IGUAIS À NASCENÇA
SÍNTESE executivA
A MAIOR PROMESSA do MUNDO
Durante mais de meio século muitos dos que
trabalham na área do desenvolvimento lutaram por
aliviar as formas mais extremas de pobreza e privação.
Os esforços de doadores multilaterais e bilaterais,
bem como de organizações não-governamentais
(ONGs) têm centrado a sua acção em ajudar as
pessoas mais pobres do mundo a acederem a bens e
serviços básicos para a sobrevivência – comida, água
potável, instalações sanitárias, abrigo e educação.
Um dos pontos culminantes da luta contra a pobreza
teve lugar em 2000 na Cimeira do Milénio, quando os
líderes mundiais lançaram as bases para os Objectivos
de Desenvolvimento do Milénio (ODMs). Este quadro
de oito objectivos visa erradicar a pobreza e a fome
extremas, alcançar a educação primária universal,
reduzir a mortalidade infantil e promover a igualdade
de género e a capacitação das mulheres, entre outros
objectivos, até 2015.
Descritos como “a maior promessa do mundo”,1 os
ODMs são “um acordo global de redução da pobreza
para taxas historicamente sem precedentes através
de uma acção global colaborativa.” 2 e constituem em
grande medida uma história de sucesso. Em resultado
dos ODMs, durante a última década o mundo
testemunhou um avanço inaudito. Milhões de crianças
puderam frequentar a escola pela primeira vez, sendo
dada uma oportunidade na vida a muitas delas.
Entre 1990 e 2012, pela primeira vez desde que
se começaram a monitorizar as tendências globais
da pobreza, o número de pessoas em situação de
pobreza extrema diminuiu de quase 2 mil milhões
de pessoas para menos de 1,3 mil milhões.3 Se
os dados preliminares se confirmarem, o mundo
talvez tenha já cumprido o primeiro dos ODMs – a
saber, reduzir para metade a proporção de pessoas
que vivem com menos de $1,25 dólares por dia –
antecipando o prazo de 2015. Deparamo-nos com
uma oportunidade histórica única: podemos erradicar
a pobreza absoluta e as piores formas de privação no
espaço de uma geração.
A mortalidade infantil está também a diminuir. Em
2011, a mortalidade dos menores de cinco anos
ficou-se nos 6,9 milhões – tendo descido dos
12 milhões em 1990. Ainda que estejamos apenas
a meio caminho de cumprir o objectivo da
mortalidade infantil, a taxa de evolução da redução
de mortes entre os menores de cinco anos mais
do que duplicou na década de 2000.4
IGUAIS À NASCENÇA
UM ÂNGULO MORTO NOS ODMs
No entanto, o progresso global em muitas frentes
mascara enormes disparidades. Quando procedemos
à desagregação das médias nacionais de redução
da pobreza, de fome, de mortalidade infantil ou de
educação entre ricos e pobres, entre áreas urbanas e
rurais, ou por grupos étnicos ou géneros, podemos
observar que alguns indivíduos e grupos estão a ficar
muito para trás.
Por exemplo, em Madagáscar – que assistiu a um
decréscimo em massa da mortalidade nos menores de
cinco anos entre o final da década de 1990 e meados
da década de 2000 – descobrimos que os ganhos
alcançados na redução da mortalidade infantil se
tinham concentrado de um modo desproporcionado
nos que se encontravam entre os 20% mais ricos.
Enquanto a mortalidade infantil entre os 20% mais
ricos diminuiu de 142 para 49 por 1.000 nados vivos,
os 20% mais pobres observaram um avanço menor,
com um decréscimo modesto de 195 para 101
por 1.000 nados vivos. Esta história de progressos
desiguais na mortalidade infantil, para além das
hipóteses de sobrevivência das crianças, é replicada
em muitas outras áreas – desde a nutrição à educação
– comprometendo a oportunidade de as crianças
realizarem plenamente o seu potencial.
Neste relatório, a Save the Children defende
que procurar soluções para a desigualdade
será crucial para acelerar o progresso no
sentido de se alcançarem os ODMs e de se
cumprir a promessa de erradicar a pobreza extrema
a nível global.
Mas quando vista pelas lentes de uma criança, podemos
observar que reduzir a desigualdade é em si
mesmo um objectivo importante que deve surgir
reflectido enquanto objectivo em qualquer quadro
de trabalho posterior a 2015. As desigualdades que
afectam o agregado familiar onde a criança cresce
podem resultar numa desigualdade de oportunidades
para essa criança. Por causa da idade particular em
que as crianças se encontram, as desigualdades vividas
durante a infância podem ter efeitos físicos, psicológicos
e de oportunidade ao longo do resto das suas vidas.
Este relatório reforça o imperativo de agir e
demonstra que é este o momento, se quisermos
evitar que futuras gerações paguem o preço da
desigualdade. Uma convergência em aliviar
2
as formas de pobreza absoluta tem de ser
acrescida de um compromisso comum em
combater as desigualdades de oportunidades e
de resultados. As discussões sobre o pós-2015
representam uma oportunidade para dar a
ver abordagens bem-sucedidas de combate à
desigualdade, ao mesmo tempo que uma meta
global quanto às reduções da desigualdade
ajudaria a galvanizar avanços. Isto vai não só
salvaguardar e basear-se nos progressos das últimas
décadas, como pode também ajudar a impulsionar
e a manter o crescimento económico, dado que a
desigualdade e uma economia rica e inclusiva estão
intimamente ligadas entre si.
A DESIGUALDADE ENTRE PAÍSES
E NO SEU INTERIOR
A desigualdade é uma questão complexa. Pode
manifestar-se através de diferentes dimensões sociais,
políticas e económicas – e é possível viveremse desigualdades em termos de rendimento, de
cobertura dos cuidados de saúde, de representação
política ou de acesso ao ensino. E as desigualdades
são visíveis a muitos níveis diferentes – por exemplo,
do mesmo modo que existem desigualdades entre
pessoas e grupos, há desigualdades de rendimento
entre países. Uma pessoa a viver na pobreza nos
EUA tem oportunidades de vida bastante melhores
do que uma pessoa nascida na pobreza da Índia – é a
chamada lotaria da vida.
A abordagem do desenvolvimento dos ODMs
procurou remediar um dos aspectos da desigualdade
– as grandes variações de riqueza nacional entre
países e a sua capacidade de financiarem serviços
sociais. Encorajou os países desenvolvidos mais ricos
a prestarem uma assistência – a ajuda externa ao
desenvolvimento (AED) – que permita aos países
mais pobres satisfazer as necessidades básicas das
suas populações, especialmente das pessoas mais
pobres e vulneráveis.
A Save the Children acredita que a AED desempenhou
um importante papel no incremento do ritmo de
desenvolvimento.5 Esta provou ser um investimento
vital sempre que os países não possuíam recursos
para proteger e cuidar dos seus cidadãos, e ajudou
países a desenvolverem infra-estruturas e
capital humano.
RAZÕES PARA A DESIGUALDADE
SER AGORA MAIS IMPORTANTE
DO QUE NUNCA
O mundo e, particularmente, a distribuição da
pobreza no mundo alteraram-se profundamente nas
duas últimas décadas. Em 1990, a grande maioria
– 93% – das pessoas em situação de pobreza no
mundo vivia em países de baixo rendimento. Hoje
em dia, apesar de as desigualdades entre países
permanecerem elevadas,6 mais de 70% das pessoas
mais pobres do mundo – até mil milhões –
vivem em países de rendimento médio.7
Nestes países o desafio não são apenas os altos
níveis de pobreza absoluta – a qual em muitos casos
tem conhecido taxas de declínio surpreendentes
– como também a pobreza relativa (pela qual
mesmo aqueles acima da linha de pobreza absoluta
não têm rendimento suficiente para disporem de
bens essenciais como comida, cuidados de saúde
e educação de qualidade). Simultaneamente, as
populações situadas nos 10% mais ricos desfrutam
de uma rápida acumulação de riqueza, com o
consequente efeito de surgirem enormes diferenças
entre ricos e pobres.
Diminuir a pobreza absoluta nestes países é cada vez
mais uma questão de como partilhar os benefícios do
crescimento de um modo mais eficaz e de minimizar
as diferenças cada vez maiores entre ricos e pobres.
Além disso, há provas crescentes que demonstram
que a redução da desigualdade representa uma
oportunidade para impulsionar o crescimento
económico.8 De acordo com o FMI, há evidências
recentes que “tendem a favorecer a noção de que
prestar atenção à desigualdade pode trazer benefícios
significativos para o crescimento a mais longo prazo” 9
VAMOS TERMInAR AQUILO
QUE INICIÁMOS
Diminuir estas diferenças será crucial para
acelerar o progresso no sentido de se terminar
aquilo que iniciámos com os ODMs em
2000 e erradicar a pobreza a nível global. Ao
mesmo tempo que a comunidade internacional deve
prosseguir o combate às desigualdades entre países,
o combate às gritantes desigualdades crescentes no
interior dos países será uma das estratégias mais
eficazes e vigorosas para cumprir os objectivos de
desenvolvimento internacional, e que irá remover
este obstáculo que impede que o progresso seja
partilhado e mais rápido.
SÍNTESE executivA
Todavia, com um número muito maior de pessoas
mais pobres a viverem actualmente em países de
rendimento médio, surgem questões sobre se os
esforços para reduzir desigualdades entre países
devem ser acrescidos – juntamente com um foco
na redução da desigualdade no interior dos países.
No sentido de acabar aquilo que iniciámos, o mundo
vai precisar de combater as desigualdades flagrantes
que actualmente separam os que tudo têm dos que
nada têm. Por exemplo, uma abordagem equitativa
que se concentre nos desafios que se colocam às
pessoas mais pobres do mundo pode potencialmente
evitar cerca de 60% mais mortes entre os menores de
cinco anos por cada milhão de dólares investidos em
cuidados de saúde públicos para crianças do que as
actuais estratégias.10
Erradicar a pobreza a nível global vai depender,
em grande medida, das tendências em termos de
desigualdade e da distribuição de recursos no interior
dos países que albergam actualmente a maioria
dos extremamente pobres do mundo. O quadro
de trabalho do desenvolvimento global precisa de
ser ajustado de modo a reflectir esta mudança; tem
de incentivar melhorias em termos das principais
desigualdades e acompanhar os progressos em
todos os grupos sociais.
Para o mundo actual, combater a desigualdade
é um desafio proeminente que se coloca ao
desenvolvimento por ter ficado demonstrado
que as crescentes disparidades de rendimento
comprometem o desenvolvimento económico,
deterioram os resultados do bem-estar e prejudicam
os resultados mais amplos de redução da pobreza.
Há, contudo, mais uma razão de peso pela qual a
Save the Children acredita que a questão desigualdade
é importante. Nos próximos anos, um mundo
mais ou menos igual vai ser determinante para
as perspectivas de qualquer criança ter iguais
oportunidades de sobreviver e se desenvolver.
3
IGUAIS À NASCENÇA
APRESENTAÇÃO DO ReLATÓRIO
Este relatório analisa o modo como, não obstante
os grandes avanços realizados na redução da
pobreza e para alcançar os ODMs, a desigualdade
crescente em muitos países durante as últimas
duas décadas tem impedido um progresso maior, e
descreve como alguns países – através de políticas
e intervenções comprovadas – conseguiram reduzir
grandes desigualdades e providenciar resultados
melhores para as suas crianças, lançando bases
mais sólidas para o futuro. O relatório começa por
fornecer uma visão geral dos progressos realizados
para alcançar os ODMs, e analisa um dos seus
principais ângulos mortos – a desigualdade – a
qual, defendemos nós, bloqueou prematuramente
as oportunidades de avançarmos mais na redução
da pobreza e na melhoria do bem-estar da criança,
especialmente em países onde a desigualdade é
mais prevalecente.
O Capítulo 1 deste relatório explica a razão pela
qual as crianças são particularmente vulneráveis aos
efeitos nocivos da desigualdade, defendendo que,
por causa da idade particular em que se encontram,
as privações de curto prazo (resultantes de
grandes desigualdades) ou os efeitos psicossociais
das grandes disparidades experimentadas durante
a infância podem ter consequências para toda a
vida. Uma dieta pobre durante a fase inicial de
desenvolvimento – os mil dias entre o início da
gravidez da mulher e o segundo aniversário do seu
filho/a – tem sido comprovado que conduz a défices
de aprendizagem e de memória, a um desempenho
escolar inferior, e a problemas comportamentais na
infância e na adolescência.10
Para além destas formas mais extremas de privação,
as disparidades podem ter outro tipo de impactos
nocivos sobre as crianças. As percepções de
um estatuto inferior podem refrear a ambição e
limitar o sentimento de auto-estima das crianças,
o qual é agravado pelos aumentos em termos
de desigualdade.
4
A investigação baseada nos dados do estudo ‘Vidas
Jovens’ no Peru descobriu que as crianças com um
bem-estar subjectivo mais baixo – neste caso a
percepção de serem pouco respeitadas – tinham
um desempenho cognitivo inferior.11 O impacto
das desigualdades no início da vida pode estar
relacionado com um desempenho e capacidades
divergentes em fases posteriores da vida.12
Apesar de as crianças serem as mais duramente
atingidas pelos efeitos nocivos da desigualdade,
nenhuma das circunstâncias desiguais, nem a falta
de oportunidades nos agregados familiares em
que elas nascem são uma escolha ou ‘culpa’ delas.
Defendemos que combater a desigualdade é crucial
para assegurarmos que as crianças começam a
vida da melhor maneira possível.
O Capítulo 2 analisa o modo como as crianças
são mais afectadas pela desigualdade do que a
população em geral – tendo por base a análise
quantitativa da desigualdade de rendimento em
32 países de rendimento baixo e médio. O relatório
avalia em seguida os efeitos que a desigualdade tem
sobre os resultados do desenvolvimento infantil
(Capítulo 3) tendo por base oito estudos de caso
conduzidos por esta investigação, em parceria
com instituições locais de investigação, no Brasil,
Canadá, China, Gana, Índia, Indonésia, Nigéria
e Grã-Bretanha.
O Capítulo 4 analisa as políticas e as intervenções
que conseguiram ter êxito na redução das
desigualdades e em providenciar melhores
resultados para as crianças. O relatório termina
com quatro recomendações que tiram partido
da grande oportunidade apresentada pelo quadro
de trabalho pós-2015, e apela à comunidade
internacional para que coloque a desigualdade em
lugar cimeiro e central.
Apesar de as crianças serem mais duramente atingidas
pela desigualdade, tem-se prestado muito pouca
atenção à medição da desigualdade entre as crianças.
A nova pesquisa que levámos a cabo para este
relatório ajuda a colmatar esta lacuna.
A nossa análise dos dados examina as diferenças entre
as crianças mais pobres e as mais ricas em termos
de uma medida que elaborámos como ‘rendimento
efectivo disponível por criança’ – ou seja, qual o
rendimento que se encontra ‘disponível’ para os
agregados familiares gastarem com cada criança
e portanto até que ponto elas estão capazes de
aproveitar oportunidades (ver Caixa 4 na página 14
para mais detalhes). Descobrimos que, nos 32 países
que estudámos, uma criança nos 10% de
agregados familiares mais ricos tem 35 vezes
mais rendimento efectivo disponível do que
uma criança nos 10% de agregados familiares
mais pobres.13 As diferenças entre as crianças
mais pobres e as mais ricas são consideravelmente
maiores do que as diferenças entre adultos, sugerindo
que as crianças experimentam um efeito ampliado
da desigualdade.
E as diferenças estão a aumentar. Desde a década de
1990, na globalidade dos 32 países que estudámos, os
rendimentos efectivos disponíveis das crianças que
pertencem aos 10% mais pobres de facto diminuíram
proporcionalmente ao PIB, enquanto os das crianças
que pertencem aos 10% mais ricos aumentaram.
Isto significa que o fosso entre as crianças mais
ricas e as mais pobres cresceu em 35% desde
a década de 1990, o período de tempo utilizado
para monitorizar os progressos no cumprimento
dos ODMs.
QUAIS SÃO OS EFEITOS DA
DESIGUALDADE SOBRE AS CRIANÇAS?
Sabemos que as crianças sofrem de uma desigualdade
acrescida e que são mais vulneráveis aos seus efeitos
nocivos por estarem numa face particular da sua vida.
Mas quais são os efeitos da desigualdade sobre os
resultados em termos de desenvolvimento infantil?
Para que pudéssemos compreender melhor os
efeitos da desigualdade sobre as crianças, analisámos
a incidência da desigualdade sobre uma série de
resultados referentes à saúde, à nutrição e à educação
em oito países de diferentes regiões do mundo e com
diferentes níveis de rendimento: Brasil, Canadá, China,
Gana, Índia, Indonésia, Nigéria e Grã-Bretanha.
Descobrimos que diferentes desigualdades – variando
desde desigualdades de riqueza às espaciais, rurais
e urbanas, e a nível do género – têm um impacto
dramático sobre a saúde, o estado nutricional e a
educação das crianças. Por exemplo, as taxas de
mortalidade infantil entre as crianças mais
pobres mais do que duplicam em países com
uma elevada desigualdade de rendimentos como a
Nigéria. As taxas de atrofiamento podem ser
seis vezes mais elevadas nas zonas rurais do
que nas urbanas em países com desigualdades
espaciais elevadas e com uma grande divisão
entre populações rurais e urbanas – por exemplo, a
China. A desigualdade de género ainda é fortemente
responsável pelos resultados educativos inferiores
das raparigas. Na Indonésia, a proporção de mulheres
iletradas é o dobro da dos homens, e o número de
raparigas que nunca se matricularam nas escolas é
três vezes superior ao dos rapazes. Na Nigéria, a taxa
de matrícula das raparigas era de 44%, enquanto a dos
rapazes era de 56%.
SÍNTESE executivA
DESIGUALDADE: DUAS VEZES
MAIOR ENTRE CRIANÇAS DO QUE
NA POPULAÇÃO EM GERAL
O QUE PODE SER FEITO?
Será que as grandes e crescentes diferenças nas
oportunidades de vida das crianças são uma
componente lamentável mas inevitável do nosso
mundo? O facto de os níveis e as tendências em
termos de desigualdade serem bastante diferentes
entre vários países e regiões revela-nos que a pobreza
e a desigualdade não são ‘naturais’ ou inevitáveis. As
diferenças de trajectória e de ritmo de progresso
deixam claro que os efeitos da desigualdade podem,
ou não, ser geridos. As decisões políticas a nível
nacional podem fazer toda a diferença.
Por exemplo, alguns países usufruíram de um
crescimento impressionante juntamente com
reduções em termo de desigualdade, com impactos
positivos sobre a vida dos seus cidadãos. Como
demonstramos no Capítulo 4 deste relatório, o
rápido crescimento económico do Brasil tem sido
acompanhado por uma quebra na desigualdade
de rendimentos do país (nos anos de 2000-08, os
rendimentos dos 20% mais pobres cresceu a uma
5
IGUAIS À NASCENÇA
taxa média anual de 6% por comparação com
2% para os 20% mais ricos14), juntamente com
uma redução dramática da pobreza e melhorias no
bem-estar das crianças.
Este relatório reforça este imperativo de agir e
demonstra que é este o momento – se quisermos
evitar que futuras gerações paguem o preço da
desigualdade. Uma abordagem equitativa
para alcançarmos a nível internacional os
objectivos de desenvolvimento acordados
vai acelerar os progressos no sentido de
erradicarmos a pobreza extrema a nível
global. Para além disto, um compromisso
comum por parte dos governos nacionais e
da comunidade internacional no combate à
própria desigualdade vai assegurar maiores
oportunidades para as crianças e o bem-estar
infantil. Isto vai não só salvaguardar e acelerar
os progressos das últimas décadas no sentido
da erradicação da pobreza, como pode ajudar a
impulsionar e a manter o crescimento económico,
dado que a desigualdade e uma economia rica e
inclusiva estão intimamente ligadas entre si.
Na conclusão deste relatório expomos quatro
recomendações. Concentramo-nos na enorme
oportunidade que representa o quadro de trabalho
após 2015 e apelamos à comunidade internacional
6
para que coloque a desigualdade em lugar cimeiro e
central. Nesse sentido, exigimos metas que aspirem
incluir toda a gente, erradicando assim a pobreza
absoluta e a mortalidade infantil evitável. Exigimos
que todas as metas sejam claramente desagregadas
para que assim o progresso equitativo possa ser
monitorizado e possamos assegurar que as pessoas
mais pobres e mais vulneráveis, em particular as
crianças, não são esquecidas. E para enfrentar
o desafio colocado pelas crescentes diferenças
de rendimento exigimos uma meta referente à
desigualdade de rendimentos.
Pedimos à comunidade internacional que
proporcione as condições que permitam combater
as desigualdades, como seja a partilha de experiências
sobre quais os tipos de políticas sociais e económicas
que podem ajudar a diminuir a desigualdade. Do
mesmo modo, um mecanismo robusto de prestação
de contas (com uma função de recolha de dados) e
planos de investimento equitativos serão essenciais
para que o quadro de trabalho se torne uma realidade
em todos os países.
A concretização destas recomendações irá ajudar
a melhorar as hipóteses de vida desta geração de
crianças. E dará início a um processo de redução de
outras formas de desigualdade – melhorando a vida e
as perspectivas de gerações vindouras.
Notas
Hulme, D (2009) The Millennium Development Goals (MDGs): A short
history of the world’s biggest promise. BWPI Working Paper, University of
Manchester. http://www.bwpi.manchester.ac.uk/resources/Working-Papers/
bwpi-wp-10009.pdf
1
Hulme, D (2009) The Millennium Development Goals (MDGs): A short
history of the world’s biggest promise, BWPI Working Paper, University of
Manchester. http://www.bwpi.manchester.ac.uk/resources/Working-Papers/
bwpi-wp-10009.pdf
2
Chen, S, e Ravallion M (2012) An Update to the World Bank’s Estimates
of Consumption Poverty in the Developing World, Banco Mundial. http://
siteresources.worldbank.org/INTPOVCALNET/Resources/Global_
Poverty_Update_2012_02-29-12.pdf
3
De acordo com o Relatório de 2012 ‘Levels and trends in Child
Mortality’ [‘Níveis e tendências na Mortalidade Infantil’] pelo Grupo de
Inter-Agências da ONU para a Estimativa da Mortalidade Infantil: “A taxa
anual de redução da mortalidade nos menores de cinco anos acelerou –
passando de 1.8 (1.7, 2.1) por cento ao ano durante 1990–2000 para
3.2 (2.5, 3.2) por cento durante 2000–2011—mas permanece insuficiente
para se alcançar o ODM 4.” Grupo de Inter-Agências da ONU para a
Estimativa da Mortalidade Infantil (2012) Levels & Trends in Child Mortality,
Report 2012, New York. http://www.childinfo.org/files/Child_Mortality_
Report_2012.pdf
4
Por exemplo, ver Save the Children (2012) Progress in Child Well-Being,
publicado com o ODI e a UNICEF. Save the Children: Londres.
5
Milanovic, B (2010) The Haves and the Have-Nots: A brief and idiosyncratic
history of global inequality, Basic Books; Milanovic, B (2005) ‘Global inequality
recalculated and updated: the effect of new PPP estimates on global
inequality and 2005 estimates.’ Journal of Economic Inequality 10, no. 1
(2012): 1–18; Milanovic, B (2008) Worlds Apart: Measuring international and
global inequality, Princeton University Press.
6
Para um bom resumo dos trabalhos académicos sobre a relação entre
desigualdade e crescimento ver: Vandemoortele, M (2009) Within-Country
Inequality, Global Imbalances and Financial Instability, Desk Study for the
Netherlands Ministry of Foreign Affairs, Overseas Development Institute.
http://www.odi.org.uk/resources/docs/5066.pdf
8
Berg, A G e Ostry, J D (2011) Inequality and Unsustainable Growth: Two
Sides of the Same Coin?, IMF. http://www.imf.org/external/pubs/ft/sdn/2011/
sdn1108.pdf
9
10
Ver, por exemplo, Liu, J, Raine, A, Venables, P H e Sarnoff, A M (2004)
‘Malnutrition at Age 3 Years and Externalizing Behavior Problems at Ages 8,
11, and 17 Years’, American Journal of Psychiatry 161, no. 11, 2005–2013.
Outes, I, Sanchez, A e Molinas, O (2010) Psychosocial Status and Cognitive
Achievement in Peru, Working Paper 65, Oxford: eYoung Lives. http://www.
younglives.org.uk/files/working-papers/wp65_outes-et-al-psychologicalstatus-and-cognitive-achivement
11
Para uma ampla pesquisa de trabalhos académicos e alguns resultados
novos do estudo Vidas Jovens sobre esta questão importante, ver Boyden,
J e Dercon, S (2012) Child Development and Economic Development: Lessons
and future challenges, Oxford: Young Lives. http://www.younglives.org.
uk/files/working-papers/boyden-and-dercon-child-development-andeconomic-development
12
Para uma lista completa dos países e para a desigualdade de
rendimentos entre as crianças mais ricas e as mais pobres, ver a Tabela
sobre informação de base, em www.savethechildren.org.uk/resources/
online-library/less-is-more
13
Passell, P (2012) ‘Mind the Gap’, Foreign Policy. http://www.foreignpolicy.
com/articles/2012/03/01/confronting_the_rise_of_inequality?page=0,0.
14
Sumner, A (2011) Where Do The Poor Live?, World Development 40,
no. 5: 865–877; Sumner, A. (no prelo) What is a Poor Country if the World’s
Poor Live in Middle-income Countries?, IDS: Sussex.
7
savethechildren.org.uk
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