A ALTURA DA PATELA EM PRÓTESES TOTAIS DE JOELHO A altura da patela em próteses totais de joelho* JOÃO FERNANDO POZZI1, EWERTON RENATO KONKEWICZ2, BRENO NORA2, LEANDRO RODRIGUES2 RESUMO Os autores apresentam uma casuística que compreende 136 pacientes submetidos a artroplastia total de joelho, durante o período de janeiro de 1989 a dezembro de 1995, totalizando 161 joelhos operados. O objetivo do trabalho é analisar a altura da patela no pré e no pós-operatório, comparando-se com os diferentes modelos de próteses utilizados. Os modelos de próteses utilizados durante esse período foram: Insall-Burstein I e II, PCA, Biomet, Ortholoc II e Performance TC IV. Os autores concluem que ocorre discreto rebaixamento da patela de forma geral, apontam e discutem as possíveis causas desta modificação anatômica no pós-operatório. SUMMARY Patellar height in total knee prosthesis Between January 1989 and December 1995, 136 patients (161 knees) were surgically treated by total knee arthroplasty. The purpose of this study is to analyze the patellar height, before and after surgery, comparing the different designs of total knee prosthesis. The total knee prosthesis designs performed were: Insall-Burstein I and II, PCA, Biomet, Ortholoc II and Performance TC IV. The authors conclude that there occurs a low decrease of the height of the patella in general, and discuss the causes and mechanisms responsible for this changing. INTRODUÇÃO Segundo Judet, com relação às lesões degenerativas do joelho, a artrose transformava doença (artrose) em enfermidade (rigidez). * Trab. realiz. pelo Serv. de Cirurg. de Joelho da Clín. de Ortop. e Traumatol. Pozzi Ltda., Porto Alegre, RS. 1. Chefe do Serviço. 2. Médico Ortopedista do Serviço. Rev Bras Ortop _ Vol. 32, Nº 5 – Maio, 1997 A artroplastia total de joelho tem por objetivo melhorar a mobilidade articular e diminuir consideravelmente a dor, sem comprometer a estabilidade. Devem-se somar a esses objetivos primários a longevidade e o êxito do procedimento, que está condicionado às escolhas de técnica e instrumental operatório. Os resultados das próteses totais de joelho, a longo prazo, vêm melhorando muito e são, normalmente, bons, porém existem variações entre eles, de acordo com o modelo de prótese utilizado e sua cinemática. A conservação ou não do pivô central (ligamentos cruzados), o desenho dos componentes tibial, femoral e patelar, a colocação ou não do componente patelar e a técnica cirúrgica aplicada são fatores próprios de cada modelo de prótese e isso influenciará nos resultados finais. O objetivo deste trabalho é apresentar uma casuística que envolve 136 pacientes (161 joelhos) submetidos a artroplastia total de joelho, em que se analisa exclusivamente a altura da patela, comparando-se a sua variação no pré e no pósoperatório, entre os diferentes modelos de prótese utilizados. CASUÍSTICA E MÉTODOS Métodos de medição da altura da patela Para verificação da altura da patela, existem vários métodos descritos; dentre eles, os mais conhecidos são: Blumensaat, Insall-Salvatti, Caton-Deschamps, Blackburne-Peel e Norman. Método de Blumensaat – Blumensaat(4) afirmava que em incidências em perfil do joelho, com flexão de 30º, o pólo inferior da patela deve encontrar-se sobre a linha projetada adiante da chanfradura intercondiliana (linha de Blumensaat). Se o pólo inferior da patela estiver abaixo da linha, a patela é considerada baixa e, se estiver muito acima, é considerada alta (fig. 1). Método de Insall-Salvatti – Insall & Salvatti(19) propuseram um método que podia cumprir com os seguintes requisitos: 1) ser simples, prático e preciso; 2) ser aplicado a espectro de posições do joelho em radiografias de rotina, desde 367 J.F. POZZI, E.R. KONKEWICZ, B. NORA & L. RODRIGUES Fig. 1 – Método de Blumensaat Fig. 2 – Método de Insall-Salvatti 20º até 70º de flexão; 3) ser independente do tamanho da articulação e grau de ampliação dado à radiografia. Levando-se em consideração que o tendão patelar não é elástico, seu comprimento determina a posição da patela, sempre que o ponto de inserção sobre a tuberosidade tibial anterior seja constante. Eles relacionaram o comprimento do tendão patelar (T) com o comprimento da patela (P), em que: T = comprimento do tendão patelar medido em sua superfície posterior, desde sua origem no pólo inferior da patela até sua inserção na tuberosidade tibial anterior; P = comprimento da diagonal maior da patela. O comprimento do tendão patelar (T) é praticamente igual ao comprimento da diagonal maior da patela (P), de forma que T/P = 1, com desvio de 0,13. Conclui-se que, em joelhos normais, o comprimento do tendão patelar não deve diferenciar-se do comprimento da diagonal maior da patela em mais de 20% (fig. 2). Método de Caton-Deschamps – Este método é calculado a partir da relação entre a distância do ponto mais inferior da superfície articular da patela até a borda ântero-superior do platô tibial (AT) e o comprimento da superfície articular da patela (AP). A relação AT/AP pode variar de 0,6 a 1,2. A patela é considerada baixa se o índice é inferior a 0,6 e alta se o índice é superior a 1,2 (fig. 3). Método de Blackburne-Peel – Estes dois autores(3) propuseram utilizar a relação entre a distância do pólo inferior da 368 Fig. 3 – Método de Caton-Deschamps patela à projeção de uma linha sobre a superfície articular do platô tibial (A) e a medida da superfície articular da patela (B), realizada em perfil com cerca de 30º de flexão do joelho. A relação A/B deve ser igual a 0,8, com extremos considerados normais entre 0,6 e 1,0 (fig. 4). Método de Norman – Norman et al.(23) descreveram um método a partir de uma radiografia em perfil do joelho, em extensão completa (hiperextensão) e com o quadríceps contraído para tensionar ao máximo o tendão patelar. A distância do foco-placa deve-se manter constante (1m) e o chassi deve ser colocado em contato com a face lateral do joelho. O índice de Norman é definido por uma relação entre a posição vertical da patela – VP (distância do pólo inferior da patela à interlinha articular – medida em mm) e a altura do indivíduo (medida em cm). Índice de Norman = Posição vertical da patela – VP (mm) Altura do corpo (cm) O índice é considerado normal com um valor igual a 0,21, com desvio de 0,02 (fig. 5). Este trabalho engloba um total de 136 pacientes submetidos à artroplastia total de joelho, operados durante o período de janeiro de 1989 a dezembro de 1995. Destes 136 pacientes, 25 foram submetidos a cirurgia em ambos os joelhos, perfazendo um total de 161 joelhos operados. Os pacientes foram operados por três cirurgiões diferentes, pertencentes ao mesmo serviço. Rev Bras Ortop _ Vol. 32, Nº 5 – Maio, 1997 A ALTURA DA PATELA EM PRÓTESES TOTAIS DE JOELHO Fig. 4 – Método de Blackburne-Peel Fig. 5 – Método de Norman Os pacientes foram convocados para a revisão através de correspondência postal. O número total de pacientes convocados era de 223. O não comparecimento de 87 pacientes foi devido a múltiplos fatores, dentre eles extravio de correspondência, mudança de endereço, óbito, pacientes que moravam muito distante, dificuldade de transporte, etc. Alguns pacientes fizeram contato telefônico para justificar a impossibilidade de comparecer para a revisão, outros foram representados por familiares que trouxeram radiografias. Todos estes foram excluídos da revisão. Em relação ao sexo, 113 pacientes eram femininos e 23, masculinos (tabela 1). TABELA 1 Sexo Feminino Masculino 113 (83,08%) 23 (16,91%) A idade dos pacientes variou dos 34 aos 88 anos, com média de 69,3 anos. A paciente mais jovem era portadora de artrite reumatóide. Os pacientes operados com menos de 50 anos eram, em sua maioria, portadores de patologia reumática (tabela 2). Em relação ao lado operado, houve 86 cirurgias realizadas no joelho direito e 75 no esquerdo. O seguimento variou dos 12 aos 81 meses de pós-operatório. Decidiu-se excluir todos os pacientes operados após dezembro de 1995, para obter-se um seguimento mínimo de 12 meses. Rev Bras Ortop _ Vol. 32, Nº 5 – Maio, 1997 Fig. 6 – Exemplo de patela baixa pós-operatória TABELA 2 Idade Idade Número de pacientes Menos de 40 anos Entre 41 e 50 anos Entre 51 e 60 anos Entre 61 e 70 anos Entre 71 e 80 anos Acima de 80 anos 8 (5,88%) 14 (13,29%) 20 (14,7%) 63 (46,32%) 21 (15,44%) 10 (7,35%) O diagnóstico inicial que levou à indicação da cirurgia incluía: 124 casos de artrose primária, sendo 63 com predominância para artrose femorotibial interna, 13 com predominância para artrose femorotibial externa e 48 casos de artrose global. Além desses, houve 23 casos de artrite reumatóide, sete de seqüelas de fraturas (fêmur distal articular e/ou platôs tibiais) e sete de necrose de côndilo femoral ou platô tibial. Nenhum paciente com seqüela de infecção foi incluído nesta casuística (tabela 3). TABELA 3 Diagnóstico Diagnóstico Número de pacientes Artrose global AFTI AFTE Artrite reumatóide Seqüela de fratura Necrose 48 (29,81%) 63 (39,13%) 13 (8,07%) 23 (14,28%) 7 (4,34%) 7 (4,34%) 369 J.F. POZZI, E.R. KONKEWICZ, B. NORA & L. RODRIGUES Como cirurgias prévias houve 21 meniscectomias (internas e/ou externas), 14 osteotomias tibiais, duas osteotomias femorais, três osteossínteses, dois tratamentos cirúrgicos de instabilidade rotuliana e três toaletes articulares, sendo dois por artrotomia e um por artroscopia. Os modelos de próteses utilizados foram Insall-Burstein I e II, PCA, Biomet, Ortholoc II e Performance TC IV (tabela 4). Em números absolutos encontraram 19 casos de patela baixa e dois de patela alta no pós-operatório. Dentre os 19 casos de patela baixa no pós-operatório, a espessura do polietileno do platô tibial utilizado foi de: entre 5 e 9mm, oito casos; entre 10 e 15mm, 11 casos. Os índices da patela avaliados no pós-operatório e separados de acordo com o modelo de prótese utilizado encontramse na tabela 6. TABELA 4 Modelos de próteses TABELA 6 Índices de altura da patela de acordo com o modelo de prótese Modelo PTJ Número de casos Insall-Burstein I Insall-Burstein II PCA Biomet Ortholoc II Performance TC IV 10 (6,21%) 62 (38,5%) 43 (26,7%) 29 (18,08%) 11 (6,83%) 6 (3,72%) Dentre os 161 joelhos operados, ou seja, das 161 próteses colocadas, em 28 não foi protetizada a patela (não foi utilizado o componente ou botão patelar), conforme mostra a tabela 5. TABELA 5 Modelos de próteses em que não foi utilizado o componente patelar Modelo PTJ Número de casos PCA Insall-Burstein I e II Biomet Ortholoc II 18 (11,18%) 4 (2,48%) 4 (2,48%) 2 (1,24%) Total 28 (17,38%) RESULTADOS Os resultados obtidos estão vinculados unicamente à proposição deste trabalho, ou seja, com relação à altura da patela. Os métodos escolhidos para a medição da altura da patela foram: Caton-Deschamps e Blackburne-Peel. Dessa maneira, os índices encontrados no pré-operatório variaram entre: menor, 0,51; maior, 1,29; média, 0,84. Em números absolutos encontraram-se oito casos de patela baixa e cinco de patela alta no pré-operatório. No pós-operatório, os índices obtidos variaram entre: menor, 0,26; maior, 1,23; média, 0,67. 370 Modelo Insall-Burstein I e II PCA Biomet Ortholoc II Performance TC IV Índices Menor Maior Média 0,26 0,29 0,33 0,54 0,48 1,23 1,18 0,95 1,0 0,72 0,74 0,71 0,62 0,67 0,62 DISCUSSÃO Este trabalho foi realizado com o objetivo de confrontar possíveis inter-relações e modificações da altura da patela, no pós-operatório de próteses totais de joelho, de acordo com o modelo de prótese utilizado. A técnica cirúrgica empregada foi sempre a mesma em todos os pacientes. A única variável dessa rotina foi a opção de usar ou não o componente patelar. A decisão da utilização do componente patelar foi tomada sempre no transoperatório e dependeu da maior ou menor degeneração cartilaginosa patelar. Nos 28 casos em que não foi protetizada a patela, a medição da altura patelar indicou seis casos de patela baixa no pós-operatório; em três destes, a patela já era baixa no préoperatório. Para a medição da altura patelar foram utilizados dois métodos: Caton-Deschamps e Blackburne-Peel, o primeiro para o pré-operatório e o segundo para o pós-operatório. Isso tem uma justificativa. Evidentemente, o ideal seria utilizarse o mesmo método no pré e no pós-operatório. O método de Caton-Deschamps é o mais preciso para a medição da altura da patela, em nosso modo de entender. Porém, em pacientes submetidos à artroplastia total de joelho, a presença do polietileno tanto no botão patelar quanto no platô tibial torna a medição mais difícil e, às vezes, pouco precisa. Dessa maneira, o método de Blackburne-Peel foi o escolhido para o pós-operatório. Essa teoria é apresentada por Philipe DeroRev Bras Ortop _ Vol. 32, Nº 5 – Maio, 1997 A ALTURA DA PATELA EM PRÓTESES TOTAIS DE JOELHO che(12) em sua tese, defendida em 1992 no Serviço do Professor H. Dejour. Entretanto, para não gerar dúvidas, resolveuse medir também a altura da patela no pré-operatório, pelo método de Blackburne-Peel, e não houve diferenças significativas entre os índices. Assim, encontraram-se oito casos de patela baixa e cinco de patela alta no pré-operatório. No pós-operatório os índices modificaram-se para 19 casos de patela baixa e dois de patela alta. Dentre os 19 casos de patela baixa no pós-operatório, estavam os oito casos de patela baixa já encontrados no pré-operatório e os dois de patela alta do pós-operatório estavam incluídos também entre os cinco casos de patela alta no pré-operatório. Dos 19 pacientes que apresentavam patela baixa no pósoperatório, sete eram em próteses Insall-Burstein I e II, cinco em PCA, três em Biomet, dois em Performance TC IV e dois em Ortholoc II. A altura da patela é influenciada, no pós-operatório, por vários fatores. Primeiramente, ela depende da altura da interlinha articular, ou seja, da espessura da ressecção do platô tibial e distal do fêmur, e também da espessura do polietileno do platô tibial que irá compor o conjunto. Desta forma, Dejour, Chambat et al.(6,9,11) concluem que, quanto maior for a ressecção óssea tibial e maior for a espessura do polietileno do platô tibial, mais baixa será a patela, porque a interlinha tende a ser mais alta (sentido proximal). A solução dessa situação é defendida por alguns autores, ao indicarem a ressecção óssea tibial como primeiro passo, antes da ressecção óssea femoral. Outros autores, como Aglietti & Binonapoli(1), dizem que se deve sempre evitar o rebaixamento da patela, porém estimam que a elevação da altura da interlinha articular, através do uso de um platô tibial de polietileno mais espesso, é um preço alto que muitas vezes se paga para obter, em alguns casos, um joelho estável com as estruturas cápsulo-ligamentares periféricas mais tensas. Figgie et al.(13) dizem que a patela baixa ocorre mais freqüentemente nos pacientes que já apresentavam este quadro no pré-operatório. Segundo eles, nesse caso, deve-se adaptar a ressecção óssea ao comprimento do aparelho extensor e posicionar o botão patelar o mais alto possível (proximal). Se isso não é suficiente, ele propõe alongar o tendão patelar. Outros autores defendem a tese de que existem outros dois fatores que predispõem ao rebaixamento da patela: o posicionamento demasiado anterior da peça tibial ou a utilização de uma peça tibial muito pequena no plano sagital. Rev Bras Ortop _ Vol. 32, Nº 5 – Maio, 1997 Para a escola ortopédica de Lyon, que foi uma das primeiras a observar e a estudar o problema da altura da patela nas próteses totais de joelho, a realização da cirurgia em pacientes que já apresentavam patela baixa no pré-operatório só tende a piorar o problema. A posição da patela em relação à interlinha pode ser modificada pela opção biomecânica escolhida. Dessa forma, o sistema que não conserva o ligamento cruzado posterior pode, às vezes, trazer problemas de rebaixamento da patela. Além disso, citam outros fatores predisponentes. Os pacientes que apresentam um flexo pré-operatório importante com intensa retração das estruturas capsulares posteriores necessitam ampla liberação de partes moles e, às vezes, isto não é suficiente, obrigando à ressecção óssea maior. Essa situação leva a aproximação maior das superfícies ósseas e, conseqüentemente, a aparelho extensor mais longo que, em última análise, leva a patela baixa dinâmica. Outro fator importante é que a ressecção transoperatória do ligamento adiposo (gordura de Hoffa) leva a esclerose infrapatelar, com retração do tendão patelar e conseqüente rebaixamento da patela. Um dado interessante do trabalho é que, dentre os quatro índices mais baixos de patela baixa, encontrados no pós-operatório (respectivamente 0,26 – 0,29 – 0,32 e 0,33), em dois deles a espessura do platô tibial era de 15mm e nos outros dois, de 12mm. Os resultados mostram que ocorre, de modo geral, rebaixamento discreto da patela no pós-operatório tardio. Porém, não se pode considerar que as patelas apresentam índices que identificam “patela baixa”. Houve, como já foi citado, aumento de oito para 19 casos de patela baixa e diminuição de cinco para dois casos de patela alta. O restante dos casos enquadra-se em índices normais de altura da patela. Dessa forma, de um total de 161 casos operados ocorreu em 14 oportunidades alteração significativa da altura patelar, o que representa 8,69% dos casos. Não ocorreram casos de pacientes que apresentavam patela baixa no pré-operatório e passaram a ter patela com índice normal no pós-operatório, ou mesmo casos de pacientes que apresentavam patela com índice normal no pré-operatório e passaram a ter patela alta no pós-operatório. Houve casos de discreto aumento na altura da patela, assim como casos de discreta diminuição na altura da patela, e isso representou a grande maioria. Naqueles oito casos que apresentavam patela baixa no pré-operatório, não foi realizado nenhum gesto cirúrgico visando modificar esta alteração, apesar de alguns autores defenderem a necessidade de realizar a osteotomia com elevação da tuberosidade tibial anterior ou, mesmo, o alongamento do tendão patelar. 371 J.F. POZZI, E.R. KONKEWICZ, B. NORA & L. RODRIGUES Na comparação dos diferentes modelos de próteses utilizados, nossos resultados mostram que, em modelos de próteses que conservam o ligamento cruzado posterior, a média geral dos índices de altura da patela tendem a ser inferiores aos modelos que não conservam o ligamento cruzado posterior. Pode ser difícil interpretar esses dados, porque nossa casuística inclui cinco modelos diferentes de próteses, porém somente um deles (Insall-Burstein) não conserva o ligamento cruzado posterior e os outros quatro modelos conservam o ligamento cruzado posterior. De qualquer maneira, em nossa casuística, todos os modelos que conservam o ligamento cruzado posterior (PCA, Biomet, Ortholoc II e performance TC IV) apresentaram médias de índices da altura patelar inferiores às do modelo que não conserva o ligamento cruzado posterior. CONCLUSÃO 1) Os métodos de Caton-Deschamps e Blackburne-Peel parecem ser eficazes na medição da altura patelar no préoperatório e seus resultados são muito semelhantes, porém no pós-operatório das próteses totais de joelho, devido à presença do polietileno do platô tibial e do botão patelar, o método mais eficaz é o de Blackburne-Peel. 2) A utilização do botão protético patelar ou sua não utilização não interfere significativamente na altura da patela no pós-operatório tardio. 3) A altura da patela pode ser alterada de acordo com a espessura da ressecção óssea do platô tibial e da espessura do polietileno de reposição da peça tibial. Quanto maior for a ressecção óssea tibial e quanto maior for a espessura do polietileno tibial, mais baixa será a patela. 4) Nos pacientes que apresentam patela baixa no pós-operatório, há tendência de continuar com patela baixa no pósoperatório, ou até piorar o problema. 5) Dentre os diferentes modelos de próteses utilizados neste trabalho, houve tendência de rebaixamento maior da altura da patela nos modelos de próteses que conservam o ligamento cruzado posterior. 6) A esclerose infrapatelar decorrente da ressecção da gordura de Hoffa, durante o transoperatório, leva a retração do tendão patelar, que em alguns casos pode causar rebaixamento da patela no pós-operatório tardio. 7) Nas artroplastias totais de joelho, independentemente do modelo de prótese utilizado, pode ocorrer com certa freqüência rebaixamento da altura da patela, que não chega a comprometer funcionalmente o sistema extensor e a biodinâmica da prótese, na grande maioria dos casos. 372 REFERÊNCIAS 1. 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