Brasília, 22/09/2009
Crise pode afetar o futuro dos mais pobres
Má nutrição, mais mortes de crianças e aumento no trabalho infantil são os
impactos da turbulência econômica em longo prazo, diz
estudo
FÁBIO BRANDT
da PrimaPagina
http://www.pnud.org.br/pobreza_desigualdade/reportagens/index.php?id01=33
13&lay=pde
Diminuição da renda familiar, aumento do desemprego e da
desigualdade de renda em países em desenvolvimento são
efeitos da crise econômica que agravam a pobreza e freiam
o desenvolvimento humano, afirma artigo do CIP-CI
(Centro Internacional de Políticas para o Crescimento
Inclusivo) – órgão mantido pelo PNUD em parceria com o
governo brasileiro. Algumas dessas consequências podem
trazer prejuízos no desenvolvimento humano não apenas no
presente, mas também no futuro.
Íntegra do artigo
“A crise econômica mundial
freia o desenvolvimento
humano. Como?”, texto do
pesquisador Degol Hailu
publicado em setembro de
2009. Disponível em inglês.
Uma das razões para esse efeito, de acordo com o texto do
economista Degol Hailu, é o fato de que a queda de renda
entre os mais pobres deve gerar má nutrição entre as
crianças, afetando as capacidades de aprendizado e cognição. O artigo elenca estudos do
Banco Mundial que mostram que, só na África, é provável que de 30 mil a 50 mil crianças
morram por consequências da crise.
Por causa do choque econômico, pobres também podem tirar suas crianças da escola para
que elas trabalhem complementando a renda, o que geraria um prejuízo futuro na
educação, fazendo com que essas pessoas tivessem menos chances de sair da pobreza ao
chegar à vida adulta.
O pesquisador toma como exemplo desses efeitos a África. Com a queda projetada no
comércio internacional, as economias do continente deverão sofrer perdas de US$ 251
bilhões por causa do declínio em suas exportações e da queda do preço das commodities produtos agrícolas ou minerais sem transformação. Além disso, os países africanos já
perderam parte da ajuda internacional (Irlanda e Itália, por exemplo, cortaram suas as
remessas ao continente em 10% e 65%, respectivamente) e tiveram sua participação no
turismo mundial reduzida (eles receberam 20% do total de visitas em 2007 e apenas 4%
em 2008).
Esses danos ocasionados aos países em desenvolvimento pela recessão explicam, segundo
o pesquisador, a estimativa da ONU de que 103 milhões ficarão pobres ou não conseguirão
escapar da pobreza por causa da crise.
Ciclo perverso
No início de uma crise, argumenta Hailu, o desemprego (que deve aumentar 0,6% no
mundo, em 2009, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho) atinge
principalmente os mais pobres e menos especializados. Em contrapartida, essas pessoas
são as últimas conseguir emprego quando a estabilidade retorna e estão sujeitas a
atividades informais, com segurança no trabalho e proteção legal comprometidos.
O retorno de emigrados, outra decorrência da crise, piora o quadro de desemprego em
algumas localidades, o que agrava também índices locais de pobreza, considera o autor. A
maior disponibilidade de mão-de-obra deve fazer com que caia o nível dos salários desses
locais.
Já a diminuição do auxílio internacional aos países em desenvolvimento, expõe o artigo,
pode fazer com que famílias percam renda e, por isso, vendam seus meios de produção
(como terra e animais) e retirem suas crianças da escola para trabalhar.
Por fim, a crise pode também piorar a distribuição de renda, expõe o artigo, porque os
grupos com maior renda podem usar suas economias para minimizar os impactos que
sofrem, enquanto os com menor renda não dispõem de reservas nem de benefícios para
superar o período, argumenta o pesquisador.
Recomendações
As medidas de curto prazo para contornar esses prejuízos, sugere o documento, devem ser
dirigidas às pessoas mais pobres, afetadas mais fortemente pela recessão porque não
possuem meios de enfrentá-la. Segundo o texto, deve-se subsidiar o consumo de itens
vitais (como alimentos), manter gastos com infraestrutura e proteger empregos e renda,
intensificando programas sociais como os de transferência de renda.
No longo prazo, “é preciso é uma estratégia para transformar as estruturas econômicas e
sociais”, recomenda o autor, explicando que “políticas nacionais e instituições determinam o
curso do desenvolvimento. Mas a vulnerabilidade das economias à crise é largamente
determinada por sua posição na hierarquia da produção e distribuição da economia global”.
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