Grande Porto ID: 32317948 15-10-2010 Tiragem: 20000 Pág: 14 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 23,84 x 29,29 cm² Âmbito: Regional Corte: 1 de 3 ANTÓNIO RILO Metade dos pobres do País estão a Norte Estudo∑ Pobreza subiu 25% em apenas um ano, com 1,25 milhões de pobres a residir no Norte Portugal, segundo uma análise do Eurostat, citado num estudo realizado pela Associação Nacional das PME e pela Universidade Fernando Pessoa, continua a ser, em 2010 (Julho), o nono país mais pobre da UE-27 (22 pontos abaixo da média). A Região Norte permanece entre as 30 mais pobres das 254 regiões da UE e a Sub-Região de Trás-os-Montes e Alto Douro, que até 2009 era considerada a mais pobre da UE-27, em 2010 passou a ter como parceira a Sub-Região do Vale do Tâmega. Números do INE indicavam que em 2009 existiam em Portugal dois milhões de portugueses no limiar da pobreza. Em Julho de 2010, os dados apontam para 2 milhões e 500 mil. Só na Região Norte regista-se um milhão e 250 mil pobres, resultado do encerramento de muitas unidades fabris e da falência de outras empresas, que levaram ao despedimento de milhares de trabalhadores; do trabalho precário; do desemprego voluntário (pessoas que não têm acesso ao subsídio de desemprego); dos jovens estagiários, que, quando termina o subsídio dado às empresas (final do estágio), ficam com o posto de trabalho mas com salários mínimos e a “contrato a termo”, ou vão para o desemprego. Mas, se forem somados os indivíduos que recebem o rendimento social de inserção, aqueles que recebem o complemento solidário para idosos e os que têm outro tipo de subsídio, os números crescerão abruptamente – no ano convencionado pela União Europeia para a Erradicação da Pobreza. O MAIOR FOSSO ENTRE RICOS E POBRES É no Norte de Portugal que se verifica o maior fosso entre ricos e pobres, onde convive a prosperidade extrema de poucos com a pobreza exces- Portugal tem neste momento cerca de 2,5 milhões de pessoas no limiar da pobreza siva da grande maioria. Na Área Metropolitana do Porto encontram-se as duas maiores fortunas nacionais, lideradas por Américo Amorim (indústria corticeira) e Belmiro de Azevedo (Sonae), que ocupa a segunda posição. Na região também existem líderes sectoriais e mundiais como a RAR (Refinação de Açúcar), a CIN (produção de tintas e vernizes), a maior associação de grandes empresas do País (AEP) e, ainda, as duas maiores Fundações de Mão-Pública: Fundação de Serralves e Fundação Casa da Música. FRACOS RESULTADOS NA EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO No âmbito da educação e formação, especificamente no que diz respeito à despe- Norte, a região que mais sofre sa pública em percentagem do PIB, Portugal é dos países que mais investem na Educação/Formação (6%). Contudo, mantém resultados aquém do que seria de esperar. Portugal apresenta, quando comparado com os restantes países da UE, uma estrutura de habilitações em que continua a dominar o peso dos níveis de instrução mais baixos, como consequência de défices acumulados de escolarização da população. Embora a situação tenha melhorado, a proporção dos que não possuem um nível superior aos nove anos de escolaridade é bastante elevada na Região Norte. Região em que o abandono escolar é o mais alto do País, com uma taxa de 36% (média nacional 31,6%), e o nível escolar é o mais baixo: apenas 13,8% concluíram o ensino secundário (média nacional 16,8%) em 2009. A análise cruzada das qualificações da população empregada com os níveis de habilitações escolares permite concluir o baixo nível de habilitações literárias em todos os planos de qualificação, o que indicia potenciais dificuldades numa rápida reconversão profissional da generalidade dos trabalhadores. BAIXA ESCOLARIDADE Portugal continua a ser um dos países da UE com recursos humanos pouco qualificados (maior abandono escolar, piores qualificações, maior desemprego e menor desenvolvimento económico), factor que reduz de forma significativa a sua produtividade e competitividade. Segundo o relatório da OCDE divulgado em Setembro de 2010, o aumento da produtividade de um país assenta fundamentalmente na educação/competências da sua população. Dados desse relatório confirmam o estado deficiente do ensino em Portugal. Indicam que Portugal tem a mais baixa escolaridade entre os países da OCDE, o que se deve, essencialmente, ao insucesso escolar e ao abandono escolar precoce. Referem, ainda, que, relativamente aos outros países da OCDE, Portugal apresenta piores resultados educativos nas escolas mais desfavorecidas e uma taxa de repetência das mais elevadas. Face à contracção económica (vivida com maior intensidade no início do ano), a Região Norte é a que mais sofre a nível nacional, por ser a mais pobre. Esta região, que é a mais populosa do país, tem em 2010: * O maior número de pobres (maior número de jovens, idosos e famílias numerosas a viverem na pobreza) – 1 milhão e 250 mil * Os mais baixos níveis de instrução (relacionados em parte com incidências consideráveis de abandono escolar precoce) - abandono escolar precoce na região, 36% - média nacional, 31,6% - média europeia, 14,9% * O mais baixo PIB per capita – 8 mil e 300 euros * O maior número de empresas falidas – 4.983 (45,3% do total de falências) * O maior número de desempregados – 443.063, 242.828 desempregados involuntários+200.235 desempregados voluntários * O maior número de diplomados sem trabalho, maioritariamente jovens – 17.477 (37,3% do total de diplomados sem trabalho do país) * O maior número de professores desempregados ou colocados precariamente – 1.106 (45,3% do total de professores desempregados ou colocados precariamente do país) * O maior número de toxicodependentes – 13.903 (36,2% do total de toxicodependentes do país) * O maior número de beneficiários do Subsídio de Desemprego – 128.555 (36,6% do total de beneficiários do país) * As mais baixas pensões * O maior número de beneficiários do Complemento Solidário para Idosos (CSI) – 83.167 * O maior número de beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI) – 165.144 (42,4% dos beneficiários do país) * O maior número de consumidores excessivos de álcool – 777.600 (43,2% dos consumidores excessivos de álcool do país) * As sub-regiões mais pobres de Portugal e da U.E-27, o Tâmega e Trás-os-Montes e Douro, sendo tipicamente rurais, têm recebido investimento do Estado e dos empresários praticamente nulo Grande Porto ID: 32317948 15-10-2010 Tiragem: 20000 Pág: 15 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 24,10 x 29,35 cm² Âmbito: Regional Corte: 2 de 3 Maior risco de pobreza entre os desempregados ALFREDO BARBOSA * Então, “just do it!” Trabalho ∑ Entre 2005 e 2010 perderam-se 350 mil empregos, a maioria no Norte Entre 2005 e 2010, saíram do mercado nacional 244.616 empresários. No conjunto, perderam-se 350.000 empregos e a Região Norte é a mais afectada, dado possuir maior número de PME. Relativamente aos desempregados, entre 2007 e 2008, o INE divulgou que a taxa de risco de pobreza era de 35%. Mas estes dados não traduzem a verdadeira dimensão da pobreza neste sector da população, constituída por todos aqueles que perderam o emprego e que está crescer de uma forma acelerada. Com o agravamento do número de desempregados registado em Julho deste ano, a taxa de risco de pobreza entre os desempregados é agora muito superior, rondando os 46 %. A SUB-REGIÃO MAIS POBRE DA UE-27 O Tâmega, com uma população residente de 560.782 pessoas, apresenta 70 901 pessoas com mais de 65 anos; 33 194 desempregados (involuntários); uma redução de mais de 9 000 empresas no período 20052007, em 2010, o número atingido é superior a 12 000 empresas; um PIB per capi- ANTÓNIO RILO ta de 4 mil e 200 euros, inferior à média nacional e a todas as regiões do país. O Tâmega é, realmente, a sub-região mais pobre do País e da UE-27, afectada principalmente pelo desemprego, que tem vindo a crescer nos últimos cinco anos. DÉFICE ORÇAMENTAL ACIMA DE 10% DO PIB As razões da pobreza e do desemprego crescentes apontadas pelo estudo são as seguintes: 1 - Falta de democraticidade interna dos partidos políticos, com a qual recorrentemente emergem políticos sem qualificações e que prejudicam o siste-ma democrático, nos aspectos elementares de transparência e imparcialidade; máquina e aparelhos partidários fomentam a corrupção e tráfico de influências. 2 - Justiça legalmente politizada, permissiva da inimputabilidade dos agentes em exercício institucional, prejudicando a independência dos tribunais, dos magistrados e subvertendo o direito. 3 - Concertação Social dependente de subsídios públicos, situação e fac- Recurso à solidariedade social cresce a olhos vistos to que relevam a sua pouca representatividade face aos filiados que dizem representar e que permitem a aprovação de legislação laborossocial estratégica que condiciona, depois, na prática, o crescimento e o emprego; 4 - 14.000 entidades públicas e parcerias público- Mais de 90 mil milhões O endividamento de Portugal tem vindo a crescer muito, segundo o estudo: privadas, que se alimentam directamente do Orçamento Geral do Estado, de entre as quais se identificam: - 340 Fundações de MãoPública; - 379 Institutos Públicos, - 537 Empresas MuniciPais; - 1.000 Sociedades Empresariais do Estado que não dão receita para pagamentos da despesa; 5 - Défice orçamental acima de 10% do PIB; 6 - Dívida Pública igual a 112% do PIB e endividamento privado igual a 75% do PIB; 7 - Carga fiscal representando 45% do PIB; 8 - Baixa produtividade das PME - 30% em relação à média europeia; 9 - Baixo nível de crescimento económico -3% em 2009 e -2,3% (+0,7%/2009) em 2010; 10 - Baixíssima competitividade da nossa economia – incapacidade competitiva para exportar; 11 - Longa divergência real no seio da U.E, com défices e endividamentos excessivos, comprometedores da nossa credibilidade externa; 12 - Incumprimento dos programas de estabilidade e crescimento apresentados à CE para equilíbrio do défice orçamental, a que não será alheia a total impossibilidade de o fazer descer, até ao último dia deste ano, para o nível de 7,3% - situação que, a verificar-se, irá agravar a desigualdade social e a pobreza, face à necessidade de aumentar, ainda mais, a insuportável carga fiscal já existente. ENDIVIDAMENTO EM MILHÕES DE EUROS 2008.......................................................................21.751 2009......................................................................28.925 2010 ......................................................................42.363 Total......................................................................93.039 Em dois anos, o aumento da dívida portuguesa quase quintuplicou. O ESTUDO Requerente: Comissão Europeia, no âmbito da consulta com vista à designação em 2012 do Ano da Solidariedade entre Gerações, Emprego e Assuntos Sociais. Fecho: Julho deste ano. Realização: Associação Nacional das Pequenas e Médias Empresas e CECLICO – Centro de Estudos Culturais, da Linguagem e do Comportamento da Universidade Fernando Pessoa. Investigadores: Manuela Coutinho (UFP) e Maria dos Anjos Matos (Centro Estatístico da ANPME). O que o estudo da ANPME-UFP propõe é algo de imenso – e tão irrecusável como difícil de concretizar: eliminar cinco mil organismos públicos; reduzir o número de Ministérios e Secretarias de Estado; fazer cortes orçamentais na despesa corrente do Estado; reduzir o IRC para 20%, a taxa da contribuição patronal para a Segurança Social em 7,75%, a taxa máxima de IRS para 35% (ajustando-se proporcionalmente todos os demais escalões); manter a taxa de IVA, por um ano, em 21%, para garantir o equilíbrio orçamental; promover (urgentemente) um sistema fiscal amigo do investimento e do emprego, assim como (imediatamente) lançar investimento público em pequena escala e diversificado por todas as regiões de convergência, designadamente, Norte, Centro, Alentejo e Açores. Já se percebeu não ser possível resolver o problema da dívida pública através da “carga fiscal sobre as empresas e famílias” (o que conduziu” as primeiras ao encerramento e as segundas ao desemprego e pobreza”). Parece irrefragável a opção por vastos cortes orçamentais. O líder do PSD estará, realmente, disposto a fazê-los e a mandar para casa milhares de correlegionários que se têm abrigado sob o incomensurável guarda-chuva estatal (com os do PS)? Engels ensinou-nos que um grama de acção vale por uma tonelada de teoria. Antes e depois do teórico comunista, outros afirmaram que os mitos de ontem não devem ser obstáculo quando se trata de avaliar as necessidades de hoje. Era o Zoot, o saxofonista dos “Marretas”, que, em situações complexas, dizia não haver nada a fazer, senão fazê-lo. Então, “just do it!”. Passe a publicidade à Nike. * Consultor e docente da UFP Grande Porto ID: 32317948 15-10-2010 Tiragem: 20000 Pág: 1 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 18,32 x 9,59 cm² Âmbito: Regional Corte: 3 de 3 ESTUDO ENCOMENDADO PELA UNIÃO EUROPEIA REVELA NÚMEROS PREOCUPANTES ALERTA VERMELHO 1,25 MILHÕES DE POBRES NA REGIÃO NORTE ∑ Vale do Tâmega, Trás-os-Montes e Alto Douro os mais pobres da Europa AUGUSTO MORAIS, PRESIDENTE DA ANPME "ESTAMOS PIOR DO QUE A GRÉCIA" Dirigente associativo acusa governos de não falarem verdade / PÁGS 16 E 17 / PÁGS 14 E 15