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Crianças num campo de refugiados na República Democrática do Congo. Em África os pobres são mais pobres e em maior número
África a Sul do Sara
Mais pobres
e em maior número
texto Carlos Camponez foto Lusa
Dois relatórios das Nações Unidas
publicados recentemente confirmam que os problemas de fome e de
pobreza continuam a agravar-se nas
regiões africanas situadas a Sul do
deserto do Sara. Segundo o relatório
anual do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),
desde 1990 que todas as regiões do
mundo vêm reduzindo os seus níveis
de pobreza, à excepção dos países
africanos, onde se situa um terço da
população mais pobre do planeta.
De acordo com aquele relatório, contrariamente ao que se verifica nas outras
regiões do mundo, na África subsariana não só os índices de pobreza estão
a agravar-se, como o número de pobres
está a aumentar. Ou seja, os pobres são
mais pobres e em maior número.
Tendo em conta os dados do PNUD, um
em cada dois habitantes desta região do
globo encontra-se entre os 20 por cento
da população mais pobre do planeta.
Ainda segundo o relatório, o rendi-
mento médio mundial da população,
estimada em cinco biliões de pessoas,
ronda os cerca de 4300 euros, por ano.
Porém só 20 por cento da população
mundial atinge estes valores, enquanto que um bilião de pessoas subsiste
com menos de um dólar por dia.
Fome aumenta
Igualmente preocupantes são os dados
referidos no relatório da Organização
das Nações Unidas para a Agricultura
e Alimentação (FAO) sobre «O Estado
da Insegurança Alimentar no Mundo».
O documento, divulgado na 32ª sessão
da Cimeira Mundial da Alimentação,
reunida a 31 de Outubro, em Roma,
refere que o número de pessoas que
sofre de subalimentação, na região
africana a Sul do Sara, aumentou
entre os períodos de 1990-1992 e de
2001-2003, passando de 160 milhões
para 206,2 milhões. Fenómenos como
a SIDA, as guerras, as catástrofes naturais «obstruíram as medidas tomadas
«Longe de diminuir, o número de pessoas com fome no
mundo está a aumentar a um ritmo de 4 milhões por ano»
FÁTIMA MISSIONÁRIA
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Edição LII | Dezembro de 2006
para lutar contra a fome». Em termos
globais, o relatório da FAO refere que
850 milhões de pessoas sofrem de problemas de subalimentação em todo o
mundo. Um número que, comparado com os dados disponíveis para o
período de 1990-1992, significa que
a situação praticamente não melhorou. «Longe de diminuir, o número de
pessoas com fome no mundo está a
aumentar a um ritmo de 4 milhões por
ano», referiu Jacques Diouf, director-geral da FAO, no discurso de abertura
da cimeira Mundial da Alimentação.
Promessas não enchem barriga
Estes dados representam um duro
balanço acerca dos propósitos assumidos relativamente aos Objectivos
do Milénio, há dez anos, por 185
países, e que previa a redução para
metade do número de pessoas com
fome no mundo, até ao ano de 2015.
Para honrar este compromisso, seria
necessário que, a partir de agora, os
países de todo o mundo conseguissem reduzir os números da fome em
31 milhões de pessoas por ano. Mas,
dado o atraso das medidas levadas a
cabo até ao momento, os especialistas começam a ter fortes reservas que
os Objectivos do Milénio possam ser
alcançados nos prazos previstos.
Num discurso onde sublinhava que
as promessas não enchem barriga,
Jacques Diouf afirmou que seria
escandaloso se as metas definidas
no âmbito dos Objectivos do Milénio
não fossem alcançadas.
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Mais pobres e em maior número