1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA ABUSO SEXUAL NA INFÂNCIA, FAMÍLIA E ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS NO ATENDIMENTO INTERDISCIPLINAR Por: Mariana Faria Moura Orientadora Profª. Naura Americano Niterói 2011 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA ABUSO SEXUAL NA INFÂNCIA, FAMÍLIA E ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS NO ATENDIMENTO INTERDISCIPLINAR Apresentação Candido de Mendes monografia como à requisito Universidade parcial para obtenção do grau de especialista em Terapia de Família. Por: Mariana Faria Moura 3 AGRADECIMENTOS Reservo este espaço para agradecer todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram neste meu processo de aprendizagem. Agradeço imensamente a minha mãe Heliane e ao meu pai Eduardo, não só por terem me dado, junto a Deus, o maior presente que é a vida, mas também por sempre acreditarem e investirem em meu potencial. Amo vocês eternamente! Agradeço a você Anderson (Amor) que mesmo que indiretamente tem me acompanhado nestes quase cinco anos em que estamos juntos em todo meu processo de aprendizagem, tanto os quatros anos da Graduação e mais este um ano de Pós-Graduação. Amo-te, amor da minha vida. Agradeço a minha avó Hélia, que cuidou tanto de mim na minha infância para que meus pais pudessem trabalhar e pagar a minha Escolinha. Amor eterno a senhora e saudades do avô Adenil que durante a sua passagem por esta terra, foi o melhor avô que pude ter, sempre me levando para passear e me alegrando. Assim como agradeço ao meu avô paterno Augusto, que enquanto esteve consciente teve orgulho de ser meu avô e também me alegrava. Muito obrigada as minhas tias Adriana, Andréa, Denise e Patrícia, , cada uma contribuiu para cada parte do que sou agora! Meu principal agradecimento vai para o meu Triuno Deus! Agradeço-te, Senhor, pela sua infinita misericórdia na minha vida, eu sei que não sou merecedora de todo esse amor. Eu te amo tanto, Jesus, que não tenho palavras para descrever. Falando em “irmãs”, de maneira alguma poderia deixar de falar da minha prima-irmã Flávia. Sei que você fica muito feliz por esta minha conquista, assim como fico pelas suas. E vocês, irmãs (Bruna, Clara, Kamila, Letícia e Sheila) de faculdade, dedico o meu “muito obrigada”. Por fim, agradeço a minha orientadora Naura. 4 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a meu pai Eduardo, minha mãe Heliane, minhas tias Adriana, Andréa, Denise e Patrícia e a meu noivo Anderson. 5 RESUMO O presente trabalho procura mostrar os preceitos, fundamentos e características essenciais do Abuso Sexual Infantil Incestuoso, um tema centrado na criança e na família e que merece um atendimento especializado por uma equipe interdisciplinar capacitada, pois, este fenômeno constitui-se numa forma de violência dos direitos, torna-se uma questão social especial, pois é provocado pelas pessoas que deveriam proteger a criança. Define-se Abuso Sexual Infantil Incestuoso como qualquer conduta sexual com uma criança praticada por um parente adulto, muitas vezes o padrasto, o pai, o irmão ou por outro parente que seja mais velho que a criança. Tal fenômeno traz para a criança abusada e para família incestuosa conseqüências que afirmam que se trata de uma violência que se estende para além dos aspectos emocionais e físicos, mas que com acompanhamento terapêutico e atendimento realizado por equipe de profissionais especializados, é possível uma superação da problemática. Palavras-Chave: Abuso Sexual; Incesto; Criança; Interdisciplinariedade. 6 METODOLOGIA Pesquisa Bibliográfica e documental através da análise e leitura de livros, artigos e leis relacionados ao Abuso Sexual Infantil Incestuoso e suas implicações psicossociais. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 7 CAPÍTULO I - ABUSO SEXUAL INFANTIL..... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. CAPÍTULO II - CONCEITUANDO VIOLÊNCIA INFANTIL ....................................... 21 CAPÍTULO III - O PAPEL DO SERVIÇO SOCIAL JUNTO A EQUIPE INTERDISCIPLINAR NO ENFRENTAMENTO DAS QUESTÕES RELACIONADAS AO ABUSO E VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTIL INTRAFAMILIAR ....................................................................................................... 33 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 33 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ................................................................................ 33 ÍNDICE ...................................................................................................................... 50 8 INTRODUÇÃO Partindo da concepção histórica de evoluções e conquistas, a questão norteadora deste trabalho estará voltada para o estudo e compreensão do abuso sexual infantil incestuoso como fenômeno e questão social que deve ser trabalhada por uma equipe interdisciplinar especializada, atendimento este também com continuação terapêutica. O interesse por esta questão surgiu através da percussão do tema apontado pela mídia, não só em noticiários, mas em séries e filmes. A importância do tema foi notada à partir da concepção de que a sociedade tem uma visão ainda muito conturbada e enxerga a problemática como raridade, o que aumenta mais o tabu ao redor do tema, fazendo com que ele permaneça “escondido”. É preciso trazê-lo à tona, para que as autoridades reconheçam a notoriedade de sua relevância e importância. É importante salientar que o período histórico discutido neste trabalho foi feito após análise prévia de material, que gerou condições de ter uma base histórica. Esta leitura possibilitou perceber que a questão do abuso sexual infantil existe no quadro do mundo há séculos, porém os estudos sobre este fenômeno são recentes. Os estudos e pesquisas trouxeram uma enorme contribuição ao debate sobre este tema, bem como têm importante contribuição para a concepção atual da legislação brasileira, que considera o abuso sexual infantil como crime. Escolheu-se este tema acreditando que será possível contribuir para o enriquecimento da continuação de formação profissional, assim como se considera importante dar visibilidade às conquistas históricas pelos direitos da criança e a permanente luta para sua efetividade, fomentando, portanto, um debate imprescindível para os atores sociais envolvidos na temática. Para isso, realizou-se uma pesquisa bibliográfica sobre o contexto histórico e atual do processo do enfrentamento da violência sexual infantil, especialmente a incestuosa. Tomou-se como base, a análise referencial de 9 artigos e livros publicados referentes ao contexto geral deste tipo de violência que se revela como questão central desse trabalho. Sendo assim, esse estudo será apresentado através de informações seqüenciais organizadas por capítulos. No primeiro capítulo será focada a trajetória histórica do abuso sexual infantil, em especial o incestuoso, bem como o processo de reconhecimento da infância. O segundo capítulo abordará as questões relacionadas à conceituação da violência sexual infantil e as semelhanças e diferenças entre abuso e exploração sexual infantil, bem como os mitos existentes e a realidade destes. Esta discussão é notoriamente importante uma vez que procura desmistificar algumas posturas e crenças mais defendidas pelo senso comum. No terceiro capítulo, aponta-se a relação entre o Serviço Social e a Equipe Interdisciplinar no processo de Enfrentamento à Violência Sexual Infantil. Destacam-se o processo importantíssimo do trabalho interdisciplinar e a importância da Terapia de Família no processo de atendimento continuado à criança vítima de abuso sexual infantil e a sua família. A Conclusão trará no sentido de contribuir para uma reflexão sobre o tema, as aprendizagens adquiridas ao longo deste estudo, bem como para fomentar a análise da relação entre uma Equipe Interdisciplinar e o processo de enfrentamento da Violência Sexual Infantil Incestuosa, salientando a necessidade de novas discussões e debates sobre esta relação no âmbito das diversas profissões que lidam com este tipo de violência. 10 CAPÍTULO I ABUSO SEXUAL INFANTIL O exame sobre o abuso sexual infantil que estará presente neste capítulo teve como base os livros Abuso Sexual Incestuoso de Ana Paula Magalhães (2005) e Abuso Sexual em Crianças de Christiane Sanderson (2005), escritoras estas, que proporcionam uma pesquisa com base histórica e de entendimento de diferentes aspectos do tema e suas individualidades, assim como aclaram a visão de vários autores que examinam o assunto. O mistério do abuso sexual infantil existe no quadro histórico do mundo há séculos. Entretanto, os estudos sobre este assunto são recentes. Uma maneira de entender o abuso sexual infantil é buscar conceituá-lo, ou seja, buscar sua definição e particularidades. Muitos fatos devem e podem ser apontados para o entendimento deste conceito. Este estudo terá como foco o abuso sexual infantil incestuoso, ou seja, aquele que acontece no ambiente intrafamiliar. Sendo assim, indica-se o contexto intrafamiliar do abuso sexual infantil apontado por Magalhães (2005, p.45). Deve-se pensar o incesto (pai-filha) numa situação triangular, estando a mãe presente ou ausente. Ela participa da criação de um ambiente incestuoso. O pai confunde a tentativa de agradar da filha, lendo esta tentativa através de um viés sexual e/ou pela cumplicidade de uma hostilidade comum em relação à mãe. A mãe favorece – consciente ou inconscientemente – a filha a se enquadrar no papel de esposa e amante, libertando-se dessas funções. E mais do que isso, este tipo de relação não faz face à diferenciação e individuação, uma situação de extrema negação do processo de separação. Observar os aspectos relacionados ao abuso sexual infantil requer uma base de contexto histórico já existente. Desta maneira, são ponderadas seis épocas diferentes: a Grécia Antiga, os Séculos I e II de nossa 11 era, os Primórdios do Cristianismo, a Modernidade, a Sociedade Moderna Individualista e o Século XX. 1.1 História do Abuso Sexual Infantil O abuso sexual alia-se à trajetória da humanidade, essa atitude assumia ou não um caráter de violência, de acordo com as várias características socioculturais das diferentes épocas. Desta maneira, buscou-se analisar se esta preocupação contemporânea com a criança sexualmente abusada existe ao longo da trajetória histórica mundial ou não. Portanto, há importância em ostentar o processo histórico do entendimento e reconhecimento da infância. Desta maneira, compreende-se como necessário e apropriado discorrer sobre o contexto mundial do processo histórico do abuso sexual infantil. Não obstante de serem recentes as pesquisas sobre o fenômeno da violência sexual, tem sido consentido saber sobre as conseqüências em relação ao desenvolvimento físico, social, moral e mental da criança, bem como seus efeitos na vida adulta. Existem pesquisas na perspectiva histórica apresentada por alguns autores, a fim de compreender as estruturas socioculturais da sociedade contemporânea em relação ao abuso sexual infantil. Os escritores escolhidos que desenvolveram pesquisas nesse tema foram: Ana Paula Magalhães, Christiane Sanderson, Lloyd DeMause, Maria Amélia Azevedo, Maria Regina Fay de Azambuja, Michel Foucault e Viviane Guerra. Foucault (apud Magalhães, 2005, p.26-27), exemplificando, efetuou um estudo acerca do processo que ocorreu ao longo da história para que o indivíduo se constituísse como sujeito sexual. Este estudo trabalhado por Foucault apresenta a evidência de que o sexo tornou-se simplesmente algo 12 com fins reprodutivos, por isso, o sexo foi prezado como segredo, como abominável, de natureza pecaminosa. Em relação à criança com o sexo, Foucault afirma: “As crianças, por exemplo, sabe-se muito bem que não têm sexo.”. Desde o século XVIII, o sexo das crianças transformou-se em centro de atenção para estratégias discursivas e dispositivos constitucionais, tendo como estrutura as bases de poder. Segundo Magalhães, “a partir do século XVIII, a família se torna o lugar por excelência e obrigatório de afetos, de amor. Por esta razão a família nasce “incestuosa”, o incesto se apresentando como interdito de acordo com o dispositivo de aliança.” (ibid., ibid.). A escritora comenta ainda, que para Foucault (idem, idem) “o estudo e a criação de novos discursos sobre o sexo, assim como a invenção da sexualidade, fazem parte de vários processos de formação das instituições modernas.[...]” Foucault ainda indica para o fato de que as organizações e estados modernos necessitam de um domínio cuidadoso das populações através do espaço e tempo. Outra autora que vale a pena ser citada é Christiane Sanderson. De acordo com Sanderson (2005), as grandes dificuldades em se definir o abuso sexual infantil se dão ao fato de que ele é de natureza social e reproduz significados e contextos culturais, raça, relatividade cultural, consciência étnica e tempo histórico em que ocorre. Sanderson indica o autor Lloyd DeMause como um dos grandes pesquisadores do tema. Ela assegura que o diferencial do trabalho DeMause é sua maneira extensa de escrever sobre os fatos históricos do abuso infantil. Os dados indicam que as crenças, posturas relacionadas a crianças e os padrões de tomar conta dos filhos transformaram-se de maneira relevante através do tempo. Nas sugestões de Sanderson, DeMause apresenta que: [...] os padrões de cuidado dos filhos da Antiguidade ao século IV, que ele chama de modo de infanticídio, tinham como base a idéia de que as crianças existiam para atender às necessidades e à comodidade dos adultos e que crianças defeituosas eram responsáveis por suas desgraças. (DEMAUSE apud SANDERSON, 2005). 13 É nesse sentido que Sanderson considera que era comum abandonar crianças indesejadas. Com apoio nas concepções de DeMause, Sanderson indica mais cinco tipos de modos, que seriam: modo de abandono, modo de ambivalência, modo de intrusão, modo de socialização e modo de ajuda. De acordo com Sanderson (2005), o modo de abandono estaria relacionado ao século IV ao XIII em que as crianças eram vistas como seres malignos, por esta causa eram vendidas como escravas, apanhavam, eram abandonadas e sustentadas emocionalmente distantes dos pais. O modo de ambivalência é relacionado ao século XIV ao XVII em que os pais tinham o dever de moldar a criança, agredindo fisicamente e reprimindo-a, entretanto nesta época os pais já estavam mais ligados emocionalmente aos filhos, porém ainda temiam as crianças como se fossem seres absolutamente malignos. Já o modo de intrusão condiz ao que acontecia no século XVIII, época em que as crianças deixam de ser vistas como ameaçadoras, portanto, o jeito que os pais encontravam de controlar as crianças era através de punições, ameaças e culpas. A partir disto segue-se o modo de socialização, que aconteceu durante o século XIX à metade do século XX, neste tempo os pais tentavam fazer com que as crianças correspondessem às expectativas dos demais, corrigindo-as publicamente, instruindo e treinando boas maneiras e bons hábitos. E o modo de ajuda condiz desde a metade do século XX até os dias de hoje, em que se considera que as crianças sabem mais do que devem. Neste momento, a punição não é mais o foco, já que se acredita que se o potencial da criança for cumprido em cada estágio, esta se tornará uma pessoa sem medo da autoridade, autêntico, criativo, gentil, talentoso e alegre. Esta divisão de modos mencionada acima, indica o fato de que essas formas de tomar conta das crianças induziram a um impacto tanto nos pais, quanto nas próprias crianças, e algumas destas últimas reproduzem inconscientemente os próprios padrões e experiências do jeito como foram criadas. Assim como demonstradas as influências culturais de compreensão dos padrões com a questão do abuso infantil em geral, importante se torna esclarecer que também há influências culturais no abuso 14 sexual infantil, por isso, culturas diferentes possuem distintos costumes de educação infantil, que podem ou não serem aprovados totalmente como costumes normais. Portanto, em algumas circunstâncias, o abuso sexual infantil não é julgado abusivo pela sociedade em questão. Outras escritoras citadas nas produções teóricas acerca da violência sexual infantil são Maria Amélia Azevedo e Viviane Guerra que propagam a maneira como o envolvimento de adultos em experiências sexuais com crianças tem admitido interpretações diversas da sociedade, segundo o período histórico e o lugar em que acontecem. (MAGALHÃES, 2005) Segundo Azevedo e Guerra (apud Magalhães, 2005, ibid.), “a idéia de normalidade das relações sexuais adulto-criança está presente em pelo menos três grandes vertentes históricas: na tradição grega, na tradição judaica e na tradição sumeriana.”. Azevedo e Guerra declaram que se atribui à Bíblia e ao Talmud1 a tradição que motiva o sexo, através da servidão, casamento ou concubinagem, entre meninas muito pequenas e homens adultos. No Talmud, o noivado, com a permissão do pai, poderia acontecer quando a menina completasse três anos de idade. Magalhães (2005, p. 29) procura, também, revelar a contribuição da tradição judaica e o machismo bíblico no processo histórico sociocultural do abuso sexual. Suas indicações têm como base referencial as autoras citadas acima. Em sua análise, ela explica que: Vê-se que a tradição judaica era dotada de uma certa ambigüidade em relação às práticas sexuais adultocriança. Por um lado, aceitava o casamento e o concubinato entre homens e meninas, e ao mesmo tempo proibia a sodomia e algumas formas de incesto (entre irmãos e/ou primos), ainda que silenciasse a respeito do incesto pai-filha. (...) encontra-se subjacente a estas práticas a idéia de que a mulher era um objeto ou propriedade do homem e não um ser humano dotado de vontades e direitos. O mesmo que passava com o menino 1 O Talmud é uma literatura em hebraico e aramaico, que cobre os significados e as interpretações das porções legais do Velho Testamento, assim como dizeres sábios de fontes rabínicas. Ele se estende sobre um período de tempo de um pouco depois de Esdras, por volta de 400 a.C. até aproximadamente 500 a.C. (RODRIGUES, 2009) 15 grego e com as parábolas da Bíblia, que incluíam atitudes violentas contra crianças. Entendendo-se, assim, que essa ligação cultural se expressa de diferentes formas nas organizações da sociedade, pode-se comprovar que o incesto era glorificado e justificado, com base em sentenças de pureza sanguínea e em termos divinos, em algumas sociedades, mesmo sendo condenado há muito tempo. Compreende-se, portanto com base nas evidências mencionadas acima, a idéia de que o incesto foi transgredido por algumas sociedades, mesmo sendo condenado desde o tempo neolítico. Desta forma, pode-se trazer a importância, fatos culturais como na era pré-colombiana em que o casamento entre irmãos era imposto aos reis peruanos, como uma maneira de prestar homenagem à Lua e ao Sol, bem como, no Antigo Egito os faraós tinham que se casar com suas irmãs, como uma maneira de prestar homenagem aos deuses Osíris e Íris. Há em outros locais relatos de casos incestuosos, portanto, em sua análise Magalhães (2005), diz que “podemos encontrar também relatos de casos incestuosos na China, no Japão, na Birmânia e na Tailândia”. Indica-se aqui a indicação dada por Azambuja (2005, p. 20-21) que afirma a relevância em se compreender o processo histórico do reconhecimento da criança como sujeito de direitos: O reconhecimento da criança como sujeito de direitos decorre de um processo histórico. Em vista disso, convém situar a infância no contexto social, histórico e jurídico através dos tempos, observando-a desde a Antiguidade até os nossos dias, para então abordar o caminho traçado pela normativa internacional, a partir do século XX [...]. Ao ramificar o processo histórico do abuso sexual contra crianças em seis diferentes épocas, Ana Paula Magalhães (2005) o estabelece da seguinte maneira: Grécia Antiga, Séculos I e II de nossa era, Primórdios do cristianismo, A modernidade, a Sociedade moderna individualista e o Século XX. 16 A Grécia Antiga é atentada como um período em que não existia repressão sexual e o que conduzia a prática sexual era condição do sujeito perante a sociedade. Portanto, era completamente aceitável um homem adulto manter relações sexuais com um púbere (adolescente), pois este último ainda não era considerado cidadão. A moralidade sexual grega foi dirigida e pensada aos homens. Portanto, a mulher aparece apenas como um objeto de procriação, ou na melhor das teorias, uma companheira a quem se deveria educar e vigiar. Sendo assim, esta moralidade estava relacionada a comportamentos ligados a autoridade dos homens e ao exercício do poder da virilidade. (MAGALHÃES, 2005, p. 31) A ligação sexual entre homens e mulheres era somente considerada necessária, porque a procriação necessitava dela. A cobiça sexual não carregava nenhum valor negativo porque era considerada uma resposta esperada à aparência física. Portanto, os pensamentos que existiam relacionados às práticas sexuais não eram voltados a fim de normatizar esse querer sexual e sim para a pressão em que os homens eram levados por este último. Havia também uma diferenciação entre os papéis dos homens e das mulheres, esses papéis eram chamados de ativos e passivos, cabia aos escravos, mulheres e rapazes o papel passivo e aos homens o ativo (MAGALHÃES, 2005, p. 31 – 32). Vale ressaltar que, nesta cultura, os homens que agiam forma passiva, eram julgados fracos, sendo assim, indignos, além de que, diferentemente da moral cristã, na moral grega não se diferenciava uma relação sexual entre os pólos masculino e feminino e sim nos pólos ativo e passivo, isto é, um indivíduo e um objeto. A temperança e essa função ativa eram ligadas ao status que o sujeito exercia naquele povo, isto é, quanto mais poder e autoridade um homem possuir, mais ele tem que dar continuidade à conduta mantida pelas premissas rígidas de conduta sexual. Portanto, havia uma necessidade de se conhecer a maneira correta de reunir bem os entusiasmos sexuais ao longo da existência vital, concordando com a premissa da temperança. 17 Sobre o incesto, pode-se falar que era proibido, entre mãe e filho por causa da diferença de idade entre estes, isto é, seus filhos não seriam saudáveis o bastante. Desta maneira, o incesto era relacionado ao comando da interdição. Pode-se falar que a moral sexual era regida por um uso dos prazeres, por uma maneira de utilização. Objetivando realizar esta moral dos prazeres, havia o ímpeto de possuir uma postura adequada descrita pela continência, isto é, lutar ou mesmo suportar com o objetivo de assegurar a dominação sobre os entusiasmos e as vontades (MAGALHÃES, ibid., p. 33). Esta moral era manifestada pela boa utilização que se faz dos prazeres. Desta maneira, apontado anteriormente e baseado nos estudos de Magalhães, alguns aspectos podem ser indicados, bem como: as discussões não geravam em torno do mal psicológico e físico, ou mesmo da maturidade ou escolha dos jovens; as preocupações focalizam as fronteiras para manter a dignidade dos adolescentes, a fim de que estes passassem à atividade, tornando-se cidadãos dignos; o adolescente que não adquirisse a posição ativa na hora correta, não atendia os princípios morais e tornava-se, perante a sociedade, uma figura feminina; a feminilidade estava explicitamente relacionada à passividade, manifestando não possuir autoridade sobre si. Estes são alguns fatores que retratam a cultura da Grécia Antiga. Nós séculos I e II de nossa era, vale ressaltar, as práticas, as necessidades e mesmo o crescimento da cultura tinham como base o contexto do princípio de existência em que era necessário possuir cuidados consigo próprio. Desta maneira, era necessário cuidar da alma e do corpo e refletir sobre si próprio. Como observa Magalhães (idem, p.34): “Imerso no ideário da época estavam a valorização do casamento e das obrigações conjugais, a virgindade e o desinteresse em relação ao amor por rapazes.” Nesta hora, acontece uma mudança, isto é, o indivíduo tem que se constituir como sujeito moral, levando em conta a questão de um dado sobre si mesmo, a racionalidade. Desta forma, tem começo uma consideração na ligação entre o homem e a mulher, uma abstinência das satisfações sexuais. Com essa base de comportamento, a castidade torna-se o foco no estilo de vida e a atividade 18 sexual é restrita ao matrimônio, sendo este visto como laço conjugal. Portanto, neste instante, há uma modificação na maneira como os homens refletiam os problemas relacionados ao sexo. No século V, a Igreja cristã sustentava fervorosamente a noção da abstinência que se encontrava relacionada à aptidão de profetizar e a da virgindade. Essa renúncia sexual acontecia para alcançar o ideal de transparência frente a Deus. Atravessar a puberdade, para os adolescentes, sem fazer sexo significava superar as tentações que Adão e Eva não conseguiram. Outra evidência que merece destaque é que os atos sexuais começaram a ser julgados pelo clero, como ato pecaminoso, chegou ao ponto de Agostinho permitir que o Governo romano aplicasse suas leis para interceder nas brigas das congregações, inserindo o espírito católico na sociedade. Agostinho pregava que após a vinda dos filhos no casamento, o certo era abster-se do sexo, pois no matrimônio o mais importante é a amizade. O espaço privado é definido entre a Renascença e o século XVIII. Somente nos séculos XVIII e XIX que surge o conhecido sentimento da infância e neste momento também, o indivíduo passa a ser definido como sujeito da sexualidade. A partir disso, a burguesia se interessa mais no lucro econômico da vigilância sexual do que na repressão sexual. Segundo Ana Paula Magalhães (2005), a partir do momento em que começamos a contextualizar a violência sexual infantil não quer dizer que estejamos deixando de descrever a violência da ação e sim que estamos revelando o fato de que ele é considerado violento em nossa sociedade a partir de certa época da história. Deve-se iniciar, portanto, a partir do século XX, um movimento de garantia à infância. Em 1959, a Declaração dos direitos da Criança foi aprovada e proclamada pela Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas. Atualmente, há uma relevante mobilização de algumas organizações e/ou grupos da sociedade em relação à proteção da criança, em conseqüência disto, foi estabelecido no dia 18 de maio como dia nacional de combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes, criando, assim, 19 espaços para discussão desta temática. Sendo assim, a criança se constitui como sujeito de direitos que são defendidos por lei. Azambuja (2004) sustenta que a Declaração dos direitos da Criança chegou com a finalidade de tornar evidente a enorme diferença que existe entre as condições subumanas de vida da maioria das crianças brasileiras e o conteúdo do documento. Isto se deve ao fato de que de acordo com a Declaração, toda criança teria direito à proteção especial para o seu desenvolvimento mental, social e físico, teria direito, à igualdade, independente de nacionalidade, raça ou religião, entre outros direitos. A autora supracitada elucida que somente após a publicação da obra Síndrome da Criança Espancada, em 1962, por Kempe e colaboradores, em Chicago, que o maltrato a criança passou a chamar a atenção do público em geral e dos profissionais da saúde para a proteção à criança como algo urgente e necessário, assim, o tema também passou a ser admitido como objeto de investigação. Atualmente, é importantíssimo reconhecer que apesar dos avanços registrados na história, bem como no aspecto jurídico, bem como no social, no Brasil, o número de crianças vítimas de todo tipo de violência, especialmente a violência sexual intrafamiliar, é alarmante. Azevedo e Guerra (apud Azambuja, 2004, p.43) classificam as crianças encontradas vítimas de violência, basicamente, como: “Infância pobre, vítima de violência social mais ampla; a infância explorada, vítima de violência no trabalho; a infância torturada, vítima de violência institucional; a infância fracassada, vítima de violência escolar; a infância vitimizada, vítima de violência doméstica.”. Segundo Rouyer (1997) a criança sobrevivente vítima de abuso sexual sofre profundas marcas no seu desenvolvimento físico e emocional. Essas profundas marcas são caracterizadas pelo trauma que torna a criança abusada incapaz de construir relações de familiaridade e confiança, relações essas que são fundamentais para seu desenvolvimento pleno. As crianças vítimas de violência sexual intrafamiliar carregam em suas vidas sinais de distúrbios causados por estresse pós-traumático. A Constituição Federal, o Código Penal e o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069, de 13 de Julho de 1990) dispõem sobre a proteção 20 da criança contra qualquer forma de abuso sexual, aqueles que se omitem e aqueles que praticam o ato são penalizados por estas leis. Corroborando esta idéia, indicam-se aqui preâmbulos da Política de Proteção Integral a Criança: O diagnóstico geral da atuação dos principais atores de garantia de direitos aponta, ao mesmo tempo, para celebração e preocupação. Como motivo de celebração, o balanço dos 18 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) indicou um avanço extraordinário na institucionalização e aprimoramento dos mecanismos de exigibilidade de direitos das crianças e dos adolescentes compondo um amplo e complexo sistema. Os Conselhos de Direito e Tutelares foram os dois mecanismos de exigibilidade dos direitos da criança e do adolescente incorporados aos estados brasileiros pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Juntos, eles compõem uma rede de mais de 70 mil pessoas que cotidianamente trabalham na construção da cidadania de crianças e adolescentes. Essa rede atua hoje como um dinamizador do Sistema de Garantia de Direitos. (CONFERÊNCIA NACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 2009). No nascimento do século XXI, o abuso sexual infantil deve ser encarado como uma violação aos direitos humanos da criança. Assim, o conjunto de leis de proteção integral à criança deve ser visto como provocador de aceleramento da transformação social, ou seja, a criança é considerada pessoa em desenvolvimento, tendo, assim, a garantia de seus direitos humanos fundamentais assegurados. 21 CAPÍTULO II CONCEITUANDO VIOLÊNCIA INFANTIL Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), violência é “uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar a lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação.” (OLIVEIRA DA SILVA; SOUZA E SILVA, 2005, p. 15). Nota-se uma atenção especial no que tange ao aspecto relacionado à violência contra a criança. Isto é evidenciado na criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) aprovado pela Lei 8069/1990, de 13 de julho de 1990. Contém 267 artigos que contemplam todos os requisitos que levam a criança ao amparo total. Nota-se a proteção, em um sentido ampliado, tendo esta concepção destacada no artigo 5º, em que dispõe que “nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.” (BRASIL, 1990). Examinando as concepções supracitadas, deve-se entender a violência como algo amplo, que sujeita todo ser humano, inclusive a criança. Há dois processos que compõem a questão da violência infantil (vitimação e vitimização). O sistema de vitimação relaciona-se a uma violência estrutural, característica das sociedades representadas pela desigualdade da distribuição de renda e pela dominação de classe. A menina e o menino vitimados têm seus direitos básicos violados todos os dias, como o próprio direito à vida, saúde, escola e alimentação. A vitimização relaciona-se a uma violência nas relações inter-pessoais adulto-criança, relações caracterizadas por hierarquia, 22 fundamentando-se na presunção da autoridade adulta sobre a criança e implicando um abuso desta autoridade, ou seja, a vitimização diz respeito à submissão do desejo da criança ao do adulto, coisificando a criança, tornando esta em objeto e não em sujeito. De acordo com Safiotti (apud Magalhães, 2005), o abuso sexual, diferentemente da violência física, que normalmente envolve os dois tipos de sexo, tem a maior parte de agressores homens e a maior parte de vítimas meninas. Isto mostra, historicamente, a maneira de como a mulher é submetida ao homem. Com base nesta afirmação, Magalhães (2005) destaca que a violência contra a criança não caracteriza somente a submissão da mesma contra o poder adulto, mas ao poder do adulto homem. Há uma tendência muito forte em conceber a submissão da criança ao adulto não como uma construção social, mas como natural. Desta maneira, os pais são vistos, não só como responsáveis pelos filhos, mas também como donos destes, podendo, assim, fazer com eles o que quiserem. É necessário que se desconstrua esta maneira de se pensar que tem sido base para práticas nocivas contra crianças. Magalhães destaca ainda as diferentes formas de maus-tratos, tais como: maus-tratos físicos, abuso sexual, maus-tratos psicológicos, negligência e Síndrome de Munchausen. Maus-tratos físicos estão relacionados ao uso da força física nãoacidental, ou seja, de forma intencional. Esse exemplo de violência também pode ser conceituado por atos de omissão intencionais, ou seja, não acidentais. Essas práticas seriam feitas por parte de responsáveis pela criança ou pelos próprios pais. Magalhães (2005, p. 22) adiciona que esses atos têm “o objetivo de ferir, danificar ou destruir esta criança ou adolescente, deixando ou não marcas evidentes.”. O abuso sexual está relacionado à situação em que uma criança é utilizada a fim de gratificar sexualmente um adolescente mais velho ou um adulto, fundamentado em uma relação de poder. Magalhães indica que, o abuso sexual inclui o ato sexual com ou sem penetração, com violência ou não, a manipulação da genitália, ânus ou mama, exibicionismo, exploração sexual, pornografia e “voyeurismo”. 23 Indicando os maus-tratos psicológicos, Magalhães ressalta que este tipo de violência é marcado pelo uso da criança como objeto para gratificar as necessidades psicológicas dos adultos, pela rejeição, pelo desrespeito, pela depreciação e pela discriminação. Este tipo de violência é um dos mais difíceis de caracterizar e conceituar devido à falta de evidências imediatas e pela sutileza do ato, porém é um dos tipos de violência mais freqüente. Cobranças e punições exageradas são formas de maus-tratos psicológicos, que podem causar danos graves ao desenvolvimento social, psicológico, físico e sexual da criança. A negligência é caracterizada pelo ato de omissão por parte dos responsáveis pela criança em fornecer as necessidades básicas para o seu desenvolvimento. A negligência dos responsáveis pode ser maneira acidental ou não-acidental, ou seja, intencional. A situação sócio-econômica também deve ser levada em conta. (Magalhães, 2005) A Síndrome de Munchausen caracteriza-se por uma situação em que os responsáveis ou os pais da criança, burlam, a partir de uma simulação de uma sintomatologia, que estas sejam impostas a realizar várias investigações médicas. Além de simular doenças em suas crianças, há duas outras formas de Munchausen, estas se caracterizam pelas formas toxicológicas ou por asfixia, ou seja, a criança é asfixiada e intoxicada por alguma substância, sejam plantas, sejam medicamentos, muitas vezes, a criança é asfixiada quase até a morte. Ressalta-se aqui que o abuso sexual pode ser subdivido em abuso sexual sem contato físico e abuso sexual com contato físico. Fazem parte do primeiro conjunto o voyeurismo, o abuso sexual verbal, o exibicionismo, o assédio sexual e telefonemas obscenos. O segundo conjunto é composto pelos atos físico-genitais (sedução, estupro, atentado violento ao pudor e incesto), pela prostituição e pornografia e pelo sadismo. Vale esclarecer que o voyeurismo caracteriza-se por um voyeur que obtém gratificação sexual observando os órgãos ou atos sexuais de crianças. Essas últimas podem estar com roupas íntimas, envolvidas em atos sexuais, 24 nuas ou com qualquer outro tipo de vestimenta que seja apelativa para o voyeur. Magalhães (2005) esclarece o abuso sexual verbal como: “conversas abertas sobre atividades sexuais destinadas a despertar o interesse da criança ou do adolescente ou chocá-los”. O exibicionismo tem como foco chocar a vítima. O exibicionista mostra partes do corpo ou faz gestos obscenos. É um desvio sexual que se demonstra através da necessidade incontrolável de se obter satisfação sexual simplesmente exibindo seus órgãos genitais às vítimas. Magalhães (2005) atribui-se ao assédio sexual como sendo: “propostas de contato sexual; na maioria das vezes, a vítima é chantageada em decorrência da posição de poder do agressor”. Já o telefone obsceno atribui-se ao uso que o agressor faz do telefone para conversas obscenas, muitas vezes, no anonimato. O abuso sexual com atos físico-genitais é aquele que inclui relações sexuais com penetração vaginal, penetração anal, sexo oral, tentativas de relações sexuais, masturbação e carícia nos órgãos genitais. A sedução é quando ocorre relação sexual com adolescentes virgens de 14 a 18 anos, sem uso de violência e há penetração vaginal e/ou anal, o estupro é a situação em que ocorre penetração com grave ameaça ou com uso de violência, em crianças e adolescentes de até 14 anos, o atentado violento ao pudor se caracteriza pelo ato de constranger maiores de 14 anos a praticar atos libidinosos, utilizando grave ameaça ou violência, sem penetração, o incesto é qualquer relação de caráter sexual em que existe um laço familiar, direto ou não, ou até mesmo uma simples relação de responsabilidade. A prostituição é relacionada à participação de crianças em atos sexuais com outros menores ou adultos, em que há presença do uso da força da coação, já a pornografia diz respeito ao uso de crianças como modelos ou atores em vídeos e fotografias obscenas, assim como na prostituição, geralmente com fins econômicos. O sadismo condiz com o abuso sexual que envolve surras, flagelação e torturas. 25 2.1 Semelhanças e Diferenças entre Abuso Sexual e Exploração Sexual Diante do exposto sobre o processo da violência infantil, é interessante indicar as diferenças conceituais entre abuso sexual e exploração sexual. Com base nas análises de Sanderson (2005), o abuso sexual infantil é definido pelo envolvimento de crianças subordinadas a atividades sexuais com pessoas um pouco maiores ou mais velhas ou com adultos, em que exista uma diferença de poder, tamanho ou idade, em que a criança é usada como objeto sexual para satisfação dos desejos ou necessidades, para a qual ela não tem capacidade de dar uma permissão consciente devido ao desequilíbrio no poder, ou de qualquer incapacidade física ou mental. Esta autora indica que essa definição inclui quaisquer adultos e crianças em quem elas depositem confiança e que exerçam algum tipo de poder sobre elas. O abuso sexual infantil incestuoso é julgado por alguns autores qualquer contato sexual entre uma criança e um adulto que tenham grau de parentesco ou acreditem tê-lo. Nos abusadores incestuosos, também estão incluídos os meio-irmãos, madrasta, padrasto, amantes que morem junto com os pais quando assumem papéis de pais e avôs por afinidade. Se a relação que há entre a criança e um parente for violada por qualquer ato sexual, é considerado abuso sexual infantil incestuoso. Quando se fala em Abuso Sexual Incestuoso, entende-se que é aquele praticado dentro do âmbito intrafamiliar, ou seja, quando é perpetrado por pessoa que tenha com a criança uma relação de afetividade, responsabilidade ou consangüinidade. Abuso sexual é qualquer tipo de contato sexualizado e como corrobora Unicef – Crami (2009, p. 18): “[...] desde falas eróticas ou sensuais e exposição da criança a material pornográfico até o estupro seguido de morte. Dentro deste vasto espectro incluem-se as carícias íntimas, relações orais, anais, vaginais com penetração ou não, além do voyeurismo e exibicionismo, entre outros.”. O abuso sexual também se caracteriza por uma situação em que a criança é submetida por um adulto a jogos ou atos sexuais com o propósito 26 de satisfazer-se ou estimular-se, impondo pela sedução (com oferta de presentes ou palavras), pela força física ou por ameaça. Geralmente, falandose de casos extrafamiliares, acontece em instituições de prestação de serviços e de atendimento e na vizinhança. A questão da exploração sexual está intrinsecamente conectada a conotação comercial, refere-se ao uso de crianças para satisfação e estimulação sexual de adultos em que existem ganhos financeiros. Além de que, “geralmente, estas pessoas que exploram e as que usam estas crianças (...) não têm com eles uma relação de afinidade, como na Violência Sexual Doméstica” (UNICEF-CRAMI, 2009, p.18). A exploração sexual é caracterizada também por: “ato ou jogo sexual em que a criança ou adolescente é utilizado para fins comerciais por meio de relação sexual, indução à participação em shows eróticos, fotografias, filmes pornográficos e prostituição” (ANDI, 2003, p.27). 2.2 Os Mitos e a Realidade do Abuso Sexual Infantil É importante estudar algumas crenças e posturas mais defendidas comumente sobre o abuso sexual infantil, as quais se tornaram mitos e concepções profundamente errôneas. Nas indicações de ABRAPIA (2005) e Sanderson (2002), segue-se uma seção com as concepções errôneas mais comuns e a substituição destas por dados e fatos atualizados. MITO: O abuso sexual de crianças não é tão comum quanto às pessoas imaginam. Com certeza, o abuso sexual infantil está mais disseminado do que a maioria das pessoas pensa. Calcula-se que o abuso sexual em crianças acontece em geral com uma entre quatro garotas e um entre seis garotos, por mais que as estimativas possam variar de acordo com o tipo de pesquisa que está sendo realizada. Vários pesquisadores calculam que esses números não significam nem a metade da realidade já que algumas crianças jamais 27 confessam o abuso ou este nunca atinge o conhecimento do sistema judiciário, dos serviços sociais ou da polícia. O fato de várias denúncias de crianças sobre abusos serem interpretadas como fantasia ou ignoradas se dá devido à crença de que o abuso sexual infantil é infreqüente. Ressalta-se aqui, que na maioria dos casos, o abuso sexual não é um acontecimento singular na vida da criança, mas algo que pode durar por muitos anos, principalmente no caso de abuso sexual intrafamiliar ou incestuoso. Desta maneira, acredita-se que o abuso sexual é muito comum em todo mundo. O governo deve ter prioridade em sua prevenção até mesmo por questões financeiras. Exemplo disto é uma pesquisa feita nos EUA em que foi revelado que o gasto a atendimentos de dois milhões de vítimas de abuso sexual infantil, alcançou 12.400 milhões de dólares por ano. MITO: O abusador sexual é um psicopata, um tarado que qualquer um reconhece na rua. Na maioria das vezes, são indivíduos que são queridos por crianças e tem aparência normal. Foi-se a época em que o abusador de criança poderia ser notado como um velho que anda com roupas sujas ao redor dos portões de parques infantis ou escolas. Abusadores sexuais podem ser de todas as faixas etárias, grupos étnicos e classes sociais. Eles não só aparentam ser normais, como necessitam dessa aparência para evitar serem exibidos. Pertencem à comunidade local e fazem parte de todo tipos de profissão, inclusive àquelas que trabalham com crianças, como outras, tais como motoristas de caminhão, juízes, encanadores, advogados, homens de negócio, médicos, professores, membros do clero e até policiais. Usualmente, são considerados exemplos na comunidade e fazem sua rotina cotidiana sem serem notados. É completamente improvável que se consiga apontar um abusador sexual de crianças em meio a uma multidão. MITO: As garotas correm mais risco de abuso sexual do que os garotos. Apesar de os dados atuais apontarem que há mais garotas abusadas sexualmente do que garotos, isso pode também não significar nem a 28 metade da realidade. Existe a crença de ser mais difícil para meninos denunciar o abuso sexual porque se sentem mais constrangidos em revelá-lo por causa da sociedade machista em que vivem. Desta maneira, por existir o estereótipo do homem ser o iniciador sexual, aos meninos é difícil comentar sua experiência como vítimas de abuso sexual. Além do machismo, a cultura homofóbica faz os meninos se sentirem confusos quanto à sua sexualidade, o que dificulta a revelação do abuso sexual. Acredita-se que os meninos correm mais risco de sofrer abuso sexual na comunidade, enquanto as meninas correm mais risco de sofrer em casa. MITO: O estranho retrata maior risco às crianças. Estranhos abusarem de crianças acontece na minoria dos casos registrados. Na grande parte das vezes, a criança é abusada por alguém conhecido como o médico, pai/mãe, professor, madrasta/padrasto, babá, namorado da mãe, colegas de escola, parentes, amigos da família e vizinhos. Não há possibilidade de proteger integralmente uma criança apenas mandando que fique afastada de estranhos. Na realidade, a probabilidade é maior que uma criança seja abusada por algum conhecido dela na comunidade em que vive e na vizinhança do que por um estranho. MITO: O abuso sexual infantil acontece somente em certas classes/comunidades/culturas. O abuso sexual infantil ocorre em todas as classes, culturas e comunidades. O abuso sexual pode ocorrer com qualquer criança, ou seja, todas as crianças estão sujeitas ao abuso sexual. É necessário que a sociedade tenha em mente o fato de que o abuso sexual infantil não acontece só em outras culturas, com os outros ou em outras comunidades, ou seja, ele pode acontecer em qualquer lugar com qualquer criança. Para que aconteça uma efetiva proteção, é preciso que se reconheça a realidade do abuso sexual infantil para que assim a sociedade não seja atraída pela falsa idéia de segurança de que suas crianças estão fora de risco. MITO: O abuso sexual está fundido a lesões corporais. 29 Na realidade, o mais comum é a criança ser conquistada ou ameaçada afetivamente e não a violência física. Na grande parte das vezes, as crianças são mais prejudicadas psicologicamente pelo abuso sexual. MITO: A Bíblia desculpa o abuso sexual em crianças. Considerando que a Bíblia está sujeita a todos os tipos de interpretações, os abusadores podem achar uma justificativa, através dessas interpretações, para cometer o abuso sexual em crianças. Mas, a Bíblia exige o banimento de atos sexuais imorais e prega a proteção das crianças. MITO: A criança inventa e mente que é abusada sexualmente. As crianças têm sim imaginação fértil, mas isso não significa que inventem sobre estarem sendo abusadas sexualmente. A grande parte das crianças não tem percepção sobre assuntos sexuais para ter fantasias sexuais adultas. O fato dos adultos não acreditarem nas crianças traz a conseqüência da realidade do abuso sexual ser ignorada. Além disso, essa concepção errada, muitas vezes, desloca a responsabilidade do abusador para a criança. Desta, é relevante exaltar o fato de que a criança não tem conhecimento sexual o bastante para mentir sobre o abuso sexual. Além do mais, não existem motivos para a criança pequena mentir e/ou inventar sobre abuso sexual. Ainda que a criança já tenha assistido pornografia adulta, é improvável que invente histórias sobre abuso sexual, já que elas não podem obter ao simplesmente assistir uma atividade sexual adulta, informações sobre o cheiro do sêmen, a textura e o sabor sem nunca ter tido uma experiência a respeito. Uma conseqüência fatal deste mito é não perceber a própria denúncia que a criança faz ao não acreditar na mesma. MITO: O abuso sexual infantil ocorre somente em famílias desestruturadas. É importante ressaltar que níveis de educação e renda familiar não são indicadores de abuso sexual. Inclusive, as famílias das classes alta e média têm meios melhores para acobertar o abuso e conservar o “muro do silêncio”. 30 O abuso sexual pode ocorrer em qualquer família, até mesmo nas consideradas “estruturadas”. Bem como, abusadores intrafamiliares e extrafamiliares podem ser e conquistar os pais de todo tipo de família, não só as desestruturadas. Levando em conta que os abusadores são manipuladores e bastantes espertos, é preciso ressaltar que têm capacidade de enganar todos os tipos de família. MITO: É fácil identificar o abuso sexual em motivo das evidências físicas achadas nas crianças. Somente em 30% dos casos, existe evidência física. Levando em conta este fato, é necessário que as autoridades sejam treinadas para as diversas técnicas de percepção de abuso sexual. MITO: O abuso sexual infantil está crescendo. O abuso sexual infantil existe há séculos. O que acontece é que, atualmente, as taxas de detecção e denúncia aumentaram, apesar do abuso sexual infantil ainda permanecer oculto, acredita-se que seja menos oculto no presente do que no passado. MITO: A grande parte dos professores e pais está informada sobre abuso sexual infantil, como lidar com ele e sua freqüência. No Brasil, a grande parte das pessoas desconhece a realidade do abuso sexual infantil. Professores e pais desinformados ficam impossibilitados de auxiliar uma criança. MITO: Todo abusador sexual de crianças e “pedófilo” foi abusado sexualmente quando criança. Realmente há pedófilos que foram abusados sexualmente na infância, mas a maioria não foi. É necessário ter cuidado ao aceitar totalmente essa crença, pois pedófilos adultos podem usar o fato de terem sofrido abuso como desculpa e/ou justificativa para seu comportamento com crianças, para obter simpatia. 31 A grande conseqüência errônea deste mito é acreditar que apenas adultos que foram abusados quando crianças têm capacidade de abusar de crianças. Ressalta-se aqui que a maioria das mulheres e homens sobreviventes do abuso sexual quando crianças não se tornaram adultos abusadores sexuais. MITO: A divulgação de textos sobre pedofilia e fotos de crianças praticando sexo com adultos, animais, ou até outras crianças ou em posições sedutoras, não causam malefícios, já que tudo ocorre virtualmente na tela do computador e não há contato. O malefício é altíssimo para as crianças fotografadas e filmadas. O uso dessas imagens e textos estimula a aceitação do sexo de crianças com adultos, situação inaceitável e criminosa. Sabe-se que o primeiro contato do pedófilo acontece de forma virtual através da internet, podendo, depois se tornar conquista física, chegando inclusive ao assassinato de crianças. MITO: Apenas homens gays abusam de meninos. Tanto homens heterossexuais como bissexuais ou homossexuais abusam de crianças, porém, a maioria dos abusadores sexuais de crianças é composta por heterossexuais. MITO: Na grande parte das vezes, o abuso sexual acontece longe da casa da criança. Frequentemente, o abuso acontece perto ou dentro da residência da criança. Na grande parte dos casos, o abusador e a vítima pertencem ao mesmo grupo étnico e têm nível socioeconômico igual. MITO: Mulheres não cometem abuso sexual contra crianças. Existe a crença que de 20% a 25% dos casos de abuso sexual infantil são perpetrados por mulheres. Pelo fato das mulheres serem vistas como protetoras e guardiãs, as pessoas têm mais dificuldade em acreditar que possam ser abusadoras. As crianças com menos de cinco anos de idade são as que mais correm perigo de serem abusadas por uma mulher. Isso acontece, 32 frequentemente, em creches ou por uma babá. O fato deste tipo de abuso ser pouco detectado se dá devido a pouca idade da criança e pelas atividades sexuais não deixarem evidências, já que ocorre, usualmente, em meio a práticas comuns de higiene. As mulheres abusam de seu poder de maneira sexual com crianças sim. MITO: O abuso sexual se limita ao ato de estuprar. Não só o ato sexual com penetração, seja ela anal ou vaginal, é considerado abuso sexual, práticas como exibicionismo, pornografia, “voyeurismo” e a manipulação dos órgãos sexuais também são considerados abuso sexual. MITO: Crianças em idade pré-escolar e bebês não correm riscos de sofrer abuso sexual. Existem adultos que abusam até mesmo de bebês. Pornografias infantis já confiscadas mostraram crianças pequenas e bebês sendo abusadas por adultos. A evidência mais importante deste fato vem de exames médicos de bebês com doenças sexualmente transmissíveis. O fato das crianças menores não conseguirem se expressar bem é usado como artifício por alguns pedófilos, considerando que estas não poderão revelar o abuso. Entende-se que é preciso compreender primeiramente as definições incorporadas ao Abuso Sexual Infantil e posteriormente analisar seus desdobramentos em forma de atendimento adequado a esta demanda. Desta forma, buscar-se-á no próximo capítulo apresentar o papel do Serviço Social junto à equipe interdisciplinar, inclusive, será inserida no próximo capítulo a importância da Terapia de Família em face de uma família incestuosa. 33 CAPÍTULO III O PAPEL DO SERVIÇO SOCIAL JUNTO A EQUIPE INTERDISCIPLINAR NO ENFRENTAMENTO DAS QUESTÕES RELACIONADAS AO ABUSO E A VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTIL INTRAFAMILIAR Este capítulo tem por objetivo demonstrar de que maneira o Serviço Social e a Equipe Interdisciplinar se posiciona frente à questão do Abuso Sexual Infantil Incestuoso. Será tratado neste capítulo, o papel dos profissionais envolvidos neste contexto. Para isso, é necessário afirmar a necessidade de um atendimento especializado e interdisciplinar, pois, é um tema e uma questão social especial, portanto deve ser tratado como tal. 3.1 Papel do Serviço Social Terá como base neste capítulo, o trabalho feito pelo CRAMI – SP, apesar disso, faz-se necessário esclarecer aqui que o papel do Serviço Social que será apresentado neste tópico é o mesmo processado em todo país. Esta ação encontra-se na Rede de Serviços proposta através dos órgãos de enfrentamento a violência sexual infantil. Esta pesquisa apresentará concepções desenvolvidas por algumas assistentes sociais que atuam no CRAMI, a fim de se demonstrar uma base concreta para este estudo. Portanto, as assistentes sociais que produziram o artigo reforçando a importância e o papel do Serviço Social no enfrentamento da violência sexual doméstica, foram: Fabiana Brenelli Vidotti, Maria Salete Lopes de Araújo e Mariana Claudia Puente. Para as autoras citadas acima é necessário que seja feito um trabalho junto à família na qual ocorre a Violência Sexual Infantil Doméstica. O 34 assistente social contata todos os meios sociais em que a vítima e a família estão inseridas. Brenelli Vidotti et. al (2009, p.47) traz a relevância que: Levando em consideração que o Complô do Silêncio se faz presente nos casos de Violência Sexual Doméstica contra Crianças e Adolescentes, e, portanto a vítima pode apresentar características deste fenômeno em um espaço e com pessoas com as quais ela mantém uma convivência diária. Nas indicações de Brenelli Vidotti et. al (2009), Azevedo e Guerra caracterizam o Complô do Silêncio como uma situação em que “a criança vítima se cala enquanto os demais membros se negam a enxergar a realidade”. Ressalta-se aqui que as famílias incestogênicas mantêm uma relação de poder em que as mudanças são encaradas com uma grande resistência. Segundo Brenelli Vidotti et. al (2009), as crianças vítimas de abuso sexual incestuoso não são capazes de protegerem-se sozinhas, pelo fato de não entenderem a situação a qual estão sendo submetidas. Desta maneira, não conseguem se expressar, além do fato de serem muito pequenas o que acarreta todos os fatores anteriormente indicados. Sendo assim, as autoras sintetizam que: “[...] por estar dentro de uma família, na qual o silêncio faz parte [...], podem estar sendo ameaçadas [...] para reforçar o Complô do Silêncio [...] as vítimas sentem-se inseguras em revelar de fato o que ocorre com elas.”. O assistente social que desenvolve um trabalho com famílias incestogênicas, necessita ter uma qualificação profissional especializada e precisa ser um profissional compromissado em garantir um atendimento efetivo da família. Segundo Brenelli Vidotti et. al (2009, p. 47), exemplos de recursos sociais em que o assistente social entra em contato são Educação, Saúde e Assistência Social, sendo, a partir destes feitos os encaminhamentos necessários. A grande parte dos contatos é feita com instituições como núcleos comunitários, escolas e creches, lugares estes em que as crianças vítimas convivem diariamente. Este contato se faz preciso, pois, a partir dele são coletadas informações que ajudam a desvendar características que revelem a 35 problemática vivida pela criança vitimizada. Nos órgãos educativos, busca-se fazer contato com a professora da criança, assim como com a direção e com a orientadora pedagógica. O assistente social também possui como papel importantíssimo levar a reflexão a outros profissionais que convivem com as crianças vitimizadas, bem como com outros líderes de diversos segmentos sociais que mantenham contato direto com a mesma. Nas indicações de Brenelli Vidotti et. al (2009), segue-se uma lista contendo sinais indicativos que a criança vítima de abuso sexual incestuoso pode apresentar. • Comportamento agressivo, mudanças no apetite, mau desempenho escolar, poucas relações com colegas ou amigos, raiva, medo de escuro, fuga de escola, perturbações no sono, vergonha exagerada. • Comportamento sexual inadequado para sua idade, ou seja, quando a criança apresenta comportamento ou conhecimento sexual, não compatível ao desenvolvimento de sua idade. • Dor ou inchaço, dores de cabeça e vômitos sem nenhuma explicação médica, sangramento ou lesão nas áreas anais ou genitais, erupções na pele, infecções urinárias, baixo controle dos esfíncteres, secreções penianas ou vaginais. Apresentação de Doenças Sexualmente Transmissíveis, sêmen na roupa, boca e genitais. • Medo de uma pessoa em especial, de ficar sozinha com alguém ou em algum lugar específico. • Não querer mudar de roupa na frente de outrem. • Práticas delituosas, gravidez precoce, tendências suicidas, prostituição infantil, depressões, alcoolismo, toxicomania. • Regressão ao estágio de desenvolvimento anterior. As assistentes sociais, autoras do artigo estudado, exaltam a relevância que o Serviço Social tem de manter contato freqüente com os 36 recursos sociais os quais a vítima participa com o propósito de obter informações sobre como a família procede nestes espaços sociais, bem como observar como a vítima se relaciona com seus amigos, como está sua assiduidade na Escola ou Creche, conforme o caso, como é o relacionamento da criança com o professor e como está seu desenvolvimento nas práticas educacionais. Brenelli Vidotti et. al (2009) procura sintetizar que quando ocorre um trabalho em conjunto, há um considerável ganho para todos os lados, sendo assim é um ganho favorável tanto para o Serviço Social quanto para os demais profissionais. Ressalta-se aqui a importância do “Sigilo Profissional” dos assistentes sociais envolvidos, pois, é de extrema importância que haja uma postura profissional dos referidos técnicos para que exista uma garantia na privacidade da família envolvida. As autoras elucidam uma análise, procurando trazer a relevância de que: Acredita-se que quando os profissionais estão envolvidos e comprometidos, pode-se obter uma compreensão e entendimento mais abrangentes a respeito do comportamento da criança e do adolescente, fazendo com que a sua aproximação seja não apenas por curiosidade e sim no sentido de ajudá-los, pois, em todo o processo de intervenção/avaliação da família no CRAMI, a criança e o adolescente estarão emitindo sinais indicativos, através do seu comportamento, sejam eles físicos ou emocionais. Tem-se, portanto nas concepções citadas acima o conceito de que o Serviço Social tem o papel de envolver os recursos que existem na comunidade, contextualizando a criança vítima no seu meio, através de ações articuladas. Portanto, o assistente social que trabalha com a questão do Abuso Sexual Infantil deve estar preparado, pois se trata de um tema muito complexo, por isso grande parte dos profissionais não qualificados apresenta dificuldades em articular as ações que devem ser desenvolvidas dentro deste contexto. Sendo assim, é importante destacar aqui que cabe aos assistentes sociais entrar em contato com os recursos da Rede de Serviços, buscando mobilizar e 37 sensibilizá-los, cabe principalmente ao assistente social, na análise de Brenelli Vidotti et al (2009, p. 51), “estar ‘atento e preparado’, para saber ouvir, respeitar e, principalmente, ‘acreditar’ na vítima”. Enfim, nota-se que se todos os órgãos e profissionais envolvidos manterem uma postura atenta e compromissada na questão do Abuso Sexual Infantil Incestuoso, há uma efetiva garantia da proteção integral da vítima. Compreende-se que é preciso que haja uma atuação composta por diferentes olhares e formações para o atendimento à vítima. Desta maneira, buscar-se-á no próximo tópico apresentar a importância de uma equipe interdisciplinar e como este trabalho em conjunto é feito no atendimento a uma vítima de abuso sexual infantil incestuoso. 3.2 Interdisciplinariedade Ao se colocar em pauta à complexidade e dificuldades existentes no processo do Abuso Sexual Infantil Incestuoso, Maria Regina de Azambuja (2004), refere à necessidade de um trabalho interdisciplinar com objetivo de que as conseqüências da intervenção do atendimento sejam menos danosas o possível tanto ao grupo familiar que a vítima está inserida, quanto a ela mesma. A autora aponta interdisciplinariedade como uma busca constante de novas realidades e novos caminhos a serem tomados. Ressalta-se aqui que o Abuso abala toda a família, assim torna-se necessário que seja realizado um trabalho conjunto de juízes, assistentes sociais, advogados, médicos, inspetores, psicólogos, variados profissionais das instâncias jurídica e policial e enfermeiros. O processo interdisciplinar de um caso de abuso sexual infantil incestuoso tem seu início através de denúncias e notificações que normalmente são enviadas a partir dos recursos sociais da rede como promoção social, saúde e educação, muitas vezes também chegam através do Conselho Tutelar ou até mesmo de anônimos. Estas denúncias passam por 38 uma triagem e depois são levadas a um processo de atendimento. Desta forma, segundo Pereira (2009, p.22), as denúncias entram em contato primeiramente com o setor administrativo dos órgãos que a Rede de Serviços oferece no que tange ao enfrentamento da violência sexual infantil incestuosa: As notificações são recebidas por funcionárias do setor administrativo; são elas as primeiras pessoas a terem contato com o caso e também as responsáveis pelas orientações concernentes ao registro do ocorrido. Caso seja necessário aprofundar as orientações, as funcionárias encaminharão o notificante à equipe técnica. Segundo o artigo 245 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990) a notificação de casos de maus-tratos é obrigatória, se não feita, é passível de pena. Portanto, torna-se preconizado um atendimento interdisciplinar a criança vítima de abuso sexual incestuoso. É preciso que cada profissional envolvido tenha clareza do seu papel no processo complexo que envolve o abuso sexual infantil incestuoso, Magalhães (2005, p.66) aponta que: “Os profissionais das equipes que atuam em casos de violência sexual são peças importantes na fabricação dos discursos dos pais das crianças vitimizadas, portanto, cada profissional deve ter clareza dos possíveis efeitos de sua atuação.”. É importantíssimo ressaltar que é necessário ter um acolhimento integral à família, pois esta, a partir da revelação, surge aos profissionais da equipe interdisciplinar com muitas dúvidas. A Rede de Serviços aqui descrita constitui-se em uma atuação articulada de vários profissionais de variados equipamentos sociais que tem o objetivo de enfrentar qualquer tipo de violência contra a criança, neste caso a sexual. Portanto, os que compõem esta importante rede devem ter em mente certas concepções, por exemplo, de que é necessário negociar e discutir sobre como o trabalho será conduzido, definir de maneira grupal os objetivos, saber que o crédito deve ser de todos, pois, o mérito é de toda equipe, definir fluxos 39 em concordância com cada tipo de gravidade e necessidade do caso e abdicar de créditos individuais. A triagem do caso é realizada da seguinte maneira: consideram-se os equipamentos de apoio qual a família está integrada, a data da notificação/denúncia, a gravidade da notificação e a idade da vítima. Desta forma, é importante ressaltar que o aspecto da idade da vítima é primordial, pois quanto mais nova for a criança, mais riscos ela corre e no caso da violência sexual intrafamiliar, os instrumentos de defesas são quase nulos devido ao Complô do Silencio estabelecido em uma família incestogênica. Junto à questão da idade da vítima, também é importantíssimo considerar a gravidade da notificação/denúncia. (PEREIRA, 2009, p.23) Destaca-se aqui que todo caso de violência sexual é grave, porém há de se fazer uma priorização, pois, ao contrário, seria impossível atender com qualidade. Considera-se aqui importante destacar o que vem a ser uma rede de apoio a família, estas redes podem ser exemplificadas por serviços de apoio familiar ou serviços de saúde, inúmeras vezes, estas redes de apoio são os próprios notificantes. Além disso, baseado nas análises de AZAMBUJA (2004), as primeiras percepções do que as conseqüências do abuso sexual infantil incestuoso poderiam acarretar vieram de diversas áreas do conhecimento. Portanto, estudiosos de várias áreas apontam que devido à complexidade do fenômeno, surge uma necessidade de uma intervenção interdisciplinar, equipe esta formada por vários profissionais da área das Ciências Sociais e da Saúde. Ressalta-se aqui que cinco princípios devem estar presentes em uma equipe interdisciplinar/multidisciplinar, estes são: desapego, humildade, respeito, coerência e espera. É preciso que haja cada vez mais, mais qualificação dos profissionais envolvidos com a temática, pois, os desafios são grandes e é preciso que as respostas esperadas pela sociedade sejam dadas à altura deles. Dentre tantos fatores citados acima, é importante salientar que o caráter da Terapia de Família merece ser destacado e será abordado a seguir. 40 3.3 A Importância da Terapia de Família em Face de uma Família Incestuosa Sabe-se que o abuso sexual é uma experiência traumatizante para qualquer criança que tenha passado por esta situação, principalmente quando a violência ocorre dentro do ambiente intrafamiliar. Para tratar casos como esse, é importante que haja um acompanhamento terapêutico com a família. Quando o incesto se torna atuante na vida de pais e filhos, revela-se uma situação muito difícil de tratar, pois, há uma resistência muito grande entre os profissionais que lidam com os abusos sexuais, inclusive entre os que estão relacionados a proteção à infância e os profissionais de saúde mental. Importante se faz buscar entender o que leva um pai a se tornar abusador de sua própria prole, pode-se compreender a partir da observação do discurso do pai sedutor que sempre se arrasta para uma negação completa da realidade, alimenta-se de todas as justificativas possíveis, ele inclusive, acha que tem o direito de iniciação da sexualidade de sua filha, o que leva a denegação do sofrimento da criança. Desta maneira, indicam-se as considerações apontadas por Sabourin in (GABEL, 1997, p. 165). Primeira evidência, o incesto ativo entre pais e filhos muito jovens nada tem a ver com o sonho ou o fantasma incestuoso da criança nem com seu delírio incestuoso, com o seu desejo ou pulsão, nem com qualquer literatura; mais frequentemente, está ligado a maus-tratos parentais, a uma carência afetiva materna e a intimidações sedutoras do adulto. O incesto ativo ou atuante revela-se quando uma menina de quatro anos ou um menino de seis anos decide em seu entendimento de criança revelar o sofrimento sofrido, com frases como: “Ele mexeu na minha pepeca de novo...”. Ou “Papai me machuca quando coloca o dedo no meu bumbum...”. 41 Segundo Brenelli Vidotti et. al (2009, p. 47), “... nestas famílias as relações são limitadas, rígidas e resistentes a mudanças.” Nestas famílias o que é proibido não é o incesto em si, o que é proibido é revelar o segredo a outrem, ou seja, “isto não deve sair da família”. Família esta em que comumente a mãe sabe, tolera e protege o abusador de todas as acusações. Nas indicações de Sabourin in (GABEL, 1997, p. 166), Ferenczi precisa que: “O pior realmente é o desmetido, a afirmação de que nada aconteceu”. A criança que revela de alguma maneira o abuso é desacreditada pela própria mãe, ninguém na família pode acreditar nela, no presente, ela será insultada, punida e rejeitada, no futuro, será expulsa ou afastada de sua própria casa. As crianças abusadas em meio ao ambiente intrafamiliar são violentadas duas vezes de maneiras distintas, ou seja, primeiro o pai que ela amava e respeitava a estupra, depois a sua própria mãe que deveria protegê-la não acredita nela. Sabourin in (GABEL, 1997, p. 167) mostra que: A guarda terapêutica assumida só será útil se o contato entre esse pai e a criança for inicialmente interrompido. É necessário que ela esteja protegida das pulsões parciais de seu ambiente – sadismo intimidante do pai e cegueira materna. Fica bem entendido que o que se designa como “pai” é aquele que assume a autoridade paterna (pai biológico, legítimo ou adotivo, padrasto, avô, tio, irmão mais velho, etc.). Cuidar da criança sem protegê-la seria um contra-senso absoluto. Em caso algum a perspectiva de uma terapia deve ser considerada se as práticas transgressoras prosseguirem, quer a sexualidade seja genital, anal ou oral, quer os maus-tratos físicos estejam associados ou não. Em todos os casos, essa criança está submetida a um campo pulsional exterior, implicando um considerável transtorno em seu equilíbrio afetivo e narcísico. 42 Não é considerada uma perspectiva satisfatória realizar uma terapia individual com a criança abusada de início, ou seja, toda a família merece uma atenção especial, esta sendo enxergada como uma única célula. Daí observa-se que a perspectiva sistêmica é necessária para uma evolução coerente. Sabourin aponta três protagonistas incestuosa, que seriam: a criança, o pai e a mãe. dessa célula familiar Segundo Sabourin in (GABEL, 1997), a primeira relaciona-se àquela que sofreu o abuso sexual incestuoso, depois da puberdade, se ainda manter relações sexuais com o seu pai, acontecendo de ficar grávida, gerará um fruto que será uma criança incestuosa. O pai, devido as suas pulsões violentas e sádicas, pode ser considerado em grande parte do tempo, devido às relações sexuais confusas existentes entre um adulto e uma criança, um pedófilo ou um pai incestuoso. Já a mãe, normalmente omissa ao abuso sexual incestuoso que acontece em sua casa, terá a designação de incestigadora, há de se ressaltar aqui que em alguns casos, a mãe pode imediatamente defender os seus filhos, denunciando o agressor e se separando deste. Ressalta-se aqui mais uma vez a importância da intervenção de uma equipe interdisciplinar e multidisciplinar, pois, para que se aconteça uma terapia, antes de tudo, a criança deve ser protegida, ou seja, antes da iniciação de um processo terapêutico, o Conselho Tutelar deve ser acionado, devem acontecer tais intervenções: a policial, a social e a jurídica. Ou seja, não cabe aos profissionais de saúde mental fazer o papel da polícia e do juiz. Para que haja uma intervenção satisfatória, o papel de cada profissional envolvido deve ficar claro. Antes de tudo, a criança deve ser protegida. Por todos estes fatos supracitados, é que se deixa claro que é mais satisfatória a realização de uma terapia familiar e não individual, porém, ressalta-se aqui que nem sempre na terapia familiar todas as pessoas da família devem estar presentes nas sessões, no caso do incesto, é muito importante a cadeira vazia do pai abusador, enfocando mais na relação entre a mãe e a criança. SABOURIN in (GABEL, 1997). 43 Nos casos de abuso sexual incestuoso, não se exclui completamente a terapia individual, ela é muito importante, principalmente, nas sessões desenvolvidas com o pai “sedutor”. De acordo com Sabourin in (GABEL, 1997, ibid), “nesse tipo de família, a lei da linguagem, supostamente universal, é encoberta, graças à intimidação e à ditadura intrafamiliar, pela lei do silêncio reforçada por todas as ameaças...”. Aqui vemos uma criança prisioneira em seu próprio lar. Quando a criança é violentada, se constitui em estupro, independentemente se houve penetração anal, vaginal ou oral (Lei 12.015 de agosto de 2009), portanto, constitui-se em crime. Sabemos que o advogado de defesa, tentará desacreditar a criança de todas as maneiras possíveis. O juiz, de acordo com sua formação, terá dificuldade em acreditar na criança, principalmente se esta estiver sem apoio advocatício, destaca-se aqui, desta maneira, a noção dos direitos da criança face aos direitos do adulto. Ou seja, para proteção efetiva da criança, é necessário que neste momento, esta possua um advogado em sua defesa e esteja, ao mesmo, tempo sendo assistida e acolhida por uma assistência educativa e pela família ampliada. Sabourin in (GABEL, 1997, p. 172) busca, ainda, mostrar a contribuição do esclarecimento dos laços familiares nas três gerações. Em sua análise, ele esclarece que: [...] permitirá uma transformação da mãe em relação à lei, à medida que será possível, fazer-lhe a seguinte sugestão paradoxal: continuar a se submeter à lei, mas mudando de legislador, e passar da lei tirânica de seu marido, totalitário e ditador, à lei republicana e democrática, - que se impõe a ela e a nós – com relação ao que é autorizado ou proibido. É aí que a mãe será levada a fazer todo um trabalho em sua memória, em sua própria infância de criança maltratada e não raro vítima, também ela, de abuso sexual... onde elaboração e tomada de consciência de suas coações infantis vão substituir as repetições mortíferas. 44 Nesta hora que a terapia familiar irá proporcionar uma mudança de conceitos na família incestuosa, ou seja, a criança que antes era considerada depravada, mentirosa, acusada de desestruturar o equilíbrio da família, de arruinar a educação de seus irmãos e mandar o seu pai para a prisão, passa a ser considerada, através da terapia familiar, uma vítima. Ela não é mais prisioneira de seu pai agressor, mas agora ela faz parte de uma rede de proteção ocupada por diversos segmentos profissionais (os terapeutas, o advogado, os assistentes sociais, entre outros) que tem o mesmo objetivo, ou seja, garantir a proteção e saúde psicossocial desta criança. Desta maneira, a criança se descobre como pessoa humana e sujeito de direitos porque acreditaram nela. Sendo assim, torna-se comum, bem como analisa Sabourin in (GABEL, 1997) “ouvir as crianças contarem espontaneamente que a primeira pessoa que teve o efeito salutar sobre o seu infortúnio foi o policial a quem elas puderam falar (...) sem duvidar de suas palavras”. Finalizamos este tópico, trazendo a relevância de que a terapia de família é uma das melhores maneiras de se abordar uma família incestuosa. Assim, as equipes interdisciplinares, junto à rede de proteção integral a criança, permitem uma garantia de seus direitos, ressaltando um acompanhamento terapêutico que é essencial para a superação da criança e sua família face ao incesto. 45 CONCLUSÃO Esta pesquisa sobre a realidade do fenômeno do abuso sexual infantil incestuoso tornou possível um amadurecimento e crescimento profissional enquanto Assistente Social e futura especialista em Terapia de Família. Acredita-se que os profissionais das equipes interdisciplinares precisam estar engajados em promover ações articuladas para que possam intervir efetivamente na questão de viabilizar os direitos e garanti-los a população infantil abusada sexualmente, bem como a sua família. A aproximação ainda maior com a realidade vivenciada por equipes interdisciplinares que trabalham no enfrentamento da violência sexual infantil incestuosa, foi possível através do estudo do artigo publicado por esses profissionais. Desta forma, no decorrer deste trabalho, procurou-se observar, estudar e analisar a experiência realizada por equipes interdisciplinares que atuam com essa problemática. Assim, pode-se reconhecer a importância do trabalho junto às ações articuladas com as Redes de Serviço e a importância do Sigilo Profissional. Entende-se que para dominar e trabalhar a problemática referente ao abuso sexual infantil incestuoso é preciso que haja uma qualificação profissional com reconhecida competência dos profissionais proponentes. A abordagem é desafiadora, fatos este que muitos profissionais não se sentem à vontade para lidar com a temática e por isso, acabam não produzindo um trabalho efetivo junto à criança vitimizada e a família incestogênica. Desta forma, considera-se importante o questionamento sobre a atuação dos referidos profissionais no que tange a demanda de casos de abuso sexual infantil incestuoso. Se muitos profissionais não se sentem à vontade para lidar com esses casos, de que maneira irão fornecer um trabalho de melhoria dos serviços prestados? É válido ressaltar ainda a escassez dos estudos referentes à relação entre a Terapia de Família e o enfrentamento da Violência Sexual Infantil Incestuosa. Considera-se, portanto, que este estudo pretende ser um 46 desencadeador para um futuro aprofundamento e discussões sobre esta questão. 47 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ABRAPIA. Abuso Sexual: Mitos e Realidade, 2002. ANDI; INSTITUTO WCF – BRASIL; UNICEF. O Grito dos Inocentes: os meios de comunicação e a violência sexual contra crianças e adolescentes. São Paulo: Cortez, 2003. AZAMBUJA, Maria Regina Fay de. Violência Sexual Intrafamiliar: é possível proteger a criança? Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2004. BRASIL. Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, 2009. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. 27 ed., atual. e ampl. Coleção Saraiva de legislação. São Paulo: Saraiva, 2001. BRASIL. Guia de Orientação do Centro de Referência Especializado de Assistência Social. BRASIL. Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-Juvenil, 2002. BRASIL. Sistema Único de Assistência Social, 2005. 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Abuso Sexual Doméstico: atendimento às vítimas e responsabilização do agressor. 3.ed. São Paulo, 2009. WEBGRAFIA CONSULTADA BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei Federal n. 8069 de 13/07/1990. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm> Acesso em 05 de maio de 2011. BRASIL. Lei Orgânica da Assistência Social: Lei Federal n. 9742 de 07/12/1993. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8742.htm> Acesso em 05 de maio de 2011. BRASIL, Lei de Regulamentação da Profissão: Lei n.8.662 de 07/06/1993. Disponível em <http://www.cfess.org.br/arquivos/legislacao_lei_8662.pdf> Acesso em 05 de maio de 2011. Declaração Universal dos Direitos Humanos: promulgada em 10 de Dezembro de 1948. Disponível em < http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm> Acesso em 25 de junho de 2011. DROPA, Romualdo. Direitos Humanos no Brasil. 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Disponível <http://pt.wikipedia.org/wiki/Voyeurismo> Acesso em 11 de julho de 2011. em 50 ÍNDICE FOLHA DE ROSTO .................................................................................................... 2 AGRADECIMENTOS .................................................................................................. 3 DEDICATÓRIA............................................................................................................ 4 RESUMO .................................................................................................................... 5 METODOLOGIA ......................................................................................................... 6 SUMÁRIO ................................................................................................................... 7 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 8 CAPÍTULO I - ABUSO SEXUAL INFANTIL.............................................................. 10 1. 1 HISTÓRIA DO ABUSO SEXUAL INFANTIL. ..................................................... 11 CAPÍTULO II - CONCEITUANDO VIOLÊNCIA INFANTIL. ...................................... 21 2. 1 SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ENTRE ABUSO SEXUAL E EXPLORAÇÃO SEXUAL .......................................................................................... 25 2. 2 OS MITOS E A REALIDADE DO ABUSO SEXUAL INFANTIL .......................... 26 CAPÍTULO III - O PAPEL DO SERVIÇO SOCIAL JUNTO A EQUIPE INTERDISCIPLINAR NO ENFRENTAMENTO DAS QUESTÕES RELACIONADAS AO ABUSO E VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTIL INTRAFAMILIAR ....................................................................................................... 33 3. 1 PAPEL DO SERVIÇO SOCIAL .......................................................................... 33 3. 2 INTERDISCIPLINARIEDADE............................................................................. 37 3. 3 A IMPORTÂNCIA DA TERAPIA DE FAMÍLIA EM FACE DE UMA FAMÍLIA INCESTUOSA ........................................................................................................... 40 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 44 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ..................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.7 ÍNDICE .................................................................................................................................... 50 51