CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO DARLEN ANDRADE COSTA Variáveis determinantes na decisão de compras: um estudo de caso Belo Horizonte 2014 DARLEN ANDRADE COSTA Variáveis determinantes na decisão de compras: um estudo de caso Dissertação apresentada ao Mestrado Profissional em Administração do Centro Universitário UNA como requisito parcial à obtenção do título de Mestre. Área de concentração: Inovação e Dinâmica Organizacional. Linha de pesquisa: Redes Empresariais, Inovação e Competitividade. Orientador: Prof. Dr. Poueri do Carmo Mário Co-orientador: Prof. Dr. Luiz Rodrigo Cunha Moura Belo Horizonte 2014 C837v Costa, Darlen Andrade Variáveis determinantes na decisão de compras: um estudo de caso. / Darlen Andrade Costa. – 2014. 249fl. Orientador: Prof. Dr. Poueri do Carmo Mário. Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário UNA, 2014. Programa de Mestrado Profissional em Administração. Bibliografia f. 176-193. 1. Compras. 2. Metalurgia. 3. Comportamento do consumidor. I. Mário, Poueri do Carmo. II. Centro Universitário UNA. III. Título. CDU: 658 Ficha catalográfica desenvolvida pela Biblioteca UNA campus Guajajaras DEDICATÓRIA À minha irmã Débora, que lutou bravamente até os últimos instantes de sua vida! Aos meus pais, Antônio Gabriel e Terezinha Paula que respeitaram as minhas decisões com relação aos meus estudos! À minha esposa Elaine, por compreender os momentos de ausência durante a elaboração deste trabalho! AGRADECIMENTOS Agradeço meu orientador, Prof. Dr. Poueri do Carmo Mário, por acreditar no meu projeto, por guiar meus passos durante a minha pesquisa. Obrigado por acreditar que a pesquisa na área de Compras das organizações pode contribuir para o aumento da competitividade das industriais nacionais. Obrigado por contribuir para formação de um aluno, que há poucos anos atrás não tinha nenhuma perspectiva favorável com relação à continuidade de seus estudos, e que hoje conclui sua dissertação de mestrado. Agradeço os professores do mestrado, em especial a Prof.ª Dra. Iris Goulart pela ajuda na formulação inicial da metodologia de pesquisa; a Prof.ª Dra. Cristiana Trindade Ituassu por me fazer perceber que Administração de Empresas não se restringe a aperfeiçoar processos e alcançar resultados; ao Prof. Dr. Gustavo Quiroga Souki pelos momentos de esclarecimento em relação à escolha do tema de pesquisa; ao Prof. Dr. Luiz Rodrigo Cunha Moura e a Prof.ª Dra. Gisele Tessari Santos pelas importantes orientações durante a banca de qualificação. Agradeço o Prof. Dr. Sérgio Evangelista Silva por participar da banca examinadora e contribuir com minha pesquisa. Ao Centro Universitário UNA por abrir as portas do curso de Administração de Empresas, no ano de 2006, a um aluno bolsista, de periferia, sem perspectivas positivas com relação à continuidade de seus estudos. Hoje este aluno, Administrador de Empresas, Pós-graduado por duas importantes instituições de ensino, retorna a casa para se tornar Mestre em Administração de Empresas. Agradeço aos participantes desta pesquisa, em especial a direção da Empresa Alpha por permitirem sua execução e disponibilizarem tempo para realização da mesma. EPÍGRAFE “O tomador de decisões na área de Compras assemelha-se a um equilibrista, tentando manter diversas bolas no ar ao mesmo tempo, pois o comprador deve atingir diversas metas simultaneamente” (LAMBERT, STOCK E VANTINE, 1999, p.490) RESUMO COSTA, Darlen Andrade. Variáveis determinantes na decisão de compras: um estudo de caso. 2014. 249 f. Dissertação (Mestrado) – Mestrado Profissional em Administração, Centro Universitário UNA, Belo Horizonte, 2014. A Função Compras desempenha um papel crucial para garantir o crescimento sustentado das organizações. Sua atuação influencia significativamente o alcance dos objetivos estratégicos e das metas organizacionais, logo a tomada de decisão com relação a compra de produtos e/ou contratação de serviços torna-se extremamente importante. Ambientes altamente competitivos aumentam a complexidade da tomada de decisão nos departamentos de Compras das organizações, principalmente no que tange a identificação e análise das Variáveis de Decisão capazes de determinar uma aquisição. Neste contexto, por meio de uma abordagem qualitativa com fins descritivos, este estudo de caso visa identificar quais as variáveis determinantes da decisão de compras em uma empresa metalúrgica fornecedora de materiais para os segmentos de Linhas de Transmissão e Redes de Distribuição de Energia Elétrica no Brasil. A metodologia aplicada consistiu na realização de entrevistas semiestruturadas com os responsáveis pelas decisões em compras na empresa pesquisada, atrelada a realização das pesquisas documental e bibliográfica, seguidas da pesquisa de campo pautada na observação não participante das atividades executadas no setor de Compras da empresa. Em suma, a metodologia utilizada permitiu identificar que a estruturação do processo de compras na organização pesquisada visa elevar a Função Compras a um posicionamento estratégico, alinhando seus objetivos com o planejamento estratégico da empresa conforme recomenda a literatura especializada. As seguintes Variáveis de Decisão determinantes do processo de compras da organização foram identificadas e acompanhadas, são elas: organização de compras, tempo (prazo de entrega), fonte de suprimentos, preço, assistência técnica e treinamento, especificações de compra, qualidade, quantidade, timing, tipo de produto a ser comprado, validade dos produtos, nível de estoque, negociação de compras, restrições financeiras, frete, e prazo de pagamento. Das dezessete Variáveis de Decisão determinantes de compras preconizadas pela literatura especializada utilizada neste estudo, chama atenção à não utilização da variável “custo total de aquisição” por parte da organização pesquisada. Constatou-se também a ocorrência de inovação no processo de compras da empresa decorrente da reestruturação de sua Função Compras; atrelada ao desenvolvimento, implementação e efetiva utilização de uma ferramenta computacional capaz de gerenciar as atividades de compras via sistema de gestão integrada (ERP) com potencial para tornar a empresa mais competitiva. Por fim, das variáveis determinantes de compras preconizadas pela literatura e consideradas no processo de decisão da empresa pesquisada, dez delas (qualidade, quantidade correta, fontes de suprimentos, preço, organização de compras, tipo de produto a ser comprado, frete, prazo de pagamento, validade de produtos e níveis de estoque) são semelhantes às encontradas em outro estudo análogo realizado por Chaves (2002), entretanto com origens e estruturas distintas por ter sido realizado em empresas do comércio varejista de alimentos de auto-serviço (supermercados) no Brasil. Palavras-chave: Compras. Decisão em Compras. Variáveis determinantes de compras. Competitividade. Inovação. Setor Metalúrgico. ABSTRACT COSTA, Darlen Andrade. Determining variables in the purchase decision: a case study. 2014. 249 f. Thesis (Master) - Master in Professional Management, University Center UNA, Belo Horizonte, 2014. The Purchases function plays a crucial role in ensuring the sustained growth of the organizations. His performance significantly influences the achievement of strategic objectives and organizational goals, so the decision making regarding the purchase of products and / or contracting of services becomes extremely important. Highly competitive environments increase the complexity of decision making in the purchasing departments of organizations, especially regarding the identification and analysis of decision variables able to determine an acquisition. In this context, by means of a qualitative approach with descriptive purposes, this case study aims to identify the determinants of the decision variables of purchasing in a metallurgical company supplying materials for the segments of Transmission Lines and Networks Electricity Distribution in Brazil. The methodology consisted of semi-structured interviews with decision makers in purchasing the company researched, linked to achievement of documents and literature, followed the research fieldwork based in the non-participant observation of the activities performed in the purchasing company sector. In short, the methodology identified that the structuring of the procurement process in the researched organization aims to raise the Purchases function to a strategic positioning, aligning your goals with the company's strategic planning as recommended in the literature. The following variables Decision determinants of the purchasing process of the organization were identified and followed, they are: purchasing organization, time (delivery), source of supply, price, technical assistance and training, purchase specifications, quality, quantity, timing, type of product to be purchased, life of products, stock level, negotiating purchases, financial restrictions, freight and payment term. Seventeen variables Decision determinants purchasing advocated by the literature used in this study draws attention to not use the variable "total acquisition cost" by the company studied. We also observed the occurrence of innovation in the procurement process of the company resulting from the restructuring of your Purchases Function; linked to the development, implementation and effective use of a computational tool able to manage purchasing activities via integrated management (ERP) system with the potential to make the company more competitive. Finally, the determinant variables of purchases recommended by the literature and considered in the decision process of the company studied, ten of them (quality, right quantity, sources of supply, price, purchasing organization, type of product to be purchased, freight, term payment, valid for products and stock levels) are similar to those found in other analogous study by Chaves (2002), however with different origins and structures have been performed by companies in the retail trade of food self-service (supermarkets) in Brazil . Keywords: Purchasing. Decision in Purchasing. Variables determining of purchasing. Competitiveness. Innovation. Metallurgical sector. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Processo de compras - Arnold (1999) .......................................................................... 47 Figura 2 - Processo de compras - Lambert, Stock e Vantine (1999) ........................................... 48 Figura 3 – Processo de compras - Baily et al. (2000) ................................................................... 49 Figura 4 - Processo de compras - Gaiher e Frazier (2005) ........................................................... 50 Figura 5 - Processo de compras - Lopes, Souza e Moraes (2006) ............................................... 51 Figura 6 - Processo de compras - Martins e Alt (2009) ................................................................ 52 Figura 7 - Processo de compras - Slack et al. (2009) ................................................................... 53 Figura 8 - Processo de compras - Gonçalves (2010) .................................................................... 54 Figura 9 - Processo de compras - Pozo (2010) ............................................................................. 55 Figura 10 - Processo de compras - Dias e Costa (2012) ............................................................... 56 Figura 11 - Organograma - Empresa Alpha ................................................................................ 115 Figura 12 - Fluxograma de compras - Empresa Alpha ............................................................... 116 Figura 13 - ERP Módulo Compras - Indicadores ....................................................................... 124 Figura 14 - Planilha ABC de materiais comprados - Empresa Alpha........................................ 124 Figura 15 - Relatório de requisições de compras urgentes (ano 2013). ..................................... 125 Figura 16 - Requisição de compras - Empresa Alpha ................................................................ 127 Figura 17 - Módulo de Compras - ERP Empresa Alpha ............................................................ 130 Figura 18 - Especificações para realização de compra - Empresa Alpha .................................. 132 Figura 19 - Eventos e Histórico de compra - Empresa Alpha .................................................... 135 Figura 20 - Gerenciamento de compras efetuadas por fornecedor - Empresa Alpha ................ 136 Figura 21 - Base de dados fornecedores - Empresa Alpha ......................................................... 137 Figura 22 – Planilha ABC por fornecedores ............................................................................... 137 Figura 23 - Pedido de compra - Empresa Alpha ......................................................................... 139 Figura 24 - Controle de compras - preço, impostos e frete ........................................................ 142 Figura 25 - Requisição de compras - Empresa Alpha ................................................................ 143 Figura 26 - Compras realizadas por nota fiscal........................................................................... 147 Figura 27 - Tela controle de pedidos de compra - Empresa Alpha ............................................ 148 Figura 28 - Tela de Elaboração de pedido de compra ................................................................ 149 Figura 29 - Eventos e históricos da compra realizada ................................................................ 149 Figura 30 - Curva ABC por materiais comprados (anos 2013) .................................................. 151 Figura 31 - Custo frete por unidade de compra - 2013 ............................................................... 153 Figura 32 - Tela pedido de compras (em destaque prazo de pagamento) .................................. 154 Figura 33 – Etiquetas de controle do fornecedor – Validade dos produtos ............................... 156 Figura 34 - Requisição de compra (destaque para prazo de validade) ....................................... 156 Figura 35 - Relatórios módulos “Estoques” - ERP Empresa Alpha .......................................... 158 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Volume de compras em relação ao faturamento ........................................................ 20 Gráfico 2 - Brasil - Número de consumidores (ligações) residenciais ......................................... 23 Gráfico 3 - Brasil – Consumo médio por consumidor residencial (kwh/mês) ............................ 24 Gráfico 4 - Brasil – Estrutura do consumo de eletricidade na rede, por classe (%) .................... 25 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Estudos sobre a atividade de compras nas organizações ........................................... 16 Quadro 2 - Evolução da Função Compras nos Estados Unidos da América ............................... 31 Quadro 3 - Estágios Estratégicos de desenvolvimento da Função Compras ............................... 33 Quadro 4 - Posicionamento da Função Compras.......................................................................... 34 Quadro 5 - Etapas do processo de compras .................................................................................. 35 Quadro 6 - Compras reativas versus Compras proativas .............................................................. 36 Quadro 7 - Objetivos de Compras ................................................................................................. 38 Quadro 8 - Atividades executadas nos departamentos de Compras............................................. 41 Quadro 9 - Vantagens das Compras centralizadas e Compras descentralizadas ......................... 42 Quadro 10 - Aspectos relacionados a custos em produzir ou comprar ........................................ 44 Quadro 11 - Prioridades competitivas em Compras ..................................................................... 61 Quadro 12 - Perfil do comprador nas organizações...................................................................... 65 Quadro 13 - Passado e presente das atividades de Compras nas organizações ........................... 66 Quadro 14 - Critérios de mensuração para a Função Compras. ................................................... 69 Quadro 15 - Indicadores que podem compor um sistema de mensuração de Compras .............. 70 Quadro 16 - Indicadores de desempenho em Compras ................................................................ 71 Quadro 17 - Alguns meios comumente usados para mensurar o desempenho em Compras ...... 71 Quadro 18 - Sugestões para um processo de negociação ............................................................. 82 Quadro 19 - Tipos de Inovação ..................................................................................................... 95 Quadro 20 - Regras para conduzir a Inovação nas organizações ................................................. 98 Quadro 21 - Relação das variáveis de Compras ......................................................................... 105 Quadro 22 - Relação de variáveis associadas às perguntas da entrevista .................................. 108 Quadro 23 - Modelo analítico para análise dos dados da pesquisa ............................................ 109 Quadro 24 - Perfil das atividades de compra na Empresa Alpha ............................................... 113 Quadro 25 - Etapas processo de compras da Empresa Alpha relacionadas às etapas preconizadas na literatura especializada. ........................................................................................................... 118 Quadro 26 - Variáveis de compras - Chaves (2002) e o presente estudo. ................................. 163 Quadro 27 - Variáveis de compras equivalentes e não equivalentes Chaves (2002) e o presente estudo ........................................................................................................................................... 163 Quadro 28 - Variáveis de compras não equivalentes - Costa (2014) e o presente estudo ......... 164 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AMPLA Ampla Energia e Serviços S/A ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica ANPAD Encontro da Associação Nacional de pós-graduação e pesquisa em administração ANPEI Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras CAPS Center for advanced purchasing studies CELESC Centrais Elétricas de Santa Catarina CELG Companhia Energética de Goiás CELPE Companhia Energética de Pernambuco CEMIG Companhia Energética de Minas Gerais COELBA Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia CONSAD Conselho Nacional de Secretários de Estado da Administração COPEL Copel Distribuição S.A. CPFL Companhia Paulista de Força e Luz EDI Eletronic Data Exchange ELEKTRO Elektro Eletricidade e Serviços ELETROBRÁS Centrais Elétricas Brasileiras S.A. ELETROSUL Eletrosul Centrais Elétricas S/A EMA Encontro de Marketing da ANPAD ENAPG Encontro de Administração Pública e Governo ENADI Encontra da Administração da Informação EPE Empresa de Pesquisa Energética ERP Enterprise Resource Planning FINEP Financiadora de Estudos e Projetos IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICMS Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual, intermunicipal e de comunicação. INPI Instituto Nacional de Propriedade Industrial IPI Imposto sobre produtos industrializados JIT Just in Time MBA Master Business Administration MERCOSUL Mercado Comum do Sul MRP Materials Requirements Planning OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico PCP Planejamento e controle da produção PEAD Polietileno de alta densidade PINTEC Pesquisa de Inovação Tecnológica PLP Preformed Line Products company P&D Pesquisa e desenvolvimento RFQ Request for quotation SGE Sistema de Gestão Empresarial SWOT Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats TCO Total Cost of Ownership T.I. Tecnologia da Informação TIC Tecnologias da Informação e da Comunicação TPP Technological Product and Process UV Radiação Ultravioleta SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 14 1.1 Problema de pesquisa .......................................................................................................... 18 1.2 Objetivo geral ...................................................................................................................... 19 1.3 Objetivos específicos ........................................................................................................... 19 1.4 Justificativa .......................................................................................................................... 19 2 REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................................................................... 29 2.1 Conceito de Compras nas organizações.............................................................................. 29 2.1.1 O desenvolvimento da Função Compras ..................................................................... 30 2.1.1.1 Visões tradicional e estratégica de Compras ............................................................ 34 2.1.2 Objetivos da Função Compras ..................................................................................... 37 2.1.3 Estruturação da Função Compras ................................................................................ 40 2.1.3.1 Fluxo básico de compra ............................................................................................ 45 2.1.4 Relacionamento com fornecedores .............................................................................. 57 2.1.4.1 Fatores importantes para formação da base de fornecedores ................................... 58 2.2 Função Compras como estratégia competitiva ................................................................... 59 2.3 Decisão de compras ............................................................................................................. 62 2.4 O papel do profissional de Compras ................................................................................... 64 2.5 Indicadores de desempenho em Compras........................................................................... 67 2.6 Variáveis determinantes de Compras.................................................................................. 72 2.6.1 Qualidade ...................................................................................................................... 74 2.6.2 Quantidade correta ....................................................................................................... 76 2.6.3 Tempo ........................................................................................................................... 76 2.6.4 Fonte de suprimentos ................................................................................................... 77 2.6.5 Preço ............................................................................................................................. 79 2.6.6 Negociação ................................................................................................................... 81 2.6.7 Custo total de aquisição................................................................................................ 83 2.6.8 Especificações de compra ............................................................................................ 83 2.6.9 Organização de Compras ............................................................................................. 85 2.6.10 Restrições financeiras ................................................................................................. 85 2.6.11 Timing ......................................................................................................................... 86 2.6.12 Tipo de produto a ser comprado ................................................................................ 86 2.6.13 Frete ............................................................................................................................ 87 2.6.14 Assistência Técnica e treinamentos ........................................................................... 88 2.6.15 Prazo de pagamento ................................................................................................... 89 2.6.16 Validade dos produtos ................................................................................................ 89 2.6.17 Níveis de estoque........................................................................................................ 90 2.7 Compras e Inovação ............................................................................................................ 91 2.8 Um estudo semelhante......................................................................................................... 98 3 METODOLOGIA ..................................................................................................................... 101 3.1 Caracterização da pesquisa................................................................................................ 101 3.2 Unidade de análise e sujeitos de pesquisa......................................................................... 103 3.3 Coleta de dados: técnicas e fontes de pesquisa ................................................................. 104 3.4 Técnicas de interpretação dos resultados .......................................................................... 108 3.5 Relatório do estudo de caso ............................................................................................... 110 3.6 Protocolo do estudo de caso .............................................................................................. 110 4 ANÁLISE DE RESULTADOS ............................................................................................... 111 4.1 Caracterizar o processo de compras em uma indústria metalúrgica identificando suas etapas. ....................................................................................................................................... 111 4.2 Identificar as variáveis que estão sendo selecionadas para efetivação das compras ....... 122 4.3 Acompanhar a evolução dessas variáveis no processo de decisão de compras............... 129 4.3.1 Variável de compra: qualidade .................................................................................. 131 4.3.2 Variável de compra: quantidade ................................................................................ 133 4.3.3 Variável de compra: tempo ........................................................................................ 134 4.3.4 Variável de compra: fonte de suprimento.................................................................. 135 4.3.5 Variável de compra: preço ......................................................................................... 138 4.3.6 Variável de compra: negociação de compra .............................................................. 140 4.3.7 Variável de compra: custo total de aquisição ............................................................ 141 4.3.8 Variável de compra: especificação de compra. ......................................................... 142 4.3.9 Variável de compra: organização de Compras .......................................................... 144 4.3.10 Variável de compra: restrição financeira ................................................................. 145 4.3.11 Variável de compra: timing ...................................................................................... 146 4.3.12 Variável de compra: tipo de produto a ser comprado ............................................. 150 4.3.13 Variável de compra: frete ......................................................................................... 151 4.3.14 Variável de compra: assistência técnica e treinamento ........................................... 153 4.3.15 Variável de compra: prazo de pagamento ............................................................... 154 4.3.16 Variável de compra: validade dos produtos ............................................................ 155 4.3.17 Variável de compra: níveis de estoque .................................................................... 157 4.4 Identificar a utilização de alguma inovação no processo de compras que possa tornar a empresa mais competitiva ....................................................................................................... 158 4.5 Comparar as variáveis de compras identificadas nesta pesquisa com as de Chaves (2002) .................................................................................................................................................. 161 5 SÍNTESE DOS ACHADOS .................................................................................................... 165 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 168 REFERENCIAL .......................................................................................................................... 176 APÊNDICES ............................................................................................................................... 194 APÊNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTA.................................................................... 194 APÊNDICE B – PROTOCOLO DE ESTUDO DE CASO ................................................... 196 APÊNDICE C – ENTREVISTAS SEMIESTRUTURADAS – MATRIZ PARA ANÁLISE DE DADOS ............................................................................................................................. 206 ANEXOS ..................................................................................................................................... 222 ANEXO A – DESCRIÇÃO FUNCIONAL ÁREA DE COMPRAS EMPRESA ALPHA . 222 ANEXO B – PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS E APRIMORAMENTO DE MATÉRIAS PRIMAS. ................................................................ 224 ANEXO C – MÓDULO DE COMPRA – GESTÃO DE FORNECEDORES - ERP EMPRESA ALPHA ................................................................................................................ 228 ANEXO D – ANÁLISE SWOT SUPRIMENTOS (COMPRAS) ........................................ 228 ANEXO E – BANCO DE DADOS NOTAS FISCAIS EMPRESA ALPHA ...................... 229 ANEXO F – RELATÓRIO DE DISPONIBILIDADE EM ESTOQUE ............................... 230 ANEXO G – DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO – EMPRESA ALPHA .................. 236 ANEXO H – CERTIFICADOS DE ANÁLISE E NOTAS FISCAIS .................................. 239 ANEXO I – AVALIAÇÃO PARA QUALIFICAÇÃO DE FORNECEDORES ................. 245 ANEXO J – CERTIFICADO DE GARANTIA ..................................................................... 247 14 1 INTRODUÇÃO O processo de industrialização teve seu início marcado pela participação dos artesões nas etapas de fabricação. Os itens comprados para serem utilizados na produção tinham baixa representatividade no custo final dos produtos, cerca de 10% a 20% segundo esclarecem (MARTINS; ALT, 2009). Com o passar do tempo, a substituição do trabalho artesanal para a produção industrial mecanizada, e em grande parte voltada para produção em massa, faz com que a compra de materiais e componentes a serem utilizados nos processos de fabricação cresça continuamente. Handfield et al. (2009) apresentam as etapas históricas da evolução da Função Compras e Cadeia de Suprimentos nos Estados Unidos da América, país de destaque no desenvolvimento da Função de Compras no mundo. Esta evolução abrange sete principais períodos que evidenciam a passagem de Compras de um conjunto de atividades altamente previsíveis, reativas e independentes; para uma Função que caminha em direção ao trabalho focado nas necessidades dos clientes, proativa e capaz de contribuir para a formulação e execução das estratégias competitivas das organizações. Os autores destacam que, no período compreendido entre os anos de 1994 a 2009, a Função Compras nas organizações passou por uma verdadeira revolução na busca pelo melhor gerenciamento de sua base de fornecedores. O quadro 2 da seção 2.1.1 apresenta cada um dos períodos da evolução da Função Compras. Ainda conforme os autores supracitados, vale destacar que a literatura a respeito da Função Compras nas organizações tem definido os vários termos associados a este conceito de formas diferentes, tornando confuso sua compreensão. Então, para este trabalho, Compras nas organizações é tida como uma Função “Função Compras”, também conhecida somente pelo termo “Compras” e algumas vezes como “Suprimentos”, composta por um conjunto de atividades que formam os processos necessários para aquisição de bens e serviços nas organizações. De acordo com Braga (2008), no Brasil, por muito tempo a Função Compras nas organizações foi considerada de caráter tático e de cunho administrativo, tendo sempre perfil reativo às decisões tomadas por outros setores, em especial ao departamento de produção. A crise do petróleo ocorrida na década de 1970 foi marcante para atuação de Compras, tendo em vista os novos desafios encontrados pelas organizações para abastecer suas linhas de produção e reduzir custos de aquisição de matérias primas. 15 Gaither e Frazier (2005) defendem que, da perspectiva da administração de operações, a dinâmica do sistema de produção também influencia a atuação da Função Compras nas organizações, principalmente no que diz respeito à sua participação na administração da cadeia de suprimentos. Corroborando com tal pensamento, Neto (2008) esclarece que o aperfeiçoamento dos sistemas de produção também determina uma nova dinâmica para atuação da Função Compras, agora com maior participação na construção de vantagens competitivas relacionadas à redução de custos e melhoria de qualidade. A busca da indústria automobilística brasileira por práticas modernas de gestão de suprimentos e relacionamento com fornecedores apresentada por Lima (2004), também revela a significativa evolução da Função no decorrer da década de 1990. Compras deixa de ser voltada tipicamente para aquisições e passa a participar juntamente com outras áreas (engenharia, qualidade, finanças, logística, marketing, dentre outras) de um processo complexo e integrado de planejamento de operações e tomada de decisão. Rodrigues, Fernandes e Martins (2006), em sua pesquisa sobre o papel estratégico de Compras, atestam que as transformações na natureza da concorrência industrial também implicam em maiores exigências para as organizações se manterem competitivas. Nesta perspectiva, a gestão de compras pode ser utilizada na busca por altos níveis de qualidade, entregas rápidas e redução de custos, criando possibilidade de elevar a área a um posicionamento estratégico. Contribuindo com os autores supracitados, Benito (2006) defende que as atividades de compras nas organizações, se bem planejadas, apresentam alternativas e opções estratégicas capazes de alterar consideravelmente a capacidade de obter e manter vantagens competitivas. Alguns ganhos relacionados a custos, qualidade, entrega e flexibilidade de produção, podem ser obtidos com sucesso por meio do planejamento adequado das atividades de compra. Resende et al. (2011) realizaram estudo em 166 empresas atuantes nos segmentos da indústria e prestação de serviços no Brasil, objetivando avaliar a abrangência da adoção da gestão estratégica de compras nas organizações. O foco estava em compreender quais as práticas de compras mais importantes para as empresas brasileiras, em qual grau de extensão elas são implantadas nos negócios e qual o impacto da adoção das práticas no desempenho dos negócios. A conclusão da pesquisa aponta evolução na gestão estratégica de compras, entretanto, evidenciou-se a necessidade de desenvolvimento da Função Compras no sentido de aprimorar suas técnicas, tornando-a mais participativa nos resultados da empresa no que se 16 refere ao gerenciamento da base de fornecedores e, principalmente, na elaboração de estratégias formais em compras. Pesquisas sobre a Função Compras nas organizações são realizadas em diversos setores, tais como: automotivo, supermercadista, alimentício, varejista, logístico, industrial, hospitalar, farmacêutico, dentre outros. O quadro 1 apresenta estudos relacionados à Compras tanto em organizações privadas, quanto em organizações públicas. Quadro 1 - Estudos sobre a atividade de compras nas organizações Base de dados ENANPAD ENAPG EMA ENADI SCIELO CENGAGE CAPS - CENTER FOR ADVANCED PURCHASING STUDIES OUTROS* Fonte: Elaborado pelo autor Autores e/ou instituição responsável Almeida, Machado e Costa (2002); Rodrigues e Oliveira (2002); Ritter, Marchetti e Prado (2002); Sáfadi e Reinhard (2002); Barros et al (2003); Néri e Hoppen (2003); Silva, Filho, Barbosa (2003); Menezes, Silva e Linhares (2004); Pereira, Tontini e Silveira (2004); Filho e Biderman (2005); Luchi (2006); Costa e Freitas (2007); Melo (2007); Esper (2009); Façanha et al. (2009); Moreira (2009); Moreira e Vargas (2009); Araújo e Medeiros (2010); Moreira e Vargas (2010); Silva e Vieira (2010); Souza e Olivero (2010); Camargos e Moreira (2011); Soares e Vicente (2011); Tacconi et al. (2012); Tridapalli e Borinelli (2012); Araújo e Jesus (2013); Junior e Olave (2013); Mondini et al. (2013); Reis, Cabral e Sampaio (2013). Alves e Dufloth (2004); Campos (2008); Frossard e Câmara (2010); Mendonça et al. (2012). Costa e Freitas (2006). Aires et al. (2013); Queiroz e Cogan (2013). Vasconcellos (1983); Gómez (2001); Colin (2006); Menezes, Silva e Linhares (2007); Batista e Maldonado (2008); Moori, Ghobril e Marcondes (2009); Sigulem e Zucchi (2009); Waning et al. (2009); Vanalle e Salles (2011); Tacconi et al. (2011); Inamine, Erdmann e Marchi (2012); Moreira e Vargas (2012). Gibson, Mundy e Sink (1995); Herbig e O'Hara (1995); Forker (1997); Chapman, Gupta e Mango (1998); Carter, Kale e Grimm (2000); Kennedy e DeeterDchmelz (2001); Ferrin e Plank (2002); Hunter, Bunn e Perreault (2006). CAPS (1989); CAPS (1990); CAPS (1991); CAPS (1994); CAPS (1994b); CAPS (1995); CAPS (1995b); CAPS (1995c); CAPS (1995d); CAPS (1995e); CAPS (1997); CAPS (1997b); CAPS (1998); CAPS (1999); CAPS (1999b); CAPS (2000); CAPS (2001); CAPS (2002); CAPS (2003); CAPS (2004); CAPS (2005); CAPS (2008); CAPS (2009); CAPS (2011). Copley e Callom (1971); Kraljic (1983); Anderson, Chu e Weitz (1987); Ellram e Pearson (1993); Weele e Rozemeijer (1996); Correia (1997); Brookshaw e Terziovski (1997); Farmer (1997); Min e Galle (1997); Ellram (1998); Trent e Monczka (1998); Carr e Smeltzer (1997); Carr e Smeltzer (1999); Carter, Kale e Grimm (2000); Narasimhan e Das (2001); Stanley e Wisner (2001); Tan (2001); Croom e Giannakis (2002); Stanley e Wisner (2002); Denslow e Giunipero (2003); Carter (2004); Chen, Paulraj e Lado (2004); Trent (2004); Gelderman e Weele (2005); Nollet, Ponce e Campbell (2005); Agndai (2006); Benito (2006); Matthyssens, Pauwels e Quintens (2006); Rodrigues, Fernandes e Martins (2006); Tan (2007); Németh (2008); Peltola (2008); Kibbeling et al. (2009); Driedonks, Driedonks e Weele (2010); Schotanus, Telgen e Boer (2010); Weele e Rietveld (2010); Su, Hilsdorf e Sampaio (2010; Björklund (2011); Thrulogachanta e Zailani (2011); Akenroye, Ojo e Aju (2012); Barney (2012); Coban (2012); Foerstl et al. (2013); Pereira (2013); Monteiro e Tinoco (2013); Noonan, et al. (2013); Rocha et al. (2013); Rodriguez e Gouveia (2013); Spina (2013); Tracey e Neuhaus (2013). 17 Nota: *Trabalhos publicados em: Acta Technica Jaurinensis Series Logistica; Benchmarking for Quality Management & Technology; Biennial Conference of the Academy of World Business; European Journal of Business and Management; European Journal of Purchasing and Supply Management; Fundação Getúlio Vargas; Harvard Business Review; Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra; Ingeniería Industrial; International Journal of Business and Globalisation; Industrial Marketing Management; International Journal of Business and Social Science; International Journal of Purchasing and Materials Management; Journal of Marketing; Journal of Public Health Policy; Journal of Operations Management; Journal of Purchasing & Supply Management; Journal of Manufacturing Technology Management, Marketing and Management Development; Journal of Operations & Production Management; lappeenranta University of technology; PRACTIX - Best Practices in Purchasing and Supply Chain Management; Proceedings of the Second Annual Conference of the Association for Consumer Research, Transportation Research Part E: Logistics and Transportation Review; The Journal of Supply Chain Management; Universia Business Review; 88 th Annual International Conference Proceedings; VI Congresso CONSAD de Gestão Pública. O estudo realizado por Chaves (2002) sobre as Variáveis de Decisão envolvidas no processo de compras nas organizações supermercadistas pode ser considerado um exemplo de pesquisas nesta área. Seu estudo busca identificar quais as variáveis utilizadas no modelo de decisão de compras em empresas do comércio varejista de alimentos de auto-serviço (supermercado), tendo em vista propor um rol de variáveis a serem utilizadas pelos gestores no modelo de decisão de tais empresas. Utilizando uma abordagem qualitativa por meio de estudo caso, com uso de entrevistas semiestruturadas em uma amostra intencional de três redes de supermercados da região nordeste do Brasil, a pesquisadora teve como resultado um rol de dezessete variáveis a serem consideradas no processo de compras no comércio varejista de auto-serviço supermercado, sendo: frequência de compras, volume de compras, natureza da demanda, preço, tipo de produtos, estoques, distribuição dos produtos, fornecedor, organização de compras, estilo do comprador, sistemas de informações, prazo de pagamento, qualidade, mix de produtos, frete e seguro, impostos, e por fim validade dos produtos. Nesta perspectiva, Chen, Paulraj e Lado (2004) alertam que, cada vez mais, Compras assume um papel estratégico fundamental nas organizações, entretanto tal Função ainda necessita de rigoroso exame teórico e empírico. Da mesma forma, Thrulogachanta e Zailani (2011) defendem a importância de se realizar estudos voltados para a análise das atividades de compras e sua contribuição estratégica sobre o desempenho das organizações, principalmente no que se refere à priorização da Função Compras como componente chave para as empresas. Novos estudos sobre o comportamento de Compras nas organizações, como este em questão, podem contribuir para evolução da Função, tornando-a mais integrada as necessidades dos clientes, bem como com as operações, logística, recursos humanos, finanças, contabilidade, marketing e sistemas de informação conforme sugerem Handfield et al. (2009). 18 1.1 Problema de pesquisa O ambiente altamente dinâmico e competitivo leva as empresas a buscarem novas alternativas para aumentar seu desempenho. Atuar em mercados cada vez mais competitivos, como ocorre, por exemplo, no fornecimento de materiais para segmentos de Linhas de Transmissão e Redes Aéreas de Distribuição de Energia Elétrica (segmento de atuação da empresa alvo da pesquisa, aqui denominada como Empresa Alpha), aumenta a pressão pela redução de preços e excelência no processo de compras conforme defende PIRES (2009). O trabalho integrado entre Compras e demais áreas da empresa contribui significativamente para o alcance dos objetivos estratégicos e das metas das organizacionais (BAILY et al., 2000; COLETTI et al., 2002; BALLOU, 2006; SLACK et al., 2009; MARTINS e ALT, 2011; DIAS e COSTA, 2012, BARNEY, 2012; COBAN, 2012). Partindo dessa premissa desenvolvida nos estudos indicados, pesquisar métodos que possam contribuir para o aumento do desempenho da Função Compras, levando em consideração um direcionamento estratégico único para todos os setores da empresa ganha importância na busca por competitividade. Pesquisas relacionadas a Compras (WEELE E RIETVELD, 2010; BJÖRKLUND, 2011; THRULOGACHANTA E ZAILANI, 2011; AKENROYE, OJO E AJU, 2012; COBAN, 2012; TRIDAPALLI E BORINELLI, 2012; AIRES ET AL., 2013; FOERSTL ET AL., 2013; MONTEIRO E TINOCO, 2013; NOONAN ET AL., 2013; RODRIGUEZ E GOUVEIA, 2013; SPINA, 2013; TRACEY E NEUHAUS, 2013), além de evidenciaram o esforço em prol do desenvolvimento da área, apontam que Departamentos de Compras focados em atividades rotineiras de baixo valor agregado, podem comprometer o alcance dos objetivos estratégicos das organizações. Sendo assim, pesquisas em torno das variáveis determinantes do processo de tomada de decisão de compras nas organizações pode contribuir positivamente para evolução da Função. A partir destas considerações, emerge o seguinte problema de pesquisa, que constitui a questão norteadora do trabalho: “Quais as variáveis utilizadas na decisão de compras em uma empresa metalúrgica fornecedora de materiais para os segmentos de Linhas de Transmissão e Redes de Distribuição de Energia Elétrica determinantes do processo de compra?” Por meio desta pergunta, caracteriza-se o problema desta pesquisa em busca de uma alternativa capaz de aumentar a contribuição da Função Compras nas organizações considerando variáveis a serem utilizadas no modelo de decisão de compras. Tais variáveis podem dar suporte ao 19 processo de tomada de decisões de compras nas indústrias fornecedoras de materiais para segmentos de Linhas de Transmissão e Redes Aéreas de Distribuição de Energia Elétrica, a partir do estudo do caso de uma empresa do setor. 1.2 Objetivo geral Identificar as variáveis utilizadas na decisão de compras de uma empresa metalúrgica fornecedora de materiais para os segmentos de Linhas de Transmissão e Redes de Distribuição de Energia Elétrica, determinantes do processo de compra. 1.3 Objetivos específicos a) Caracterizar o processo de compras em uma indústria metalúrgica identificando suas etapas. b) Identificar as variáveis que estão sendo selecionadas para efetivação das compras. c) Acompanhar a evolução dessas variáveis no processo de decisão de compras. d) Identificar a utilização de alguma inovação no processo de compras que possa tornar a empresa mais competitiva. e) Comparar as variáveis identificadas nesta pesquisa com as de Chaves (2002). 1.4 Justificativa O processo de globalização acirrou a disputa em diversos setores industriais, aumentando a pressão por redução de preços e por excelência nas atividades realizadas pela Função Compras nas organizações (PIRES, 2009). A constante busca por lucratividade faz com que organizações procurem novas alternativas para obter, manter ou aumentar sua competitividade. Neste novo cenário, a gestão eficiente da Função Compras (também denominada Suprimentos), pode trazer resultados positivos. Para Bowersox, Closs e Cooper (2006, p. 123) “Toda organização, seja fabricante, atacadista ou varejista, compra materiais, serviços e suprimentos de um fornecedor externo, a fim de apoiar suas operações”. Os autores evidenciam que Compras, antes considerada uma Função gerencial burocrática dentro das organizações, agora foca na manutenção de relacionamentos entre compradores e vendedores, aliando os objetivos departamentais à estratégia da organização. 20 Ramos (2002, p.30) defende que “A função compras desempenha desta forma um papel crucial para garantir o crescimento sustentado da organização”. Corroborando com tal pensamento, Coletti et al. (2002) argumentam que aquisições de matérias primas, suprimentos e componentes, representam um fator decisivo na atividade de uma organização. Já que grande parte do dinheiro de vendas é pago a fornecedores por materiais comprados, reduções pequenas na aquisição dos materiais podem gerar melhorias consideráveis nos lucros. Dessa forma, pode-se dizer que a gestão de compras é de vital importância para o sucesso da empresa. (COLETTI et al., 2002, p. 2) Para Pozo (2010), a Função Compras não é um fim em si mesma, mas uma atividade de apoio indispensável ao processo produtivo. A visão moderna de Compras está relacionada à atuação de forma integrada com outros setores em busca do objetivo comum de operação lucrativa, que para o autor trata-se de manter uma posição competitiva no mercado. Resende et al. (2011) apontam que 64% das empresas atuantes nos segmentos da indústria e prestação de serviços no Brasil possuem o volume de compras em relação ao faturamento maior que 30%, conforme pode-se observar no gráfico 1. Gráfico 1 - Volume de compras em relação ao faturamento Fonte: Resende, et al. (2011, p. 3) Segundo Ballou (2006, p. 357), em geral, peças, componentes e suprimentos podem representar entre 40 a 60% do valor final das vendas de qualquer produto, logo isto significa que “[...] reduções de custos relativamente baixas, conquistadas no processo de aquisição de materiais podem ter um impacto bem maior sobre os lucros do que aperfeiçoamentos semelhantes em outras áreas de custos e vendas da organização”. 21 De acordo com Baily et al. (2000), a interferência direta das práticas de compras nos resultados das áreas produtiva e financeira não pode ser ignorada. Reduzir custos e agregar valor a produtos e serviços tomam proporções imperativas no mercado. Slack et al. (2009, p. 393) defendem que “A função compras pode ter um impacto significativo nos custos operacionais de qualquer operação”. Desta forma, cada vez mais envolvida na tomada de decisão estratégica, Compras ganha importância como Função capaz de agregar valor, alinhando redução de custo com maior potencial de lucratividade, conforme apontam Simões e Michel (2004). Obter menor preço possível nas negociações de compra, respeitando determinado nível de qualidade exigida para o processo produtivo, passa de missão nos antigos departamentos de Compras para atividade básica dentro do novo escopo desta Função. Reduzir custos continua como um dos objetivos básicos, entretanto a literatura relacionada ao tema, (BAILY et al., 2000; COLETTI et al., 2002; BALLOU, 2006; SLACK et al., 2009; GONÇALVES, 2010; MARTINS e ALT, 2011; MONCZA et al., 2011; DIAS e COSTA, 2012), aponta nitidamente a necessidade de redesenhar processos de compras levando em consideração as diversas variáveis utilizadas no modelo de decisão de compras, alinhando-os com os objetivos estratégicos da organização. Anderson, Chu e Weitz (1987) sugerem que grande parte da compra e venda nas economias avançadas está entre as organizações industriais, base destes mercados, portanto entender o comportamento de compra destas organizações torna-se importante. Wind e Webster (1972), já à época, concluíram que o processo de compra não pode ser considerado como fato isolado, mas sim como matéria multidisciplinar dentro das organizações. Funções executadas de forma isolada não conseguirão mais atingir resultados desejados, conforme propõem Tadeu e Nascimento (2013). Portanto, planejamento coordenado das atividades empresariais, em especial o processo de compra, torna-se necessário. Dias e Costa (2012) concordam com a importância da área de Compras para o bom desempenho de uma instituição, entretanto ponderam que tal importância é relativa em diversos fatores, tais como a natureza da organização ou o seu grau de dependência de terceiros. Os autores reforçam “A importância relativa da área de Compras de uma grande indústria metalúrgica é diferente daquela reservada à instituição financeira ou à empresa especializada em serviços de vigilância, por exemplo” (DIAS e COSTA, 2012, p. 15). 22 Considerando as particularidades de cada organização, operar com base apenas em novas propostas de atuação para os departamentos de Compras como sugere a literatura sobre o tema, pode não ser suficiente para integrar efetivamente seus objetivos ao planejamento estratégico da organização. Neste sentido, considerar um rol de variáveis a serem utilizadas para o processo de decisão de compras nas organizações, pode contribuir favoravelmente para o planejamento coordenado das atividades de aquisição de bens e contratação de serviços. A ideia central está em proporcionar ao setor de Compras uma operação efetiva como Função empresarial alinhada com as estratégias da organização. É importante esclarecer que as Variáveis de Decisão de interesse deste estudo são definidas como sendo as condições específicas envolvidas na ação de adquirir determinado produto ou contratação de serviço, que estão sob o domínio do gestor ou que pelo menos ele tenha influência e responsabilidade nas suas consequências e são utilizadas para subsidiar o processo de tomada de decisão de compras (ALMEIDA, 1996). Variáveis externas e não controláveis, tais como às utilizadas na análise Swot (ambientais, culturais/sociais, demográficas, econômicas, jurídicas/politicas, psicológicas e tecnológicas), não são alvo deste estudo. Sendo assim, a revisão bibliográfica realizada apontou somente o estudo de Chaves (2002) abordando estes tipos de variáveis, o que sugere uma lacuna na teórica a ser preenchida com novos estudos. A realização desta pesquisa deverá ter reflexos no ambiente organizacional (no âmbito da empresa pesquisada e extensivo, ressalvadas as limitações pertinentes, a outras empresas), no atendimento ao interesse do autor e no meio acadêmico. Apresenta-se também a importância do estudo nos âmbitos econômico, social e empresarial. Âmbito econômico: Conforme estudo da Empresa de Pesquisa Energética - EPE (2012), a crise na Europa impactou negativamente a economia mundial, e por consequência o comportamento da indústria brasileira, principalmente nos segmentos mais diretamente relacionados à produção de commodities, em especial metais básicos. Vários segmentos da metalurgia básica passaram a se defrontar com condições de competitividade desfavoráveis, dentre eles os principais fornecedores de matérias primas utilizadas no processo produtivo da empresa pesquisada, aqui denominada Empresa Alpha, tais como: a cadeia do alumínio (incluindo a produção de alumina e a extração de bauxita); a siderurgia (produção de aço bruto); a produção de ferro ligas e também a indústria petroquímica. Por consequência, a disputa por preços, prazos de entrega, prazos de pagamentos em relação aos insumos fornecidos por estas indústrias (ferro ligas, liga 23 de alumínio primário e plásticos de engenharia) torna-se acirrada e diretamente envolvida nos processos de negociação do setor de Compras da empresa pesquisada. Em relação à distribuição de energia elétrica, a ANEEL (2008) esclarece que o setor elétrico brasileiro está em permanente evolução, fruto tanto de mudanças legais e normativas, quanto do avanço tecnológico. O desafio é levar energia elétrica a mais de 61 milhões de consumidores, espalhados num território de dimensões continentais. Desta forma, em relação à evolução do consumo residencial de eletricidade no Brasil, a EPE (2012) aponta que, a expansão média anual de 4,3% prevista para o período 2012-2022, pode ser vista como o efeito combinado de um crescimento médio de 2,4% ao ano do número de consumidores (gráfico 2) e de um consumo por consumidor expandindo a um ritmo de 1,9% ao ano, conforme ilustrado no gráfico 3. Gráfico 2 - Brasil - Número de consumidores (ligações) residenciais Fonte: EPE (2012, p.69) 24 Gráfico 3 - Brasil – Consumo médio por consumidor residencial (kwh/mês) Fonte: EPE (2012, p.69) O aumento no número de consumidores residenciais e do consumo de eletricidade pelo setor comercial brasileiro indicam a necessidade de melhorias na infraestrutura de distribuição de energia elétrica em território nacional, por consequência gera o aquecimento nas vendas de componentes para linhas de transmissão e redes de distribuição de energia elétrica. O gráfico 4 apresenta a projeção e evolução do consumo de energia elétrica na rede até o ano de 2022. 25 Gráfico 4 - Brasil – Estrutura do consumo de eletricidade na rede, por classe (%) Fonte: EPE (2012, p.55) As projeções do consumo industrial, comercial e residencial de energia elétrica, tornam-se importantes para a atividade comercial da Empresa Alpha tendo em vista as oportunidades de desenvolvimento e fornecimento de equipamentos utilizados nas linhas de transmissão de energia elétrica em território nacional. Quanto maior o nível de vendas dos equipamentos fornecidos pela Empresa Alpha, maior a responsabilidade do setor de Compras no que se refere à aquisição e disponibilização de insumos para linha de produção da empresa. O fornecimento de produtos acabados utilizados para construção, manutenção, expansão e modernização de redes de distribuição de energia elétrica tanto em território nacional, quanto no Mercosul, rendem um faturamento bruto aproximado de 8 milhões de reais por ano para a empresa alvo desta pesquisa. Considerando, com base em Ballou (2006), que os custos com compras de peças, componentes, suprimentos podem representar entre 40% e 60% do valor final das vendas de qualquer produto, estima-se que os custos com compras da Empresa Alpha sejam em torno de R$3,2 a R$4,8 milhões por ano. 26 O planejamento estratégico da Empresa Alpha prevê para os anos de 2014, 2015 e 2016 a estruturação da sua linha de produção, de seus setores administrativos e, principalmente, o lançamento de nova linha de produtos no mercado. Tendo em vista, além de outros fatores econômicos, a evolução do consumo de energia elétrica e o aumento de unidades consumidoras em território nacional, a perspectiva está em alcançar faturamento aproximado de R$30 milhões por ano a partir do ano de 2017. Âmbito social: A eletricidade é considerada a principal fonte de luz, calor e força utilizada no mundo moderno. Ela está presente no cotidiano das pessoas, no simples ato de assistir televisão ou de navegar na internet. Fábricas, escolas, creches, supermercados, shoppings, e uma infinidade de outros lugares funcionam hoje por consequência da existência da energia elétrica. Determinados avanços tecnológicos são possíveis a partir da utilização da energia elétrica (ELETROBRÁS, 2013). De que adianta existir energia elétrica se ela não puder contribuir para uma vida em sociedade com mais segurança, conforto, inclusão social e desenvolvimento? Então, imagine a existência da energia elétrica, sem haver equipamentos capazes de distribuí-la, de fazer com que ela chegue até as unidades consumidoras. Nesta perspectiva, o desenvolvimento e fornecimento de componentes utilizados nas redes de transmissão de energia fornecidos pela Empresa Alpha apresentam sua contribuição para o funcionamento da sociedade como a conhecemos. Por consequência, a tomada de decisão no setor de Compras da empresa pode influenciar diretamente a capacidade de fornecimento de seus equipamentos, o que impactaria o fornecimento de energia em determinada situação. Âmbito empresarial: a relevância do estudo no âmbito empresarial está na importância estratégica da Função Compras para as organizações. “[...] está comprovado que muito pode ser feito de positivo em uma empresa com base no desempenho da área de Compras bem estruturada” (DIAS; COSTA, 2012, p. 15). A utilização de processos de aquisição estruturados, tendo um rol de Variáveis de Decisão adequadas às atividades de compras da empresa, seria então uma alternativa para promover integração entre os objetivos do setor de Compras e os objetivos e metas estratégicas da organização. Empresas do setor industrial terão oportunidade de analisar a o setor de Compras sob o prisma estratégico, refletindo sobre suas práticas atuais, bem como suas possibilidades a partir do caso exposto neste trabalho. 27 Âmbito acadêmico: a contribuição do estudo está na perspectiva de abordar o setor de Compras com foco em uma unidade de negócios capaz de gerar resultados positivos para as empresas. A literatura aponta a necessidade de integração dos processos de compras com planejamento estratégico da empresa em busca de competitividade. Neste sentido, este estudo abordando as variáveis utilizadas por uma empresa metalúrgica no processo de decisão de compras, abre espaço para discutir a importância da Função Compras para as organizações. Esta pesquisa também contribui para elaboração de um rol de Variáveis de Decisão capaz de reduzir os riscos envolvidos no processo de decisão de compras das indústrias fabricantes de equipamentos para redes de distribuição de energia elétrica, bem como contribui para realização de pesquisas mais abrangentes, tanto de caráter qualitativo quanto quantitativo, relacionadas a Função Compras nas organizações. Para o mestrando: este estudo revela-se como uma importante oportunidade de aprofundamento no tema: comparar conceitos e direcionamentos contidos na literatura com práticas reais em uma empresa em plena operação. O mercado cada vez mais competitivo exige executivos de Compras que consigam pensar holisticamente e agir pontualmente. Profissionais de Compras apenas com visão operacional apresentam poucas chances de sucesso em suas carreiras. Ter conhecimentos das variáveis envolvidas em um processo de compra contribui para reduzir os riscos nos processos de aquisição dentro das organizações. Este estudo também possibilitará a evolução do pesquisador em busca do estágio avançado de desenvolvimento referente ao perfil do comprador proposto por Baily et al. (2000). A dissertação está dividida em seis seções principais: 1) primeira seção de introdução apresenta o problema de pesquisa, objetivos e justificativas da pesquisa (capítulos 1 à 1.4); 2) segunda seção aborda a sustentação teórica da pesquisa. Nesta seção está contida a apresentação dos conceitos básicos de Compras (capítulos 2.1 à 2.1.4.1); Compras e sua relação com a estratégia competitiva (capítulo 2.2); Processo de decisão em compras e o papel do comprador (capítulos 2.3 e 2.4); Indicadores de desempenho em compras (capítulo 2.5.); Variáveis chaves envolvidas no processo de decisão em compras (capítulos 2.6 a 2.6.17); Compras e Inovação (capítulo 2.7); Estudo realizado por Chaves (2002) (capítulo 2.8). 3) terceira seção aborda a Metodologia proposta para realizar a pesquisa (capítulos 3 a 3.6); 4) quarta seção aborda o Estudo de caso e seus resultados (capítulos 4 à 4.5); 28 5) quinta seção contêm a Síntese dos achados (capítulo 5); 6) sexta seção destina-se as Considerações finais (capítulo 6). Por último, são listadas as referências usadas na elaboração do projeto, seguidas dos apêndices, onde consta o roteiro de entrevista, protocolo de estudo de caso utilizado na pesquisa, transcrição das entrevistas realizadas, bem como os anexos. 29 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Conceito de Compras nas organizações Para Baily et al. (2000), a Função Compras é tratada como um procedimento pelo qual as empresas determinam os itens a serem comprados, identificam e comparam os fornecedores disponíveis, negociam com as fontes de suprimentos, firmam contratos, elaboram ordens de compras e finalmente, recebem e pagam os bens e serviços comprados. Tal pensamento vai ao encontro da definição de compras exposta por Moncza et al. (2011) que se referem ao termo Compras como gerenciamento das atividades diárias do fluxo de materiais. Dias (2005) define Compras como um conjunto de atividades voltadas para obtenção e coordenação do fluxo contínuo de suprimentos, a fim de atender os programas de produção; comprar os materiais pelos melhores preços, não fugindo aos parâmetros qualitativos e quantitativos, além de procurar as melhores condições para a empresa. Por sua vez, Ballou (2006) completa informando que as atividades de Compras devem considerar alguns fatores, tais como: a seleção e qualificação de fornecedores; avaliação de desempenho de fornecedores; negociação de contratos; comparação de preços, qualidade e serviços; pesquisa de bens e serviços; a programação de compras; prever mudanças de preços, serviços e, às vezes, da demanda. Chaves (2002, p. 62), em sua definição para Compras nas organizações, aponta algumas variáveis que podem estar envolvidas no processo de tomada de decisão em relação a algum tipo de aquisição: [...] a ação de comprar pode ser explicada como: a ação de adquirir um produto/serviço dentro de condições específicas de: tamanho, qualidade, preço, prazo de entrega, quantidade, acondicionamento, validade, dentre outras; todas negociadas, previamente, pelo comprador e vendedor. Slack et al. (2009) dispensam atenção para definição de Compras sob a ótica de sua influência na gestão de materiais da empresa, já que consideram Compras uma Função responsável pela gestão de materiais e serviços junto aos fornecedores da organização. Desta forma, as atividades de Compras nas organizações também estão voltadas inicialmente para obtenção de materiais, produtos e serviços respeitando algumas condições negociadas previamente, tais como: prazos de entrega, níveis de qualidade, preços competitivos, quantidade, validade, acondicionamento, dentre outras. 30 A importância estratégica da Função Compras é acrescentada por Martins e Alt (2011) ao evidenciarem que os objetivos de Compras devem estar alinhados aos objetivos estratégicos da empresa como um todo, buscando o melhor atendimento aos clientes internos e externos da organização. Desta forma, a definição dos componentes de decisão de Compras deve envolver a participação de outras áreas da organização, tais como Vendas, Marketing e Produção. Gaither e Fraizer (2005, p. 430), que também defendem a importância do setor de Compras para a Administração da Produção e Operação, argumentam que diversos fatores aumentam a importância da Função Compras nas organizações, tais como: “[...] o enorme impacto dos custos de materiais sobre os lucros, a crescente importância da manufatura automatizada, a popularidade da manufatura JIT e a crescente competição global”. Cada vez mais envolvida na tomada de decisão estratégica, Compras ganha importância como Função capaz de agregar valor, alinhando redução de custo com maior potencial de lucratividade, conforme defendem Coletti et al. (2002). Desta forma, a gestão de Compras torna-se fundamental para o desempenho da empresa como um todo, logo deve ser analisada, estudada estrategicamente e modificada conforme a necessidade mercadológica. 2.1.1 O desenvolvimento da Função Compras O desenvolvimento da Função Compras no Brasil tem sua base nos estudos acadêmicos e modelos de organização de Compras de empresas sediadas nos Estados Unidos da América. Desta forma, o conhecimento da evolução de Compras ocorrida em território norte americano torna-se importante para compreender o desenvolvimento desta Função no Brasil. O quadro 2 apresenta cada um dos períodos da evolução da Função Compras descritos por Handfield et al. (2009). 31 Quadro 2 - Evolução da Função Compras nos Estados Unidos da América Período 1 – Os primeiros anos (1850 – 1900) Ocorre maior interesse e desenvolvimento de Compras impulsionado pelo crescimento das ferrovias nos Estados Unidos. No ano de 1887, o controlador da Chicago e Northwestern Railroad, escreve o livro “The Handling of Railway Supplies - Their Purchase and Disposition”, discutindo a necessidade de conhecimentos técnicos para trabalhar com compras nas organizações. As principais contribuições para história de Compras durante este período consistem em reconhecimento precoce do processo de Compras e sua contribuição para rentabilidade global das organizações. Período 2 – Crescimento dos fundamentos de compras (1900 – 1939) Artigos que tratam especificamente a Função de Compras na industrial começaram a aparecer com maior regularidade, principalmente em revistas de engenharia que chamavam atenção para necessidade de qualificação do pessoal de Compras. A Função Compras ganha importância na aquisição de materiais de guerra durante o período da primeira guerra mundial, principalmente no que diz respeito à aquisição de matérias primas. Período 3 – A guerra (1940-1946) A Segunda Guerra Mundial introduziu um novo período na história da Compra, a ênfase estava na busca por fontes de suprimentos tendo em vista a escassez de materiais. Baixa especificação para compra ou estipulação de marca. Período 4 – Os anos tranquilos (1947 a meados de 1960) Compras ainda não recebe em plena medida a atenção e ênfase que merece, muitas vezes sendo vista como um custo inevitável para os negócios, uma função com pouca contribuição positiva e negligenciada na maioria das organizações por não ser considerada importante para resolução dos principais problemas das empresas à época. Apesar disso, artigos descrevendo as práticas de compras de várias empresas como, por exemplo, Ford Motor Company e General Eletric começam a ser divulgados. A ênfase deste período estava voltada para a demanda satisfatória do consumidor, bem como a existência de uma estabilidade na concorrência atrelada à disponibilidade de materiais diversos. Período 5 – Gestão de matérias (meados de 1960 ao final de 1970) Alto crescimento do conceito de gestão de materiais na década de 1960. Eventos externos, tais como a guerra do Vietnã, resultaram em pressões de preços e escassez de materiais. A indisponibilidade de petróleo no mercado ocorrido na década de 1970 mudou o panorama da Função Compras no mundo. A resposta da indústria veio com a corrida por eficiência na compra e controle de materiais. Setores de Compras buscavam por múltiplas fontes de fornecimento estabelecendo relações de curto prazo, raramente valorizando parcerias de fornecimento. A concorrência de preços foi o principal fator determinante dos contratos de fornecimento. Em geral, a Função foi relegada a segundo plano em muitas empresas americanas durante a crise de 1980 e o surgimento de concorrentes globais. Período 6 – A era global (final dos anos 1970 – 1999) A era global e seu efeito sobre a importância, a estrutura e o comportamento de Compras incluem principalmente: i) intensa concorrência jamais vista na história industrial; ii) empresas globais ganham cada vez mais participação no mercado mundial enfatizando diferentes estratégias, estruturas organizacionais e técnicas de gestão; iii) propagação e velocidade das mudanças tecnológicas durante este período, atreladas aos ciclos de vida cada vez mais curtos dos produtos; e iv) emerge a capacidade de coordenar a atividade de compras em todo o mundo usando redes de dados internas e internacionais: World Wide Web. Este período de intensa competição testemunhou o crescimento da gestão da cadeia de suprimentos. As empresas começaram a ter uma visão mais coordenada de administração do fluxo de mercadorias, serviços, recursos e informação desde os fornecedores até o cliente final. Período 7 – Gestão da cadeia de suprimentos integrada (a partir de 2000) Compras e Supply Chain Management refletem uma ênfase crescente na importância do estabelecimento de parcerias com fornecedores selecionados. Desenvolvimento de fornecedores, parcerias para desenvolvimento de projetos, relacionamento com fornecedores de longo prazo, gestão estratégica de custos, sistemas integrados de gestão (ERP – Enterprise Resource Planning) e uso da internet e dos bancos de dados compartilhados são agora vistos como formas de criar um novo valor na cadeia de suprimentos. O comportamento de Compras está mudando dramaticamente para apoiar os requisitos da nova era de desempenho. É possível chegar a três conclusões sobre Compras no século XXI: i) a reformulação do papel de Compras na econômica global está em curso como resposta aos desafios apresentados pela concorrência à nível mundial, rápida mutação tecnologia e expectativas do cliente; ii) aumento da importância da função do comprador principalmente para as organizações que competem em setores muito concorridos; e iii) Compras deve continuar evoluindo para se tornar mais integrada com as necessidades dos clientes, bem como com as operações, logística, recursos humanos, finanças, contabilidade, marketing e sistemas de informação. Os autores afirmam que esta evolução vai levar tempo para ocorrer totalmente, mas a integração é inevitável. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Handfield et al. (2009). 32 Segundo Braga (2006), por muito tempo a Função Compras foi considerada uma atividade de caráter tático e de cunho administrativo, tendo perfil reativo às decisões tomadas por outros departamentos. O cenário começa a mudar a partir da crise do petróleo 1973-1974: O surgimento da crise do petróleo de 1973-1974 foi marcante para a atuação de compras ou suprimentos, porque a redução de matéria-prima no cenário mundial, decorrente da crise, demandou dessa função uma atitude mais ativa para o ressuprimento das necessidades internas das empresas. (BRAGA, 2006, p.1) O autor também aponta que o uso das ferramentas de planejamento de controle e produção, uso da tecnologia computacional tais como EDI - Eletronic Data Exchange, e-purchase, introdução de conceitos como Just in Time (JIT), gerenciamento da qualidade total, redução do ciclo de produção de novos produtos, dentre outros, também levaram a Função Compras a adotar novas práticas de gerenciamento do setor, elevando sua participação na construção de vantagens competitivas para as organizações. Outro fator importante a ser considerado no desenvolvimento da Função Compras trata-se da evolução dos sistemas de produção e dos sistemas de planejamento e controle a partir da década de 1970, conforme esclarece Neto (2008, p. 29) “Com a evolução dos sistemas de produção e dos sistemas de planejamento e controle, a área de Compras precisa adequar-se a um cenário muito mais dinâmico”. De acordo com Baily et al. (2000), alguns fatores básicos são considerados no aumento pelo interesse das atividades executadas pela Função Compras nas organizações, são eles: a) a crescente busca de fornecedores externos que adotam práticas gerencias mais eficazes; b) a maior especialização tem contribuído para o aumento dos gastos externos; c) o foco no core business aumentou a terceirização de alguns serviços realizados internamente; d) a qualidade, responsividade e eliminação de desperdício na cadeia de suprimentos; e) a maior ênfase estratégica nos suprimentos por parte de algumas organizações; f) a maior interação entre organizações (compradores) e fornecedores (vendedores); g) a maior utilização do intercâmbio eletrônico de dados (EDI – Electronic data interchange); h) a tecnologia da informação possibilitando visão clara da contribuição proporcionada pelas compras e suprimentos. 33 Os autores destacam também alguns fatores externos que afetam o desenvolvimento da Função Compras nas empresas: mudanças dos padrões comerciais; intervenção governamental; concorrência acirrada, demandas do consumidor; inovação e tecnologia. Apesar do exposto, deve-se considerar que “[...] não há dúvida de que há outras variáveis externas, no entanto, específicas a cada organização” (BAILY et al., 2000, p.100). Como fatores internos podem-se citar: níveis e percentagens de gastos em materiais, sistemas integrados, mudanças estruturais nas empresas e mensuração de desempenho. Sendo assim, baseados em Reck e Long (1988), Baily et al. (2000) apresentam quatro estágios estratégicos de desenvolvimento da Função Compras: Quadro 3 - Estágios Estratégicos de desenvolvimento da Função Compras Estágio Passivo Características A Função Compras não apresenta direção estratégica, trabalha passivamente atendendo solicitações de outras Funções. As principais características desses estágios estão voltadas para elevado gasto de tempo com operações rotineiras, pouca comunicação interfuncional, preço e disponibilidade são as bases das negociações de aquisição. Independente Apesar de adotar técnicas e práticas mais recentes, a direção estratégica de Compras é independente da estratégia competitiva da empresa. Redução de custos e medidas de eficiência são as bases do desempenho da área de Compras. Função Compras é reconhecida como importante para alcançar a rentabilidade. Apoiador A Função Compras fortalece a posição competitiva da empresa ao adotar técnicas e práticas voltadas para este fim. Fornecedores são desenvolvidos, constante monitoramento e análise de mercados, produtos e fornecedores. Integrativo A Função Compras possui estratégia totalmente integrada com a estratégia competitiva da empresa e faz parte de um esforço conjunto entre os funcionários para formular e implementar um plano estratégico. Comunicação permanente entre as outras áreas funcionais e desempenho mensurado em termos de contribuições para o sucesso da empresa. Fonte: Adaptado de Baily et al. (2000). Este modelo recebe críticas por apresentar apenas quatro estágios e as variáveis não serem operacionais, entretanto oferece oportunidade em termos gerais para indicar os estágios de desenvolvimento da Função Compras nas organizações. Baily et al. (2000) esclarecem que a Função Compras é muito afetada pelo estágio de desenvolvimento que atingiu na organização. A mensuração do estágio de desenvolvimento de uma organização de Compras pode indicar se ela está preparada para as necessidades do mercado. Quanto mais desenvolvida, maior a probabilidade de Compras ser uma Função estratégica interfuncional que agrega valor e cria vantagem competitiva para a organização. 34 Por sua vez, apoiado em Person e Gritzmacher (1990), Braga (2006) contribui ao expor que o perfil das atividades desenvolvidas nos setores de Compras pode indicar seu posicionamento dentro da organização conforme indica o quadro 4: Quadro 4 - Posicionamento da Função Compras Estrutura organizacional Percepção organização da Acesso à informação Fatores empregados na decisão sobre escolha de fornecedores Rede e relacionamento com fornecedores Gerenciamento estratégico Tecnologia informação de Posicionamento Tático (operacional) Baixa visibilidade, extensa cadeia de comando onde a informação trafega por diversos níveis até chegar aos altos gerentes. Grande tráfego de papel, processo burocrático, baixa comunicação com outros setores, atividades ineficientes. Exposição limitada a relatórios críticos e reuniões. Função administrativa em que a tomada de decisão é principalmente baseada em preço. Trabalho com muitos fornecedores e relacionamento antagônico, do tipo “queda de braço”. Inexistência de iniciativa de direção à classificação das categorias (famílias) dos materiais e serviços adquiridos. Todos os itens são tratados da mesma forma. Baixo índice do emprego de tecnologia na condução das práticas de aquisição. Posicionamento Estratégico Alta visibilidade, direta subordinação à alta gerência. Função proativa, importante para a competitividade da empresa, gerenciamento eficaz do suprimento de materiais. Acesso amplo ao banco de informações geradas internamente e externamente. Os profissionais do setor são treinados para efetuar análises a respeito da saúde financeira dos fornecedores, capacidade técnica e possibilidade de se tornar um parceiro com fornecimento de longo prazo. Trabalho com poucos fornecedores e relacionamento estreito em ambiente cooperativo. O gerente é um estrategista sobre os materiais adquiridos, considerando a disponibilidade do mercado fornecedor, importância do item e volume de recursos empregados na aquisição. Utilização dos recursos de transmissão eletrônica de dados, usos de sistemas ERP (Enterprise Resource Planning), de Internet para pesquisa, uso de leilão online, de portais de compras, uso de intranet para agilizar a comunicação interna e extranet para contato com fornecedores chaves. Fonte: Braga (2006, p.3) 2.1.1.1 Visões tradicional e estratégica de Compras O desenvolvimento da Função Compras revela duas visões: tradicional e estratégica. A Função Compras na visão tradicional, está ligada a um processo com foco voltado apenas para o ato de comprar, sempre privilegiando a relação maior volume pelo menor custo. Neste processo, a relação entre vendedores e compradores torna-se predominantemente competitiva, pouco duradoura, desvirtuando o conceito de negociação. De acordo com Mello (2007) e Junior (2011), relacionamentos competitivos podem levar a relações do tipo perde/ganha, ou seja, para um negociador ganhar outro deve perder. As atividades executadas para realizar compras na visão tradicional podem favorecer este tipo de negociação, principalmente por valorizar extremamente a redução de custos de aquisição, independente da importância do fornecedor 35 para a organização. Compras na perspectiva tradicional reforça o caráter reativo de suas atividades. Algumas etapas tradicionais do processo de compras podem ser citadas, tais como: receber e analisar requisições de compras; selecionar fornecedores; negociar preços; emitir pedidos de compra; acompanhar pedidos; receber mercadorias; baixar pedidos atendidos. Por sua vez, conforme evidencia Dias (2005), trabalhar com foco estratégico na aquisição de materiais para angariar maiores retornos ganha importância nas organizações a partir da década de 1980 quando a competitividade dos mercados se torna acirrada. Martins e Alt (2011, p. 86) afirmam “Os objetivos de compras devem estar alinhados aos objetivos estratégicos da empresa como um todo, visando o melhor atendimento ao cliente externo e interno”. Nesta perspectiva, Junior (2011) avalia que relacionamentos duradouros geralmente decorrem de relações cooperativas, em que deve imperar a colaboração em prol do estabelecimento de negociações do tipo ganha/ganha, logo, negociadores buscam acordos mutuamente satisfatórios para as partes. Algumas etapas na visão estratégica do processo de compras podem ser citadas, tais como: contribuir para o planejamento da demanda; planejar aquisições; promover parcerias e desenvolver fornecedores; estabelecer negociações cooperativas; gerenciar custos de aquisições; gerenciar emissão de requisições de compra; participar do processo de tomada de decisão. As etapas do processo de compras na visão tradicional e estratégica estão descritas no quadro 5. Quadro 5 - Etapas do processo de compras Principais etapas do processo de compras Visão Tradicional Visão Estratégica Receber e analisar requisições de compras Contribuir para o planejamento da demanda Selecionar fornecedores Planejar aquisições Negociar preços Promover parcerias e desenvolver fornecedores Emitir pedidos de compra Estabelecer negociações cooperativas Acompanhar pedidos Gerenciar custos de aquisições Receber mercadorias Gerenciar emissão de requisições de compra Baixar pedidos atendidos Participar do processo de tomada de decisão Fonte: Elaborado pelo autor com base em Baily et al. (2000) As visões tradicional e estratégica do processo de compras remetem a atividades exercidas de forma reativa e proativa, respectivamente. Baily et al. (2000) apontam que a Função Compras tem evoluído nas organizações, passando de uma área reativa, focada no atendimento das necessidades de outros setores, para uma posição proativa, plenamente integrada na estratégia competitiva da empresa. O papel reativo de Compras caracteriza um relacionamento meramente transacional, voltado para a simples negociação de compra e venda muitas vezes pautada em processos de 36 negociação do tipo ganha/perde, onde uma das partes envolvidas na negociação obtém maior vantagem sobre a outra. Gonçalves (2010) aponta que nos órgãos de Compras há uma carência de atitudes com visão estratégica, já que, frequentemente, o departamento de Compras vive apagando “incêndios” ao invés de estudar e analisar a evolução dos mercados, seus impactos conjunturais, com vistas a dominar a dinâmica dos eventos futuros. Por sua vez, o papel proativo de Compras representa um relacionamento mútuo, alinhado estrategicamente aos objetivos da empresa, uma interação entre comprador e fornecedor que tem por base ações que promovam o relacionamento de longo prazo, tais como cooperação, compartilhamento de tecnologias, desenvolvimento de novos produtos e projetos, consórcios, dentre outros. Baily et al. (2000, p. 38) afirmam: “Uma operação de compras estratégica proativa pode dar à organização uma vantagem competitiva ao reduzir o desperdício na cadeia de valor”. Quadro 6 - Compras reativas versus Compras proativas Compra Reativa Compra é um centro de custo Compra recebe especificações Compra rejeita materiais defeituosos Compras subordina-se a finanças ou à produção Os compradores respondem as condições do mercado Os problemas são de responsabilidade do fornecedor Preço é variável-chave Ênfase no hoje Sistema independente de fornecedores As especificações são feitas por designers ou usuários Negociações ganha-perde Muitos fornecedores = segurança Estoque Excessivo = segurança Informação é poder Fonte: Baily et al. (2000, p. 20) Compra Proativa Compras pode adicionar valor Compras (e fornecedores) contribuem para as especificações Compras evita materiais defeituosos Compras é importante função gerencial Compras contribui para o desenvolvimento de mercado Os problemas são responsabilidade compartilhada O custo total e o valor são variáveis-chaves Ênfase estratégica O sistema pode ser integrado ao sistema dos fornecedores Compradores e fornecedores contribuem para as especificações Negociações ganha-ganha Muitos fornecedores = perda de oportunidades Excesso de estoque = desperdício A informação é valiosa se compartilhada Lima (2004) pondera ao defender que Compras reativas e proativas não são excludentes tendo em vista que a área de Compras nas organizações adota, pelo menos em parte, uma postura reativa. O autor cita exemplo das montadoras de automóveis quando da aquisição de produtos ou serviços de fornecedores pré-estabelecidos pela matriz mundial, e também no caso em que as especificações técnicas de peças e componentes fazem com que a área de Compras se submeta à área de engenharia que tem poder para vetar o fornecedor. Entretanto, a dinâmica 37 do relacionamento com o compartilhamento de informações entre a montadora e o fornecedor no processo faz com que as características do papel proativo de Compras sejam mantidas. 2.1.2 Objetivos da Função Compras Baily et al. (2000) afirmam que os objetivos de Compras podem diferir de uma organização para outra. Tal fato é reforçado pelos diferentes objetivos de Compras expostos na literatura e por afirmações como a proferida por Gonçalves (2010, p. 248), “É evidente que as características específicas de cada empresa vão definir organizacionalmente onde Compras ficará situada dentro da estrutura da empresa”. Nota-se que os objetivos do setor de Compras nas organizações podem revelar algumas variáveis a serem consideradas no processo de decisão, tais como o preço e qualidade. Tendo os objetivos como fim que se deseja atingir, e/ou a meta que se pretende alcançar, Leenders et al. (2006) apresentam o que, de forma geral, seriam os principais objetivos de Compras nas organizações em prol do fluxo contínuo de materiais e favorecimento do posicionamento competitivo da organização. Por sua vez, Gonçalves (2010) sugere que os objetivos de Compras devem garantir que materiais e serviços exigidos sejam fornecidos nas quantidades corretas, com qualidade, no tempo desejado. Pozo (2010) apresenta uma visão de Compras como suporte à logística atrelada aos objetivos estratégicos da empresa, em que os seus objetivos devem contribuir para a empresa vencer e dominar mercados. Dias (2005) defende que os objetivos do departamento de Compras, por si só, apresentam a importância da Função Compras como fator de obtenção de vantagem competitiva. Baily et al. (2000) apresentam uma definição ampla dos objetivos de Compras voltada para aspectos gerais que contribuem para o posicionamento estratégico da atividade, bem como uma definição especifica de objetivos de Compras voltada para as atividades cotidianas do setor. O quadro 7 a seguir agrupa os objetivos de Compras defendidos por cada autor: 38 Quadro 7 - Objetivos de Compras DEFINIÇÃO AMPLA - APLICADA SOMENTE PARA BAYLE et al. (2000) (continua) Baily et al. (2000) Dias (2005) Leenders et al. (2006) Negociar menores preços possíveis na aquisição de bens e serviços. Suprir a organização com um fluxo seguro de materiais e serviços para atender suas necessidades. Atender os programas de produção com fluxo contínuo de suprimentos. Assegurar continuidade de suprimento para manter relacionamentos efetivos com fontes existentes, desenvolvendo outras fontes de suprimentos alternativas, ou para atender a necessidades emergentes ou planejadas. Comprar eficiente e sabiamente, obtendo por meios éticos o melhor valor por centavo gasto. Coordenar o fluxo de forma que seja aplicado um mínimo de investimento que afete a operacionalidade da empresa. Promover a padronização dos itens adquiridos. Comprar matérias e insumos aos menores preços, obedecendo a padrões de quantidade e qualidade definidos. Investir no desenvolvimento e capacitação da mão de obra envolvida na área de Compras. Administrar estoques para proporcionar o melhor serviço possível aos usuários e ao menor custo. Negociar de forma justa e honrada as melhores condições para a empresa, principalmente em condições de prazos de pagamento. Zelar pelo padrão de qualidade. Gonçalves (2010) Comprar de forma eficiente, maximizando o ganho para a empresa, dentro dos padrões éticos. Garantir o suprimento dos materiais, nas quantidades e nos prazos exigidos pelos usuários. Criar e desenvolver de forma permanente e intensiva um cadastro de fontes de suprimentos que dê garantias quanto ao fluxo de materiais e serem abastecidos nas empresas. Manter uma boa articulação tanto internamente nas empresas, quanto com o mercado em geral e, especialmente, com o mercado fornecedor dos insumos e produtos exigidos pela empresa. Pozo (2010) Permitir continuidade de suprimentos para o perfeito fluxo de produção. Coordenar os fluxos com mínimo de investimentos em estoques e adequado cumprimento dos programas. Compras materiais e produtos aos mais baixos custos, dentro das especificações predeterminadas em qualidade, prazos e preços. Evitar desperdícios e obsolescência de materiais por meio de avaliação e percepção do mercado. 39 Quadro 7 - Objetivos de Compras DEFINIÇÃO ESPECÍFICA - APLICADA SOMENTE PARA BAYLE et al. (2000) DEFINIÇÃO APLICADA AMPLA SOMENTE PARA BAYLE et al. (2000) (conclusão) Baily et al. (2000) Dias (2005) Leenders et al. (2006) Estabelecer fluxo ininterrupto de materiais e serviços utilizados na operação da empresa. Gonçalves (2010) Criar rotinas e procedimentos dentro dos processos de aquisição que sejam ágeis e que permitam um efetivo controle de todo o processo. Manter relacionamentos cooperativos sólidos com outros departamentos, fornecendo informações e aconselhamentos necessários para assegurar a operação eficaz de toda a organização. Desenvolver funcionários, políticas, procedimentos e organização para assegurar o alcance dos objetivos previstos. Selecionar os melhores fornecedores do mercado. - - Estoque e desperdício devem ser mantidos em níveis mínimos. - - Promover integração nos relacionamentos com outras áreas da organização. Elevar posicionamento competitivo da organização. Alcançar os objetivos de compras com menor custo administrativo possível. - - Manter Parcerias com os fornecedores para crescer junto com a empresa. - Ajudar a gerar o desenvolvimento eficaz de novos produtos. - - - Proteger a estrutura de custo da empresa. - - - Pozo (2010) Permitir à empresa uma posição competitiva, mediante negociações justas e credibilidade. Manter o equilíbrio correto de qualidade/valor. Monitorar as tendências do mercado de suprimentos. Negociar eficazmente para trabalhar com fornecedores que buscarão benefício mútuo por meio de desempenho economicamente superior. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Baily et al. (2000), Dias (2005), Leenders et al. (2006), Gonçalves (2010) e Pozo (2010). Diferentes enfoques quantos aos objetivos de Compras são apresentados, mas que em suma visam à redução do custo de aquisição; maior integração com demais áreas e com fornecedores; alinhamento estratégico; e aumento de competitividade da empresa. Assim como as 40 organizações, os objetivos de Compras também evoluem e podem evidenciar variáveis a serem analisadas no processo de decisão de compra. 2.1.3 Estruturação da Função Compras Gonçalves (2010) informa que o setor de Compras nas organizações deve operar com processos de compras bem estruturados a fim de realizar aquisições de bens e serviços dentro dos padrões esperados, reduzindo o desperdício e o custo de não conformidades, bem como promover economia no processo de produção, na operação e na manutenção de uma empresa competitiva. Segundo o autor é imperativo reestruturar objetivos e rever estratégias de Suprimentos. Esta reestruturação deve levar em conta o tamanho e estrutura da empresa, pressões externas e internas, bem como ameaças naturais, políticas, financeiras, dos mercados, tecnológicas e dos avanços industriais. Para Dias e Costa (2012), a falta de um processo de compras com regras claras, com atividades bem definidas, adequadamente monitorado e alinhado com as estratégias, pode prejudicar a empresa em relação ao alcance de seus objetivos. Trabalhar sem planejamento, contudo, é tarefa impraticável, que não tem lugar em empresas efetivamente vencedoras. Por conseguinte, os profissionais de compras, além de planejar as próprias ações, precisam fazer com que elas sejam inseridas também no planejamento global da instituição. (DIAS; COSTA, 2012, p. 25) Corroborando com o pensamento dos autores supracitados, Pozo (2010, p. 139) afirma “Para que haja sucesso no processo de aquisição, é necessário que a empresa tenha uma eficaz condução do setor de compras”. O autor ainda defende que: A organização do setor de compras ou suprimentos visa não só a seu desempenho como um sistema mas também, principalmente, a sua interação com os demais setores da empresa e com o mercado; fornecedores, entidades governamentais, públicas, privadas e classes sociais. (POZO, 2010, p. 139) Para o autor, o atendimento às especificações de qualidade, comprar na quantidade desejada, preços baixos, assistência técnica garantida, prazos de entrega e condições de pagamento que permitam a maximização dos lucros e a redução dos custos da empresa tratam-se de alguns dos procedimentos normais de compras. Algumas atividades frequentemente executadas no 41 departamento de Compras e que devem ser consideradas para sua estruturação são elencadas no quadro 8. Quadro 8 - Atividades executadas nos departamentos de Compras Informação Básica Pesquisa de suprimentos Administração de materiais Sistema de aquisição Atividades compartilhadas com outros setores Controle e registro de fornecedores Controle e registro de compras Controle e registro de preço Controle e registro de especificações Controle e registro de estoques Controle e registro de consumo Controle e registro de catálogo Controle e registro de econômicos Estudo de mercado Especificações de materiais Análise de custos Análise financeira Desenvolvimento de novos fornecedores Desenvolvimento de novos materiais Qualificação de fornecedores Garantir atendimento das requisições Manutenção de estoques Evitar excesso de estoques Melhorar giro de estoques Garantir transferência de materiais Padronizar embalagens Elaborar relatórios Negociar Contratos Efetivar as compras Analisar cotações Analisar requisições Analisar condições dos contratos Verificar recebimento dos materiais Conferir fatura de compra Contatar vendedores Negociar redução de preços Relacionamento interdepartamental Padronização Normatização Projetos de produção Controle de estoques Testes de novos produtos Diretrizes de reciprocidade Especificação de fornecedores Definir entre comprar e fabricar Contratar seguros e sistema de transportes Fonte: Adaptado de Pozo (2010) O estabelecimento de responsabilidades e grau de autoridade funcional são as primeiras questões a serem discutidas em um processo de estruturação de Compras, seja ele industrial, pública, empresa de serviços, dentre outras. Gonçalves (2010) aponta a existência de grande variação no contexto organizacional em relação a Função Compras. Em muitas empresas Compras está subordinada à área administrativa financeira, entretanto pode ser um departamento subordinado a área de Produção, Logística, Diretoria Industrial. Essa posição de subordinação impacta diretamente na forma e abrangência de atuação da Função Compras, 42 principalmente em relação à integração dos seus objetivos específicos e objetivos de longo prazo das organizações. O processo de estruturação da Função Compras nas organizações deve considerar a possibilidade de centralização e descentralização. Para Dias e Costa (2012), a existência de várias unidades da empresa em diferentes locais físicos, com razoável distância geográfica entre elas, levanta a discussão em torno de dispor de somente um departamento de Compras centralizado em uma das unidades da empresa ou dispor de microssetores de compras em cada unidade. Baily et al. (2000, p. 75) afirmam: “A dois grupos de empresas ou grandes organizações que operam vários estabelecimentos adotam algum compromisso entre a compra centralizada e a compra local, visando balancear as vantagens da força dessa flexibilidade”. Para os autores as empresas têm três alternativas: descentralizar totalmente as compras; centralização total das compras em um único escritório; uma combinação das duas. Cada alternativa apresenta suas vantagens e desvantagem; e o tamanho da organização, ramo de atuação e volume de atividades influenciará diretamente nesta escolha: Quadro 9 - Vantagens das Compras centralizadas e Compras descentralizadas (continua) Autor Baily et al. (2000) Vantagens Compras Centralizadas A economia obtida pela consolidação dos pedidos melhora o poder de negociação da área de Compras e facilita os relacionamentos com os fornecedores. Compras Descentralizadas O comprador local conhece mais as necessidades de sua fábrica ou unidade específica, os fornecedores locais, o transporte e as instalações de estocagem. Evita as anomalias de preços entre as unidades do grupo e a concorrência entre elas por materiais escassos; Ele está em condições de responder mais rapidamente às emergências, parcialmente em razão de linhas de comunicação mais simples e por conhecer mais as circunstâncias locais do que alguém que esteja há muitos quilômetros de distância. Melhor administração global de estoques e utilização de materiais. Menor número de funcionários envolvidos com compras, uniformidade de procedimentos, formulários, padrões e especificações. A responsabilidade direta do comprador local perante seu chefe imediato permite maior vínculo e controle da alta administração local, principalmente quando se opera com um centro de custo. 43 Quadro 9 - Vantagens das Compras centralizadas e Compras descentralizadas (conclusão) Autor Vantagens Compras Centralizadas Permite manter um melhor controle global; A econômica de escala é obtida em compras centralizadas mediante negociações para a contratação de fornecimentos de grande vulto. Gonçalves (2010) É possível otimizar a utilização do pessoal por meio da redução do quadro funcional. Evita a concorrência danosa entre os compradores regionais e as disparidades de preços de aquisição de um mesmo material por compradores diversos. Compras Descentralizadas Permite uma maior autonomia funcional das unidades regionais. Permite uma maior flexibilidade e sensibilidade na solução dos problemas regionais, pelo conhecimento abrangente do problema pela regional interessada, assim como melhor conhecimento das fontes de suprimento, meios de transporte e armazenamento mais próximos da região. Permite responder mais rapidamente necessidades de aquisição emergencial. às Exerce um melhor gerenciamento de suas funções e suas necessidades, além de permitir um melhor controle. O aumento do volume a ser adquirido proporciona maior poder de negociação para o comprador, principalmente em decorrência dos benefícios de economia de escala, na fabricação e na venda dos produtos. Dias e Costa A centralização das aquisições implica um único preço para cada item independentemente da localização geográfica, garantindo uniformidade nesse quesito. (2012) Oferecer melhor gestão dos estoques, garantia pelo maior controle sobre o volume global dos materiais. A presença física do comprador na unidade propicia maior afinidade do profissional com os problemas locais de abastecimento. Garante maior agilidade no atendimento das necessidades da sua própria unidade. Apresenta resposta mais rápida nas aquisições em condição de urgência ou emergência. Impõe maior autoridade e responsabilidade para a administração local. Assegurar melhor condição de atendimento em situações de escassez do mercado fornecedor. Estabelecer homogeneidade nos procedimentos gerais da empresa. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Baily et al. (2000), Gonçalves (2010) e Dias e Costa (2012) Outra questão importante que também deve ser considerada na estruturação da Função Compras na organização está na decisão de fabricar ou comprar. “As decisões de fabricar ou comprar referem-se ao suprimento de materiais, bens ou serviços. Envolvem a escolha entre produzir os materiais e os bens e serviços internamente, ou comprá-los de uma fonte externa à organização” (BAILY et al., 2000, p. 269). Estas decisões podem ser tomadas tanto no âmbito operacional, tático ou estratégico. Em alguns casos, tal decisão pode significar o sucesso ou fracasso da organização já que podem afetar profundamente a natureza do negócio, as habilidades e o número de funcionários, o estilo gerencial e a posição competitiva da organização. 44 “Há métodos consagrados para a busca da melhor decisão em termos de fabricar ou comprar materiais?” (DIAS; COSTA, 2012, p. 180). Os autores, após a análise de vasta literatura, defendem que tal decisão deve respeitar alguns fatores que vão além da análise pura e simples financeira, são eles: a) importância estratégica do material e/ou serviço; b) capacidade instalada do mercado fornecedor comparativamente à da empresa compradora; c) necessidade de curto, médio e longo prazo; d) tendência do mercado nacional e internacional; e) política governamental; f) alteração na legislação concernente ao produto e/ou mercado em questão; g) constante variação de preços; h) ofensiva contra práticas abusivas de monopólios ou cartéis; i) concentração da energia interna no negócio de sua competência; j) estratégia contra espionagem industrial. Alguns aspectos gerais e relacionados a custos também devem ser analisados antes da decisão entre produzir ou comprar: ASPECTOS GERAIS Quadro 10 - Aspectos relacionados a custos em produzir ou comprar (continua) Fatores que contribuem para a decisão de fabricar matérias internamente Custo menor que o do mercado fornecedor. Desejo de integrar a operação de plantas industriais da empresa. Uso de excesso da capacidade produtiva de uma planta, como forma de absorver custos fixos. Necessidade de exercer controle direto sobre a produção e/ou qualidade. Necessidade de segredo de design. Desconfiança em relação aos fornecedores. Desejo de manter a estabilidade da força de trabalho (em períodos de declínio de vendas). Fatores que contribuem para decisão de comprar os materiais no mercado fornecedor Utilização do trabalho de pesquisa e do conhecimento especializado dos fornecedores. Custo menor que o de fabricar o material internamente. Necessidade de pequenos volumes do item. Recurso limitado de produção. Desejo de manter a estabilidade da força de trabalho (em períodos de aumento de vendas). Desejo de manter várias fontes de abastecimento. Possibilidade de manter controle indireto sobre o gerenciamento. Consideração sobre as compras e os estoques. 45 Quadro 10 - Aspectos relacionados a custos em produzir ou comprar (conclusão) ASPECTOS RELACIONADOS AO CUSTO Fatores de custo a serem analisados em relação a Fabricar Custos diretos envolvidos na fabricação. Custos decorrentes da paralisação causada por qualidade e outros problemas. Custos de estocagem em ascensão. Custos fixos de fabricação. Custos de gerenciamento da operação. Custos do capital envolvido. Fatores de custo a serem analisados em relação a Comprar Custos de compra dos itens. Custo de transporte. Custo de recebimento e inspeção. Custos decorrentes da qualidade ou do serviço associado. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Dias e Costa (2012). “Independente da decisão tomada, cabe ressaltar que a participação da área de Compras é de vital importância para o sucesso da empreitada” (DIAS; COSTA, 2012). Caso a área/setor de Compras não seja envolvida neste processo, as chances de fracasso serão enormes. 2.1.3.1 Fluxo básico de compra Como visto, fatores como tamanho da empresa, mercado de atuação, volume de atividades são determinantes para a estruturação dos processos em um setor de Compras, sendo assim, Dias e Costa (2012, p. 57) defendem que: A realização das atividades concernentes à aquisição de bens e serviços precisa obedecer a uma dinâmica comum. Não é admissível que cada profissional de compras conduza os processos sob seus cuidados em conformidade com o seu senso ou seu julgamento particular. Os autores supracitados apontam que a uniformidade dos procedimentos de compra está vinculada à definição de uma sequência lógica ideal, capaz de garantir agilidade às aquisições, sem comprometer as necessidades de garantia de segurança e probidade na condução dos processos. Este fluxo de atividades deve considerar as necessidades de cada empresa e estabelecer as atividades que cada área envolvida no processo deve executar para que a aquisição de bens e serviços possa ser executada com eficácia. Ressalta-se que em cada fase de um fluxo de compra envolve determinada competência de decisão por partes dos profissionais envolvidos no processo. A utilização e divulgação de um fluxo básico de compra bem definido permite eliminar dúvidas entre os envolvidos na consecução da aquisição, desde os clientes internos aos responsáveis pela compra. Tal fluxo deve ser de conhecimento de todas as áreas da empresa, descrevendo as 46 etapas indispensáveis ao atendimento da solicitação, bem como as responsabilidades de cada agente do processo. Dias e Costa (2012, p. 59) ainda afirmam: Essa providência poupa a área de Compras de diversos desgastes em relação àqueles solicitantes que consideram insatisfatório o trabalho desenvolvido na área, mas, na prática, desconhecem o caminho a ser seguido para a realização de compra ou contratação de serviço. Diante do exposto, Dias e Costa (2012) apresentam oito medidas básicas para ordenar os procedimentos de compra, desde o instante da detecção da necessidade de compra até o atendimento do pedido e posterior pagamento ao fornecedor. Tais medidas não tomam proporção de leis na literatura, mas contribuem para iniciar o fluxo de compras de forma simples e eficiente, além de contribuir favoravelmente para o processo de análise das variáveis envolvidas no processo de compra, são elas: 1) identificação da necessidade de aquisição: o próprio setor de Compras identifica a necessidade de aquisição de um bem ou serviço, ou é comunicado de tal necessidade por outros setores; 2) consulta ao mercado: considerando as especificações do bem ou serviço a ser adquirido, o profissional de compras consulta o mercado fornecedor em relação as condições gerais de fornecimento (preço, prazo de entrega, especificações técnicas, etc.); 3) efetivação da aquisição ou contratação: a proposta que melhor atender as exigências de fornecimento é selecionada, e são colhidas às aprovações de compras necessárias; 4) emitir pedido de compra ou contrato de fornecimento: ocorre o envio do pedido de compra ao fornecedor, bem como a documentação necessária para o início do fornecimento ou prestação de serviço; 5) realizar follow up ou diligenciamento: acompanhar se o bem ou serviço está sendo entregue ou prestado conforme as condições de fornecimento negociadas; 6) realização do fornecimento: trata-se da finalização da entrega do bem ou serviço prestado, inspeção final garante o atendimento das condições contratuais; 7) colocar o material a disposição dos interessados: uma vez inspecionado e aprovado o material; 8) realizar pagamento ao fornecedor: encerramento do processo após o pagamento dos valores estabelecidos no pedido, dentro dos prazos de estabelecidos. 47 A literatura especializada (ARNOLD, 1999; LAMBERT, STOCK e VANTINE, 1999; BAILY et al., 2000; GAITHER e FRAZIER 2005; LOPES, SOUZA e MORAES, 2006; MARTINS e ALT, 2009; SLACK et al., 2009; GONÇALVES, 2010; POZO, 2010; DIAS e COSTA, 2012) não aponta um fluxo rígido, único e universal de processos de compras que seja capaz de suprir as necessidades de toda e qualquer empresa independente do seu ramo de atuação. Os autores propõem alternativas e apresentam conceitos que devem ser considerados na definição da estratégia de compra e do fluxo operacional das atividades, dando oportunidade para que cada organização possa adaptar seus objetivos e procedimentos de compras à sua realidade. Arnold (1999, p. 209) defende que a Função Compras “[...] é responsável pelo estabelecimento do fluxo de materiais na firma, pelo seguimento junto ao fornecedor, e pela agilização da entrega”. Segundo o autor o ciclo de compras consiste nas seguintes etapas contidas na figura 1: Figura 1 - Processo de compras - Arnold (1999) Fonte: Elaborado pelo autor com base em Arnold (1999). 48 Lambert, Stock e Vantine (1999) apontam não ser necessário passar por todas as etapas do processo de compra a não ser que a decisão seja totalmente nova. Se tratar de uma compra de rotina, várias etapas podem ser eliminadas. Os autores sugerem as seguintes etapas para o processo de compra: Figura 2 - Processo de compras - Lambert, Stock e Vantine (1999) Fonte: Elaborado pelo autor com base em Lambert, Stock e Vantine (1999). O estabelecimento de critérios de compra e uso (etapa 2), usar (etapa 8) e realizar a avaliação pós compra (etapa 9), foram alocados no próprio setor de Compras, tendo em vista que os autores não informam a participação de outros departamentos nas etapas de compras. 49 Para Baily et al. (2000), encontrar a fonte de suprimentos adequada é fundamental. Desta forma apresenta um fluxo de compra que privilegia a seleção correta da fonte de suprimento, tendo em vista que a partir da emissão do pedido de compra o fluxo das atividades deve considerar as particularidades da empresa. Figura 3 – Processo de compras - Baily et al. (2000) Fonte: Elaborado pelo autor com base em Baily et al. (2000, p. 188). 50 Gaither e Frazier (2005) apresentam o fluxo de aquisição de materiais com base em sistemas de produção enfatizando a interação entre os departamentos de Produção, Compras e Fornecedores. Os autores alertam para existência de certa variação desses procedimentos entre as organizações e entre diferentes tipos de produtos. Figura 4 - Processo de compras - Gaiher e Frazier (2005) Fonte: Gaither e Frazier (2005, p. 434). 51 O processo de aquisição é a rotina diária da Função Compras, que pode ser apoiado por um ERP (Enterprise Resource Planning), logo deve estar estruturada de forma a permitir um fluxo contínuo de atividades que se inicia com uma solicitação de compra e termina com o pagamento da compra. Lopes, Souza e Moraes (2006) propõem um fluxo com as principais atividades no ciclo de compras, conforme apresentado na figura 5. Figura 5 - Processo de compras - Lopes, Souza e Moraes (2006) Fluxograma de atividades para compras Usuário INÍCIO Setor de compras Selecionar fornecedores para cotação de preços. Realizar a solicitação de cotação nos fornecedores A, B, C. Emite requisição de compra. Comparar as cotações. Escolher o fornecedor. Emitir ordem de compra. Acompanhar Ordem de compra. Receber a Ordem de compra. Autorizar pagamento junto ao financeiro. FIM Fonte: Elaborado pelo autor com base em Lopes, Souza e Moraes (2006). 52 Para Martins e Alt (2009, p. 107) “É evidente que para algumas empresas o suprimento de materiais é mais importante que para outras [...] uma empresa industrial média gasta mais da metade de seu faturamento em compras de matérias ou serviços”. Desta forma, segundo os autores, toda empresa tem seus procedimentos de compra que podem ser representados pelo fluxograma típico de compras apresentado na figura 6. Figura 6 - Processo de compras - Martins e Alt (2009) Fonte: Martins e Alt (2009, p. 131). 53 Slack et al. (2009) destacam em seu trabalho a importância da interação entre a empresa compradora e seus fornecedores. Os autores enfatizam que a Função Compras é a responsável por promover essa interação. Uma sequência de atividades, mesmo que simplificada, deve ser seguida como forma de realizar a gestão eficaz das compras, como pode ser observado na figura 7. Figura 7 - Processo de compras - Slack et al. (2009) Fonte: Slack et al. (2009, p. 308). 54 Gonçalves (2010), também enfatiza que as atividades de um processo de compra podem ser realizadas através do suporte da tecnologia da informação, mais especificamente por meio do uso de ERP. Em linhas gerais, o processo de compra se desenvolve seguindo uma rotina preestabelecida conforme fluxo de atividades proposto pelo autor. Figura 8 - Processo de compras - Gonçalves (2010) Fluxograma de atividades para compras Orgão requisitante Setor de compras INÍCIO Buscar por autorização para compra segundo normas da empresa. Emissão da requisição de compra que reflita as necessidades de reposição de material. Realiza pedido automático para materiais padronizados; emite pedido de compra para fornecedores previamente contratados ou solicita coleta de preço no mercado. Analisa cotações recebidas e escolhe o fornecedor que deverá ser contratado respeitando preços, acondicionamento, transporte, etc). Emitir contrato de fornecimento para fabricação, expedição, despacho do material. Recebe o material com a respectiva nota fiscal; realiza inspeção de qualidade e contagem do material; e comunica ao usuário do material e/ou gestão de estoques. Autoriza o pagamento junto ao departamento financeiro. FIM Fonte: Elaborado pelo autor com base em Gonçalves (2010). 55 Pozo (2010) trata a administração de recursos materiais e patrimoniais sobre uma abordagem logística. Desta forma, defende que a visão moderna de Compras está relacionada com sistema logístico empresarial que trabalha com vistas a obter uma operação lucrativa e manutenção de uma posição competitiva no mercado. O autor defende que o setor de Compras tem responsabilidade preponderante nos resultados de uma empresa no que diz respeito a suprir a organização com recursos materiais necessários a manutenção de suas atividades, entretanto defende um fluxo de atividades de compras extremamente simplificado. Figura 9 - Processo de compras - Pozo (2010) Fluxograma de atividades para compras Setor de compras INÍCIO Solicitação de compras. Coleta de preços. Análise dos preços. Pedido de compras. Acompanhamento do pedido. FIM Fonte: Elaborado pelo autor com base em Pozo (2010). 56 Por sua vez, retomando Dias e Costa (2012, p. 57), a garantia da uniformidade dos procedimentos de compra está associada à “definição de uma sequência lógica ideal de atividades, capaz de assegurar agilidade às aquisições sem, contudo, comprometer as necessidades de garantia de segurança e probidade na condução dos processos”. Sendo assim, as medidas básicas para ordenar os procedimentos de compra encontram-se ordenadas conforme segue na figura 10. Figura 10 - Processo de compras - Dias e Costa (2012) Fluxograma de atividades para compras Área requisitante INÍCIO Etapa1 Identificação da necessidade de aquisição e comunicação ao departamento de compras. Setor de compras Etapa 2 Realização de consulta ao mercado fornecedor sobre as condições gerais de fornecimento. Etapa 3 Efetivação da aquisição ou contratação da proposta selecionada conforme exigencias de fornecimento e aprovada. Etapa 4 Emissão do pedido de compra ou contrato autorizando a entrega do material ou prestação do serviço. Etapa 5 Realização do Follow up ou diligenciamento da entrega. Etapa 6 Recebimento do material comprado ou serviço contratado e realização da inspeção. Etapa 7 O material inspecionado e aprovado é colocado a disposição dos interessados. Etapa 8 É realizado o pagamento ao fornecedor conforme valores e prazo de pagamento estabelecido. FIM Fonte: Elaborado pelo autor com base em Dias e Costa (2012). 57 Os fluxogramas de compra apresentados ratificam a inexistência de um fluxo rígido, único e universal para conduzir a compra de produtos e serviços nas organizações. A utilização de determinado fluxo, remete a tentativa de estabelecer procedimentos que visão garantir a realização de uma compra respeitando determinadas etapas pré-determinadas conforme a necessidade de cada organização. A comparação entre os fluxos apresentados revela o pensamento de cada um dos autores em relação aos principais pontos a serem observados em um processo de compras, com destaque para a realização de cotações, negociação com fornecedores e estabelecimento do pedido de compra. Chama atenção a orientação de Lambert, Stock e Vantine (1999) para possibilidade de eliminação de algumas etapas do fluxo de compras no caso de realização de compras rotineiras. 2.1.4 Relacionamento com fornecedores O relacionamento com fornecedores deve ser considerado no planejamento das atividades de Compras. “Um dos principais responsáveis pela eficácia do departamento de Compras é o fornecedor” (DIAS, 2005, p. 320). A correta seleção de fornecedores considerando algumas variáveis chaves como a qualidade, prazos de entrega, confiabilidade e, principalmente, preços, torna-se primordial para o desempenho global da empresa. Para Porter (2004), um dos principais fatores para obter estabilidade e competitividade em termos de bens e serviços está na escolha dos fornecedores. Baily et al. (2000, p. 116) vai ao encontro deste pensamento ao alegar que “Sem dúvida, pode-se argumentar que encontrar o fornecedor correto é, realmente, a única responsabilidade fundamental da Função Compras, e que, se isso for bem feito, todas as demais atribuições são classificadas como subsidiárias”. De acordo com Studart (2007), algumas questões em relação ao relacionamento com fornecedores têm crescido bastante, tais como: redução na base de fornecedores, parcerias, alianças estratégicas, fornecedores preferenciais e desenvolvimento de fornecedores. A lógica nos mostra que os relacionamentos entre fornecedores e compradores podem fazer diferença estratégica para uma organização, já que eles promovem uma melhoria contínua na satisfação do cliente, oriunda da procura por novas e melhores maneiras de gerenciar estas relações entre compradores e vendedores. (STUDART, 2007, p. 47) 58 Gonçalves (2010, p. 262) afirma: “Com raras exceções, temos verificado que pouco tem sido reservado para o planejamento das aquisições e prospecção de fornecedores tanto de materiais quanto de serviços”. A procura de fornecedores somente no momento em que a necessidade de um determinado material ou serviço se faz presente nas organizações deve ceder espaço para o estudo antecipado do mercado fornecedor em prol da formação de parcerias de longo prazo, talvez com impactos insignificantes no curto prazo, mas com alta rentabilidade no futuro. O autor vai além e afirma: É necessário desmistificar da administração de compras a crença de que a eficácia de sua atuação se baseia no impacto de operações espetaculares, em que se obtêm preços aparentemente mais vantajosos. [...] Comprar pelo menor preço muitas vezes é um ato ilusório [...]. (GONÇALVES, 2010, p. 262) A mudança na estrutura dos órgãos de compras e das empresas em geral torna-se fator primordial para escolha de fontes de suprimentos adequadas, que possam maximizar os resultados da empresa, (BARNEY, 2012). 2.1.4.1 Fatores importantes para formação da base de fornecedores Baily et al. (2000) expõem alguns fatores que devem ser observados para escolha de uma base de fornecedores adequada, sempre respeitando os objetivos e particularidades de cada organização: a) atributos de um bom fornecedor: alguns atributos devem ser considerados como desejáveis em uma fonte de suprimentos, tais como pontualidade na entrega; qualidade consistente; bom preço; bons antecedentes de fornecimento; responsividade às necessidades dos clientes; fornecer apoio técnico; permitir o fluxo de informações, dentre outras; b) tipo de compra que será realizada: o processo de tomada de decisão de fontes de suprimentos será impactado pelo tipo de compra a ser realizada. Os tipos de compra podem ser diversos, dentre eles temos as compras de suprimentos de consumo; materiais e componentes de produção; compras de bens de capital; propriedade intelectual; subcontratações; serviços. Cada tipo de compra envolve variáveis de decisão ligadas ao fornecedor que devem ser consideradas; 59 c) seleção das fontes de suprimentos: o processo tradicional de tomada de decisão sobre fontes de suprimentos envolve captação de fornecedores em potencial conforme o tipo de compra a ser realizado; seleção de uma lista curta de fornecedores disponíveis; envio de um pedido de cotação para cada um deles; seleção do melhor fornecedor de acordo com sua oferta de venda; realização do pedido especificando os termos como volume, programação, entrega, preço, qualidade exigida. Grandes compras exigem a ampliação desses procedimentos e maior envolvimento dos fornecedores; d) identificação dos fornecedores corretos: em geral, compradores buscam fornecedores com os quais possam estabelecer parcerias de longo prazo. Fornecedores chave são selecionados após criteriosa avaliação pautada em fatores técnicos e comerciais específicos a cada empresa compradora. Os critérios de seleção dos fornecedores corretos devem ser adequados com as necessidades específicas de cada organização e conforme o tipo de compra a ser realizado, entretanto a qualidade, quantidade, timing, serviço e preço são variáveis chave. A localização nas proximidades das fábricas dos compradores trata-se de um fator importante para estabelecimento de parcerias para fornecimento; e) avaliação de fornecedores: processo contínuo nos Departamentos de Compras das empresas. Qualidade, quantidade, timing, serviço e preço são variáveis que determinam a escolha do fornecedor, logo são critérios de avaliação dos mesmos. A elaboração de um checklist de itens a serem vistoriados no fornecedor pode ser utilizado. Alguns atributos dos fornecedores devem ser avaliados como forma de classificar os fornecedores, tais atributos podem se reverter em variáveis determinantes para o processo de decisão de compra, tais como: qualidade dos materiais entregues, pontualidade, preço e tecnologia. 2.2 Função Compras como estratégia competitiva Porter (2004) defende a ideia de que qualquer tipo de empresa que pretenda conquistar espaço e eficácia no seu mercado de atuação deve necessariamente conhecer o potencial de competitividade da Função Compras. Simões e Michel (2004) complementam ao apontar que a gestão de compra eficaz pode contribuir significativamente para o alcance dos objetivos estratégicos e das metas organizacionais, e a gestão de compra eficiente pode trazer maior 60 agilidade nas operações e qualidade das aquisições, já que pode aumentar a produtividade, qualidade dos produtos e satisfação dos clientes, vindo a ser um diferencial altamente competitivo. Abordagens de vantagem competitiva na administração de materiais representam a adoção de práticas relacionadas à integração entre compras e estratégia corporativa, valorizando o papel estratégico e integrado de compras nas organizações (CARR; SMELTZER, 1999). Sendo assim, uma forma de alcançar vantagem competitiva está na integração entre os objetivos da Função Compras com o planejamento estratégico da organização. O setor de Compras deve participar da tomada de decisões táticas e estratégicas, colaborando com o processo de formulação das estratégias. Baily et al. (2000, p. 38) afirmam: “[...] as estratégias de compras não podem ser desenvolvidas isoladamente. Elas precisam estar integradas à estratégia corporativa para ser bem-sucedidas”. Os autores também apresentam algumas razões para o crescimento do envolvimento de compras na tomada de decisões estratégicas: a) a Função Compras é vista como área de agregação de valor, não simplesmente redução de custo; b) a rapidez da inovação de produto exige uma equipe gerencial mais integrada, que envolva todas as funções; c) visão holística em relação à integração de fluxos de materiais e de informações ganha importância nas organizações; d) redução de custos através do envolvimento ativo de fornecedores; e) empenho com custos estratégicos de suprimentos em detrimento dos preços a curto prazo; f) benchmarking em relação a empresas japonesas que viram a atividade como importante fator estratégico; g) maior consciência do crescimento do gasto em materiais e do potencial de lucro das compras. Dias e Costa (2012, p. 11-12) defendem que “[...] as compras são fundamentais instrumentos de vantagem competitiva das organizações. [...] para sobreviver e prosperar, as empresas necessitam adquirir vantagens competitivas em relação à concorrência”. Os autores 61 argumentam que a análise das prioridades competitivas em Compras confirma sua capacidade de afetar tanto positivamente quanto negativamente o desempenho da empresa. Quadro 11 - Prioridades competitivas em Compras Qualidade A qualidade dos produtos produzidos por uma empresa é diretamente afetada pelos materiais e/ou serviços que a sua área de Compras contrata no dia a dia. É óbvio que a escolha certa dos fornecedores tenderá a fazer que os materiais sejam entregues conforme a qualidade desejada pela empresa Entrega O prazo de entrega de uma empresa afetará diretamente o lead time de seus clientes. Assim, ele deve ser rigorosamente cumprido e, para tanto, a área de Compras deve incumbir-se de fazer a sua parte, de forma que o produto final seja produzido dentro do prazo desejado. Flexibilidade Muitas empresas perdem negócios em razão da baixa flexibilidade que dispõem para realizar qualquer tipo de mudança em sua produção ou sua operação. A área de Compras bem equipada e dimensionada poderá ajudar sobremaneira para que a empresa opere com alta flexibilidade. Atendimento Uma empresa bem-sucedida tem de possuir excelente atendimento em todas as fases do processo de relacionamento; ou seja, antes, durante e depois de receber a encomenda de seus clientes. Um comportamento ainda muito comum, infelizmente, é o bom atendimento somente antes e durante o recebimento da encomenda. Mais uma vez, a área de Compras pode ajudar para que o atendimento aos seus clientes seja excelente. Quantas vezes uma empresa deixa de prestar serviços de garantia apropriadamente porque seu departamento de Compras atrasa a entrega do pedido de materiais? Preço Não há o que discutir sobre a importância da área de Compras para a formação do preço dos produtos da empresa, principalmente se ela for de comércio ou indústria. Sem dúvida, se uma empresa comprar por preços baixos, poderá praticar preços de venda altamente competitivos. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Dias e Costa (2012) Por sua vez, Gonçalves (2010) aponta que o mais importante na Função Compras, não está na crença de que a sua eficácia está baseada no impacto de operações espetaculares relacionada unicamente a aquisição com menor preço possível, mas sim em construir uma eficácia de longo prazo, talvez menos visível no começo, porém mais rentável e sustentável. Segundo Hamel e Prahalad (1990), vantagem competitiva derivadas de preços e desempenho de produtos perduram apenas no curto prazo. Competências desenvolvidas internamente (core competence) capazes de criar produtos novos, ao menor custo e mais rapidamente que os concorrentes, são consideradas responsáveis pela obtenção de vantagem competitiva no longo prazo. Nesta perspectiva, Compras poderá contribuir decisivamente para o alcance de vantagens competitivas sustentáveis ao longo prazo (COBAN, 2012), já que questões relacionadas a custo, controle de fornecimento, agilidade em compras, relacionamento com fornecedores fazem parte do seu escopo. 62 2.3 Decisão de compras Tendo em vista os objetivos determinados para esta pesquisa, alguns pontos referentes à ciência da decisão devem ser abordados, mas sem a pretensão de esgotamento do tema. A intenção aqui está em evidenciar determinados aspectos relacionados ao processo de tomada de decisão de compra nas organizações. Desta forma, pretende-se compreender a dinâmica do processo de decisão a fim de fornecer subsídios necessários para explorar o estudo de caso. A tomada de decisão está presente no cotidiano do ser humano. A todo momento decisões são tomadas, das mais simples às mais complexas e importantes. “Mesmo quando para solucionar um problema temos uma única ação a tomar, temos as alternativas de tomar ou não esta ação” (PERDIGÃO, 2012, p. 4). Conforme Garcia e Fadel (2010, p. 100), “O processo decisório se insere entre os mais importantes aspectos da vida do indivíduo e das organizações [...]”. De acordo com Zamarioli (2003), tomar uma decisão trata-se de escolher uma opção, dentre as disponíveis, seguindo etapas determinadas antecipadamente com intuito de obter uma solução adequada para o problema em questão, sempre considerando os objetivos que se pretende alcançar. Guimarães e Évora (2004, p.74) reforçam: Independentemente do aspecto da decisão, esta atitude deve ser fruto de um processo sistematizado, que envolve o estudo do problema a partir de um levantamento de dados, produção de informação, estabelecimento de propostas de soluções, escolha da decisão, viabilização e implementação da decisão e análise dos resultados obtidos. O processo decisório é passível de várias abordagens em relação a modelos existentes para sua condução, evidenciar cada um deles foge ao foco do propósito desta pesquisa. Entretanto, Bispo (1998) aponta em seu trabalho de pesquisa que, basicamente, o processo de decisão deve seguir uma linha lógica e racional contendo: identificação do problema; levantamento das variáveis envolvidas com o problema; elaboração de alternativas ao problema; comparação das alternativas obtidas; escolha da alternativa de maior viabilidade para resolução do problema; implementação da alternativa escolhida; acompanhamento e análise dos resultados obtidos; avaliação e registro de lições positivas e negativas decorrentes do processo decisório; avaliação e utilização do modelo gerado para solucionar outros problemas iguais ou semelhantes. No âmbito das organizações, o processo de decisão deve contemplar, dentro do possível, todas as variáveis a serem consideradas pelo tomador de decisão já que estas poderão influenciar 63 suas decisões. Objetivos operacionais, financeiros e econômicos devem ser respeitados. Bispo (1998), defende que para tomar uma decisão o gestor deve basear em um rol de informações confiáveis como forma de delimitar o problema, e optar pela melhor escolha possível. Choo (2003), aponta ser necessário buscar alternativas suficientemente boas, já que a melhor alternativa pode não ser possível, tendo em vista o princípio da racionalidade limitada. Wind e Webster (1972) já apontavam que o comportamento de compra industrial trata-se de um processo complexo que não pode ser analisado somente por uma única variável, ou fluxo rígido a ser seguido. Os autores defendem que um modelo de compra industrial deve ser capaz de lidar com a complexidade das decisões de compras industriais já que envolvem pessoas, aspectos técnicos, tempo e fatores ambientais. Em resumo, o modelo de decisão de compra organizacional deve ser multidisciplinar e não um fenômeno isolado. O trabalho de análise realizado por Wind e Thomas (1996) evidencia a inexistência de um fluxo rígido, único e universal de processo de compras capaz de suprir as necessidades de toda e qualquer organização. Desta forma, seria imprudente afirmar a existência de um processo único de decisão de compras corporativas capaz de atender integralmente todas às necessidades de qualquer tipo de organização. Basta lembrar que a adoção de um modelo de decisão em compras organizacionais deve considerar uma série de fatores, tais como: globalização, acesso a informação, tecnologia, práticas de negócios, cultura organizacional, dentre outras (GÓMEZ, 2013). Chaves (2002, p.93) defende que “Quando se estabelece um modelo de decisão específico, para cada evento, considera-se a melhor maneira de decidir, ou seja, aquela que leve o gestor a obter resultados econômicos otimizados”. A melhor maneira de decidir fazendo uso de determinado modelo de decisão está intimamente ligada à adoção de regras que guiarão os passos do tomador de decisão. Choo (2003) aponta que a utilização de regras torna-se importante à medida que, juntamente com adoção de procedimentos, especificam papéis, métodos e normas, sendo capaz de promover a coerência e coordenação entre o trabalho das diversas áreas da empresa. Lambert, Stock e Vantine (1999), defendem que a complexidade do processo de compra está na variedade de fatores a serem considerados ao se tomar esse tipo de decisão. Uma decisão tornase complexa à medida que aumenta o número de alternativas disponíveis. “Compra complexa implica um maior nível de risco e importância na decisão de compra” (ALEJANDRO et al., 64 2011, p.12). No rol das informações consistentes, especificamente nos setores de Compras das organizações, as variáveis necessárias para determinar uma compra devem ser contempladas, caso contrário, corre-se o risco de não obter objetividade e assertividade nas decisões tomadas, prejudicando assim o desempenho da empresa. Ferramentas computacionais podem ser utilizadas como suporte ao processo de tomada de decisão em compras nas organizações. Perdigão et al. (2012), realizam estudo com objetivo de investigar como se dá o processo de tomada de decisão em três organizações de segmentos distintos (industrial, hospitalar e educacional). Como resultado, tem-se que o processo decisório, mesmo sem estar formalizado, apresenta em sua práxis fundamentos contidos na literatura. A dificuldade no processo de decisão foi evidenciada por Perdigão et al. (2012, p.16) “É notório que o ato de decidir não é fácil e exige dos gestores uma capacidade analítica profunda e apurada, visando evitar decisões equivocadas e que tragam consequências desastrosas para a empresa e para a sociedade como um todo”. Especificamente, em relação à atividade de compras, Dias e Costa (2012, p.52) afirmam: O processo de compras encerra decisões em cada fase, desde o início dos procedimentos até o momento da autorização do pagamento ao fornecedor. A importância dessas decisões é reforçada pelo fato de elevadas somas estarem associadas a muitas das aquisições, aumentando, sobretudo, a responsabilidade de quem responde pelas autorizações. Angeloni (2003) esclarece que cada vez mais a tomada de decisão nas organizações exige intenso trabalho em equipe, trabalho este pautado na correta compreensão do papel de cada profissional dentro do processo de tomada de decisão. Especificamente sobre o papel do comprador nas organizações, Baily et al. (2000, p. 341) apontam que “Os compradores precisam decidir sobre o que comprar, em que quantidade, preços, condições de entrega e forma e prazo de pagamento”. Com esta afirmação, o autor confirma a existência de determinadas variáveis envolvidas no processo de tomada de decisão em compras dentro das organizações, tais como qualidade, quantidade, preço e prazo de pagamento. 2.4 O papel do profissional de Compras Sheth (1973) realizou ampla pesquisa na tentativa de estabelecer um modelo realista e abrangente de comportamento do comprador organizacional. O autor aponta que, semelhante ao comportamento do consumidor, os compradores industriais também podem decidir com base 65 em outros fatores diferentes do racional ou realista. Esta constatação deve ser considerada tendo em vista que o comportamento do comprador poderá influenciar diretamente à compreensão e análise das diversas variáveis chave envolvidas em uma decisão de compra. Alejandro et al. (2011) evidenciam que a decisão de compra, embora voltada para racionalidade, pode também tender a depender de características pessoais e necessidades dos tomadores de decisão. Deste modo, faz-se necessário compreender o perfil e qualificações exigidas para um comprador organizacional, bem como as atividades inseridas em seu escopo de trabalho. Não será possível para as organizações se beneficiarem da vantagem competitiva proporcionada por uma Função Compras desenvolvida, a menos que tenham funcionários com conhecimento, habilidades e competências apropriadas para colocar ideias em prática. (BAILY et al., 2000, p. 424) A compreensão do papel do profissional de Compras nas organizações passa pela evolução desta Função e pela compreensão dos objetivos da compra organizacional. Para Ramos (2002, p. 29), “O comprador organizacional procede a compra como meio de alcançar objetivos organizacionais e não para obter qualquer tipo de autogratificação”. Ainda para a autora, os compradores industriais são influenciados por uma série de fatores internos ou externos à empresa e que vão afetar o seu processo de decisão de compra. A importância da aquisição a ser realizada determinará o tipo de rotina a ser adotada. Com base em diferentes estágios de desenvolvimento da Função Compras nas organizações, Baily et al. (2000) ilustram a evolução do perfil do comprador: Quadro 12 - Perfil do comprador nas organizações Estágio de desenvolvimento Primitivo Características gerais e responsabilidades do responsável por compras Sem qualificações especiais; abordagem burocrática; cerca de 80% do tempo é dedicado às atividades burocráticas. Conscientização Sem qualificações especiais; algumas rotinas básicas de compras; 60-79% do tempo é dedicado às atividades burocráticas. Desenvolvimento Qualificações acadêmicas formais exigidas; envolvimento em negociações; reconhecimento da função compras e suprimentos; 40-59% do tempo é dedicado às atividades burocráticas. Maturação Qualificação gerencial exigida; compradores especializados em commodities integrados com as áreas funcionais; envolvimento com todos os aspectos do desenvolvimento de novos produtos; maior parte do trabalho dedicado à negociação e à redução do custo/desenvolvimento de fornecedores; 20/30% do tempo é dedicado às atividades burocráticas. Avançado É necessária qualificação profissional ou pós-graduada; o comprador está mais envolvido com os assuntos mais estratégicos do trabalho; mais dedicado ao custo total de aquisição, à administração da base de fornecedores etc.; menos de 20% de seu tempo é dedicado às atividades operacionais. Fonte: Baily et al. (2000, p. 425). 66 Lima (2004, p. 40-41), em seu estudo sobre a evolução de Compras nas empresas montadoras de automóveis no Brasil, identifica que o desempenho do comprador na indústria automotiva requeria: [...] o aprimoramento de suas competências e qualificações, envolvendo um upgrade no nível de escolaridade (geralmente superior com MBA), conhecimento de idiomas (inglês, espanhol e alemão), conhecimento internacional (em função das compras serem locais e globais), capacidade de liderança intergrupal (para saber trabalhar em equipes complexas) e visão holística (tanto da organização com da cadeia de suprimentos como um todo), de forma a buscar oportunidades competitivas. Gaither e Frazier (2005) evidenciam algumas obrigações voltadas à atividade de comprador em organizações: devem ser especializados conforme certas commodities; conhecer o processo de manufatura tanto de sua própria empresa, quanto dos seus fornecedores; conhecer muito bem os mercados; controlar custos; saber negociar; conhecer a legislação; e dominar a execução das atividades rotineiras (processar requisições de compra, selecionar fornecedores, emitir ordem de compra, negociar preços e condições de pagamento, dentre outras ações operacionais). Dias e Costa (2012) analisam a evolução da Função Compras para determinar o perfil do profissional da área. Para os autores, a evolução desta função torna-se a base para compreensão da evolução do perfil do comprador ao longo do tempo. Segue quadro comparativo entre as atividades de compras no passado e no presente. Quadro 13 - Passado e presente das atividades de Compras nas organizações No passado Era um mal necessário. Era uma Função isolada, normalmente vinculada a produção. Objetivava redução de custos. Gerenciava crises. Operava manualmente ou usava o computador precariamente. Trabalhava com muitos fornecedores. Utilizava inspeções de qualidade. Denominava o público interno como usuário. Efetuava pedidos de compras isolados. Considerava profissional: comprador. Possuía informações dispersas. Fonte: Dias e Costa (2012, p. 11-12). No presente É vantagem competitiva. É uma Função integrada, normalmente vinculada à alta direção. Objetiva otimização de custos. Antevê problemas e procura soluções. Opera com sistemas integrados de gestão, muitos deles ligados aos fornecedores. Trabalha com poucos fornecedores. Utiliza qualidade assegurada. Denomina o público interno como cliente interno. Efetua contratos de longo prazo. Considera profissional: empreendedor. Possui gerenciamento das informações. Foram muitas as mudanças ocorridas na área, desta forma “[...] o perfil dos profissionais que nela atuam também sofreu enormes transformações” (DIAS; COSTA 2012, p. 12). Os autores ainda completam: 67 Os profissionais de compras devem, entre outras atividades, participar do desenvolvimento de novos produtos, cuidar das fontes de abastecimento, do gerenciamento de custos e das parcerias de longo prazo. O perfil desse profissional mudou tanto que, já existem empresas que adotam remuneração variável para eles; com um salário fixo que pode ser acrescido de vários tipos de bônus, dependendo do desempenho que venham a ter em relação às metas prefixadas. (DIAS; COSTA, 2012, p.12). Ter pessoal adequado e saber motivá-lo são essenciais para o sucesso na atividade de Compras nas organizações. “[...] é essencial entender os papeis que estão sendo desempenhados, os padrões que devem ser atingidos e como o desempenho será avaliado” (BAILY et al., 2000, p. 428). Serão esses profissionais os responsáveis por analisar as diversas variáveis chaves envolvidas no processo de compra e tomar a melhor decisão cabível para cada situação. Com relação à autonomia de decisão dos profissionais em Compras, Dias e Costa (2012, p. 51) afirmam “Seus limites de autonomia para decisão tendem a se ampliar em consonância com esse desenvolvimento das responsabilidades, crescerá também no nível de exigências nas avaliações de desempenho desses profissionais”. 2.5 Indicadores de desempenho em Compras O propósito deste capítulo está em esclarecer ao leitor que os parâmetros selecionados para medir o desempenho da área de Compras (os indicadores de desempenho em Compras) podem ter sua origem em determinadas Variáveis envolvidas na decisão de compra nas organizações. Inicialmente, torna-se importante evidenciar que as peculiaridades de cada organização devem ser consideradas antes de estabelecer qualquer forma de mensuração de desempenho da atividade de Compras, logo “[...] não há uma única abordagem geralmente aplicável que possa ser usada para mensurar o desempenho da Função Compras” (BAILY et al., 2000, p. 399). Dias e Costa (2012, p.198) complementam afirmando que “[...] é preciso que se faça uma análise prévia do que deve ser realmente medido em cada organização”. 68 Para Gomes, Marcelino e Espada (2000, p. 10) indicadores são: [...] parâmetros selecionados e considerados isoladamente ou combinados entre si, sendo de especial pertinência para refletir determinadas condições dos sistemas em análise (normalmente são utilizados com pré-tratamento, isto é, são efetuados tratamentos aos dados originais, tais como médias aritméticas simples, percentis, medianas, entre outros). Os autores esclarecem que os indicadores podem ser aplicados com vários objetivos e podem derivar de uma série de dados (parâmetros ou variáveis) adequados ao que se quer medir. Resende (2004, p.222) observa que: [...] indicadores de desempenho atuam como instrumento de planejamento, gerenciamento e mobilização, pois concretizam objetivos, organizam ações e conferem visibilidade dos resultados alcançados, podendo apresentar medidas de produtividade, qualidade, resultados financeiros e vários outros aspectos fundamentais. Neste contexto, Baily et al. (2000) sugerem que a mensuração do desempenho em Compras deve envolver atividades e objetivos relacionados, tanto a dados técnicos, quanto estratégicos da atividade compras. Os indicadores envolvidos nas medições da atividade de suprimentos nas organizações podem revelar variáveis importantes a serem utilizadas no processo de tomada de decisão em compras. Alguns critérios de mensuração no desenvolvimento da função Compras são apresentados no quadro 14. 69 Quadro 14 - Critérios de mensuração para a Função Compras. Posição da Função Compras Status As compras são fragmentadas e realizadas, principalmente, pelas áreas funcionais; a área de Compras dedica-se mais ao trabalho burocrático. A Função Compras é estabelecida; trabalho principalmente burocrático; as áreas funcionais ainda estão envolvidas nas compras. A Função Compras exerce papel mais comercial. Envolvimento trabalho estratégico. de A área de Compras é uma Função estratégica do negócio. Baixo. Mensuração do desempenho da função Compras Muito pouca; limita-se aos orçamentos. Foco em: Obtenção dos bens. Baixo, mas melhorando; reporta-se via outra função à alta administração. Mensuração da eficiência do trabalho burocrático; isto é, das rotinas de pedidos e das requisições. Eficiências do trabalho burocrático. A função é reconhecida e seu gerente reporta-se a um diretor, por exemplo, ao diretor financeiro; todas as aquisições são feitas pelo departamento de Compras. O gerente de Compras reporta-se diretamente ao principal executivo. Eficiência do trabalho burocrático de compras, isto é, economias, redução de custos, eficiência na negociação. Eficiência do burocrático. Como no estágio anterior, maior desempenho de fornecedores e da interface organizacional. Como no estágio anterior, mas maior preocupação como o desenvolvimento estratégico, JIT, etc.; mensuração do “custo total de suprimento”. Como no estágio anterior, mas início de mensuração da eficácia global em prazo mais longo. Eficácia estratégica. A Função é dirigida por um diretor de compras. trabalho Fonte: Baily et al. (2000, p. 402). Corroborando com Baily et al. (2000), Dias e Costa (2012) esclarecem que através da análise dos próprios objetivos de Compras de cada organização é possível perceber alguns pontos principais a serem mensurados e identificar parâmetros que poderão fazer parte de um sistema de avaliação de Compras. Os autores sugerem alguns indicadores que podem compor um sistema capaz de mensurar a atividade de Compras: 70 Quadro 15 - Indicadores que podem compor um sistema de mensuração de Compras Elemento Departamento de Compras como um todo Os fornecedores O desempenho departamento econômico-financeiro do A eficiência de Compras em relação à política de estocagem e administração de materiais Os compradores Indicadores Custo do pedido. Tempo de atendimento de requisições. Número de fornecedores exclusivos. Número médio de propostas por aquisição. Compras em caráter de emergência. Assistência prestada pelos fornecedores. Controle de entregas e pontualidade. Qualidade dos materiais recebidos Rotatividade de pessoal de empresas terceirizadas Desempenho econômico-financeiro propriamente dito. Valor das aquisições Valor das aquisições e número de itens adquiridos. Valor das aquisições e receitas da empresa. Ciclo financeiro Giro de estoque. Recebimento de materiais excedentes. Valor do estoque. Obsolescência. Requisições internas com estoque zero. Evolução do consumo. Avaliação técnica. Avaliação pessoal Fonte: Adaptado de Dias e Costa (2012). Libonati e Miranda (2004) afirmam que há necessidade de identificar critérios de avaliação de desempenho da área de Compras ou Suprimentos que contemplem o resultado global da empresa. Os critérios utilizados para medir desempenho de Compras das organizações podem estar vinculados a determinadas variáveis que devem ser consideras no processo de decisão, sendo as principais relacionadas à qualidade, quantidade, tempo de entrega e preço (TELGEN E BOER (2010). Em pesquisa realizada com 33 empresas atuantes em território brasileiro, com destaque para empresas de atividade industrial, Libonati (2002) investiga os critérios utilizados para medir desempenho da área de Compras ou Suprimentos (Gestão de Compras e Fornecedores). Para tal, investigou as principais informações geradas pelos sistemas de informações destas organizações, bem com a sua relevância para o desempenho da área de Suprimentos. Os resultados indicam a falta de instrumento de avaliação de desempenho das decisões de compras e de estocagem na maioria das empresas entrevistadas. Como fatores para esta situação foram encontrados: falta de modelos de avaliação de compras, cultura organizacional da empresa dos fornecedores, qualificação de pessoal e indisponibilidade de informações relevantes ao planejamento de compras e estocagem. Libonati e Miranda (2004, p.92), após análise detalhada da pesquisa em questão, afirmam “Nesta pesquisa, não se verificou um caso que utilizasse a área de Suprimentos como centro de resultado”. 71 O quadro 16 contêm os 17 indicadores pesquisados. Tais indicadores pesquisados por Libonati (2002) contribuem para evidenciar algumas variáveis relacionadas ao processo de decisão em compras, tais como: preço, custo do frete, condição de pagamento, níveis de estoque, tipo de item a ser adquirido, qualidade, prazo de entrega, orçamento de compras. Quadro 16 - Indicadores de desempenho em Compras Informações disponíveis para suporte nas decisões de suprimentos Cotação de preço junto a um número suficiente de fornecedores Simulação entre as alternativas de transporte (frete) Simulação entre as alternativas de comprar a prazo ou à vista Prazo de rotação dos estoques de produtos adquiridos Prazo de rotação dos estoques da cadeia de suprimentos Custos do financiamento do capital de giro investido nos estoques Variação dos preços dos estoques de insumos entre períodos Pedidos atendidos em desacordo com o solicitado Mercadorias com avarias ou fora da qualidade solicitada Serviços executados por fornecedores em desacordo com o solicitado Prazo de entrega ou atendimentos dos pedidos Margem de contribuição (rentabilidade) das mercadorias e ou serviços vendidos Valor das compras realizadas no mês Valor das compras pagas no mês Prazo médio de pagamento a fornecedores (dias) Apuração do resultado da área de suprimentos Informações para projetos de desenvolvimento de novos fornecedores/parceiros Fonte: Adaptado de Libonati (2002). Baily et al. (2000) e Dias e Costa (2012) defendem que qualidade, quantidade, timing, preço e custos operacionais podem gerar indicadores a serem utilizados para mensurar o desempenho em compras conforme apresentado no quadro 17. Quadro 17 - Alguns meios comumente usados para mensurar o desempenho em Compras Área Qualidade Mensuração Porcentagem de rejeições dos bens recebidos. Porcentagem de peças rejeitadas na produção. Porcentagem de matérias primas rejeitadas na produção. Quantidade Porcentagem do estoque que não se movimentou em um período específico. Número de interrupções da produção por falta de material. Número de pedidos de pequeno valor. Número de pedidos de emergência. Comparação do estoque com o estoque alvo. Timing Desempenho de entrega do fornecedor em relação ao prometido Tempo exigido para processa as requisições Tempo empregado com ação remediadora Preço Preços pagos em relação ao padrão. Preços pagos por itens-chaves comparados com os índices de mercado. Preços pagos em relação ao orçamento. Preço no momento de uso em relação ao preço no momento da compra. Custos Custo de processamento dos pedidos. operacionais Custos periódicos como porcentual do custo total. Custos operacionais (incluindo telefone, internet, etc). Fonte: Baily et al. (2000, p.406). 72 Barros (2010), em sua pesquisa sobre a utilização de indicadores de desempenho para avaliar a área de Suprimentos realizada com base na pesquisa anterior de Libonati (2002), obteve resultados que apontam a possibilidade de inferir que os indicadores utilizados para medir o desempenho da área de Suprimentos não estão totalmente relacionados com porte, com nacionalidade e a posição hierárquica da área de suprimentos dentro das organizações pesquisadas. [...] rejeita-se parcialmente a hipótese geral da pesquisa baseando-se nos testes estatísticos, ou seja, a utilização de indicadores para medir o desempenho da área de suprimentos não está totalmente relacionada com o porte, à nacionalidade do capital social e a posição hierárquica desta área nas organizações estudadas. (BARROS, 2010, p.25) As pesquisas de Libonati (2002) e Barros (2010), demonstram que algumas variáveis utilizadas na decisão de compras nas organizações, podem gerar indicadores relacionados ao desempenho desta área, tais como a qualidade do produto adquirido, a quantidade comprada e sua relação com os custos de manutenção de estoques, o timing exigido para processas as requisição de compras em tempo hábil para que não ocorram paralisações na linha de produção, os preços pagos em relação ao orçamento, custos totais de aquisição, dentre outras. 2.6 Variáveis determinantes de Compras A pesquisa em torno do comportamento de Compras nas organizações realizada por Wind e Webster (1972), revela a importância da identificação das variáveis que afetam as decisões de compra de bens e serviços, bem como a necessidade de se estabelecer uma estrutura para analisar e interpretar tais variáveis. Corroborando com os autores supracitados, Santos e Ponte (1998, p.6) defendem que o impacto da decisão leva em consideração “as variáveis relevantes para a avaliação de cada alternativa, visando à escolha daquela que melhor atenda aos objetivos da empresa”. Os autores reforçam: Os modelos de decisão permitem que as consequências das várias alternativas sejam avaliadas antes de tomar a decisão, possibilitando ao decisor escolher aquela que apresente os melhores resultados. Constituem, assim, um procedimento estruturado, no qual as diversas variáveis que impactam a decisão podem ser organizadas e examinadas de modo sistemático e consistente. (SANTOS; PONTE, 1998, p. 6) 73 Segundo Fernandes (1998), modelos de decisão são compostos por variáveis pré-determinadas, tais variáveis devem ser relevantes para análise e elaboração prévia de possíveis alternativas, ou seja, devem ser específicas o suficiente para serem consideradas pelo gestor no momento de sua tomada de decisão, pelo fato de influenciaram estas decisões e impactarem no resultado de cada evento. De acordo com Chaves (2002), em se tratando da atividade de compras nas organizações, a elaboração de alternativas só é possível com base na análise de determinadas Variáveis de Decisão (neste estudo representadas pelas variáveis determinantes de compras). De acordo com Almeida (1996), tais Variáveis de Decisão podem ser explicadas como as condições específicas, envolvidas na ação de adquirir determinado produto ou contratação de serviço, que estão sob o domínio do gestor ou que pelo menos ele tenha influência e responsabilidade nas suas consequências e são utilizadas para subsidiar o processo de tomada de decisão de compras. Variáveis externas e não controláveis, tais como às utilizadas na análise Swot (ambientais, culturais/sociais, demográficas, econômicas, jurídicas/politicas, psicológicas e tecnológicas), não são alvo deste estudo. Conforme Garcia (2003), a definição das Variáveis de Decisão devem considerar a realidade operacional da organização, integrando um modelo específico capaz fornecer subsídios suficientes para auxiliar o gestor na escolha da alternativa que otimiza os resultados, ou possibilitam vislumbrar o resultado mais próximo da realidade, dando-lhe condições de decidir, criteriosamente, qual a alternativa mais adequada para a empresa naquele espaço temporal. Desta forma, o rol de variáveis que compõem um modelo específico de decisão podem variar conforme o tipo de organização pesquisada; setor de atuação; nível de desenvolvimento da Função Compras na organização pesquisa; objetivos, estratégias e políticas da organização. É importante salientar que as variáveis envolvidas no processo de decisão de compra nas organizações não devem ser analisadas isoladamente, tendo em vista que determinada variável pode impactar diretamente outra variável de compra qualquer. A afirmação de Ballou (2006, p. 359), a respeito das quantidades e momentos dos pedidos, exemplifica claramente esta situação, “As quantidades de cada compra e seu momento afetam os preços a serem pagos, os custos de transporte e de manutenção de estoques”. Somente nesta afirmativa é possível constatar cinco diferentes variáveis envolvidas no processo de decisão de compras: quantidade, tempo, preço, custo de transporte (frete) e nível de estoque. 74 Prazos de entrega, valor de frete, tipo de produto, condições de pagamento e desconto, negociação, qualidade correta, preço-custo são citados por Dias (2005) como variáveis importantes a serem analisadas no processo de compra. Chaves (2002), considerando a realidade do setor supermercadista, aponta algumas variáveis que impactam na decisão de compra: frequência, volume de compras, natureza da demanda do produto, preço dos produtos, tipo dos produtos, estoque, distribuição dos produtos, fornecedores, organização de compras, estilo do comprador, sistema de informações, prazo de pagamento, qualidade, mix de produtos, frete e seguro, impostos, validade dos produtos. Atenção especial deve ser dada ao estudo das variáveis preconizadas na literatura especializada, tendo em vista que as mesmas podem estar contidas em afirmações como a proferida por Gaither e Frazier (2005, p. 432) a respeito da missão dos departamentos de compras: A missão do departamento de compras é perceber as prioridades competitivas necessárias para cada produto/serviço importante (baixos custos de produção, entregas rápidas e no tempo certo, produtos/serviços de alta qualidade e flexibilidade) e desenvolver planos de compra para cada produto/serviço importante que sejam coerentes com as estratégias de operações. A análise da afirmação dos autores permite identificar variáveis que podem afetar as compras organizacionais, tais como: custo total de compra, tempo, qualidade e flexibilidade dos fornecedores. Para Baily et al. (2000), seis variáveis críticas devem ser consideradas antes da seleção de fornecedores e sua administração. A observância destas variáveis poderá evitar ineficiências no processo produtivo relacionados ao suprimento de materiais, além de minimizar os riscos durante o processo de decisão em compra. São elas: qualidade, quantidade correta, tempo, fonte de suprimento, preço e processo de negociação. As variáveis apresentadas a seguir foram selecionadas a partir da literatura utilizada neste estudo, desta forma não há caráter impositivo ou intensão de esgotar o tema. 2.6.1 Qualidade A qualidade pode ser vista com vários significados e conotações. Para Compras, a qualidade “[...] pode ser apropriadamente definida ou especificada como o conjunto amplo de 75 características de um produto ou serviço relevantes para atender às exigências” (BAILY et al., 2000, p. 118). Neste sentido, qualidade pode ser vista como função preventiva que visa antecipar-se para que não haja defeitos no momento da entrega do produto ou serviço (DIAS; COSTA, 2012). Para Baily et al. (2000, p. 118), “A qualidade para determinada aplicação pode ser muito baixa ou muito alta”. Desta forma, a qualidade na área de Compras está ligada a duas abordagens para a especificação do item a ser comprado: a) especificação de desempenho: indicar claramente o propósito, função, aplicação e desempenho esperados do material ou serviço comprado. Especificar detalhadamente permite maior concorrência e possibilita novas maneiras do fornecedor atender às exigências do cliente; b) especificação de conformidade: são especificações em que a organização compradora deixa bem claro o que deve ser atendido. A especificação é do produto, não da aplicação. Como exemplo, temos a compra de um produto químico específico a ser aplicado em determinado processo produtivo. A padronização é uma alternativa viável para obtenção/manutenção da qualidade. Trata-se da formulação e adoção sistemática de padrões, geralmente acompanhada por redução nas opções de: número de itens usados, estocados, comprados ou fabricados. Não se recomenda padronizar tomando como base o menor preço, tendo em vista que “O objetivo da padronização não é selecionar a versão mais barata ou a mais cara, mas a qualidade certa para atender à necessidade” (BAILY et al., 2000, p. 128). Lambert, Stock e Vantine (1999) defendem que o nível da qualidade deve ser especificado de diversas maneiras, tais como: padrões especiais; especificações de design; projetos de engenharia; especificações de desempenho, de funções, adequação de materiais e métodos de fabricação; marcas comerciais; amostras; e graduações de mercados. Por sua vez, Dias e Costa (2012) apontam alguns fatores relacionados à qualidade dos produtos, tais como: desempenho, características, confiabilidade, durabilidade, conformidade e serviço. 76 2.6.2 Quantidade correta A definição da quantidade correta de compras deve considerar o planejamento e controle de estoque, bem como o planejamento e controle da produção. Algumas políticas de pedidos impactam na quantidade a ser solicitada aos fornecedores, bem como podem proporcionar a redução de custos globais. Para Baily et al. (2000), estas políticas, aplicadas à área de Compras, podem alterar as quantidades a serem compradas. Geralmente incluem: a) pedidos em aberto que agrupam vários pequenos itens; b) condições de fazer pedidos reservas com contratação da capacidade de produção de um fornecedor; c) contratos para fornecimentos periódicos. Podem envolver datas de entrega, quantidades totais estimadas por período e o preço; d) contratos spot e contratos futuros; e) sistema de liberdade de compras e sistemas de reposição automática; f) lote econômico. Especificamente, em relação ao controle dos níveis de estoque, temos algumas formas de determinar a quantidade a ser comprada, tais como: lote econômico de compra, giro de estoque, nível de serviço, quebras de preços e descontos por quantidade. Ao privilegiar as necessidades de produção, a quantidade de itens a serem pedidos pode ser gerenciada por meio de ferramentas como o MRP (Materials Requirements Planning - sistema-padrão para calcular as quantidades de componentes, submontagem e materiais para execução de um programa de fabricação de produtos); e o sistema Just in Time que foca na eliminação do desperdício na produção em conjunto com planejamento das compras. 2.6.3 Tempo O tempo está relacionado à necessidade de minimizar o desperdício na cadeia de suprimentos, ocasionados por atrasos nas entregas dos produtos adquiridos e evitar compras em contingência. Baily et al. (2000) associam o tempo à vantagem competitiva tendo em vista que o sucesso das empresas está ligado a capacidade de reagir de imediato e rigorosamente às necessidades do mercado. “O reconhecimento do “tempo” como variável chave e a necessidade de minimizar seu desperdício na cadeia de suprimentos têm aumentado o grau de preocupação da empresa em anos recentes” (BAILY et al., 2000, p. 161). Dias e Costa (2012) defendem que todos devem 77 ficar atentos a qualquer tipo de ocorrência que possa prejudicar os prazos de entregas. Ideias como responsividade, compressão de tempo e momento de vender corretamente ganham prioridade nas estratégias gerenciais das organizações. Dias e Costa (2012, p. 173) exemplificam a importância do prazo de entrega: [...] se a empresa compradora necessita do material para o dia 15, não há por que ele chegar no dia 11, pois, dessa forma, o prazo de pagamento começa a correr com quatro dias de antecedência. À primeira vista, essa ação pode parecer insignificante, mas, se tal fato incidir sobre grande parte das milhares aquisições realizadas pelo departamento de compras, anualmente, o valor desperdiçado será de grande ordem. Ainda para Dias e Costa (2012), a administração do tempo de entrega no processo de compras pode ser exercida com maior eficácia, sem esgotar o tema, se os departamentos usuário tiverem a compreensão do processo de compras, se o acompanhamento dos pedidos for devidamente realizado junto aos fornecedores e se alguns pontos puderem ser assegurados, tais como: 1) conhecimento e acordo em torno dos lead times; 2) trabalho em conjunto entre comprador e vendedor; 3) compartilhamento de informações entre comprador e vendedor; 4) não ocorrer reprogramação frequentes de pedidos já realizados; 5) evitar intervenções desnecessárias; 6) chegar a capacidade produtiva e condições de entrega dos fornecedores antes de fechar o contrato; 7) especificações devem ser claras, compreendidas e de acordo com a capacidade técnica do fornecedor; 8) não alterar especificações com frequência; 9) especificar corretamente as condições de entrega; 10) a situação real de fornecimento deve ser esclarecida pelo vendedor. 2.6.4 Fonte de suprimentos Para Baily et al. (2000), a seleção correta das fontes de suprimentos figura entre as decisões de Compras mais difíceis e importantes, tendo em vista que as necessidades de compra das organizações devem ser atendidas em sua plenitude. 78 [...] o suprimento envolve muito mais do que simplesmente escolher isoladamente um fornecedor ou contratado para cada exigência. Envolve relacionamentos contínuos com fontes preferenciais que estejam realmente fornecendo bens e serviços e com fontes potenciais que possam ter sido evitadas no presente, mas que ainda não foram descartadas. Envolve decisões sobre como alocar os negócios disponíveis e em que condições eles devem ser feitos. (BAILY et al., 2000, p. 181) A escolha de uma fonte de suprimentos confiável envolve os atributos de um bom fornecedor, quantidade de fornecedores, históricos de fornecimento, parcerias, conhecimento do mercado. Slack et al. (2009) reforçam o pensamento de Baily et al. (2000) ao defenderem que a escolha de fornecedores adequados deve considerar a negociação de atributos alternativos (Trade-offs), como a reputação, prazo de entrega, confiabilidade, capacidade financeiras, atendimento, dentre outros. Chaves (2002) aponta a reputação, a localização, os serviços, a disponibilidade, experiência e flexibilidade como alguns dos fatores a serem considerados na escolha adequada de um fornecedor. O desenvolvimento de fornecedores, a qualificação dos mesmos, a seleção de fornecedores adequados, a solicitação de propostas e, por fim, a avaliação das propostas e escolha das fontes de suprimentos compõem o escopo básico da determinação e manutenção das fontes de suprimento. A fonte de suprimentos é tão importante para a atividade de compras que, para Gaither e Frazier (2005), o escopo das responsabilidades dos gerentes de compras deve conter: i) manter um banco de dados de fornecedores; ii) selecionar fornecedores para suprir cada material, iii) negociar contratos de suprimentos com fornecedores, e por fim, iv) agir como intermediário entre a empresa e seus fornecedores. Em uma Função Compras mais desenvolvida nas organizações (nível estratégico) existe tendência de trabalhar com menor número de fornecedores, entretanto a escolha de uma ou mais fontes de suprimentos deve ser criteriosamente analisada, tendo em vista que cada organização está imersa em uma realidade particular (CAPS, 2011; BARNEY, 2012; BJÖRKLUND, 2012). A abordagem de fonte única de suprimentos pode trazer algumas vantagens, entretanto nem sempre é a decisão mais prudente a ser tomada. Algumas considerações devem ser feitas antes de se optar por uma ou mais fontes de suprimentos: Qual o efeito sobre o preço unitário do item a ser comprado? Qual o efeito sobre a segurança dos suprimentos? Qual o efeito sobre a motivação, disposição, inovação de design do fornecedor? Qual será o efeito sobre a estrutura de mercado? 79 2.6.5 Preço Concorrência, valor percebido pelos clientes e custo de produção são fatores que afetam as decisões de preço. A busca pelo menor preço é uma realidade nos departamentos de Compras, logo, tais fatores, atrelados à análise das demais variáveis chaves de compras pode significar a redução nos custos de aquisição. “Provavelmente, o preço de compra é o fator mais frequentemente associado às responsabilidades de compras”. (BAILY et al., 2000, p.23). Devese ficar atento para que o menor preço não acarrete problemas de tal modo que torne o custo total da aquisição muito elevado. O comprador organizacional deve considerar a influência da relação oferta e demanda na determinação do preço de equilíbrio/mercado, ou seja, qual preço em que a oferta se iguala a demanda e, consequentemente, determinará o que será ou não produzido e disponibilizado no mercado. A decisão de produzir ou não determinado item poderá afetar consideravelmente os preços, bem como impactar negativamente a estrutura de custos da organização compradora. O ciclo de vida dos produtos deve ser observado, tendo em vista que os preços podem sofrer variação conforme o estágio em que o produto se encontra (desenvolvimento, introdução, crescimento, saturação, declínio). Segundo Baily et al. (2000), para muitos compradores, a formação de parcerias com fornecedores trata-se de um fator capaz de eliminar custos desnecessários da cadeia de suprimentos, consequentemente reduzindo o preço dos itens a serem adquiridos. Alguns meios podem ser adotados para redução dos custos desnecessários, tais como: a) redução do número de fornecedores da cadeia de suprimentos; b) desenvolvimento conjunto de novos produtos; c) trabalho com fornecedores responsivos; d) uso de bancos de dados integrados; e) orientação de fornecedores-chave. [...] a parceria de suprimentos correta e o trabalho em conjunto com os fornecedores durante determinado período de tempo proporcionam redução de preços pela eliminação de custos e de práticas ineficientes que não agregam valor para o cliente. (BAILY et al., 2000, p. 216) Muito comum em atividades industriais está a determinação do preço em decorrência do custo de produção. O preço Mark-up obtido através do acréscimo de uma porcentagem sobre o custo 80 de compra ou produção para chegar ao preço de venda; o preço-alvo determinado sobre uma porcentagem de retorno desejado sobre um investimento; e as possibilidades de tratamento do custo de produção são fatores que devem ser considerados pelos compradores em uma negociação de compra. Preço pelo valor percebido dos clientes também deve ser considerado. “O preço de valor percebido está baseado na percepção do cliente sobre o valor relativo e não do custo. [...] clientes diferentes tem ordens de prioridade diferentes e alguns estão dispostos a pagar mais do que outros por determinado produto” (BAILY et al., 2000, p. 222). Confiabilidade, durabilidade, bons serviços, pronta entrega são alguns dos fatores que podem ser interpretados com vantagem para alguns clientes, o que pode impactar no preço de venda de determinado produto, consequentemente afetar diretamente as compras organizacionais. Outro fator importante a se considerar na determinação de preço está no índice que mede a sensibilidade às mudanças de preço, ou seja, elasticidade preço. Este índice reflete a extensão pela qual as mudanças de preço afetam a quantidade vendida. Pode ser obtido ao se dividir a variação da quantidade vendida, pela mudança do preço, ambas em porcentagem. Os impostos também devem ser considerados para análise do preço de venda. Os compradores nas organizações devem considerar o impacto dos impostos em seu processo de compra, de forma a beneficiar a empresa com incentivos previstos na legislação. Ribeiro (2002, p.67) afirma que “Devem ser excluídos dos valores dos materiais adquiridos os valores dos impostos que forem recuperáveis por ocasião da venda dos produtos fabricados com esses materiais”. Todavia devem compor o custo de aquisição os valores dos impostos e taxas que incidirem sobre as compras dos materiais, cujos tais impostos e taxas não sejam recuperáveis no momento da venda dos produtos com eles fabricados. O enquadramento fiscal das empresas fornecedoras e compradoras, atrelado ao tipo de produto que esta sendo comprado, devem ser observados com vistas a aproveitar ao máximo os benefícios fiscais que possam existir, principalmente no que se refere a compensação de impostos. Por fim, ainda discutindo a variável preço dentro do processo de decisão em compras, Baily et al. (2000) esclarecem que qualquer tentativa de evidenciar e descrever os descontos estaria sujeita a erros. Entretanto, para os autores, as principais categorias são: 1) prazo de pagamento: à vista, à vista em cheque, prazo menores; 81 2) quantidade: quantidade de produtos, valor ou quantidade acumulada em determinado período; 3) tipo de cliente: revendedor, produtor/montador, cliente preferencial; 4) especiais: sazonais, promocionais e liquidação. Atenção especial deve ser dispensada aos preços de compra de commodities. Ocorrem grandes flutuações de preços neste mercado, o que representa real desafio para os compradores que necessitam de grandes quantidades de commodities, principalmente no que tange a estipulação das frequências de compras de determinados itens. Em certas empresas metalúrgicas, uma das principais commodities trata-se do alumínio, que tem sua produção controlada por poucas empresas (Alcan, Kaiser, Reynolds e Alcoa) conforme apontam Baily et al. (2000). 2.6.6 Negociação Trata-se de uma competência chave para o executivo de Compras. Envolve relacionamentos com fontes de suprimentos, intermediação de conflitos de interesse corporativos e pessoais, obtenção de vantagem competitiva. Impacta diretamente nos resultados das aquisições nas corporações. Para Junior (2011, p. 17): A negociação pode ser definida, portanto, como um processo através do qual os grupos ou as pessoas envolvidas, com o objetivo de construir uma relação duradoura, se deslocam de suas posições originais no sentido de alcançar a satisfação percebida de suas mútuas necessidades. Neste sentido, as negociações, para Baily et al. (2000, p. 237): [...] não estão necessariamente confinadas ao relacionamento compradorvendedor; muitas negociações de compras ocorrem em base intraorganizacional, envolvendo a conciliação das visões de funcionários e colegas dos fornecedores. Ainda conforme o autor supra citado, o processo de negociação apresenta algumas alternativas para se chegar a um acordo: a) persuasão: estimular o outro lado a aceitar os méritos de uma situação específica sem fazer nenhuma concessão; b) aceitação: concordar totalmente com o que o outro lado oferece; 82 c) coerção: insistir que o outro lado atenda suas demandas caso contrário incorrerá em algum tipo de prejuízo; d) solução de problema: remover a diferença, de forma que não haja necessidade de negociação. Junior (2011) ainda considera pertinente conceituar negociação, sem esgotar o tema e muito menos divulgar a excelência do seu modelo sobre outros, como processo composto de três fases: a) preparatória: quanto a informação é analisada, os objetivos estabelecidos e as estratégias desenvolvidas; b) reunião: envolve o processo de discussão, coleta e análise de informações; c) implementação do acordo entre as partes e entre as organizações. Além de considerarem os assuntos corporativos e os assuntos humanos envolvidos no processo, os compradores necessitam de habilidades de negociação, “[...] precisam estar conscientes das muitas variáveis que podem estar presentes em uma negociação” BAILY et al. (2000, p.243). Como sugestão, devem: planejar bem, saber ouvir e agir sob pressão, observar e saber conhecer bem as pessoas, saber lidar com a confrontação, ter julgamento sólido sobre o negócio, evitar excessos, ter comprometimento e ideias criativas, saber lidar com riscos, habilidade para responder perguntas, aspirações elevadas, saber lidar com o tempo. O quadro 18 apresenta algumas sugestões práticas apresentadas por Baily et al. (2000) e Dias e Costa (2012) à serem utilizadas em um processo de negociação. Quadro 18 - Sugestões para um processo de negociação Baily et al. (2000) Troque sempre algo por algo. Discipline a outra parte colocando preço para suas exigências. Não minta, mas não há necessidade de revelar assuntos que lhe deixará em posição de desvantagem. Evite aceitar a primeira oferta. Teste suposições. Não mude o preço, mude o acordo. Valorize cada item em negociação. Identifique seus objetivos estratégicos. Anote os detalhes da negociação e peça aprovação da outra parte. Dias e Costa (2012) Esteja bem preparado. Saiba ouvir. Faça concessões com calma e não prometa o que não pode ser cumprido. Não aceite a primeira oferta. Importe-se com a satisfação do vendedor. Diferenças pessoais não podem interferir na negociação. Evite apresentar a primeira oferta. Identifique a real causa do problema. Desenvolva alternativas durante a negociação, utilizando o tempo a seu favor. Utilize limites como forma de pressão. Coloque-se no lugar da outra parte. Não se atenha às fraquezas da outra parte. Cuidado com relacionamentos afetivos com o vendedor. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Baily et al. (2000) e Dias e Costa (2012) 83 Em relação à Baily et al. (2000), Dias e Costa (2012) traz importante contribuição ao alertar para não deixar que diferenças pessoais e relacionamentos afetivos entre comprador e vendedor interfira na negociação. 2.6.7 Custo total de aquisição Trata-se do “[...] total que você realmente paga pelos bens e serviços, incluindo coisas como ferramentaria, impostos alfandegários, estocagem, inspeção, conserto ou retificação e assim por diante. [...] assim que os materiais são adquiridos, eles podem agregar custos adicionais durante seu uso” (BAILY et al., 2000, p.24). Os preços são afetados pelos custos, desta forma os compradores devem trabalhar no sentido de erradicar custos desnecessários decorrentes, por exemplo, de especificações incorretas e excessivas, embalagens desnecessárias, custos com transportes. O preço, na maioria das aquisições, é o custo mais evidente, entretanto pode estar acompanhado de vários outros “[...] custos ocultos que devem ser considerados no processo de tomada de decisão” (BAILY et al., 2000, p.24). Tais custos ocultos podem ser: entrega, apoio, negligência no trabalho, bens consumíveis, treinamento, custos de estoque, atrasos, inspeção, custos de manipulação, etc. Lambert, Stock e Vantine (1999), já à época, apontavam o preço de compra como apenas um elemento do custo total. Bowersox, Closs e Cooper (2006, p.125) chamam atenção para o Custo Total de Propriedade (TCO – Total Cost of Ownership): “Profissionais de compras reconhecem que, apesar do preço de compra de um material ou item continuar sendo muito importante, é apenas uma parte da equação de custo total em suas organizações”. 2.6.8 Especificações de compra A Função Compras tem grande responsabilidade em encontrar a especificação ótima, ou seja, contribuir para que as especificações de compra possibilitem à aquisição de serviços, materiais ou componentes que sejam econômicos para se comprar. Para Dias e Costa (2012), a Função Compras deve analisar os objetivos das diversas áreas solicitantes de forma a não perder oportunidades de contribuir para o processo, muito menos trazer qualquer tipo de prejuízo para a organização por não avaliar adequadamente o que os demais setores estão solicitando em suas requisições de compra. 84 [...] caberá ao departamento de compras fazer criteriosa análise com relação aos dados fornecidos, por ser essencial a sua correta elaboração, como forma de não causar dúvidas quanto ao desejado pelos solicitantes, relativamente a especificações, prazos, quantidades e demais detalhes necessários à compra. (DIAS; COSTA, 2012, p. 62) O tipo de produto ou serviço a ser adquirido deve ser considerado, tendo em vista que impactará diretamente no preenchimento das requisições de compras, sejam elas eletrônicas ou não. Gaither e Frazier (2005) defendem que as requisições de compra se originam com os departamentos que usarão os materiais. As requisições geralmente incluem uma identificação daquilo que deve ser comprado, a quantidade a ser comprada, a data ou programa de entrega solicitado, de quem o custo da compra deve ser cobrado, onde os produtos ou serviços comprados devem ser entregues, e a aprovação do gerente que possui autoridade para aprovar a compra. Dias e Costa (2012) evidenciam os dados mínimos necessários que devem constar em uma requisição de compras: a) identificação da área solicitante; b) identificação numérica ou alfanumérica da requisição; c) quantidade a ser adquirida; d) prazo desejado para entrega do material; e) unidade de aquisição (metro, litro, barra, dúzia, cento, kg, etc.); f) código do material (próprio ou do fabricante); g) descrição detalhada do material; h) data da requisição; i) unidade orçamentária ou centro de custo; j) estimativa de custo; k) aplicação ou destinação do material; l) identificação do responsável pela requisição. Especificações incorretas levam os compradores a perder muito tempo interpretando e realizando correções. As principais falhas na elaboração das especificações de compras, na visão de Dias e Costa (2012), são: descrição incompleta do material, fornecimento de códigos errados de materiais e erro nas unidades ou padrões de medida. 85 2.6.9 Organização de Compras A estrutura de Compras em uma organização está relacionada com a interação de Compras com as demais áreas da empresa. Baily et al. (2000, p.70-71) afirmam: Para se determinar qual a estrutura mais apropriada em uma situação específica, é essencial ter em mente o ponto sugerido de que uma estrutura organizacional de aplicação geral não existe. Em vários aspectos cada empresa é diferente de outra. Assim, vários fatores precisam ser levados em consideração ao se examinar um caso específico. Por exemplo, o tamanho da organização, o tipo de mercado a que ela atende, a tecnologia e os processos envolvidos, o tipo de pessoas empregadas, a volatilidade dos mercados em que ela opera e sua idade. A definição das alternativas de Compras (descentralizar totalmente as compras; centralização total das compras em um único escritório; uma combinação das duas) deve considerar o alinhamento no nível estratégico entre os objetivos e metas do setor de Compras e da organização como um todo. Para se montar uma área de compras em uma empresa, primeiro devem ser fixados os objetivos e direcionar as ações para alcançá-los, esses devem estar de acordo com os da empresa. Depois, deve se estabelecer o tipo de organização de compras que mais atende as necessidades da empresa. (CHAVES, 2002, p.129) Baily et al. (2000), Gonçalves (2010), Pozo (2010), Dias e Costa (2012), consideram imprescindível adotar um fluxo básico de compra como forma de realizar as aquisições de bens e contratação de serviços conforme os padrões esperados. 2.6.10 Restrições financeiras Antes da realização de qualquer compra, deve-se observar a existência de restrições financeiras que possam impedir a aquisição. Conforme aponta Dias e Costa (2012), caso haja alguma restrição financeira, o setor de Compras, no que se refere à necessidade de materiais, deve agir de forma proativa, direcionando recursos e buscando apoio interno para que não ocorra o desabastecimento de itens essenciais na linha de produção. Mesmo com orçamento de compras baseado nos orçamentos de vendas e de produção, canais de comunicação para troca de informações e mecanismos de controles devem ser estabelecidos no intuito de não prejudicar as negociações com fornecedores. Compradores devem ficar atentos com relação às condições de 86 pagamento de forma a evitar falta de fluxo de caixa e consequentemente futuras restrições financeiras decorrentes de protestos de títulos não quitados. 2.6.11 Timing O timing em compras está relacionado à agilidade do setor de Compras em atender as necessidades de suprimentos da organização em tempo hábil, bem como aproveitar as oportunidades de mercado. Timing em Compras impacta diretamente o fluxo de caixa das organizações conforme defende Baily et al. (2000, p.418) “O timing das compras é vital para a Administração de caixa, que precisa controlar o dinheiro exigido durante cada período”. A mensuração de desempenho com relação ao timing em compras está atrelada a algumas medidas, dentre elas: desempenho de entrega do fornecedor em relação ao prometido; tempo exigido para processar as requisições; tempo empregado com ação remediadora. 2.6.12 Tipo de produto a ser comprado De acordo com Baily et al. (2000, p.445), “O envolvimento da função compras no suprimento e em outras decisões parece depender do tipo de produto ou serviço envolvido”. Deve-se avaliar o tipo de produto a ser comprado considerando suas características de suprimento de gargalo, suprimento rotineiro, suprimento de alavancagem ou suprimento crítico. Cada tipo de suprimento, principalmente na montagem de produtos para transmissão de energia elétrica em redes de alta tensão, deve ser cuidadosamente analisado não só em sua curva ABC (princípio de Pareto) de custo de aquisição, mas também considerando a posição de cada item a ser comprado dentro da matriz XYZ1 de posicionamento de materiais apresentada por Dias e Costa (2012). Na visão de Arnold (2012), são quatro os tipos principais de produtos que devem ser considerados em uma negociação de compras: 1 Classificação XYZ tem como critério a criticalidade ou imprescindibilidade do material no desempenho das atividades realizadas. Itens classificados com “Z” possuem máxima criticalidade, sendo imprescindíveis para a organização. Os itens classificado como “Y” apresentam grau de criticalidade médio ou intermediário entre os imprescindíveis e os de baixa criticalidade. Classe “X”, são os materiais que sua falta não acarreta em paralisações, nem riscos à segurança pessoal, ambiental e patrimonial. (LOURENÇO E CASTILHO, 2007; DIAS E COSTA, 2012) 87 a) as commodities tais como o carvão, trigo, cobre, metais ferrosos e não ferrosos; b) produtos com padronização, que devido as suas características, são ofertados por diversas fontes de suprimentos e com pouca margem de negociação para compras em pequenas quantidades; c) produtos de pequeno valor que não demanda grande esforço de negociação de preços. Busca-se manter os preços em nível baixo e estabelecer contratos de fornecimento; d) materiais específicos feitos sob medida engloba itens que são produzidos mediante determinadas especificações. De acordo Ballou (2006), diferente dos produtos de consumo que estão dirigidos especificamente aos usuários finais, os produtos industriais são dirigidos para indivíduos ou organizações que os utilizam na elaboração de outros bens. Desta forma, o setor de Compras deve manter atenção nos tipos de produtos que estão sendo comprados já que as oscilações no mercado tanto de preço, escassez, frete, embalagem, sazonalidade, podem comprometer seu planejamento. 2.6.13 Frete A decisão de compra deve considerar o custo de frete nas aquisições realizadas. Empresas que possuem frota própria devem considerar a possibilidade de realizar o transporte das mercadorias compradas pela organização como forma de redução do custo total de aquisição. Para Dias e Costa (2012, p. 174), “[...] antes de qualquer decisão, deverão ser apurados os custos do transporte próprio e comparados aos do fornecedor”. Slack et al. (2009) consideram os custos de transportes uma importante variável a ser analisada na decisão de compra, tendo em vista que neles estão inclusos os preços de combustível e outros custos de movimentar os produtos ou serviços de sua origem até seu destino. Em operações de compra global, por exemplo, o frete pode ser a principal variável determinante no processo de decisão de compra. Para Ballou (2006), “O transporte normalmente representa o elemento mais importante em termos de custos logísticos para inúmeras empresas”. Nesta perspectiva, o setor de Compras nas organizações devem buscar por transportes com menor custo possível como forma de contribuir diretamente para redução dos preços dos produtos finais. Cinco modalidades de transporte oferecem serviços diretos aos usuários, são eles: ferroviário, rodoviário, aéreo, aquaviário e 88 dutoviário. Cada modalidade incorre em custos de frete específicos, também considerando o tipo e quantidade de carga a ser transportada. Para Reis (2001), a rapidez, disponibilidade, confiabilidade, capacidade e frequência são alguns dos fatores que devem ser considerados para selecionar o meio de transporte e, consequentemente, impactam no custo do frete. 2.6.14 Assistência Técnica e treinamentos Para Borgmann (2002), a utilização da assistência técnica como forma de manter relações firmes e duradouras com seus clientes mostra-se uma estratégia comum entre empresas fornecedoras. Urdan e Zuñiga (2001) apontam em seu estudo a importância da assistência técnica para o sucesso das estratégias de fidelização e lealdade à marca na indústria automobilística brasileira. Sendo assim, a assistência técnica e treinamento podem agregar valor ao bem quando o comprador leva em consideração, além do desempenho técnico, o suporte de assistência técnica (como manutenção, garantia e peças de reposição) nas compras a serem realizadas. Marques (2006) aponta que, principalmente para empresas do ramo tecnológico, a excelência nos serviços de assistência técnica e treinamento podem representar um diferencial competitivo importante para empresa vendedora, em especial no que se refere à fidelização de clientes. Por sua vez, empresas compradoras analisam a oferta de assistência técnica e treinamento como meio de precaução frente a futuras necessidades de manutenção e reparos em aparelhos, bem como necessidade de treinamentos e cursos de aperfeiçoamento referentes a algum tipo de conhecimento necessário à sua atividade produtiva. Conforme Dias e Costa (2012), em determinado tipo de compra, a assistência técnica, garantia e até mesmo treinamentos podem ser variáveis determinantes na decisão de compras nas organizações. Para os autores, os compradores devem, sempre que possível, negociar a extensão dos prazos de garantia, exigir assistência técnica em loco e treinamentos que forem necessários. Todo esforço deve ser feito para que a empresa compradora não sofra impactos negativos derivados de produtos que apresentem irregularidades de funcionamento ou mesmo serviços que necessitem constante atualização de conhecimentos. 89 2.6.15 Prazo de pagamento Negociar adequadamente o prazo de pagamento das mercadorias adquiridas pode representar o sucesso para a administração do fluxo de caixa da organização. Dias e Costa (2012, p. 173) afirmam “Trata-se, no entanto, de um procedimento capaz, inclusive, de alterar o próprio fluxo financeiro da organização”. Baily et al. (2000) descrevem que a variável prazo de pagamento está atrelada, dentre outras variáveis, ao preço. Os prazos de pagamento são de suma importância para equilibrar o fluxo de caixa das organizações. Não basta apenas comprar produtos de qualidade, com menor preço e prazos de entregas adequados se não há níveis de caixa que suportem os prazos de pagamentos estabelecidos nas negociações de compra. Chaves (2002) aponta três condições para a definição da variável prazo de pagamento em uma operação de compra: 1) disponibilidade do capital de giro: o nível de caixa da organização será determinante para negociar os prazos de pagamento juntos aos fornecedores, sob pena de impactar negativamente a estrutura financeira da empresa; 2) o valor a prazo deve ser trazido ao valor presente para comparação com preço à vista tendo como base uma determinada taxa de aplicação; 3) capacidade de negociação tendo em vista o volume a ser negociado. 2.6.16 Validade dos produtos A validade dos itens comprados também deve ser observada conforme afirma Chaves (2002, p.144) “Os produtos possuem um período de duração, no qual suas características e a qualidade permanecem inalteradas. Esse período é denominado validade e tem como início a data da produção e um determinado período contado a partir dessa data”. Filho (2007) complementa: Uma matéria quando exposta, está sujeita à ação de agentes externos como luz, calor e umidade, e quando esta se trata de um composto compreendido por dois ou mais componentes, somam-se a estes agentes externos, as interações químicas entre estes próprios componentes, que possibilitam transformações químicas que vão desde aquelas nitidamente visíveis, até aquelas transformações que mesmo sem percepção visual acarretam no comprometimento de algumas de suas características originais. (FILHO, 2007, p. 19) 90 Trata-se de uma variável de simples observação, entretanto altamente restritiva a determinadas situações de compras. A não observação dessa variável pode trazer grandes prejuízos financeiros para as organizações, principalmente no que diz respeito à qualidade dos produtos derivados de matérias primas com prazo de validade ultrapassado. 2.6.17 Níveis de estoque Slack et al. (2009) definem estoque como acumulação armazenada de recursos materiais em um sistema de transformação. Ballou (2006, p. 272) trabalha com uma definição mais completa para estoque: “Estoques são acumulações de matérias-primas, suprimentos, componentes, materiais em processo e produtos acabados que surgem em numerosos pontos do canal de produção e logística das empresas [...]” Normalmente, o estoque está em lugares como pátios, galpões, armazéns, chão de fábrica, equipamentos de transporte. Os materiais e produtos que compõem o estoque são basicamente matéria-prima, material auxiliar, itens de manutenção, material de escritório, material e peças em processo e produtos acabados. Desta forma, a quantidade de materiais mantida em estoque está relacionada com os custos associados tanto ao processo como aos custos de estocagem e frequência de compras. Ballou (2006) defende que o estoque possui grande influência na Função Compras, assim como a Função Compras pode afetar profundamente a movimentação e estocagem de mercadorias. Para Pozo (2010), o controle dos níveis de estoque é vital para o resultado da organização tendo em vista que desempenham e afetam de maneira bem definida o resultado da empresa. Baily et al. (2000) e Dias (2005) apontam que o comprador deve considerar tanto a redução de custos em decorrência da compra ou produção de quantidades ótimas, bem como a necessidade de adquirir menores quantidades como forma de reduzir o impacto financeiro decorrente dos custos de estocagem. O comprador deve ficar atento com relação ao valor do capital investido e juros perdidos decorrentes de alto nível de estoque. Slack et al. (2009, p. 362) afirmam que na tomada de decisão de quanto comprar, os gerentes tentam identificar os custos que serão afetados por sua decisão. Desta forma, alguns custos de manutenção de estoques devem ser considerados, tais como: volume estocado, armazenagem, manuseio, seguro, depreciação, obsolescência, custos de oportunidade do capital de giro, custos de falta de estoque, dentre outros. 91 2.7 Compras e Inovação Carvalho (2009, p.1), ao discutir o termo inovação, observa que “[...] dada a abundância de artigos e livros disponíveis na literatura, ou devido a ela, as fronteiras desse conceito se tornam difusas e proliferam as tipologias de inovação”. O interesse crescente das organizações pela busca de diferentes roteiros gerenciais para identificar a abordagem adequada capaz de viabilizar projetos de inovação com características distintas, fortalece a proliferação de diferentes tipologias relacionadas à inovação. Este capítulo objetiva dar o suporte teórico necessário para a identificação de algum tipo de inovação no processo de compra da Empresa Alpha que contribua para o aumento de competitividade da empresa. A análise das inúmeras tipologias de inovação encontradas na literatura não é alvo de estudo neste momento. Baily et al. (2000), ao discutir o tema inovação inserido no ambiente de Compras das organizações, defendem que as organizações devem estar preparadas para desenvolver novas práticas e produtos de maneira rápida e eficaz como forma de se manterem competitivas no mercado. Nesta perspectiva, melhorias significativas na interface interna entre a Função Compras e entre outros setores como produção, marketing e finanças deve existir. A redução do ciclo de vida dos produtos força a Função Compras a trabalhar de forma proativa para que possa ajudar a dar início a novas ideias e desenvolvimentos. “Os novos produtos não podem ser desenvolvidos e vendidos rapidamente sem uma função compras proativa” (BAILY et al. 2000, P.100). Segundo Gonçalves (2010), muitas empresas mantêm processos antigos em seus modelos de negócios para produzir materiais, analisar custos, desenvolver estratégias de suprimentos, selecionar fornecedores e também comprar materiais e serviços. Desta forma, as empresas “[...] não conseguem se tornar competitivas o que resulta em um processo paralisante em inovação com sucessivas perdas em competitividade diante de um mercado infiel, volátil e extremamente exigente [...]” (GONÇALVES, 2010, p. 302). Uma das principais causas para falta de inovação no processo de compra das organizações está na incapacidade de agir de forma proativa, de analisar seus processos de aquisição de materiais e serviços e promover significativas reduções nos custos por meio do aumento da produtividade e da inovação em tecnologia operacional e melhorias dos processos. 92 “Entre as atividades inovadoras que levam as empresas a se tornarem mais competitivas é ter em mente que os processos de aquisição de materiais e serviços assim como a manutenção de um excelente nível de relacionamento com os fornecedores rigorosamente selecionados são fatores de alavancagem nos negócios e vetores de crescente aumento da eficiência operacional e financeira”. (GONÇALVES, 2010, p. 302) A inovação da Função Compras das organizações passa pela utilização de um processo de compras otimizado, com suporte da tecnologia da informação, tendo os objetivos, a atuação, o gerenciamento e o controle das atividades de compras em conformidade com metas e prioridades da organização. Para isso, há necessidade de um suporte adequado através de uma estrutura organizacional apropriada em recursos e pessoal qualificado; uso de políticas e procedimentos relacionados às melhores práticas de compras, principalmente no que diz respeito à escolha de fornecedores e monitoramento da performance de cada fornecedor; bem como o processo de negociação. A utilização de ferramentas estratégicas de e-procurement, tais como solicitação de cotação de preço (RFQ) e Leilão Reverso, integrados a um sistema ERP pode ser entendido como iniciativa de inovação nos processos de compras de determinadas organizações. Para Davila, Espsten e Shelton (2007), a inovação para as organizações, além de ser uma oportunidade de crescer e sobreviver, também pode influenciar decisivamente os rumos da indústria em que se insere. Inovação é vista como elemento-chave para a concretização do crescimento das receitas, bem como aumento dos lucros das organizações, sendo considerada como fator realmente capaz de garantir o futuro próspero de qualquer empresa. Os autores defendem que: “[...] é pela adoção da inovação que qualquer empresa passa a estar em condições de redefinir os setores em que atua, de criar novas indústrias, e de conquistar uma liderança que venha a estabelecer as regras da concorrência – em seu próprio benefício, é lógico”. (DAVILA, ESPSTEN E SHELTON, 2007, p. 46) Lastres e Albagli (1999, p. 124), afirmam que “A compreensão do processo de inovação está estreitamente influenciada pelas características dominantes de contextos histórico e econômicos específicos”. As autoras apontam que as noções lineares sobre o processo inovativo; como aquelas que o tratavam como resultado das atividades realizadas na esfera da ciência, que evoluiria unidirecionalmente para a tecnologia, até chegar à produção e ao mercado; já não se colocam mais no centro do debate. Basta analisar as diversas fontes de geração de inovação consideradas pelas autoras: ciência; experiência cotidiana de produção, design, gestão, 93 comercialização e marketing dos produtos. Desta forma, aspectos antes negligenciados passam a ter importante papel para o sucesso do processo inovativo, impactando diretamente na evolução do conceito de inovação. Combinados, tanto os conhecimentos adquiridos com os avanços na pesquisa científica, quanto as necessidades oriundas do mercado levam a inovações em produtos e processos e a mudanças na base tecnológica e organizacional de uma empresa, setor ou país, que podem se dar tanto de forma radical como incremental. (LASTRES E ALBAGLI, 1999, p.125) Desta forma, deve-se considerar que uma empresa não inova sozinha, tendo em vista que as fontes de informação, conhecimento e inovação podem estar dentro ou fora dela. A interação entre os vários níveis e departamentos da mesma organização, entre organizações distintas e com outras organizações, de ensino e pesquisa torna o processo de inovação interativo, com participação de vários agentes econômicos e sociais detentores de informações e conhecimentos. Atrelada a essas características, tem-se as novas tecnologias de informações e comunicação que revolucionaram a troca de informações em uma nova economia informacional e global, conectada em rede conforme esclarecido por Castell (1999). Para Bensanko et al. (2012), a inovação é considerada um dos fatores que originam a vantagem competitiva. A ANPEI (2006), já alertava para o fato de que, em sua maioria, as empresas brasileiras não consideram o devido valor estratégico à inovação, limitando-se a difusão de tecnologias bem conhecidas voltadas para redução de custo e aumento da produtividade. Atrelado a este fato, tem-se o acanhamento das políticas públicas de estímulo à inovação frente ao desafio de elevar a produtividade e a capacidade competitiva da indústria brasileira. Alvarenga Neto (2013) corrobora com pensamento de Lastres e Albagli (1999) sobre a importância do contexto histórico e econômico para o processo de inovação, ao esclarecer que o Brasil não apresenta contexto favorável para inovação. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apresenta a evolução do conceito de inovação por meio do Manual de Oslo, tido como uma referência para os trabalhos de pesquisa e inovação. O Manual tem como objetivo a orientação e padronização dos conceitos, metodologias e construção de estatísticas e indicadores de pesquisa de P&D de países industrializados. A Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) recomenda que as empresas brasileiras utilizem o manual como referência para suas iniciativas de inovação tecnológica em prol do desenvolvimento do País. 94 A OCDE (1997) manteve seu foco na inovação tecnológica, de produto e de processo (TPP), conforme apresenta a definição de inovação à época: Inovações Tecnológicas em Produtos e Processos (TPP) compreendem as implantações de produtos e processos tecnologicamente novos e substanciais melhorias tecnológicas em produtos e processos. Uma inovação TPP é considerada implantada se tiver sido introduzida no mercado (inovação de produtos) ou usada no processo de produção (inovação de processo). Uma inovação TPP envolve uma série de atividades científicas, tecnológicas, organizacionais, financeiras e comerciais. (OCDE, 1997, p.32, tradução nossa) Entretanto, conforme observado por Carvalho (2009), a importância do setor de serviços na economia mundial, atrelado às inovações organizacionais decorrentes da maior volatilidade dos mercados e das mudanças tecnológicas com redução do ciclo de vida dos produtos, ocasionou uma evolução no conceito de inovação. Foram adicionados dois novos tipos de inovação não tecnológica na terceira edição do manual publicado no ano de 2005; as inovações organizacional e de marketing: Uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas. (OCDE, 2005, 46, tradução nossa) Uma inovação deve apresentar como requisito mínimo um produto, processo, método de marketing ou método organizacional que sejam novos (ou significativamente melhorados) para a empresa. A característica geral de uma inovação está em sua implementação, seja por meio da introdução de um produto novo no mercado; bem como a utilização efetiva nas operações das empresas de novos processos, métodos de marketing e métodos organizacionais. Há empresas que focam no desenvolvimento e implementação de produtos totalmente novos, enquanto outras realizam melhoramentos contínuos em seus produtos, processos e operações, entretanto “Empresas de ambos os tipos podem ser inovadoras: uma inovação pode consistir na implementação de uma única mudança significativa, ou em uma série de pequenas mudanças incrementais que podem, juntas, constituir uma mudança significativa” (OCDE, p. 47, tradução nossa). Uma empresa pode realizar vários tipos de mudanças em seus métodos de trabalho, no uso de fatores de produção e os tipos de resultados que aumentam sua produtividade e/ou seu desempenho comercial. OCDE (2005) propõe no Manual de Oslo quatro tipos de inovações que 95 encerram um amplo conjunto de mudanças nas atividades das empresas: inovações de produto, inovações de processo, inovações organizacionais e inovações de marketing. Quadro 19 - Tipos de Inovação Inovação Inovação de produto (continua) Características Trata-se da introdução de um bem ou serviço novo ou consideravelmente melhorado no que diz respeito a suas características ou usos previstos. Incluem-se aperfeiçoamentos significativos em especificações técnicas, componentes e materiais, softwares incorporados, facilidade de uso ou outras características funcionais. Novos produtos são bens ou serviços que diferem significativamente em suas características ou usos previstos dos produtos previamente produzidos pela empresa. Inovação processo de As inovações de produtos no setor de serviços podem incluir melhoramentos importantes no que diz respeito a como elas são oferecidas, como por exemplo: eficiência ou de velocidade, a adição de novas funções ou características em serviços existentes, ou a introdução de serviços inteiramente novos. Diz respeito à implementação de um método de produção ou distribuição novo ou significativamente melhorado. Incluem-se mudanças significativas em técnicas, equipamentos e/ou softwares. Os métodos de produção envolvem as técnicas, equipamentos e softwares utilizados para produzir bens e serviços. Exemplo: introdução de novos equipamentos de automação em uma linha de produção e a implementação de design auxiliado por computador para o desenvolvimento de produto. Os métodos de distribuição dizem respeito à logística da empresa e seus equipamentos, softwares e técnicas para fornecer insumos, alocar suprimentos, ou entregar produtos finais. Exemplo: um novo método de distribuição e a introdução de um sistema de rastreamento de bens por código de barras ou de identificação ativa por frequência de rádio. Inovação marketing de As inovações de processo também abarcam técnicas, equipamentos e softwares novos ou substancialmente melhorados em atividades auxiliares de suporte, como compras, contabilidade, computação e manutenção, bem como a implementação de tecnologias da informação e da comunicação (TIC) novas ou significativamente melhoradas que vise melhorar a eficiência e/ou a qualidade de uma atividade auxiliar de suporte. Refere-se à implementação de um novo método de marketing com mudanças significativas na concepção do produto ou em sua embalagem, no posicionamento do produto, em sua promoção ou na fixação de preços. A característica distintiva de uma inovação de marketing está na implementação de um método de marketing que não tenha sido utilizado previamente pela empresa. Inovações de marketing compreendem mudanças significativas no design do produto, constituindo um novo conceito de marketing. Novos métodos de marketing em posicionamento de produtos envolvem principalmente a introdução de novos canais de vendas. Por sua vez, os novos métodos de marketing em promoção de produtos envolvem o uso de novos conceitos para promover produtos ou serviços de uma empresa. As inovações em fixação de preços compreendem o uso de novas estratégias de fixação de preços para comercializar os bens ou serviços de uma empresa. 96 Quadro 19 - Tipos de Inovação Inovação Inovação organizacional (conclusão) Características Trata-se da implementação de um novo método organizacional nas práticas de negócios da empresa, na organização do seu local de trabalho ou em suas relações externas. Podem visar a melhoria do desempenho de uma empresa por meio da redução de custos administrativos ou de custos de transação, estimulando a satisfação no local de trabalho (e por consequência a produtividade do trabalho), ganhando acesso a ativos não transacionáveis (como o conhecimento externo não codificado) ou reduzindo os custos de suprimentos. Os aspectos distintivos da inovação organizacional, comparada com outras mudanças organizacionais em uma empresa, é a implementação de um método organizacional (em práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas) que não tenha sido usado anteriormente na empresa e que seja o resultado de decisões estratégicas tomadas pela gerência. As inovações organizacionais em práticas de negócios compreendem a implementação de novos métodos para a organização de rotinas e procedimentos para a condução do trabalho. As inovações na organização do local de trabalho envolvem a implementação de novos métodos para distribuir responsabilidades e poder de decisão entre os empregados na divisão de trabalho existente no interior das atividades da empresa (e unidades organizacionais) e entre essas atividades, e por sim novos métodos organizacionais nas relações externas de uma empresa compreendem a implementação de novos meios para organizar as relações com outras firmas ou instituições públicas. Fonte: Elaborado pelo autor com base em (OCDE, 2005, p. 47-52). Tigre (2006) contribui para o tema ao realizar duas importantes distinções, a primeira diz respeito tecnologias e técnicas. A tecnologia pode ser definida como conhecimento sobre as técnicas, enquanto as técnicas envolvem aplicações desse conhecimento em produtos, processos e métodos organizacionais. A segunda diz respeito à invenção e inovação. Invenção está relacionada à criação de um processo, técnica ou produto inédito, podendo ser divulgado por meio de artigos técnicos e científicos, patentes, protótipos e plantas piloto, sem, contudo, ter uma aplicação comercial efetiva. Por sua vez, a inovação acontece por meio da efetiva aplicação prática de uma invenção. Com relação a inovações incrementais e inovações radicais, Tigre (2006) esclarece que as inovações incrementais ocorrem de forma contínua nas indústrias, abrangendo melhorias no design ou na qualidade dos produtos, aperfeiçoamento em layout e processos, novos arranjos logísticos e organizacionais, bem como novas práticas de suprimentos e vendas, sem alteração da estrutura industrial. Por sua vez, a inovação radical ocorre quando rompe as trajetórias existentes, inaugurando uma nova rota tecnológica. Trata-se do desenvolvimento e introdução de um novo produto, processo ou forma de organização da produção inteiramente nova. Possui caráter descontínuo no tempo e nos setores, rompe os limites da inovação incremental, trazendo um saldo de produtividade e iniciando uma nova trajetória incremental. Esse tipo de inovação pode representar uma ruptura estrutural com o padrão tecnológico anterior, originando novas 97 indústrias, setores e mercados ocasionando redução de custos e aumento da qualidade em produtos já existente (LASTRES; ALBAGLI, 1999). A pesquisa PINTEC ano base 2011, aborda no Brasil o comportamento inovador da empresa, através do monitoramento de três tipos de inovação: (i) produto, (ii) processos; e (iii) mudanças organizacionais: a) produto: produto tecnologicamente novo apresenta suas características fundamentais significativamente diferentes de todos os produtos já produzidos pela empresa. Incluindo aperfeiçoamento tecnológico substancial em produtos existentes e excluídas as mudanças de caráter estético ou de estilo e a comercialização de produtos novos produzidos e desenvolvidos e produzidos por outras empresas; b) processo: formas de operação tecnologicamente novas ou substancialmente aprimoradas, obtidas pela introdução de novas tecnologias de produção, assim como de métodos novos ou substancialmente aprimorados de manuseio e entrega de produtos que resultem em aumento no nível de qualidade do produto e dos custos de produção e entrega; c) inovações organizacionais: mudanças que ocorrem na estrutura gerencial da empresa, incluindo a articulação entre suas diferentes áreas, especialização dos trabalhadores, relacionamento com fornecedores e clientes e múltiplas técnicas de organização dos processos de negócios. Para Tigre (2006), o setor de atividade industrial apresenta padrão de competitividade setorial que representam características estruturais próprias capazes de explicar a inovação nas organizações do setor, tais como: intensidade de competição, grau de concentração da produção, barreiras de entrada, exposição à competição internacional e regulamentações. A habilidade de fazer relações, visualizar oportunidades e tirar vantagens destas oportunidades devem ser os orientadores da inovação nas organizações (TIDD; BESSANT, 2009). Desta forma, o ambiente organizacional deve ser trabalhado para que não seja um inibidor interno de inovação conforme aponta Mattos e Guimarães (2005). Davila, Espstein e Shelton (2007) defendem que a inovação depende de uma boa gestão, portanto propõem sete regras, interdependentes, da inovação para conduzir a organização até o ponto desejado: 98 Quadro 20 - Regras para conduzir a Inovação nas organizações Sete regras da inovação Exercer sólida liderança sobre os rumos e as decisões de inovação Descrição O comando executivo da empresa deve orientar claramente, motivar, sustentar e recompensar as atividades voltadas para a inovação, bem como as inovações em si. Inovação deve fazer parte integral do processo operacional diária da empresa. É preciso determinar os tipos e a quantidade de inovação, necessários para dar suporte à estratégia do negócio. A empresa deve ser forte tanto para criar quanto para transformar a inovação em lucros. Inovação exige mudança, e a mudança desperta rotinas e normas culturais explícitas que agem para bloquear ou rejeitar a transformação. Fundir os recursos internos da organização com partes selecionadas dos imensos recursos da economia do mundo capitalista. Estimular as pessoas a atingir o nível necessário de inovação. Integrar a inovação à mentalidade do negócio Alinhar a inovação com a estratégia da empresa Administrar a tensão entre criatividade e capitação de valor Neutralizar os anticorpos organizacionais Cultivar uma rede de inovação além dos limites da organização Criar os indicadores de desempenho e as recompensas adequadas à inovação Fonte: Elaborado pelo autor com base em Dávila, Espstein e Shelton (2007). Uma importante colocação de Davila, Espsten e Shelton (2007) está no fato de que cada companhia apresenta seus próprios processos, organização, cultura, indicadores, estratégia de inovação, portanto os produtos da inovação de cada uma delas serão igualmente diferentes. Inovação requer gestão proativa, deve-se também observar a maneira pela qual a empresa inova, como ela trabalha com os elementos da inovação citados pelos autores: liderança, estratégia, processos, recursos, indicadores de desempenho, mensuração e incentivos, bem como a sua estrutura e cultura organizacional. A inovação deve ser vista como processo operacional diário do negócio sendo parte integral da mentalidade de um negócio compreendendo as atividades tecnológicas e estratégicas trabalhadas em conjunto em prol do alcance de inovação de sucesso. 2.8 Um estudo semelhante Esta seção apresenta uma visão geral da pesquisa realizada por Flávia Alcântara Rocha Chaves – Chaves (2002), mestre em Controladoria e Contabilidade pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. A pesquisa intitulada “Estudo das variáveis utilizadas na decisão de compras no comércio varejista de alimentos de autoserviço-supermercado”, analisou a utilização de variáveis de decisão, previamente selecionadas pela autora, no processo de compras no setor de varejo de alimentos de auto-serviço (supermercados). O estudo de Chaves (2002), parte da seguinte premissa: 99 “[...] para que seja otimizado o resultado da área de compras é necessário que o gestor escolha a alternativa que contribui com o maior montante ao resultado da empresa. A elaboração das alternativas só é possível com base na análise das variáveis de decisão, que são aquelas que estão sob o domínio do gestor ou que pelo menos ele tenha influência e responsabilidade nas suas consequências”. Chaves (2002, p.13) O setor pesquisado por Chaves (2002) abrange o varejo de auto-serviço (supermercado) no qual o consumidor possui a liberdade de escolher os produtos a serem adquiridos sem o auxílio direto de vendedores, ou seja, sozinho; dirigindo-se aos check-out após efetuada a escolha para realizar o pagamento. Em empresas deste setor, Compras trata-se de uma Função necessária não só para aquisição dos produtos, mas também para movimentação, armazenamento e distribuição dos produtos às lojas. Seu problema de pesquisa foi: “Quais as variáveis utilizadas no modelo de decisão que podem dar suporte ao processo de tomada de decisão de compras no comércio varejista de alimentos de auto-serviço – supermercados?” Tendo como objetivos i) a identificação das variáveis utilizadas no modelo de decisão de compras de empresas do comércio varejista de alimentos de autoserviço (supermercado); ii) propor um rol de variáveis que podem ser utilizadas no modelo de decisão de tais empresas. Em relação ao referencial utilizado na pesquisa, Chaves (2002), logo nas considerações gerais da introdução de sua pesquisa, alerta o leitor para o fato de que seu trabalho está voltado exclusivamente para o comércio varejista, em específico os supermercados. Desta forma, sua revisão bibliográfica sobre Compras, Gestão de Compras, Processo Decisório, Informação, Sistema de Informação e, principalmente, as Variáveis de Compras selecionadas para o estudo é realizada atrelando os conceitos apresentados pela literatura especializada às características do comércio varejista, especificamente no ramo supermercadista brasileiro. Em relação à metodologia de pesquisa, Chaves (2002) determina por amostragem intencional ou por conveniência três redes de supermercados do estado de Fortaleza/CE para realização da pesquisa de cunho qualitativo. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com diretores, gestores e analistas. Tais entrevistas foram transcritas e analisadas com vistas a coletar informações e identificar variáveis utilizadas no processo de decisão de compras, bem como propor um rol de variáveis capaz de otimizar as decisões de compras da empresa. 100 Os resultados da pesquisa apontam um rol de dezessete variáveis a serem consideradas no processo de compras no comércio varejista de auto-serviço supermercado, sendo: frequência de compras, volume de compras, natureza da demanda, preço, tipo de produtos, estoques, distribuição dos produtos, fornecedor, organização de compras, estilo do comprador, sistemas de informações, prazo de pagamento, qualidade, mix de produtos, frete e seguro, impostos, e por fim validade dos produtos. As principais recomendações realizadas pela autora ao final de sua pesquisa são: i) a decisão de compras deve estar embasada em um modelo de decisão que utilize as dezessete variáveis; ii) o sistema de informação deve ser capaz de analisar todas as variáveis de modo isolado e em conjunto; iii) a área de Compras deve participar nas decisões de definição do mix junto com a área de marketing; iv) a área de Compras deve trabalhar em conjunto com a área de venda. 101 3 METODOLOGIA Yin (2010, p.31) defende que “A definição das questões de pesquisa é provavelmente o passo mais importante a ser dado no processo de pesquisa [...]”. O ponto inicial para a pesquisa está em um tipo de problema, um questionamento. Marconi e Lakatos (2010, p.2) esclarecem que, partindo de um problema, a pesquisa “[...] vai responder às necessidades de conhecimento de certo problema ou fenômeno”. As autoras defendem que pesquisar, além de procurar a verdade, trata de encontrar respostas para questões propostas utilizando métodos científicos. Santos (2012, p.196), com base em revisões de literatura a respeito do tema, entende pesquisa como “[...] o processo, a forma, a maneira, o caminho, seguidos para alcançar resposta para uma dúvida sobre um problema, um fato, obedecendo a princípios, normas e técnicas”. 3.1 Caracterização da pesquisa Quanto à abordagem, esta pesquisa é considerada qualitativa. Neves (1996, p.1) esclarece que pesquisa qualitativa “Compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam descrever e decodificar os componentes de um sistema complexo de significados. Tem por objetivo traduzir e expressar o sentido dos fenômenos do mundo social [...]”. Assim, com base na revisão bibliográfica apresentada, pretendeu-se através de uma abordagem qualitativa do objeto, identificar quais são as variáveis determinantes do processo de decisão de compras em uma indústria fornecedora de componentes aplicados na construção, expansão, manutenção e modernização de linhas de transmissão e redes de distribuição de energia elétrica no Brasil. Quanto aos fins, foi utilizada a pesquisa descritiva, o que significa que ela pretendeu descrever os comportamentos e características de determinada população, bem como suas variáveis, conforme indica Santos (2012). Quanto aos meios, foi realizado um estudo de caso por viabilizar uma análise em profundidade de um ou mais fatos com vistas à obtenção de um grande conhecimento com riqueza de detalhes do objeto estudado. Yin (2010) afirma que estudo de caso surge como método potencial da pesquisa quando se deseja investigar um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto de vida real, dado que fronteiras entre o fenômeno e o contexto não são claramente visíveis. O estudo de caso permite 102 aprofundamento da análise do assunto, possui foco na compreensão dos fatos e na sua mensuração, proporcionam que investigadores retenham as características holísticas e significativas dos eventos da vida real. A essência do estudo de caso está na tentativa de esclarecer uma decisão ou conjunto de decisões, tendo em vista o motivo da tomada de tal decisão, sua implementação, bem como os resultados obtidos. É preferido no exame dos eventos contemporâneos, mas quando os comportamentos relevantes não podem ser manipulados. O estudo de caso conta com muitas técnicas como documentos primários, documentos secundários, artefatos culturais e físicos, observação direta e indireta dos eventos em estudo, entrevistas das pessoas envolvidas nos eventos. Para Gil (2008), estudo de caso envolve um estudo exaustivo de um ou poucos objetos de maneira a permitir seu amplo e detalhado conhecimento. Um caso mostra-se como uma unidade de análise delimitada com partes integradas onde características podem estar dentro, nos limites ou fora do mesmo. O projeto de caso único é apropriado sob várias circunstâncias. Uma das justificativas apontadas por Yin (2010) para utilização de estudo de caso único está no seu caráter representativo ou caráter típico. O objetivo é captar as circunstâncias e as condições de uma situação diária ou de um lugar-comum. O estudo de caso pode representar um "projeto típico" entre muitos projetos diferentes, uma empresa de manufaturas considerada típica de muitas outras empresas de manufaturas na mesma indústria, um bairro urbano típico, ou uma escola representativa, como exemplos. As lições aprendidas desses casos são presumidamente informativas sobre as experiências da pessoa ou instituição média. (YIN, 2010, p. 72) A unidade de pesquisa em questão trata-se de uma empresa típica do setor. A especificidade dos produtos fornecidos pela empresa, bem como as exigências de homologações de materiais em cada uma das concessionárias de energia elétrica do Brasil, a colocam, juntamente com alguns outros competidores, em um mercado de difícil acesso para novos entrantes. A linha específica de produtos fornecidos pela Empresa Alpha apresenta características técnicas e projetos de produção que exigem rigorosos trâmites para homologação em cada uma das concessionárias de energia elétrica no Brasil antes de receberem autorização para comercialização. Tais exigências técnicas e nível de burocracia, atrelado ao domínio de patentes por parte de algumas empresas, podem desestimular a entrada de competidores neste mercado. O Know How na parte de engenharia, desenvolvimento de produtos, bem como a excelência na fabricação e montagem dos componentes são considerados primordiais para homologação dos produtos nos clientes finais, principalmente nas concessionárias de energia elétrica no Brasil. O 103 longo tempo decorrido entre o desenvolvimento de um produto até a sua homologação em cada concessionária de energia elétrica no território brasileiro pode ser considerado uma das principais barreiras de entrada neste mercado. 3.2 Unidade de análise e sujeitos de pesquisa Com base no critério por número de empregados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, a unidade de análise desta pesquisa pode ser classificada como uma indústria brasileira de pequeno porte, contendo 50 funcionários diretos, com faturamento anual bruto aproximado entre R$ 7 milhões e R$ 9 milhões, sede no estado de Minas Gerais, fornecedora de materiais para os segmentos de Linhas de Transmissão e Redes Aéreas de Distribuição de Energia Elétrica com atuação em todo território brasileiro e alguns países do Mercosul. Sua linha de produtos é composta por itens como Espaçadores Losangulares, Grampos de Ancoragem, Braços de Suspensão, Carretilha Dupla Ação, dentre outros. Possui mais de 300 empresas nacionais cadastradas em sua base de fornecedores, tendo suas compras concentradas em empresas localizadas nos estados de São Paulo e Minas Gerais. O objeto de pesquisa abrange as práticas de compras, bem como as variáveis utilizadas no processo de decisão de compras (Variáveis de Decisão) da referida organização. Conforme Almeida (1996), Variáveis de Decisão podem ser divididas com base em sua controlabilidade em i) variáveis que estão sob controle do tomador de decisão, tais como determinação de níveis internos de estoque; e ii) variáveis que não estão sob controle, mas que o tomador de decisão tem influência e responsabilidade nas suas consequências para a empresa, como a validade dos produtos comprados. No contexto desta pesquisa serão consideradas Variáveis de Decisão determinantes de compras, as condições específicas que estão sob o domínio do gestor ou que pelo menos ele tenha influência e responsabilidade nas suas consequências e são efetivamente utilizadas para subsidiar o processo de tomada de decisão de compras. Variáveis externas e não controláveis pela empresa, tais como: ambientais, culturais/sociais, demográficas, econômicas, jurídicas/politicas, psicológicas e tecnológicas não são alvo deste estudo. As práticas de compras são consideradas grandes responsáveis pelo desempenho da organização alvo deste estudo. Elas contribuem para o controle de custos de produção e consequente sucesso das vendas, principalmente via pregões eletrônicos realizados por concessionárias de distribuidoras de energia elétrica no Brasil com alto grau de exigências, sejam ambientais, técnicas e de custo, tais como: AMPLA (Ampla Energia e Serviços S/A), COPEL (Copel 104 Distribuição S.A.), CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz), ELEKTRO (Elektro Eletricidade e Serviços), CEMIG (Companhia Energética de Minas Gerais), COELBA (Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia), CELESC (Centrais Elétricas de Santa Catarina), CELG (Companhia Energética de Goiás), CELPE (Companhia Energética de Pernambuco), ELETROSUL (Eletrosul Centrais Elétricas S/A), dentre outras. Esta pesquisa foi realizada com a utilização de sujeitos de pesquisa que representam bem o fenômeno estudado. Os fatores determinantes para esta escolha foram: acessibilidade à unidade de pesquisa, custo da pesquisa, suporte para realização da pesquisa e o tempo disponível para execução dos trabalhos de pesquisa. 3.3 Coleta de dados: técnicas e fontes de pesquisa A seleção do instrumental metodológico está diretamente relacionada com o problema a ser estudado, logo dependerá dos vários fatores relacionados com a pesquisa: fenômenos, objeto da pesquisa, recursos financeiros, equipe humana, dentre outros elementos proveniente do campo da investigação. Para Marconi e Lakatos (2010), a organização dos instrumentos de investigação constitui uma etapa importante no planejamento da pesquisa. Podem ser formulários, questionários, roteiros de entrevistas, escalas de opinião ou de atitude dentre outros. As pesquisas documental e bibliográfica foram utilizadas como técnicas para coleta de dados. A pesquisa documental teve como fonte os arquivos particulares de instituições de ordem privada (neste caso obtidos diretamente na organização pesquisada), sendo utilizados, quando necessário, para ratificar determinados dados coletados que mereçam maior atenção por parte do pesquisador. Por sua vez, a pesquisa bibliográfica abordou a teoria já tornada pública em relação ao tema de estudo (Compras/Suprimentos/Inovação) relacionada aos objetivos desta pesquisa, incluindo publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, dentre outros devidamente descritos nas referências desta pesquisa. As variáveis de decisão em compras encontradas nesta pesquisa foram comparadas com as variáveis de compras recomendadas no estudo conduzido por Chaves (2002). A pesquisa de campo e observação não participante das atividades executadas pela área de Compras da empresa pesquisada foram outras técnicas utilizadas. O trabalho de pesquisa de campo por meio da observação não participante foi realizado no período de dezembro de 2013 105 a março de 2014, objetivando conseguir informações e/ou conhecimento em relação ao problema desta pesquisa. Marconi e Lakatos (2010, p. 69) apontam que a pesquisa de campo “Consiste na observação dos fatos e fenômenos tal como ocorrem espontaneamente, na coleta de dados a eles referentes e no registro de variáveis que se presumem relevantes, para analisálos”. Foram utilizadas as fases sugeridas pelas autoras: realização de pesquisa bibliográfica sobre o tema, elencar as técnicas a serem utilizadas na coleta de dados, estabelecer as técnicas de registro dos dados coletados, bem como as técnicas que serão utilizadas em sua análise posterior. Entrevistas semiestruturadas também foram aplicadas a 1 (um) comprador e aos 2 (dois) diretores envolvidos diretamente com as decisões de compras com intuito de extrair informações relevantes a respeito do tema investigado. O foco foi realizar questionamentos básicos apoiados em teorias e hipóteses que se relacionam ao tema de pesquisa. Para Marconi e Lakatos (2010), este modelo de pesquisa dá oportunidade ao entrevistado de responder a questão proposta e acrescentar sua visão do problema. Confecciona-se um roteiro com perguntas principais, complementadas por outras questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. A entrevista tem relativa flexibilidade já que as questões não precisam seguir a ordem prevista no roteiro e poderão ser formuladas novas questões no decorrer da entrevista, entretanto, em geral, a entrevista seguirá um planejamento. A construção do roteiro de perguntas para realização das entrevistas teve como base o arcabouço teórico apresentado sobre o tema. O quadro 21 apresenta a relação das variáveis de compras a serem pesquisadas, bem como os autores utilizados. Quadro 21 - Relação das variáveis de Compras Nº Variável Diz respeito à: 1 Qualidade Baily et al. (2000) e Dias e Costa (2012) 2 Quantidade correta Baily et al. (2000) Conjunto de características de um produto ou serviço relevantes para atender às exigências. Quantidade dos produtos a serem adquiridos. Alternativas de decisão com relação a esta variável Verificar níveis de qualidade exigidos. Quantidade a ser comprada por produto. (continua) Determinantes das decisões de compra Especificações de desempenho e especificações de conformidade de acordo com o determinado. Nível de estoque; necessidades da área da produção; fluxo de caixa disponível para compra; promoções; política de pedidos. 106 Quadro 21 – Relação das variáveis de Compras Variável Diz respeito à: 3 Tempo Baily et al. (2000) e Dias e Costa (2012) Prazo de entrega. 4 Fonte de suprimentos Baily et al. (2000), Chaves (2002), Gaither e Fraizer (2005) e Slack et al (2009) Seleção fornecedores adequados. 5 Preço Baily et al. (2000), Lambert, Stock e Vantine (1999) Negociação Baily et al. (2000), Junior (2011) e Dias e Costa (2012). Custo total de aquisição Baily et al. (2000) e Bowersox, Closs e Cooper (2006) Valor negociado para os produtos. Menor preço possível; preço de mercado. Negociar a compra dos produtos ou contratação de serviço com os fornecedores. Realizar acordo para compra; não realizar acordo para compra. As variáveis envolvidas na decisão da compra; objetivos da negociação (ganha-ganha, perdeganha, perde-perde). Custo total envolvido na compra de produtos e contratação de serviços. Estrutura de custo da empresa. 8 Especificações de compra Gaither e Fraizer (2005) e Dias e Costa (2012) Requisitos necessários para realização da compra. 9 Organização de compras Baily et al. (2000), Chaves (2002), Gonçalves (2010), Pozo (2010) e Dias e Costa (2012) Estruturação do processo de compras. Negociar redução do preço da compra; identificar e reduzir custo ocultos, tais como: custo de estocagem, de entrega, de apoio, treinamento, atrasos, inspeção, manipulação, dentre outros. Realizar compra conforme especificações contidas na requisição de compra; não realizar a compra por erros de especificação; realizar a compra após retificação da requisição de compra. Centralizada; descentralizada; combinação das duas. 6 7 de Alternativas de decisão com relação a esta variável Prazo de entrega negociado por compra realizada; prazo de entrega determinado em contrato; prazo de entrega determinado pelo fornecedor. Escolher isoladamente um fornecedor; contratar conforme exigências; reduzir base de fornecedores; aumentar base de fornecedores. (continuação) Determinantes das decisões de compra Nº Necessidades da área de produção. Atributos de um bom fornecedor; quantidade de fornecedores; histórico de fornecimento; parcerias estabelecidas; conhecimento do mercado; (reputação, prazo de entrega, confiabilidade, capacidade financeira); redução ou ampliação da base de fornecedores da empresa. Orçamento disponível para compra; acordos pré-determinados com fornecedores; prazos para pagamento concedidos; restituição de impostos. Correto preenchimento e compreensão das especificações necessárias para compra; especificações para compra. Estrutura organizacional da empresa; posicionamento do setor de compra; compras centralizadas e descentralizadas; decisão de fabricar ou comprar. 107 Quadro 21 – Relação das variáveis de Compras Nº Variável Diz respeito à: (conclusão) Determinantes das decisões de compra 10 Restrições financeiras Dias e Costa (2012) 11 Timing Baily et al. (2000) 12 Tipo de produto a ser comprado Baily et al. (2000), Ballou (2006), Dias e Costa (2012) e Arnold (2012). Frete Reis (2001), Ballou (2006), Slack et al (2009) e Dias e Costa (2012) Produtos quem devem ser comprados conforme descrito nas especificações de compra. Commodities; produtos com padronização; produtos de pequeno valor; materiais específicos feitos sob encomenda. Custo do transporte nas compras efetuadas. Ferroviário, rodoviário, aéreo, aquaviário e dutoviávio. Rapidez, disponibilidade, confiabilidade, capacidade, frequência, seguro, custo. Assistência técnica e treinamento Borgmann (2002), Marques (2006) e Dias e Costa (2012) Prazo de pagamento Baily et al. (2000), Chaves (2002) e Dias e Costa (2012) Validade dos produtos Chaves (2002) e Filho (2007) Serviços de reparos em defeitos sob garantia e realização de treinamento para utilização do produto adquirido. Realizar compra com prazo de garantia previsto na legislação vigente; realizar compra com contratação de prazo de garantia estendida. Orçamento de compra, prazo da garantia, assistência técnica em loco, localização para realizar treinamentos. Prazo estabelecido para pagar o fornecedor. A vista, a prazo, entrada e restante a prazo. Taxa de captação e aplicação do dinheiro no mercado; disponibilidade de caixa. 13 14 15 16 Restrições financeiras que possam impedir a área de Compras de efetuar uma aquisição. Atender às necessidades de compra da organização em tempo hábil. Alternativas de decisão com relação a esta variável Realizar compra à vista; realizar compra à prazo mediante autorização do fornecedor; não realizar a compra. Atender em tempo hábil; não atender em tempo hábil. Existência de restrições financeiras que possam impedir a aquisição. Normas da área de Compras; fluxo de caixa disponível para compra; desempenho de entrega do fornecedor em relação ao pactuado; tempo exigido para processar as requisições; tempo empregado com ação remediadora. Suprimento de gargalo; suprimento rotineiro; suprimento de alavancagem; suprimento crítico. Período de duração de Horas, dias, meses, anos, Tipo de produto a ser comprado. um produto no qual indeterminado. suas características e a qualidade permanecem inalteradas. 17 Níveis de Acumulações de Comprar conforme Custos de estocagem (volume estoque matérias primas, necessidade da produção; estocado, armazenagem, Baily et al. suprimentos, comprar para compor manuseio, seguro, depreciação, (2000), Dias componentes, estoque; comprar obsolescência, custos de (2005), Ballou materiais em processo conforme necessidade oportunidade do capital de giro, (2006), Slack et e produtos acabados das vendas. custos de falta de estoque). al. (2009) em um sistema de transformação. Fonte: Elaborado pelo autor com base nos objetivos da pesquisa e no referencial teórico. 108 Pretendeu-se com a utilização de questões orientadas conforme os objetivos traçados, em função das respostas dos entrevistados, extrair informações relevantes a respeito das variáveis utilizadas na decisão de compras pela empresa pesquisada. Após transcritas, as respostas da entrevista foram comparadas com a bibliografia apresentada sobre o tema, permitindo, assim, a adequada compreensão das informações relativas à estruturação do processo de compras na empresa pesquisada e, consequentemente, apoiar a investigação e análise das variáveis envolvidas no processo de decisão de compras da organização. O quadro 22 relaciona cada uma das variáveis pesquisadas às perguntas constantes no roteiro de entrevista do apêndice A. Quadro 22 - Relação de variáveis associadas às perguntas da entrevista Variável Qualidade Quantidade correta Tempo Fonte de suprimentos Preço Negociação Custo total de aquisição Especificações de compra Organização de compras Restrições financeiras Timing Tipo de produto a ser comprado Frete Assistência técnica e treinamento Prazo de pagamento Validade dos produtos Níveis de estoque Fonte: Elaborado pelo autor. Pergunta Número 23 13 22 14 13 10 18 16 1 21 19 12 20 12 13 e 17 12 12 As demais perguntas constantes no roteiro de entrevista dizem respeito aos dados gerais da atividade de compras na organização pesquisada, desta forma não estão apresentadas no quadro 22. 3.4 Técnicas de interpretação dos resultados Para Yin (2010, p. 154), “A análise dos dados consiste no exame, na categorização, na tabulação, no teste ou nas evidências recombinadas [...] toda análise de estudo de caso deve seguir uma estratégia analítica geral”. Com base nas proposições defendidas pelo autor, a análise dos dados coletados neste estudo de caso será realizada comparando a prática empresarial com aquilo que vem sendo preconizado na teoria sobre Compras. Desta forma, 109 optou-se por utilizar a técnica de “Combinação Padrão” por proporcionar a comparação de um padrão baseado empiricamente, com um padrão previsto (na literatura de Compras, neste caso). A coincidência de padrões pode ajudar o estudo de caso a fortalecer sua validade interna. Sendo assim, tendo por base o levantamento e revisão da literatura apresentados anteriormente sobre o tema, foi elaborado o modelo analítico tomado como padrão para esta pesquisa. Este modelo foi construído associando os objetivos geral e específico da pesquisa com as variáveis escolhidas para condução da presente investigação. Desta forma, este modelo serviu para auxiliar tanto na fase de coleta dos dados quanto na fase de análise dos resultados. Quadro 23 - Modelo analítico para análise dos dados da pesquisa Objetivos da pesquisa Geral Específicos a) Caracterizar o processo de compras em uma indústria metalúrgica identificando suas etapas. b) Identificar as variáveis que estão sendo selecionadas para efetivação das compras. Descrição Identificar as variáveis utilizadas na decisão de compras de uma empresa metalúrgica fornecedora de materiais para os segmentos de Linhas de Transmissão e Redes de Distribuição de Energia Elétrica, determinantes do processo de compra. Variáveis e definições Base teórica a ser utilizada Organização das atividades de compras Capítulos: na Empresa Alpha. 2.1; 2.1.1; 2.1.1.1; 2.1.2; 2.1.3; 2.1.3.1; 2.1.4; 2.1.4.1; 2.2. Variáveis determinantes na decisão de compras na Empresa Alpha. c) Acompanhar a evolução dessas variáveis no processo de decisão de compras. Utilização das variáveis identificadas no processo de decisão da Empresa Alpha. d) Identificar a utilização de alguma inovação no processo de compras que possa tornar a empresa mais competitiva. Comparar as variáveis identificadas nesta pesquisa com as de Chaves (2002). Utilização de inovações no processo de compras da Empresa Alpha. e) Capítulos: 2.5; 2.6; 2.6.1; 2.6.2; 2.6.3; 2.6.4; 2.6.5; 2.6.6; 2.6.7; 2.6.8; 2.6.9; 2.6.10; 2.6.11; 2.6.12; 2.6.13; 2.6.14; 2.6.15; 2.6.16; 2.6.17. Capítulos: 2.3; 2.4; 2.6; 2.6.1; 2.6.2; 2.6.3; 2.6.4; 2.6.5; 2.6.6; 2.6.7; 2.6.8; 2.6.9; 2.6.10; 2.6.11; 2.6.12; 2.6.13; 2.6.14; 2.6.15; 2.6.16; 2.6.17. Capítulos: 2,2; 2.7. Comparação das variáveis identificadas na Empresa Alpha com as variáveis identificadas por Chaves (2002). Capítulos: 2,8; 4.1; 4.2; 4.3; 4.3.1; 4.3.2; 4.3.3; 4.3.4; 4.3.5; 4.3.6; 4.3.7; 4.3.8; 4.3.9; 4.3.10; 4.3.11; 4.3.12; 4.3.13; 4.3.14; 4.3.15; 4.3.16; 4.3.17. Fonte: Elaborado pelo autor com base nos objetivos da pesquisa e no referencial teórico. Considerando Yin (2010), torna-se adequado julgar a qualidade deste estudo de caso descritivo por meio da: 110 a) validade do construto: definições conceituais e operacionais dos principais termos e variáveis do estudo devem ser estabelecidas com objetivo de saber o que será estudado. Buscar por múltiplas fontes de evidência para uma mesma variável como forma de estabelecer um teste; b) validade externa: dominar qual descoberta é passível de generalização. Atenção para coerência entre os achados do estudo e resultados de pesquisas assemelhadas; c) confiabilidade: considerando o protocolo do estudo de caso e a base de dados utilizada, o estudo deve ser passível de repetição obtendo-se resultados assemelhados. 3.5 Relatório do estudo de caso Para Yin (2010, p.194), relatar um estudo de caso significa “[...] trazer seus resultados e constatações ao encerramento”. Desta forma, deve refletir ênfases, detalhes, formas composicionais e até mesmo o comprimento adequado às necessidades do público potencial. Levando em consideração a composição do estudo de caso único para esta pesquisa, seu relatório foi estruturado de forma analítico-linear, por ser considerada, conforme aponta Yin (2010), a abordagem padrão para a composição de relatórios de pesquisa e mais adequada para quando o público principal do estudo de caso consiste em pesquisadores de banca de tese ou dissertação. 3.6 Protocolo do estudo de caso Conforme Yin (2010), a escolha do estudo de caso remete a utilização de um protocolo contendo as regras e os procedimentos a serem seguidos ao se utilizar os instrumentos de coleta de dados. Para Guerra (2010), “[...] o protocolo exerce forte influência sobre a eficiência (utilização correta dos recursos empregados durante a pesquisa de campo) e a eficácia (alcance dos objetivos esperados com a pesquisa de campo) do processo de coleta de dados”. Desta forma, o apêndice B da presente pesquisa, apresenta o protocolo de estudo de caso da Empresa Alpha utilizado como maneira de aumentar a confiabilidade da pesquisa e orientar o investigador na realização da coleta de dados. Permitiu manter o alvo sobre o tópico do estudo de caso, bem como antecipar vários problemas, incluindo a maneira pela qual os relatórios do estudo devem ser completados. 111 4 ANÁLISE DE RESULTADOS Esta seção apresenta a análise dos dados organizados de acordo com os objetivos específicos determinados para esta pesquisa. Desta forma, conforme descrito na capítulo 3, foi utilizada em um primeiro momento a entrevista semiestrutura voltada para coleta de dados referentes a organização de Compras, decisão de compras e a atividade de compras atreladas às variáveis de decisão. Em seguida, foi realizada a pesquisa de campo apoiada por pesquisa documental e observação não participante com vistas a obter informações com riqueza de detalhes capazes de atender os objetivos propostos deste estudo. Busca-se apresentar um cenário sobre a Função Compras a fim de prover contexto aos resultados da pesquisa e construir respostas ao objetivo geral proposto. As inferências realizadas seguem as recomendações da literatura especializada (NEVES, 1996; YIN, 2010; MARCONI E LAKATOS, 2010; BARDIN, 2012; SANTOS, 2012) no que se refere a abordagem, coleta e análise de dados da pesquisa. 4.1 Caracterizar o processo de compras em uma indústria metalúrgica identificando suas etapas. A observação não participante, seguida da análise documental permitiram comprovar que a rotina de Compras, também denominada Suprimentos, da Empresa Alpha tem seu foco no gerenciamento das atividades diárias do fluxo de materiais, sendo tal processo uma das definições de Compras encontrada em Moncza et al. (2011). A Função Compras da empresa privilegia a obtenção e coordenação do fluxo contínuo de suprimentos a fim de atender os programas de produção; comprar materiais e/ou contratar serviços pelos menores preços possíveis; além de procurar as melhores condições para a empresa no que se refere a prazo de entrega de materiais e custo de frete, estando assim alinhadas com algumas ações em Compras defendidas por Dias (2005) e Slack (2009). Identificou-se que o comprador da Empresa Alpha perde muito tempo realizando retrabalhos, ou seja, apagando “incêndios” conforme aponta Gonçalves (2010) em relação à carência de atitudes com visão estratégica nos departamentos de Compras. O processo de aquisição de produtos e contratação de serviços na Empresa Alpha estão centralizadas em sua área de Compras. A maior parte dos materiais, bens e serviços necessários é adquirida de fontes externas à empresa; entretanto alguns materiais e serviços são produzidos 112 internamente como forma de reduzir custos, tais como: montagem de componentes em metal, serviços de soldas e manutenção predial. Apesar de ser considerada uma das ferramentas capazes de contribuir positivamente em um processo de negociação, bem como contribuir para manter as projeções financeiras da empresa em patamares pré-determinados conforme indicam (BAILY ET AL., 2000), não foram encontrados indícios de utilização de orçamento de compras na Empresa Alpha. Entretanto, a empresa demonstra ter conhecimento de sua importância e pretende implantá-lo: “Não possui orçamento, na verdade a gente até pretende implementar isso, mas hoje a gente vai comprando à medida que vai entrando pedido, se existem metas específicas ou previsões anuais”. E1 “Não, não trabalhamos não, está no planejamento, está adequando a empresa para isso, mas atualmente não tem”. E3 Com base nos estágios estratégicos de desenvolvimento de Compras proposto por Baily et al. (2000), o esforço para aumentar a participação desta Função na tomada de decisões estratégicas na Empresa Alpha revela um processo de transição entre o estágio passivo para um posicionamento integrativo da Função Compras na organização. Tal constatação é comprovada pelas características dos estágios de desenvolvimento da Função Compras encontradas na Empresa Alpha: a) passivo: comprador da Empresa Alpha gasta muito tempo com operações rotineiras, tais como realizar cotações, conferir requisições de compras, lançar notas fiscais, realizar follow up, responder e-mails internos, dentre outras. As negociações de compra têm como base o preço do produto a ser adquirido, custo do frete e prazo de entrega; b) independente: o corpo diretor da empresa reconhece a Função Compras como importante para alcançar os objetivos de rentabilidade da empresa e trabalha para alinhar a direção estratégica de Compras com a estratégia competitiva da organização; c) apoiador: Compra vem adotando técnicas e práticas voltadas para o fortalecimento da posição competitiva da empresa, tais como novo posicionamento no organograma da empresa (subordinação direta à diretoria), uso de ERP, participação em reuniões para tomada de decisões estratégicas, monitoramento da concorrência e de seus produtos, bem como de novos fornecedores. 113 A comparação entre o perfil das atividades desenvolvidas no setor de Compras da Empresa Alpha, frente ao defendido por Braga (2006), ratifica este momento de transição de um posicionamento tático (operacional) para um posicionamento estratégico: Quadro 24 - Perfil das atividades de compra na Empresa Alpha Fatores empregados na decisão sobre escolha de fornecedores Rede e relacionamento com fornecedores Estrutura organizacional Características do Posicionamento Tático (operacional) em compras, Braga (2006). Função administrativa em que a tomada de decisão é principalmente baseada em preço. Trabalho com muitos fornecedores e relacionamento antagônico, do tipo “queda de braço”. Características do Posicionamento Estratégico em compras, Braga (2006). Alta visibilidade, direta subordinação à alta gerência. Percepção organização da Função proativa, importante para a competitividade da empresa, gerenciamento eficaz do suprimento de materiais. Acesso informação à Acesso amplo ao banco de informações geradas internamente e externamente. Gerenciamento estratégico Tecnologia informação O gerente é um estrategista sobre os materiais adquiridos, considerando a disponibilidade do mercado fornecedor, importância do item e volume de recursos empregados na aquisição. de Utilização dos recursos de transmissão eletrônica de dados, usos de sistemas ERP (Enterprise Resource Planning), de Internet para pesquisa, uso de leilão online, de portais de compras, uso de intranet para facilitar a comunicação interna e extranet com fornecedores chaves. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Braga (2006). Característica encontrada na Empresa Alpha. O preço é tido como um dos balizadores para realizar a compra, sendo considerado como variável determinante na maioria das negociações observadas. Forte característica do papel tradicional de compras: comprar, sempre privilegiando a relação maior volume pelo menor custo. Negociações conflitantes com determinados fornecedores de matéria prima e prestadores de serviço. Característica encontrada na Empresa Alpha. O setor de Compras encontra-se subordinado diretamente a vice-presidência, que na Empresa Alpha responde pelos departamentos Comercial, Financeiro, Administrativo, Compras, Operações e Desenvolvimento de novos produtos. A observação não participante possibilitou constatar a interação do comprador com os demais setores, em especial Produção e Estoque, em busca de oportunidades para promover melhor gerenciamento do abastecimento de materiais. Através do ERP, o comprador tem acesso a informações dos demais setores da empresa, bem como disponibiliza em tempo real todas as informações relacionadas aos processos de compra na organização. Os materiais e serviços adquiridos são classificados em famílias, para que possam ser tratados de forma diferenciada. Uso da classificação ABC dos materiais é processada automaticamente via sistema. São analisadas: a disponibilidade do mercado fornecedor considerando o item a ser comprado, bem como o volume de recursos empregados nas aquisições. Todo histórico de compras registrado digitalmente via ERP. Utilização de ERP e internet nas atividades de compras; uso do serviço web Neotriad.com para controle das atividades do setor, agendas e comunicações internas: as informações são disponibilizadas instantaneamente para todos dos setores da empresa, incluindo agenda de atividades mensais do setor de Compras, otimizando o processo de tomada de decisão. 114 A Empresa Alpha apresenta todas as etapas do processo de compras na visão tradicional como era de se esperar de uma Função Compras em evolução. Mas tal fato não representa um fator negativo para a organização tendo em vista que processar requisições, selecionar fornecedores, negociar preços, emitir pedidos de compra, realizar follow up, receber mercadorias compradas e baixar pedidos atendidos são atividades básicas nos setores de compras das organizações, conforme apontam Baily et al (2000). Em contra partida, a visão estratégica do processo de compras começa a tomar forma, em especial, por meio das tentativas de estabelecer parcerias com fornecedores em seu processo de negociação, conforme recomendado por Mello (2007), gerenciamento das compras por meio de ERP e participação em reuniões para tomada de decisões de cunho estratégico. A análise de diálogos registrados em e-mails (divulgação não autorizada), bem como a observação não participante das atividades rotineiras do setor de Compras, evidenciou a presença simultânea do papel reativo e proativo do trabalho desenvolvido pelo respectivo setor. Relacionamentos meramente transacionais foram identificados com vários fornecedores, entretanto o papel proativo torna-se visível por meio do esforço em prol do alinhamento estratégico com os objetivos da empresa; estabelecimento de parcerias com alguns fornecedores para o desenvolvimento de novos produtos e projetos; cooperação para melhoria no processo produtivo e consequente redução de preços. Operar de forma reativa e proativa concomitantemente é plenamente possível para a Empresa Alpha, tendo em vista que, mesmo em organizações com a atividade de compra bem desenvolvida, os dois modos de operação são utilizados conforme aponta Lima (2004). Inicialmente, os objetivos de Compra da Empresa Alpha não foram claramente identificados por meio das entrevistas realizadas; entretanto, a observação das atividades rotineiras de compras, bem como a análise da descrição funcional do setor de Compras na empresa pesquisada (anexo A desta pesquisa), permitiram identificar que os principais objetivos estão voltados para: privilegiar o fluxo seguro de materiais e serviços na linha de produção; negociação de compra de matérias aos mais baixos custos dentro das especificações predeterminadas em termos de quantidade, qualidade, prazos e preços; manter relacionamentos cooperativos com fornecedores; administrar níveis de estoque; criar e aperfeiçoar rotinas e procedimentos para os processos de aquisição. A posição de subordinação impacta diretamente na forma e abrangência de atuação da Função Compras, principalmente com relação à integração dos seus objetivos específicos e objetivos de 115 longo prazo das organizações. Desta forma, o setor de Compras da Empresa Alpha, antes subordinado ao setor de operações, passou a ser subordinado diretamente à diretoria da empresa com o propósito de favorecer o processo de integração entre a estratégia de Compras com a estratégia competitiva da empresa. A partir do organograma disponibilizado para divulgação pode-se observar o atual posicionamento do setor de Compras. Figura 11 - Organograma - Empresa Alpha Fonte: Disponibilizado por Empresa Alpha. Após identificar o posicionamento do setor de Compras na Empresa Alpha, tornou-se necessário analisar seu fluxo básico de compras para melhor compreensão do processo. Quando questionados sobre as etapas do processo de compras, os entrevistados apresentaram respostas parcialmente divergentes para um processo que deve seguir um fluxo padrão de atividades conforme apontam Dias e Costa (2012): Primeira etapa na verdade é o input de outra área que é a de vendas ao notificar um pedido a ser atendido; a partir daí o departamento de produção calcula as quantidades de insumos necessárias para atender esse pedido de venda; depois ainda na produção o PCP analisa qual a forma de entrega deste pedido para saber a periodicidade de compra; ai vai o input para o comprador que começa a fazer cotação no sentido de atualização de preço de custo e análise de prazos de entrega; caso estejam dentro dos pressupostos dos pedidos antigos realizados ele já tem autonomia para fazer o pedido, mas caso tenha aumentado ele lança uma solicitação no sistema pedindo para diretoria autorizar um aumento no preço do insumo, a diretoria analisa e autoriza ou não a situação; é enviada a ordem de compra para o fornecedor; daí pra frente o comprador acompanha junto ao fornecedor e a transportador a entrega do material. E1 Primeiro a necessidade de cada setor, cada setor pode fazer um pedido de compra [...]; depois compras faz o orçamento, passa para o sistema, depois tem a aprovação no sistema e depois a compra, pagamento e recebimento. E2 116 Tenho um fluxo de compra. [...] Pedido, pagamento, acompanhamento na transportadora e chegada da mercadoria e baixa da nota fiscal no sistema. [...] Confere com a nota fiscal se a quantidade esta correta, se o produto é o mesmo que compramos, a partir dai eles carimbam a nota, assinam, passam para o estoque, do estoque dá o ok, ai eu baixo.Quando eu faço a baixa o sistema carrega o estoque. E3 Como foram encontradas divergências quanto ao fluxo padrão para realização de uma compra, fez-se necessário utilizar a observação não participante e análise documental para, enfim, encontrar o fluxo de compras utilizado pela Empresa Alpha conforme figura 12: Figura 12 - Fluxograma de compras - Empresa Alpha (continua) 117 Figura 12 - Fluxograma de compras - Empresa Alpha (conclusão) Fonte: Elaborado pelo autor com base na análise documental e observação não participante do processo de compras na Empresa Alpha. 118 A interação com o ambiente externo ocorre por meio das cotações e do processo de negociação junto aos fornecedores. As principais etapas do fluxo de compra da Empresa Alpha são: 1) emissão da requisição de compra (solicitação de compra); 2) análise da requisição de compra; 3) realização das cotações e negociações junto aos fornecedores considerandos as variáveis de compra; 4) lançamento e aprovação do pedido de compra no sistema; 5) solicitação ao financeiro para realizar pagamento à vista quando for o caso; 6) realização do pedido de compra junto ao fornecedor; 7) follow up do pedido de compra; 8) recebimento do material; 9) providenciar troca ou cancelamento da compra caso necessário; 10) baixa da nota fiscal no sistema. O quadro 25 apresenta as principais etapas encontradas no processo de compras da Empresa Alpha, relacionadas às etapas preconizadas na literatura especializada: Principais etapas do processo de compras da Empresa Alpha Quadro 25 - Etapas processo de compras da Empresa Alpha relacionadas às etapas preconizadas na literatura especializada. (continua) 1 Empresa Alpha - Emissão da requisição de compra (solicitação de compra) Autores Etapas proposta pelos autores: Gaiher e Emissão da requisição de material. Frazier (2005) Lopes, Souza Emite requisição de compra. e Moraes (2006) Martins e Alt Solicitação de compras (emite solicitação de compras). (2009) Slack et al. Requisições de produtos ou serviços. (2009) Gonçalves Emissão da requisição de compra que reflita as necessidades de reposição de material. (2010) Pozo (2010) Solicitação de compras. Dias e Costa Identificação da necessidade de aquisição e comunicação ao departamento de (2012) Compras. 2 Empresa Alpha - Análise da requisição de compra Autores Etapas proposta pelos autores: Arnold (1999) Receber e analisar as requisições de compra. Baily et al. Receber requisição de compra e avaliar se a compra é regular. (2000) Martins e Alt Solicitação de compras (analisa e agrupa solicitações). (2009) 119 Principais etapas do processo de compras da Empresa Alpha Quadro 25 - Etapas processo de compras da Empresa Alpha relacionadas às etapas preconizadas na literatura especializada. (continuação) 3 Empresa Alpha - Realização das cotações e negociações junto aos fornecedores considerando as variáveis de compras Autores Etapas proposta pelos autores: Arnold (1999) Selecionar fornecedores. Encontrar potenciais fornecedores, emitir solicitações para cotação, receber e analisar cotações, selecionar o fornecimento certo. Lambert, Stock Avaliar alternativas de compras. e Vantine Negociar com os fornecedores. (1999) Baily et al Faça cotações de preço e obtenha outras informações. (2000) Selecione o fornecedor e confirme o preço e condições. Gaiher e Pedido de cotações (Especificações, Desenho, Descrição, Programa). Frazier (2005) Seleciona o melhor fornecedor. Lopes, Souza e Selecionar fornecedores para cotação. Moraes (2006) Realizar a solicitação de cotação nos fornecedores A, B e C. Comparar as cotações. Escolher o fornecedor. Martins e Alt Cotação ou proposta (emite quadro comparativo e analisa). (2009) Slack et al. Prepara solicitações de cotações. (2009) Seleciona o fornecedor preferencial. Gonçalves Realiza pedido automático para materiais padronizados; emite pedido de compra para (2010) fornecedores previamente contratados ou solicita coleta de preço no mercado. Analisa cotações recebidas e escolhe o fornecedor que deverá ser contratado respeitando preços, acondiciomento, transporte, etc. Pozo (2010) Coleta de preços. Análise de preços. Dias e Costa Realização de consulta ao mercado fornecedor sobre as condições gerais de (2012) fornecimento. 4 Empresa Alpha - Lançamento e aprovação do pedido de compra no sistema Autores Etapas proposta pelos autores: Martins e Alt Aprova quadro comparativo. (2009) 5 Empresa Alpha - Solicitação ao financeiro para realizar pagamento à vista quando for o caso Autores Etapas proposta pelos autores: 6 Empresa Alpha - Realização do pedido de compra junto ao fornecedor Autores Etapas proposta pelos autores: Arnold (1999) Emitir pedido de compra. Lambert, Stock Comprar. e Vantine (1999) Baily et al. Emitir o pedido. (2000) Gaiher e Emitir ordem de compra. Frazier (2005) Lopes, Souza e Emitir ordem de compra. Moraes (2006) Martins e Alt Pedido de compra (emite pedido de compra). (2009) Slack et al. Prepara o pedido de compra. (2009) Gonçalves Emitir contrato de fornecimento para fabricação, expedição, despacho do material. (2010) Pozo (2010) Pedido de compras. Dias e Costa Emissão do pedido de compra ou contrato autorizando a entrega do material ou (2012) prestação do serviço. 120 Quadro 25 - Etapas processo de compras da Empresa Alpha relacionadas às etapas preconizadas na literatura especializada. (conclusão) 7 Empresa Alpha - Follow up do pedido de compra Autores Etapas proposta pelos autores: Arnold (1999) Fazer um acompanhamento para garantir que os prazos de entrega sejam cumpridos. Lopes, Souza e Acompanhar ordem de compra. Moraes (2006) Gonçalves Acompanhamento do pedido. (2010) Dias e Costa Realização do Follow up ou diligenciamento da entrega. (2012) 8 Empresa Alpha - Recebimento do material Autores Etapas proposta pelos autores: Arnold (1999) Receber e aceitar as mercadorias. Gaiher e Notificação de que produtos aceitáveis foram recebidos. Frazier (2005) Lopes, Souza e Receber a ordem de compra. Moraes (2006) Gonçalves Recebe o material com a respectiva nota fiscal; realiza inspeção de qualidade e (2010) contagem de material; e comunica ao usuário do material e/ou gestão de estoque. Dias e Costa Recebimento do material comprado ou serviço contratado e realização da inspeção. / (2012) Material inspecionado e aprovado é colocado a disposição dos interessados. 9 Empresa Alpha - Providenciar troca ou cancelamento da compra caso necessário Autores Etapas proposta pelos autores: 10 Empresa Alpha - Baixa da nota fiscal no sistema Autores Etapas proposta pelos autores: Arnold (1999) Aprovar a fatura para pagamento do fornecedor. Fonte: Elaborado pelo autor Das principais etapas executadas no processo de compras da Empresa Alpha, que também constam nas sugestões preconizadas pela literatura especializada conforme observa-se no quadro 25, merecem destaque as etapas 3 (realização das cotações e negociações juntos aos fornecedores considerandos as variáveis de compras) e 6 (realização do pedido de compras junto ao fornecedor) por serem tratadas por grande número de autores. Tal constatação, além de reforçar o caráter básico destas duas etapas em um processo de compra, demonstra a necessidade de análise prévia das variáveis que possam estar envolvidas em um processo de negociação de compras antes da tomada de decisão, ou seja, da realização do pedido junto ao fornecedor. O quadro comparativo também possibilita evidenciar que as etapas 5 (solicitação ao financeiro para realizar pagamento à vista quando for o caso) e 9 (providenciar troca ou cancelamento da compra caso necessário) não estão claramente evidenciadas nas sugestões preconizadas pela literatura especializada. Em relação à etapa 9, apesar de não estar claramente descrita na literatura analisada, é possível inferir que esteja englobada dentro do processo de recebimento de material descrito nos fluxos de compras sugeridos por Arnold (1999), Gaither e Frazier (2005), Lopes, Souza e Moraes (2006); Gonçaves (2010); e Dias e Costa (2012). 121 Por sua vez, a etapa 5 (solicitação ao financeiro para realizar pagamento à vista quando for o caso) do processo de compras da Empresa Alpha reflete a influência da variável de compra “restrições financeiras” sobre a atuação da Função Compras. Como determinados fornecedores não aprovam a ficha cadastral da empresa para compra faturadas, o fluxo de compras teve que ser adaptado considerando uma etapa em que o comprador deve solicitar o pagamento à vista para o setor financeiro, antes de realizar a compra, tendo em vista que o comprovante de pagamento deve ser remetido ao fornecedor para que ocorra a liberação do produto ou execução do serviço negociado. Nos processos de compras preconizados na literatura, o setor de Compras já realizaria o pedido de compra ao fornecedor e, posteriormente, liberaria o pagamento após a conferência do produto ou serviço entregue. Tal fato afeta outras variáveis de compras, tais como preço e timing conforme constado na observação não participante durante a pesquisa de campo. Apesar do relacionamento com fornecedores ser considerado um dos principais responsáveis pelos resultados do departamento de Compras (DIAS, 2005), bem como ser considerada a única responsabilidade fundamental da Função Compras (BAILY ET AL., 2000), não foram encontrados manual ou normativo contendo parâmetros para selecionar, avaliar, qualificar e desenvolver fornecedores. Entretanto foram encontrados documentos que comprovam a interação entre o setor de Compras da empresa Alpha e seus fornecedores estratégicos para a empresa no que diz respeito a negociações de parcerias para desenvolvimento de novos produtos e aprimoramento de matérias primas, conforme consta no anexo B. O gerenciamento do banco de dados de fornecedores é realizado por meio de um Módulo de Compras do ERP da empresa contendo informações cadastrais, pedidos de compras realizadas por fornecedor, materiais comprados por fornecedor, controle de itens em estoque rastreados por fornecedor, dentre outros (anexo C). A redução da base de fornecedores é apontada pela literatura como característica de uma Função Compras estratégica, entretanto a análise Swot realizada na empresa Alpha em 2013 (anexo D) evidencia como um dos pontos fracos da organização ter poucos fornecedores para as suas principais matérias primas (plásticos de engenharia e ligas de alumínio para injeção). Tal fato reforça a necessidade de adoção de critérios por parte da empresa Alpha que, além de respeitarem os fatores observados por Baily et al., (2000) para escolha e desenvolvimento de uma boa base de fornecedores devem também considerar suas características e necessidades. 122 A estruturação da atividade de compras na Empresa Alpha segue o recomendado por Gaither e Fraizer (2005) no que se refere a tomar decisões de compras mediante participação de outras áreas da organização, tais como Vendas e Produção, conforme apontam relatórios de consultorias e constatado em reunião para definição das prioridades de compras para atendimento de pedidos de vendas. Tal procedimento pode favorecer o alinhamento dos objetivos de compras com os objetivos estratégicos da organização como um todo, conforme sugere Martins e Alt (2011). 4.2 Identificar as variáveis que estão sendo selecionadas para efetivação das compras A caracterização do processo de compras realizado no capítulo anterior permitiu compreender como se dá a organização das atividades de compras na Empresa Alpha, sendo esta uma das variáveis de decisão em compras preconizadas na literatura. A partir de então, buscou-se identificar as demais variáveis utilizadas na decisão de compras da organização. Considerando que as variáveis utilizadas no processo de decisão de compras podem ser tomadas como critérios para medir o desempenho da área de suprimentos (LIBONATI 2002; BARROS, 2010); os critérios para avaliação das atividades de compras na Empresa Alpha revelaram a utilização de quatro variáveis em conformidade com a literatura especializada, são elas: tempo, fonte de suprimentos, preço e assistência técnica. Inicialmente, quando perguntados sobre os indicadores utilizados para acompanhar o desempenho da área de Compras, os diretores entrevistados responderam não existir processo efetivo de avaliação do desempenho da área de Compras, fato este que dificultaria a identificação de variáveis utilizadas no processo de decisão em compras na organização, conforme apontam os diálogos a seguir: A gente não tem uma meta nem mesmo de redução de custos, o que a gente faz é controle apenas se os custos estão aumentando. Metas por exemplo, se compramos “X” e agora vamos comprar “2X” então deveríamos ter um decréscimo, não temos políticas desse tipo. E1 Na verdade a gente faz isso por mês conforme os pedidos que a gente tem para entregar. E a meta a gente tenta ficar dentro do mesmo valor que a gente vem comprando. E2 123 Levando em consideração o pensamento de Dias e Costa (2012) sobre a falta de condições de algumas organizações de avaliarem corretamente a performance de tão importante área, este seria um fato possível dentro da realidade da Empresa Alpha. Entretanto, a pesquisa realizada no banco de dados das notas fiscais de compras do período compreendido entre novembro 2011 à março de 2014 (anexo E), bem como a observação não participante realizadas em reuniões concernentes ao desenvolvimento dos moldes de injeção plástica para fabricação de dois novos produtos, apontam a existência de metas de compras – não parametrizadas e formalizadas em normas ou manuais - relacionadas à: a) fonte de suprimento: desenvolvimento de novos fornecedores, em tempo hábil, tanto para construção dos moldes, quanto para fornecimento da matéria prima a ser utilizada na produção da peça. Tais fornecedores devem ser selecionados para que os novos produtos sejam lançados no mercado dentro dos parâmetros técnicos especificados e respeitando os prazos determinados; b) tempo: prazo de entrega dos itens a serem comprados e/ou serviços de construção dos moldes a serem realizados. Este prazo deve respeitar o cronograma estabelecido para início da injeção dos corpos de prova a serem enviados para testes em laboratório; c) preço: valor dos itens a serem adquiridos e/ou serviços a serem contratados não podem extrapolar o orçamento aprovado para desenvolver os novos produtos; d) assistência técnica e treinamento: exigência de suporte técnico para os principais insumos a serem comprados ou desenvolvidos, atrelados a exigência de treinamento para operar o novo molde a ser construído caso necessário. Tal constatação foi reforçada por meio da análise das principais informações geradas pelo Módulo de Compras do ERP utilizado pela empresa, e tomadas como base para o acompanhamento do trabalho do setor de Compras pelos seus clientes interno, tais como: históricos de compras realizadas, curva ABC de materiais comprados, controle de preço de compra, comparativo entre data da compra e data de entrega do material adquirido. A figura 13 (da tela principal do Módulo de Compras da Empresa Alpha) aponta a possibilidade de parametrizar indicadores de compras para acompanhar o desempenho da área: 124 Figura 13 - ERP Módulo Compras - Indicadores Fonte: ERP – SGE (Sistema de gestão Empresarial) – Módulo Compras – Empresa Alpha A planilha com dados para construção da curva ABC apresentada na figura 14 revela a capacidade de estabelecer e acompanhar indicadores de compras relacionados ao controle de gastos por fornecedor durante novembro/2011 a março/2013. Figura 14 - Planilha ABC de materiais comprados - Empresa Alpha Fonte: ERP – SGE (Sistema de gestão Empresarial) – Módulo Compras – Empresa Alpha. Outra evidência que remete a capacidade de estabelecer e acompanhar indicadores da atividade de Compras na organização, além de revelar a existência da variável “especificação de compra”, está no relatório de controle de requisições urgentes. Tal relatório monitora a quantidade de 125 requisições de compras solicitadas via ERP em caráter de urgência, ou seja, essas requisições de compra devem ser atendidas pelo setor de Compras prioritariamente. Figura 15 - Relatório de requisições de compras urgentes (ano 2013). Fonte: ERP – SGE (Sistema de gestão Empresarial) – módulo Compras – Empresa Alpha. As especificações de compras possibilitam que as aquisições de serviços, materiais ou componentes sejam processadas e realizadas adequadamente pelo setor de Compras, sendo importante fator de interação entre o setor e seus clientes internos. Considerando as particularidades da Empresa Alpha, determinados dados mínimos necessários devem constar em uma requisição de compras, conforme apontam os depoimentos dos entrevistados E1 e E3: Código e descrição do insumo ou item a ser comprado, dados do fornecedor, dados da nossa empresa, o preço unitário, os impostos incidentes no produto, o prazo de entrega, e a data da requisição. E1 Nome do produtos, se tiver medidas, as medidas, se tiver alguma especificação técnica, especificação técnica (Se tem anti UV, se precisa de masterizar, se precisa de aguentar carga “x” para materias primas) e quantidade. E3 126 Tendo em vista que nas requisições de compra constam detalhes necessários à compra (DIAS E COSTA, 2012; GAITHER E FRAZIER, 2005), foram analisadas as especificações de compras contidas nas requisições enviadas ao setor de Compra da Empresa Alpha durante os anos de 2011, 2012 e 2013. A análise destes documentos mostrou-se extremamente importante para evidenciar as seguintes variáveis de compras utilizadas pela empresa em seu processo de tomada de decisão em compras: a) qualidade: representada por especificações de desempenho e especificações de conformidade contidas nas requisições de compra; b) quantidade: requisições de compra obrigatoriamente preenchidas com a quantidade de itens a serem adquiridos; c) especificações de compra: descrição dos materiais a serem adquiridos. Quando a compra refere-se a itens comprados regularmente, como o Polietileno de alta densidade (matéria prima básica para fabricação de determinados produtos), percebe-se menor número de informações necessárias para compra. Entretanto, quando se trata de novo produto a ser adquirido, as especificações de compra, em sua maioria, foram preenchidas com riqueza de detalhes; d) timing: em determinadas requisições de compra foram encontradas exigências de tempo entre o recebimento da requisição de compra e a data em que o item a ser adquirido deveria estar disponibilizado para produção; e) tipo de produto: especificação do tipo de produto que deve ser adquirido pelo setor de Compras, tais como produtos padronizados ou materiais feitos sobre encomenda; f) assistência técnica e treinamento: ratifica a existência desta variável para determinadas compras, tais como computadores, ar condicionado, prestação de serviços; g) validade dos produtos: em determinadas requisições de compra são especificadas o prazo de validade mínimo necessário para o item a ser adquirido, principalmente quando se trata de insumos a serem utilizados para o desenvolvimento de novos produtos. O prazo de validade de um insumo pode influenciar nos resultados dos testes de tração, capacidade de carga, trilhamento elétrico, envelhecimento de material e absorção de umidade que devem ser realizados, em laboratórios autorizados, para homologação de novo produto para venda junto às concessionárias de energia elétrica em território nacional. 127 Figura 16 - Requisição de compras - Empresa Alpha Fonte: ERP – SGE (Sistema de gestão Empresarial) – Módulo Compras – Empresa Alpha. Por meio da observação não participante e análise de documentos eletrônicos gerados pelo ERP da empresa, foi identificada a conferência dos “níveis de estoque” antes da realização de qualquer compra solicitada. O comprador, antes de dar início à busca por fornecedores e posterior processo de negociação de compra, também uma das variáveis de decisão, verifica os níveis de estoque referente ao item solicitando conforme anexo F. A constatação de níveis satisfatórios em estoque faz com que o comprador procure o solicitante da compra para maiores esclarecimentos sobre a necessidade de aquisição do item solicitado, quando este não consta na própria requisição de compra. Por meio da observação não participante das etapas do processo de compras, pode-se constatar também a existência de restrição financeira, de cunho bancário, proveniente de desacordo comercial, identificada previamente através das entrevistas semiestruturadas: Acredito que nos últimos dezoito meses a empresa possui algum tipo de restrição que ou inviabilizava ou dificultava a aquisição de insumos a prazo. [...] Prejudica não em relação ao custo, pois a vista você consegue uma situação melhor, mas prejudica com relação a fluxo de caixa e logística para atendimento de pedidos de venda. Às vezes não tenho fluxo de caixa suficiente para “estartar” todas as compras simultaneamente. É feito um crivo conforme cada pedido de venda. [...] Atualmente a gente consegue 128 comprar parte a prazo e parte continua sendo a vista, mas o grosso hoje conseguirmos comprar com prazo de pagamento. E1 Tal situação afeta negativamente duas variáveis de decisão do processo de compras na Empresa Alpha: a negociação de compras e prazo de pagamento. Por inúmeras vezes, o comprador da empresa pesquisada teve solicitações de compras à prazo negadas em determinados fornecedores, restando apenas à opção de compra à vista, conforme demonstra a fala do entrevistado 2 (dois): “[...] não estamos conseguindo comprar a prazo ainda por causa de restrições”. E2 Apesar disso, negociações cooperativas e até mesmo parcerias com alguns fornecedores foram encontradas, como é o caso da compra de serviço de injeção de peças plásticas, serviços de ferramentaria e principalmente nos serviços de transporte de mercadorias adquiridas de outros estados, ou seja, variável de compra frete. Conforme apontado nas entrevistas realizadas, não há indicação de avaliação dos custos totais de aquisição por parte da Empresa Alpha. Quando perguntado na questão número 2 (dois) da entrevista se os custos da operação de compra são analisados em sua totalidade, um dos diretores respondeu da seguinte maneira: Não, olho o custo isolado mesmo. Isoladamente preço unitário, e não o frete sim, ele é incluso porque ele é praticamente um agregador no preço. Só até ai mesmo, custo direto mais o frete. E1 Tal resposta foi confirmada na questão número 18 quando o mesmo foi questionado novamente sobre quais os custos são avaliados pela empresa em uma compra: Custo direto do produto, custos de frete sobre esse insumo e os custos tributários (ICMS, IPI, Isenção, restituição, medida complementar dos governos). E1 O comprador quando questionado sobre o mesmo tema aponta que a diretoria realiza análises de custo de tempo e de pessoal com relação às compras efetuadas, entretanto tal afirmação foi refutada pela pesquisa documental realizada. 129 Num primeiro momento os impostos são avaliados pela área de Compras. [...] Custo de transporte e o restante seria feito pela diretoria... questão de pessoal, tempo eles é que avaliam. E3 As entrevistas, a observação não participante e análise documental realizada no período de dezembro/2013 a março de 2014 não apontaram variáveis utilizadas nas decisões de compras da Empresa Alpha diferentes das encontradas na literatura utilizada como base para esta pesquisa. 4.3 Acompanhar a evolução dessas variáveis no processo de decisão de compras Nesta seção, procurou-se um entendimento em profundidade das variáveis selecionadas pela Empresa Alpha para efetivação de suas compras. Desta forma, foi realizada a análise das variáveis no processo de decisão de compras, detalhando cada uma individualmente, mas sem desconsiderar a relação de interdependência entre algumas delas. Ressalta-se, em especial, a importância da observação não participante seguida da análise documental para concretização desta etapa da pesquisa. Ao encontro do pensamento de Guimarães e Évora (2004), estão presentes no processo de decisão de compras da Empresa Alpha: a análise das especificações constantes na requisição de compra, estabelecimento de alternativas de compras, escolha da melhor alternativa de compra, implementação da decisão de compra por meio do pedido junto ao fornecedor e em alguns casos a análise dos resultados obtidos. A sistematização do processo ocorre por meio de um fluxo de atividades anteriormente representado pela figura 12 e seu gerenciamento por meio do módulo de compra do ERP da empresa conforme figura 17. 130 Figura 17 - Módulo de Compras - ERP Empresa Alpha Fonte: ERP – SGE (Sistema de gestão Empresarial) – módulo Compras – Empresa Alpha. Os botões de comando da tela “Manter Pedido de Compras” (figura 17) foram construídos de forma a proporcionar o gerenciamento do processo de decisão de compras na Empresa Alpha: a) botão “Novo”: abertura de novo pedido de compra realizado após análise das especificações de compra, contidas nas requisições previamente aprovadas e posterior negociação junto ao fornecedor do item a ser adquirido; b) botão “Salvar”: salvar o pedido de compra registrado no sistema pelo comprador; c) botão “Salvar Novo”: utilizado somente para duplicar algum pedido de compra já realizado em períodos anteriores. Otimiza o trabalho de digitação e registros cadastrais de fornecedores e itens de estoque; d) botão “Editar”: realizar alterações em algum pedido de compra que ainda não tenha sido aprovado para aquisição; e) botão “Excluir”: excluir um pedido de compra caso seja necessário; f) botão “Pesquisar”: localizar algum pedido de compra, seja por meio do nome do fornecedor, ou nome do item adquirido em períodos anteriores; g) botão “Solicitar”: solicitar aprovação de compra do novo pedido lançado no sistema; h) botão “Em aprovação”: este comando possibilita ao responsável pela aprovação de compras optar por duas situações distintas, i) aprovar o pedido de compra, deixando-o em aprovação financeira (comprar somente quando o financeiro realizar o pagamento), ii) em aprovação comercial (a empresa aprova a compra entretanto irá aguardar o momento oportuno para efetuar a aquisição); 131 i) botão “Aprovar”: aprovar um pedido de compra por definitivo, ou seja, o comprador já pode solicitar a compra junto ao fornecedor; j) botão “Reprovar”: reprovar um pedido de compra; k) botão “Cancelar”: cancelar um pedido de compra; l) botão “Comprar”: significa que o pedido de compra foi realizado junto ao fornecedor selecionado; m) botão “Atender”: significa que os itens comprados foram entregues na empresa, conferidos, aprovados e a nota fiscal de compra será registrada no sistema; n) botão “Imprimir”: imprimir um pedido de compra qualquer. O botão de comando “Novo” na tela “Manter Pedido de Compras”, representa bem a etapa de implementação da alternativa de decisão escolhida conforme aponta Bispo (1998), ou seja, o início do registro de uma compra no sistema após as variáveis de compra serem contempladas. O registro de compras via sistema representa parte do processo de decisão de compras na Empresa Alpha. Foi desenvolvido e construído internamente para melhor adequação às necessidades da organização, o que reforça a inexistência de fluxo rígido, único e universal de processo de decisão em compras conforme evidenciado no estudo de Wind e Thomas (1996). A utilização do módulo de compra via sistema ERP confirma o uso de ferramentas computacionais como suporte ao processo de tomada de decisão em compras nas organizações, conforme defendem Alejandro et al (2011). 4.3.1 Variável de compra: qualidade A variável qualidade trata-se do conjunto de características de um produto ou serviço necessárias para atender às exigências de compra. Por meio de análise documental, foi confirmado em determinadas especificações de compra a exigência de detalhes destinados a garantir o nível mínimo de qualidade para aceitação do item comprado ou serviço contratado. A figura 18 representa tal situação. 132 Figura 18 - Especificações para realização de compra - Empresa Alpha Fonte: ERP – SGE (Sistema de gestão Empresarial) – módulo Compras – Empresa Alpha. A análise documental também revelou que as principais matérias primas utilizadas na linha de produção são previamente padronizadas, preservando a qualidade por meio dos padrões específicos de materiais conforme testes de laboratório, bem como as especificações de desempenho contidas nos projetos de engenharia previamente aprovados conforme sugerem Lambert, Stock e Vantine (1999). Para dirimir qualquer dúvida, foram analisadas documentações, aqui representadas pelo anexo G, referente ao desenvolvimento de produto na Empresa Alpha. Foram constatadas especificações de desempenho e especificações de conformidade, tanto para o produto em desenvolvimento quanto para a matéria prima a ser utilizada para construção dos mesmos. A análise documental (Anexo H) comprovou o recebimento de matérias primas com nível de qualidade previamente padronizado para os seguintes itens considerados como os principais insumos na linha de produção: Polietileno de alta densidade; liga de alumínio 305 e 306 padronizadas conforme norma SAE (Society of Automotive Engineers). Vale ressaltar que, quando perguntados sobre quais itens são avaliados quando o produto comprado ou o serviço contratado é finalizado, os entrevistados E1 e E2 demonstraram em 133 suas respostas não haver, no ato de recebimento dos produtos, um procedimento padronizado para conferências dos itens comprados no que se refere ao quesito qualidade: Apenas se a quantidade que chegou confere com a quantidade comprada ou está sendo financeiramente cobrada. [...] se der algum problema é verificado na linha de produção. E1 Hoje tem que verificar na nota fiscal se chegou conforme o pedido, mas a gente não confere se chegou realmente com a qualidade que foi aprovada ou a quantidade. Quando está na linha de produção, que está fazendo é que a gente vê se está tendo algum problema ou não. E2 Desta forma, para afastar qualquer dúvida, foi realizada observação não participante em relação ao processo de recebimento de itens comprados na Empresa Alpha, onde foi comprovado o recebimento das principais matérias primas com qualidade garantida por meio de padronização, conforme apontam os certificados de análises contidos no anexo H. Entretanto, verificou-se também que, diversos itens comprados tiveram somente a quantidade e preço conferidos junto ao pedido de compra realizado ao fornecedor. Tal fato revela que o setor de Compras negocia junto a seus fornecedores considerando as especificações de qualidade exigidas nas especificações de compra, mas no ato de recebimento a variável qualidade fica resumida, em determinadas situações, em apenas conferência de quantidades e preço de compra, o que ratifica a respostas dos entrevistados E1 e E2. 4.3.2 Variável de compra: quantidade Esta variável refere-se à quantidade dos produtos a serem adquiridos considerando o volume de vendas, o planejamento e controle de estoque, bem como o planejamento e controle da produção. A quantidade a ser comprada é considerada uma das variáveis básicas utilizadas no processo de decisão de compras da Empresa Alpha, estando presente em todas as requisições de compras analisadas durante a pesquisa documental, conforme apontam as figuras 16 e 18 anteriormente apresentadas. Quando questionados sobre o critério de definição das quantidades a serem compradas, os entrevistados E1 e E2 focaram na compra de produtos conforme as necessidades dos clientes e níveis de estoque respectivamente, conforme apontam respostas à questão 13 do questionário de entrevista: 134 Na verdade pode ser respondido junto, pois o critério é o mesmo, que é a tomada de decisão em relação à necessidade do cliente. Quando não é a necessidade de atendimento do cliente passa a ser a de possibilidade de atendimento do cliente. E1 A quantidade a gente confere o estoque, eu faço, por exemplo, um pedido desses maiores eu faço uma vez por semana. Eu olho o que tem vendido que eu tenho que entregar na semana, o que eu tenho no estoque e o que eu tenho que pedir. E2 A análise de documentos físicos e eletrônicos, confirmaram que as quantidades a serem adquiridas são definidas conforme a entrada de novos pedidos de vendas (pedidos estes que determinam a programação de produção), conferência dos pedidos de venda ainda em aberto e posterior conferência dos níveis em estoque conforme recomenda Baily et al. (2000). O controle de estoque é realizado por simples conferência dos itens disponíveis em estoque, via módulo “Estoque” no ERP da empresa conforme aponta o anexo F. A conferência de estoques para determinação da quantidade de itens a serem comprados, conforme identificado na análise documental, refuta a inexistência de estoque alegada pelo entrevistado E3 em resposta a questão 13 do questionário de entrevista: [...] Quando eu vejo que a quantidade é exorbitante, tanto para baixo quanto para cima eu procuro saber se está correto. Não temos estoque, não temos condição de manter estoque, então temos que trabalhar desse jeito. [...] alguns fornecedores conseguimos prazo. Constatou-se que, na realidade, não há a quantidade adequada de determinados itens em estoque capaz de proporcionar menores números de compras durantes o mês, o que ocasiona aumento no número de processos de compra efetuados pelo comprador. 4.3.3 Variável de compra: tempo A variável tempo, está relacionada ao prazo de entrega dos itens comprados e/ou dos serviços contratados junto aos fornecedores. Por meio da análise documental realizada no histórico de compras contido no ERP da Empresa Alpha, foi constatado a existência de controle com relação às datas de lançamento do pedido no sistema e a posterior entrega do item comprado pelo fornecedor conforme revela o histórico de compra contido na figura 19: 135 Figura 19 - Eventos e Histórico de compra - Empresa Alpha Fonte: ERP – SGE (Sistema de gestão Empresarial) – módulo Compras – Empresa Alpha. Em todas as negociações de compra, e conforme representado no pedido de compra da figura 19, a data prevista para entrega do pedido realizado é negociada. A existência de follow up das compras realizadas na Empresa Alpha, confirmadas pelos entrevistados via questão 22 do questionário de entrevista, exemplifica a importância do prazo de entrega, conforme apontam Dias e Costa (2012). 4.3.4 Variável de compra: fonte de suprimento A variável fonte de suprimento foi analisada na decisão de compras em função da seleção de fornecedores adequados. Para tal foram pesquisadas as exigências impostas pelo setor de Compras da Empresa Alpha junto aos seus fornecedores. A Empresa Alpha possui uma estratégia de seleção e avaliação, não explicita, documentada por meio de dossiês individualizados para cada fornecedor e não divulgada a toda organização. A análise de documentos, em especial troca de mensagens eletrônicas com seus fornecedores, bem como observação participante de reunião para aprovação de novo reajuste de preços e novos prazos de entrega executados por um de seus fornecedores, permite inferir que a Empresa Alpha foca sua seleção e avaliação de fornecedores em torno da pontualidade de entrega, preço praticado e qualidade previamente negociada. Tal constatação é confirmada 136 através das respostas dos entrevistados em relação as principais exigencias impostas pela área de Compras da empresa junto aos fornecedores: Boa pergunta: como não temos política eu imagino que seja a pontualidade porque a gente parte do princípio que a qualidade dos produtos já está garantida via normas, que a princípio as empresas tem que estar cumprindo regularmente. [...] Acho que o departamento de Compras está focado nisso. Claro que o departamento de Compras tem o preço também, mas como eu já disse o preço como já foi dito é uma exigência da qual “necessita-se” de uma aprovação, então acredito que o departamento específico de compra está interessado na pontualidade para que ele não seja penalizado pela diretoria. [...] Além de preço e prazo, a homogeneidade no material. O material tem que ter sempre o mesmo padrão de qualidade já aprovado. E1 Qualidade, preço e prazo. E2 Parceria, respeito ao que foi acordado, respeito a negociação. Isso influencia preço, prazo de entrega, até mesmo o atendimento acho que influencia um tanto ai também. E3 Sobre a escolha de uma fonte de suprimento confiável, uma das sugestões de Slack et al. (2009) está em manter os históricos de fornecimento. Na Empresa Alpha, o histórico de fornecimento das fontes de suprimentos são mantidos em dossiês individualizados, bem como gerenciados por meio do Módulo de Compras do ERP da empresa conforme aponta a figura 20: Figura 20 - Gerenciamento de compras efetuadas por fornecedor - Empresa Alpha Fonte: ERP – SGE (Sistema de gestão Empresarial) – módulo Compras – Empresa Alpha. 137 Ainda conforme sugerem Gaither e Frazier (2005), além de funcionarem como intermediária entre a empresa e seus fornecedores, O setor de Compras da Empresa Alpha mantêm um banco de dados onde são mantidos cerca de 362 fornecedores ativos, ou seja, selecionados para o fornecimento conforme consta na figura 21: Figura 21 - Base de dados fornecedores - Empresa Alpha Fonte: ERP – SGE (Sistema de gestão Empresarial) – módulo Compras – Empresa Alpha. A figura 22 contêm dos dados necessários para elaboração da curva ABC das compras realizadas pela Empresa Alpha em seus fornecedores nos últimos 29 meses (novembro/2011 a março/2014). Figura 22 – Planilha ABC por fornecedores Fonte: ERP – SGE (Sistema de gestão Empresarial) – módulo Compras – Empresa Alpha. 138 O documento intitulado “Avaliação para qualificação de fornecedores de material crítico”, exposto no anexo I, foi encontrado nos controles a serem implantados pelo setor de Compras em cumprimento ao planejamento estratégico da organização para o período de 2013 à 2017. Este documento monstra que a Empresa Alpha pretende avaliar seus fornecedores em termos de: controle de produção, planejamento, instalações, controle de fornecedores do próprio fornecedor avaliado, controle de documentos e por fim armazenamento. Tal documento ratifica o momento de transição da Função Compras da Empresa Alpha de um posicionamento tático (operacional) para um posicionamento estratégico. 4.3.5 Variável de compra: preço A variável de compra preço representa o valor monetário para compra de determinado produto acrescidos dos impostos incidentes. Trata-se de uma das variáveis de compras de análise obrigatória pelo setor de Compras da Empresa Alpha, reforçando o pensamento de Baily et al. (2000) ao apontar tal variável como fator mais frequentemente associado às responsabilidades de compras. Por meio da observação não participante, foi possível constatar que o comprador da Empresa Alpha realiza pesquisa de preços de produtos iguais ou semelhantes no mercado antes de iniciar o processo de negociação junto aos fornecedores selecionados. Também são verificados os dados históricos disponíveis no Módulo de Compras do ERP da Empresa Alpha com relação ao preço praticado em compras anteriores. A verificação de dados históricos é confirmada pelo entrevistado E2 em resposta a questão 13 da entrevista semiestruturada realizada “[...] Com relação a preço na verdade a gente olha o que está no sistema, os últimos preços e prazos”. 139 Em relação aos impostos, foi constado conforme figura 23 a discriminação dos mesmos em cada compra realizada. Figura 23 - Pedido de compra - Empresa Alpha Fonte: ERP – SGE (Sistema de gestão Empresarial) – módulo Compras – Empresa Alpha. A resposta do entrevistado E1 quando perguntado sobre quais os custos e impostos são analisados no setor de Compras da Empresa Alpha, confirma que os impostos são considerados para efetivação das compras já incorporados ao preço negociado: Custo direto do produto, custos de frete sobre esse insumo e os custos tributários (ICMS, IPI, Isenção, restituição, medida complementar dos governos). [...] Existe uma planilha onde jogo os valores e ela gera o resultado do custo equalizado dos produtos retirando os impostos. E1 140 4.3.6 Variável de compra: negociação de compra Esta variável está relacionada ao processo de negociação para compra de produtos e/ou contratação de serviços juntos aos fornecedores, considerando o papel do profissional de compras neste processo. A análise detalhada das etapas do fluxograma de operação para compras apresentado anteriormente no capitulo 4.1 por meio da figura 12, comprova a existência de um processo de negociação para realização das compras na Empresa Alpha. A observação não participante do processo de compra, seguindo o fluxograma supracitado, ratifica que o comprador estabelece processos de negociação junto a seus clientes internos e fornecedores para realização de determinadas aquisições. Por diversas vezes durante o processo de negociação de compra, o comprador negociou interna e externamente para conciliar as visões de funcionários e fornecedores conforme sugere por Baily et al. (2000). Durante as negociações de compra, foram frequentemente utilizadas: trocas de e-mails, contatos telefônicos, acessos à Internet e consulta ao Módulo de Compras do ERP da empresa. Não foi identificado adoção de modelos para negociações de compras na empresa pesquisada, entretanto foram encontradas as fases preparatórias de reunião e implementação sugeridas por Junior (2011). A persuasão, aceitação, coerção e solução do problema também foram encontradas no processo de negociação de compras na Empresa Alpha, apontando influência do fator humano no processo de negociação, principalmente com relação às habilidades de negociação do comprador. Conforme discutido nos capítulos 2.3 (Decisão de compras) e 2.4 (O papel do profissional de compras) o comprador tem importante participação nas negociações de compras dentro das organizações. Na Empresa Alpha não é diferente, ao estabelecer relacionamentos com as fontes de suprimentos, o comprador, em diversos momentos, realizou a intermediação de interesses corporativos com pessoais, como no caso de recebimento de mercadorias compradas e recebidas após seu horário de trabalho, sem autogratificações conforme sugerido por Ramos (2002). A formação e/ou experiência na área de Compras, fator que pode contribuir favoravelmente para o sucesso em determinados processos de negociação, não é exigida pela Empresa Alpha conforme aponta o depoimento a seguir: 141 Na verdade escolaridade, idade e mesmo formação a gente coloca hoje como pretendido, mas não exigido, não exige como um item desclassificatório porque há uma escassez de mão obra qualificada, então a gente acaba tendo que afrouxar um pouco os critérios. E1 A falta de profissionais de compras com conhecimento, habilidades e competências apropriadas pode prejudicar a organização de se beneficiar da vantagem competitiva proporcionada por uma Função Compras desenvolvida, conforme aponta Baily et al. (2000). 4.3.7 Variável de compra: custo total de aquisição Esta variável abrange a apuração do custo total envolvido na compra de um produto ou contratação de um serviço. Apesar de ser considerada uma importante variável a ser analisada (BAILY ET AL., 2000), a Empresa Alpha não realiza a apuração dos custos totais de suas operações de compra. A análise dos documentos de compras disponibilizados, bem como dos módulos de Compras e Financeiro do ERP da empresa, não permitiram constatar existência da apuração de todos os custos envolvidos nos processos de compras. Mesmo o preço sendo considerado apenas um dos elementos do custo total (LAMBERT, STOCK E VANTINE, 1999), o foco da análise do diretor responsável pela análise dos custos de produção gira em torno do mesmo, acrescido apenas do custo do frete e apuração dos impostos, conforme justificado em sua resposta sobre quais custos eram apurados pela empresa em um processo de compras: Custo direto do produto, custos de frete sobre esse insumo e os custos tributários (ICMS, IPI, Isenção, restituição, medida complementar dos governos). E1 142 A figura 24 comprova a preocupação apenas com preço do item comprado, impostos e custo do frete: Figura 24 - Controle de compras - preço, impostos e frete Fonte: ERP – SGE (Sistema de gestão Empresarial) – módulo Compras – Empresa Alpha. Para ratificar a inexistência da apuração dos custos totais envolvidos em um processo de compra, o entrevistado E1 foi questionado se existiria um controle individual de cada tipo de custo do processo de compras, tais como custo por requisição, custo hora do comprador, etc. Sua resposta negativa, “Não, atualmente não temos isso”, confirma a inexistência da apuração do custo total de aquisição. 4.3.8 Variável de compra: especificação de compra. As especificações de compra indicam os requisitos necessários para realização da compra. Especificações incorretas provocam retrabalho e prejuízos à operação da empresa, levando os compradores a perderem muito tempo interpretando e realizando correções. Desta forma, em conformidade com as recomendações de Dias e Costa (2012), o comprador da Empresa Alpha analisa criteriosamente cada especificação contida nas requisições de compras eletrônicas representadas pela figura 25: 143 Figura 25 - Requisição de compras - Empresa Alpha Fonte: ERP – SGE (Sistema de gestão Empresarial) – módulo Compras – Empresa Alpha. Em conformidade com sugerido por Gaither e Frazier (2005) e Dias e Costa (2012), nota-se claramente a necessidades de preenchimento de alguns dados mínimos necessários para gerar corretamente uma requisição de compra no ERP da Empresa Alpha: a) código da requisição: código gerado automaticamente para identificação da requisição; b) identificação do requisitante; c) data do lançamento; d) data da solicitação; e) centro de custo onde deve ser debitada a compra do produto ou contratação do serviço solicitado; f) marcar a opção de compra urgente se for o caso; g) observações: campo destinado ao preenchimento de todas as especificações, caso necessárias, para efetivação correta da compra (descrição detalhada do material), tais como medidas, propriedades físicas e químicas, cor, dureza de materiais, modelo, etc. Ressalta-se que é autorizado ao solicitante descrever qualquer tipo de informação que contribui positivamente com o trabalho do setor de Compras, aplicação ou destinação do material, prazo desejado para entrega, estimativa de custo, se possui indicação de algum fornecedor, etc; h) itens da requisição: espaço destinado para informar qual o nome do item a ser comprado; 144 i) unidade de medida; j) quantidade a ser comprada; k) comunicação interna: o sistema utilizado pela Empresa Alpha permite a comunicação entre o comprador e o solicitante da compra via sistema, deixando todas as informações registradas no banco de dados da empresa, tais como o motivo da reprovação da requisição de compra, solicitação para melhorar as especificações do item a ser comprado, etc; l) anexos: o sistema permite incluir qualquer tipo de anexo, desde documentos em Word, Excel, PDF, imagem, foto e inclusive vídeo que possa contribuir positivamente para o processo de compra do item solicitado. Tudo fica registrado diretamente no banco de dados da empresa. Conforme indicado no fluxo de compra (figura 12 - capítulo 4.1), a emissão da requisição de compra trata-se da primeira atividade a ser realizada para início de todas as operações necessárias para concretização da aquisição. Desta forma, seu preenchimento deve ser minucioso e sua conferência e posterior aprovação por parte do setor de Compras da Empresa Alpha é realizada rigorosamente conforme constatado por meio da observação não participante. 4.3.9 Variável de compra: organização de Compras A variável organização de Compras está relacionada à estruturação do processo de compras na organização, envolvendo principalmente a estrutura organizacional da empresa; posicionamento do setor de Compras; centralização, descentralização das compras; decisão de fabricar ou comprar os itens a serem utilizados na linha de produção. O capítulo 4.1 apresentado anteriormente contribui consideravelmente para compreender a forma de organização de Compras da Empresa Alpha. A Função Compras da Empresa Alpha privilegia o fluxo diário de materiais, ou seja, a obtenção e coordenação do fluxo contínuo de suprimentos a fim de atender os programas de produção. Passa por um momento de transição de um posicionamento tático (operacional) para um posicionamento estratégico, sendo necessário seu reposicionamento no organograma da empresa (antes subordinada à área de operações, passa a responder diretamente a diretoria da empresa). 145 A observação não participante seguida da análise documental permitiu constatar que o processo de compras na empresa ocorre de forma centralizada. Atualmente não trabalha com orçamento de compras, entretanto demonstra ter conhecimento de sua importância e pretende implantá-lo. Com relação à decisão de fabricar ou comprar determinados produtos, constatou-se que a Empresa Alpha opta pela compra da maioria dos itens utilizados em sua linha de produção, entretanto desenvolve internamente e detêm o domínio dos moldes de injeção dos seus produtos. Os principais objetivos de Compras estão voltados para: o fluxo seguro de materiais e serviços na linha de produção; redução de preços de compra; estabelecimento de relacionamentos cooperativos com fornecedores; administração dos níveis de estoque; criação e aperfeiçoamento de rotinas e procedimentos para os processos de aquisição. Seu fluxograma de compras apresenta as etapas sugeridas pela literatura especializada, apesar de sofrer adaptação em decorrência da restrição financeira existente. Não foram encontrados manual ou normativo contendo parâmetros para selecionar, avaliar, qualificar e desenvolver fornecedores o que pode prejudicar a manutenção de parcerias no longo prazo. 4.3.10 Variável de compra: restrição financeira Variável relacionada à existência de restrições financeiras que possam impedir o setor de Compras de efetuar as aquisições necessárias. Em consonância com Dias e Costa (2012), o comprador da Empresa Alpha observa a existência de restrições financeiras que possam impedir uma aquisição. A análise documental não foi suficiente para revelar como tal conferência ocorre, entretanto a observação de inúmeros processos de compras sendo realizados durante o período de coleta de dados permitiu constatar que o comprador consulta periodicamente o departamento financeiro via telefone ou e-mail para verificar a existência de pendências financeiras relacionadas ao não pagamento de compras realizadas a prazo. Foram constatadas restrições financeiras decorrentes de desacordo comercial em relação a financiamento de máquinas e equipamentos junto a determinado banco; restrições estas não relacionadas a compras de produtos corriqueiramente utilizados na linha de produção. Tal fato prejudica a Empresa Alpha no processo de negociação de compra junto a determinados fornecedores, conforme confirma o depoimento do entrevistado E1 146 [...] Acredito que nos últimos dezoito meses a empresa possui algum tipo de restrição que ou inviabilizava ou dificultava a aquisição de insumos a prazo. [...] Prejudica não em relação ao custo, pois a vista você consegue uma situação melhor, mas prejudica com relação a fluxo de caixa e logística para atendimento de pedidos de venda. Às vezes não tenho fluxo de caixa suficiente para “estartar” todas as compras simultaneamente. É feito um crivo conforme cada pedido de venda. Em contraponto, em determinadas negociações de compra, foram concedidos prazos de pagamento sem nenhum tipo de empecilho, inclusive junto a novos fornecedores. Tal fato confirmado pelo entrevistado E1: [...] Atualmente a gente consegue comprar parte a prazo e parte continua sendo a vista, mas o grosso hoje conseguirmos comprar com prazo de pagamento. Aprofundando na pesquisa para descobrir o motivo de tal fato, verificou-se que, conforme recomendado por Dias e Costa (2012), a atitude proativa do comprador frente a necessidade de suprimentos, atrelado ao processo de negociação junto aos fornecedores trazem bons resultados para a empresa, tendo em vista que determinadas aquisições foram realizadas com prazo de pagamento de 28, 35 e 42 dias. Essa situaçao revela a importância do direcionamento estratégico do departamento de Compras, em busca de alternativas para manter o fluxo continuo de suprimentos nas organizacoes independe das dificuldades existentes. 4.3.11 Variável de compra: timing A variável timing está relacionada à agilidade do setor de Compras em atender as necessidades de suprimentos da organização em tempo hábil. As análises documentais realizadas confirmam a inexistência de parâmetros formalizados com relação ao controle do tempo decorrido para atendimento dos pedidos de compras, o que poderia remeter a falta de controle de tal variável, conforme identificado nas entrevistas realizadas. Entretanto, através da análise das requisições de compras seguidas dos pedidos de compras realizados no ERP da empresa, é possível concluir que, apesar da inexistência de parâmetros formais relacionados ao timing em compras, o comprador da Empresa Alpha controla o tempo de atendimento para determinadas solicitações de compra. 147 O Módulo de Compras utilizado pela empresa permite o completo monitoramento do tempo decorrido entre o recebimento de uma requisição de compras até a entrada do item comprado em estoque e/ou finalização do serviço contratado. Como não há metas estipuladas, o comprador dispensa atenção ao controle do tempo das compras que ele considera importante ou que são solicitadas em caráter de urgência. Considerando a afirmação de Baily et al. (2000) de que o timing das compras é vital para a Administração de caixa, que precisa controlar o dinheiro exigido durante cada período, foi realizada ampla pesquisa na documentação eletrônica disponibilizada pelo Módulo de Compras da empresa. Tal análise permitiu identificar que o sistema está preparado para monitorar o tempo entre o recebimento da requisição de compra via sistema e a finalização do pedido de compra através do registro dos dados da nota fiscal no Módulo de Compras do ERP e entrada dos itens comprados em estoque, conforme figura 26. Figura 26 - Compras realizadas por nota fiscal Fonte: ERP – SGE (Sistema de gestão Empresarial) – módulo Compras – Empresa Alpha. O controle de data de lançamento da requisição no sistema, data do pedido de compra e data da chegada do item na empresa comprovam a existência de ferramentas necessárias para controle o timing das compras realizadas na Empresa Alpha. Tal fato é reforçado pela figura 27. 148 Figura 27 - Tela controle de pedidos de compra - Empresa Alpha Fonte: ERP – SGE (Sistema de gestão Empresarial) – módulo Compras – Empresa Alpha. A figura 27 também apresenta situações de entrega A (cor verde), B (cor amarela), C (cor vermelha), tal legenda representa os seguintes parâmetros confirmados junto ao desenvolvedor do sistema: A (cor verde): indica que o pedido de compra está dentro do prazo negociado para recebimento, além de respeitar margem de segurança de dois dias antes da data estipulada para entrega; B (cor amarela): indica que o pedido ainda encontra-se dentro do prazo negociado para recebimento, entretanto está a apenas dois dias da data prevista para entrega; C (cor vermelha): indica que o pedido de compra superou a data prevista para entrega. No ato do lançamento do pedido no sistema, o comprador informa obrigatoriamente, a data do pedido, data do lançamento do pedido e a data de entrega prevista, comprovando assim a possibilidade de monitorar os tempos de atendimento dos pedidos de compra na Empresa Alpha, conforme indica a figura 28. 149 Figura 28 - Tela de Elaboração de pedido de compra Fonte: ERP – SGE (Sistema de Gestão Empresarial) – módulo Compras – Empresa Alpha. Por fim, a figura 29 apresenta o histórico da compra realizada, o que ratifica a eficácia do sistema em relação às possibilidades de utilização da variável timing na empresa, tendo em vista que possibilita o monitoramento diário do tempo gasto entre a requisição de compra e o atendimento do pedido. Figura 29 - Eventos e históricos da compra realizada Fonte: ERP – SGE (Sistema de gestão Empresarial) – módulo Compras – Empresa Alpha. 150 Diante de todas as evidências apresentadas, conclui-se que a Empresa Alpha não possui parâmetros ou metas formalizadas e divulgadas internamente para controle do timing em compras, entretanto seu Módulo de Compras do ERP mostrou-se capaz de gerenciar tal variável de forma satisfatória. A observação dos processos de compras realizados durante a pesquisa de campo comprovam que o tempo decorrido para realização de uma compra é monitorado de forma intuitiva, conforme a experiência de compras passadas, tanto pelo comprador, quanto pelo solicitante da compra. A lacuna está na falta de parâmetros para determinar qual seria o tempo adequado para realizar a compra de determinado tipo de produto ou serviço. 4.3.12 Variável de compra: tipo de produto a ser comprado Esta variável refere-se aos produtos que devem ser comprados conforme descrito nas especificações de compra. Seguindo as recomendações de Arnold (2012), os tipos de produtos podem ser classificados em commodities, produtos com padronização, produtos de pequeno valor e materiais específicos feitos sob encomenda. A investigação sobre quais seriam os principais tipos de produtos comprados na Empresa Alpha, apontou a compra de produtos conforme classificação sugerido por Arnold (2012): a) Produtos Padronizados: lingotes de alumínio padronizados pela norma SAE 306 e SAE 305, plásticos de engenharia. b) Produtos de pequeno valor: itens de manutenção, material de escritório, material de limpeza, porcas, parafusos, fixadores, etc. c) Materiais específicos feitos sob encomenda: contratação do serviço de injeção de peças técnicas e elaboração de projetos e moldes para construção de novos produtos. Os principais tipos de produtos adquiridos estão entre os plásticos de engenharia, liga de alumínio e serviço de injeção de peças técnicas sob medida, conforme comprovam os depoimentos dos entrevistados E1 e E2 quando questionados sobre os principais tipos de produtos comprados pela Empresa Alpha. Plásticos industriais de vários tipos, a grande maioria de material virgem, metal liga de alumínio e transformação de ambos esses insumos que é tanto a injeção de plástico quanto a injeção de alumínio. Acredito que dentro disso daí, "estão" mais de 80% das compras. E1 151 PEAD, injeção das peças de plástico e de alumínio (serviço). Esses são os maiores. Plástico a gente tem que comprar a matéria prima e a injeção, de alumínio é somente a injeção. E2 Por meio da pesquisa documental foi possível ratificar os depoimentos prestados, bem como apresentar os principais tipos de produtos comprados no ano de 2013, bem como o custo de compras por tipo de produto adquirido, conforme nota-se no relatório base para curva ABC de materiais comprados na figura 30. Figura 30 - Curva ABC por materiais comprados (anos 2013) Fonte: ERP – SGE (Sistema de gestão Empresarial) – Módulo Compras – Empresa Alpha. 4.3.13 Variável de compra: frete A variável frete, está relacionada aos custos do transporte nas compras realizadas, principalmente fora do estado de Minas Gerais, podendo envolver frota própria ou terceirizada. Quando questionados sobre a existência de parcerias com alguma transportadora (entende-se parceria como o fechamento de contrato de prestação de serviço de transporte com determinação de tabela de custos de frete previamente acordada entre as partes), obteve-se 152 respostas conflitantes entre os entrevistados E1 e E2, frente ao depoimento do entrevistado E3, conforme segue: Não, não temos parceria com nenhuma transportadora. Cada caso é feito cotações e o que estiver mais barato para a situação específica é contratada. E1 Não, ultimamente nós temos tentado fazer más atualmente não. Tem algumas que fazemos, mas porque está estreitando esse relacionamento, mas ainda não fechamos. Pretende-se fazer isso porque fica mais barato fora o trabalho que diminui. E2 Sim, M2000 [...] Tabela de preços deles, tava dentro dos parametros e um pouco abaixo do mercado e o prazo de entrega deles. E3 Para dirimir qualquer tipo de dúvida, aprofundou-se na pesquisa de campo via análise documental das notas fiscais de compra realizadas fora do estado de Minas Gerais, tendo custo de frete por conta da Empresa Alpha, análise dos respectivos conhecimentos de transportes, análise de faturas para pagamento a prazo emitidas pela transportadora citada pelo entrevistado E3 e por fim ligações para determinadas transportadoras a fim de confirmar informações sobre tabela de preços. Observou-se que o transporte rodoviário trata-se da modalidade de transporte predominantemente utilizada pela Empresa Alpha, bem como a inexistência de contratos firmados ou mesmo tabelas de preços fixos com empresas transportadoras. A afirmação de existência de parceria realizada pelo entrevistado E3, na verdade trata-se de compras de serviços de frete realizadas com prazo para pagamento, tendo os custos dos fretes com preço similares entre as cargas transportadas considerando a origem e destino das mesmas (São Paulo/Capital para Belo Horizonte/MG). O preço constante do serviço de frete fazia crer a existência de uma tabela fixa de preço para Empresa Alpha, o que não foi comprovado. A Empresa Alpha busca por transportes com menor custo possível como forma de contribuir diretamente para redução dos preços dos produtos finais conforme sugere Ballou (2006). Desta forma, são realizadas cotações em várias transportadoras, comparando prazos de entrega, requisitos para coleta e transporte, bem como o custo do frete. Constatou-se que o preço cobrado pelo frete é o fator determinante para a escolha da transportadora. Foi possível levantar o custo do frete por unidade de compra do produto transportado conforme figura 31: 153 Figura 31 - Custo frete por unidade de compra - 2013 Fonte: ERP – SGE (Sistema de gestão Empresarial) – módulo Compras – Empresa Alpha. 4.3.14 Variável de compra: assistência técnica e treinamento Neste caso, a assistência técnica e treinamento está relacionada ao suporte de manutenção, garantia, peças de reposição e treinamento para utilização do produto adquirido. Assim como ocorrido na variável frete, quando perguntados sobre a exigência de assistência técnica e treinamento para realização da compra, houve divergência nas respostas dos entrevistados E1 e E2 que confirmaram não haver exigência de assistência técnica e treinamento para as compras realizadas, frente à resposta do entrevistado E3 que confirmou a obrigatoriedade desta variável para aquisição de determinados produtos. A análise documental realizada nas notas fiscais de compra, notas fiscais de serviços, requisições de compras solicitadas via Módulo de Compras do ERP da empresa, pedidos de compra registrado no sistema pelo comprador, e por fim a observação não participante de vários processos de compras permitiu concluir que há exigência de assistência técnica e treinamento por parte do comprador junto a seus fornecedores, entretanto tal exigência dependerá de outras duas variáveis determinantes de compras já discutidas: o tipo de produto a ser adquirido e a especificação de compra. A depender do tipo de produto que estiver em negociação, ou da necessidade de assistência técnica anotada nas especificações para compra, o comprador da Empresa Alpha somente 154 realiza a aquisição do produto caso o fornecedor garanta formalmente suporte de manutenção, garantia, peças de reposição e treinamento para utilização do produto adquirido conforme sugerem Urdan e Zuñiga (2001). Tal procedimento é necessário para que a Empresa Alpha possa precaver-se frente a futuras necessidades de manutenção ou treinamentos em relação ao produto ou serviço contratado adquirido. Anexo J aponta o certificado de garantia exigido em uma das compras realizadas, bem como sua requisição de compra onde consta a exigência de garantia para concretização da compra. 4.3.15 Variável de compra: prazo de pagamento Prazo negociado junto ao fornecedor para pagamento das compras realizadas. Influencia diretamente a administraçao de fluxo de caixa da Empresa Alpha. A pesquisa em torno da variável determinante de compra “restrição financeira” revelou que, apesar das dificuldades em relação as negociações de prazo de pagamento junto a determinados fornecedores, a restrição financeira existente não inviabiliza determinadas compras à prazo na Empresa Alpha. O processo de negociação junto aos fornecedores trazem bons resultados para a empresa, tendo em vista que determinadas aquisições foram realizadas com prazo de pagamento conforme revelado anteriormente. A figura 32 comprova a realização das compras à prazo. Figura 32 - Tela pedido de compras (em destaque prazo de pagamento) Fonte: ERP – SGE (Sistema de gestão Empresarial) – módulo Compras – Empresa Alpha. 155 Ressalta-se que através dos processos de negociação conduzidos pelo comprador da Empresa Alpha, compras à prazo são realizadas em determinados fornecedores, tais como V.R Ferramentaria, Posto São Paulo Atlântida, Logpack, Polyfast, Tecno Matiz, Microfund, dentre outras. 4.3.16 Variável de compra: validade dos produtos A validade dos produtos está relacionada ao período de duração de um produto no qual suas características e a qualidade permanecem inalteradas. As entrevistas realizadas indicaram que não há procedimento padronizado com relação à exigência de prazo de validade dos produtos comprados pela empresa pesquisada. Filho (2007) argumenta que os produtos possuem um período de duração, no qual suas características e a qualidade permanecem inalteradas. Sendo assim, adquirir matérias primas sem levar em consideração o prazo de validade pode gerar o comprometimento do isolamento elétrico dos produtos comercializados pela Empresa Alpha utilizados nas redes de transmissão de energia elétrica. Em uma segunda etapa de pesquisa de campo, após análises dos documentos de compras (notas fiscais, certificados de qualidade e processo de recebimento de materiais), seguida da observação de determinadas negociações de compra junto a alguns fornecedores, foi constatado que as variáveis de compra “tipo de produto a ser comprado” e “especificação de compra” irão determinar o rigor em relação à exigência do prazo de validade. Em processos de negociação de compras que envolvem aquisição dos insumos básicos de produção da Empresa Alpha, tais como plásticos de engenharia e derivados de silicone, o comprador não fez exigências com relação ao prazo de validade dos produtos comprados. Ao contrário da exigência feita para compra dos itens de alimentação, tais como pó de café e leite para o lanche dos funcionários da fábrica. 156 A validade é conferida diretamente nas embalagens dos produtos recebidos conforme figura 33. Figura 33 – Etiquetas de controle do fornecedor – Validade dos produtos Fonte: Setor de qualidade da Empresa Alpha. A figura 34, de uma requisição de compra, contêm nas especificações a exigência de observar o prazo de validade do produto a ser comprado, portanto é possível concluir que a variável de compra “validade dos produtos comprados” é observada conforme sugere Chaves (2002), entretanto não há um procedimento normatizado para conduzir tal ação. Figura 34 - Requisição de compra (destaque para prazo de validade) Fonte: ERP – SGE (Sistema de gestão Empresarial) – Módulo Compras – Empresa Alpha. 157 4.3.17 Variável de compra: níveis de estoque Os níveis de estoque tratam das acumulações de matérias primas, suprimentos, componentes, materiais em processo e produtos acabados; normalmente estando em lugares como pátios, galpões, armazéns, chão de fábrica, equipamentos de transporte. O controle dos níveis de estoque são realizados rigorosamente, conforme depoimento do entrevistao E2: A quantidade a gente confere o estoque, eu faço, por exemplo, um pedido desses maiores eu faço uma vez por semana. Eu olho o que tem vendido que eu tenho que entregar na semana, o que eu tenho no estoque e o que eu tenho que pedir. E2 Por meio da análise documental seguida da observação de determinados processos de compras é possível concluir que os níveis de estoque são conferidos em cada nova compra a ser realizada. O comprador da Empresa Alpha tem a sua disposição, via módulo de estoques do sistema ERP da empresa, os níveis em estoque de cada tipo de produto comprado na empresa. O relatório intitulado “Relatório de Disponibilidade em Estoque” (anexo F), apresenta informações importantes, além do código e descrição do item, tais como: quantidade em estoque, valor unitário, valor total em estoque, estoque mínimo que deve ser mantido, quantos dias necessários para reposição do item. O sistema ainda sugere se a compra de determinado item deve ou não ser realizada. Uma série de outros relatórios disponíveis para consulta via sistema comprovam a atenção dispensada aos níveis de estoque na Empresa Alpha, conforme observa-se na figura 35. 158 Figura 35 - Relatórios módulos “Estoques” - ERP Empresa Alpha Fonte: ERP – SGE (Sistema de gestão Empresarial) – módulo Estoques – Empresa Alpha. A afirmação de inexistência de estoque proferida pelo entrevistado E3, foi totalmente refugada, tendo em vista a apresentação das informações anteriores. Aprofundando a pesquisa sobre esta afirmação, verificou-se que na realidade não há a quantidade de itens em estoque que o comprador considera adequado para ter seu timing de compras estendido. O próprio comprador consulta os níveis de estoque via sistema, portanto não há sustentação para defesa da inexistência de estoques. 4.4 Identificar a utilização de alguma inovação no processo de compras que possa tornar a empresa mais competitiva Conforme modelo analítico desenvolvido para esta pesquisa, a base teórica sugerida para responder este objetivo específico destina-se a dar suporte necessário à identificação de algum tipo de inovação no processo de compras da Empresa Alpha que contribua para o aumento de competitividade da empresa. Desta forma, buscou-se verificar se a empresa inovou de alguma maneira em seu processo de compras, atrelando inovação ao desenvolvimento do seu potencial competitivo. As abordagens de vantagem competitiva em suprimentos passam pela valorização do papel estratégico da Função Compras obtido por meio de práticas relacionadas à integração entre tal área com a estratégia corporativa. Neste contexto, o processo de transição de Função Compras 159 primitiva para integrativa vem ocorrendo na Empresa Alpha, demonstrando a intenção de aumentar sua competitividade por meio da estruturação de seus processos de aquisição. Ações como as desenvolvidas na Empresa Alpha podem integrar os objetivos da Função Compras ao planejamento estratégico da organização, tornando a função mais participativa em relação ao processo de tomada de decisões e formulação das estratégias da empresa. As principais ações giram em torno do reposicionamento do setor no novo organograma da empresa; registro de todos os processos de compras via sistema ERP conforme mostrado nas análises anteriores; consultoria externa sendo realizada na empresa para acompanhamento do planejamento estratégico 2013-2017. Como sugerido por Lastres e Albagli (1999), a experiência cotidiana de produção, da gestão, e do próprio trabalho de Compras foram fontes geradoras de inovação nos processos de compra da Empresa Alpha. O processo de compras, anteriormente fragmentado entre os setores da empresa, passa a partir do ano de 2012 a ser gerenciado de forma centralizada unicamente pelo setor de Compras. Tal alteração mudou consideravelmente a forma como as aquisições vinham sendo realizadas, tendo em vista que o fluxo de compras foi determinado e a hierarquia de decisões para execução das compras foi estabelecida, juntamente com o início do processo de reestruturação das atividades de compras iniciadas em 2013. A inovação no processo de compras da Empresa Alpha está representada pelo gerenciamento de todo o processo por meio do “Módulo de Compras” contido no software de gestão integrada (ERP) desenvolvido internamente, onde todas as etapas de compras devem ser executadas respeitando o fluxo estabelecido no sistema. O Módulo de Compras da empresa não foi adquirido de fontes externas, foi desenvolvido e construído internamente, por meio da área de T.I. em parceria com o setor de Compras da empresa. Todas as opções do módulo foram estruturadas de forma a promover melhorias significativas nos métodos de coordenação de todo o fluxo de compras em conformidade com as atividades de produção, financeiras e comerciais. O objetivo está em estabelecer um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho e nas relações externas conforme sugere a OCDE (2005). De acordo com OCDE (2005), a característica geral de uma inovação está em sua implementação, ou seja, passa pela utilização efetiva nas operações das empresas de novos processos, métodos de marketing e métodos organizacionais. Desta forma, a construção e 160 efetiva utilização de um Módulo de Compras integrado em um ERP, pode ser considerada uma inovação no processo de compras da Empresa Alpha. O foco da inovação da empresa está no melhoramento contínuo em seus processos de compra, com suporte do módulo de compra desenvolvido internamente e que passa por um processo de registro junto ao INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) e continua sendo aprimorado tendo em vista possibilidade de comercialização futura. Outro fator que ratifica a identificação de inovação no processo de compra da Empresa Alpha está na orientação de inovação de processos da própria OCDE (2005), quando esta i) informa que em inovação de processos incluem-se mudanças significativas em técnicas, equipamentos e/ou softwares; ii) inovações de processo também abarcam técnicas, equipamentos e softwares novos ou substancialmente melhoradas em atividades auxiliares de suporte, como compras, bem como a implementação de tecnologias da informação e da comunicação (TIC) novas ou significativamente melhoradas que vise melhorar a eficiência e/ou a qualidade de uma atividade auxiliar de suporte. Vale ressaltar que, segundo a PINTEC ano base 2011, métodos novos ou substancialmente melhorados de gerenciar que resultem em aumento no nível de qualidade do produto e dos custos de produção e entrega, conforme vem ocorrendo com a Função Compras da Empresa Alpha, caracterizam uma inovação em processo. A efetiva aplicação prática de uma invenção, explica Tigre (2006), neste caso representada por meio do processo de compras, suportado por um software desenvolvido exclusivamente para a Empresa Alpha em atendimento as suas demandas internas e externas, reforçam a identificação de uma inovação no processo de compras. Davila, Espsten e Shelton (2007) explicam que os produtos da inovação de cada empresa serão igualmente diferentes, pois cada companhia apresenta seus próprios processos, organização, cultura, indicadores e estratégia de inovação. Neste contexto, ações como: centralização de todas as compras unicamente no setor de Compras da empresa; posicionar a área junto à diretoria; estruturar o processo de compras com apoio da ferramenta computacional desenvolvido internamente que atende às exigências internas e externas em conformidade com a legislação brasileira, também ratificam a utilização de inovação no processo de compras da empresa pesquisada. 161 4.5 Comparar as variáveis de compras identificadas nesta pesquisa com as de Chaves (2002) Esta seção trata da comparação das variáveis de compras identificadas através da pesquisa realizada na Empresa Alpha, em relação às variáveis encontradas por Chaves (2002). Neste momento, torna-se necessário esclarecer que tal comparação entre as variáveis encontradas em cada estudo é realizada considerando determinados pontos de diferenciação em relação ao setor pesquisado, bem como das variáveis utilizadas pelas organizações nas decisões de compras selecionadas para os estudos. Na pesquisa de Chaves (2002), as variáveis de compras foram selecionadas exclusivamente com foco nas peculiaridades do comércio varejista, em específico os supermercados, tendo em vista a necessidade de comprar produtos para revenda de diversas categorias, tais como mercearia seca, líquidos, bazar, higiene e limpeza, hortifruti, perecíveis. A identificação das variáveis do referencial teórico é decorrente da análise da operação de compras sob a ótica das peculiaridades do ramo varejista de alimentos de auto serviço supermercados [...] Chaves (2002, p.177) Tais peculiaridades influenciam o processo de decisão de compra, principalmente neste setor altamente disputado, revelando a necessidade de análise de determinadas variáveis para tomar a decisão que melhor otimiza o resultado de Compras. Por sua vez, com base na literatura especializada em compras, por vezes diferentes do estudo de Chaves (2002), a pesquisa realizada na Empresa Alpha trabalha com variáveis sugeridas para utilização no processo de decisão de compras, sem necessariamente serem exclusivas de aplicação em determinado ramo de atuação. O desenvolvimento da pesquisa em uma empresa metalúrgica fornecedora de materiais para segmentos de Linhas de Transmissão e Redes Aéreas de Distribuição de Energia Elétrica surge da oportunidade de observar com clareza de detalhes, em uma empresa não supermercadista, o uso de variáveis de compras a serem consideradas durante o processo de decisão sobre aquisições de produtos e contração de serviços. Desta forma, não foi pretensão do estudo restringir a aplicação das variáveis sugeridas pela literatura unicamente a empresas do setor metalúrgico. As variáveis de compras utilizadas nesta pesquisa são capazes de contribuir para a formulação e execução das estratégias competitivas de qualquer organização, alinhando objetivos da área de Compras ao planejamento estratégico. 162 Chaves (2002) aponta dezessete variáveis utilizadas na decisão de compras no comércio varejista de auto-serviço supermercados para criação das alternativas de decisão, sendo estas o rol de variáveis proposto pela autora para o modelo de decisão destinado a empresas deste setor. São elas: frequência de compras, volume de compras, natureza da demanda, preço, tipo de produtos, estoques, distribuição dos produtos, fornecedor, organização de compras, estilo do comprador, sistemas de informações, prazo de pagamento, qualidade, mix de produtos, frete e seguro, impostos, e por fim validade dos produtos. A pesquisa revela que a utilização das variáveis pelas três redes de supermercados selecionadas, algumas vezes são convergentes, em outras divergentes. Das 17 variáveis propostas, 76% (treze variáveis) são utilizadas por toda a amostra e os outros 24% (quatro variáveis) por 67% da amostra, ou seja, duas redes de supermercados. Dentre as variáveis utilizadas por toda a amostra apenas 38% (cinco variáveis) possuem um comportamento convergente entre duas redes, sendo o restante diferenciado em todas as redes. Por sua vez, os principais resultados encontrados na pesquisa realizada na Empresa Alpha apontam para as seguintes variáveis de decisão em compras que podem contribuir para o melhor desempenho da área suprimentos: a organização de compras, tempo (prazo de entrega), fonte de suprimentos, preço, assistência técnica e treinamento, especificações de compra, qualidade, quantidade, timing, tipo de produto a ser comprado, validade dos produtos, nível de estoque, negociação de compras, restrições financeiras, frete, e prazo de pagamento. São dezesseis variáveis utilizadas, tendo em vista que a variável de compras “custo total de aquisição” sugerida pela literatura utilizada não é considerada nas avaliações de compras realizadas pela organização pesquisada. O quadro 26 apresenta a relação das variáveis de decisão de compras pesquisadas por Chaves (2002) e as pesquisadas no presente estudo. 163 Quadro 26 - Variáveis de compras - Chaves (2002) e o presente estudo. Chaves (2002) Freqüência de Compras Volume de compras Natureza da demanda Preço Tipos de Produtos Estoques Distribuição dos produtos Fornecedor Organização de compras Estilo do comprador Sistema de informações Prazo de pagamento Qualidade Mix dos produtos Frete e seguro Impostos Validade dos produtos Presente estudo Qualidade Quantidade correta Tempo Fonte de suprimentos Preço Negociação Custo total de aquisição Especificações de compra Organização de compras Restrições financeiras Timing Tipo de produto a ser comprado Frete Assistência técnica e treinamento Prazo de pagamento Validade dos produtos Níveis de estoque Elaborado pelo autor com base em Chaves (2002) e o presente estudo O quadro 27 apresenta as variáveis de Compras equivalentes entre a pesquisa realizada por Chaves (2002) e o Presente estudo Quadro 27 - Variáveis de compras equivalentes e não equivalentes Chaves (2002) e o presente estudo Variáveis equivalentes entre Chaves (2002) e o presente estudo Variáveis Chaves (2002) Variáveis pesquisadas no Presente estudo A - Qualidade A - Qualidade B - Volume de compras B - Quantidade correta C - Fornecedor C - Fontes de suprimentos D - Preço D - Preço E - Organização de compras E - Organização de compras F - Tipos de produtos F - Tipo de produto a ser comprado G - Frete e seguro G - Frete H - Prazo de pagamento H - Prazo de pagamento I - Validade dos produtos I - Validade dos produtos J - Estoques J - Níveis de estoque Elaborado pelo autor com base em Chaves (2002) e o presente estudo As variáveis equivalentes entre os estudos (qualidade; volume de compras/quantidade correta; fornecedor/fontes de suprimentos; preço; organização de compras; tipo de produto a ser comprado; frete e seguro; prazo de pagamento; validade dos produtos; e estoques/níveis de estoques) apresentaram as mesmas características, sendo comuns ao processo de decisão de compras nas organizações pesquisadas. Desta forma, para os estudos em questão, tais Variáveis de Decisão abrangem as peculiaridades de empresas atuantes tanto no comércio varejista de auto serviço, em específico os supermercados, quanto no setor metalúrgico voltadas para desenvolvimento, fabricação e comercialização de materiais para os segmentos de Linhas de Transmissão e Redes Aéreas de Distribuição de Energia Elétrica. 164 Por fim, O quadro 28 apresenta as variáveis de Compras não equivalentes entre a pesquisa realizada por Chaves (2002) e o presente estudo, bem como a caracterização de cada uma delas. Quadro 28 - Variáveis de compras não equivalentes - Costa (2014) e o presente estudo Variáveis não equivalentes entre Costa (2014) e o presente estudo Variáveis Chaves (2002) Variáveis pesquisadas no presente estudo Freqüência de compras: frequência em relação a Tempo: diz respeito ao prazo de entrega dos produtos periodicidade das compras. adquiridos e/ou serviços contratados. Natureza da demanda: determinantes da demanda do Negociação: negociar a compra dos produtos ou produto que influenciam na sensibilidade do produto contratação de serviço com os fornecedores. Envolve ao aumento/redução dos preços. relacionamentos com fontes de suprimentos, intermediação de conflitos de interesse corporativos e pessoais, obtenção de vantagem competitiva Distribuição dos produtos: tipos de distribuição com Custo total de aquisição: custo total envolvido na a participação ou não do fornecedor. compra de produtos e contratação de serviços, ou seja, total que realmente é paga pelos bens e serviços, incluindo itens como ferramentaria, impostos alfandegários, estocagem, dentre outros custos. Estilo do comprador: perfil do comprador, Especificações de compra: requisitos necessários para características do modo de efetuar as compras. que uma compra seja realizada adequadamente. Sistema de informações: sistema utilizado para dar Restrições financeiras: restrições financeiras que possam suporte ao processo de tomada de decisão. impedir a área de Compras de efetuar uma aquisição. Mix dos produtos: definição dos produtos a serem Timing: está relacionado à agilidade do departamento de comercializados pelos supermercados. Compras em atender as necessidades de suprimentos da organização em tempo hábil, bem como aproveitar as oportunidades de mercado. Impostos: tributação incidente sobre a Assistência técnica e treinamento: serviços de reparos comercialização de produtos alimentícios. em defeitos sob garantia e realização de treinamento para utilização do produto adquirido e/ou serviço contratado. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Chaves (2002) e o presente estudo Considerando que as pesquisas aqui discutidas não têm caráter exaustivo, a não equivalência de determinadas variáveis pode estar associada ao setor pesquisado, bem como a literatura utilizada por cada um dos estudos. Percebe-se que algumas variáveis de decisão são tão importantes para empresas do setor supermercadistas, tais como os Impostos e o Mix de Produtos, que não foram consideradas como já pertencentes as variáveis de decisão Preço e Tipo de Produto respectivamente conforme ocorre neste estudo. Chaves (2002) considera o Estilo do Comprador como uma variável chave de compra, entretanto na literatura base da presente pesquisa a influência e capacidade de negociação do comprador nas organizações está inserida na variável de compra Negociação. A variável Frequência de Compra evidenciada por Chaves (2002), está atrelada, principalmente, as variáveis Preço e Níveis de estoque evidenciadas no presente estudo. Por fim Chaves (2002) considera a Natureza da demanda, a Distribuição dos produtos e os Sistemas de informação como variáveis chaves de decisão de compras em supermercados, diferente do presente estudo, que aborda o Tempo (prazo de entrega), o Custo total de aquisição, Especificações de compra, Timing e Assistência técnica e treinamento como variáveis determinantes da decisão de Compras nas organizações. 165 5 SÍNTESE DOS ACHADOS Este capítulo sintetiza por meio de uma análise qualitativa os principais achados e percepções relacionados a este estudo. As descobertas aqui descritas levam em considerando os objetivos geral e específicos da pesquisa. Partindo para uma análise qualitativa, a visão que se teve das práticas de compras da Empresa Alpha, bem como das variáveis utilizadas no processo de decisão de compras, foi que a empresa conseguiu sistematizar suas atividades por meio da i) reestruturação de seus processos de aquisição, ii) reposicionamento do setor de Compras no organograma funcional da empresa e iii) também por meio do desenvolvimento, construção e implantação de software capaz de gerenciar suas atividades de compra. Entretanto problemas ainda existem, o que justifica seu processo de transição de uma atividade meramente operacional para um posicionamento estratégico na organização. Um dos problemas encontrados está na falha de comunicação entre os setores. Mesmo com os canais de comunicação disponível (Intranet, ERP, formulários internos, reuniões), há um sério problema de comunicação e transmissão de informações entre as áreas. Foram encontradas respostas divergentes entre os entrevistados para processos que deveriam seguir um padrão rígido e formalizado. Esta falha na comunicação leva a linhas de pensamento diferentes para processos que devem ser padronizados, como por exemplo o fluxograma de compras da empresa. Atrelada a esta falha de comunicação, foi constatado a falta de acompanhamento dos custos totais nos processos de aquisição, fator crítico para uma empresa que pretende aumentar seu faturamento nos próximos anos. Recomenda-se dar tratamento adequado a estes itens sob o risco de resultar em prejuízos financeiros para a organização. A variável de compra “restrição financeira” encontrada na Empresa Alpha influencia todo o processo de compras no que se refere à negociação com fornecedores, prazo de pagamento, preço e fluxo de caixa. Até mesmo o estabelecimento de metas formais para o setor de Compras fica comprometida em decorrência da existência de restrição financeira. O trabalho do comprador, em grande parte, está focado em conseguir menores preços possíveis, com entrega dentro do menor prazo com menor custo de frete. O foco nestas variáveis força o profissional de compras a trabalhar sob grande pressão, concentrando seus esforços em 166 atividades rotineiras, não associadas ao esforço necessários para posicionar estrategicamente a Função Compras na organização. O desenvolvimento das fontes de suprimentos é outro fator crítico na organização pesquisada. Os critérios para seleção, avaliação, qualificação e desenvolvimento das fontes de suprimentos não foram efetivamente implantados, o que prejudica a cooperação da empresa com seus diversos fornecedor. Recomenda-se tratar com maior atenção tal variável de compra, tendo em vista que, a correta administração das fontes de suprimentos é considerada pela literatura especializada como fator primordial para uma Função Compras estratégica, principalmente no que se refere ao trabalho cooperativo entre a empresa compradora e seus fornecedores. A consolidação do estágio de desenvolvimento apoiador proposto por Baily et al. (2000), e atualmente almejado pela empresa dentro do processo de amadurecimento da sua Função Compras, dependente em grande parte das estratégias adotadas com relação a gestão de seu relacionamento com suas fontes de suprimentos. O Módulo de Compras do sistema integrado de gestão desenvolvido internamente pela organização pesquisada, mostra-se extremamente eficiente no que se refere a estruturação de toda a atividade de compras da empresa. Possui mecanismos de controle que extrapolam os recursos de um módulo de compras convencional, principalmente em relação ao controle de níveis de estoque e apuração dos impostos envolvidos nas compras. Entretanto, o sistema encontra-se sub aproveitado tendo em vista que o setor de Compras não utiliza todas as ferramentas disponibilizadas no mesmo, tais como: registro de negociação interna de compras, mapa de compras e indicadores de desempenho. De certa forma, os problemas encontrados não inviabilizaram a reestruturação das atividades de compras da Empresa Alpha, bem como o desenvolvimento, construção e implantação de um “Módulo de Compras” extremamente funcional, que organizou toda gama de dados antes dispersos por toda a estrutura da empresa. Tal ação favoreceu o estabelecimento de novas práticas de compras para a empresa, tornando-a mais eficiente em relação a suas decisões de compras, reduzindo o volume financeiro dispendido nas aquisições, e principalmente provocando melhora contínua nos processos de outros setores. Torna-se necessário o investimento em qualificação profissional para que os objetivos da Empresa Alpha possam ser alcançados. Há pontos em que o investimento em qualificação profissional poderá trazer bons resultados, principalmente no que tange à administração geral do 167 processo de compras, implantação de políticas de compras, estabelecimento de regras para relacionamento com as fontes de suprimentos. O investimento em qualificação, não só para os profissionais envolvidos no processo de compras mas também para as demais áreas da empresa, torna-se necessário. Não há como se pensar em Planejamento Estratégico, Integração e uma Função Compras estratégica com profissionais despreparados ou desatualizados. 168 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa investigou as variáveis envolvidas no processo de decisão de compras de uma indústria metalúrgica fornecedora de materiais para os segmentos de Linhas de Transmissão e Redes de Distribuição de Energia Elétrica. Os objetivos específicos investigados contemplam o i) processo de compras organizacionais; ii) a identificação de variáveis de compras; iii) a análise das variáveis de compras identificadas; iv) inovação no processo de compras; e v) comparação de resultados entre pesquisas. A análise de dados foi direcionada de forma a contemplar o objetivo geral e, consequentemente, atender à seguinte problemática de estudo: Quais as variáveis utilizadas na decisão de compras em uma empresa metalúrgica fornecedora de materiais para os segmentos de Linhas de Transmissão e Redes de Distribuição de Energia Elétrica determinantes do processo de compra? Direcionado por um protocolo de estudo de caso, buscou-se investigar e analisar por meio de uma abordagem qualitativa, as práticas de compras, bem como as variáveis utilizadas no processo de decisão de compras da organização pesquisada. Para isso, o referencial teórico contemplou práticas, estratégia competitiva e decisão em Compras; o papel do profissional de Compras e os indicadores de desempenho da área; as Variáveis de Decisão em compras; e inovação no processo de Compras. A combinação padrão proposta por Yin (2010) foi utilizada no processo de análise dos dados, tendo os resultados apontados passíveis de confirmação por meio da validade do construto, validade externa e confiabilidade. O primeiro objetivo específico avaliado tratou da caracterização do processo de compras da organização pesquisada. Foi identificado que a Função Compras na Empresa Alpha privilegia a obtenção e coordenação do fluxo contínuo de suprimentos a fim de atender os programas de produção, com foco em três Variáveis de Decisão em compras: preço, tempo (prazo de entrega) e frete (custo do frete). Os principais objetivos de Compras identificados por meio de análise documental (anexo A) remetem a sete variáveis de decisão em compras (negociação de compra, quantidade, qualidade, prazo de entrega, preço, fonte de suprimentos e níveis de estoque), tendo em vista que os mesmos privilegiam: i) fluxo seguro de materiais e serviços na linha de produção; ii) negociação de compra de matérias aos mais baixos custos dentro das especificações predeterminadas em termos de quantidade, qualidade, prazos e preços; iii) estabelecer 169 relacionamentos cooperativos com fornecedores; iv) administrar níveis de estoque; v) criar e aperfeiçoar rotinas e procedimentos para os processos de aquisição. Considerando que objetivos de Compras podem diferir de uma organização para outra (BAILY et al., 2000), e que as características específicas de cada empresa vão definir organizacionalmente onde a Função ficará posicionada dentro da estrutura da empresa (GONÇALVES, 2010); o esforço para integrar totalmente a estratégia de Compras com a estratégia competitiva da empresa pode ficar comprometido caso não sejam definidos adequadamente; formalizados; comunicados; e internalizados objetivos que respeitem as características da Empresa Alpha. Um dos objetivos de Compras defendidos por Baily et al. (2000) está justamente em desenvolver funcionários, políticas, procedimentos e organização para assegurar o alcance dos objetivos previstos, o que remete a orientação para que a empresa pesquisada continue trabalhando este aspecto internamente. A análise comparativa do fluxo básico de compras da Empresa Alpha, apoiado pela análise do processo de compras via sistema ERP da empresa, reforçam a inexistência de fluxo rígido, único e universal de processo de decisão em compras conforme evidenciado no estudo de Wind e Thomas (1996). O quadro 25 anteriormente apresentado, evidencia que as principais etapas do fluxo estão em conformidade com a literatura especializada, ao mesmo tempo em que atendem às características especificas da empresa, em especial, no que diz respeito a variável de decisão de compras “restrição financeira”. Tal variável mostrou-se capaz de interferir no potencial competitivo da organização, principalmente no que tange ao processo de negociação junto aos fornecedores, especificamente em relação à variável de compra “prazo de pagamento”. Recomenda-se dar tratamento a esta questão. Apesar do reposicionamento do setor de Compras no organograma da empresa, agora subordinada diretamente a diretoria executiva, foi identificado que a consolidação da visão estratégica para o processo de compras proposto por Baily et al. (2000) está comprometida, principalmente, por: i) inexistência de orçamento de compras; ii) ausência de comunicação e internalização dos objetivos de Compras; iii) indefinição de metas claras para o setor de Compras da empresa; iv) falhas de comunicação, e v) ausência de manual ou normativo contendo parâmetros para selecionar, avaliar, qualificar e desenvolver fornecedores. Mesmo tendo o relacionamento cooperativo com fornecedores como um dos objetivos de Compras identificados, verificou-se a ausência de manual ou normativo contendo parâmetros para selecionar, avaliar, qualificar e desenvolver fornecedores. Entretanto, conforme demonstra o 170 anexo I, a Empresa Alpha pretende implantar procedimentos para avaliar e qualificar seus fornecedores de materiais críticos, o que representa um passo importante para o alcance do estágio integrativo de desenvolvimento da Função Compras proposto por Baily et al. (2000). Concluindo as considerações para esse primeiro objetivo específico, tendo como base os estágios estratégicos de desenvolvimento da Função Compras propostos por Baily et al. (2000), bem como o perfil das atividades desenvolvidas de Compras apresentado por Braga (2006), é possível inferir que a Empresa Alpha passa por um processo de transição entre o estágio passivo (posicionamento meramente tático – operacional), para um posicionamento estratégico dentro da organização, considerando o exposto no quadro 4 apresentado no capítulo 2.1.1. Apesar de manter comunicação entre as áreas funcionais, o estágio estratégico de Compras na empresa pesquisada ainda não foi alcançado, o que remete a uma Função não integrada totalmente com a estratégia competitiva da empresa, sendo tal integração vista como um dos pilares a serem construídos para sustentar o planejamento estratégico da organização no período 2013-2017. Em resposta ao segundo objetivo dessa pesquisa – identificar as variáveis que estão sendo selecionadas para efetivação das compras na Empresa Alpha – a metodologia de pesquisa aplicada permitiu identificar as seguintes variáveis utilizadas no processo de decisão de compras da organização: organização de compras, tempo (prazo de entrega), fonte de suprimentos, preço, assistência técnica e treinamento, especificações de compra, qualidade, quantidade, timing, tipo de produto a ser comprado, validade dos produtos, nível de estoque, negociação de compras, restrições financeiras, frete, e prazo de pagamento. Em detalhamento sobre as variáveis utilizadas para efetivação das compras na Empresa Alpha, o terceiro objetivo específico procurou acompanhar a utilização das variáveis identificadas no processo de decisão de compra da organização. A observação não participante seguida da análise documental realizada após entrevistas semiestruturas foram de fundamental importância para responder este objetivo. Além do preço, tempo (prazo de entrega) e frete (custo do frete), as variáveis utilizadas no processo de decisão de compras da Empresa Alpha tratadas com maior rigor por parte da área de Compras, são: i) quantidade dos produtos a serem adquiridos considerando o planejamento e controle de estoque; ii) especificação de compras, iii) restrições financeiras, iv) prazo de pagamento, v) níveis de estoque, e vi) negociação de compra. Considerando as seis variáveis chaves de compras propostas por Baily et al. (2000) para realização das compras, a Empresa 171 Alpha foca sua atenção em quatro delas (quantidade, tempo, preço e negociação), ficando de fora de uma análise mais criteriosa as variáveis qualidade e fonte de suprimentos conforme revelam as análises documental e observação não participante realizadas. Tal constatação torna-se importante tendo em vista que a qualidade dos produtos comprados, bem como a seleção, avaliação, qualificação e desenvolvimento de fornecedores compõem atividades básicas de uma área de Compras posicionada estrategicamente na organização. Desta forma, além de ser necessário considerar a definição, formalização, comunicação e internalização dos objetivos de Compras, a Empresa Alpha deve tratar com maior rigor a escolha das suas fontes de suprimentos e consequentemente a qualidade dos produtos recebidos. A transição de Compras para um posicionamento estratégico na empresa, tendo seus objetivos alinhados com os objetivos organizacionais e consequente integração com a estratégia competitiva da empresa, deve passar pela análise rigorosa das variáveis de compra “fonte de suprimentos” e “qualidade” dos produtos adquiridos, conforme indicam Baily et al. (2000). Das dezessete variáveis de compras preconizadas pela literatura especializada utilizada nesta pesquisa (quadro 21), chama atenção à ausência do controle sobre a variável “custo total de aquisição” por parte da Empresa Alpha. O total pago pelos bens e serviços de ferramentaria, impostos alfandegários, estocagem, inspeção, conserto ou retificação (BAILY ET AL., 2000), atrelados aos custos ocultos relacionados à entrega, apoio, negligência no trabalho, bens consumíveis, treinamento, custos de estoque, atrasos, inspeção, custos de manipulação, etc (LAMBERT, STOCK E VANTINE, 1999) devem ser considerados por afetarem diretamente o preço dos produtos. É razoável considerar que a área de Compras das organizações deve avaliar o custo total dos produtos adquiridos, sob o risco de não alcançarem um posicionamento proativo, plenamente integrado na estratégia competitiva da empresa. Com base na pesquisa bibliográfica, atrelada à observação não participante e análises documentais realizadas, as demais variáveis de compras identificadas (organização de compra, assistência técnica e treinamento, timing, tipo de produto, validade do produto) são consideradas no processo de tomada de decisão de compra da Empresa Alpha. Entretanto constatou-se que, a depender das necessidades da organização, determinadas variáveis podem tornar-se decisivas para concretização da aquisição, como por exemplo, a necessidade de assistência técnica evidenciada na especificação de compra contida na figura 16. 172 Concluindo o terceiro objetivo específico, a identificação da variável de compra restrição financeira na Empresa Alpha, permite inferir que, conforme defende Ballou (2009), determinada variável de compra pode impactar diretamente em outra, logo não devem ser analisadas isoladamente. Foi constatado que a variável restrição financeira interfere no poder de negociação do comprador principalmente com relação a preço, prazos de pagamento na compra das mercadorias e até mesmo na contratação de frete. Em relação ao quarto objetivo específico da pesquisa – identificar a utilização de alguma inovação no processo de compras que possa tornar a empresa mais competitiva – verifica-se a ocorrência de uma inovação no processo de compras da Empresa Alpha. A reestruturação dos processos de Compras iniciada no ano de 2013, atrelada ao desenvolvimento, implementação e utilização de um módulo de compras capaz de gerenciar as atividades via sistema de gestão integrada, representam uma inovação no processo de compras capaz de tornar a Empresa Alpha mais competitiva. A administração das compras via ferramenta computacional possibilitou estabelecer autoridades para aprovação das aquisições, coordenar os esforços do comprador, integrar definitivamente a área de Compras com a administração de estoques, controlar o fluxo de recursos utilizado nas aquisições, otimizar processos, contribuir para a interação entre os vários níveis e departamentos da organização, apurar impostos, monitorar preços e prazos de entrega, possibilitar a gestão de sua base de fornecedores, dentre outros fatores que atendem as demandas específicas da organização. Conseguiu-se estabelecer um novo método organizacional nas práticas de compras da empresa, na organização do local de trabalho, bem como nas relações externas conforme orientação da OCDE (2005). A implementação e efetiva utilização de um novo método organizacional voltado para o gerenciamento de compras, tendo como base uma nova estrutura de processos e efetiva utilização de uma ferramenta computacional extremamente funcional, mostra-se capaz de proporcionar um melhoramento contínuo nos processos de compra da Empresa Alpha, o que ratifica a identificação de uma inovação no processo. O “Modulo de Compras” desenvolvido exclusivamente pela Empresa Alpha passa por registro de patente no INPI como etapa inicial para futura comercialização do software para pequenas e médias empresas. Em atendimento ao quinto e último objetivo específico, foram comparadas as variáveis identificadas nesta pesquisa com as de Chaves (2002). Relembra-se que tal comparação entre as pesquisas é realizada considerando determinados pontos de diferenciação com relação ao setor 173 pesquisado, bem como das variáveis utilizadas pelas organizações nas decisões de compras selecionadas para os estudos. Através da análise comparativa entre as duas pesquisas estabelecida no capítulo 4.5, é possível inferir que a literatura utilizada; o ramo de atuação da organização pesquisada; as características internas da empresa, bem como o foco dado em cada estudo resultam na seleção de algumas variáveis de decisão de compra divergentes entre as pesquisas. Como exemplo, temos a Variável de Decisão em compras “distribuição dos produtos” elencada no estudo de Chaves (2002), mas não considerada nesta pesquisa por não ser apresentada como uma variável de compra pela literatura utilizada e não encontrada na pesquisa de campo realizada. Apesar disso os resultados encontrados apontam que dez das dezessete variáveis pesquisadas nos dois trabalhos apresentam as mesmas características. Estudos desse tipo ajudam a compreender o comportamento em relação ao processo de decisão em compras de diferentes empresas, em diferentes ramos de atuação, pesquisadas sobre diferentes enfoques, abrindo oportunidades para novas descobertas. Avaliados os cinco objetivos específicos estabelecidos nesta dissertação e em resposta à pergunta de pesquisa, afirma-se que as variáveis utilizadas na decisão de compras da Empresa Alpha determinantes do processo de compra são: a organização de compras, tempo (prazo de entrega), fonte de suprimentos, preço, assistência técnica e treinamento, especificações de compra, qualidade, quantidade, timing, tipo de produto a ser comprado, validade dos produtos, nível de estoque, negociação de compras, restrições financeiras, frete e prazo de pagamento. Tais variáveis apresentam-se em conformidade com a literatura utilizada neste estudo, ficando em segundo plano apenas a variável de compras “custo total de aquisição” já que a organização tem conhecimento da mesma, entretanto não há considera em seu processo de compras. Para tomar uma decisão, evidenciou-se que o gestor deve ter acesso a um rol de informações confiáveis como forma de delimitar o problema e optar pela melhor escolha possível. A análise das variáveis determinantes da decisão de compras, torna-se uma alternativa para administrar a complexidade do processo de aquisição. Desta forma, empresas, em especial do setor metalúrgico, devem elencar e considerar as diversas Variáveis de Decisão envolvidas na ação de adquirir determinado produto ou contratação de serviço que estão sob o domínio do gestor ou que pelo menos ele tenha influência e responsabilidade nas suas consequências e são utilizadas para subsidiar o processo de tomada de decisão de compras conforme esclarece Almeida (1996). 174 Apesar da informalidade e desestruturação em algumas atividades encontradas na Empresa Alpha, há processos sistematizados e indícios que justificam a transição de uma Função Compras operacional para um posicionamento estratégico dentro da organização. Tendo em vista a especificidade do ramo de atuação da organização pesquisada principalmente no que se refere aos tipos de produtos fabricados; aos critérios para comercialização exigidos pelos clientes em território nacional; e a pressão por redução de custos e otimização de processos, é razoável que a organização continue aperfeiçoando seus processos de compras, abrindo oportunidade para que novas variáveis possam ser consideradas. O desenvolvimento, implementação e utilização de um software (Módulo de Compras) direcionado ao atendimento das necessidades de uma indústria metalúrgica, considerando a legislação vigente em território nacional, mostrou-se extremamente eficiente na coordenação das atividades de compra na empresa. A ferramenta apresenta-se como um dos principais fatores utilizados na busca pela total integração dos objetivos de Compras com a estratégica competitiva da empresa. A generalização de resultados para outras empresas não foi alvo deste estudo, sendo assim sugere-se obter informações passíveis de confrontação por meio de realização de outros estudos em empresas assemelhadas. A pesquisa de variáveis utilizadas no processo de decisão de compras em empresas diferentes do setor metalúrgico pode contribuir para a compreensão do tema, sendo passível de comparação com este estudo desde que consideradas as características específicas de cada ramo de atuação. Ser um estudo de caso único; bem como apresentar apenas uma abordagem qualitativa com fins descritivos, direcionada para identificação de quais são as variáveis determinantes do processo de decisão de compras de uma indústria, podem ser considerados fatores de limitações da pesquisa. Ressalta-se também que a possibilidade de erro do entrevistado e do pesquisador em relação a compreensão de termos não padronizados e seus significados pode representar outra limitação desta pesquisa. Acrescentam-se sugestões para realização de pesquisas futuras que possam contribuir para o aperfeiçoamento do processo de decisão em compras nas organizações: a) realizar pesquisa de caráter quantitativo com foco no estabelecimento de um rol de variáveis a serem utilizadas nas decisões de compras; 175 b) pesquisar e sugerir indicadores de desempenho baseados nas variáveis utilizadas nas decisões de compras das organizações; c) investigar e analisar processo de decisão em compras de outras organizações do setor metalúrgico com objetivo de generalização de resultados; d) pesquisar e analisar a contribuição do uso de ferramentas computacionais para o aprimoramento da atividade de compras; e) mensurar o impacto da utilização das variáveis determinantes de compras no resultado das organizações; 176 REFERENCIAL AGNDAI, H. The purchasing market entry process - A study of 10 Swedish industrial small and medium-sized enterprises. 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O sistema está interligado como as outras áreas? Quais as informações disponibilizadas? 6. Quais são os parâmetros utilizados nas decisões de compra? Estão formalizados em algum tipo de Manual de Normas e Precedimentos? Como e porque isso ocorre? 7. O(s) compradore(s) possue(m) autonomia para decisões individuais? Descreva. toma as decisões relacionadas ao que deve ser comprado na Empresa Alpha? Quem 8. Do que eles dependem para fechar as aquisições com os fornecedores? Explique. Atividade de compras 9. Perfil dos compradores exigidos para trabalhar na Empresa Alpha (escolaridade, idade, formação)? Qual sua formação e/ou experiência na área de Compras? 10. Enumere as etapas do processo de compras? Descreva cada uma. 11. Quais são os principais fatores observados em um processo de compra nesta empresa? Descreve porque eles são os mais importante. Justifique. 195 12. Quais os principais tipos de produtos comprados? Há produtos perecíveis? O nível de estoque é consultado antes da compra? É exigida assistência técnica ou treinamento? Por que? 13. Como são tomadas as decisões em relação a preço, quantidade e prazo de pagamento das compras? 14. Quais são as principais exigências impostas pela área de Compras da empresa junto aos fornecedores? 15. Além de compras, quais áreas participam do processo de seleção e avaliação de fornecedores? Quais os principais parâmetros de avaliação de desempenho do fornecedor? 16. A requisição de compra da empresa deve ser preenchida com quais informações? O que ocorre com requisições de compras preenchidas incorretamente? 17. Há alguma determinação com relação a prazos para pagamentos das compras? 18. Quais os custos são avaliados pela empresa em uma compra? Os impostos são analisados pela área de Compras? 19. Existe um tempo determinado para atendimento das requisições de compras? 20. A empresa possui parceria com alguma transportadora? Por quê? Quais os preços cobrados? 21. Existe ou já existiu algum tipo de restrição que impedisse a realização de compras a prazo junto aos fornecedores? 22. Existe algum controle com relação ao acompanhamento (follow up) das compras realizadas? 23. Que itens são avaliados quando o produto comprado ou o serviço contratado é finalizado? 24. Você gostaria de comentar ou acrescentar alguma coisa que não foi perguntada? 196 APÊNDICE B – PROTOCOLO DE ESTUDO DE CASO PROTOCOLO DO ESTUDO DE CASO: EMPRESA ALPHA 1 PROCEDIMENTOS ADOTADOS NO TRABALHO DE CAMPO 1.1 Aspectos metodológicos Quanto à abordagem, esta pesquisa será qualitativa. Quanto aos fins, esta pesquisa terá caráter descritivo realizada por meio de Estudo de Caso único. 1.2 Unidade de pesquisa A unidade de análise desta pesquisa pode ser classificada como uma indústria brasileira de pequeno porte, contendo 50 funcionários diretos, com faturamento anual bruto aproximado entre R$ 7 milhões e R$ 9 milhões, sede no estado de Minas Gerais, fornecedora de materiais para os segmentos de Linhas de Transmissão e Redes Aéreas de Distribuição de Energia Elétrica com atuação em todo território brasileiro e alguns países do Mercosul. Sua linha de produtos é composta por itens como Espaçadores Losangulares, Grampos de Ancoragem, Braços de Suspensão, Carretilha Dupla Ação, dentre outros. Possui mais de 300 empresas nacionais cadastradas em sua base de fornecedores, tendo suas compras concentradas em empresas localizadas nos estados de São Paulo e Minas Gerais. Alguns dos seus clientes são: AMPLA (Ampla Energia e Serviços S/A), COPEL (Copel Distribuição S.A.), CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz), ELEKTRO (Elektro Eletricidade e Serviços), CEMIG (Companhia Energética de Minas Gerais), COELBA (Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia), CELESC (Centrais Elétricas de Santa Catarina), CELG (Companhia Energética de Goiás), CELPE (Companhia Energética de Pernambuco), ELETROSUL (Eletrosul Centrais Elétricas S/A), dentre outras. 1.3 Coleta de dados Serão utilizadas a pesquisa de campo por meio da observação não participante das atividades executadas pelo setor de Compras da empresa pesquisada, apoiadas por pesquisa documental e bibliográfica. Entrevistas semiestruturadas serão aplicadas aos compradores, ao gestor de 197 compras e diretores envolvidos com as decisões de compras com intuito de extrair informações relevantes a respeito do tema investigado. 1.3.1 Profissionais da Empresa Alpha envolvidos nas diretrizes do processo de compras a serem entrevistados são: Diretor Administrativo, Diretora da área Financeira, Comprador. 1.4 Fontes de dados a) fontes primárias: profissionais envolvidos nas atividades de compras, bem como no processo de decisão das aquisições dentro da Empresa Alpha. b) fontes secundárias: a. internas: documentos, arquivos e registros da Empresa Alpha. b. extrenas: abrange a bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo (Compras/Suprimentos/Inovação), incluindo publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, dentre outros. 1.5 Observações gerais para coleta de dados As entrevistas, quantas forem necessárias, deverão ser agendadas e formalizadas via e-mail com 72 duas horas de antecedência, gravadas ou filmadas, em sala reservada na sede da Empresa Alpha, com duração máxima de 2 (duas) horas cada entrevista. Deverá ocorrer a transcrição das respostas da entrevista para análise dos pesquisadores e arquivamento por parte do entrevistado. A Empresa Alpha não autoriza a divulgação do seu nome e endereço por questões concorrenciais, bem como o nome dos entrevistados que poderão ser identificados somente pelo cargo de ocupação e/ou nome fictício. Os pesquisadores terão acesso às dependências da Empresa Alpha para realização das entrevistas e/ou observação não participante das atividades de compras somente após apresentação da autorização para entrada previamente recebida via e-mail. Os pesquisadores estão autorizados a pesquisar em qualquer tipo de documento que esteja disponível no departamento de Compras, tanto em papel quanto em meio digital, com exceção de documentos considerados confidenciais. Caso necessário, demais departamentos da empresa poderão ser consultados durante a pesquisa de campo. Está previamente autorizada a 198 utilização de qualquer tipo de tecnologia para coleta de dados, tais como computadores, tablets, celulares e pen drives. Fotos poderão ser tiradas e divulgadas mediante autorização dos responsáveis pela Empresa Alpha. Para inícios dos trabalhos de pesquisa de campo e entrevistas, será necessária apresentação de carta de recomendação, em papel timbrado da instituição de ensino, assinada pelo professor orientador. Todos os custos decorrentes da pesquisa ficam a cargo do pesquisador. A Empresa Alpha disponibilizará acesso aos banheiros, cozinha, estacionamento, sala de reunião e demais setores que ser fizerem necessários para o trabalho de campo. Os pesquisados estão autorizados, caso necessário, a participar do café da manhã e café da tarde oferecido pela empresa aos seus funcionários. 2 ROTEIRO DE ENTREVISTA A construção do roteiro de perguntas para realização das entrevistas foi desenvolvido com base no arcabouço teórico apresentado sobre o tema. O quadro 21 apresenta a relação das variáveis de compras a serem pesquisadas, bem como os autores utilizados. Quadro 21 – Relação das variáveis de compras Nº Variável Diz respeito à: 1 Qualidade Baily et al. (2000) e Dias e Costa (2012) 2 Quantidade correta Baily et al. (2000) Tempo Baily et al. (2000) e Dias e Costa (2012) Conjunto de características de um produto ou serviço relevantes para atender às exigências. Quantidade dos produtos a serem adquiridos. 3 Prazo de entrega. Alternativas de decisão com relação a esta variável Verificar níveis de qualidade exigidos. Quantidade a ser comprada por produto. Prazo de entrega negociado por compra realizada; prazo de entrega determinado em contrato; prazo de entrega determinado pelo fornecedor. (continua) Determinantes das decisões de compra Especificações de desempenho e especificações de conformidade de acordo com o determinado. Nível de estoque; necessidades da área da produção; fluxo de caixa disponível para compra; promoções; política de pedidos. Necessidades da área de produção. 199 Quadro 21 – Relação das variáveis de compras Variável 4 Fonte de suprimentos Baily et al. (2000), Chaves (2002), Gaither e Fraizer (2005) e Slack et al (2009) Seleção fornecedores adequados. 5 Preço Baily et al. (2000), Lambert, Stock e Vantine (1999) Negociação Baily et al. (2000), Junior (2011) e Dias e Costa (2012). Custo total de aquisição Baily et al. (2000) e Bowersox, Closs e Cooper (2006) Valor negociado para os produtos. Menor preço possível; preço de mercado. Negociar a compra dos produtos ou contratação de serviço com os fornecedores. Realizar acordo para compra; não realizar acordo para compra. As variáveis envolvidas na decisão da compra; objetivos da negociação (ganha-ganha, perdeganha, perde-perde). Custo total envolvido na compra de produtos e contratação de serviços. Estrutura de custo da empresa. 8 Especificações de compra Gaither e Fraizer (2005) e Dias e Costa (2012) Requisitos necessários para realização da compra. 9 Organização de compras Baily et al. (2000), Chaves (2002), Gonçalves (2010), Pozo (2010) e Dias e Costa (2012) Estruturação do processo de compras. Negociar redução do preço da compra; identificar e reduzir custo ocultos, tais como: custo de estocagem, de entrega, de apoio, treinamento, atrasos, inspeção, manipulação, dentre outros. Realizar compra conforme especificações contidas na requisição de compra; não realizar a compra por erros de especificação; realizar a compra após retificação da requisição de compra. Centralizada; descentralizada; combinação das duas. 10 Restrições financeiras Dias e Costa (2012) Restrições financeiras que possam impedir a área de Compras de efetuar uma aquisição. Realizar compra à vista; realizar compra à prazo mediante autorização do fornecedor; não realizar a compra. Existência de restrições financeiras que possam impedir a aquisição. 6 7 Diz respeito à: de Alternativas de decisão com relação a esta variável Escolher isoladamente um fornecedor; contratar conforme exigências; reduzir base de fornecedores; aumentar base de fornecedores. (continuação) Determinantes das decisões de compra Nº Atributos de um bom fornecedor; quantidade de fornecedores; histórico de fornecimento; parcerias estabelecidas; conhecimento do mercado; (reputação, prazo de entrega, confiabilidade, capacidade financeira); redução ou ampliação da base de fornecedores da empresa. Orçamento disponível para compra; acordos pré-determinados com fornecedores; prazos para pagamento concedidos; restituição de impostos. Correto preenchimento e compreensão das especificações necessárias para compra; especificações para compra. Estrutura organizacional da empresa; posicionamento do setor de compra; compras centralizadas e descentralizadas; decisão de fabricar ou comprar. 200 Quadro 21 – Relação das variáveis de compras Variável 11 Timing Baily et al. (2000) 12 Tipo de produto a ser comprado Baily et al. (2000), Ballou (2006), Dias e Costa (2012) e Arnold (2012). Frete Reis (2001), Ballou (2006), Slack et al (2009) e Dias e Costa (2012) Produtos quem devem ser comprados conforme descrito nas especificações de compra. Commodities; produtos com padronização; produtos de pequeno valor; materiais específicos feitos sob encomenda. Custo do transporte nas compras efetuadas. Ferroviário, rodoviário, aéreo, aquaviário e dutoviávio. Rapidez, disponibilidade, confiabilidade, capacidade, frequência, seguro, custo. Assistência técnica e treinamento Borgmann (2002), Marques (2006) e Dias e Costa (2012) Prazo de pagamento Baily et al. (2000), Chaves (2002) e Dias e Costa (2012) Validade dos produtos Chaves (2002) e Filho (2007) Serviços de reparos em defeitos sob garantia e realização de treinamento para utilização do produto adquirido. Realizar compra com prazo de garantia previsto na legislação vigente; realizar compra com contratação de prazo de garantia estendida. Orçamento de compra, prazo da garantia, assistência técnica em loco, localização para realizar treinamentos. Prazo estabelecido para pagar o fornecedor. A vista, a prazo, entrada e restante a prazo. Taxa de captação e aplicação do dinheiro no mercado; disponibilidade de caixa. 13 14 15 16 Diz respeito à: Atender necessidades compra organização tempo hábil. às de da em Alternativas de decisão com relação a esta variável Atender em tempo hábil; não atender em tempo hábil. (conclusão) Determinantes das decisões de compra Nº Normas da área de Compras; fluxo de caixa disponível para compra; desempenho de entrega do fornecedor em relação ao pactuado; tempo exigido para processar as requisições; tempo empregado com ação remediadora. Suprimento de gargalo; suprimento rotineiro; suprimento de alavancagem; suprimento crítico. Período de duração de Horas, dias, meses, anos, Tipo de produto a ser comprado. um produto no qual indeterminado. suas características e a qualidade permanecem inalteradas. 17 Níveis de Acumulações de Comprar conforme Custos de estocagem (volume estoque matérias primas, necessidade da produção; estocado, armazenagem, Baily et al. suprimentos, comprar para compor manuseio, seguro, depreciação, (2000), Dias componentes, estoque; comprar obsolescência, custos de (2005), Ballou materiais em processo conforme necessidade oportunidade do capital de giro, (2006), Slack et e produtos acabados das vendas. custos de falta de estoque). al. (2009) em um sistema de transformação. Fonte: Elaborado pelo autor com base nos objetivos da pesquisa e no referencial teórico. 201 O quadro 22 relaciona cada uma das variáveis pesquisadas às perguntas constantes no roteiro de entrevista do apêndice A. Quadro 22 – Relação de variáveis associadas às perguntas da entrevista Variável Qualidade Quantidade correta Tempo Fonte de suprimentos Preço Negociação Custo total de aquisição Especificações de compra Organização de compras Restrições financeiras Timing Tipo de produto a ser comprado Frete Assistência técnica e treinamento Prazo de pagamento Validade dos produtos Níveis de estoque Fonte: Elaborado pelo autor. Perguntas 23 13 22 14 13 10 18 16 1 21 19 12 20 12 13 e 17 12 12 ROTEIRO DE ENTREVISTA COMENTADO Entrevistado: Cargo/Função: Tempo de empresa: Telefone: E-mail: Organização das atividades de compra 1. Como é a organização de Compras na empresa (organograma)? A quem se subordina? Como é a organização do trabalho (em grupos, hierarquia rígida, etc)? Possui orçamento? Objetivo da pergunta 1: compras”. identificar e analisar a existência da variável “Organização de 2. Como são definidas as metas de compras? Objetivo da pergunta 2: Verificar se há alinhamento entre as metas do setor de Compras e os objetivos estratégicos da organização, bem como identificar possíveis variáveis que possam estar presentes no processo de decisão de compra da Empresa Alpha. 202 3. Que indicadores são utilizados para acompanhar o desempenho da área de Compras? Porque? Objetivo da pergunta 3: identificar possíveis variáveis que possam estar presentes no processo de decisão de compra da Empresa Alpha, bem como analisar sua importância para os resultados financeiros do setor e da empresa. 4. Como a área de Compras desta empresa contribui ou pode contribuir para obtenção de vantagens competitivas? Descreva e explique. Objetivo da pergunta 4: identificar se a área de Compras possui atuação estratégica dentro da organização. Decisão em compras 5. Existe algum sistema de informação que dá suporte ao processo de decisão em compras? O sistema está interligado como as outras áreas? Quais as informações disponibilizadas? Objetivo da pergunta 5: identificar a existência de ferramentas utilizadas para processamentos dos dados envolvidos na atividade de compras que possam dar suporte a análise das possíveis variáveis envolvidas na decisão de compras da organização, bem como identificar variáveis que já possam estar sendo tratadas pelo sistema. 6. Quais são os parâmetros utilizados nas decisões de compra? Estão formalizados em algum tipo de Manual de Normas e Precedimentos? Como e porque isso ocorre? Objetivo da pergunta 6: identificar regras gerais que norteiam o processo de decisão de compras na Empresa Alpha, bem como verificar a existencia de variáveis que possam estar presentes no processo de decisão de compra da organização. 7. O(s) compradore(s) possue(m) autonomia para decisões individuais? Descreva. Quem toma as decisões relacionadas ao que deve ser comprado na Empresa Alpha? Objetivo da pergunta 7: identificar a(s) fonte(s) tomadora(s) de decisão em relação as atividade de compras na organização. 8. Do que eles dependem para fechar as aquisições com os fornecedores? Explique. Objetivo da pergunta 8: identificar a dinâmica do processo de decisão de compras (é formalizado, aleatório, segue um fluxo pré-determinado, ocorre por tipo de produto a ser comprado). Atividade de compras 9. Perfil dos compradores exigidos para trabalhar na Empresa Alpha (escolaridade, idade, formação)? Qual sua formação e/ou experiência na área de Compras? Objetivo da pergunta 9: identificar o grau de instrução exigido para o cargo de comprador na emprasa Alpha como forma de conduzir adequadamente a entrevista semi estruturada obtendo o máximo de informações a respeitos do processo de compra e das variáveis envolvidas na decisão de compra. 203 10. Enumere as etapas do processo de compras? Descreva cada uma. Objetivo da pergunta 10: compreender a rotina de compras na Empresa Alpha, bem como identificar e analisar a existência da variável “Negociação”. 11. Quais são os principais fatores observados em um processo de compra nesta empresa? Descreva porque eles são os mais importantes. Justifique. Objetivo da pergunta 11: identificar possíveis variáveis que possam estar presentes no processo de decisão de compra da Empresa Alpha que possam ter passado desapercebidas até este momento da entrevista. 12. Quais os principais tipos de produtos comprados? Há produtos perecíveis? O nível de estoque é consultado antes da compra? É exigida assistência técnica ou treinamento? Por que? Objetivo da pergunta 12: identificar e analisar a existência das variáveis “Tipo de produto”, “Validade dos produtos”, “Níveis de estoque”, “Assistência técnica ou treinamento”. 13. Como são tomadas as decisões em relação a preço, quantidade e prazo de pagamento das compras? Objetivo da pergunta 13: identificar e analisar a existência das variáveis “Preço”, “Quantidade correta” e “Prazo de pagamento”. 14. Quais são as principais exigências impostas pela área de Compras da empresa junto aos fornecedores? Objetivo da pergunta 14: identificar e analisar a existência da variável “Fonte de suprimento”. 15. Além de compras, quais áreas participam do processo de seleção e avaliação de fornecedores? Quais os principais parâmetros de avaliação de desempenho do fornecedor? Objetivo da pergunta 15: identificar e analisar possíveis variáveis a serem consideradas na tomada de decisão de compras da Empresa Alpha por meio dos parâmetros que são utilizados para avaliar seus fornecedores. 16. A requisição de compra da empresa deve ser preenchida com quais informações? O que ocorre com requisições de compras preenchidas incorretamente? Objetivo da pergunta 16: identificar e analisar a existência da variável “Especificações de compra”. 17. Há alguma determinação com relação a prazos para pagamentos das compras? Objetivo da pergunta 17: identificar e analisar a existência da variável “Prazo de pagamento”. 18. Quais os custos são avaliados pela empresa em uma compra? Os impostos são analisados pela área de Compras? 204 Objetivo da pergunta 18: identificar e analisar a existência da variável “Custo total de aquisição”. 19. Existe um tempo determinado para atendimento das requisições de compras? Objetivo da pergunta 19: identificar e analisar a existência da variável “Timing”. 20. A empresa possui parceria com alguma transportadora? Por quê? Quais os preços cobrados? Objetivo da pergunta 20: identificar e analisar a existência da variável “frete”. 21. Existe ou já existiu algum tipo de restrição que impedisse a realização de compras a prazo junto aos fornecedores? Objetivo da pergunta 21: identificar e analisar a existência da variável “Restrição financeiras”. 22. Existe algum controle com relação ao acompanhamento (follow up) das compras realizadas? Objetivo da pergunta 22: identificar e analisar a existência da variável “Tempo”. 23. Que itens são avaliados quando o produto comprado ou o serviço contratado é finalizado? Objetivo da pergunta 23: identificar e analisar a existência da variável “Qualidade”. 24. Você gostaria de comentar ou acrescentar alguma coisa que não foi perguntada? Objetivo da pergunta 24: dar oportunidade para que o entrevistado apresente alguma informações que possa identificar outras variáveis envolvidas na decisão de compras que não foram identificadas nas questões anteriores. 3 ANÁLISE DE DADOS A análise dos dados coletados neste estudo de caso será realizada através de Combinação Padrão proposta por Yin (2010), ou seja, comparar a prática empresarial com aquilo que vem sendo preconizado na teoria sobre compras nas organizações. Sendo assim, baseado no levantamento e revisão da literatura apresentada anteriormente sobre o tema, foi elaborado o modelo analítico a ser tomado como padrão para esta pesquisa. Este modelo foi construído associando os objetivos geral e específico da pesquisa com as variáveis escolhidas para condução da presente investigação. Desta forma, este modelo servirá para auxiliar tanto na fase de coleta dos dados quanto na fase de análise dos resultados. 205 Quadro 23 – Modelo analítico para análise dos dados da pesquisa Objetivos da pesquisa Geral Específicos a) Caracterizar o processo de compras em uma indústria metalúrgica identificando suas etapas. b) Identificar as variáveis que estão sendo selecionadas para efetivação das compras. Descrição Identificar as variáveis utilizadas na decisão de compras de uma empresa metalúrgica fornecedora de materiais para os segmentos de Linhas de Transmissão e Redes de Distribuição de Energia Elétrica, determinantes do processo de compra. Variáveis e definições Base teórica a ser utilizada Organização das atividades de compras Capítulos: na Empresa Alpha. 2.1; 2.1.1; 2.1.1.1; 2.1.2; 2.1.3; 2.1.3.1; 2.1.4; 2.1.4.1; 2.2. Variáveis determinantes na decisão de compras na Empresa Alpha. c) Acompanhar a evolução dessas variáveis no processo de decisão de compras. Utilização das variáveis identificadas no processo de decisão da Empresa Alpha. d) Identificar a utilização de alguma inovação no processo de compras que possa tornar a empresa mais competitiva. e) Comparar as variáveis identificadas nesta pesquisa com as de Chaves (2002). Utilização de inovações no processo de compras da Empresa Alpha. Capítulos: 2.5; 2.6; 2.6.1; 2.6.2; 2.6.3; 2.6.4; 2.6.5; 2.6.6; 2.6.7; 2.6.8; 2.6.9; 2.6.10; 2.6.11; 2.6.12; 2.6.13; 2.6.14; 2.6.15; 2.6.16; 2.6.17. Capítulos: 2.3; 2.4; 2.6; 2.6.1; 2.6.2; 2.6.3; 2.6.4; 2.6.5; 2.6.6; 2.6.7; 2.6.8; 2.6.9; 2.6.10; 2.6.11; 2.6.12; 2.6.13; 2.6.14; 2.6.15; 2.6.16; 2.6.17. Capítulos: 2,2; 2.7. Comparação das variáveis identificadas na Empresa Alpha com as variáveis identificadas por Chaves (2002). Capítulos: 2,8; 4.1; 4.2; 4.3; 4.3.1; 4.3.2; 4.3.3; 4.3.4; 4.3.5; 4.3.6; 4.3.7; 4.3.8; 4.3.9; 4.3.10; 4.3.11; 4.3.12; 4.3.13; 4.3.14; 4.3.15; 4.3.16; 4.3.17. Fonte: Elaborado pelo autor com base nos objetivos da pesquisa e no referencial teórico. 3.1 Relatório do estudo de caso Para Yin (2010, p.194), relatar um estudo de caso significa “[...] trazer seus resultados e constatações ao encerramento”. Desta forma, deve refletir ênfases, detalhes, formas composicionais e até mesmo o comprimento adequado às necessidades do público potencial. Levando em consideração a composição do estudo de caso único para esta pesquisa, seu relatório foi estruturado de forma analítico-linear, por ser considerada, conforme aponta Yin (2010), abordagem padrão para a composição de relatórios de pesquisa e mais adequada para quando o público principal do estudo de caso consiste em pesquisadores de banca de tese ou dissertação. 206 APÊNDICE C – ENTREVISTAS SEMIESTRUTURADAS – MATRIZ PARA ANÁLISE DE DADOS Entrevistas semiestruturadas - Matriz para análise de dados Definição das Siglas E1: Entrevistado 1 Q11: Questão nº 11 E2: Entrevistado 2 Q12: Questão nº 12 E3: Entrevistado 3 Q13: Questão nº 13 ES: Entrevista semiestruturada Q14: Questão nº 14 P: Pesquisador Q15: Questão nº 15 Q1: Questão nº 1 Q16: Questão nº 16 Q2: Questão nº 2 Q17: Questão nº 17 Q3: Questão nº 3 Q18: Questão nº 18 Q4: Questão nº 4 Q19: Questão nº 19 Q5: Questão nº 5 Q20: Questão nº 20 Q6: Questão nº 6 Q21: Questão nº 21 Q7: Questão nº 7 Q22: Questão nº 22 Q8: Questão nº 8 Q23: Questão nº 23 Q9: Questão nº 9 Q24: Questão nº 24 Q10: Questão nº 10 Bloco I - Organização das atividades de compra ES Como é a organização de compras na empresa (organograma)? A quem se subordina? Como é a organização do trabalho (em grupos, hierarquia rígida, etc)? Possui orçamento? Objetivo da pergunta 1: identificar e analisar a existência da variável “Organização de compras”. E1 Q1 Compras hoje é uma das diretorias abaixo da presidência e da vice-presidência, ela é subordinada ao vice-presidente e ao presidente para aprovação dos processos. Não possui orçamento, na verdade a gente até pretende implementar isso, mas hoje a gente vai comprando à medida que vai entrando pedido, se existem metas específicas ou previsões anuais. [...] os pedidos de venda que vão gerando aleatoriamente e esporadicamente as necessidades de compra. P: Como é a organização de compras na empresa (organograma)? A quem se subordina? A mim. [...] Na verdade a gente não tem divisão. Seria o Rodrigo e vice eu, diretoria Geral. [...] E2 P: Então posso afirmar que a organização do trabalho é flexível? Sim P: Possui orçamento? Não E3 [...] subordinado a diretoria. [...] Financeira, Patrícia é financeira. [...] Algumas 207 compras eu autorizo, agente só formaliza para dar a ela o conhecimento, outras tem que passa por ela Mesmo. [...] Mais na questão da matéria prima porque ela que tem o controle da necessidade da matéria prima. [...] P:Atualmente você trabalha com orçamento? Não, não trabalhamos não, está no planejamento, está adequando a empresa para isso, mas atualmente não tem. P: Então se não tem o orçamento de compras, como funciona para você no compras saber o quanto você pode pagar em determinada compra? Dê acordo com o fluxo de caixa do dia, não tem outra forma. Como são definidas as metas de compras? ES Objetivo da pergunta 2: Verificar se há alinhamento entre as metas da área de Compras e os objetivos estratégicos da organização, bem como identificar possíveis variáveis que possam estar presentes no processo de decisão de compra da Empresa Alpha. Advém de pedidos de clientes mesmo. A gente não tem uma meta nem mesmo de redução de custos, o que a gente faz é controle apenas se os custos estão aumentando. Metas por exemplo, se compramos “X” e agora vamos comprar “2X” então deveríamos ter um decréscimo, não temos políticas desse tipo. E1 P: Essa questão do custo: você olha somente o custo relacionado à sua área de Compras (preço que esta comprando, frete) ou você olha o custo de toda operação (desde há entrada da matéria prima, até a venda do material, folha de pagamento). E1: Não, olho o custo isolado mesmo. Isoladamente preço unitário, e não o frete sim, ele é incluso porque ele é praticamente um agregador no preço. Só até ai mesmo, custo direto mais o frete. Q2 E2 Na verdade a gente faz isso por mês conforme os pedidos que a gente tem para entregar. E a meta a gente tenta ficar dentro do mesmo valor que a gente vem comprando. P: Trabalha com alguma meta de compra? Não E3 P: Então como se dá o alinhamento da sua atividade de compras com o planejamento estratégico da empresa? Acho que são dois aspectos fundamentais: um é o preço, e outro a questão fiscal, impostos, aproveitamento de impostos. outra coisa que poderiamos colocar seria um fluxo de caixa mais flexível. Do jeito que a gente compra aqui tem dia que é “bravo”. 208 Que indicadores são utilizados para acompanhar o desempenho da área de Compras? Por quê? ES E1 Objetivo da pergunta 3: identificar possíveis variáveis que possam estar presentes no processo de decisão de compra da Empresa Alpha, bem como analisar sua importância para os resultados financeiros do setor e da empresa. Na verdade hoje nós não temos indicadores para acompanhar a área de Compras. O único controle realmente que a gente faz é se os preços estão aumentando eles precisam de uma autorização para ser feita nova compra, mas não temos indicadores que acompanham a trajetória até mesmo porque estaria atrelado às metas que nós também não temos. Nós não usamos, mas tem que usar. Depois que colocar o sistema vai dar para fazer esses indicadores. Agora não. E2 P: Esse sistema será somente para compras ou para todos os setores? Será para todos os setores. Q3 O único indicador é consulta mesmo, consulta a diversos fornecedores e sempre acompanhando principalmente a variação cambial. Um exemplo disso: há pouco tempo agente compra de fornecedor que quando o dolar subiu ele aumentou o preço, mas quando o dolar baixou ele manteve o preço lá em cima, e os outros baixaram o preço.(risos). P: E dessa materia prima, a variação cambial, ela seria derivada de alguma commodities? E3 Petróleo, principamente petróleo. P: Se fosse pra você utilizar ali no seu serviço do compras alguns indicadores de compra para você saber se sua compra esta sendo boa ou não, por exemplo: o que você comprava no segundo trimestre do ano passado foi maior do que eu comprei no segundo trimestre deste ano? Atualmente você usa esse tipo de comparativo? Não. Como a área de Compras desta empresa contribui ou pode contribuir para obtenção de vantagens competitivas? Descreva e explique. ES Q4 Objetivo da pergunta 4: identificar se a área de Compras possui atuação estratégica dentro da organização. E1 Contribui diretamente de forma significativa porque como estamos no ramo da indústria, a margem está relacionada à minha qualidade compras mais que o preço de venda, porque o preço de venda praticamente é o mercado que define, não sou eu, então onde eu tenho como melhorar minha situação é comprando bem. E2 Eu acho que pode ter uma vantagem quando a gente conseguir fazer um planejamento mais com antecedência, pois ultimamente estamos fazendo muito de urgência e a gente tem pedidos que dá para fazer isso que são das concessionárias. A gente já sabe quando que vai atender, ai eu acho que se 209 fechasse anual, por exemplo, a gente consegue uma vantagem grande. P: Então as concessionárias é que dão o input para o planejamento de compras? Isso, porque os outros vamos comprando de vez em quando, não temos um contrato. Agora às concessionárias não, dá pra fazer uma programação de compras. P: Como você vende para concessionárias? É por concorrências, depois fecha o contrato. P: Com esse contrato você tem informações suficientes para planejar suas compras? Isso. E3 No caso de compras aqui, seria ter um preço competitivo, pois na maioria das vezes nos trabalhamos é com registro de preço. A maioria dos nossos compradores, é registro de preço, logo eu tenho que trabalhar em cima de uma matéria prima que dá suporte pra gente ter preço final. [...]Tem a questão fiscal. [...] A partir do momento que a gente conseguir ter prazo, ai a gente tem condição de trabalhar melhor esse preço final e ter um fluxo que permita até uma venda com prazo maior também. Bloco II - Decisão em compras Existe algum sistema de informação que dá suporte ao processo de decisão em compras? O sistema está interligado como as outras áreas? Quais as informações disponibilizadas? ES Q5 Objetivo da pergunta 5: identificar a existência de ferramentas utilizadas para processamentos dos dados envolvidos na atividade de compras que possam dar suporte a análise das possíveis variáveis envolvidas na decisão de compras da organização, bem como identificar variáveis que já possam estar sendo tratadas pelo sistema. E1 Existe [...] É o SGE que é um sistema que foi desenvolvido internamente pela própria empresa através da contratação de uma pessoa de TI, e atualmente o que está sendo implementado é um software chamado CIGAM que é um dos principais concorrentes no mercado de Tecnologia de Informação hoje, e está começando a ser implementado na área financeira e manufatura, mas ainda não está funcional. E2 Hoje utilizamos o sistema SGE. Tem, nós trabalhamos hoje com dois sistemas paralelos, com o SGE “sistema de informação gerencial” e CIGAM que está em fase final de implantação. [...] E3 P: Esses sistemas estão interligados com outras áreas? Sim, são ligados ao financeiro, ao estoque, a fiscal, vendas e o compras né. P: Quais as informações disponibilizadas? Que informações ele te dá, que 210 relatório ele retorna? Relatórios quem usa mais é a diretoria, mas ele me da informação com relação a fiscal, o que eu tenho de imposto, ele me da informação de estoque, quantidade de matéria prima em estoque, me da informação de preço é lógico, no caso do SGE é rígido, eu não altero o preço, somente a direção da empresa que altera. No CIGAM é flexível, eu mesmo altero. P: Tem mais algum relatório que ele te dá? Pedido pendente de pagamento ou de entrega. Quais são os parâmetros utilizados nas decisões de compra? Estão formalizados em algum tipo de Manual de Normas e Procedimentos? Como e porque isso ocorre? ES Objetivo da pergunta 6: identificar regras gerais que norteiam o processo de decisão de compras na Empresa Alpha, bem como verificar a existencia de variáveis que possam estar presentes no processo de decisão de compra da organização. Eles não estão formalizados e os parâmetros atualmente seriam preço e quando eu digo preço seria o preço com o frete incluso e o prazo de entrega, não sendo necessariamente sempre nessa ordem, quer dizer, às vezes o prazo de entrega é tão importante que ele faz com que eu adquira algo com preço um pouco acima para atender alguma urgência de momento. E1 P: Os pedidos dos seus clientes te dão o input para compras conforme já relatado, então seria a particularidade de cada pedido de venda que determinará a priorização entre preço e prazo de entrega? Tem compras que o principal critério é preço e tem compras que o principal critério é prazo. Q6 Não, não está. Nós temos que fazer até pela consultoria do Ciociorowisk nós temos que fazer. P: E quais parâmetros utilizados para tomar as decisões de compras? E2 Preço, qualidade na verdade a gente já está com esses fornecedores que a gente já sabe que tem uma qualidade né, porque tem material por ai que se não for aquele não dá pra gente fazer, então já nem olha mais qualidade agora é mais preço mesmo. Prazo de entrega, porque a maioria das compras agora é tudo a vista. P: Tem algum motivo especial para você focar mais em preço, qualidade e prazo de entrega? Porque a gente está comprando tudo a vista né, e tem que ser assim, tipo Just in time né, pois não estamos com capital de giro, então pra gente é importante, mas acho que até o meio de 2014 isso já não vai ser tão importante para nós, porque ai poderemos pedir prazo, pode ter um prazo maior para entregar, acho até que vamos negociar melhor (risos). E3 Qualidade, custo benefício, se tiver condição olho o prazo de pagamento e 211 prazo de entrega. [...] P: Estão formalizados em algum tipo de Manual de Normas e Precedimentos? Não. P: Com esse trabalho que vocês estão fazendo de consultoria vocês estão trabalhando para este tipo de formalização ou ainda não foi discutido? Já está trabalhando isso ai. ES O(s) compradore(s) possue(m) autonomia para decisões individuais? Descreva. Quem toma as decisões relacionadas ao que deve ser comprado na Empresa Alpha? Objetivo da pergunta 7: identificar a(s) fonte(s) tomadora(s) de decisão em relação as atividade de compras na organização. Ele tem autonomia para tomar decisões de compra desde que não extrapole o preço de custo superior ao preço médio comprado. P: Se for um item de manutenção (pequenas compras vinculadas ao dia a dia não sendo matéria prima), ele tem autonomia para comprar ou também esses pedidos tem que passar pela diretoria? E1 Q7 E2 Tem que passar pela diretoria, más não necessariamente a minha, poderia ser uma diretoria técnica porque às vezes pode ser um insumo ou algum item de manutenção do qual a própria diretoria desconheça e pode ser um produto que não tem histórico como uma peça que nunca foi comprada antes porque nunca deu problema, então é submetida à análise do pessoal técnico para posterior aprovação. Ele tem autonomia. Tem algumas compras que ele já tem o preço e que já são básicas que ele já faz. Só quando é um valor mais alto ai passa na diretoria. Sim, além de tomar essas decisões agente pode aconselhar ou opinar com relação ao que está sendo comprado. [...] Sim, pode participar E3 P: A falta do fluxo de caixa te atrapalha? Em que sentido? Muito, eu chego na empresa hoje, por exemplo, e não sei qual a disponibilidade eu tenho para pagamento das compras. Do que eles dependem para fechar as aquisições com os fornecedores? Explique. ES Q8 E1 Objetivo da pergunta 8: identificar a dinâmica do processo de decisão de compras (é formalizado, aleatório, segue um fluxo pré-determinado, ocorre por tipo de produto a ser comprado). As únicas situações que estou me lembrando, que fogem de preço e prazo de entrega, são quando necessita de algum aval técnico do setor responsável, alguma peça que nunca foi comprada ou mesmo algum material que está em 212 falta no mercado, sendo necessário um contratipo equivalente é submetido a uma parte técnica para ver se aquele material embora não usado atenderia as exigências mínimas do produto final. Mesma questão de antes, quando é valor menor ele já faz, só quando é valor maior que ai ele pede autorização. E2 P: Esses valores maiores de compras vocês têm estipulados? Não, cada caso é um caso. Ele coloca no sistema e espera a avaliação. Tenho um fluxo de compra. [...] Pedido, pagamento, acompanhamento na transportadora e chegada da mercadoria e baixa da nota fiscal no sistema. P: Especificamente neste procedimento de recebimento, qual a coisa específica que o departamento de compra olha? E3 Confere com a nota fiscal se a quantidade está correta, se o produto é o mesmo que compramos, a partir dai eles carimbam a nota, assinam, passam para o estoque, do estoque dá o ok, ai eu baixo. Quando eu faço a baixa o sistema carrega o estoque (Cigam). O estoque não acessa do Cigam porque a mão de obra deixa a desejar logo eu faço este lançamento. Bloco III - Atividade de compras Perfil dos compradores exigidos para trabalhar na Empresa Alpha (escolaridade, idade, formação)? Qual sua formação e/ou experiência na área de Compras? ES Objetivo da pergunta 9: identificar o grau de instrução exigido para o cargo de comprador na emprasa Alpha como forma de conduzir adequadamente a entrevista semiestruturada obtendo o máximo de informações a respeitos do processo de compra e das variáveis envolvidas na decisão de compra. Na verdade escolaridade, idade e mesmo formação a gente coloca hoje como pretendido, mas não exigido, não exige como um item desclassificatório porque há uma escassez de mão obra qualificada, então a gente acaba tendo que afrouxar um pouco os critérios. P: Essa escassez de mão de obra ela é realmente real na sua empresa? Q9 E1 E1: Sim, em todos os escalões, hoje em 2013 não está tão ruim como em 2008, 2010. Já foi pior porque a economia deu uma pequena desacelerada, uma estabilizada, más continua muito complicado. P: Então qual seria a maior deficiência, em sua opinião com relação à mão de obra? E1: Deficiência na parte humana, habilidade de lidar com pessoas, gente, negociação, situações. E2 Na verdade agora que estão com exigências, não necessariamente ele precisa ter experiências, mas ele já tem que estar caminhando para aquilo acontecer, que esteja pelo menos em desenvolvimento. Tem que ter superior cursando ou experiência para estar aqui e desenvolver. Não tenho restrição com relação à 213 idade. E3 Vou colocar com experiência que eu tive. Quando eu fui entrevistado o nível era superior, e eu fui admitido pela experiência que eu tenho, não expecificamente na área de Compras, mas na área administrativa como um todo. Minha experiência em compras não era grande. [...] Superior incompleto em Direito. [...] Fui comprador em uma escola técnica, onde as compras eram completamente diferentes daqui. [...] Eu tive um treinamento de 30 dias praticamente e a receptividade foi muito boa, me adaptei facilmente a empresa, tranquilo. Enumere as etapas do processo de compras? Descreva cada uma. ES E1 Q10 Objetivo da pergunta 10: compreender a rotina de compras na Empresa Alpha, bem como identificar e analisar a existência da variável “Negociação”. Primeira etapa na verdade é o input de outra área que é a de vendas ao notificar um pedido a ser atendido; a partir daí o departamento de produção calcula as quantidades de insumos necessárias para atender esse pedido de venda; depois ainda na produção o PCP analisa qual a forma de entrega deste pedido para saber a periodicidade de compra; ai vai o input para o comprador que começa a fazer cotação no sentido de atualização de preço de custo e análise de prazos de entrega; caso estejam dentro dos pressupostos dos pedidos antigos realizados ele já tem autonomia para fazer o pedido, mas caso tenha aumentado ele lança uma solicitação no sistema pedindo para diretoria autorizar um aumento no preço do insumo, a diretoria analisa e autoriza ou não a situação; é enviada a ordem de compra para o fornecedor; daí pra frente o comprador acompanha junto ao fornecedor e a transportador a entrega do material. P: Então se o preço e o prazo de entrega estiverem dentro do estabelecido no sistema, neste caso em específico, o comprador já pode enviar a ordem de compra para o fornecedor sem passar pela diretoria? E1: Sim, já sem passar pela diretoria. E2 Primeiro a necessidade de cada setor, cada setor pode fazer um pedido de compra né; depois compras faz o orçamento, passa para o sistema, depois tem a aprovação no sistema e depois a compra, pagamento e recebimento. E3 Pedido, pagamento, acompanhamento na transportadora e chegada da mercadoria e baixa da nota fiscal no sistema. (respondida na questão 8). Quais são os principais fatores observados em um processo de compra nesta empresa? Descreva porque eles são os mais importantes? Justifique. ES Q11 E1 Objetivo da pergunta 11: identificar possíveis variáveis que possam estar presentes no processo de decisão de compra da Empresa Alpha que possam ter passado despercebidas até este momento da entrevista. Bom, a gente analisa se estamos conseguindo atender nossos pedidos de venda dentro dos prazos combinados; atualmente não temos metas e indicadores específicos para o departamento de Compras, não sei se teriam outros fatores a serem observados no processo de compras para saber se ele está sendo eficiente 214 ou não. P: Então retirando a questão da eficiência do processo de compras, o que incomoda o Rodrigo no processo de compras? Aumento de preço de insumo e prazo de entrega prometidos e não cumpridos. E2 E3 Eu acho que igual eu falei, qualidade já temos os fornecedores “X” que tem que ser aquele, nós não podemos sair disso, então hoje em dia a gente nem olha tanto qualidade, pois tem que ser isso. Depois é preço e prazo. Já respondemos anteriormente (preço, qualidade, custo benefício, prazo de pagamento, prazo de entrega). Quais os principais tipos de produtos comprados? Há produtos perecíveis? O nível de estoque é consultado antes da compra? É exigida assistência técnica ou treinamento? Por quê? ES Objetivo da pergunta 12: identificar e analisar a existência das variáveis “Tipo de produto”, “Validade dos produtos”, “Níveis de estoque”, “Assistência técnica ou treinamento”. Plásticos industriais de vários tipos, a grande maioria de material virgem, metal liga de alumínio e transformação de ambos esses insumos que é tanto a injeção de plástico quanto a injeção de alumínio. Acredito que dentro disso daí, "estão" mais de 80% das compras. P: Há produtos perecíveis? E1 Não. P: O nível de estoque é consultado antes da compra? Sim, é consultado sim. Q12 P: É exigida assistência técnica ou treinamento? Por quê? Não PEAD, injeção das peças de plástico e de alumínio (serviço). Esses são os maiores. Plástico a gente tem que comprar a matéria prima e a injeção, de alumínio é somente a injeção. P: Esses produtos são perecíveis? E2 Não. P: Vocês consultam nível de estoque antes da compra? Consulta. P: É exigida assistência técnica ou treinamento? Por quê? Não. E3 De forma geral vão desde compra para cozinha, material de limpeza até suprimentos para informática, equipamentos para informática. 215 P: Nestes itens comprados você compra produtos perecíveis? Somente para cozinha. P: Seu nível de estoque, você consulta ele antes de fazer a compra? Sim P: Você exige Assistência técnica ou algum tipo de treinamento? Dependendo do que for comprado sim. Se for comprado, por exemplo, uma célula de carga vamos precisar de um treinamento, uma balança precisão, de contagem, vamos ter que treinar alguém. [...] Compramos o CIGAM e ele teve que ter o treinamento. Como são tomadas as decisões em relação a preço, quantidade e prazo de pagamento das compras? ES E1 Objetivo da pergunta 13: identificar e analisar a existência das variáveis “Preço”, “Quantidade correta” e “Prazo de pagamento”. Na verdade pode ser respondido junto, pois o critério é o mesmo, que é a tomada de decisão em relação à necessidade do cliente. Quando não é a necessidade de atendimento do cliente passa a ser a de possibilidade de atendimento do cliente. Às vezes ele exige “vou colocar esse pedido e preciso que seja entregue desta forma”, quando ele não exige a possibilidade nasce da tentativa de entregar o pedido o mais rápido possível todo o pedido integralmente. Quer dizer, sempre baseado no cliente. P: Isso influenciaria conjuntamente o seu preço, quantidade e prazo de pagamento das compras? E1: Sim, exatamente. Com relação a preço na verdade a gente olha o que está no sistema, os últimos preços e prazos. A quantidade a gente confere o estoque, eu faço, por exemplo, um pedido desses maiores eu faço uma vez por semana. Eu olho o que tem vendido que eu tenho que entregar na semana, o que eu tenho no estoque e o que eu tenho que pedir. Q13 P: O pedido de venda que te dá o input para o processo de compra? Isso. E2 P: E com relação ao prazo de pagamento? Compra mais a vista, poucos a gente tem prazo. Prazo de sete dias pra mim é a vista, então... P: Qual o motivo de vocês estarem comprando a vista? Porque não estamos conseguindo comprar a prazo ainda por causa de restrições. P: Essas restrições podem ou estão te prejudicando com relação a prazo de 216 pagamento? É, na negociação mesmo porque a gente acaba não tendo muita opção mesmo. E3 Independente da Patrícia determinar o que irá comprar, se eu tiver três fornecedores com variação de preço serei eu a decidir. Não tenho um número mínimo de cotação a fazer. [...] Quando eu vejo que a quantidade é exorbitante tanto para baixo quanto para cima eu procuro saber se está correto. Não temos estoque, não temos condição de manter estoque, então temos que trabalhar desse jeito. [...] alguns fornecedores conseguimos prazo. Quais são as principais exigências impostas pela área de Compras da empresa junto aos fornecedores? ES Q14 Objetivo da pergunta 14: identificar e analisar a existência da variável “Fonte de suprimento”. E1 Boa pergunta: como não temos política eu imagino que seja a pontualidade porque a gente parte do princípio que a qualidade dos produtos já está garantida via normas, que a princípio as empresas tem que estar cumprindo regularmente. [...] Acho que o departamento de Compras está focado nisso. Claro que o departamento de Compras tem o preço também, mas como eu já disse o preço como já foi dito é uma exigência da qual “necessita-se” de uma aprovação, então acredito que o departamento específico de compra está interessado na pontualidade para que ele não seja penalizado pela diretoria. [...] Além de preço e prazo, a homogeneidade no material. O material tem que ter sempre o mesmo padrão de qualidade já aprovado. E2 Qualidade, preço e prazo. E3 Parceria, respeito ao que foi acordado, respeito a negociação. Isso influencia preço, prazo de entrega, até mesmo o atendimento acho que influencia um tanto ai também. Vamos colocar o tratamento. Basicamente isso ai. Além de compras, quais áreas participam do processo de seleção e avaliação de fornecedores? Quais os principais parâmetros de avaliação de desempenho do fornecedor? ES Objetivo da pergunta 15: identificar e analisar possíveis variáveis a serem consideradas na tomada de decisão de compras da Empresa Alpha por meio dos parâmetros que são utilizados para avaliar seus fornecedores. E1 Tem a área técnica industrial. [...] Capacidade dele entregar um produto constante, logo é analisado a estrutura da empresa, os equipamentos, o maquinário, o sistema de qualidade e indicadores de processos internos do fornecedor. [...] apenas verificamos se ele tem ou não. E2 Atualmente só compras. [...] Tem que atender isso: qualidade, prazo e preço se não a gente passa para outro. E3 Nenhum outro setor participa, eles passam o que precisam e a gente corre atrás. [...] Não, participa não. Passa o produto que quer, que precisa e a gente corre Q15 217 atrás. P: O que você usa para avaliar os seus fornecedores? (Q14) Não uso, mais no dia a dia. P: Então você não os parâmetros de avaliação de fornecedores formalizados? (Q14) Não, não tenho. ES A requisição de compra da empresa deve ser preenchida com quais informações? O que ocorre com requisições de compras preenchidas incorretamente? Objetivo da pergunta 16: identificar e analisar a existência da variável “Especificações de compra”. Código e descrição do insumo ou item a ser comprado, dados do fornecedor, dados na nossa empresa, o preço unitário, os impostos incidentes no produto, o prazo de entrega, e a data da requisição. Acredito que estes sejam os itens principais. E1 P: Qual o procedimento para requisições de compras preenchidas incorretamente? Não tem. Q16 Na verdade tem lá no sistema para preencher. Nem sei quais são na verdade. E2 P: O que ocorre com requisições de compras preenchidas incorretamente? Algumas coisas lá eu acho que nem consegue fazer a requisição se for errado, mas se for item errados pode até fazer a compra errada. Vai depende de quando eu for lá e enxergar o erro. [...] eu passo para o setor de Compras. Na verdade eu reprovo e falo o que está ali. Isso acontece: tinha uma peça que era pra ser de nylon ou ABS ai eu pego errado, ou a quantidade errada, ai eu reprovo. Nome do produtos, se tiver medidas, as medidas, se tiver alguma especificação técnica, especificação técnica (Se tem anti UV, se precisa de masterizar, se precisa de aguentar carga X para materias primas) e quantidade. E3 P: O que é importante ter nessa especificação técnica? Se tem anti UV, se precisa de masterizar, se precisa de aguentar carga X para materias primas. Há alguma determinação com relação a prazos para pagamentos das compras? ES Q17 E1 Objetivo da pergunta 17: identificar e analisar a existência da variável “Prazo de pagamento”. Não existe uma determinação. A gente vai comprando à medida que o pedido de venda entra e com a eficiência máxima que o comprador consegue com sua 218 habilidade de negociar. Passamos mais de um ano comprando tudo à vista, agora que a empresa está tendo alguma possibilidade de compras com prazo diferentes de à vista. E2 Não. E3 Não, de acordo com o fornecedor. Quais os custos são avaliados pela empresa em uma compra? Os impostos são analisados pela área de Compras? ES Objetivo da pergunta 18: identificar e analisar a existência da variável “Custo total de aquisição”. Custo direto do produto, custos de frete sobre esse insumo e os custos tributários (ICMS, IPI, Isenção, restituição, medida complementar dos governos). P: Quem avalia a questão dos impostos, fica a cargo do seu comprador? Existe uma planilha onde jogo os valores e ela gera o resultado do custo equalizado dos produtos retirando os impostos. Q18 E1 P: Aqui na empresa há uma rotina para verificar os possíveis benefícios fiscais decorrentes das compras de materiais? Não há, seria para contabilidade fazer, mas ela não realizar este serviço e não temos um controle de acompanhamento sobre este tipo de situação. P: Sobre o custo total de aquisição, você tem o controle individual de cada tipo de custo que você tem em um processo de compras, como custo por requisição, custo hora do comprador, etc.? Não, atualmente não temos isso. E2 Na verdade quem olha isso é o Rodrigo. E alguma coisa de imposto se gera ou não gera, isso ai é ele quem sabe. E3 Num primeiro momento os impostos são avaliados pela área de Compras. [...] Custo de transporte e o restante seria feito pela diretoria, questão de pessoal, tempo eles é que avaliam. Existe um tempo determinado para atendimento das requisições de compras? ES Q19 E1 Objetivo da pergunta 19: identificar e analisar a existência da variável “Timing”. Não temos essa informação atualmente, pois com a ausência do sistema, não temos como controlar essa situação. [...] Requisições recebidas fora do sistema acabam gerando uma dificuldade, quase impossibilidade de enxergar isso. P: Com a implantação do novo sistema todas as compras irão passar pelo sistema? 219 Sim, 100% delas. O financeiro somente terá autorização para pagamento para fazer pagamento através do título que esteja no sistema. Ai que vai ser feito a trava, o fornecedor irá “gritar” se ele não receber o dinheiro e ai vai aparecer no sistema. Não vou ter que ficar correndo atrás pedindo pelo amor de Deus para colocar no sistema. P: A implantação do CIGAM você eliminará o excesso de papelório e a informalidade no processo de compras? Sim, consigo controlar digitalmente. E2 Na verdade não existe. E3 Não. [...] a Patrícia passa pra gente quando é matéria prima. [...] Quando não é matéria prima é de acordo com o fluxo de caixa. A empresa possui parceria com alguma transportadora? Por quê? Quais os preços cobrados? ES E1 Objetivo da pergunta 20: identificar e analisar a existência da variável “frete”. Não, não temos parceria com nenhuma transportadora. Cada caso é feito cotações e o que estiver mais barato para a situação específica é contratada. Não, ultimamente nós temos tentado fazer más atualmente não. Tem algumas ai que fazemos mais porque está estreitando esse relacionamento, mas ainda não fechamos. Pretende-se fazer isso porque fica mais barato fora o trabalho que diminui. Q20 P: Por que não tem uma parceria com transportadora? E2 Na verdade antes eram pelas restrições, hoje já está na hora de fazer essas parcerias. P: O que você acha do seu custo de frete hoje? Acho que está alto, por isso acho que vai ser importante fechar um parceiro. E3 Sim, M2000 [...] Tabela de preços deles, tava dentro dos parametros e um pouco abaixo do mercado e o prazo de entrega deles. Existe ou já existiu algum tipo de restrição que impedisse a realização de compras a prazo junto aos fornecedores? ES Q21 E1 Objetivo da pergunta 21: identificar e analisar a existência da variável “Restrição financeiras”. Sim, existiu. Acredito que nos últimos dezoito meses a empresa possui algum tipo de restrição que ou inviabilizava ou dificultava a aquisição de insumos a prazo. P: Essa situação te prejudica atualmente? Prejudica não em relação ao custo, pois a vista você consegue uma situação 220 melhor, mas prejudica com relação a fluxo de caixa e logística para atendimento de pedidos de venda. Às vezes não tenho fluxo de caixa suficiente para “estartar” todas as compras simultaneamente. É feito um crivo conforme cada pedido de venda. [...] Atualmente a gente consegue comprar parte a prazo e parte continua sendo a vista, mas o grosso hoje conseguirmos comprar com prazo de pagamento. P: Esta melhora ocorre em decorrência de algum planejamento ou ocorreu melhora ao acaso? E1: Foi via planejamento financeiro. E2 Sim. E3 Sim restrição bancária. Restrição de compra não, temos restrição de pagamento. Comprar, eu compro a vista. Existe algum controle com relação ao acompanhamento (follow up) das compras realizadas? ES Objetivo da pergunta 22: identificar e analisar a existência da variável “Tempo”. Ele faz esporadicamente. Algumas ele faz outras não. Algumas dão problemas outras não. P: Qual o meio que ele mais usa para fazer isso? E1 E1: Telefone. P: No CIGAM há possibilidade de fazer esse acompanhamento? E1: Nós não chegamos nessa etapa, mas eu acredito que sim, esperamos que tenha. Q22 Ai é o que tem no sistema na verdade. Quando é um material que eu preciso, desses que eu preciso que são mais urgentes eu mesmo verifico se comprou, pagou e já saiu. E2 P: Qual o principal instrumento utilizado. Acho que mais no telefone. E3 Uso o CIGAM (o sistema), Skype, e-mail, telefone. Acompanhamento bem junto mesmo. [...] Quando eu emito a ordem de compra e ela é aprovada, eu vou lá nela e vejo se eu já baixei a nota fiscal. Se ela não tive baixada alguma coisa aconteceu, não chegou, esta parada no estoque, alguma coisa aconteceu, então eu tenho que procurar. Que itens são avaliados quando o produto comprado ou o serviço contratado é finalizado? Q23 ES Objetivo da pergunta 23: identificar e analisar a existência da variável “Qualidade”. 221 Apenas se a quantidade que chegou confere com a quantidade que comprada ou esta sendo financeiramente cobrada. Deveria ser analisado outras coisas conforme questão de imposto, mas atualmente não é analisado. E1 P: Com relação às características dos produtos recebidos, há alguma rotina? Rotina não, se der algum problema é verificado na linha de produção. E2 Hoje tem que verificar na nota fiscal se chegou conforme o pedido, mas a gente não confere se chegou realmente com a qualidade que foi aprovada ou a quantidade. Quando esta na linha de produção, que esta fazendo é que a gente vê se esta tendo algum problema ou não. [...] Na verdade a gente precisa de mais gente, porque chega muita quantidade, conferir tudo, toda a quantidade, toda a qualidade para liberar o cara, o tempo disso é muito grande. Na linha de produção que faz a conferência. Quando está na produção e acontece alguma coisa é que vamos no fornecedor. E3 No caso de matéria prima elas são todas específicas, então tem que ter todo aquele processo de avaliação junto ao laboratório. As outras que não são matérias primas é qualidade mesmo de durabilidade, garantia, custo benefício, o que vai me trazer de retorno. Você gostaria de comentar ou acrescentar alguma coisa que não foi perguntada? ES Objetivo da pergunta 24: dar oportunidade para o que entrevista apresenta alguma informações que possa identificar outras variáveis envolvidas na decisão de compras que não foram identificadas nas questões anteriores. E1 Acredito que seria de utilidade para empresa alguma forma de análise econômica global que pudesse afetar a compra. Por exemplo: a gente teria que ter alguma forma de verificar aqui quando um setor ou segmento de insumos anunciam aumento, se a justificativa que eles estão dando são comprovadas de acordo com alguma evidência concreta que mostre se não é um simples interesse de aumentar o preço. [...] exemplo: Se o dólar subir faz sentido? Se o dólar subir é significante para o aumento do preço? Houve uma escassez deste insumo no mercado? Realmente houve de forma que impactasse o preço? Saber se os critérios são realmente plausíveis. E2 Não, acho que esta tudo ai. E3 Não, está tranquilo, acho que foi bem abrangência. Q24 222 ANEXOS ANEXO A – DESCRIÇÃO FUNCIONAL ÁREA DE COMPRAS EMPRESA ALPHA 6. Área Suprimentos (Compras) 6.1. Resumo dos principais objetivos: A partir do planejamento estratégico, buscar constantemente a ampliação da competitividade da empresa no mercado e da melhoria de resultados. Obter e coordenar fluxo contínuo de suprimentos a fim de atender aos programas de produção; comprando os materiais pelos melhores preços, a partir de parâmetros qualitativos e quantitativos, bem como identificar, comparar e desenvolver fornecedores, negociando com as fontes de suprimentos e firmando contratos. 6.2. Principais Papéis e Responsabilidades da Área de Suprimentos Controlar as atividades dos compradores, definindo a atuação de cada membro da equipe; Tratar do relacionamento com fornecedores (avaliação, seleção, qualificação e desenvolvimento); Negociação em compras; Elaborar análises de mercado fornecedor; Estabelecer políticas de compras voltadas para redução de custos e integração com políticas estratégicas da empresa; Manter constante comunicação com demais setores da empresa; Elaborar relatórios gerenciais de compras monitorando resultados X metas estabelecidas; Visitar fornecedores estratégicos; Monitorar níveis de estoque; Antecipar necessidades de compras tendo em vista o planejamento de vendas e operações (PVO); Aprovar propostas de fornecimento; Acompanhar o desempenho dos fornecedores com a colaboração dos responsáveis pela qualidade no processo produtivo; Estabelecer canais formais de atendimento aos fornecedores; Atualizar e negociar menores preços de compras de matérias primas, serviços, máquinas e equipamento; Criar e desenvolver indicadores compras; Promover a redução de custos de aquisição; Apoiar projetos de desenvolvimento de novos produtos e serviços; Estabelecer, divulgar e fazer cumprir internamente as diretrizes operacionais para realização das compras na empresa; Buscar redução de custos logísticos relacionados às aquisições; Realizar inputs de compras no sistema empresa; Conferência de notas fiscais e posterior envio para o departamento financeiro; Autorizar pagamento a fornecedores; 223 Monitorar as grandes tendências no mercado de fornecimento e implantar planos de ação; Assegurar que os fornecedores atendam os requisitos de qualidade e de segurança. Fonte: Diretrizes para reestruturação da área de Compras – Empresa Alpha 224 ANEXO B – PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS E APRIMORAMENTO DE MATÉRIAS PRIMAS. 225 226 227 Fonte: Base de dados de e-mail área de Compras – Empresa Alpha 228 ANEXO C – MÓDULO DE COMPRA – GESTÃO DE FORNECEDORES - ERP EMPRESA ALPHA Fonte: ERP – SGE (Sistema de gestão Empresarial) – módulo Compras – Empresa Alpha ANEXO D – ANÁLISE SWOT SUPRIMENTOS (COMPRAS) Fonte: ERP – SGE (Sistema de gestão Empresarial) – módulo Compras – Empresa Alpha 229 ANEXO E – BANCO DE DADOS NOTAS FISCAIS EMPRESA ALPHA Fonte: ERP – SGE (Sistema de gestão Empresarial) – módulo Compras – Empresa Alpha 230 ANEXO F – RELATÓRIO DE DISPONIBILIDADE EM ESTOQUE 231 232 233 234 235 Fonte: ERP – SGE (Sistema de gestão Empresarial) – módulo Compras – Empresa Alpha 236 ANEXO G – DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO – EMPRESA ALPHA 237 238 Fonte: Engenharia de produto – Empresa Alpha 239 ANEXO H – CERTIFICADOS DE ANÁLISE E NOTAS FISCAIS 240 241 242 243 244 245 ANEXO I – AVALIAÇÃO PARA QUALIFICAÇÃO DE FORNECEDORES Código AVALIAÇÃO PARA QUALIFICAÇÃO DE FORNECEDORES MATERIAL CRÍTICO PQ 7.04.01 DADOS DO FORNECEDOR Razão Social CNPJ Endereço: Cidade: Telefones Contato CONTROLE DE FORNECEDORES INSTALAÇÕES PLANEJAMENTO CONTROLE DE PRODUÇÃO Categoria E-mail Resultado Perguntas Estado: Peso 1.1 - As áreas de inspeção e produção são adequadamente mantidas? 2 1.2 - Os produtos não-conformes são identificados e segregados? 2 1.3 - As intruções de trabalho e outros documentos (ex: guias de montagem) estão disponíveis nos locais de trabalho? 3 1.4 - São mantidos registros diários de produção? 1 2.1 - Estão definidas as responsabilidades do pessoal que gerencia a produção? 2 2.2 - São mantidos registros de controle de produção? 1 2.3 - Existe uma sistemática documentada para analisar a capacidade de atendimento de um pedido de um cliente antes de aceitá-lo? 3 2.4 - Atrasos de produçào são registrados para efeito de prioridade de produção e entrega? 3 3.1 - Estão disponíveis equipamentos necessários para a produção e atividades de inspeção? 3 3.2 - Existe plano de manutenção preventiva para tais equipamentos? 3 3.3 - São mantidos registros de manutenção? 1 3.4 - Os equipamentos são controlados atráves de identificação apropriada? 2 3.5 - Existe plano de calibração para intrumentos de inspeção, medição e ensaio? 3 3.1- Existe procedimento documentado para qualificação de fornecedores? 2 4.1 - É monitorado o desempenho dos fornecedores? 2 4.2 - Existe registro dos fornecedores qualificados? 1 Nota Total Observação TOTAL NOTA: 3 - ATENDE TOTALMENTE 2 - NECESSITA MELHORIAS 1 - EM IMPLANTAÇÃO 0 - INEXISTENTE 246 247 ANEXO J – CERTIFICADO DE GARANTIA 248 249