Gestão serviços Entrega planejada Ao oferecer o serviço de entrega das compras dos clientes, supermercados precisam avaliar cuidadosamente o investimento fotos: arquivo POR F ÁBIO DE LIMA A concorrência entre os supermercados está mais acirrada a cada dia que passa. Os consumidores são disputados com preços baixos, bom atendimento, promoções e muitos outros agrados. Essa forma de tratamento dos supermercadistas para com os clientes fez com que os consumidores ficassem mais exigentes dentro e fora das lojas. Eles não aceitam qualquer 48 SuperVarejo | dezembro 2007 tipo de atendimento, pelo contrário: querem conforto dentro do estabelecimento comercial e uma ótima qualidade na venda e pós-venda. O diretor do núcleo de Logística da Fundação Dom Cabral (MG), professor Paulo Resende, lembra que, ao oferecer o serviço de entrega em domicílio, o supermercado tem de considerar muito mais do que apenas levar à casa do cliente o que ele escolheu e pagou na loja. “A distância para a entrega, o tempo que se levará para efetuá-la e, principalmente, o volume de compras a ser entregue precisam ser avaliados com cuidado. Afinal, se cada entrega tiver volume baixo, o custo será muito alto para o supermercado realizar o serviço.” Na opinião do professor de Logística do IBMEC São Paulo, Lars Meyer Sanches, o supermercadista que achar lucrativo oferecer o serviço de entregas em domicílio logo verá que não é bem assim. “Mesmo que os supermercados cobrem uma taxa para a entrega, dificilmente vão ganhar receita com esse tipo de serviço. Pelo contrário, sempre terão de gastar e muito para colocá-lo em prática nas lojas. O ganho virá de outras formas que não dinheiro, como fidelização e imagem. Então, cada supermercadista deve fazer a análise do seu estabelecimento para saber se realmente vale implantar esse serviço.” O Pastorinho, com sete lojas na cidade de São Paulo e 70 anos de tradição, oferece entregas em domicilio há pelo menos 30 anos. “Fidelizar o cliente é a principal razão. Além disso, uma prática desse tipo deixa os consumidores à vontade para comprar mais”, explica o diretor Dinis Dias. Na rede não existe um limite de distância para que as entregas sejam feitas, e sim o bom-senso por parte do representante da loja e do próprio cliente. Desde que a compra não seja de valor inferior a R$ 100, pode ser entregue na casa do comprador sem que o serviço seja cobrado. Se o valor ficar muito abaixo desse limite, costuma ser discutida uma taxa de entrega na hora da venda. “Sempre é possível conversar e deixar o cliente feliz, mas é bom considerar que se a pessoa solicita a entrega, geralmente não gastou pouco. Ela pede exatamente por ter comprado muito e ter alguma dificuldade para levar o que comprou.” ESTRATÉGIA – Com 15 lojas, sendo 3 na capital e 12 no ABC paulista, o Joanin disponibiliza o serviço em toda a rede sem cobrar nada por isso. As entregas são gratuitas numa distância de até 5 quilômetros da loja. Se o percurso for maior, cabe ao gerente de cada estabelecimento conversar com o cliente. “O importante é sempre atender bem e dar o máximo de tranqüilidade ao consumidor na hora das compras”, afirma o gerente de Custos, Manoel Vitor Esplugues. Atualmente os supermercados da rede têm frota própria e também terceirizada para realizar o serviço. É uma estratégia para definir o que, no futuro, será melhor para a empresa. “Ter carros próprios requer investimento e manutenção. Além disso, os funcionários que fazem as entregas normalmente não conseguem fazer outro tipo de serviço dentro da loja. Tudo isso tem de ser levado em conta por parte do supermercadista”, alerta Esplugues. O supermercado que opta por ter uma frota terceirizada, no entanto, enfrenta outros tipos de problemas. É preciso calcular todos os prós e contras para que a decisão não traga prejuízos financeiros ou de imagem. Esplugues ressalta que quem trabalha com frota terceirizada não pode esquecer que o entregador estará representando o supermercado na casa do consumidor. “A forma de se vestir, de tratar Na rede Princesa, taxa de R$ 5 para a entrega, sem limite de distância o cliente, tudo isso pode passar uma imagem boa ou ruim da loja. E nem sempre é possível acompanhar esse trabalho com a devida atenção.” Por último, o gerente de Custos do Joanin explica que diante da demanda do supermercadista, o serviço pode ser oferecido de várias maneiras. Segundo ele, nem todo supermercado precisa ter uma frota própria ou terceirizada – mas precisa facilitar a vida do seu cliente e, assim, ganhar a confiança e o respeito dele. “Acredito ser impossível um supermercado não oferecer o serviço de entregas hoje em dia. Nem todo mundo tem carro para levar suas compras para casa. Então, pode estar entre as opções fazer um convênio com um ponto de táxi. O importante é que o consumidor não se sinta dezembro 2007 | SuperVarejo 49 Eliane Cunha Gestão serviços Na rede Joanin, frota própria e também terceirizada Para oferecer entrega em domicílio nAnalisar a demanda, ou seja, se os clientes precisam mesmo desse tipo de serviço n Iniciar o serviço com um carro e um funcionário e aumentar conforme as necessidades n Considerar distâncias e valores de compra. Se a distância for muito grande, só compensa prestar o serviço se a compra também tiver valor elevado n Definir a taxa de entrega. O importante é que o supermercado esteja aberto à negociação com o cliente n Estipular dias e horários certos. Para o carro de entregas não rodar vazio ou com poucas mercadorias, pode-se estabelecer dias e horários pontuais para o serviço 50 SuperVarejo | dezembro 2007 desamparado pelo supermercado depois que termina suas compras.” No Rio de Janeiro, a rede Princesa, com 15 lojas, sendo sete na própria cidade e oito em municípios próximos, tem no serviço de entrega em domicílio um dos seus diferenciais. “Esse serviço é mais uma forma que os supermercados têm de estar perto do cliente. Essa proximidade cria um vínculo. É vantajoso para quem compra e também para quem vende”, diz o diretor de Marketing, Jorge Rosa. A entrega é quase sempre condicionada ao pagamento de uma taxa de R$ 5, mas a distância não é limitada para se prestar o serviço. O que se valoriza é o bom-senso. “Se o cliente faz uma compra muito grande, cabe ao gerente da loja decidir se deve ou não cobrar uma taxa. Assim como se o cliente mora um pouco mais distante, cabe ao representante do supermercado decidir se a compra deve ser entregue ou não. Mas costumamos não ter qualquer tipo de problema nesse sentido”, comenta Rosa. Alguns lojistas acreditam que os clientes adeptos do serviço de entregas em domicílio são mais idosos. Isso, no entanto, pode ser um erro de avaliação, pois nos tempos atuais todos querem comodidade, independentemente da faixa etária. “O cliente é muito objetivo. Se está sem carro e o supermercado entrega em casa, não tem motivo para carregar sacola.” CUSTOS – Uma saída para diminuir os custos de implantação do serviço apontada pelo professor Sanches, do IBMEC - São Paulo, é determinar dias, horários e itinerários de entrega. É a chamada consolidação temporal. Só assim será possível andar com os carros cheios de mercadoria e não apenas com as compras de um ou dois compradores. “O custo gerado por um carro para entregar um pouco de mercadoria é igual para que seja entregue muita mercadoria. Portanto, sair da loja com carro vazio ou quase vazio, nem pensar. O supermercadista estará jogando dinheiro fora se agir assim.” O Passarelli, rede com oito lojas, sendo seis na região de Andradina, no interior de São Paulo, e duas em Mato Grosso do Sul, planeja bem as entregas. Realiza o serviço em lugares com até 40 quilômetros de distância, sem cobrar nada por isso. Essa comodidade é anunciada nas rádios da cidade e das localidades vizinhas e merece destaque no tablóide do supermercado. “Muitos consumidores vinham de ônibus, de outras cidades, só para fazer compras. Hoje continuam fiéis, apesar da concorrência oferecer também um serviço parecido”, comenta Fábio Rangel, do departamento de Marketing da loja de Andradina. Como as distâncias de algumas entregas são muito grandes, o supermercado faz um planejamento, um roteiro. Desta forma, o cliente recebe suas compras em casa – mas o dia e o horário dependem da localidade e do itinerário dos carros de entrega. “Foi uma forma que encontramos de atendê-los sem com isso multiplicar nossos custos com viagens muito longas. A medida deu certo e hoje fidelizamos nossos clientes, que consideram o serviço eficiente”, explica Rangel. FonteS desta matéria Fundação Dom Cabral: (31) 3589-7346 IBMEC São Paulo: (11) 4504-2400 Supermercado Joanin: (11) 4229-4677 Supermercado Passarelli: (18) 3702-2020 Supermercado Pastorinho: (11) 6972-5400 Supermercado Princesa: (21) 3889-2100 [email protected]