APRENDIZAGEM NA VIDA ADULTA Tania Beatriz Iwaszko Marques APRENDIZAGEM NA VIDA ADULTA DESENVOLVIMENTO INTELECTUAL DO JOVEM E DO ADULTO Quem é o adulto Como pensa o adulto RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Transferência Egocentrismo/descentração do professor e do aluno DESENVOLVIMENTO INTELECTUAL DO JOVEM E DO ADULTO Quem é o adulto O que diz o dicionário? 1. Diz-se do indivíduo que atingiu o completo desenvolvimento e chegou à idade vigorosa. 2. Que atingiu a maturidade. 5. Diz-se de indivíduo que atingiu plena maturidade, expressa em termos de adequada integração social e adequado controle das funções intelectuais e emocionais. Conforme a lei • É a pessoa a partir de 18 anos de idade. E como é que fica aquele com 17 anos, 11 meses e 29 dias? Ainda é adolescente, conforme a lei. Para pensar: Compare as duas definições para adulto: a do dicionário e a da lei. Existe uma concordância perfeita entre as duas definições? No que elas diferem? Será que, por ter atingido a idade de 18 anos, uma pessoa atingiu o pleno desenvolvimento emocional e intelectual? Será que isso tem alguma importância para a aprendizagem na vida adulta? Como pensa o adulto Para estudar a maneira como pensa o adulto, precisamos nos apoiar em alguma teoria. A teoria que servirá de base para explicar a forma como pensa e o processo de aprendizagem do adulto é a Epistemologia Genética. O tema Epistemologia Genética será retomado na interdisciplina Desenvolvimento e Aprendizagem sob o enfoque da Psicologia II, no eixo VI . Introdução à Epistemologia Genética A Epistemologia Genética de Jean Piaget tem como interesse estudar a gênese das estruturas cognitivas, explicando-a pela construção mediante a interação radical entre sujeito e objeto. Para Piaget (1983, p. 236), o desenvolvimento ocorre de forma que as aquisições de um período sejam necessariamente integradas nos períodos posteriores. É o “caráter integrativo” segundo o qual “as estruturas construídas numa idade dada se tornam parte integrante das estruturas da idade seguinte”. Ou seja, a partir do nascimento, inicia-se o desenvolvimento cognitivo e todas as construções do sujeito servem de base a outras. Estádios de desenvolvimento Piaget diz que os estádios de desenvolvimento: - obedecem a uma ordem de sucessão constante; - apresentam idades variáveis. O desenvolvimento cognitivo dá-se na relação com o meio, porém, ele é individual. O estádio em que um indivíduo se encontra “é radicalmente individual, não pode, pois, ser confundido com o de nenhum outro indivíduo” (BECKER, 2001, p.187). Podem existir diferenças para as médias de idades entre as culturas, mas existem, também, diferenças de um sujeito para outro em uma mesma cultura. Então, o que nos dirá se alguém se encontra em um ou outro período do desenvolvimento? O que nos dirá se um sujeito se encontra em um ou outro período do desenvolvimento não será a sua idade, mas, ao contrário, será a sua relação com o objeto do conhecimento, será a sua maneira de pensar, refletida no modo como lida com os problemas da realidade, seja ela interna ou externa. Serão suas características cognitivas que nos mostrarão em que período de desenvolvimento se encontra, e não o inverso. A partir da idade, apenas, não podemos fazer afirmações definitivas sobre o seu nível de desenvolvimento. ESTÁDIOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO Abaixo um rápido comentário sobre os estádios do desenvolvimento cognitivo. Esse tema será retomado mo eixo VI, na interdisciplina Desenvolvimento e Aprendizagem sob o enfoque da Psicologia II. Os estádios do desenvolvimento e as médias de idade são as seguintes: 1) sensório-motor - do nascimento até aproximadamente um ano e meio, dois anos; 2) pré-operatório - de aproximadamente um ano e meio até por volta dos sete anos; 3) operatório-concreto - por volta dos sete até em torno dos doze anos; 4) operatório-formal - desde cerca dos doze anos, perdurando pela vida adulta Para pensar: Levando em conta a teoria e a realidade conhecida, tente responder para você mesma(o): Se a teoria diz que, em média, as pessoas atingem o operatório formal aos doze anos, isso significa que todas as pessoas, ao atingirem doze anos atingem o estádio das operações formais? Isso significa que todos os adultos, por atingirem 18 anos de idade, automaticamente, atingiram o período operatório formal do desenvolvimento cognitivo? ESTÁDIO OPERATÓRIO FORMAL Apesar de sabermos que nem todos os adultos sejam operatório formais, aqui serão apresentadas as características do pensamento operatório-formal, já que, em média, essas são as características cognitivas encontradas a partir dos doze anos. O pensamento formal permite: refletir para além do real presente; refletir sobre possibilidades; fazer planos; elaborar “teorias”; construir “sistemas”; pensar sobre o próprio pensamento. A construção de teorias é uma necessidade para a convivência entre adultos. Enquanto os relacionamentos da criança esgotam-se nas relações interindividuais, os relacionamentos do adulto são transindividuais pois envolvem as crenças, as ideologias, as “teorias” que perpassam o mundo. As construções operatório-formais oferecem “uma teoria das relações entre si, enquanto que o agrupamento fornecia uma teoria das relações entre a parte e o todo” (MONTANGERO e MAURICE-NAVILLE, 1998, p. 195). A adaptação ao mundo social adulto exige uma reflexão da inteligência sobre si mesma. No estádio operatório formal: - Constituem-se instrumentos de verificação experimental que permitem controlar variáveis: dentre um conjunto de fatores poder destacar um, fazendo-o variar e deixando os outros invariantes. - Surge a capacidade de formular hipóteses ou capacidade de desligar-se temporariamente da atividade concreta dando prosseguimento à atividade mental mediante um jogo puramente proposicional: é o raciocínio hipotético dedutivo. - Há uma inversão nas relações entre o real e o possível. Cria-se um mundo de possibilidades de cujo conjunto o real é apenas um setor limitado. Os instrumentos oriundos do plano das possibilidades permitem estabelecer relações entre teorias, produzindo nelas transformações. Pensamento formal e ensino: O adulto, tal qual a criança e o adolescente, não aprende ouvindo respostas prontas. Aprende resolvendo problemas que dizem respeito ao mundo físico ou social em que vive e lançando hipóteses sobre as transformações que devem ser implementadas. A escola que continuar a insistir no repasse de conteúdos prontos estará na contramão da dinâmica própria do pensamento. Para pensar: Reflita sobre a importância de conhecer as características do pensamento operatório-formal para a educação de jovens e adultos. RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Será que basta ao professor passar o conteúdo ou será que as relações interpessoais que se constituem em sala de aula são relevantes para a educação? A educação é um “processo em que a criança ou o adulto convive com o outro e, ao conviver com o outro, se transforma espontaneamente, de maneira que seu modo de viver se faz progressivamente mais congruente com o do outro” (MATURANA, 2001, p. 29). Logo, a educação é um processo que se dá no mundo de convivência, porém, ao mesmo tempo, é um processo que se dá no interior do indivíduo. A história de educação de um sujeito faz parte de sua constituição, já que ele é o resultado de suas permanentes transformações nas trocas com o seu meio. Transferência Recomenda-se voltar aos conceitos trabalhados no eixo II, na interdisciplina Desenvolvimento e Aprendizagem sob o enfoque da Psicologia I no que diz respeito ao desenvolvimento segundo a psicanálise e rever o conceito de transferência. Para pensar: Será que nas relações professor-aluno na educação de jovens e adultos está também presente o processo de transferência ou ele apenas ocorre na relação com crianças? Egocentrismo/descentração do professor e do aluno Egocentrismo- Incapacidade de diferenciar e coordenar diferentes pontos de vista. Descentração – possibilidade de diferenciar pontos de vista e coordená-los. Embora tenhamos nos acostumado a relacionar o egocentrismo à criança pequena, ele ocorre em todas as idades. Logo, tanto o professor quanto o aluno, mesmo sendo adultos, podem ter dificuldades de compreender o raciocínio que o outro está realizando, reduzindo o pensamento do outro ao seu próprio. Segundo Maturana (2001, p. 43), qualquer relação social depende de assumirmos as capacidades do outro envolvido nessa relação, e, se isso não ocorrer, essa relação deixará de ser social. O educador precisa colocar-se no lugar do educando, tentando compreender suas dúvidas a fim de lhe dar as respostas de que está necessitando e que está preparado para ouvir. Diferentes verdades existem, como tantos sujeitos existem, e devem ser respeitadas. Para pensar: Será que é sempre fácil para o aluno colocar-se no ponto de vista do professor e acompanhar o seu raciocínio? Será que é sempre fácil para o professor darse conta de que o raciocínio do aluno é diferente do seu? REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BECKER, Fernando. A epistemologia do professor. O cotidiano da escola. 9ed. Petrópolis: Vozes, 2001. BUARQUE DE HOLANDA FERREIRA, Aurélio. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 2.ed. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1986. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. Lei 8069, de 13 de julho de 1990. MATURANA, Humberto. Emoções e linguagem na educação e na política. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001. MONTANGERO, Jacques e MAURICE-NAVILLE, Danielle. Piaget ou a inteligência em evolução. Porto Alegre: ARTMED, 1998. PIAGET, Jean. Problemas de psicologia genética. São Paulo: Abril Cultural, 1983.