Anais do II Seminário de Atualização Florestal e XI Semana de Estudos Florestais
PROPRIEDADES FÍSICAS DA MADEIRA DE BRACATINGA (Mimosa scabrella Bentham)
DE OCORRÊNCIA NA REGIÃO DE IRATI, PR.
Larissa Quartaroli*, Joice Kuritza, Heloisa Rancatti, Gilmara de Oliveira Machado, Éverton
Hillig
Mestrado em Ciências Florestais – Universidade Estadual do Centro-Oeste,
PR 153, KM 7, 84500-000, Irati/Paraná, [email protected]
RESUMO
O objetivo desse trabalho foi determinar a massa específica e a estabilidade dimensional da madeira de
bracatinga (Mimosa scabrella Bentham), plantada na região de Irati, PR. Foram selecionadas quatro
árvores, com DAP de 52, 38, 30 e 27 cm, de onde foram retiradas vigas para a fabricação dos corpos-deprova. Para determinar a massa específica de cada corpo-de-prova utilizou-se o método da balança
hidrostática e, para determinar a estabilidade dimensional, calculou-se a contração no sentido radial e
tangencial, em relação às fibras, e a contração volumétrica dos corpos de prova. Verificou-se que as árvores
possuem valores de massa específica diferentes estatisticamente entre si, exceto para as árvores 1 e 4. Já
para valores de contração volumétrica não houve diferença estatística entre as árvores. O valor médio do
coeficiente de anisotropia apresentado pela madeira de bracatinga foi de 1,53.
Palavras-chave: Contração volumétrica, Massa específica, Mimosa scabrella Bentham
Introdução
A Mimosa scabrella Bentham trata-se de uma espécie florestal da família das LeguminosaeMimosoideae (Mimosaceae), pioneira e de ciclo curto. É conhecida popularmente como bracatinga,
bracaatinga, abaracaatinga, bracatinho, abraacatinga e paracaatinga. Segundo LORENZI (2002)
contém madeira moderadamente pesada, com densidade aparente em torno de 0,65 a 0,81 g/cm³ e
umidade entre 12 a 15%.
A madeira da bracatinga é considerada de propriedades físico-mecânicas médias a altas, com
resistência média e durabilidade natural baixa, sendo fácil de aparar e lixar, e difícil de cortar
(CARVALHO, 2003).
A bracatinga é nativa dos climas mais frios do Brasil, ocorre do estado de São Paulo ao Rio
Grande do Sul. Vegetando predominantemente como espécie componente da floresta de pinhais. No
Paraná é encontrada em 25% do território.
Anatomicamente, o cerne é de coloração bege-rosada e irregular. Apresenta nuances mais
escuras, textura grosseira, superfície um pouco áspera e grã direita. A durabilidade natural da
madeira é baixa. Contudo, é passível de tratamento preservante, em autoclave (ANGELI e STAPE,
2003).
O consórcio de culturas agrícolas com a bracatinga é bastante utilizado, garantindo a
produção de lenha e produtos alimentícios, como milho e feijão. No cultivo da bracatinga é
utilizado o método de semeadura direta, de 3 a 6 cm de profundidade, feita com 3 a 10 sementes por
cova, com espaçamentos de 1,0 m x 1,0 m, de 1,20 m 0,60 m e de 1,0 m x 0,80m, a dormência das
sementes é quebrada por imersão rápida em água fervente (CARVALHO, 2003).
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Os principais usos da madeira são para energia, como lenha e carvão, na construção civil,
como vigamento e ripas de telhado, no setor moveleiro, aglomerados e compensados (NETO,
1981). Segundo ABRAHAMS (2004) a madeira de bracatinga, além de bonita, possui
características especiais que lhe aferem oportunidades de mercado.
Este trabalho teve por objetivo determinar a massa específica e a estabilidade dimensional
da madeira de bracatinga (Mimosa scabrella Bentham), plantada na região de Irati, PR.
Materiais e Métodos
Para a realização do trabalho, foram utilizadas amostras de madeira de bracatinga, da
espécie Mimosa scabrella Bentham, provenientes da área do campus da Universidade Estadual do
Centro Oeste de Irati-PR. O abate das árvores foi realizado durante os meses de dezembro de 2008 a
janeiro de 2009.
Foram selecionadas quatro árvores, com diâmetro à altura do peito (DAP) de 52, 38, 30 e 27
cm, de onde foram retiradas vigas para a fabricação dos corpos-de-prova, conforme o esquema
apresentado na Figura 1. As vigas utilizadas para retirada aleatória dos corpos-de-prova foram às
procedentes da primeira tora, com aproximadamente 1,5 metros de comprimento.
Para a determinação das propriedades físicas da madeira foram utilizados quatro corpos-deprova de cada árvore, com dimensões de 5x5x10 cm, direções radial, tangencial e axial das fibras da
madeira, respectivamente.
Figura 1. Método simplificado de amostragem aleatório, para selecionar vigas.
A massa específica de cada corpo-de-prova foi determinada pelo método da balança
hidrostática, totalizando 16 análises. Determinou-se a massa específica básica, que é o resultado da
razão entre a massa seca e o volume saturado.
Para determinação da estabilidade dimensional da madeira foi calculada a contração no
sentido radial e tangencial, em relação às fibras, e a contração volumétrica. Para o cálculo, foram
realizadas duas medidas em cada sentido do corpo-de-prova, nos estados seco e saturado. Foi
determinada a contração radial e a tangencial a partir das equações 1 e 2.
(1)
(2)
A contração volumétrica foi calculada por meio da soma da contração radial e da contração
tangencial. Os dados de massa específica e de estabilidade dimensional foram analisados para cada
árvore.
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Resultados e Discussão
Na tabela 1 são apresentados os valores médios de massa específica e de contração (radial,
tangencial e volumétrica) determinados para cada árvore analisada.
Tabela 1. Resultados de massa específica e de contração para cada árvore.
DAP Massa específica
Cont. Radial
Cont. Tangencial
Árvore
(cm) (g/ cm³)
(%)
(%)
1
52
0,54 b
3,44 b
5,30 a
2
38
0,59 c
3,35 a, b
4,56 a
3
30
0,48 a
2,57 a
4,32 a
4
27
0,54 b
2,73 a, b
4,32 a
Média 36,75 0,53
3,02
4,62
Cont. Volumétrica
(%)
8,74 a
7,91 a
6,89 a
7,05 a
7,65
* Médias seguidas de mesma letra não diferem pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade de erro.
Os resultados encontrados permitiram estimar uma massa específica básica média de 0,53 g/
cm e uma contração volumétrica média de 7,65% para as quatro árvores estudadas. Verifica-se que
a massa específica determinada nesse trabalho está de acordo com alguns referenciais da literatura,
que citam entre 0,51 a 0,61 g/cm3 (STURION & SILVA, 1989, CARVALHO, 2003), embora no
limite inferior das médias citadas.
Diversos são os fatores que podem influenciar na massa específica da madeira de uma
espécie, entre eles a posição da madeira no tronco da árvore, a qualidade do sítio, fatores genéticos
e a idade. Pelos dados da Tabela 1, verifica-se que as árvores apresentaram diferença de massa
específica básica média entre elas, exceto as árvores 1 e 4.
Com relação à Estabilidade Dimensional, verificou-se que os valores de contração
determinados estão abaixo dos valores encontrados por COSTA et al (2001), que encontrou valores
médios iguais a 4,26%, 10,13% e 13,97%, para as contrações radial, tangencial e volumétrica,
respectivamente. Naquele estudo a massa específica média foi de 0,60 g/cm3.
Calculando a razão entre a contração tangencial e a radial, temos o Coeficiente de
Anisotropia que nesse estudo apresentou valor médio igual 1,53. COSTA et al. (2001)
determinaram um coeficiente de anisotropia igual 2,38. Um baixo coeficiente de anisotropia indica
que a madeira é mais estável dimensionalmente, pois a diferença entre a contração radial e
tangencial é menor.
3
Conclusões
Mediante as análises abordadas neste trabalho, conclui-se que não há diferença estatística,
ao nível de 5% de significância, entre as contrações volumétricas determinadas para a madeira das
árvores de bracatinga estudadas. Já para a massa específica básica, houve diferença estatística entre
as árvores, exceto entre os valores das árvores 1 e 4. Não foi possível estabelecer uma relação entre
massa específica básica média da madeira de cada árvore e seu DAP.
O valor médio de contração volumétrica determinado foi relativamente baixo, em
comparação com os referenciais da literatura. Atribui-se esse fato ao também relativamente baixo
valor de massa específica encontrado para as amostras dessa madeira. As amostras analisadas
apresentaram um coeficiente de anisotropia igual a 1,53.
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Referências
ABRAHAMS, J. Perspectiva da madeira de bracatinga na indústria florestal moveleira. In: Oficina
sobre bracatinga no vale da ribeira, 1, Curitiba, 2004. Anais... p.5-12.
ANGELI, A., STAPE, J. L. Mimosa scabrella (Bracatinga). Instituto de Pesquisas e Estudos
Florestais – IPEF, 2004. Disponível em http://www.ipef.br/identificacao/mimosa.scabrella.asp.
Acesso em Julho de 2010.
CARVALHO, P. E. R. Espécies Arbóreas Brasileiras. Colombo, PR: Embrapa Florestas, 2003.
1039 p.
COSTA, A. F., VALE, A. T., GONÇALES, J. C. Eficiência de um resíduo de origem petrolífera
sobre a estabilidade dimensional da madeira de Pinus sp. (pinus) e Mimosa scabrella Bentham
(bracatinga). Ciência Florestal, Santa Maria, v. 11, n. 2, p. 59-70
LORENZI, H. Árvores brasileiras: Manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas do
Brasil. Volume 1, 4a Ed. Nova Odessa, SP: Editora Plantarum, 2002.
NETO, F. R. Revegetalização de áreas marginais a reservatórios de Hidrelétricas. IV Seminário
sobre atualidades e perspectivas florestais “Bracatinga uma alternativa para reflorestamento”.
Anais... Curitiba, PR: EMBRAPA/URPFCS, 1981.
STURION, J. A.; SILVA, F. Caracterizacion de la madera de bracatinga para energia. In:
SALAZAR, R. (Ed.). Manejo y aprovechamiento de plantaciones forestales con especies de uso
multiple: actas Reunion IUFRO, Guatemala, abril 1989. Turrialba: CATIE, 1989. p. 541-549.
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