VOL. 4.° 4.° ANNO. <=*•—. N. 10. ABRIL. 1849, Pffi^*i«Kr^ra~i}^^ ACADEMIA IMPERIAL DE MEDICINA. SESSÃO GERAL EM 15 DÉ JUNHO DE 1848. Presidência do sr. dr. Sigmid. °«^c?a° ^^^v^xpedientk.— 1.° oííicio do sr. dr. ÉIIIImÈ Meirellcs excusando-se do cargo QCQQ3S de membro da commissão para os requerimentos de Elias Coelho Martins que pedia licença á câmara municipal para curar ebrios; e hàvendo-lhe esta negado recorreu ao governo, o qual consultou a este respeito a Academia. É nomeado para substituir o sr. Meirelles, como membro da commissáo, o sr. dr. Feital, passando a ser relator da commissão o sr. di\ Paula como immediato na ordeni da primeira nomeação. 2.° Carta do sr. dr. Mersemann de Cand remettendo varias obras suas, a saber: — ^cX>I£»O3:m,O*:0:£Xi< O CHARLATANISMO E OS CIIARLATÃKS NO BRASIL (A/7. Irad. da Gazctte Médicale de Paris). (Vem don. 9, pag. 206). 0 S. Pedro da homoeopathia comparando sempre sua nova fé com a infância do christianismo deixa vèr entrelanlo notáveis differcnças. Hanhemann foi certamente o Messias; mas ífeste caso o Messias não foi o redemplor. 0 redemptor (segundo Mr. Mure) nasceo c morreu no espaço dos três últimos annos: não era lá uma pobre creança que vem á luz do dia chi uma I Disquisilio medico-legalis de variis lethaUtatis gradibus volverum parlhim contineatium et contentarum thoracis.— Notice snr François Rapaert, et Corneille Van Baetdorp.— Eloge de de Palfin.—Notice sur JeanPalfyii.—Goffroy de Saint-Hilaire*, son car adere, ses descouvertes.— Recherches physiologiques pmr etablir que 1'ation do emir et Ia circulation du sang ne dependent pas essenciellemcnt du systheme nerveuôc cerebro-spinal É nomeado re* lator o sr. dr. Feital. O sr. dr. Marinho apresenta uma peça pathologica de um caso de áneurisma da aorta que se rompeo na cavidade thoracica esquerda, e na qual o tumor aneurismatico produzio a carie de varias vertebras dorsaes: e promette apresentar depois a historia d'este caso. O si\ di\ Feital lè uma observação süa a cerca de um caso de eíucacia do sulphato de quinina em uma hevropathia pulmonar manjadoura de bois; pelo contrário era o herdeiro da coroa do Brasil. O Apóstolo e os sequazes da nova crença affirmam que elle morrera phthisico por culpa dos idolatras da antiga fé. Mas em compensação elles encontraram certo consolo n'ésta desgraça, declarando poeticamente que a morte do príncipe imperial livrara o mundo da phtisica e da allopathia — que fechando assim um abysmo de morte e de moléstias abria uma nova era de longevidade indefinida, coroada sempre de rosas, de saúde, e das doses infenitesimaes da homoeopalhia. —Fez mais ainda. Alem de discursos e artigos de jornaes a cerca d'este assumpto, consagroulhe uma ode em francez, ode composta de um numero de estrophes tal, quede nem-um modo se poderia reputar homeeopathica, como tarnbem não podiam ser comparadas, pela cadência e harmonia, á aquella de Boilèau quando cantou a tomada de Namur. Todavia cumpre convir que se os versos do Pontifico foram l 228 ANNAES ¦ ¦ im>i com aífecção uterina, recomniendando o uso d'este remédio cm casos similhantes. Esta leitura dá lugar a algumas observacões dos srs. drs. Rego, Sigaud e Marinho. O sr. dr. Rego diz que de tudo o que expoz o sr. Peitai na sua observação elle collige que a doente só padecia de um atados que asthmatico ligado a uma aiíccção órgãos da geração. Elle não pretende decidir a questão, se a asthma é moléstia nervosa como alguns sustentam, ou se é essencialmente ligada a uma lesão organica; mas o que pergunta é se a asthma é moléstia radicalmente curavel, c se emlugar de haver o sr. dr. Peitai curado a molestia com o sulpliato como pretende, não houve no caso por elle referido senão o desapparecimento de um accesso asthmatico que ás vezes cessa de per si por dias, mezes, e annos, e torna depois a apparecer. Acha também duvidoso se o sr. dr. Feital não curou senão uma affecção miasmatica intermittente que se havia manifestado no indivíduo, e linha tomado o caracter asthmatico, sem que jamais existisse essa nevropathia especial por elle suposta, e tão fácil de ceder á applicação do sulpbato. O sr. dr. Feital responde dizendo que elle entende ter apresentado á Academia uma observação que trata simplesmente de um facto, e que não propõe o sulpliato de compostos com facilidade, a julgar-se pelo pouco tempo de que dispoz, é porque lambem não são lá obra primorosa. Pelo amor de Deos, senhor S. Pedro, fazei ao menos com que vossos versos sejam tão delicados como o são vossos remédios, se quizerdes que elles nos agradem; e sobre tudo dispensai nas vossas rimas os montes Golgotas no plural. Apezar das penosas obrigações do apostolado, S. Pedro tem tempo para tudo; e de tal modo se acha prevenido, que nem-um accidente imprevisto o pôde surprehender. Por exemplo: uma menina de 10 annos, depois de se haver tratado pela medicina antiga, entregou-se aos cuidados da nova seita; sendo o próprio S. Pedro quem se encarregou do seu tratamento. Acontíceo porém, que logo á primeira dose infenitesimal a joven Gabriella teve a irreverência de peiorar cada vez mais, até que morreo finalmente accommetlida de symptomas bem manifestos de envenenamento. quinina como-11111 meio seguro cm todos os casos análogos, mas como um meio tratavel, c por isso não tem cabimento as dúvidas do sr. dr. Rego pelas quaes pareceria que elle orador apresentasse esse remédio como um meio apropriado no tratamento das ncvropathias thoracicas. O .sr. dr. Sigaud dando importância á questão suscitada a cerca da asthma diz, que seria de opinião a este.respeito, se se propozesse no programma das questões para o futuro anno acadêmico, uma quêstão sobre a asthma, e principalmente sobre a sua natureza. O sr. dr. Marinho acha que o sr. dr. Feital foi muito exclusivo, ou para melhor dizer, nimiamente geral, querendo tornar universal a applicação do sulpliato de quinina cm casos similhantes, Acha que 110 Rio de Janeiro já é geralmente mui grande o abuso que se faz do sulpliato de quinina como já tem se feito do systema de Broussais. Para que o sulpliato de quinina fosse útil em todas as moléstias periódicas, e em todas as uevropathias, não só pulmonares como outras, conviria que todas tivessem a mesma natureza. Depois seria preciso demonstrar por um grande número de observações que o sulpliato de quinina fosse o que mais pudesse curar a asthma; o que não seria mui fácil ao sr. dr. Feital, nem a qualquer. Depois sendo tão fácil o desapAssim o declararam dous médicos que a visitaram divulgou-se pouco antes da sua morte. Por esta rasão o facto por modo tal, que a justiça, de (piem a increiaêprorerbialno Império do Brasil, vio-se obrigada a intervir, embora o fizesse por pura formalidade. Resultou d'ahi a impolitica de desconhecer-se o caracter apostólico homoeopathico e hanhemannico de Mr. Mure, como ainda por modo que o juiz não só o interrogou tomou conhecimento de suas presoripções. Mas elle soube vingar-se d'isto maravilhosamente ; por quanto 1.° que lendo os provou clara e terminantcmenle: manifestadoprimeiros symptomas de envenenamento se logo ao tomar das primeiras doses, estava claro que deviam ter sido oceasionados pelos remédios hereges dias que se haviam administrado á doente alguns antes. 2.° que o seu registo ali estava para tranquilisar a consciência do juiz, e para esclarecer com a verdade todo este negocio; 7>.Q que segundo o seu re- 229 DE MEDICINA BRASILIENSE. parecimento da asthma por si mesma como pôde o sr. dr. Feital suppor que no caso por elle referido a asthma cessou pela acção do sulphato de quinina ? Se a periodicidade fosse o único motivo para reclamar a applicação do sulphato de quinina em todas as moléstias periódicas devera ser o mesmo e achar-se mui útil o sulphato, o que não succedc sempre. Por tanto acha que o sr. dr. Feital não tem dados de observação ainda suííicientes para inculcar a applicação do sulphato na asthma, e nas nevropathias do peito porque um só caso que elle tem não pode constituir regra. O sr. dr. Feital insiste em dizer que elle apresenta o seu caso como um exemplo que pôde e deve mesmo induzir a tentar applicações similhantes, em outros casos iguacs: e que embora o sulphato de quinina não seja sempre útil em todas as nevropathias, como também não é sempre cm todas as febres intermittentes, não deixa de ser um meio therapcutico útil na maior parte d'ellas e que as circumstancias da enferma, nas quaes o sulphato produzio o melhoramento, eram taes, e tinham marchado de tal maneira que elle nao podia suppor por um lado como se quer a existência de uma febre intermittente, e pelo outro, como se suppõe, o desapparecimento espontâneo de um accesso* Seja como (fcr, elle está resolvido a empregar meios iguaes em iguaes circumstancias, e parece-lhe que isto é o que deve fazer todo c qualquer prático. A discussão fica addiada pela hora; e a ordem do dia igualmente. gisto, a substancia dada a Gabriella, longe de ser um veneno nao era mais que uma solução de nitrato de prata (que na linguagem dos infiéis corresponde a um azolado de prata) cuja dyuamisação era em tal* gráo, e a dissolução cin tal outro, e que por conseguinte tudo havia sido leito em regra, e que nem a mais pequena objecçâo se lhe podia fazer. A vista dVste luminoso raciocínio convenceo-se 0 juiz, e senão mandou exhumar o corpo da victima para se lhe fazer o competente exame judiciário, foi porque reflectio que este cadáver sepultada, havia mais de 5 dias, devia produzir muito máo cheiro; e por isso decidio cm sua alta sabedoria, que a joven Gabriella tinha sido optimamente sepultada com sua pequena coroa branca, em seu pequeno caixão forrado de selim, em que descançava tão tranquillamente, que seria imprudeneia o perlurbal-al Por todos estes motivos maduramciile pensados, o caso não passou d'islo, embora se tivessem redigido em boa ordem- todos os actos do processo; ao menos não lhe faltaram essas formalidades. Daqui podeis vèr, meus caros coliegas, como os negócios de justiça são excellentes recommendações; e S. Pedro não é lá nem-um desmazellado que queira perder a menor oceasião. Mais que depressa um eslupendo supplemento se distribue com o seguinte nú> mero do Jornal do Commercio\ é a analyse das peças do processo phrasc por phrase, e na mór parte palavra por palavra; mas ainda isto não era sufncientc para a desforra de S. Pedro: e pois mette mãos á obra concluindo em 21 horas um romance cm 8.°t que se intitulava—Gabriella envenenada, ou a calumnia allopathica, — sem que lhe faltasse o retrato da própria Gabriella; no meio de uma vista de casa de campo cm que cila morreu, c mais uma vinheta representando a sepultura, etc. etc. Inútil é dizer-se qú]ê SESSÃO GERAL EM 7 DE JULHO DE 1848. Presidência do Sr. Dr. Sigaúti. Expediente.—1." Aviso de s. ex.a o sr. ministro dos negócios do império* remettendo um caixão com casca de assacú em conseqüência da requisição feita pela Academia, e uma lata com doses da mesma planta tudo mandado pelo presidente da província do Fará. O secretario geral declara não ter ainda recebido o dito caixão; e sendo a este respeito perguntado o porteiro, responde ter sido somente entregue do aviso*. Fica incumbido o secretario geral de fazer as deligencias necessárias para haver o dito caixão ca lata. 2.? Aviso de s. ex.1 o sr. ministro dos negócios da fazenda com um officio do inspector da alfândega d'esta corte, relativamente a umas grandes porções de arsênico que existem na alfândega e em despacho: e pedindo o parecer da Academia. É remettido a uma commissão da qual são nomeados membros os srs. Rego, Sigaud, e Bonjean. 230 ANNAES O sr. dr. Peitai lè uma observação sua a cerca de um caso de arrancamento de bracom ços por um tiro de peça d'artilheria caso cm queimaduras do 2.° c 3.° grão, membros que se fez a amputação dos ditos e houve saliência e nccrosc dos ossos, telano e delírio. Passa-se á ordem do dia e abre-se a discussão sobre as moléstias reinantes. Osr.Jr. Feital refere ter ultimamente com observado três casos de pneumonia intcnnitpleuro-hepatite c com caracter liotente vindo os accessos de noite, ás 10 ouras. No hospital da Marinha tem visto de tros, os quaes dependem da mudança catemperatura. Tem também observado sós de diarrhéa. O sr. dr. Rego diz que vão appareccndo alguns casos de sarampãos dos quaes obserdas vou alguns cm Matacavallos c na rua bcMangueiras; porém todos com caracter ainigno, e com leve diarrhéa. Observou nem-um guns casos de pneumonia, porém com caracter intcrmiltente, e quasi todos complicados com hepatite, o que é fe quente no Rio de Janeiro, principalmente nas crianças. Alem d'cstas duas enfermidades reinantes observou algumas affecçõcs tygástricas com tendência para o estado mui fácilphoideo, mas que desapparecem mente com uma medicação muito simples ii'este romance eram os hereges confundidos e amaidiçoados em nome de Ilanhemann, Jacotot. c Fourricr trindade da nova doutrina, bem como que ali se citava o Apocalypse e os psalmos de David. Os homoeopathas do Brasil são homens capazes de afuhonra de gcnlar o mar, e fazer dansar as montanhas em seus pequenos glóbulos, üe quatro annos a esta parte grande número de adcplos e conversos se tem vindo alistar sob as leis apostólicas do mestre; c graças á divina providencia e a S. Pedro, em breve o número de seus homoeopathas excederá no Brasil o das necessidades morbifieas. Ha ainda g^nte, cujo zelo é tão grande, que chegam a esquecer-se de ir receber as ordens no grande seminário de S. Pedro, conlentando-sc tão somente com a compra de uma caixa chamada homceopalhica, não contendo mais que algumas dúzias de pequenos frascos cheios de diluições e de glóbulos, acompanhada do competente roteiro, que in- Refere um tFestes casos em que a cnferinidade cedeo a uma applicação de poucas bichas c cremor de tartaro com nitro. Logo que o ventre se desembaraçou tudo desappareceu. Observou também algumas intermittentes que se tem manifestado com symptomas irregulares e não próprios, e que cederam ao uso do sulphato de quinina administrado simplesmente por ter obsenado nas pessoas affectadas a còr propria das intermittentes. Porém não tem observado febres intermittentes bem declaradas, nem complicação (Vellas com verdadeira inflammação. O sr. dr. Peitai folga por vèr o sr. dr. Rego reconhecer a utilidade do sulphato de quinina em um grande número das nossas moléstias, removendo este uma das maiores complicações d'cilas. O sr. dr. De-Simmi diz ter observado ultimamente vários casos de pleurizes, e pleuro-pneumonias algumas com hepatite, complicadas com febre intermittente cujos accessos eram nocturnos, c exasperavam a dòr do lado, c os outros symptomas cm aiem gims os quaes n'elles eram persistentes e quanto em outros as dores pleuriticas, pneumonicas eram também intermittentes havendo durante o dia perfeita apyrcxia. Só em uma casa da rua das Violas teve de observar e tratar três casos cVestcs contemporancamente, um em uma. menina dica o modo da administração; e d^sfarte vão curaiido o gênero humano em nome do três vezes santo Ilanhemann. O espirito santo jamais desampara aquelles que tem fé; mas isso não obstante, sempre se vão enviando ás cidades importantes do império missionarios ad hoc. Foi assim que úllimaniente um indivíduo por nome Martins, que rabiscava nos jornaes por conta de Mr. Mure, quando lhe sobrava o tempo, partio a fim de para a Bahia munido da benção pontificai ali ir plantar a sua cruz. O Ceo que só aguardava a sua vinda para a tornar assignalada por prodigiosos milagres, fez com que logo á sua chegada se deseno volvesse uma epidemia de bexigas, sem dúvida com único fim de tornar evidente o poderio da nova doutrina. Cada correio que chegava a corte do Rio de Janeiro, tmzia um bullelira d'ésta santa expedição. Na Bahia, como no Rio He Janeiro, os glóbulos triunipha- DE MEDICINA BRASILIENSE. 231 parda da idade de 10 annos e este foi o mais leve havendo somente febre nocturna, c appareciniento da dòr pleuritica sem nem-um dos symptomas próprios da pneumonia. Este caso cedeo ao uso simples do sulphato de quinina, e alguns purgantes. Outro caso foi em uma preta de 20 a 24 annos: ifella havia complicação de hepatite, e foi necessário recorrer a emissões sangüíneas locaes no thorax e epigastrio, epispasticos sobre o lugar da dòr, purgantes, e sulphato de quinina internamente com pílulas resolutivas. O terceiro foi o mais grave tomando cm poucos dias o caracter de uma pleuro-pneumonia bem declarada, a qual pareceo abrandar debaixo do uso dos anti-phlogisticos, c das emissoes sangüíneas, mas que depois se exasperou e hia tomando o caracter typhoideo, e o typo contrário depois de haver no principio tido o intermittente com accessos nocturnos. O sulphato de quinina applicaclo n'este caso depois de procederse á administração do tartaro, c de emissoes de sementes de melancia com nitro, c digitalis pareceo trazer algum melhoramento o qual se não sustentou, e foi mister recorrer aos vesicatorios, e aos cosimentos de quina com serpentaria, e jalapa camphoradas aos quaes a moléstia cedeo, restabelccendo-sc a doente perfeitamente depois de ter estado com todo o apparato dos symptomas typhoideos do segundo es< tadio, e alguns do 3.° O sr. dr. Rego acerescenta ao que já disse ter observado alguns casos de coqueluche, diarrhéa e desynteria, e um de endocardo-pericardite, que lhe pareceu complicada com febre intermittente. Este caso foi em um preta, que apresentava summa dyspnéa, batimentos muito grandes do coração tumultuosos e pouco ciistinctos, e uma dòr e sensação de peso e oppressão na região cardíaca onde o som era menos claro á percussão do que no estado natural ordinário. JN'este appücou elle a digitalis com agoa de louro-cerejeiro, e depois uma sangria, de cuja applicação resultou grande allivio, manifestando-se então pela primeira vez bem claramente os calafrios, e todos os outros caracteres de um accesso propriamente intermittente. O sulphato de quinina administrado n'essa oceasião fez cessar os accessos, mas a doente ficou tremula como nos casos de corèa, symptoma que cedeu ás pílulas de Meglin sem oxyclo cie zinco. Refere também um caso de febre com caracter typhodeo, em que depois da applicação de vesicatorios e sulphato de quinina seguio-se uma diarrhéa sanguinolenta muito forte, e desappareceo a moléstia. O sr. dr. De-Simoni refere que seu filho com anno e meio de idade, que havia seis ram, e os infiéis reduzidos a apuros, consomem-se no meio de convulsões de raiva e de desespero. Espíritos acanhados poderão entender que é somente no campo da arte de curar que a homceopathia tem pretenção a tudo regenerar. Erro, três vezes erro! A' todos os conhecimentos humanos a homceopathia leva o haptismo da regeneração; Às malhemathicas, a physica a chimica, a historia natural, a geographia, etc. etc. tudo vai ser reunido em uma encyclopedia homceopathica que tudo abrangerá d'esdc a arte cullinaria até á astronômica. E bem que se não comprchenda logo ao primeiro juízo o que possa ser astronomia homoeopathica, como também não deixe de causar admiração saber-se que a cosinha se pode submetler ao systema infenitesimal, não se deve ser incrédulo a respeito de tão insignificantes difiiouldades. Cumpre que todos se humilhem diante da nova fé como diante de seus milagres. Mr. Guizot havia commeltido o imperdoável erro de escrever em sua—Nove Encyclographie - que era impossível fazer-se a synthese de todos os conhecimentos humanos para se constituir a unidade da sciencia. Mais que depressa S. Pedro lança mão da Compenna e lhe responde (sempre no Jornal do mercio), que elle havia avançado uma grandíssima asneira; que se pelos antigos systemas esta unidade se tornava impossível, estava fora de toda a dúvida, que o negocio se tornava summamente fácil pelo systhema de Iíanhemann, Fourrier e Jacotot; c que essa seria a empreza do Instituto homoeopathico do Brasil, como a glória do século 19.Q Já se pozeram mãos á obra; já o trabalho que deve fundir todas as sciencias em uma só, se encetou no jornal intitulado Sciencia (não podia ter um nome mais frisante), que agora entra no seu 4.o número. Pelo órgão do Jornal do Commercio S. Pedro noticia aos que querem c aos qne não querem saber, que o referido 4." número contém ar- ANNAES !«¦«¦ w—aw tmnuMi*" mczcs não soffria mais da coqueluche tcndo sido ultimamente aíTectado de uma catarral: ífelle a tosse tomou todos os caracteres da coqueluche, c dcsappareceu immediatamentc cm poucos dias logo que acabou a catarral: phenomcno ciue elle exmuseuplica pelo habito contrahido pelos los a contrahirem-se violentamente por inqualquer nova irritação bronchial que flua sobre o systema nervoso do pulmão c diaphragrna. O sr. dr. Sigaud pergunta ao sr. dr. Feital se elle é de parecer de que às pneumonias com symptomas interuiittcntcs se deve appiicar o sulphato de quinina desde o principio como hyposthenisante, ou como anti-periodico. O sr dr. Feilal responde que no começo a todos os reparece-lhe rasoavel recorrer médios que podem fazer abortar a molestia, e sendo o sulphato de quinina um d'elles n'estes casos não ha duvida de que elle possa ser útil usado desde o principio: com tudo que n'ésta administração sempre será preciso proceder com cautella, e não desprezar o auxilio que dos outros hypostenisantes, ou anti-phlogisticos prttle alcançar-se, e principalmente das sangrias geraes e locaes, que em caso de grandes congestões obram também como depletivas: e finalmente que em geral em todo o caso de aífecções intermittentes convém semfigos transcendentes, quasi que todos do punho de S. Pedro a cerca das altas diluições, das extremas dynamisaçues, da doutrina hanhemanianna, da propaganda honwopathica, etc. etc; é este um artigo transecndenlissimo (sempre da lavra de S. Pedro) sobre locomoção rápida, a qual resolve (segundo a opinião de S. Pedro) problemas de statica, dynamica, questões estas de incalculável interesse para o século, cuja attenção n'ellas se absorve. Vereis então que S. Pedro tem descoberto o segredo de tirar da matéria, reduzida ao infinitamente pequeno, mas dynamisada a um gráo espantoso, forças locomotivas levadas a uma potencia acima de todos os cálculos capazes de arrastar o nosso globo para fora de sua espbera. üe tempos a tampos o nosso infatigavel S. Pedro se faz cargo de communicar algumas novidades estranhas ao paiz, mas que com tudo servem para aterrorisar os idolatras, c dar forças aos fieis. Ora c o Papa Pio asa »wnfi*«"nfamm*» pre no principio preparar o doente para a administração do sulphato de quinina, a qual sendo prematura ou intempestiva póde dar lugar a uma nevrafgía muito encommoda para o doente. O sr. dr. Sigaud diz que prefere incorrer no perigo de uma nevralgia, do que expor os doentes a attaques perniciosos que os levam á sepultura por querer-se primeiro preparar o doente, como infelizmente tem oceorrido muitas vezes, f O sr. dr. Rego diz que em condições d»das, de casos de intermittentes complicadas, elle julga qua as sangrias devem favorecer a absorção do sulphato de quinina, e conseguintemente o elTeito cFestc: assim como nos casos de verdadeira inflammação o tartaro estibiado deve auxiliar a acção do mesmo sulphato; c cjue o mesmo acontece com o uso dos purgantes quando ha embaraço gástrico; pois sem se remover primeiro o embaraço o sulphato torna-se inútil. ( A questão é addiada pela hora. SESSÃO GERAL DE 22 DE JULHO DE 18ft8,. Presidência do Sr. Dr. Sigaud. O sr. dr. Lobo oflerece um exemplar do seu discurso sobre a cirurgia seguido de observações sobre a mortalidade do Rio IX, que na sua qualidade de soberano philosopho, adopta a homocopathia para si e para todos os seus fâmulos; ora c o príncipe de Meternich, que tendo já medicina, c perdido dous tilhos envenenados pela achando-sc quasi a perder o terceiro, o faz voltar á vida no praso de três dias, pelo soecorro de três doses homcropathicas dadas também por três vezes. Por tanto a homfeopathia vai reinar sem rival em todo o imE que graças p^rio palcrnal c apostólico da Áustria. lhe não devemos nós render por assim nos haver conservado uma raça tão preciosa á humanidade como aquella dos Meternich ! Mais um pequeno milagre em "' favor da Áustria. O feld marechal (o nome não faz nada ao caso) commandante militar do reino lombardo-veneziano, achava-se aíTectado de um fungus oceular, que todos os occnlistas da Allemanha sem exceptuar o próprio Jaegòr, haviam julgado incurável. A lionKcopathia íimita-sc apenas a loeal-o com a sua DE MEDICINA BRASILIENSE. 233 de Janeiro, c outro de sua memória sobre o tétano traumático. São recebidos com agrado, A' requisição do sr. dr. Lobo é nomeada uma commissão composta dos srs. Rego, De-Simoni e Feítal para examinar as questões de mortalidade tratadas pelo autor O sr. dr. Feital offerece um exemplar do seu folheto intitulado : — Notícia sobre o hospital de marinha da corte etc. É rccebido com agrado. Pareceres.— O sr. dr. Rego na qualidade de relator apresenta e lè em forma de resposta da Academia ao governo um parecer da commissão especial sobre a cônsulta do mesmo governo respeito da venda do arsênico no mercado, seu despacho na alfândega, a qual colhendo a occasiâo defallar em vários abusos de policia medica, que a par do que oceorre actualmente a respeito d'este veneno sobre cuja venda e commercio a autoridade pública pede agora conselhos a Academia, são altamente prejudiciaes á saúde pública, expende a dita commissão a sua opinião. A commissão julga que a grande porção d'este genero commercial c, ou parece destinada somente para processos de industria manufactureira já conhecida; e para outros fins industriaes, para os quaes o arsênico vai-se empregando no paiz, taes como pin- tura de navios etc. Ella declara com tudo que c preciso muita vigilância da parte das autoridades do paiz attentos os males que podem resultar a este, principalmente na época em que vivemos; e que ao governo cumpre e compete tomar todas as medidas necessárias para evitar os abusos que ha a respeito da venda d'este gênero e de outros que para o futuro possam resultar e indica varias cVéstas medidas. Entrado em discussão este parecer faliam sobre elle vários srs. membros. O sr. dr. Feital quereria que se aproveitasse esta occasiâo para fazer sentir ao governo a falta da physicatura-mór sem haver outro magistrado que cabal e eííicazmentc a substitua: quereria também que se louvasse o empregado público que despertou a vigilância c cuidado do governo a respeito de um objecto tão importante. O sr. dr. Rego responde que estas idéas já se acham comprehendidas no parecer, ainda que não o sejam nominalmente. O sr. Corrêa dos Santos acha que o parecer é bom porque responde á pergunta do governo; mas não acha tal a respeito do modo porque responde. Elle é de opinião que não sendo o governo illustrado nesta matéria, deveria-se responder mais circumstanciadamente para o habilitar a dar providencias bem acertadas. Elle o admitte em todas as suas partes, menos em um varinha de condão, e eil-o logo curado: Transii et ecce non eratl Está claro, que embora se lhe liouvesse restituido a vista, com tudo olharia d'ahi avante com muito máos olhos a todos os cirurgiões alio- eram assignados por S. Pedro, por mais apostólica e pontificai que fosse a sua doutrina. Que blasphemia ! A par do instituto homceopathico foco de todas as luzes sobresahe a academia medico-homoeopathica. composta de espíritos eserupulosos e de corações timoratos, que tendo ido em demanda de diplomas belgas e allcmães, conseguiram emfim tranquillisar a consciência a cerca d'ésta base de pergaminho. Mas também estes a seu turno erraram o caminho, marchando nas trevas e vacillando a cada passo. Um publíca como remédio homceopathico uma descoberta de sua avó para a cura da pharingo-laryngile, e do sarampão: e que descoberta senhores! vós não serieis capazes de a adevinhar!... É um molho picante de pimenta e limão. Por seu lado lambem o apóstolo missionario da Bahia, cujas graves oecupações n'aquella cidade lhe deixavam sempre livre algum tempo para que elle se oecupasse do que se passava no Rio de Ja- palhas. Tudo isto é magnifico; mas toda a medalha tem seu reverso, lambem a herva venenosa cresce nos mesmos campos onde nasce o puro trigo. Ao lado do verdadeiro culto se eleva o scisma. Espíritos indecisos, corações frouxos, concertaram entre si uma espécie de compromisso, ou antes separação da verdadeira fé dos falsos deoses; pretenderam manchar os brancos vestidos da homccopalhia, com sangrias, sanguexugas, vesicatorios, xaropes de gomma. Que heresia! Outros foram mais longe ; escrupulisaram da falta de um pergaminho; e entenderam que, a menos que se não desse um acto legislativo, os diplomas concedidos pela universidade, tinham mais valor do que aquelles que 234 ANNAES susciponto da redacção pelo qual parece tar-se idéas de suspeitas relativamente ao emprego do arsênico para outros fins que não sejam o seu emprego nas artes, poressas susque não ha motivo algum para a commispeitas. Desejaria por tanto que são o modificasse n'esse ponto de maneira a entendel-o n'essc que não houvesse lugar sentido de suspeição. O sr. dr. Feilal diz que as idéas por elle expendidas, são expressas, em quanto que as do parecer são oceultas c subentendidas. Quereria por tanto que mais explicitamente se fizesse sentir no parecer a falta de uma autoridade competente. O sr. Corrêa dos Santos concorda também na idéa de se fazer sentir a falta da autoridade, e deseja que se íiscalise a saude pública. O sr. dr. Rego insiste em que tudo o que se diz c deseja, acha-se expresso, ou comcom prehendido no parecer apresentado termos decentes sem ofTcnder ou comprometter alguém. O sr. di\ Lobo julga que o parecer deve ser approvado tal qual se acha, por elle ser próprio para o caso especial, mas pede ao sr. presidente que dò aviamento a um projecto de lei de saude pública por elle apresentado, e que ficou addiado» É approvado o parecer com a emenda do sr» Corrêa dos Santos relativo a modinciro, rcmette lambem a este respeito para o Jornal do Commercio alguns artigos facetos ainda mais picantes que o próprio molho de que acima fallei. Estes artigos terminavam por uma acre rcprehemão aquelle scismatico que pretendia curar as febres inlermiltentes com sulphato, como os phariseos, esqueceu !o-se assim do seguinte e edificante juramento a que se havia compromelüdo: — Com a mão na consciência e os olhos em Deos eu abjuro a medicina c adopto a ho-* moeopalhia. No entanto os scismaticos escandalisados das intrigas e falsidades, mais ou menos piedosas de S. Pedro, chegaram até a duvidar de seu titulo scientifico; c declararam que Mr. Mure, commerciante de fazendas de seda em Lyão havia adquirido por meios illicitos um pergaminho em Montpeliier, onde nem elle havia estudado, nem podia citar condiscipulo algum que com elle houvesse estudado medicina. S. Pedro, que faz Iam- ¦rw è wkmàimmmim ficar-se a redacção de maneira que se afãste toda a suspeita de que a porção do arsenico existente no mercado seja para fins alheios ás artes industriaes modificação de boa que a commissão declara acceitar vontade. Tendo chegado a hora fica addiada a discussão sobre o chloroformio. SESSÃO GERAL EM 3 OE AGOSTO DE 1848. Vice-presidência do sr. di\ Sigaud. EXPEDIENTE.— 1/ Aviso de S. CX/ O Sl\ ministro dos negócios do império remettendo vários papeis relativos á pretenção de Luiz Arernet que pede um privilegio exclusivo para a venda de uma agoa de sua composição com a propriedade de preservar os couros da polilha etc, e consultai)-* do a Academia sobre a identidade de um liquido apresentado por Manoel Joaquim dos Passos com propriedades iguacs, segtmdo este allega, comparativamente com o do dito Luiz Vernet. O secretario geral informa que a Academia já dco uma informação ao governo sobre a agoa preservativa de Vcrnet, depois de ouvido o parecer de uma commissão sua, de que foi relator o sr. di\ Jobim, ao couh qual debaixo de segredo o sr. Vcrnet bem negocio com os diplomas universitários de seus discipulos, replica dizendo: que elle estimava em grande mais que ncm-um, preço o seu; que a seus olhos valia e que Montpeliier nao era mercado de diplomas. (Poder-se-lhe-ia dizer que em toda a porte se introduzem trapaceiros e falsificadores que enganam a vigilancia da policia e das leis: tal foi um fado que o dr. Bouyer (de Maremur) noticiou na Gaute Médkale em 1840, relativo a um charlatão ambulante, que não só havia ali comprado um diploma, mais ainda um titulo de uma sociedade sabia). Mr. Mure disse então, diploma, que se elle houvesse querido comprar um o teria achado na llalia e na Allemanha, universidades ao conperfeitamente dispostas paro este negocio; que trário julgou melhor tomar em França (mas vendendo sempre fitas e lenços de seda) um certo número de inscripções para obter o titulo de doutor; finalmente mais que a seus olhos este titulo allopathieo não era ¦.:¦¦*¦ ¦¦' .¦'.¦¦_¦¦ ;yyy ¦ 235 DE MEDICINA BIIASILIENSE. municou a composição da sua agoa e por conseqüência julga que convém que este negocio seja novamente remettido á mesma commissao, como a única que pode decidir da identidade ou differença dos dous líquidos e dos processos respectivamente empregados por seus autores, e propõe que assim se resolva. lista proposição é approvada. 2.° Aviso de s. ex.no sr. ministro dosnegocios do império participando que, consliado por oflicio do presidente da provincia do Pará de 2 de junho último haver importado em 96 $000 réis a despeza ali feita com a remessa de uma porção de casca de assacú, e de algumas preparações da mesma planta, sollicitada pela Academia: Ha S. M. I, por bem que a Academia entre com a referida quantia para o thesouro nacional. O sr vice-presidente informa a Academia que havendo constado que as porções de assacú não eram suOicientes para se averiguar as propriedades d^ste, como muito eflicazes contra a morphéa, por deliberação da Academia fez saber ao governo que a quantidade de assacú enviada para o dito fim, havendo sido insufliciente para com ella só se fazerem as necessárias expericncias e observações práticas, conviria que o governo mandasse vir do Pará maior porção da dita planta, mas que nem elle nem a Academia encommendaram a quantidade d'ésta que veio, nem as differentes preparações que de sua escolha remetteu, quem pelo presidente do Pará ficou incumbido de fazer a remessa por ordem dò governo da corte. E sendo assim julga que nem é justo que a Academia pague o im-, porte de quantidades não encommendadás e nem muito menos de objectos que ella sollicitou do governo, não para seu uso particular, mas para o fim de poder satisfazer a uma consulta d'este e para um objecto de utilidade e serviço público; e muito mais por não ter eíla fundos consignados para estas despezas, mal chegando a coásignação annual que tem para as despezas ordinárias. Resolve-se que se responda ao governo n'este sentido. Passa-se a tratar das questões para a sessão solemne annual. O sr. presidente propõe quatro questões das quaes são approvadas as três seguintes. i.a Quaes são as espécies de asthma que se observam no Brasil? qual o methodo mais eílicaz de as curar? 2.1 Descrever as causas, sede, marcha e terminações da moléstia conhecida pelo nome vulgar de hr ou estupor em Minas e outras províncias do Brasil. Determinar o melhor dos vários curativos postos por prática. quo um pretexto para poder exercer sua sciencia, que esta milhão de vezes acima da outra sciencia; que em geral os diplomas são pclles de burro que dão a medida de capacidade a seus possuidores. Originou-se daqui uma série de artigos galantes entre o Instituto ca Academia. A Academia disse ao Instituto :— vós sois um falsário, um intrigante. 0 Instituto lhe respondeu ;—vós sois ignorante e perjura. Mas, de um í outro lado, c sempre pelo Jornal do Commercio, o nome de Uanhemann não deixava de ser invecado, O S, Pedro do calholicismo só se encarregou do serviço dos mortos depois que deixou de existir: mas qS. Pedro do Ilanhcmannismo quiz accumular n'esta vida o cuidado dos mortos c dos vivos. Concebeo, meditou, elaborou, e publicou um plano de cemitério enterraque fazia uma perfeila revolução na arte dos mentos c que seria uma obra grandiosa; onde cada um teria seu lugar, com a única condição de para ali levar sua pedra, e d« modo que cada pedra fosse um túmulo. A família soberana descançaria no santuário, rodeada de seu povo, por maneira que as illustrações oecupariam as capellas, e o vulgacho os restantes lugares inferiores do edifício. Ainda mais, todos estes mortos seriam embalsamados por um processo de Mr. Mure, que, segundo a vontade dos consumidores, tornaria, no curto espaço de 5 minutos e por toda a éternidade um cadáver macio como uma luva, ou então petreficado. Por esta oceasião Mr. Mure nos declarou que havia estudado, corrigido e aperfeiçoado consideravelmente o methodo de embalsamenlo por injecção; e íbi-nos -sempre dizendo que se lhe não conferissem o prêmio da descoberta, concedessem-lhe ao menos o mérito d« lhe descobrir o autor tirando-o da miséria c do esquecimento em que elle e s,eu processo víviriam se- 3 ANNAES 236 * 3.a Tratar do contagio da ophtalmia purulenta vinda d'Affrica, dos meios de im* pedir e debellar esta moléstia. Resolve-se que se torne a propor a quêstão do anno passado relativa ao código pharmaceutico. O sr. thesoureiro pede a Academia que haja de decidir relativamente á approvacão das suas contas discutindo os pareceres de commissão acldiados, a este respeito, e que se nomeie uma commissão nova último para examinar as suas contas do anno financeiro. Este requerimento é approvado, e são lidos e approvados os três pareceres addiados, o 1.° relativamente ás contas do ánno financeiro de 1843 a 18M. O 2.° relativamente ás contas dos annos financeiros de 1844 a 1845 e de 1845 a 1846. O 3.° relativamente ás contas do anno íinanceiro de 1846 a 1847, todos approvando as respectivas contas e propondo que se dè quitação ao thesoureiro. São nomeados membros da commissão para as contas do anno financeiro de 1847 a 1848, os srs. Corrêa dos Santos, Rego e Nunes Garcia. DISCUSSÃO SOBRE MOLÉSTIAS REINANTES. O sr. dr. Rego diz que mais ou menos reinam as mesmas moléstias que assignalou na última oceasião em que se faltou das pultados por toda a vida. Haveis já ouvido fallar d'este facto, meus caros eollegas da França e da Itália? Qual de vós vio esta colossal celebridade chamada Mure, toda afadigada por fazer sobresahir o mérito esquecido, e o talento incapaz de se tornar saliente? Qual de vós vio o processo de Tranchina (porque é (Telle que se trata) trazido á publicidade pela poderosa protecção de Mr. Mure, então commcrciante de sedas era Lyão? São estas e outras iguaes fanfarronadas que adquirem vulto e íloresccm no hospitaleiro e fecundo solo do Brasil. Em Porto Alegre também existem dous servos do culto homceopathico, sem fallar nas aves de arribação. São dous convertidos que hão reproduzido ali todos os milagres do pontífice do Rio de Janeiro. D'estes limilar-me-hei a dizer que em quanto um cura as manchas da cornea, as firulas do ânus, e as luxações do humerus pelas doses infenilesimaes internamente, moléstias reinantes. Que as variolas são agora mais freqüentes sobre tudo nos africanos, e epie apparecem ainda alguns casos de sarampãos; e que elle tratou actualmente de 12 enfermos d'esta moléstia, em alguns dos quaes houve complicação de pneumonia. Em um cVestes foi ella bastante grave c teve com tudo uma terminação muito feliz. Este indivíduo fora accommcttido em julho de uma erisipelaclephanliaca, depois da qual, por oceasião dos sarampãosfoiaccomniettidode uma bronchite capillar, c d'ahi a dias por uma proctorrliagia muito forte chegando a perder mais de quatro libras de sangue. Cessada a hemorrhagia foi elle accommettido de uma dòr de um lado com ancias, batimentos fortes do coração, e com todos os signaes de uma pneumonia com aíTecção do pericardio. Fez elle uma sangria, e administrou agoa de louro cereja internamente, com o que depois de um pequeno alivio exasperaram-se no dia seguinte todos os symptomas, pelo que fez mais duas sangrias que apresentaram a crosta pleuritica em augmento. A noite foi calma depois da segunda sangria, mas no dia seguinte reproduziram-se os symptomas com aspecto mais grave. Então recorreu ao sulphato de quinina que administrou internamente na dose de dous escropulos em quatro papeis, e externamente em fricções e clysteres. Apo outro vai dando um glóbulo dynamisado de acácia aos afogados para os fazer voltar á vida. Lembrai-vos bem que é a acácia, para a não esquecerdes quando vos achardes em frente de algum afogado ; dizei tambem a Mr. Charrière que substitua as suas caixas de socorro por um millionessimo de grão d'este especifico Pareceria á primeira vista que para se tratar a um afogado pelo systema dos similhantes consistiria simo indivíduo plesmente em lançar-se de novo a água afogado, mas não, abi está a acácia, que segundo a doutrina da nova seita deve ser unia substancia afogadora. 0 Brasil, paiz fértil de plantas medicinaes, ha fornecido ao pontífice, material com que se enriqueça o arsenal therapeutico do Messias. Ignoro se a acácia ê uma destas acquisições novas; mas o que eu sei e tubercuque elle se orgulha de haver curado a lepra . losa, applicando aos seus doentes um pequeno vidro DE MEDICINA BRASILIENSE. pareceram alguns signaes de intoxicação própria do sulphato de quinina, mas a pneumonia não ccdeo, nem a protorrhagia. Fez quarta sangria e administrou o tartaro estibiado que produzio vômitos, e obrigou a suspendel-o. Receando repetir a sangria, pelo estado do doente, recorreo ao acetato de ammonia como hypostenisante do systema sangüíneo. O enfermo em dous dias tomou 12 escropulos d'este medicamento, e com admiração sua diminuiram os symptomas de sua intensidade e reappareceo a respiração crepitante, aonde só existia a respiração tubaria. Depois como a*melhora não progredisse mais lançou mão do kermes mineral que completou a cura. Elle julga interessante a eflicacia do acetato de ammonia em casos similhantes, podendo-se com ella domar e reduzir pneumonias rebeldes ao ponto em que possam com vantagem ser atacados com o kermes, o qual sem a acção previamente exercida pelo acetato de animonia talvez não fosse tão bem succedido, e talvez não fosse tolerado. Declara também ter observado vários casos de coqueluche, e alguns de angina tonsillar; e que lhe consta haverem apparecido alguns casos de escarlatina; mas que elle não vio caso algum destes. O sr. dr. Feital diz que na sessão antecedente fora contestado quando dissera reide veneno de cobra cascavel, convenientemente cusinhado e preparado na officina do pontífice. Este digno S. Pedro tem levado sua dedicação e abnegação á ponto de se envenenar, não sei quantas vezes, com este temível mas benéfico veneno; e como é provável que elle lhe occasionasse uma pequena miniatura de lepra, está visto que só assim chegara elle a obter ésla descoberta. 0 apóstolo modelo, não tem talvez bastantes dias no anno, que digo eu! bastantes horas no dia que lhe cheguem para os innumeraveis infinitamente pequenos envenenamentos que deseja praticar em si mesmo. Na verdade é uma triste occupação esta: suicidar-se de contínuo para resuscitar sem cessar; ma3 que quereis vós ? o apostolado e o pontificado só se adquirem por este preço. Não concluiria, meus caros collegas, se vos quizesse contar, uma por uma, todas as galanterias de que se torna digno este assumpto. Apenas vos tenho relatado 237 narem hepato-pneumonias intermittentes em que o sulphato de quinina era o remedio mais convinhavel: que até então elle tinha cinco casos destes, mas que agora tem de ajuntar a elles mais dous outros, e aproveitar ainda mais a clinica do sr. dr. Almeida Rego o qual em o mez de julho teve de observar 21 casos de pneumonia dos quaes seis ou sete com hepatite, e muitos com accessos intermittentes: que o sr. dr. Pereira Rego, como se deprehende do que acabou de dizer, teve casos de hepato-pneumonias ou simpleces pneumonias com febre intermittente. Está pois, elle orador, fortíssimo na sua opinião de que tem reinado, e em número extraordinário, hepato-pneumonias, ou pneumonias intermittentes. Quanto á febres d'esta espécie nota que sap ellas endêmicas no paiz, e muito mais freqüentes de maio a setembro Diz ter também visto algumas diarrhéas e desenterias, e d'éstas últimas cita um caso em que o enfermo falleceo em dous dias, tendo tido cerca de 80 evacuações diárias. Declarou que as anginas que presenciou tem sido sem erupção; e que as variolas, varioloides e varicellas apresentando-se no mesmo caso lhe tem feito crer que estas moléstias são devidas ao mesmo virus, e que ellas podem dar lugar uma a outra. Refere que no largo do Rocio uma criança o que vi e soube por acaso: se estivesse perfeitamente ao corrente de todas as publicações dos fieis, de 4 annos a esta parte, eu poderia, sem dúvida, formar uma collecção de novidades ainda mais divertidas do que as que acabo de mencionar ; mas cumpre abrir mão da penna no momento. Deixo a homceopathia, mas não os charlatães; e contar-vos-hei uma anedocta que interessa a glória franceza, e que só'por isso vos deve interessar. Deveis ter presente na memória aquellas famosas proclamações do general Bonaparte, mais tarde imperador Napoleão, com que elle costumava electrizar os corações e os conduzia á victoria. Pois achareis bastante similhança entre as proclamaçoes imperiaes e a que se segue, ainda que em todo o seu conteúdo se não encontre o menor traço de águia. « Estimaveis brasileiros! generaes Rio-Grandensesí o celebre doutor.... aquelle mesmo que em tal anno residio no Rio Grande; emlal outro em Porto Alegre; 238 ANNAES catavaricellas (vulgarmente recebeu que variollosa, passando poràs) de uma preta a convalescer em outra casa transmittio ali a variolla a outra pessoa: que o mesmo tem elle presenciado no hospital de Marinha, onde os vaccinados são acommcllidos de varicella quando ha variolla no cstabelccimento, parecendo ser esta a productora da outra. Por ora é isto o que diz sobre as moléstias reinantes. Porém aprovcitando a palavra que tem, com munica á Academia que desde muito tempo elle tem emprehendido uma reforma therapeutica relativa ao modo de empregar e as substancias medicamentosas vegetacs, lia elle communicou este seu pensamento mais de dous annos ao sr. Corrêa dos Santos, cuja moralidade é proverbial, e que ou#ão que lhe pôde attestar se foi elle impediu de publical-a, ou escrever a este respeito, mas que hoje não pôde reter-sc e nao guardará por outros dous annos o a dizer. Esta que pode outro vir também reforma consiste em se empregarem os em princípios activos dos medicamentos soluções apropriadas, administrando-se liiicturas ethereas ou alcoólicas das mesmas substancias em soluções de óleos essenciaes, ou lascas de assucar embebidas n'éstas üneturas e soluções, em lugar de administrar os remédios em cosimentos, tizanas e infusões. Assim fazendo poderíamos em tal outro em S. Francisco, etc. etc. se acha de novo na vossa bella província com a firme resolução de viver e morrer entre vós. Generaes Rio-Grandenses, lembrai-vos que este mesmo doutor cortou tantos braços em Caçapava, tantas pernas em S. Gabriel, que extirpou tantas maxillas em Alegrete, tantos testiculos em Rio Pardo, e tantas glândulas mamarias em Bagé, etc. etc. Pois bem! se perguntardes quantos mortos se deram neste collossal número de operaõões, os que estiverem informados, vos responderão —nemum. Lembrai-vos ainda que este mesmo medico lia restituido o calibre natural a tantas centenas de uréIras que mal funecionavam; e sobre tudo um só não ha rec&hido d'este mal. Eis-me agora de novo; vinde, aproximai-vos, que em menos de sete dias eu farei urinar grosso como um cabo áquelles que urinarem delgado como um cabello -curarei vossas fistulas de tfnnus, sem empregar instrumento cortante; applicarei a homoeopathia áquelles que a quizerem, assim como não acceilarei dinheiro quando os doentes morrerem; emfim tratarei especialmente todas as moléstias.» Assim faltava, á sua volta, não da ilha d'Elba, mas de França, onde os tribunaes o tinham maltratado por' nos convencer da utilidade dos remédios de quaes de seus componentes dependiam suas virtudes; c empregando-os isoladamente convencer-nos-hiamos da conveniencia de os juntar dous a dous, tres a três, ou mais, ou de os darmos únicamente a sós. Estas üneturas soluções de óleos on princípios activos se poderiam ajuntar á agoa simples, ou edulcorada ou a cascas de assucar de que se evaporasse o álcool ou ether, e d'ésta sorte poderse-hia fazer uma grande concentração de princípios medicamentosos impregnando-as muitas vezes c evaporando-se depois, continuando assim a operação. Para õs mineraes poderíamos dissolver em ácidos e outros vehiculos próprios, dissoluções concentradas, lançando a quantidade necessaria em agoa simples, banhos, ou agoa adocada com xaropes ácidos ou gommosos. Eis o que elle tem pensado ha mais de anno, e não o tem apresentado por causa do sr. Corroa dos Santos o ter reprimido, e haver-lhe lembrado a homoeopathia. Mas hoje, muito tempo se ha passado, e julga não dever esperar mais. Talvez achem actualmcntc a idéa extravagante, talvez vá ser combatida; mas o futuro dirá talvez bem, e quem sabe se ainda a sciencia o applaudirá?—Inda agora elle ouve alguém dizer que isto é hommopathia !... Homceopathiaü Homoeopathia é simiüa simitibus. causa de certas difiiculdades estranhas á arte de curar este grande Ferrabraz homoeopathico-allopatha, que vollnndo de ferro em punho ao theatro de suas primeiras emprezas está prestes a cortar tudo quanto se lhe coniiar. Mas d'ésta vez a oceasião não se lhe deparou tão feliz: quem poderá acreditar que depois de um piode uma gramnia tão pomposo e tão magnífico, depois entrada cm scena tão aterradora, G mezes depois se visse o nosso Ferrabraz obrigado a fabricar e vender em antigarrafas e meias garrafas, um xarope depurativo svphilitico, antí-rheumatico, e anli-cscorbutico ? Deos em sua alta sabedoria apraz-lhe humilhar os soberbos Dispersit superbis mente cordis sui Um dia virá, quer seja quando o commercio comece de render pouco ou nada—quer seja quando o referido depurativo tenha depurado tudo o que houver de imde puro na provincia do Rio Grande do Sul a ponto não existir sombra alguma de syphilis, de rheumatismo ou escorbuto, quer seja finalmente quando, levado si a por vistas philantropicas a dólar a humanidade da 239 DE MEDICINA BRASILIENSE. £***! Sem similia não ha homoeopathia. Doses de princípios activos, soluções concentradas não são tenuissimas; são grandes quantidacles, e não exiguidades; são grandes agentes e não nihilidades. Esta é a verdade. O sr. dr. Rego diz que nas sessões anteriores dissera haver visto muitas moléstias com typo intermittente, mas não pneumonias intermittentes; e que agora não reconhece como uma intermittente o caso que citou e referio; porque, apezar de que apparecesse ao principio uma espécie de accessos, vio-se depois a insufliciencia do sulphato de quinina para os domar, e que a moléstia cedeo a outros remédios, taes como o acetato de ammonia, e o kermes. Quanto ao methodo de administrar os remédios, indicado como novo, e de sua invenção, pelo sr. dr. Feital; ao passo que o não julga tal, repelle a sua admissão absoluta e geral na therapeutica por quanto não é sempre o mais próprio, nem o mais perfeito, e conveniente. O uso das soluções fortes e das tíncturas alcoólicas pôde ser mui prejudicial quando se trate de remédios que o álcool ou ether não nem possa dissolver grande quantidade, iodos os princípios mais activos: no primeiro caso para dar-se a quantidade sufíiciente do principio medicamentoso é necessario administrar grande quantidade de álcool ou de ether que pôde ser prejudiciai, e até fatal ao doente ; e no segundo receita depurativa para ter o prazer de gozar em sua vida do espectaculo de depuração contínua e progressiva d'ésla provincia brasileira, dia virá, digo, em que o nosso grande depurador será levado a publicar sua formula em qualquer jornal d'esse lugar, a fim de que todos a conheçam, c que ninguém a ignore; declarando ainda em cima que desde o momento em que seu sesó apagará gredo se tornar conhecido do público, não suas fornalhas e inulilisará suas cassar.olas, como Iambem quebrará seus alambiques, visto que d'então á vaníe não mais fabricará uma só gotta, que seja, do seu ex-depurativo, anti-syphiliüco, anti-rheumatico, e anti-escorbutico. A esta hora o heróe da proclamação vegeta obscuramente no meio de mesquinhos cuidados de uma clientella vulgar, meditando e fazendo sempre erupções no domínio de seus visinhos, manejando indifferentemente, e com igual habilidade tanto as diluições homoeopathicas, como o Leroy e o famoso xarope dos bosques; assim como de tempos a tempos toma a phtisicos no último periodo do último gráo, por gastro- em lugar de administrar-se o remédio que se quer, administra-se somente uma pequeua quantidade d'elle, e ás vezes uma só parte d'elle, ou de seus princípios e a menos própria para combater o mal; e quanto ás dissoluções em ácidos lembradas pelo sr. dr- Feital julga excusaclo dizer que estas podem alterar, e de ordinário alteram, a natureza do remédio mineral dando origem a compostos chimicos que tem umas propriedades medicamentosas muito differentes das que possuía o remédio dissolvido; vindo-se então a administrar um remedio mui differente d'aquelle que se quereria. O sr. dr. Feital diz que não entende que se faça applicação do seu methodo absolutamente em todos os casos; mas no grande número d1 elles em que é applicavel e pôde ser conveniente: e que elle principalmente quereria que se obtivessem por elle os princípios activos especiaes de cada remédio para serem ensaiados, e conhecerse pela sua administração a acção especial de cada um a fim de serem empregados convenientemente. O sr. dr. Sigaud diz que no mez passado observou um caso de peri-pneumonia com caracter intermittente, em um moço, que acabou por um abscesso critico do lado direito que foi aberto pelo sr. dr. Costa; e n'este caso, que teve o melhor êxito, é rasoavel suppor que os accessos intermittentes eram devidos ao processo supurativo. enterites; e apoplexias fulminantes por hérnias estranguiadas. Podeis agora vèr, meus caros collegas, que, de charlataes e charlatanismo, nada tem o Brasil que invejar aos paizes mais avançados que elle em civilisação; podereis talvez capacitar-vos que, no que vos hei eontado nesta carta, existe alguma cousa de mais e de menos do que aquillo que possuis n'este gênero na vossa França e sua capital, tão ricas de Macaires, mas ainda mais fecunda de Gogós. Perdoai-me o estylo tão pouco sério d'esta carta, fui inspirado pelo assumpto, e abandodei-me á inspiraem linguagem ção. E, por ventura poderia fallar-vos — de todos estes séria de todos estes charlatanismos esforços tão desatendidos, de todos estes visos de imadubados e fingidos? pudencia ousada, tão bizarramente X. P. ANNAES 240 d> Porém que em alguns casos de pneumonias alias bem caracterisadas, es vezes apparccem accessos intermittentes os quaes nao cedem senão ao uso dos remédios quinados; e estes são aquelles em que a aíTecção pneumonica está subordinada á febre intermittente genuína, da qual ella não é senão um plicnomeno mais ou menos singalar e anômalo; e d'estes casos alguns lhe tem oceorrido em varias épocas, e elles não só se observam freqüentemente íveste paiz, mas em todos aquelles onde reinam febres intermittentes. Quanto ao uso de remédio em tineturas parece-lhe que seria um arremedo da caixa homceopathica, Reflecte que ha certos remédios que preparados em tineturas não possuem as mêsmas qualidades medicinaes taes como a digitalis, e outros que, como o colchico, em tineturas mostram-se mais activos. Em aiguns casos deve-se certamente dar preferencia a estas formulas mas não em todos, nem a respeito de todos os remédios. Além d'isto a diffieuldade de se achar no commercio e nas boticas esses princípios aetivos, c essas tineturas sem que ellas sejam adulteradas, é um grande inconveniente que obsta á generalisação d'este methodo de applicação therapeutica, o qual já na medicina tem sido e é convenientemente aproveitado nos casos em que a racionalidade d'elíc mais ou menos o aconselha. O sr. dr. Freire diz que o methodo aconselhado pelo sr. dr. Feital cheira sem dúvida a uma homocopatliia reformada. Certamente todas as vezes que se poder dar em pequenas quantidades remédios muito activos, é isso útil: mas não devemos rejeitar as vantagens que resultam das combinações dos remédios, dos quaes sabe um terceiro medicamento que tem uma acção diflerente e ás vezes especial. Tendo chegado a hora levanta-se a sessão do que se lavrou a presente acta. SESSÃO GERAL EM 21 DE AGOSTO DE 18A8. Preúdencia do Sr. Dr. Jobim, Não ha expediente. Pareceres.— O sr. Corrêa dos Santos lè o parecer da commissão de contas encarregada de examinar as do thesoureiro relaUvas ao anno financeiro de 18.^7 a 18/tS approvando as ditas contas: não havendo observações é posto a votos c approvado. A commissão encarregada de dar o seu dos parecer sobre o liquido preservativo couros etc, apresentado pelo sr. Manoel Joaquim dos Passos, comparativamente com o de Luiz Yernet ouír'ora por ella examinado, apresenta e lè o dito parecer no qual informa (pie o liquido apresentado pelo dito Passos difere do de Yernet pela falta que a commissão achou aelíe de um principio adstringente que continha o liquido de Yernet, e que não só conserva os couros da polilha como de mais a mais os conserva melhor. Este parecer é approvado, O sr. dr. Feital lè uma observação sua o cerca de dous casos de prática obstetrica, nos quaes tendo havido hemorrhagia, o centeio espigado foi de grande proveito. O sr. dr. Costa relata um caso de talha bilateral em um menino de seis annos praticada para a extracção de um calculo que pesava /t oitavas, e apresenta o dito calculo á Academia. A cura foi completa em 18 dias. SESSÃO GERAL DE 7 DE DEZEMBRO DE 1848. Presidência do Sr. Dr. Jobim, Expediente.— 1.° Aviso de s. ex/ o sr. ministro dos negócios do império, cm data de 22 de novembro p. p., participando haver-se agora declarado ao ministério da fazenda que a quantia de 96 $ réis, em que importou o extracto e leite de assacú que por ordem do governo veio da provincia do Pará deve ser levada á rubrica das eventuaes de ministério do império, íicando por tanto exonerada a Academia do pagamento d;aquella quantia que fora ordenado pelo aviso de 18 de julho último. Fica a Academia inteirada. 2.° Aviso de s. cx.a o sr. ministro dos negócios do império em data de 14 de se- DE MEDICINA RBAS1LIENSE. tembro p. p., accusando o recebimento do oííicio de 22 do mez antecedente com as contas documentadas da receita e despeza da Academia no exercício de 1847 a 1848; e declarando que se expede aviso ao thesouro público para que se entregue ao thesoureiro da Academia em duas prestações, uma já e outra no principio do segundo semestre do corrente anno financeiro a quantia de 2:0002S réis para occorrcr ás despespezas da mesma Academia. Fica a Academia inteirada. 3.° Aviso de s. ex.a o sr. ministro dos negócios do império cm data de 26 de outubro d'este anno remcttendo um rcque"Wildt, rimcnto de Francisco José subdito allemão, que propõe vender e declarar, mediante um prêmio rasoavel, um segredo seu relativo a uma planta indígena por elle descoberta como remédio eílicaz contra a mordedura das cobras, aranhas, e outros animaes venenosos; a fim de que a Academia ouvindo ao supplicante e procedendo aos exames c experiências que julgar necessarias haja de informar com o que se lhe oífereccr sobre esta prctenção. É remettido ao sr. dr. Paula Cândido para apresentar um parecer na forma do aviso. 4.° Oííicio do provedor da Santa Casa da Misericórdia d'ésta corte pedindo que a Academia haja de designar os nomes que devem ser preferidos a respeito da collocação dos bustos dos dous médicos, e dons cirurgiões mais distinetos por seus serviços feitos á sciencia e á humanidade, devendo pelo menos um dos médicos, e um dos eirurgiões ter nascido no Brasil, collocação que a administração da Santa Casa pretende fazer na sala das conferência médicas c cirúrgicas do novo hospital da Santa Casa. E remettido a uma commissão composta dos srs. clrs. Costa, Valladão e Maia, com a recommendação de informar ao sr. presidente com antecedência ao dia da sessão quando o parecer estiver prompto a fim de ser dado para ordem do dia. 5.° Carta em francez do secretario presidente da Academia Real das Sciencias de Berlim accusando a recepção da remessa \ 241 que se fez aquella illustre Academia, dos estatutos, reformas e jornaes d'ésta Imperial Academia, e agradecendo-a em nome d'aquella corporação. 6.° Carta em allemão, do mesmo secretario da dita Academia Real, remettendo para a bibliotheca d'ésta Imperial Academia os estatutos d^aquella, e vários numeros de seu jornal. É tudo recebido com muito agrado. 7.° Carta do sr. dr. Pedro Luiz Napoleão Chernoviz dando a sua demissão do lugar de membro titular da Academia. Fica a Academia inteirada. Passa-se a tratar das questões propostas na ordem do dia; e abre-se a discussão sobre as agoas mineraes do Brasil. O sr. presidente diz ter proposto esta questão á Academia em rasão de uma notícia publicada pelo Jornal do Commercio sobre umas agoas mineraes da província do Rio Grande no lugar de Santa Maria da Boccado Monte, denominadas vulgarmente —Agoas Santas—artigo que o diio jornal copiava do diário do Rio Grande aonde originariamente se achava inserido no n.° 23, que elle tem á vista e que apresenta á Academia. Elle julga útil que a Academia se oecupe com estas agoas e outras quaesquer do Brasil aonde ha muitas, mas que infelizmente ainda são inteiramente desçonhecidas, ou que o são mui pouco em rasão de que as analyses feitas a respeito d'ellas tem sido incompletas, ou pela maior parte feitas por pessoas pouco habilitadas a isso, e sobre cujas conclusões ainda podem subsistir dúvidas. Elle deseja isso não só pelas vantagens therapeuticas que d'essas e outrás quaesquer agoas mineraes do nosso paiz possam resultar á sciencia e a humanidade, senão também pelas que d'ellas podem resultar ao incremento, e civilisação do paiz como meio efíiicaz que ellas são de se derramar e espalhar a população em lugares incultos, promovendo nos lugares de suas fontes o estabelecimento de povoações, que depois se convertem em aldèas, villas e até cidades; como elle teve oceasião de observar a respeito das agoas 21x2 ANNAES aonde últldas caldas de Santa Catharina achar uma poinamente ficou admirado de mesmo lugar voação mui considerável no antes achara quasi descrannos alguns que a fama dessas 10, pela concurrencia que serem cilas agoas promoveu, apezar de de princípios mincraes saturadas pouco e medicamentosos, e quasi simplesmente thermaes. consio sr. dr. Valladão dando a devida agoas de quaesquer á importância deracão ás do nosso mineraes, c principalmente mais úteis, concorser nos podem paiz que com ellas: da muito cm que nos oecupemos ou nada podepouco reflecte que porém disna respeito presente este a dizer mos das cussão a respeito (V ellas e sohrctudo Grande; ultimamente descobertas no Rio outros conhecimenporque não possuímos os que tos c factos relativos a cilas senão nos vem relatados pelos jornaes públicos. o coO que convém pois ó promovermos iihecimento perfeito d'essas agoas [pelo exame seientifico (Vcllas. E para isto bom será que a Academia lembre c recommende ao governo que haja de mandar vir uma porção d'ellas para serem examinadas e chimicamente analysadas. O sr. Corrêa dos Santos reconhece a imdos exames c e ohjecto, cVeste portancia anaiyses indicadas; mas por isso mesmo deseja que se empreguem meios bem adecustosos, quados, ainda que um pouco mais pois as anaiyses das agoas mineraes, principalmentc as das gazosas, sendo feitas fora do lugar da sua fonte natural não podem ser perfeitas e concludentes como as que se fazem no lugar onde ellas nascem. Portanto é de parecer que se lembre e indique ao governo a nomeação de pessoas competentemente habilitadas pára hirem fazer essas anaiyses na localidade onde existem taes agoas. Esta medida além de grangearnos um perfeito conhecimento d'estas, são um meio, e uma boa oceasião de empregar utilmente os nossos jovens médicos mais iristruidos. O sr. dr. Mim lembra e propõe que tambem se recommende ao governo que man- de não só examinar c analysar essas agoas, mas a realidade de tantos contos milagrosos que por ahi correm a respeito dasinesmas; e não só isso mas que mande também indagar que relação podem ter as qüaiidades mineraes c medicinaes das agoas na Sul para a província do llio Grande do vai-se producção do bocio, moléstia que o gencralisando muito n'essa província, ameaça invadil-a, assim como amprphéa na província de Minas, aonde vai-se tornam do quasi geral. Parece-lhe que estes dous objectos merecem toda a attenção e cuidado do governo. Resolve-se que se faça uma representação ao governo íveste sentido. Passa-se a tratar da questão relativa a conveniência e necessidade de (ratar dos meios de prevenir a entrada da choleramorbus. O sr. dr. Valladão observa que quanto ás medidas hygienicas alguma cousa já ha feito esta instituição em 1831 e 1832 será convequando era sociedade, c que niente fazer reviver esses trabalhos, emem quanto nós poderemos oecupar-nos discutir sobre os vários e melhores mcthodos de tratamento d'ella. O sr. Corroa dos Santos é de opinião que se façam reviver e se repitam as representações já feitas em outro tempo ao governo relativamente aos meios de prevenir tão isso se faça de mas flagcllo, que grande maneira a não assustar a população; e que se represente não só acerca tVisto, senão também de todas as infracçoes de lei de bygiene pública e policia medica tomando da entrada da a motivo probabilidade por cholera-morbus, caso em que taes circumstancias anü-hygicnicas podem ser muito fatacs. , Resolve-se que se proceda n'este sentido, Tendo chegado a hora levanta-se a sessão. Í)É MEDICINA BRASÍLÍENÍSfe v;. ¦ 243 '. *'"¦; «¦[.¦¦.MU .,.'!)¦.« LITTERATURA MEDICA. DISCURSO QUE RECITOU, $M PRESENÇA DE Si M; I. NO DIA 20 DE DEZEMBRO DE 1848 NO CONFERIMENTO DO GRÁO DE DOUTOR, O DIRECTOR DA. FACULDADE DE MEDICINA, O SR. CONSELHEIRO JOSÉ MARTINS DA CRUZ JOBIM. Ordcnando-me os estatutos d'esta escola (jue vos dirija a palavra depois do conferiinento do gráó de doutor que acabaes de receber, é de suppor que tiveram elles enl vista a necessidade de lembrar-vos n'este acto solemne não somente as obrigações que com aquelle titulo acabaes dc contrahir, como também a marcha que deveis seguir na prática e exercício da medicina, a que dc hoje em diante o mesmo titulo vos dá direito. Mas no meio do vosso actual regosijo oceorre-me um pensamento, que muito me entristece, e intibia-me o animo, sobre o cumprimento d'este dever: lembra-nie que depois de tantas fadigas dã vossa parte, depois de estudos tão prolongados já fora d'ésta escola preparando-vos. para entrardes n'ella, já depois de terdes conseguido sentar-vos nos seus bancos, de* pois de tantos incommodos pessoáes, de tantos dispendios vossos e do Estado, que vos franqueia um estabelecimento como este, agora que vós vos julgaes em circumstancias de poder gozar do frueto de vossos trabalhos, vós ides ver que se desvanece quasi todo o vosso Eldorado, que são mallogradas quasi todas as vossas espcranç.as, porque á vista do abandono cm que se acha entre nós o exercido da medicina, vós reconhecereis que tanto direito tendes de exercei-a, com os vossos precedentes, como innumeraveis aventureiros, que sem titulos, sem recommendação alguma acadêmica acham valiosa protecção em certas autoridades judiciaes, não só para vos agredirem impunemente com desmarcada ousadia, como para exercerem com franqueza a medicina, fundando-se em rasoes apparentemente plausíveis, que aquelles magistrados intenderam que no interesse das letivas c das sciencias não podiam deixar de admittir; e como desprezariam còm justiça* a alienação de similhantes habilidosos de que tendo elies descdberto uma medicina especialissima* privilegiada* e süpeiior á intelligencia dos médicos que estudam em escolas íegulares* não podem ser comprehehdidos tias disposições de uma lei, que profribindo o exercício da medicina a qúenl não estiver competentemente autorisaclo, só podia ter em vistas a medicina ordinária, até então acceita, e n'unca réfeíMr-sè a uma feliz iiivenção que ainda senão conhecia no Brasil na época da promulgação cUaquella lei ? Estes nossos magistrados, delegados, súbdelegadds* e juizes numicipaes* sendo tão liberaes como vós já vedes* e como é mister que o sejam, ousariam entender e cumprir a lei senão confofme a interpretação destes famosos progressistas ? nem ei*a possível que ã intendessem do mesmo modo, porque eram entendidas disparições análogas nesses tempos calamitosos, cliamados do despottómo, em qiie os próprios médicos eram os juizes Competentes eín matérias relativas á saúde pública* e ao exercício da medicina sem que inspirassem, nem aos governos desses mesmos tempos o ínehor íeceio ou ciúme, nem ao povo suspeitas de parcialidade e injustiça nos seus julgamentos* à vista d5este estado em que se acha o exercício da medicina tio Brasil, é necessario muito animo e resignação para lembrar-vos obrigações a que somente vós licareis ligados, quando aquelles que vos deviam proteger vos deixam desamparados ou entregues aos ataques violentos de homens, que sem fé nem consciência abusam escandalosamente da pública credulidade, Accresce ainda, que já em outras solemnidades como esta tenho dito quanto é bastante sobre os vossos deveres, sobre a marcha scientifica e moral que deveis seguir no exercício da vossa profissão, advertiudo-vos sempre n'este acto, que são tão nobres e elevados esses deveres, que qualquer que seja o procedimento das autoridades para comvosco e para com a vossa mesma profissão, quaesquer que sejam os 5 ÜK' ANNAES desejos que por ventura existam dc a desconsiderar, á medida que vós vos ciugirdcs com mais vigor e probidade ao cumprimento desses mesmos deveres, mais admiravel será a vossa virtude, mais louvável o vosso procedimento aos olhos dos homens de bem. Pondo pois dc parte este objccto, limitar-me-hei hoje a tratar da neccssidade que muitas vezes tem o medico não só de ser tolerante a respeito das preocupações e superstições dos homens, como tambem de tirar partido cVéstas mesmas impressões para o tratamento dos doentes, ao menos quanto c compatível com a vossa honra e dignidade. Daqui nos vem a necessidade de bem conhecermos os mesmos homens nas suas disposições moraes, taes quaes os formou Deos, e taes e quaes a educação os apresenta; nem ha profissão em que estes conhecimentos sejam mais necessários, porque também não ha nemuma em que as theorias e os preconceitos sejam mais perigosos c malfazejos. É pois no intento de conhecer bem o que somos em relação ao exercido da medicina, que passo a fazer-vos algumas observações, tanto mais necessárias, que os moços com o seu enthusiasmo natural as desconhecem muitas vezes, cahindo por isso em erros funestos á sua boa reputação. • Guando lançamos os olhos sobre a superlicie do globo, ali vemos o rebanho immenso cia nossa espécie distribuído em religiões tão diversas, e dominado por superstições ou preocupações tão grosseiras algumas, que custaria a acreditar que fossem compatíveis com o uso perfeito da intelligencia humana, a não ser um facto que aquillo, que uma rasão esclarecida nos mostra, nem sempre está de accordo com os nossos sentimentos e inclinações quer instinetivas, quer creadas pelos hábitos e costumes, ou que a mesma natureza desenvolve debaixo das modificações infinitas dos climas, e dos governos. E uma vez arreigados estes sentimentos no coração humano, nutrido com elles desde a infância será possível arrostal-os e destruil-os com a facilidade, que talvez se presuma ? A in- íluencia cPesses sentimentos, cPcssas preocupações e superstições, por assim dizer, infusas, até o fundo da alma, desde a infancia c durante tantas gerações exercem tal influencia sobre nós, que os mesmos espiritos fortes, os gênios os mais vigorosos nem sempre podem evadir-se a ella, embora não acreditem mesmo nas idéas religiosas de que elles descendem, como acontece cm França a respeito do número treze á mesma mesa, a respeito de comeear-se em sexta feira qualquer empreza importante. Dc certo que (Pestes, ou doutros preconceitos não poude evadir-se mesmo um Pascal, um Newton, um Bocrhaave, um Hobbes cmfim, que sendo quasi incredulo a respeito da existência de Deos tinha muito medo das almas do outro mundo durante a noite. Ora será prudente e rasoavel negar o império (Festas crenças e preocupações sobre o nosso espirito, bem como sobre o corpo e a saúde ? Ninguém pode allirmar que a confiança ou a desconfiança, a esperança ou o temor, ainda que superticiosos c imaginários, não sejam dignos da consideração do medico quando ao leito dos enfermos, c sendo dever nosso aproveitar tudo aquillo que pôde curar, ou pelo menos pcrmillil-o, que inconveniente ha que deixemos o doente recorrer ao consolo das suas prevenções, que se sirva por exemplo de relíquias, de nominas, e de amuletos, e que, com tanto que não sejamos nós que os aconselhemos, saibamos tirar cFellcs mesmo partido, quando são essas as disposições do doente? deixemol-os que ti esses momentos de alílição e desespero acreditem nos sentimentos da antigüidade exprimidos n'aquelles versos famosos: Si non /teclam supersos, Aclerante morebo — se que são como se dicessemos hoje : Deos não me vale, valha-me o demo. Pois se com effeito está fora de dúvida, que existem almas tímidas e crédulas sobre as quaes a confiança mesmo a mais supersticiosa exerce maior império do que a rasão, e os medicamentos ordinários, quem 245 DE MEDICINA BRASILIENSE. pôde negar que o emprego de certos meios que até enfastia referir-se, como raspas de osso de defunto, cinzas de sapo, hmumeraveis bezoardos orientaes, de que tanto caso se fazia antigamente, cabeça de reptis reduzida a pó, cousas sem dúvida recliculas e insignificantes para todo o espirito esclareciclo, produza uma confiança extraordinaria, e por isso mesmo maravilhosos eíTcitos pela regra do Possunt quia posse videnlur'1 Para quem duvidar da força da imaginacão n'estes casos basta lembrar o facto do indivíduo condemnado á morte, na Aliemanha, em queni vendados os olhos empregaram-se todos os meios para o fazer acreditar que morreria inanido de sangue por uma sangria ; quando se estava n'essc empenho fingido, elle teve uma syncope, de que quasi morreo. E não attestam práticos fidedignos que administrando a aiguns doentes pílulas de miolo de pão simplesmcnte, e fazendo-os acreditar que eram purgantes drásticos, viram essa substancia determinar collícas c dejecções? Não attestam que aranhas, sapos, c outros animaes asquerosos comidos ou trazidos como nominas, ou postos na cama com os doentes tem curado febres quartães? e até este mesmo effeito ser produzido por expressões mysteriosas c mágicas como a famosa palavra abracadabra, ainda cm uso no Oriente, e particularmente na Persia, cVondc vemos virem anneis e pedras preciosas dotadas de virtudes curativas admiráveis, com caracteres cabalisticos, e com signos astrologicos, porque os seus bakins ou médicos são ao mesmo tempo grandes astrologos ? E nós que nos rimos d'elles, já não nos lembramos de que ainda hoje fazemos uso de remédios recommendados por induções astrologicas: assim nas quem ignora que o uso do mercúrio moléstias syphiliticas foi introduzido pelo celebre medico aslrologo Carpi, que querendo mitigar os furores de Venus n'este mundo, recorreo ao patrocínio de um dos favoritos d'ésla divindade, o deos Mercu- rio, que reside no Ceo, e como o metal do mesmo nome é o seu genuíno representante cá na terra, d'elle lançou mão o me^ clico astrologo com grande admiração dos enfermos? I Mas dir-se-ha, essas práticas e crenças que attestam a ignorância e atraso dos povos, são impossíveis entre nós; decissimur espécie redi,- responderemos, que acreditando nós hoje em homoeopathias, cigaiv retas de camphora, e outras puerilidades d'esta ordem, podemo-nos dizer muito mais adiantados do que os nossos antepassados? Desenganemo-nos: são partilha d& pobre humanidade, estas decepções que só com ella acabarão; revestmdo-nos de toda a paciência porque não olharemos com tolerância e compaixão para estas credulidacles, para estas misérias tão naturaes em pessoas acabrunhadas por longas moléstias, já esgotadas por contínuos soíTrimentos, mormente quando as suas circumstancias e posição social lhes não permittiram instruir-se ? Cheios de terror e de afllição elles imploram os soecorros da arte, pedem-nos a vida; se os animamos, se lhes ciamos ao menos a esperança como um nectar salutar, alliviam-se os seus soffrimentos,. e o seu systema nervoso tomando melhor tom e energia, mais facilmente vencerá a moléstia. N'estes casos porque rasão não nos serviremos mesmo de certas astucias, como nas monomanias, na hypoeondria acompanhadas de certas idéas politicas erradas e prejudiciaes? porque rasão não nos será permittido, por exemplo, fazer imprimir gazetas com notícias e idéas destruetivas d'essas impressões desfavoraveis, podendo, quando uma philosophiari-: gorosa nos aceuse dizer como Epaminondas aos Thcbanos:— çondemnai-me, mais ao menos gravai sobre o meu túmulo estas palavras— foi elle o único capaz de vencer Sparta I [Concluirá no próximo número). ESCOLA DE MEDICINA. MINISTÉRIO DO IMPÉRIO. Rio de Janeiro, ministério dos negócios 246 Êfc* ANNAES do império 24 de maio de 1849,—Sua Maconsideragestade o Imperador tendo em ção o que vossa senhoria expeude no seu oíficio de 12 do corrente, Ha por bem approvar, e manda que se execute na Escola de Medicina d'ésta corte, o regulamento provisório, constante da inclusa cópia, assignada pelo official maior d'ésta secretaria distado, que a respectiva faculdade na forma dos artigos 26 e 34 da lei orgânica da mesma Escola, julga útil c necessário adoptar, a fim de evitar não só qs abusos que se tem introduzido «as theses que lhe são apresentadas, como também os incon^ venientes e conílictos que a prática tem mostrado, no systema de votação em os actos de exame, e na variedade das notas relativas. O que communico a vossa senhoria para seu conhecimento e da mesma faculdade. Dcos parcle a v. s.n— Visconde de Monfalegre.— Sr. dr. José Martins da Cruz Jobim.—Conforme.— Dr. Luiz Carlos da Fonseca. Regulamento provisório approvado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, que se manda por cm execução por aviso d'ésta data. Artigo l.°-^As theses versarão sobre tres questões tiradas á sorte, uma relativa ás sciencias accessorias, outra ás cirurgicas, e outra ás médicas. Art. 2,°—Nofiin de cada anno lcctivo os lentes, ou substitutos em exercício enviarão ao director dez questões sobre suas cadeiras, as quaes depois de previamente submettidas á approvação da Faculdade, serão rubricadas pelo mesmo director, e entregues ao secretario, que as numerará seguidamente, e copiará cm livro próprio para cada secção. Art. 3.°— A sorte tira^-se-ha na presença de um dos lentes ou substitutos cm exercício no começo do último anno lectivo, podendo o candidato apresentar a sua these, quando lhe aprouver, depois de feito o exame das clinicas, Art. 4,°—O secretario lavrará um tenno. cm livro próprio, do qual conste a época do sorteio, e quaes as questões sorteadas, devendo ser esse termo assignado pelo len~ te ou substituto, c pelo candidato. Art. 5,°— Os candidatos poderão tratar das questões em dissertação ou cm proposições; mas serão obrigados a apresentar na these seis aphorismos de Ilippocratcs á sua escolha. Fica-lhes livre tratar igualmente ad Hbitum de qualquer outra questão medica, ou cirúrgica, que lhes aprouver. Artigo additivo.— As notas de exame serão:—Reprovado — Approvado simpliciter —Approvado nemine discrepante —e approvado optime cum laude. A votação dos examinadores a tal respeito se fará por escrutinio secreto, por meio de espheras brancas c pretas. § 1.° O que obtiver tres espheras br.aucas ficará approvado nemine discrepante, e o que obtiver somente duas ficará simpliciler. $ 2.° A maioria de espheras pretas reprova. § 3.° Se algum dos lentes examinadores propozer que se dò distineção ao alumno que tiver sido approvado nemine discrepante, correrá sobre o mesmo novo escrulinio, c se obtiver unanimidade de espheras brancas, dar-sc-lhe-ha a nota — approvado optime cum laude. § 4.° Nas theses se observará este mesmo systema de approvação, íicando os candidatos approvados nemine discrepante, ou simpliciter, segundo obtiverem a unanimidade de espheras brancas no primeiro caso, c a maioria no segundo; seguindo-se a respeito da nota de optime cum lande o que fica disposto no § antecedente. — será substi§ 5.° A nota—reprovado tuida nas theses pela de—esperado—sendo cm tal caso obrigados os candidatos a fazer nova these sobre as mesmas questões extrahidas para a primeira, Secretaria d'estado dos negócios do imperioem 14 de maio de 1849.— José de Paiva Magalhães Calvet.—Conforme,—Dr. Luiz Carlos da Fonseca. DE MEDICINA MUSILIEiNSE. 247 F= REVISTA GERAL. 0 CHARLATANISMO NA PROVÍNCIA DE S.PAULO. Por mais de uma vez temos bradado contra a ousadia com que o charlatanismo se ostenta na província de S. Paulo. Ali as autoridades encarregadas por lei de o cohibir já não se contentam com uma tolerancia criminosa, como acontece acpú na corte, c em quasi todo o império : — vão mais longe ainda, protegem-no a tal ponto que chegam a perseguir e a processar os médicos legaes, só porque d'isso se queixam, e prottestam pela imprensa. Sirva de exemplo a perseguição acintosa que um celebre juiz de direito de accordo com a câmara municipal de Campinas tem movido contra o nosso assignante e mui distincto medico cFesse lugar o sr. dr. Ricardo Gumhlelm Daunt!! Certamente que se não pode dar maior immoraliclade; e a nãopossuirmos cm nossas mãos documentos fidedignos que o comprovam, nem por sonhos nos capacitaríamos de tal. E como é que o governo supremo da província tolera e consente tão grande escandalo ?— Como é que se nao tem mandado responsabüisar essa câmara tão ignorante e tão pouco respeitadora da lei ? — Como é cmfim, cjuc se não tem reprehendido áspera e severamente o comportamento (Vcsse juiz de direito mais v.... do que ignorante ?—Acaso um ciqs órgãos da imprensa da província não tem por tantas e tão repetidas vezes denunciado esse escandalo ?! Percle-sc-nos a imaginação no meio de tantas hypotheses altamente desfavoraveis ao sr. presidente de S. Paulo, Nem-um remédio vemos possível a tão grande desleixo, e abandono de pudor.— Quando os delegados do governo do Imperador tão incidentes se mostram no cumprimento de deveres tão insignificantes, perdido está o paiz, porque perdida está a sua moralidade. No entanto para que se nao diga que o único órgão da medicina official do paiz não faz chegar ao conhecipiento do exn%° sr. ministro do império tão grandes quão fataes abusos, transcreveremos abaixo uma correspondência que se achainserta no n.° 47 do Saquarema, promettendo voltar ao assumpto no numero seguinte. CORRESPONDÊNCIA. #§ Sr. Redactor.—Qjueira dar licença que por meio de sua folha se pergunte aos illms. srs. presidente e vereadores da camara municipal d'ésta cidade quaes os motivos que os influíram na nomeação do commissario vaccinador cFeste município, feita em sessão extraordinária do dia k do corrente? Se o indivíduo nomeado foi escolhido como sendo facultativo legalmente habilitado ? e n'este caso, quaes as provas de tal habilitação legal? Ou se foi escolhido como pessoa alheia á arte de curar ? e em tal caso, quaes os motivos que o faziam preferivcl ao illm. sr. José Pinto de Camargo, que foi proposto para esse emprego pela transada câmara ? e mais, se este emprego pode ser exercido, na falta de facultativos habilitados, também por pessoas íntelligentes e alheias ás fileiras dos facultativos legítimos sendo estas estrangeiras, como por nacionaes? Não quero suppòr por um momento que a dita nomeação fosse oriunda ainda de um desejo de fazer acinte, e de menoscabar os illms, srs. cimrgião-mór Cândido Gonsalves Gomide e dr. Ricardo Gumbleton Daunt que no anno passado vaccináram, segundo so affirma, ao menos duas mil pessoas, e assim fizeranvse acredores de um comportamento niais attencioso da parte dos representantes da municipalidade. E por julgar a illm, ] câmara incapaz de ser actuada por tal motivo, não formularei pergunta alguma n'este sentido; não posso deixar porém de exprimir o meu pezar como cioso da honra do município, que a câmara tivesse dado um passo que com alguma apparencia de rasao, se possa interpretar como um acto de patrocínio á um iiidividuo que se acha em flagrante violação da lei, e á quem se dá assim uma espécie cie reconhecimento indireclo dos seus títulos, 6 AMAS 248 que só poderá redundar em compromettimento da mesma câmara. O sobscripto do offlcio da referida nomeação dava ao novo empregado o titulo de —doutor—será que a nossa câmara queira se fazer rival das academias de Olinda, Bahia, Rio, e S. Paulo, arrogando a si o direito de crear bacharéis e doutores? Yisto serem os illms. srs. vereadores todos d'aquelle partido, que mais enérgicamente tem reclamado o direito da livre discussão, e da responsabilidade das autoriclades, não só perante a justiça como também perante o tribunal da opinião ptiblica, estou certo que não estranharão esta applicação dos seus próprios princípios que acaba defazer-lhes Um seu assignante. Campinas 19 de março de 1849. (Continuará). REMÉDIO PARA O TÉTANO. No Diário de Pernambuco lemos um ârtigo do sr. Filippe Menna Callado da Fonscca, noticiando a descoberta de importantes propriedades medicinaes em uma das planIas muito conhecida em nosso paiz o — fedegoso — applicado por elle com muita vantagem nos casos de tétano, espasmo e convulsões. «Para os recém-nascidos, diz o sr. Callado da Fonseca, applica-sc uma colher de chá do sueco da planta, de meia em meia hora, até estabelecer-se a evacuação por a via superior c inferior; depois d'isto ministra-sc-lhes a mesma colher de chá de hora cm hora, suspendendo a applicação logo que se reconheçam molhoras notáveis. —Em proporção augmentamse as doses nos mais velhos, e a miúdo de vinte em vinte minutos, ou de quarto cm quarto d'hora. Prepara-se o sueco do fedegoso, pizando a planta inteira com raizes, lavadas da terra, em um gral ou pilão; se a planta não contém sueco sufficiente, addiciona-se-lhe alguma agoa; a massa mette-seemum panno grosso e espremese até produzir todo o liquido que contenha. O rçsultado favorável nas crianças tem sido constante nas applicações que tenho tido occasião de fa/er até hoje. No tétano produzido por feridas o tenho applicado também duas vezes, e em ambas resolvco completamente a moléstia com celeridade espantosa.» {Correio da Tarde). NOTICIAS DIVERSAS, MINISTÉRIO DA MARINHA. DECRETO N. G01 DE 25 DE ABRIL DE 1840.' Appvova o plano para a onjanisação do corpo dr. saúde d* armada nacional c imperial. Hei por bem approvar o plano para orgânisâçãò do corpo de saúde da armada nacional e imperial, que com este baixa, assignado por Manoel Felisardo de Sousa e Mello, do meu conselho, ministro e secrelario de estado dos negócios da marinha, que assim o tenha entendido c faça exceutar com os despachos necessários. Palácio do Rio de Janeiro, em vinte e três cie abril de mil oitoecntos c quarenta c nove, vigesimo oitavo da independência e do imperio.—Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.—Manoel Felisardo de Sousa e Mello.—Conforme, Francisco Xavier Bomtempo. Plano para a organisução do corpo de saúde du armada nacional e imperial, a (pie se refere o d&creio d'esta da Ia. Art. l.° O corpo de saúde da armada será composto dos indivíduos abaixo designados, os quaes gozarão das graduações militares que vão declaradas, a saber: § 1.° Um cirurgião-niór da armada. Ca~ pitão de mar e guerra. §2.° Um cirurgião-mór de esquadra. Capitão de fragata. § 3.° Três cirurgiões-móres de divisão naval. Capitães tenentes. § l\.° Doze primeiros cirurgiões, dos ' Igual decreto se publicou lambem para o exercito-, DE MEDICINA BRASILIENSE. quaes seis poderão ser graduados primeiros tenentes, c os outros terão a graduação de segundos tenentes. §5.° Vinte e quatro segundos cirurgiões dos quaes doze poderão ser graduados segundõs tenentes, c os outros terão a graduação de guardas marinhas. § 6.° Seis pharmaecuticos, dos quaes dous serão de primeira classe, e quatro de segunda. Guardas marinha. Art. 2.c O cirurgião mor da armada será o chefe do corpo de saúde, e sua nomeação dependerá somente da capacidade para o bom desempenho do serviço: o governo marcará as respectivas attribuições, e designará quem nos impedimentos os deve substituir. Art. 3.° Os facultativos terão direito ao accesso dos postos superiores quando se fizerem dignos, por sua maior antigüidade militar, a par de bom comportamento, conhecimentos professionaes, c perfeito desempenho das comniissõcs de que forem encarregados. Art. /i.° Os facultativos serão subordinados ao cirurgião-mór da armada, c ás autoridades sugeriores do corpo de saúde; servirão de commissão nos navios de guerra, e nos corpos de imperiaes marinheiros e fuzileiros navaes/c, cm quanto se acharem empregados, ficarão sujeitos á discipuna, c subordinados ás respectivas autoridades, na fôrma estabelecida pelas leis, usos e ordens em vigor. Art. 5.° Os facultativos desempregados perceberão o soldo simples de suas pateir tes ou graduações. Palácio do Rio de Janeiro, em vinte c taes de abril de mil oitocentos e quarenta e nove. — Manoel Felizardo de Sousa c Mello.—Conforme, Franeisco Xavier Bomtempo. {Diário do Rio). — Eleições.—li Academia Imperial de Medicina\acaba de proceder ás eleições annuaes que devem reger no corrente anno de" 1849. Sahiram reeleitos:—Presidente, o sr. dr. Jobim.—T/iesoureiro, osr. dr. Gru- 249 gel do Amaral.—Redactor do Jornal, o dr. Lobo. A Academia reelegendo para seu presidente ao sr. dr. Jobim, deu mostras de que ainda confia em s. s.a, e nos immensos recursos de que pôde dispor, para salval-a d'esse estado de torpor e abatimento em que tem permanecido pela má vontade de um, e pelo desleixo de outros. Colloquese s. s.a á frente cVaquelles que desejam trabalhar, e desenganar-se-ha que de nada valem esses entraves e pequeninos embaraços, que tão grande desanimo lhe tem causado... Ácdamacão de membro honorário.— Na mesma sessão requereo o dr. Lobo que se procedesse á votação da proposta addiada, do anno p. p., que conferia o tituiõ de membro honorário ao mui distincto lente de pathologia externa da escola medica da Bahia, o sr. dr. Manoel Ladisláo Aranha Dantas: e vencendo-se que assim fosse—foi o mesmo sr. acclamado membro honorário. ¦—Lò-se no Correio da Tarde: PROFISSÃO xMEDICA EM PARIS. «O número total dos doutores em medicina actualmente residentes em Paris sobe a 1:389; d'estes nove são representantes do povo na assembléa nacional, convém a saber : Bixio, Bucher, Dezeimeris, Gerdy, Lclut Mussiat, Recurt, Trelat e Trousseau, e 389 são membros da legião de honra, isto é:—7 commendadores—-50 oíficiaes— e 341 cavalleiros. Um novo athleta no jornalismo.—Os estndantes da escola medica da Bahia, levados do zelo e amor das lettras, que tanto caracterisa os filhos daquella província, acabam de fundar um jornal scientifico, intitulado—o Alheneo — cuja publicação deverá ser feita mensalmente. Temos á mão o primeiro número; e a julgarmos pelo que ahi se promette, no arligo de introducção, temos fé que de grande proveito virá elle a ser para a litteratura medica, com quanto a ella não seja exclusivamente dedicado. 250 ANNAES Permitia Deos que na espinhosa carreinão tenham que o Athenco vai percorrer, de esmorecer esses jovens talentosos que tão devotadamente lhe deram impulso. Mas para que isto se consiga, visto que mais de uni. preside á sua redacção, cumnão só pre que todos tenham entre si iguaes direitos senão também igual merecimento c capacidade —porque nada tolhe mais o bom andamento de taes emprezas do que achar-se collocada á sua frente, revestida de poder c dignidade, alguma medwcriiade orgulhosa e arrogante. Que os redactores do Atheneo tenham bem cm vista este nosso conselho, que a mais acerba c cruel experiência nos ensinou, c d'csde já lhe asseguramos vida longa e duradoura. Taes são os votos da redacção dos An* nàês. Os artigos do sr. dr. Rego sobre enfermidadés de crcançis.— A inexperada enfermidade que em principio efeste anno accometteo o nosso distineto collaborador, o sr. dr. Rego, deu causa a que interrompessemos a série de seus importantes artigos sobre enfermidades de creanças no Rio de Janeiro. Felizmente para nós o nosso collega acha-se restabelecido, e de novo entregue ás suas oecupaçoes; achando-sc já em nossas mãos o seu 6.° artigo sobre o mesmo assumpto, e que é relativo á—gastro-enterite.— Publicai- o-hemos no proximo número. A Academia Imperial de Medicina occupa-se na actualidade de uma importantissima questão. Trata-se de dar remedio ao desgraçado estado em que nos achamos, relativo á insufficiencia das leis em vigor, para se pòr um diquue ao charlatanismo de que se acha inçado todo o impeperio. Não se devendo por ora aventar juizo certo ou provável, de qual deva ser o desfecho d'esta discussão, diremos sempre que muito se deve esperar das luzes e patriotismo d'ésta corporação, secundada da vontade poderosa do seu digno presidente — o sr. dr. Jobim. —O sr. dr. Meirelles pede-nos que trans- tâtfrtiJMMrw '••» crevamos irésta folha, o certificado que se segue, passado pelo oíucial-maior da camara dos deputados. (?) « Certifico, por me ser pedido, que do registro das actas e oflicios cVésta camara, consta que tendo sido por ella approvados os estatutos das Escolas de Medicina do Rio de Janeiro c Bahia, passaram para o senado a 15 de junho de 1865, e que vollaudo com emendas cm 29 de maio de 1847, foram umas regeitadas e outras prejudicadasem 9 de junho do mesmo anno. Secretaria da camara dos deputados em 27 de abril de íÜkV. — Theodoro José Biancardi, CORRESPONDÊNCIA PARTICULAR Do sr. dr. Daunt (Campinas).—desculpe-nos S. S.a a demora que houve na remessa dos números 7 e 8, bom como de não lhe havermos ai tendido ha mais tempo. Muitas são as obrigações que pesam sobre nós. Do sr. ãirector do Âtheneo (Bahia): estamos de posse do 1.o e 2.o número do mesmo jornal; e cstào dadas os ordens para que o nosso correspondente n'cssa cidade entregue a S. S;a não só uma colleeçâò dos Annaes publicados de julho ato agora; mas ainda um exemplar de todos aquelles que de futuro se forem publicando. 0 sr. Salvador Machado de Oliveira (villa dá Casa Branca): será publicado cm unidos números seguinteso seu artigo Mais um facto a favor da ac* ção insensibilisante do elher. — Agradecemos-lhc o favor e serão cumpridas suas ordens. Recebemos lambem um interessante artigo sobre a febre typhoide1 que nos foi enviado da Bahia pelo mui distineto professor o sr. dr. Joxé Joaquim Rodrigués. Dar-nos-hemos pressa em publical-o. Estamos de posse da carta do nosso correspondante da campanha, o sr. Ignacio Comes Midões. Muito lhe agradecemos suas obsequiosas expressões, como lhe pedimos desculpa da demora que tem havido na remessa dos números anteriores. 0 sr. commendador Cláudio Luh da Costa : responder-lhc-hemos por carta particular. DECLARAÇÃO. Pedimos desculpa aos nossos assignantes do atrazo em que se acha esta publicação, devido a diversos obstáculos com que tem lutado a typographia. 0 Dn. Roberto Joiigb Haddock Lobo. Rednclor em chefe,