i Curso de Engenharia Mecânica – Automação e Sistemas BANCADA DIDÁTICA PARA ESTUDO DE REGIMES DE ESCOAMENTO - ENSAIO DE REYNOLDS Daniel Luís de Andrade Ribeiro Itatiba – São Paulo – Brasil Dezembro de 2008 ii Curso de Engenharia Mecânica – Automação e Sistemas BANCADA DIDÁTICA PARA ESTUDO DE REGIMES DE ESCOAMENTO - ENSAIO DE REYNOLDS Daniel Luís de Andrade Ribeiro Monografia apresentada à disciplina Trabalho de Conclusão de Curso, do Curso de Engenharia Mecânica – Automação e Sistemas da Universidade São Francisco, sob a orientação do Prof. Dr. Paulo Roberto Tardin Júnior, como exigência parcial para conclusão do curso de graduação. Orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto Tardin Júnior Itatiba – São Paulo – Brasil Dezembro de 2008 iii Bancada didática para estudo dos regimes de escoamento Ensaio de Reynolds Daniel Luís de Andrade Ribeiro Monografia defendida e aprovada em 16 de dezembro de 2008 pela Banca Examinadora assim constituída: Prof. Dr. Paulo Roberto Tardin Junior (Orientador) USF – Universidade São Francisco – Itatiba – SP. Prof. Dr. Eduardo Balster Martins (Membro Interno) USF – Universidade São Francisco – Itatiba – SP. Prof. Ms. Paulo Eduardo Silveira (Membro Interno) USF – Universidade São Francisco – Itatiba – SP. iv “A melhor de todas as coisas é aprender. O dinheiro pode ser perdido ou roubado, a saúde e força podem falhar, mas o que você dedicou à sua mente é seu para sempre.” (Louis L’Amour) v Dedicatória Aos meus pais Jorge e Sirlei, meus maiores motivadores. À minha esposa Adriana, que com sua paciência e amor sempre compreendeu minha falta de tempo. Sou eternamente grato a todos. vi .Agradecimentos Primeiramente agradeço a Deus, senhor da minha vida, que permitiu que eu começasse este curso e concedeume saúde para conclui-lo. Agradeço ao Professor Paulo R. Tardin, meu orientador, que dedicou seu tempo para me direcionar e enriquecer este trabalho. Agradeço também ao Professor José Roberto Coquetto e ao Tecnólogo Osvaldo Masselli da FATEC-SP que com imediata solicitude contribuíram enormemente com suas idéias. Agradeço aos técnicos da USF Celso e Abraão, que por várias vezes me ajudaram na montagem do aparato experimental. Agradeço aos meus pais Jorge e Sirlei que sempre me motivaram não deixando que eu esmorecesse mesmo nos momentos de maiores pressões. Em especial à minha esposa Adriana que abriu mão de muitos momentos de lazer e com grande paciência e carinho esteve sempre ao meu lado. Aos meus amigos Cassiano, Ana e Ieda, que também dedicaram seu precioso tempo para me ajudar na elaboração deste trabalho. Miguel, Gilson, Valmir, Jaime e José Fialho, meus colegas de trabalho, cada um com suas habilidades específicas, contribuíram enormemente no projeto da bancada. Agradeço sinceramente a todos. vii RESUMO Um dos maiores obstáculos ao ensino da mecânica dos fluidos está na impossibilidade de visualização de muitos dos fenômenos físicos envolvidos. Na intenção de amenizar este inconveniente, o presente trabalho apresenta o projeto e a construção de uma bancada didática para que os alunos dos cursos de Engenharia da Universidade São Francisco, campus Itatiba, realizem estudos dos regimes de escoamento da água em condutos circulares e cálculo do Número de Reynolds. O Número de Reynolds tem muitas aplicações cotidianas, tais como, no estudo dos lubrificantes, que são de suma importância para o funcionamento dos equipamentos mecânicos, na indústria aeronáutica através do estudo da aerodinâmica e também nas especificações de sistemas de bombeamento. O aprendizado destes conceitos físicos é melhorado quando ocorre por meio da prática do aluno aliada à teoria apresentada em sala de aula, por isso esta bancada didática visa estimular o processo cognitivo dos alunos de Engenharia propiciando o conhecimento das interações homem-natureza, foco do profissional deste campo de atuação. O trabalho desenvolvido permitiu a visualização dos três regimes distintos de escoamento da água em condutos e a análise comparativa entre os dados experimentais e a classificação adotada por Reynolds e pela ABNT que demonstraram as dificuldades em se conseguir a condição ideal para alcançar o regime laminar com Número de Reynolds elevado. Como considerações para futuros estudos são sugeridas melhorias na estrutura da base da bancada, projeto de um sistema de nível constante, adequação da borda do tubo de vidro e alteração do tipo de registro de controle da vazão. Palavra chave: ensaio de Reynolds, aparato de Reynolds, escoamento, fluxo. viii ABSTRACT One of the biggest difficulties to teach fluid mechanics is due to be impossible the visualization of too many physics phenomenon. In the intention to become that fact easier, the present work shows the project and build one of didactic apparatus to study the water’s flow regimes inside pipes and determination of the Reynolds Number, by the Engineering students from São Francisco University, in Itatiba. The Reynolds Number has many quotidian applications, such as in the study of lubricants, which are very important to mechanics equipments work well, in the aeronautic industry with the study of aerodynamic and also in the design of pumps systems. The learning of those physics concepts is improved when is made by the practical of student connected with the theory showed in the classroom. The goal of this didactic apparatus is to stimulate the student’s cognitive process giving them the knowledge of interactions manenvironment, the goal of the professional in this area of work. The developed work allowed the visualization of the three distinct water’s flow regimes inside of pipes and the analysis of comparison between the experimental and theoretical data showed the difficulties to reach the ideal situation to see the laminar regime with high Reynolds Number. As regards to the future works are indicated improvements in apparatus’s structure, design a constant water level, to adapt the extreme of pipe and change the kind of flow control valve. Key word: Reynolds experiment, Reynolds apparatus, flow regimes ix SUMÁRIO RESUMO ............................................................................. vii ABSTRACT ......................................................................... viii SUMÁRIO ............................................................................. ix 1 INTRODUÇÃO ................................................................... 1 1.1 1.2 2 Objetivo...................................................................................................................... 2 Justificativa................................................................................................................ 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................. 4 2.1 2.2 2.3 A Mecânica dos Fluidos .......................................................................................... 4 O Número de Reynolds........................................................................................... 5 Aparato Experimental de Reynolds....................................................................... 9 2.3.1 3 3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 Fluido Newtoniano.................................................................................................. 13 Viscosidade ............................................................................................................. 14 Escoamento Viscoso Incompressível ................................................................. 15 Velocidade Média ................................................................................................... 17 O Ensaio de Reynolds........................................................................................... 18 3.5.1 3.5.2 4 O Protótipo .............................................................................................................. 21 A Bancada Didática Definitiva .............................................................................. 21 4.2.1 4.2.2 4.2.3 4.2.4 4.2.5 4.2.6 4.2.7 4.2.8 Reservatório de Vidro ........................................................................................ 22 Tubo de Vidro..................................................................................................... 23 Injetor ................................................................................................................. 24 Corante .............................................................................................................. 24 Reservatório do Corante .................................................................................... 25 Registro de Controle da Vazão .......................................................................... 25 Bomba Reposição de Água ............................................................................... 26 Tubulação .......................................................................................................... 26 RESULTADOS................................................................. 27 5.1 5.2 Implementação ....................................................................................................... 27 Testes Realizados.................................................................................................. 27 5.2.1 5.2.2 5.2.3 6 7 O Número de Reynolds – Grupo Adimensional................................................. 18 Escoamentos Laminar e Turbulento .................................................................. 20 MATERIAIS E METODOLOGIA ............................................ 21 4.1 4.2 5 Bancada Didática ............................................................................................... 10 ASPECTOS TEÓRICOS ..................................................... 13 Visualização dos Escoamentos ......................................................................... 27 Valores Experimentais x Classificação Reynolds e ABNT ................................ 29 Discussão........................................................................................................... 30 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES PARA FUTUROS ESTUDOS ... 33 APÊNDICE ..................................................................... 34 7.1 APÊNDICE A - DESENHOS ................................................................................ 34 7.1.1 7.1.2 7.1.3 7.1.4 7.1.5 7.1.6 7.1.7 7.1.8 7.1.9 7.2 7.3 CONJUNTO 1 .................................................................................................... 34 CONJUNTO 2 .................................................................................................... 34 MONTAGEM INJETOR ..................................................................................... 34 RESERVATÓRIO DE VIDRO ............................................................................ 34 TUBO DE VIDRO............................................................................................... 34 MANCAL 1 ......................................................................................................... 34 MANCAL 2 ......................................................................................................... 34 TUBULAÇÃO DE DESCARGA .......................................................................... 34 INJETOR............................................................................................................ 34 APÊNDICE B - PLANILHA DE CUSTOS DO PROJETO ................................ 34 APÊNDICE C - ROTEIRO DO EXPERIMENTO ............................................... 34 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................... 35 APÊNDICE B - PLANILHA DE CUSTOS DO PROJETO ..................... 36 APÊNDICE C - ROTEIRO DO EXPERIMENTO ................................ 37 1 1 INTRODUÇÃO O Número de Reynolds, um dos principais termos para compreensão de muitos dos fenômenos da mecânica dos fluidos, tornou possível uma análise, de certa forma, quantitativa, dos dois tipos existentes de escoamento, o laminar e o turbulento. Quando o fluido escoa a baixas velocidades se faz presente o fluxo laminar, e as forças que governam este tipo de escoamento são as forças viscosas. Quando a velocidade aumenta, o fluxo laminar se transforma em fluxo de transição e as forças de inércia começam a se sobrepor sobre as viscosas e por fim, quando as forças de inércia se tornam dominantes em função da velocidade do fluido, surge o fluxo turbulento. O parâmetro que caracteriza os tipos de fluxos e que relaciona as forças de inércia e viscosas é a variável adimensional conhecida como Número de Reynolds. O Número de Reynolds foi determinado em 1883, pelo Professor Irlandês Osborne Reynolds quando publicou uma das suas mais famosas teses chamada “An experimental investigation of the circumstances which determine whether motion of water shall be direct or sinuous and of the law of resistance in parallel channels”. Esse grupo adimensional facilitou o entendimento do comportamento da dinâmica dos fluidos que permitiu grandes avanços nas diversas áreas da engenharia, tais como, aeronáutica, transporte de fluidos, tribologia (estudo das interações de superfícies em movimento relativo, que incorpora o estudo de lubrificantes), entre muitas outras. O presente trabalho apresenta o projeto e a montagem de uma bancada didática para reprodução do ensaio de Reynolds, permitindo a visualização e o estudo dos regimes de escoamento. Visa gerar uma oportunidade da aplicação prática dos conceitos aprendidos em sala de aula e auxiliar no aprendizado da disciplina Mecânica dos Fluidos os estudantes dos cursos de Engenharia Industrial e Mecânica, da Universidade São Francisco, campus Itatiba. 2 1.1 Objetivo O objetivo deste trabalho é o projeto e a montagem de uma bancada didática que apresentará visualmente os regimes de escoamento, laminar, de transição e turbulento de um corante em meio a água. Objetiva também permitir o levantamento dos valores experimentais de Reynolds os quais serão comparados com os valores aceitáveis atualmente para cada regime apresentado. A bancada ficará disponível no laboratório de mecânica dos fluidos do campus Itatiba da Universidade São Francisco para uso das futuras turmas dos cursos de Engenharia. 1.2 Justificativa A experimentação foi a ferramenta utilizada por Reynolds para entendimento da física envolvida no fenômeno de escoamento e por isso a efetividade desta técnica foi a motivação para a elaboração do presente trabalho. A importância da prática para aplicação da teoria é tratada por diversos autores que abordam a teoria da aprendizagem, entre os quais se destacam Piaget, Dewey, Lewin e Kolb que deu origem ao ciclo desta aprendizagem. Nesse contexto, conforme Kury e Giorgetti(1993), Kolb desenvolveu um estudo na Brigham Young University em Utah, Estados Unidos, que deu origem ao famoso Ciclo de aprendizagem. Estudo este que tem como proposta o desenvolvimento do processo de aprendizado dividido em quatro etapas. Cada etapa possui características próprias imprescindíveis à aquisição de capacidades pelos alunos e tem como intenção que o professor transmita a teoria através da experimentação utilizando as quatro etapas mencionadas, com o intuito de atender todos os perfis de alunos. Ainda, segundo Kury e Giorgetti(1993), Kolb apresenta as quatro etapas consideradas fundamentais para o aprendizado: a) sentir: é a maneira como o aluno adquire uma nova informação, incluindo a interação entre o professor e o aluno e seus valores pessoais, é a chamada experiência concreta; b) observar: é a maneira como o aluno processa a informação, o momento em que ele separa a experiência e 3 observa o novo acontecimento sob vários pontos de vista – é a denominada observação reflexiva; c) pensar: é a organização das informações através de conceitos, teorias e princípios transmitidos pelo professor, também denominada de conceitualização abstrata; d) fazer: é nesta etapa que o aluno realiza os testes para a obtenção de respostas, trabalhando o real para obter resultados práticos, chamada experimentação ativa. Para Chaves (2002), “a teoria educacional considera o homem como um ser integrado à natureza, capaz de aprender de sua experiência e da reflexão consciente sobre ela, e motivado pelos seus propósitos”. Isto os leva a concluir que o aprendizado ocorre por meio de experimentação da vivência do aluno aliada aos conceitos teóricos apresentados em sala de aula, portanto o ciclo de Kolb é um método adequado para proporcionar a interação entre teoria e experiência do aluno. Com base nesta justificativa é possível afirmar que o presente trabalho proporciona um ganho na cognição dos estudantes no aprendizado destes fenômenos físicos. 4 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 A Mecânica dos Fluidos A Mecânica dos Fluidos é, sem dúvida, umas das mais importantes disciplinas da engenharia, pois seus princípios estão aplicados em diversas áreas do nosso cotidiano, desde o estudo do escoamento de sangue nos capilares (que apresentam diâmetro da ordem de poucos microns) até o escoamento de petróleo através de um oleoduto (que pode apresentar diâmetro igual a 1,2 m), passando pelas áreas de projetos de avião, aeroespacial, navios, irrigação, entre muitas outras. Para que estes conhecimentos atingissem nosso tempo, muitos estudos foram conduzidos por brilhantes personagens de nossa história que, antes de tudo, observaram a prática para então aplicar suas teorias. “Se tens de lidar com água, consulta primeiro a experiência, e depois a razão.” (LEONARDO da VINCI, 1452-1519 apud GRASSIA, 2007, p. 3). Alguns dos problemas que estimularam o desenvolvimento da mecânica dos fluidos foram o desenvolvimento dos sistemas de distribuição de água potável e para irrigação, o projeto de barcos e navios e também de dispositivos para a guerra (como flechas e lanças). Estes desenvolvimentos foram baseados no procedimento de tentativa e erro e não utilizaram qualquer conceito de matemática ou da mecânica. Entretanto, a acumulação de tal conhecimento empírico formou a base para o desenvolvimento que acorreu durante a emergência da civilização grega antiga e depois na ascensão do império romano. Alguns dos primeiros escritos, que podem ser considerados sobre a mecânica dos fluidos moderna, são os de Arquimedes (matemático e inventor grego, 287 – 212 AC) que descrevem, pela primeira vez, os princípios da hidrostática e da flutuação. Os romanos construíram sistemas de distribuição de água bastante sofisticados entre o quarto século AC até o período inicial cristão e Sextus Julius Frontinus (engenheiro romano, 40 – 103 DC) os descreveu detalhadamente. (MUNSON, YOUNG, OKIISHI, 1997, p. 25). Entretanto, segundo Munson (YOUNG, OKIISHI, 1997), não foi possível identificar, durante a idade média (também conhecida como a idade das trevas), qualquer tentativa para adicionar algum conhecimento novo sobre o comportamento dos fluidos. 5 Ainda segundo Munson (YOUNG, OKIISHI, 1997), “Leonardo da Vinci (14521519) descreveu, através de esquemas e escritos, muitos fenômenos envolvendo escoamentos e os trabalhos de Galileu Galilei (1564 – 1642) marcaram o início da mecânica experimental. Após o período inicial da renascença, e durante os Sécs. XVII e XVIII, nós encontramos muitas contribuições importantes. Entre estas, encontramos os progressos teóricos e matemáticos associados aos nomes famosos de Newton, Bernoulli, Euler e d’Alembert. Durante o Séc. XIX, as equações diferenciais gerais que descrevem os movimentos dos fluidos e que são utilizadas na mecânica dos fluidos moderna foram desenvolvidas.” (MUNSON, YOUNG, OKIISHI, 1997, p. 25). E foi neste período que Osborne Reynolds (1842–1912), segundo Munson (YOUNG, OKIISHI, 1997, p. 25), descreveu experimentos originais em muitos campos – cavitação, similaridade de escoamentos em rios, resistência nos escoamentos em tubulações e propôs dois parâmetros de similaridade para escoamento viscoso; adaptou a equação do movimento de um fluido viscoso para as condições médias dos escoamentos turbulentos e definiu o Número de Reynolds. 2.2 O Número de Reynolds O número de Reynolds, também chamado de módulo ou coeficiente de Reynolds [Re], é resultado de um grupo adimensional que relaciona as forças inerciais com as forças de viscosidade de um fluido, sendo fundamental no projeto de sistemas de bombeamento, de tubulações industriais, asas de avião, sistemas aerodinâmicos, entre muitos outros, pois através dele é determinado o regime de escoamento de um fluido sobre uma superfície. Em 1839, em experiências independentes e simultâneas, efetuadas por Hagen (1797 – 1884) e por Poiseuille (1799 – 1869) sobre o movimento de líquidos em tubos de pequeno diâmetro, foi observado que a pressão diminui com o valor da velocidade de forma linear, quando a velocidade é baixa. Também observaram que essa lei de variação não é válida para altas velocidades. Notaram ainda a dependência do diâmetro do tubo e da temperatura do líquido nesse fenômeno. Segundo Munson (YOUNG, OKIISHI, 1997), Poiseuille estava interessado no escoamento de sangue nos vasos capilares e deduziu experimentalmente as leis de resistência ao escoamento laminar em tubos. 6 Em 1877, Osborne Reynolds (1842–1912), físico e engenheiro irlandês, descreveu métodos para tornar os movimentos de um líquido visíveis por meio de faixas de cores. Esta mesma técnica de visualização foi usada novamente em seu estudo de fluxo laminar e turbulento em tubos. (JACKSON, LAUDER, 1997) Em 1883, Reynolds desenvolveu o aparato experimental esquematizado na figura 2-1 e com mais detalhes na figura 2-2, que consiste de um tubo transparente inserido em um recipiente de vidro cheio d’água e à entrada deste tubo é interligado um capilar que injeta corante no seu centro, proveniente de um reservatório externo. Ao abrir a válvula de haste longa, observa-se a formação de um filete retilíneo de corante e ao abrir mais a válvula a velocidade aumenta e o filamento se difunde na água. Figura 2-1 – Ilustração do Aparato Experimental de Reynolds (sem escala) (http://meusite.mackenzie.com.br/eangelo/Exp_Reynolds.pdf). Figura 2-2 – Esquema do Aparato Experimental de Reynolds (http://meusite.mackenzie.com.br/eangelo/Exp_Reynolds.pdf). 7 Com este aparato, Reynolds (1883) demonstrou a existência de dois tipos de escoamentos: “o primeiro onde os elementos do fluido seguem ao longo de linhas de movimento e que vão da maneira mais direta possível ao seu destino, e outro em que se movem em trajetórias sinuosas da maneira mais indireta possível”, seguindo a redação original de seu relato (REYNOLDS, 1883 apud JACKSON, LAUNDER, 1997). Mais tarde foram chamados de escoamento laminar e o escoamento turbulento. No regime laminar, a estrutura do escoamento é caracterizada pelo movimento em lâminas ou camadas. A estrutura do escoamento no regime turbulento é caracterizada pelo movimento tridimensional aleatório das partículas do fluido sobreposto ao movimento da corrente. (FOX & McDONALD, 2001). Após várias investigações teóricas e experimentais, Reynolds concluiu que o critério mais apropriado para se determinar o tipo de escoamento de uma canalização não se atém exclusivamente ao valor da velocidade, mas a uma expressão adimensional na qual a viscosidade do fluido também é levada em consideração. Este adimensional passou a ser conhecido como Número de Reynolds. Segundo Rott (1990), em 1908 Arnold Sommerfeld apresentou um artigo sobre estabilidades hidrodinâmicas no 4th International Congress of Mathematicians em Roma e na equação conhecida hoje como a equação de Orr-Sommerfeld, a qual introduziu o número R e o chamou de número de Reynolds. Terminologia que não se alterou até hoje e se disseminou para todos os ramos da mecânica dos fluidos. O número de Reynolds é expresso da seguinte maneira: Re = ρVD µ Onde, ρ - massa específica do fluido V - velocidade média de escoamento D - diâmetro interno da tubulação µ - viscosidade dinâmica do fluido Sendo, ν= µ ρ (1) 8 Onde, ν - viscosidade cinemática do fluido Temos, Re = VD ν (2) Onde V é dado por: V = 4Q (Q é a vazão) πD 2 (3) Com os resultados de seus estudos, Reynolds estabeleceu que: Re ≤ 2000 → tem-se o escoamento laminar 2000 < Re < 2400 → tem-se o escoamento de transição Re ≥ 2400 → tem-se o escoamento turbulento A classificação atual estabelecida pela ABNT difere um pouco da estabelecida por Reynolds e é a seguinte: Re ≤ 2000 → tem-se o escoamento laminar 2000 < Re < 4000 → tem-se o escoamento de transição Re ≥ 4000 → tem-se o escoamento turbulento (IGNÁCIO, 2008) Para Fox e McDonald (2001), muito embora para Re > 2300 o escoamento seja quase sempre turbulento e para Re < 2300 o escoamento seja laminar, não há, na verdade, um valor definido para o número de Reynolds no qual o escoamento muda de laminar para turbulento. Há uma gama de valores de Re na qual o escoamento irá mudar de laminar para turbulento. Assim, faz mais sentido falar em um limite inferior do número de Reynolds, Re inferior, abaixo do qual o escoamento será sempre laminar, e um limite superior, Re superior, acima do qual o escoamento será sempre turbulento, independente do diâmetro de entrada da tubulação. 9 Vale ressaltar que Shames (1973) afirma que sob condições experimentais cuidadosamente controladas, usando um tubo bem liso e permitindo que o fluido permanecesse sem perturbações no tanque principal por longos períodos antes do ensaio, verificou-se que o escoamento laminar pode ser mantido para números de Reynolds até cerca de 40.000. Todas as experiências até o momento indicaram que abaixo de 2.300 pode existir escoamento apenas laminar. Assim, acima de 2.300 pode ocorrer uma transição, dependendo da extensão das perturbações locais. Este valor é chamado de número de Reynolds crítico. Abaixo do número de Reynolds crítico, o amortecimento presente é suficiente para eliminar os efeitos de qualquer perturbação local e, desta forma, o escoamento é sempre bem ordenado. Nos problemas práticos, usualmente existe suficiente perturbação local para provocar a turbulência sempre que se ultrapasse o número de Reynolds crítico. 2.3 Aparato Experimental de Reynolds O aparato experimental projetado e construído por Osborne Reynolds, o qual utilizou para demonstrar os escoamentos laminar e turbulento em 1883, mostrado na figura 2-3, pode ser visto atualmente na University of Manchester, na Inglaterra. Suas dimensões básicas são C, A, L, 1,83m x 0,45 m x 0,45 m. Figura 2-3 – Aparato Experimental Original de Reynolds (http://www.annualreviews.org). 10 2.3.1 Bancada Didática Para que se pudesse reproduzir posteriormente o experimento de Reynolds, novos aparatos foram construídos, entre eles as bancadas didáticas, utilizadas principalmente em Universidades para auxílio no processo de aprendizagem. Na Inglaterra, a Empresa Cussons Technology Ltd., fundada no final do século XIX, produz equipamentos didáticos para ensino da Engenharia, tendo como um dos produtos o “Osborne Reynolds Apparatus”, mostrado na figura 2-4. Dimensões básicas C, A, L, 1,0m x 0,50m x 0,50m. Figura 2-4 – Bancada Didática para Ensaio de Reynolds mod. P 6248 (http://www.cussons.co.uk). Outra forma construtiva do aparato experimental de Reynolds é a fabricada pela Empresa Inglesa, Armfiel Inc., que pode ser visualizada na figura 2-5. Com sua construção que direciona verticalmente o fluxo, objetiva-se compensar o efeito de alguma variação na densidade relativa entre o pigmento e o fluido principal ou de trabalho. Suas principais dimensões são: 1,63m de altura x 0,61m de diâmetro. 11 Figura 2-5 – Aparato Experimental Vertical para Ensaio de Reynolds (http://www.armfield.co.uk). Na revisão bibliográfica realizada, não foi encontrada no Brasil empresa que produza de forma seriada a bancada didática para o ensaio de Reynolds, o que leva a concluir que muitas universidades utilizam bancadas construídas artesanalmente como as mostradas nas figuras 2-6, 2-7 e 2-8. Figura 2-6 – Bancada Didática da Universidade Federal de Santa Catarina (http://www.labtermo.ufsc.br/Link.html). 12 Figura 2-7 – Bancada Didática da Universidade Santa Cecília (http://www.unisanta.br/laboratorios/mecanica/laboratorio_mecanica_fluido.htm). Figura 2-8 – Bancada Didática da FATEC-SP Baseado no exposto, comprova-se que a experiência de Osborne Reynolds muito contribuiu para o entendimento da mecânica dos fluidos, que por sua vez é disciplina básica para o desenvolvimento tecnológico de quase todas as áreas de atuação humana. 13 3 ASPECTOS TEÓRICOS 3.1 Fluido Newtoniano Para Fox e McDonald (2001) um fluido é uma substância que se deforma continuamente sob a ação de uma tensão de cisalhamento. Fluidos para os quais a tensão de cisalhamento é diretamente proporcional à taxa de deformação são denominados fluidos newtonianos. Água, ar e gasolina são exemplos de fluidos que possuem comportamento muito próximo ao newtoniano. (FOX & McDONALD, 2001). A figura 3-1 ilustra o comportamento de um elemento de fluido entre duas placas infinitas. Figura 3-1 – Deformação de Um Elemento de Fluido (Fox & McDonald, 2001) Conforme Fox e McDonald (2001), a placa superior movimenta-se a velocidade constante, δu, sob a influência de uma força aplicada constante, δFx. A tensão de cisalhamento, τyx, aplicada ao elemento de fluido é dada por τ yx = lim δAy → 0 δFx dFx = δAy dAy (4) onde δAy é a área do elemento de fluido em contato com a placa. No incremento de tempo, δt, o elemento de fluido é deformado da posição MNOP para a posição M’NOP’. A taxa de deformação do fluido é dada por taxa de deformação = lim δt →0 δx dx = δt dt (5) 14 O fluido é newtoniano se τ yx ∝= dα dt (6) Cálculo da tensão de cisalhamento, τyx, para a figura 3-1: a distância δl entre os pontos M e M’ é dada por δl = δuδt δl ≈ δyδα Equacionando-se estas duas expressões para δl, resulta δα δu = δt δy e, ao tomar-se o limite de ambos os lados da igualdade, obtém-se dα du = dt dy Assim, se o fluido da figura 3-1 é newtoniano, τ yx = µ du dy (7) A tensão de cisalhamento age num plano normal ao eixo dos y. 3.2 Viscosidade Conforme Fox e McDonald (2001), ao considerar-se a deformação de dois fluidos newtonianos diferentes, digamos, glicerina e água, sabe-se que eles irão deformar-se a taxas de deformação distintas sob a ação da mesma tensão de cisalhamento aplicada. A glicerina possui uma resistência muito maior à deformação do que a água. Por isso, diz-se que ela é muito mais viscosa. A constante de proporcionalidade na Eq. 7 é a viscosidade absoluta (ou dinâmica), µ. Assim, em termos das coordenadas da figura 3-1, a lei da viscosidade de Newton é dada por 15 τ yx = µ du dy (8) Em mecânica dos fluidos, aparece seguidamente a razão entre a viscosidade absoluta, µ, e a massa específica, ρ. A este quociente é dado o nome viscosidade cinemática, que é representada pelo símbolo υ. (FOX & McDONALD, 2001). 3.3 Escoamento Viscoso Incompressível Escoamentos escoamentos em completamente dutos, são limitados chamados por de superfícies escoamentos sólidas isto é, internos.(FOX & McDONALD, 2001). Os escoamentos no interior de tubos, dutos e bocais são exemplos de escoamentos internos.(SHAMES, 1973). Segundo Fox e McDonald (2001), em qualquer escoamento viscoso, o fluido em contato direto com uma superfície limite sólida possui a mesma velocidade que a própria superfície. Mesmo a velocidade do fluido numa superfície sólida estacionária em um fluido em movimento sendo nula, mas o fluido como um todo está se movendo, gradientes de velocidade e, conseqüentemente, tensões de cisalhamento devem estar presentes no escoamento. As tensões de cisalhamento, por sua vez, afetam o movimento. (FOX & McDONALD, 2001). A figura 3-2 ilustra o escoamento laminar na região de entrada de uma tubulação circular. O escoamento é uniforme na entrada do tubo com velocidade U0. Devido à condição de não-deslizamento na parede, sabe-se que a velocidade na parede deve ser zero ao longo de todo o comprimento do tubo. Uma camada limite se desenvolve ao longo das paredes do canal. A superfície sólida exerce uma força de cisalhamento retardante sobre o escoamento. Assim sendo, a velocidade do fluido na vizinhança da superfície é reduzida. (FOX & McDONALD, 2001). 16 Figura 3-2 – Perfil de Velocidade para um Escoamento Laminar em um Tubo (http://www.exatec.unisinos.br) Para Ignácio (2008), um dado escoamento é considerado incompressível, quando para a variação de pressão observada ao longo do escoamento, tem-se uma variação de volume desprezível. Considerando que neste tipo de escoamento existem variações pequenas de temperatura, pode-se afirmar que tanto a massa específica, como o peso específico, permanecem constantes ao longo do mesmo. Conforme Fox e McDonald (2001), para escoamento incompressível, a velocidade na linha central do tubo deve aumentar com a distância, a partir da entrada, de modo a satisfazer a equação da continuidade. Entretanto, a velocidade média numa seção qualquer U = 1 A ∫ udA área deve ser igual a U0; assim, U = U 0 = cte. (9) Suficientemente afastada da entrada do tubo, a camada limite desenvolvendo-se na parede do tubo alcança a linha central deste. A distância a jusante da entrada até o local em que a camada limite atinge a linha central é chamada de comprimento de entrada. Além do comprimento de entrada, o perfil de velocidade não mais varia com a distância x, e o escoamento encontra-se completamente desenvolvido. A forma real do perfil de velocidade completamente desenvolvido depende de o escoamento ser 17 laminar ou turbulento. Na figura 3-2, o perfil é mostrado de forma qualitativa para um escoamento laminar. (FOX & McDONALD, 2001). Segundo Fox e McDonald (2001), o comprimento de entrada, L, é uma função do número de Reynolds, L ρV D ≅ 0,06 ≈ 0,06 Re D µ 3.4 (10) Velocidade Média Como já citado anteriormente, a velocidade em uma seção do escoamento varia de 0, junto a parede, até Vmáx, no eixo do conduto, conforme ilustrado pelo perfil de velocidade na figura 3-2. Considerando um ponto fluido e levando-se em conta a hipótese do contínuo, temos o que demonstra a figura 3-3: Seção Transversal de um Conduto Forçado Figura 3-3 – Esquema Velocidade do Ponto Fluido (http://www.escoladavida.eng.br) Segundo Ignácio (2008), é possível determinar a vazão através da seção transversal considerada integrando-se ambos os membros da equação constante na figura 3-3, o que resulta: Q = ∫ (função da velocidade).dA 18 Através das equações Q = U . A e Q = ∫ (função da velocidade).dA, obtêm- se a expressão utilizada para o cálculo da velocidade média em condutos. U= 3.5 1 (função da velocidade).dA A∫ (11) O Ensaio de Reynolds 3.5.1 O Número de Reynolds – Grupo Adimensional A experiência clássica de Osborne Reynolds, publicada em 1883, ainda é usada para evidenciar a diferença qualitativa entre o escoamento laminar e o turbulento. Segundo Fox e McDonald (2001) nesta experiência Reynolds descobriu que o parâmetro Re = ρV D V D = µ υ é um critério pelo qual o estado de um escoamento pode ser determinado. Mais tarde, experiências demonstraram que o número de Reynolds é também um parâmetrochave em outros casos de escoamento. Assim, em geral Re = ρVL VL = µ υ onde L é um comprimento característico descritivo do campo de escoamento. O significado físico do número de Reynolds pode ser percebido mais facilmente ao ser reescrito na forma Re = ρVL ρVL V L 1 ρV 2 L2 = = µ µ V L L / L ( µV / L) L2 (12) Na sua forma final, esta expressão pode ser interpretada da seguinte maneira: 19 ρV 2 L2 ~ (pressão dinâmica) x (área) ~ força de inércia Ainda que a força de inércia seja definida pela segunda lei de movimento de Newton ou Princípio da Proporcionalidade ou Lei de Força - "Ponto material sujeito à ação de uma força F adquire aceleração a, de mesma direção e sentido que a força e módulo |a| proporcional à intensidade de F; o coeficiente de proporcionalidade é um escalar essencialmente positivo que 'mede' a inércia do ponto - sua massa -": F = m.a (13) Considerando: (a) a massa é uma grandeza escalar; (b) a massa é sempre um escalar positivo; (c) a massa - como indicativo da inércia do ponto material - é o 'coeficiente de resistência da matéria' ao movimento ou à variação de movimento que se lhe quer comunicar; (d) a massa caracteriza a inércia de cada tipo de matéria e sua particular substância; (e) a massa de um sistema de pontos materiais (rígido ou não) é a soma das massas dos pontos que definem o sistema; µV L L2 ~ (tensão viscosa) x (área) ~ força viscosa e Re ~ forças de inércia (14) forças viscosas Assim, o número de Reynolds pode ser considerado como um quociente entre as forças de inércia e as forças viscosas. 20 3.5.2 Escoamentos Laminar e Turbulento Pode-se demonstrar pela experiência clássica de Reynolds a diferença qualitativa entre as naturezas dos escoamentos laminar e turbulento. (FOX & McDONALD, 2001). Sendo um tubo de vidro no qual a água escoa com uma certa velocidade média, no centro do tubo introduz-se, mediante um tubo capilar, um fino jato de corante solúvel em água, de modo que se injeta um filamento delgado do corante na água; a velocidade da corrente de corante é igual à da água no ponto de injeção. Quando a velocidade é baixa, o filamento de corante retém a sua identidade na corrente de água, e tem uma ligeira tendência a alargar-se em virtude da difusão molecular. Quando a velocidade média da água é um pouco maior, o filamento do corante fraciona-se em um número finito de turbilhões de grande tamanho. Mais para a jusante do fluxo, os turbilhões se subdividem e o corante injetado tende a ficar homogeneamente dispersado. Em velocidade média muito mais elevada, a atividade dos turbilhões fica extremamente violenta e a região da coloração homogênea aproxima-se do ponto de entrada do corante, (FOUST at al., 1982). conforme verificase na figura 3-4. Figura 3-4 – Comportamento do Corante nos Tipos de Escoamento (http://meusite.mackenzie.com.br/eangelo/Exp_Reynolds.pdf). 21 4 MATERIAIS E METODOLOGIA Conforme demonstrado existem vários modelos de bancadas e aparatos para realização dos ensaios de visualização dos regimes de escoamento, cada um com suas características específicas. Para o presente trabalho o modelo projetado tem como referência o aparato original construído por Reynolds em 1883. 4.1 O Protótipo Por questões práticas e financeiras optou-se pela construção de um protótipo da bancada utilizando materiais alternativos e de baixos custos para testar a efetividade do modelo escolhido, conforme mostrado na figura 4-1. Figura 4-1 – Vista Geral do Protótipo da Bancada Didática O teste com o protótipo apresentou resultados satisfatórios quanto à visualização distinta dos tipos de escoamento e possibilitou a verificação de pontos a serem melhorados para a bancada definitiva, tais como, vedação do injetor (tubo de inox x agulha), registro com maior precisão na tubulação de descarga e redução no comprimento do tubo de vidro. 4.2 A Bancada Didática Definitiva Com os resultados positivos do protótipo, o trabalho foi continuado com o projeto e a elaboração do desenho de conjunto da bancada definitiva, conforme mostrado na figura 4-2 e mais detalhadamente no apêndice A, e também com o levantamento da 22 lista de materiais, a qual foi apresentada à Coordenação do curso de Engenharia Mecânica – Automação e Sistemas, cujo custos estão mostrados no apêndice B, sendo aprovada a compra dos seus itens. 5 6 1 4 2 1-Reservatório de Vidro 2-Tubo de Vidro 3-Tubulação de Descarga 4-Haste Universal 5-Funil de Separação 6-Injetor 3 Figura 4-2 – Desenho de montagem do aparato definitivo 4.2.1 Reservatório de Vidro Das formas usuais de se armazenar a água nos aparatos para ensaio de Reynolds, a caixa de vidro é uma das mais eficientes, pois reduz consideravelmente um problema crucial para análise dos regimes de escoamento, a turbulência ou formação de vórtice na água após contato com algum anteparo ou obstáculo, pois o tubo de visualização fica dentro do reservatório de vidro e submerso, fazendo com que a entrada da água ocorra com poucas perturbações, conforme figura 4-3. 23 Figura 4-3 – Reservatório de Vidro O reservatório possui um volume de 49 litros o que permite, no mínimo, a visualização de um tipo de escoamento por vez, sendo necessária a reposição do nível para a realização da próxima visualização. As medidas do reservatório são: 510mm de comprimento, 300mm de largura e 320mm de altura com espessura do vidro de 6mm. 4.2.2 Tubo de Vidro O diâmetro do tubo de vidro escolhido precisava permitir uma boa visualização do escoamento aliada a uma velocidade do fluxo tal que permitisse alcançar número de Reynolds dentro dos três tipos de escoamento, laminar, de transição e turbulento. Para isso o tubo de vidro temperado foi dimensionado simulando em uma planilha eletrônica o número de Reynolds alcançado com a fixação do tempo de escoamento em 20 segundos, conforme mostra tabela 4-4. Com base na simulação, a especificação determinada para o tubo de vidro foi: diâmetro interno de 20mm, espessura da parede de 2mm e comprimento 550mm. ν Vol t D v m2/s ml s mm cm/s -6 1300,0 20,0 20,0 20,7 4138 Turbulento -6 800,0 20,0 20,0 12,7 2546 Transição -6 400,0 20,0 20,0 6,4 1273 Laminar 10 10 10 (1) Re Visualização (1) Conforme classificação atual ABNT. Tabela 4-4 – Simulação Número de Reynolds para Determinação do Diâmetro do Tubo 24 4.2.3 Injetor Para a construção do injetor do corante foi utilizada uma agulha do tipo veterinária em aço inoxidável, com 25 mm de comprimento e com furo de diâmetro 1mm, conforme figura 4-4. Para a condução do corante do reservatório até a agulha, foi utilizado um tubo em aço inox 316L com diâmetro interno de 4 mm e espessura de parede de 1 mm. A opção pelo inox 316L foi pela disponibilidade deste material, porém, poderia ter sido utilizado tubo em aço inox 304, que apresenta um menor custo e resistência suficiente ao ataque químico considerando o fluido água a temperatura ambiente. Figura 4-4 – Injetor do Corante com Detalhe da Agulha 4.2.4 Corante O corante mais utilizado para a realização do ensaio de Reynolds é o permanganato de potássio, encontrado no mercado em forma de pó e que proporciona uma coloração arroxeada intensa quando dissolvido em água, essa característica garante um bom contraste, contudo a desvantagem deste material reside no entupimento do injetor que pode ser causado com a decantação das pequenas partículas sólidas existentes neste corante, além de manchar o interior do tubo de vidro exigindo limpeza periódica. Para evitar estes inconvenientes foi utilizado neste projeto corante alimentício líquido na cor vermelha, totalmente solúvel em água. 25 4.2.5 Reservatório do Corante Para armazenamento do corante foi utilizado um funil de separação em vidro com válvula em polipropileno, de volume de 250ml, conforme figura 4-5. Figura 4-5 – Reservatório do Corante 4.2.6 Registro de Controle da Vazão O controle da vazão da água é realizado por um registro típico de chuveiro bitola 25mm , marca Tigre código 27.95.219.4, em material plástico (PVC e ABS), conforme figura 4-6. A escolha de um registro que permite uma regulagem fina da vazão é de grande importância no ajuste da visualização do Reynolds crítico. Figura 4-6 – Registro de Controle da Vazão 26 4.2.7 Bomba Reposição de Água A bomba mostrada na figura 4-7 da marca Sarlo, Modelo Better 250, com motor 110V, e vazão 280 l/h tem a função de repor o nível de água dentro do reservatório de vidro. Figura 4-7 – Bomba Marca Sarlo para Reposição de Água 4.2.8 Tubulação O sistema de tubulação foi feito em PVC e mangueira cristal. Estes materiais de baixos custos têm resistência suficiente para trabalho com água à temperatura ambiente. Os materiais utilizados para a montagem da tubulação foram: • 1m tubo de PVC Ø externo 25mm • 1m mangueira cristal Ø ¾”; • 1 luva de PVC Ø interno 25mm; • 1 joelho de PVC Ø interno 25mm; 27 5 RESULTADOS 5.1 Implementação A bancada implementada está mostrada na figura 5-1. Figura 5-1 – Visão Geral da Bancada Didática 5.2 Testes Realizados 5.2.1 Visualização dos Escoamentos Para avaliação do funcionamento da bancada foram realizados testes e simulações os quais demonstraram que a visualização dos três tipos de escoamento foi alcançada com sucesso, como se pode observar na figura 5-2 o escoamento laminar, na figura 5-3 o escoamento de transição e o escoamento turbulento na figura 5-4. 28 Figura 5-2 – Visualização do Escoamento Laminar Figura 5-3 – Visualização do Escoamento de Transição Figura 5-4 – Visualização do Escoamento Turbulento 29 5.2.2 Valores Experimentais x Classificação Reynolds e ABNT Para cumprimento da segunda parte do objetivo deste trabalho foram levantadas experimentalmente as vazões para várias aberturas do registro, das quais foram calculadas as respectivas velocidades e então determinados os valores de Reynolds para comparação com a classificação estabelecida por Osborne Reynolds, em sua famosa experiência, como também com os valores estabelecidos pela ABNT, como se pode verificar nas figuras 5-5 e 5-6, respectivamente. Obs.: Foi adotada para os cálculos a viscosidade cinemática da água à temperatura 20ºC, ou seja, 1,00 x 10-6 m²/s. Visualização Escoamentos Experimental x Reynolds 30,0 25,0 Experimental Velocidade [cm/s] Turbulento 20,0 Re Crítico 2372 15,0 Turbulento Transição Re Crítico 1604 10,0 Laminar Transição conforme Reynolds 5,0 Laminar 0,0 1 251 501 751 1001 1251 1501 1751 2001 2251 2501 2751 3001 3251 3501 3751 4001 4251 4501 4751 5001 5251 5501 5751 Nº de Reynolds Figura 5-5 – Velocidade vs. Nº de Reynolds – Gráfico Comparativo Entre a Visualização Experimental e Parâmetros Conforme Osborne Reynolds 30 Visualização Escoamentos Experimental x ABNT 30,0 Experimental 25,0 Turbulento Velocidade [cm/s] 20,0 Turbulento Re Crítico 2372 15,0 Transição Re Crítico 1604 10,0 Transição Laminar 5,0 conforme ABNT Laminar 0,0 1 251 501 751 1001 1251 1501 1751 2001 2251 2501 2751 3001 3251 3501 3751 4001 4251 4501 4751 5001 5251 5501 5751 Nº de Reynolds Figura 5-6 – Velocidade vs. Nº de Reynolds – Gráfico Comparativo Entre a Visualização Experimental e Parâmetros Conforme ABNT 5.2.3 Discussão Para as duas comparações, as figuras 5-5 e 5-6 mostram claramente que nos ensaios experimentais a faixa de Reynolds para o regime laminar foi menor do que se esperava. Isto significa que existiram algumas fontes de interferência durante a obtenção dos dados. Estas fontes podem ser atribuídas à não estabilidade total da água dentro do reservatório de vidro, o que demandaria um longo tempo para alcançá-la, à falta de uma estrutura de base mais rígida do que a mesa de madeira e um registro de controle da vazão sem ajuste preciso. Outro fato relevante é a diminuição da coluna d’água acima do tubo de vidro que vai ocorrendo durante a realização do ensaio e que apesar de não ter influenciado na visualização dos regimes, influenciou nos valores do número de Reynolds. O cálculo do número de Reynolds, feito com o registro de controle de vazão 100% aberto mostrando um escoamento turbulento, demonstra com clareza esta interferência. A primeira medição foi realizada com o reservatório de vidro no seu nível máximo e a 31 segunda no nível mínimo e resultaram nos seguintes valores para Reynolds: 3905 e 2928, respectivamente. Por isso foi necessário estabelecer o limite mínimo do reservatório de vidro. Este limite foi estabelecido após várias medições que indicaram a menor coluna d’água necessária para a realização do ensaio sem grande interferência na visualização dos regimes. Estes limites estão mostrados na figura 5-7. Figura 5-7 – Detalhe das Indicações dos Níveis Máximo e Mínimo do Reservatório Importante também é conseguir a equalização das velocidades do corante com a água dentro do tubo de vidro, a fim de se evitar o efeito jet mixing, que gera um fluxo turbulento do corante mesmo com mínimas vazões devido à diferença de velocidade entre os fluidos. Para isso é necessário um ajuste cuidadoso da válvula do funil de separação, aplicando a esta uma pequena abertura. Quanto à diferença na visualização dos regimes experimentais de transição e turbulento, quando comparados aos parâmetros estabelecidos pela ABNT, é possível afirmar que as mesmas fontes que causam a interferência no regime laminar, citadas anteriormente, podem explicar as diferenças. No entanto, quando comparamos com a classificação realizada por Reynolds em 1883, verificamos a faixa experimental de transição maior e a faixa de regime 32 turbulento praticamente igual, o que leva a concluir que o fato de se utilizar um aparato experimental similar ao de Reynolds, trouxe resultados aproximados. Os valores médios experimentais de Reynolds crítico laminar-para-transição e transição-para-turbulento, foram 1604 e 2372, respectivamente. Já os valores da classificação estabelecida por Reynolds, são 2000 e 2400. Daí pode-se concluir que a bancada didática possibilitou resultados com variação de 20% e 2%, respectivamente. Ou ainda, 20% e 41% de variação quando comparados com a classificação atual da ABNT. 33 6 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES PARA FUTUROS ESTUDOS O legado de Osborne Reynolds no campo da mecânica dos fluidos, em particular o estudo dos regimes de escoamento, facilitou o entendimento dos complexos fenômenos relacionados ao movimento dos fluidos. Uma frase atribuída à Galileu Galilei (1564-1642) mostra a dimensão desta complexidade “Mais fácil me foi encontrar as leis com que se movem os corpos celestes, que estão a milhões de quilômetros, do que definir as leis do movimento da água, que escoa frente aos meus olhos.” (GALILEU GALILEI, 1564-1642 apud GRASSIA, 2007, p. 7). O trabalho desenvolvido e os resultados alcançados permitiram afirmar que os objetivos propostos foram atingidos, a visualização dos três regimes distintos de escoamento da água em condutos foi conseguida e a análise comparativa entre os dados experimentais e a classificação estabelecida por Reynolds e pela ABNT confirmaram o que foi citado na revisão bibliográfica a respeito das dificuldades em se conseguir uma situação ideal para alcançar o regime laminar com Número de Reynolds elevado. O maior índice alcançado na bancada didática foi 1867 para regime laminar, ainda que a classificação da ABNT e de Reynolds indique para esta situação Número de Reynolds igual a 2000. Assim, a bancada didática com o auxilio do roteiro experimental mostrado no apêndice C, permitirão aos alunos das futuras turmas dos cursos de Engenharia do campus Itatiba da Universidade São Francisco, o uso de uma ferramenta prática para facilitar o aprendizado da teoria exposta em sala de aula e motivará uma análise critica das diferenças encontradas, o que é de grande importância nesta área do conhecimento, como foi mostrado no inicio do presente trabalho. Como considerações para os futuros estudos são sugeridas melhorias na estrutura da base da bancada, tornando-a mais rígida e dessa forma mais resistente a perturbações externas, desenvolvimento de sistema de nível constante da água dentro do reservatório de vidro, uso de boca de sino no tubo de vidro diminuindo os vórtices que causam turbulência na entrada da água e utilização de um registro que possibilite um controle mais preciso da vazão da água, possivelmente uma válvula do tipo agulha. 34 7 APÊNDICE 7.1 APÊNDICE A - DESENHOS 7.1.1 CONJUNTO 1 7.1.2 CONJUNTO 2 7.1.3 MONTAGEM INJETOR 7.1.4 RESERVATÓRIO DE VIDRO 7.1.5 TUBO DE VIDRO 7.1.6 MANCAL 1 7.1.7 MANCAL 2 7.1.8 TUBULAÇÃO DE DESCARGA 7.1.9 INJETOR 7.2 APÊNDICE B - PLANILHA DE CUSTOS DO PROJETO 7.3 APÊNDICE C - ROTEIRO DO EXPERIMENTO 35 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHAVES Ana Paula P. Dinâmicas de Grupo: uma contribuição teórica para uma prática banalizada, 2002, Disponível em: <www.anped.org.br>. Acesso em: 09 de jul. 2008. FOUST at al. Princípios das Operações Unitárias. 1 ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Dois S.A., 1982. FOX, R. W.; MCDONALD, A. T. Introdução à Mecânica dos Fluidos. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2001. 504 p. GRASSIA, T. T. Perda de carga ao longo das tubulações. Análise das equações de Churchill, Swamee – Jain e Haaland na determinação do fator de DarcyWeisbach. São Bernardo do Campo, 2007. p. 3. IGNÁCIO, R.F. Curso Básico de Mecânica dos Fluidos. Disponível em: <www.escoladavida.eng.br>. Acesso em: 28 de mar. 2008. IGNÁCIO, R.F. Mecânica dos Fluidos para Eng. Química. Disponível em: <www.escoladavida.eng.br>. Acesso em: 28 de mar. 2008. JACKSON, Derek; LAUNDER Brian. Osborne Reynolds and the Publication of His Papers on Turbulent Flow. Disponível em: <www.annualreviews.org>. Acesso em: 08 de abr. 2008. KURI, Nídia P. e GIORGETTI, Marcius F. Metodologia de Ensino de Engenharia – estilos de Aprendizagem e Estilos de Ensino. São Paulo: USP, 1993. MUNSON, B. R.; YOUNG, D. F.; OKIISHI, T. H. Fundamentos da Mecânica dos Fluidos. 2 ed. São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 1997. 408 p. ROTT, N. Note on The History of the Reynolds Number. Disponível em: <www.annualreviews.org>. Acesso em: 02 de abr. 2008. SHAMES, I. H. Mecânica dos Fluidos. Análise de Escoamentos. 1. ed. São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 1973. 2 v. 533 p. Tradução Amorelli, M. O. C. 36 APÊNDICE B - PLANILHA DE CUSTOS DO PROJETO 37 APÊNDICE C - ROTEIRO DO EXPERIMENTO UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO ENGENHARIA MECÂNICA E INDUSTRIAL ROTEIRO DE EXPERIMENTO LABORATÓRIO DE MECÂNICA DOS FLUIDOS EXPERIÊNCIA ENSAIO DE REYNOLDS Autor: Graduando Daniel Luís de Andrade Ribeiro Orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto Tardin Jr. 38 BEM VINDOS! Prezados Alunos, Este material tem o intuito de guiá-los através das práticas disponíveis no nosso Laboratório de Mecânica dos Fluidos. O mundo dos experimentos é sempre surpreendente e periodicamente nos revela o quão à realidade pode diferir de nossos modelos mentais. Espero que possam aliar a teoria à prática e absorver o conhecimento necessário para obter resultados em sua vida profissional. Divirtam-se! Abraço, Paulo R Tardin Jr. 39 1. INTRODUÇÃO A bancada experimental é constituída de um reservatório de vidro para água, tubo de vidro, injetor em aço inox, reservatório do corante, tubulação de pvc e bomba para reposição de água. Cuidados a serem tomados: Somente ligar a bomba com água no reservatório. A bomba danificará se trabalhar à seco. 2. OBJETIVOS A experiência tem por objetivo a visualização dos três tipos de escoamento, o laminar, de transição e o turbulento. Objetiva também o cálculo do Número de Reynolds para cada tipo de escoamento visualizado. Após o levantamento dos dados e cálculo, o aluno deve comparar os dados experimentais obtidos no ensaio com os parâmetros teóricos, fazendo-se necessária as devidas justificativas caso não haja semelhança entre os dados teóricos versus experimentais. 3. TEORIA 3.1. O Número de Reynolds O Número de Reynolds, um dos principais termos para compreensão de muitos dos fenômenos da mecânica dos fluidos, tornou possível uma análise, de certa forma, quantitativa, dos dois tipos existentes de escoamento, o laminar e o turbulento. Quando o fluido escoa a baixas velocidades se faz presente o fluxo laminar, e as forças que governam este tipo de escoamento são as forças viscosas. Quando a velocidade aumenta, o fluxo laminar se transforma em fluxo de transição e as forças de inércia começam a se sobrepor sobre as viscosas e então por fim, quando somente as forças de inércia se tornam presentes, em função da velocidade do fluido, surge o fluxo turbulento. O número que caracteriza os tipos de fluxos e que relaciona as forças de inércia e viscosas é a variável adimensional conhecida como Número de Reynolds. O Número de Reynolds foi determinado em 1883, pelo Professor Irlandês Osborne Reynolds O número de Reynolds, também chamado de módulo ou coeficiente de Reynolds [Re], é um número adimensional que foi determinado em 1883 pelo Professor Irlandês Osborne Reynolds, sendo fundamental no projeto de sistemas de bombeamento, de tubulações industriais, asas de avião, sistemas aerodinâmicos, entre muitos outros. Reynolds desenvolveu o aparato experimental esquematizado na figura 1, que consiste de um tubo transparente inserido em um recipiente de vidro cheio d’água e à entrada do tubo transparente é interligado um capilar que injeta corante no centro do tubo transparente, proveniente de um reservatório externo, que ao abrir a válvula de haste longa, observa-se a 40 formação de um filete retilíneo de corante e ao abrir mais a válvula a velocidade aumenta e o filamento se difunde na água. Figura 1 – Ilustração do Aparato Experimental de Reynolds (sem escala) (http://meusite.mackenzie.com.br/eangelo/Exp_Reynolds.pdf). Com este aparato Reynolds demonstrou a existência de dois tipos de escoamentos: “o primeiro onde os elementos do fluido seguem-se ao longo de linhas de movimento e que vão da maneira mais direta possível ao seu destino, e outro em que se movem em trajetórias sinuosas da maneira mais indireta possível”, seguindo a redação original de seu relato (REYNOLDS, 1883 apud JACKSON, LAUNDER, 1997). Mais tarde foram chamados de escoamento laminar e o escoamento turbulento. No regime laminar, a estrutura do escoamento é caracterizada pelo movimento em lâminas ou camadas. A estrutura do escoamento no regime turbulento é caracterizada pelo movimento tridimensional aleatório das partículas do fluido sobreposto ao movimento da corrente. (FOX & McDONALD, 2001). Após várias investigações teóricas e experimentais, Reynolds concluiu que o critério mais apropriado para se determinar o tipo de escoamento de uma canalização não se atém exclusivamente ao valor da velocidade, mas a uma expressão adimensional na qual a viscosidade do fluido também é levada em consideração. Este adimensional passou a ser conhecido como Número de Reynolds. O número de Reynolds é expresso da seguinte maneira: 41 Re = VD υ Onde, V - velocidade média de escoamento D - diâmetro interno da tubulação υ - viscosidade cinemática do fluido, que no caso da água a temperatura 20ºC é igual 1,00 x 10-6 m²/s. Onde V = V é dado por: 4Q πD 2 (Q é a vazão) Com os resultados de seus estudos, Reynolds estabeleceu que: Re ≤ 2000 → tem-se o escoamento laminar 2000 < Re < 2400 → tem-se o escoamento de transição Re ≥ 2400 → tem-se o escoamento turbulento A classificação atual estabelecida pela ABNT difere um pouco da estabelecida por Reynolds e é a seguinte: Re ≤ 2000 → tem-se o escoamento laminar 2000 < Re < 4000 → tem-se o escoamento de transição Re ≥ 4000 → tem-se o escoamento turbulento (IGNÁCIO, 2008) 1. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL E RESULTADOS ESPERADOS O experimento deve ser executado conforme passos a seguir: 42 a. Certifique-se que o registro da tubulação de descarga do reservatório encontra-se fechado. b. Encha o reservatório de vidro com água até a indicação de nível máximo. Importante: Após o enchimento do reservatório manter o sistema sem grandes vibrações, pois tais perturbações interferem na visualização dos escoamentos. c. Prepare a solução do corante. Dissolva algumas gotas (10 a 15 gotas) em 200ml de água. d. Coloque a solução do corante no funil de separação. Cuidados: 1. Certifique-se que a válvula do funil esteja fechada; 2. Durante a realização da experiência deixe o funil sem a tampa para que permita a equalização da pressão e o escoamento do corante. 43 a. Posicione o cronômetro na posição indicada na figura acima. b. Abra a válvula do funil de separação. Importante: Para evitar a ocorrência do efeito jet mixing (velocidade do corante maior que a do escoamento da água), abra com cuidado esta válvula posicionando-a na menor abertura possível que permita o escoamento do corante. c. Abra vagarosamente o registro da tubulação de descarga do reservatório e ajuste a abertura até visualizar o escoamento laminar. Escoamento Laminar 44 a. Posicione a proveta na saída da tubulação de descarga e ao mesmo tempo acione a partida do cronômetro. b. Após 15 s retire a proveta e anote o volume de água. c. Repita os passos g, h e i para visualização do regime de escoamento de transição e turbulento, consecutivamente. Escoamento de Transição Escoamento Turbulento Importante: Os experimentos só devem ser realizados quando o nível do reservatório de água estiver entre as marcações existentes. A realização do experimento com a água abaixo do nível mínimo gerará interferência indesejável nos resultados. 45 a. Para reposição do nível de água no reservatório, utilizar a bomba posicionada logo atrás, transferindo a água do reservatório secundário para o principal evitando assim grandes perturbações. ATENÇÃO: Somente ligue a bomba se o reservatório secundário estiver com água, a bomba danificará se trabalhar a seco. 1. ANÁLISE DOS DADOS b. Com os dados e resultados obtidos preencha a tabela abaixo, Dados: Viscosidade Cinemática da água a 20º C => ν =1,00 x 10-6 m²/s. Diâmetro interno do tubo de vidro: 20mm. Faça as conversões de unidades necessárias e determine os parâmetros (Q, v e Re). Ensaio Tentativa 1 Laminar 2 Transição 3 Turbulento Visualização Vol (ml) t (s) Q (L/min) v (cm/s) Re 46 Analise os resultados encontrados e responda as questões abaixo. a. A visualização desejada foi alcançada ? b. Quais as maiores dificuldades encontradas na realização do ensaio ? c. Compare os valores do Número de Reynolds teórico tanto o estabelecido por Reynolds quanto os valores da ABNT com aquelas encontradas experimentalmente calculadas na tabela acima. Comente as diferenças entre elas. 47 6. BIBLIOGRAFIA BIBLIOGRAFIA INDICADA Títulos da Bibliografia Básica MUNSON B. R.; YOUNG, D. F.; OKIISHI, T. H. Fundamentos da Mecânica dos Fluidos. 2. ed. São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 1997. 408 p. FOX, Robert W.; MCDONALD, Alan T. Introdução à mecânica dos fluidos. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2001. 504 p.