RESENHA1 BIDERMAN, Ciro; COZAC, Luis Felipe L.; REGO, José Marcio. Conversas com Economistas Brasileiros. Luiz Carlos Bresser Pereira. São Paulo: Editora 34, 1996 p. 153187. Luiz Carlos Bresser Pereira nasceu no dia 30 de junho de 1934 na cidade de São Paulo. Seu primeiro emprego foi o de jornalista, em 1950, no jornal O Tempo. Em 1957 formou-se em Direito pela USP e, dois anos depois, ingressou na EAESP-FGV, onde lecionou disciplinas ligadas à Administração e à Economia. Em 1961 obteve seu Master in Business Administration pela Michigan State University e, em 1972, tornou-se doutor em Economia pela USP com a tese Mobilidade e Carreira dos Dirigentes das Empresas Paulistas, orientada por Antônio Delfim Netto. Em 1984 obteve o título de livre-docente em Economia, também pela USP, com a tese Lucro, Acumulação e Crise: A Tendência Declinante da Taxa de Lucro Reexaminada. Bresser foi ministro da Fazenda entre abril e dezembro de 1984, durante a gestão Sarney, tendo proposto principalmente medidas que visavam quitar a elevada dívida externa do Brasil. Durante a primeira gestão de Fernando Henrique Cardoso (1995-1998), foi ministro da Administração e da Reforma do Estado. Ele ainda é notável por sua ativa produção intelectual, tendo publicado dezenove livros e inúmeros artigos em revistas acadêmicas sobre Economia e Ciência Política no período entre 1969 e 1996. Durante a entrevista, Bresser destaca a importância da classe média (ou classe burocrática) na atualidade. Ele afirma que em certo momento chegou a pensar que ela poderia se tornar a classe dominante em nossa sociedade, mas que posteriormente esse pensamento mostrou-se equivocado. De qualquer forma, o poder desse extrato social é, nos dias de hoje, incontestável. Na entrevista, Bresser destaca suas influências mais importantes, dentre elas, cita Rangel, Jaguaribe e Furtado. Fora do Brasil, as maiores influências foram Marx, Weber e Keynes. Porém, afirma que após se tornar uma pessoa madura, impôs-se a obrigação de pensar por conta própria. O entrevistado tece alguns comentários sobre a transição intelectual que a esquerda brasileira passou após o colapso do Plano Cruzado e dos regimes comunistas. Essa transição, 1 Esta resenha foi produzida pelos acadêmicos de ciências econômicas da Faculdade de Economia da UFJF Gustavo Oliveira Martins e Túlio Mesquita Belgo sob orientação do professor Lourival Batista de Oliveira Júnior dentro das atividades do programa Jovens Talentos para a Ciência da CAPES. segundo o entrevistado, não envolveu necessariamente o abandono de todas as ideias de esquerda, mas, provocou uma forte reavaliação da forma como se fazia política, ainda que as bases do pensamento de esquerda fossem mantidas. Bresser afirma que durante sua gestão nos ministérios da Administração Federal e da Reforma do Estado as questões que mais lhe preocupavam eram a crise do Estado e o problema do avanço da democracia, ambas tanto no plano econômico quanto no plano político. Sobre a crise do Estado, disse: “Quando o Estado tornou-se muito grande e com serviços muito importantes, percebeu-se que a administração pública era muito ineficiente, muito cara e com um serviço de muito baixa qualidade” (BRESSERin BIDERMAN et al. Conversas com Economistas Brasileiros, 1996, p. 162). O entrevistado afirma que uma das principais causas dos repetidos fracassos na tentativa de conter o aumento vertiginoso da inflação a partir de 1979 foi uma série de diagnósticos equivocados, que levaram à estratégias inadequadas para o combate desse fenômeno. Para Bresser, uma política econômica heterodoxa é aquela que não se baseia apenas em ajustes fiscais e monetários. Segundo ele, o bom economista policy maker é geralmente ortodoxo, mas que não tem medo de buscar soluções heterodoxas quando a ortodoxia não é mais efetiva. Como exemplo, cita o Plano Real que, juntamente ao Plano Cruzado, foi o único heterodoxo de uma série de doze planos de estabilização da moeda que fracassaram no país entre 1979 e 1992. Como foi muito bem destacado por ele, um bom economista não é aquele que simplesmente segue o “livro-texto”, mas aquele ciente de que o processo econômico é fundamentalmente político e que apresenta uma série de restrições que devem ser administradas com competência. Ele destaca, também, que os países conseguirem chegar ao nível de bem estar homogêneo terão um longo período pela frente. Na sua opinião, a estratégia fundamental para o Brasil seria a de oferecer condições de competir, para ele a ideia de proteção não funciona por muito tempo, ele diz que a melhor maneira de proteger é estimular a competição. É interessante notar que Bresser tem basicamente a mesma opinião que os entrevistados anteriores quanto a dois assuntos polêmicos: o papel da Matemática na Economia e o fato de o Brasil ser, até hoje, um país colonizado academicamente. Sobre a primeira questão, ele afirma: “Em geral, o que vemos é que quem sabe muita Matemática geralmente sabe pouca Economia. [...] Até desconfio que [a Matemática] ajuda mais a ser respeitado do que a montar modelos, porque os modelos de repente vão ficando ridículos” (BRESSER in BIDERMAN et al. Conversas com Economistas Brasileiros, 1996, p. 177). E sobre a segunda: “Sem dúvida, nós aqui no Brasil somos vítimas do famoso complexo de inferioridade colonial. A coisa que eu mais estou acostumado a ver são resenhas de determinados assuntos em que os autores brasileiros são rigorosamente esquecidos” (BRESSER in BIDERMAN et al. Conversas com Economistas Brasileiros, 1996, p. 179).