeto aqui proposto. Vale salientar que, apesar deste braço não ter torque suficiente para realizar tarefas mais complexas, seu movimento pode executar tarefas simples tais como segurar pequenos objetos, mover-los de um ponto a outro, pressionar teclas de um teclado e servir-se de base para testes de outros sistemas robóticos mais robustos e complexos. 2.8 Acionamento dos Motores 2.8 43 Acionamento dos Motores Até o presente momento toda a computação necessária para a aquisição e processamento dos dados fui realizada em ambiente Matlab. No entanto os comandos de acionamento dos motores do braço foram realizados em ambiente Labview. Neste ambiente, a programação é desenvolvida por meio de blocos interconectados seguindo uma sequência pré determinada de ação. A esta sequência é dada o nome de Máquina de Estados, que organiza a sequência dos eventos. 2.8.1 Acionamento do Braço por meio do Labview Dentro do ambiente do Labview, o programador é apresentado a duas áreas de programação: a interface do usuário e a interface de programação (Figura 2.18 a) e b)) respectivamente. A interface do usuário é a parte que será utilizada na operação do programa desenvolvido e dependendo do caso o operador não tem acesso à interface de programação. Neste trabalho a interface com o usuário foi desenvolvida apenas para mostrar onde está sendo o comando que o braço irá executar e caso queiram o local onde os dados serão salvos (Figura2.18 a)). Figura 2.18: Ambiente de Labview para a execução do movimento. A máquina de estados foi então desenvolvida com a seguinte sequência de operação: 44 2 Materiais e Métodos 1. Aquisição de Dados: O Labview observa se algum dados de comando foi enviado pelo M atlab. Esta etapa tem duração média de 1ms; • Em caso afirmativo o programa aciona um indicador luminoso e passa para o estado seguinte; • Em caso negativo passa para o estado seguinte; 2. Acionamento dos motores: Com os comandos provenientes da aquisição o programa envia o comando de acionamento aos motores de acordo com o sentido de rotação indicado pelo M atlab. Após a execução do movimento, a rotina passa para o estado seguinte. Esta etapa tem duração média de 100ms 3. O último estado refere-se para o caso dos dados serem salvos: Caso o usuário deseje salvar os dados, estes o serão neste momento no local indicado pelo operador. Esta etapa tem duração média de 1ms; 2.8 Acionamento dos Motores 45 !" # $ $ $ ( $ ) * %& ' !" + ,- $ " & # $ $ .$ * $ # $ % . * $ $ % / $% 0 $ &$ % $ , #$ # $ $ $ $ . 1 . $ 2 $ Figura 2.19: Programação dos possı́veis comandos via Labview. # $ % 46 2 Materiais e Métodos 2.9 Interface do Usuário para Operação em Tempo Real da ICC A fim de se ter uma interface fácil para o usuário operar o sistema em tempo real, foi desenvolvido no ambiente GU I (sigla em inglês Graphical User Interface) do M atLab Figura 2.20, com todos os comandos necessários para realizar a aquisição dos dados do aparelho de EEG sem a necessidade de se utilizar o programa fornecido pelo fabricante. Nesta interface o operador indica: a frequência de amostragem (100, 150, 200, 240, 300, 400, 600) em hertz, o número de pontos por janelas (deve ser observado em conjunto com a frequência de amostragem), o canal a ser utilizado como referência (o terra foi adotado no ponto médio entre F p1 e F p2 ), se os dados serão ou não salvos e o nome do arquivo (extenção .txt), o tempo de reinı́cio da MMSC, o conjunto de canais a serem usados e ı́ndice de significância (α). E como saı́da para o operador o sistema indica: se esta calibrado (se os valores basais foram calculados), o número da iteração (corresponde ao número total de janelas caso seja usada uma janela por segundo), a frequência detectada (que corresponde também ao valor enviado ao LabV iew), os valores basais calculados e os canais em uso. ! " ! " ( # 3 3 4** 5 ) ) $ % ( & && ' ( " )*+,* 1 22' - ( . /0 Figura 2.20: Interface de operação do sistema em tempo real. 2.10 Resumo do Capı́tulo 2.10 47 Resumo do Capı́tulo Este capı́tulo apresentou os passos para a criação e operação da Interface Cérebro Computador utilizada neste experimento. A Figura 2.21 a), mostra a figura original apresentada no trabalho de Wolpaw et al. (2002), este diagrama apresenta de forma genal as partes de uma ICC. Comparando então com a ICC desenvolvida neste trabalho Figura 2.21 b) observa-se que os mesmos passos foram tomados, porém de diferentes formas mas com o mesmo intuito. % ! " # $ &% Figura 2.21: a) Representação geral de uma ICC apresentada por Wolpaw et al. (2002). b) ICC proposta neste trabalho. Nota-se que a semelhança da arquitetura da interface foi mantida. Porem a forma da realização do projeto foi alterado de acordo com a necessidade e aplicação. Capı́tulo 3 Resultados Este capı́tulo é dedicado a apresentar os resultados obtidos pelo sistema desenvolvido neste trabalho e detalhado no capitulo de desenvolvimento. 3.1 Resultados do Protocolo de Simulações Estes resultados são referentes às simulações do protocolo descrito na Seção 2.5.6 do capı́tulo anterior. O decisor neste caso foi desenvolvido da seguinte forma: o valor da MSC é observado por três janelas seguidas, é caracterizado como decisão se nestas três janelas o valor se manter acima do valor critico e ao mesmo tempo maior que o valor (em amplitude) das demais frequências observadas. A Figura 3.1 apresenta o fluxograma para a rotina desenvolvida. Os erros e acertos foram calculados de acordo com cada intervalo da simulação conforme a Figura 2.15 do capı́tulo anterior se o gráfico for dividido em partes iguai, então seriam 9 partes separadas por intervalos de atenção ou de relaxamento. Dessa forma, os intervalos (1,3,5,7 e 9) são intervalos onde deveria haver relaxamento e nenhuma das frequências de estimulação deveria ser observada. Logo caso haja detecção de alguma frequência nestes perı́odos, os mesmos foram tratados como erros. Nos intervalos 2 e 6, deveriam apresentar somente respostas em uma frequência, assim qualquer ponto seja em zero ou em outra frequência é dado como erro. O mesmo acontece para os intervalos 4 e 8. 50 3 Resultados Figura 3.1: Fluxograma para a simulação e testes com a coerência múltipla. Af n é a amplitude do valor da MMSC e Kcrit o valor critico. A Tabela 3.1 apresenta uma sequência de simulações onde a quantidade de janelas usadas pela MMSC foi variada. Nestes dados é possı́vel observar uma variação com relação ao número de janelas e a precisão do sistema, bem como a relação com o tempo de simulação. Esta simulação demostrou a funcionalidade da MMSC e demonstrou de ante mão alguns problemas que seriam encontrados com as simulações com dados reais ”off-line”e durante a realização dos testes em tempo real (on-line). Assim, chegou-se na situação onde é necessário um balanço entre número de acertos e tempo de processamento. A Figura 3.2 mostra as possı́veis situações propostas para esta simulação: todas as amplitudes são semelhantes e não há concentração em nenhum sinal, concentração no primeiro sinal, concentração no segundo sinal, concentração no terceiro sinal e por fim concentração no quarto sinal. Antevendo que este sistema seria usado para movimentar um braço robótico real assumiu-se, que quando for detectado um erro pelo sistema, este erro será tratado como a não realização de movimento, assim é dado o comando de permanecer parado ou seja nı́vel 0 (zero) para os motores. 3.1 Resultados do Protocolo de Simulações 51 Tabela 3.1: Parâmetros das Simulações, Frequência de Amostragem 600Hz, Janelas com 600 pontos, Nı́vel de Significância (α = 0,05), Número de Janelas antes do re inicio da MMSC (M),Total de Pontos (P), Pontos Certos (C), Pontos Errados (E), Porcentagem de acerto (%), Tempo de Simulação em segundos. Simulação M Simulação 1 1000 Simulação 2 500 Simulação 3 200 Simulação 4 100 Simulação 5 90 Simulação 6 80 Simulação 7 70 Simulação 8 60 Simulação 9 50 Simulação 10 30 P C E % Tsim (s) 7415 7693 7804 7792 7732 7740 7725 7810 7744 7658 4278 4708 4278 4868 4760 4771 4768 4867 4788 4647 2985 2985 2908 2924 2972 2969 2957 2943 2956 3011 61,19 61,19 62,73 62.47 61,56 61,64 61,72 62,31 61,82 60,68 175,25 177,55 177,22 175,19 183,48 174,91 174,62 171,02 173,58 173,42 Figura 3.2: Cinco possı́veis respostas para a simulação do sistema. O marcador verde representa a frequência detectada ou onde existe uma concentração da atenção. Os marcadores vermelhos são as demais frequências e a linha vermelha mostra o valor critico naquele momento. Qualquer valor abaixo da linha vermelha é estatisticamente nulo. 52 3.2 3 Resultados Resultados do Protocolo de Análise dos Sinais de EEG Off-Line O protocolo para a aquisição dos dados reais é mostrado na Figura 3.3. Neste protocolo, o indivı́duo é solicitado a ficar sentado de forma relaxada em uma cabine audiométrica fechada e com a iluminação reduzida. Durante a primeira fase do exame, o indivı́duo é solicitado a não prestar atenção a nenhuma das luzes que piscam de forma intermitente. Durante esse momento uma luz vermelha indica o estado de não atenção. Esse estado tem duração de um minuto e nos primeiros 12 segundos é calculado o valor basal referente a aquela pessoa. No segundo minuto, a luz vermelha se apaga e é acesa uma luz verde. Esse comando significa que o indivı́duo deve se concentrar na luz que está piscando a sua esquerda. Depois deste minuto, a luz vermelha se acende e a pessoa pode parar de se concentrar na frequência e pode relaxar. No quarto minuto a luz vermelha volta a se apagar e uma luz azul é acesa, assim a pessoa recebe o comando de se concentrar na frequência da luz a sua direita por mais um minuto, seguido disso a luz vermelha é novamente acesa. Após este quinto minuto, o sistema se comporta da mesma forma porém agora o tempo de concentração na frequência da esquerda passa a ser de meio minuto e o da direita de apenas dez segundo. Figura 3.3: Protocolo para a aquisição dos sinais reais de EEG. Faixa vermelha indica não concentrar em nenhum estı́mulo, faixa verde, representa atenção ao estimulo da esquerda e faixa azul, atenção ao estimulo da direita. Os sinais de acionamento dos LED’s foram criados por um segundo computador, dedicado a gerar os sinais de estimulação e os sinais de trigger. Esses mesmos sinais foram coletados pelo aparelho de EEG para a realização da MMSC, Figura 3.4. 3.2 Resultados do Protocolo de Análise dos Sinais de EEG Off-Line 53 Figura 3.4: Sinais de trigger coletados pelo EEG em suas portas auxiliares. a) trigger da MMSC, constituı́do por pequenos pulsos com frequência de 1Hz. b) Trigger da luz vermelha. c) Trigger da luz azul. d) Trigger da luz verde. Por trabalhar com múltiplos sinais, investigou-se qual canal ou conjunto de canais iria produzir uma melhor resposta. Para isto, utilizou-se um conjunto de dados coletados e foi observado onde era apresentado o maior número de acertos variando as combinações de 1 a 2 canais. Por se tratar de uma foto-estimulação, procurou-se utilizar os canais mais próximos da região de processamento de imagem do cérebro (canais O1, O2, Oz, P3, P4 e Pz). A Tabela 3.2, mostra uma destas análises onde os intervalos de estimulação ou de ausência de estı́mulo foram analisados de acordo com o número de pontos possı́veis e o número de pontos certos de acordo com cada combinação de canais. Para a escolha dos melhores canais, somou-se o número de acertos e subtraiu o dos erros. Em todos os 5 exames, foram realizadas análises semelhantes às feitas na Tabela 3.2 e os resultados indicaram que a melhor relação entre conjunto de canais observados e número acertos, foi obtido na união dos sinais coletados em P 3 e P 4. Porém, isso de forma algum implica que não houve resposta nos demais canais. 54 3 Resultados Tabela 3.2: Análise do Exame TesteM01. Intervalos com estimulação de 5Hz: 1 e 2. Intervalos com estimulação de 7Hz: 3 e 4. Intervalos sem estimulação: 5,6 e 7. Os intervalos 5f n , 6f n e 7f n , referem-se aos sinais de n = 7 e n = 7 encontrados quando não deveriam ou seja seriam falsos positivos. Respectivamente P P cada canal deveria ter 61,31,61,11,0,0,0,0 pontos. Σ = certos − erros Cana(l/is) 1 2 3 4 . Intervalos 5f 5 5f 7 6f 5 O1 O2 Oz P3 P4 Pz O1O2 O1Oz O2Oz P3P4 P3Pz P4Pz P3O1 P3O2 P3Oz P4O1 P4O2 P4Oz 58 56 45 47 23 0 58 57 55 41 40 5 58 55 42 57 48 39 26 21 18 27 27 20 19 17 13 28 17 25 20 19 16 26 23 25 54 41 54 58 0 28 44 45 53 58 55 24 52 55 53 49 37 56 7 7 4 8 2 6 4 5 2 7 8 5 8 7 7 4 2 1 0 0 0 0 0 0 6 0 12 6 0 0 0 0 0 3 0 0 25 2 14 25 25 49 4 13 0 4 47 45 46 11 9 45 5 12 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 6f 7 7f 5 7f 7 8f 5 8f 7 Σ 0 0 3 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 1 1 0 0 9 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 123 123 104 114 25 2 115 110 109 124 72 14 92 115 109 88 105 108 Para a análise de sinais reais, assumiu-se como decisor o HSD descrito na Seção 2.6. Como sinais a serem enviados para o acionamento dos motores, tem-se como saı́das do decisor: −1 para atenção na frequência de 5Hz, +1 para atenção na frequência de 7Hz e 0 no caso de nenhuma atenção ou caso fosse detectado algum erro. Como citado anteriormente, a saı́da 0 representa a não movimentação do braço. A Figura 3.5 apresenta um dos exames analisado off-line utilizando-se o MMSC como classificador e o HSD como decisor. Os valores basais foram calculados utilizando-se as janelas 9,10,11 e 12. A frequência de amostragem do sistema foi de 600Hz e cada janela continha 600 pontos e a MMSC era re iniciada a cada 15 janelas, ou seja a cada 15 3.3 Resultados do Protocolo de Análise dos Sinais em Tempo Real (On-Line) 55 janelas as matrizes de dados eram zeradas. Figura 3.5: Análise off-line do exame testeM02 Fs 601,5. Taxa de aquisição de 600Hz, janelas de 600 pontos, MMSC re-iniciada a cada 15 janelas. Valores basais 0,3292 0,2977 0,1085 0,0557 para as frequências de 5, 7, 10 e 14 Hz, respectivamente. 3.3 Resultados do Protocolo de Análise dos Sinais em Tempo Real (On-Line) Nas seções anteriores, foram demonstrados os passos para obter um conjunto de parâmetros necessários para a realização deste trabalho. Com os dados da simulação observou-se a eficiência e o correto funcionamento da MMSC como detector de sinais do eletroencefalograma. Com as simulações, utilizando dados reais, foi possı́vel obter um conjunto favorável de canais para melhorar a resposta do sistema. Bem como obter um valor satisfatório para o tamanho de cada janela de dados. De posse destes dados estipulou-se como principais parâmetros: 1. Frequência de Amostragem (Fs) : 600Hz; 2. Tamanho da Janela: 600 pontos; 3. Canais Observados: P3 e P4 (segundo sistema internacional 10-20); 4. Tolerância: 5%. 56 3 Resultados A fim de se observar a resposta dos motores do braço robótico, criouse a Figura 3.6 que mostra um perfil da variação do angulo de rotação do braço mecânico (garra) em relação ao tempo, como resposta aos comandos luminosos seguindo a Figura 3.3. O comando foi dado ao motor por de forma manual e os ângulos coletados pelo encoder acoplado ao motor. Figura 3.6: Dados do encoder acoplado ao motor da Garra do braço robótico. O maior ângulo registrado foi de 3294o o que indica que no perı́odo de um minuto o motor realizou 9 voltas completas mais 54o . Com base neste perfil, os voluntários foram submetidos ao protocolo descrito na Seção 3.2 com o braço mecânico em funcionamento. A Figura 3.7, mostra o conjunto que corresponde a ICM desenvolvida neste trabalho quando em funcionamento. 3.3 Resultados do Protocolo de Análise dos Sinais em Tempo Real (On-Line) 57 Figura 3.7: Exemplo do funcionamento completo da ICM. Em detalhe as partes principais da ICM. Os exames contaram com 8 voluntários com idades entre 19 e 28 anos, com visão normal ou com lentes corretivas e declaram não ter nenhum tipo de epilepsia. Para analisar a eficiência da ICC utilizou-se a correlação entre o perfil gerado e a resposta obtida pelo controle da ICC. A Tabela 3.3 apresenta a análise destes dados. Tabela 3.3: Correlação entre o perfil e a resposta pelo controle da ICC. Voluntário/Exame 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 8 0,4900 0,3755 0,5594 0,2191 0,3264 0,1928 0,5058 0,2909 0,5481 0,4950 0,5613 0,5613 0,4839 0,3193 0,7792 0,5781 0,6945 0,5188 0,8431 0,8114 0,8630 0,3334 0,6546 0,8045 0,8529 0,8743 0,7515 0,7126 0,4240 0,7260 0,5059 0,8975 0,8252 0,7587 0,6879 0,3455 0,3021 0,6192 0,7873 0,7197 0,3745 - 0,7667 0,6113 - A Figura 3.8, apresenta graficamente os resultados presentes na Tabela 3.3. Observa-se que existe um melhor desempenho individual por volta do 3o ou 4o exame. Uma conjectura sobre esse fato é que existe um momento de 58 3 Resultados treinamento nos primeiros exames que vai culminar nas melhores respostas (exames 3 ou 4). Após esse intervalo de melhores resultados, verificou-se uma queda no desempenho, que pode estar relacionada com algum tipo de fadiga visual ou mental. Nesta figura os exames foram divididos em três gráficos para melhor observação dos resultado. O gráfico a) apresenta as correlações dos indivı́duos 1 e 2. Nesse gráfico fica bastante evidente o intervalo de treino (ou adaptação), seguido dos melhores resultados e, por fim, uma queda na qualidade das respostas. O gráfico b) apresenta uma resposta semelhante ao encontrado no a), porém com o surgimento de alguns picos no 3o exame. Por fim, o gráfico c) foi pouco conclusivo devido ao baixo número de repetições nos exames. 3.3 Resultados do Protocolo de Análise dos Sinais em Tempo Real (On-Line) 59 Figura 3.8: Correlação entre o perfil e a resposta pelo controle da ICC. Observa-se um melhor desempenho nos exames 3 e 4 com uma queda de resultados após este intervalo. Os melhores resultados dos exames foram colocados na Figura 3.9. Ou seja, ela apresenta as curvas com o maior valor de correlação associado a cada um dos voluntários. É possı́vel notar que, nenhuma dos exames con- 60 3 Resultados seguiu seguir exatamente todo o perfil. No entanto é possı́vel notar que a tendência apresentada no perfil foi seguida. Assim nota-se que os comando de movimento do motor foram dados no sentido correto. Figura 3.9: Curvas referentes às melhores respostas de cada voluntário. Dando um aumento na região onde o sistema começa a responder ao primeiro comando de concentração (inı́cio do segundo minuto) (Figura 3.10), é possı́vel observar que esta ICC demora em torno de 10 a 15 segundos para iniciar a resposta. Outro fato que merece ser mencionado é que cada iteração da rotina de processamento da ICC demora cerca de 2 segundos. Desta forma, é necessário pelo menos dois ou mais segundos (1200 pontos ou 2 janelas) para que alguma mudança seja percebida pela ICC. Este serve para justificar o motivo pela baixa qualidade das respostas no último intervalo do teste que teve duração de apenas 10 segundos (intervalo de 389 a 399 segundos) (Figura 3.11). 3.3 Resultados do Protocolo de Análise dos Sinais em Tempo Real (On-Line) 61 Figura 3.10: Detalhe do inı́cio do segundo minuto, onde as respostam tendem a iniciar depois de 10s. Figura 3.11: Detalhe do inı́cio do segundo minuto, onde o tempo de resposta da ICC não é suficientemente rápida para gerar a resposta desejada. Para uma melhor análise inter-sujeitos, a Tabela 3.4 apresenta os valores das médias entre as correlações de cada indivı́duo bem como seu desvio padrão. 62 3 Resultados Tabela 3.4: Média e desvio padrão das correlação de cada voluntário. 3.4 Voluntário Média Desvio 1 2 3 4 5 6 7 8 0,7093 0,6219 0,6292 0,5761 0,4886 0,3747 0,6114 0,6379 0,1401 0,1730 0,1664 0,2592 0,2186 0,2040 0,1321 0,2344 Resumo do Capı́tulo Neste capı́tulo, foram apresentados os resultados obtidos durante as fases de desenvolvimento deste trabalho ou seja: Avaliação da MMSC como detector de forma puramente computacional, avaliação dos parâmetros do sistema e.g. número de janelas necessárias, taxa de aquisição, canais de EEG. Avaliação do decisor e do classificador (HSD - MMSC), utilizando-se dados reais em perı́odo posterior à coleta dos dados (off-line) e a escolha dos canais onde foi obtida a melhor relação entre sinal e ruı́do. Por fim, a avaliação da ICC, observando sua resposta para as duas frequências de estimulação e o tempo de resposta da mesma. Foi definido que a resposta do sistema ocorre em um perı́odo de 10 a 15 segundos, porém as modificações no sinal do EEG podem ser percebidas depois de 2 segundo. As Figuras 3.12 e 3.13 mostram a ICC detectando respectivamente um sinal de estimulação de 5Hz e de 7Hz. 3.4 Resumo do Capı́tulo 63 Figura 3.12: Exemplo de funcionamento da ICC. Em detalhe a detecção de um sinal de 5Hz. Figura 3.13: Exemplo de funcionamento da ICC. Em detalhe a detecção de um sinal de 7Hz. Capı́tulo 4 Discussão e Conclusão Neste trabalho, foi realizado o estudo e o desenvolvimento de uma Interface Cérebro Computador que utilizou os sinais evocados por meio da foto estimulação intermitente. Por sua vez, essa foto estimulação foi feita utilizando duas fontes de luz que piscavam de forma independente e com frequências diferentes. Como a potência de cada sinal evocado está relacionado com a sua frequência (Muller-Putz and Pfurtscheller, 2008), optou-se por frequências classificadas como baixas por (Zhu et al., 2010) (frequências na faixa de 4 a 12 Hz). Com base nestes estudos, optou-se por trabalhar com as frequências 5 e 7 Hz que se encontram dentro da faixa de 5 a 16,8 Hz apontada como ótima Bakardjian et al. (2010). A coleta dos sinais foi realizada segundo o sistema internacional 10-20 e utilizaram-se para os cálculos os sinais provenientes dos pontos P 3 e P 4. Esta escolha se deu observando-se os resultados da Tabela 3.2, que mostra o processamento de um exame, variando a combinação dos sinais referentes aos canais mais próximos de onde o cérebro processa a visão. Conforme visto na Tabela 3.2, a combinação destes canais produziram uma resposta superior às respostas dos canais O1 e O2 bem como da combinação desses (O1 e O2). O processamento dos sinais coletados, foi feito utilizando-se a Magnitude Quadrática da Coerência (MSC) nas analise, onde foi utilizado apenas um canal. Sendo este um caso particular da Magnitude Quadrática da Coerência Múltipla (MMSC), ou seja quando n = 1. Como foi visto na Figura 2.4 a MMSC, por trabalhar com mais sinais, apresentou uma resposta melhor no tratamento dos dados coletados, o que influenciou nos resultados da Tabela 3.2. Logo chega-se à conclusão de que a Magnitude Quadrática da Coerência Múltipla (MMSC) é melhor quando comparada com a MSC. 66 4 Discussão e Conclusão Um fato que foi observado durante o processamento dos dados, quer usando a MMSC ou MSC, foi a presença de harmônicos provenientes das frequências de estimulação. Como visto nas Figuras 2.8 e 2.16, estes harmônicos em alguns casos possuı́am uma amplitude maior que o sinal fundamental. Esse fato demostrou que a análise destes sinais poderia melhoram o resultado final da Interface Cérebro Computador proposta. No trabalho de Muller-Putz and Pfurtscheller (2008) os autores demonstram uma formulação que leva em conta a amplitude do sinal da frequência fundamental e de seus harmônicos (HSD - Harmonic Sum Decision). No referido trabalho, os autores utilizaram os dados das primeiras três harmônicas. O método apresentado foi utilizado neste trabalho como decisor e utilizou apenas o segundo harmônico (no caso, as frequências de 10 e 14Hz). Neste trabalho, a Interface Cérebro Computador foi desenvolvida com o intuito de movimentar um pequeno braço mecânico. Tal dispositivo foi desenvolvido com as peças do Lego MindStorm e contou com três motores dando a possibilidade de operar o sistema com até seis graus de liberdade. As análises de acionamento do braço mecânico foram concentradas no movimentação de apenas um dos motores, o responsável por fechar a abrir a garra. Esse motor tem embutido em si um encoder que registra os giros do motor. Os dados desse sensor foram então utilizados para testar a funcionalidade da ICC proposta. Como um padrão para a comparação, foi criada a Figura 3.6 que corresponde às respostas desejadas quando a ICC for operada com protocole de exames definido na Figura 3.3. A fim de se observar a eficiência da ICC um grupo de oito voluntários foram solicitados a operar o sistema seguindo os comandos de luz do protocolo proposto. Para quantificar e comparar as respostas, foi utilizada Correlação entre a resposta desejada e o dados obtidos nos exames. Tendo em vista que a Correlação é um ı́ndice de similaridade entre dois sinais e que tem como resposta um valor entre -1 e 1 onde o pior caso é quando seu valor é nulo. A ICC proposta apresentou respostas com correlações próximas a 0,9. Com médias intra indivı́duos de até 0,7 e desvios padrões que chegaram a 0,26. Observando-se tais dados (Tabela 3.3), é possı́vel notar o fator de treinamento que é indicado pelo aumento gradativo das correlações. É possı́vel observar também o fator cansaço e/ou acomodação. Tomando como exemplo a primeira linha da Tabela 3.3: (0,4900 ; 0,5481 ; 0,6945 ; 0,8529 : 0,8252 ; 0,7873 ; 0,7667), observa-se o treinamento onde a resposta do sistema passa de 0,49 para 0,85 o que representa uma melhora de 43%. Esta melhora é 67 seguida de uma queda de aproximadamente 10% que pode ser relacionada à fadiga do exame ou uma acomodação referente aos esforços durante a execução dos testes. Uma análise mais detalhada dos dados (Figura 3.9) mostrou o tempo de processamento da ICC. Tal fato foi apoiado observando-se que a maioria das respostas tiveram inı́cio cerca de 10 segundos após o inı́cio do estı́mulo. Isso implica dizer que, em média, a ICM demora 10s para perceber a presença ou desaparecimento de um sinal evocado, classifica-lo e por fim acionar ou parar o movimento. Este tempo de processamento justifica então a baixa qualidade das respostas referentes aos últimos 10s do protocolo, no qual o sistema não teve em média tempo hábil para responder. Vale lembrar que o objetivo do protocolo foi o de testar a resposta do sistema de várias formas possı́veis, inclusive nos pontos mais crı́ticos de operação. Por fim, a Interface Cérebro Computador proposta foi desenvolvida tendo como principais pontos: a utilização da resposta evocada por meio da foto estimulação intermitente, a separação do sinal imerso em ruı́do utilizando a Magnitude Quadrática da Coerência Múltipla e a proposição um conjunto de sinais capazes melhor traduzir a intenção do usuário. A ICC concluiu seu propósito de evocar um sinal, coletar o sinal evocado, processar o sinal e traduzir em movimentos os comandos do operador. Com relação às dificuldades encontrada no decorrer do trabalho, é possı́vel destacar a grande sensibilidade dos sinais cerebrais a ruı́dos e a grande variabilidade de respostas intra e inter indivı́duos o que nos obrigou a propor um sistema minimamente robusto que pode ser operado por todos os voluntários. Capı́tulo 5 Trabalhos futuros A interface desenvolvida neste trabalho demonstrou-se capaz de separar a intenção do usuário em comandar o movimento de um braço mecânico, utilizando a concentração do indivı́duo em um dado estı́mulo. No entanto existem condições onde não é possı́vel utilizar a visão como forma de entrada de estı́mulos. Nestes casos, um estudo dos sinais do córtex motor, referentes ao planejamento execução ou imaginação de um movimento podem demonstrar resultados bastante interessantes, tendo em vista que os sinais serão observados de acordo com a vontade do paciente e não mais vai depender de nenhum outro movimento. Outro fato que merece um estudo mais detalhado é no caso do uso de aparelhos de EEG que transmitam os dados sem o uso de fios. Durante o desenvolvimento do presente trabalho, notou-se que o uso do aparelho tradicional necessita de um cuidado grande do paciente com relação a movimentos que podem puxar seus fios e assim retirar os eletrodos do seu lugar. Mesmo em pacientes que estão presos no leito, isso pode ser um problema pois este indivı́duo é constantemente mudado de posição. Assim, como proposta de trabalhos futuros, estão os estudos com relação à Sincronização e Dessincronização Relacionada a Eventos nos quais estão relacionadas as respostas cerebrais nos momentos que antecedem ao movimento bem como seu planejamento, realização e imaginação. Referências Bibliográficas Babajani-Feremi, A. and Soltanian-Zadeh, H. (2010). Multi-area neural mass modeling of eeg and meg signals. NeuroImage, 52(3):793 – 811. Bakardjian, H., Tanaka, T., and Cichochi, A. (2010). 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