Políticas Públicas para o Setor Financeiro que promovam a Conservação do Capital Natural no Setor Agropecuário: Brasil, da Rio92 à Rio+20 com uma Visão Prospectiva da Rio+50 SUMÁRIO EXECUTIVO PROGRAMA ÁGUA BRASIL II PROGRAMA ÁGUA BRASIL FICHA TÉCNICA BANCO DO BRASIL ROBSON ROCHA Vice Presidente Gestão de Pessoas e Desenvolvimento Sustentável RODRIGO SANTOS NOGUEIRA Gerente Geral Desenvolvimento Sustentável WAGNER DE SIQUEIRA PINTO Gerente Executivo ANA MARIA RODRIGUES BORRO MACEDO Gerente de Divisão WANDA ISABEL CÂNDIDO GUIMARÃES MELO JORGE ANDRE GILDI DOS SANTOS Assessores Empresariais COLABORAÇÃO ÁLVARO ROJO SANTAMARIA FILHO CHRISTIENY DIANESE ALVES DE MORAES Diretoria de Agronegócios WWF-BRASIL MARIA CECILIA WEY DE BRITO Secretária Geral MAURO ARMELIN Superintendente de Conservação KARINA MARQUESINI KOLOSZUK Coordenadora de Finanças para Sustentabilidade FÁBIO LUIZ GUIDO Especialista em Finanças para Sustentabilidade ANGELICA DE SOUZA GRIESINGER Analista de Finanças para Sustentabilidade Equipe Técnica Responsável PROF. DR. JORGE MADEIRA NOGUEIRA Coordenador Msc Economia J. M. NOGUEIRA JR. BSc. Eng. Florestal FELIPE STOCK VIEIRA Coordenação: Diagramação: Angelica de Souza Griesinger Christieny Dianese Alves de Moraes Wanda Isabel Cândido Guimarães Melo Carlos Eduardo Peliceli da Silva (Analista de Comunicação WWF-Brasil) 2014 1 © WWF-Brasil / Eduardo Aigner PROGRAMA ÁGUA BRASIL Vista da Serra dos Pirineus e para a cidade de Pirenópolis/GO, onde o Programa Água Brasil atua pelo eixo Cidades Sustentáveis. 2 PROGRAMA ÁGUA BRASIL SUMÁRIO EXECUTIVO Por que o estudo foi desenvolvido? 1 O estudo intitulado Políticas Públicas para o Setor Financeiro que promovam a Conservação do Capital Natural no Setor Agropecuário: Brasil, da Rio92 à Rio+20 com uma Visão Prospectiva da Rio+50 foi produzido no âmbito do Programa Água Brasil, parceria firmada pelo BB com a Agência Nacional de Águas, o WWF e a Fundação Banco do Brasil visando à implementação de práticas agrícolas sustentáveis em conservação de recursos hídricos e à conscientização e mudança de atitude dos públicos internos dos parceiros, clientes e da sociedade com relação ao consumo responsável e tratamento adequado dos resíduos sólidos urbanos. Nesse contexto, o estudo foi elaborado com o objetivo de analisar as possibilidades de coordenação e compatibilização entre a atuação do setor financeiro e a minimização das externalidades negativas ambientais derivadas das atividades produtivas que alimentam as exportações de produtos da lavoura e pecuária brasileiras. As cadeias produtivas pesquisadas foram: cana-de-açúcar, carne bovina, soja e madeira. A principal questão respondida pelos resultados desta investigação foi: as atuais ações e instrumentos do setor financeiro, dirigidas para apoiar as atividades produtivas do agronegócio brasileiro voltadas para a exportação de seus produtos, são compatíveis com a crescente tentativa de regulamentação internacional voltada para difundir ou incentivar formas de produção que minimizem consequências ambientais negativas? 3 2 Na busca de evidências (conceituais, analíticas, empíricas) para responder a essa indagação, nossos estudos limitaram-se a um período aproximado de 20 anos entre duas conferências da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre desenvolvimento e meio ambiente: a RIO92 e a RIO+20. Além disso, utilizamos exclusivamente evidências disponíveis em fontes secundárias, não tendo sido realizado levantamento primário de dados ou informações. As principais fontes utilizadas foram: a) literatura técnica e científica nas áreas de agropecuária, economia bancária, economia internacional e meio ambiente; b) anais de encontros técnico-científicos, em particular os da Sociedade Brasileira de Economia, Sociologia e Administração Rural (SOBER); e c) banco de dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, Ministério do Meio Ambiente - MMA e Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC. 3 Outro procedimento metodológico relevante para o sucesso das investigações desenvolvidas foi a definição de quatro áreas de interação humana: a. Atividade Agropecuária – em particular os aspectos relacionados à parcela da sua produção voltada para atender o mercado internacional; b. Setor Externo – com destaque para a clara percepção das características do comércio internacional de produtos agropecuários; c. Setor Financeiro – composto por diversos seg- © WWF-Brasil / Eduardo Aigner PROGRAMA ÁGUA BRASIL Nascente do Rio dos Matos (olho d’água) no Povoado de Mangabeira, Pedro II/PI, onde o Programa Água Brasil atua pelo eixo Água e Agricultura. mentos, entre os quais é de nosso especial interesse aquele que financia (direta ou indiretamente) as atividades agropecuárias; e d. Capital Natural – a base física e biológica sobre a qual se desenvolvem as atividades agropecuárias é o motivo último desta investigação e para a qual se busca a manutenção de suas qualidades em bases sustentáveis. 4 Definidas essas quatro áreas de interação humana, os autores detalharam cada uma delas individualmente. A esse conhecimento individual de cada área denominamos como conhecimento segmentado do assunto analisado. Apesar de relevante, esse conhecimento segmentado contribuiu marginalmente para a consecução dos objetivos do estudo. Foi fundamental um conhecimento das interfaces entre essas quatro áreas de interação humana. Em uma primeira etapa na busca do entendimento dessas interfaces foram consideradas as interações dessas áreas duas a duas. Denominamos esse entendimento de conhecimento combinado, que nos revelou a importância da dependência das ações e das características de uma área de interação humana em relação às ações e características de outra. No entanto, foi também necessária outra etapa ainda mais reveladora: o conhecimento derivado de análises das interfaces entre múltiplas combinações de áreas de intervenção humana. Isso foi obtido de duas maneiras. A primeira é o conhecimento adicionado, no qual áreas são analisadas em combinações triangulares, e a segunda é o conhecimento totalizador, no qual se alcança a interação entre as ações e as características conjuntas das quatro áreas de interação humana. Todos esses níveis de conhecimento estão representados na Figura 1.1 do Capítulo 1 do estudo. Por que este estudo é importante? 5 4 A última década do século XX e a primeira década do século XXI foram marcantes em termos de PROGRAMA ÁGUA BRASIL 6 A agropecuária, o setor financeiro, o comércio externo e o capital natural (meio ambiente) brasileiros não ficaram imunes às mudanças ocorridas no período; muito pelo contrário. O setor agropecuário nacional apresentou aumentos de produção impressionantes e o país consolidou-se entre os três maiores exportadores mundiais de grãos e carnes. O setor financeiro passou por um período de grande instabilidade, seguido por uma concentração de atividades bancárias que o direciona para uma estrutura robusta. Depois de décadas de uma economia fechada em um processo de industrialização por substituição de importações, o Brasil se abre ao comércio e investimentos internacionais, em um cenário em que competitividade passa ser objetivo básico. Em termos de uso e conservação do capital natural, supressão de cobertura vegetal, poluição do ar e da água e perda de diversidade biológica, consolidam-se como variáveis relevantes nas escolhas, implantações e avaliações de políticas, planos, programas e projetos. 5 © WWF-Brasil / Eduardo Aigner transformações significativas nos sistemas político e econômico, em nível global e nacional. Em termos de política internacional, mudanças decorrentes da fragmentação do experimento socialista soviético alteraram posições relativas de determinados Estados nacionais na hierarquia do sistema internacional contemporâneo. A economia global também sofre mudanças profundas, principalmente em decorrência do acelerado crescimento da China. No Brasil, o processo de redemocratização se consolida após um conturbado impedimento do Presidente da República e a economia fica livre da alta inflação e se reencontra com a estabilidade monetária e o crescimento econômico, em um cenário de crescente abertura ao mercado internacional. Parque Nacional Cavernas do Peruacu na Bacia do Rio Peruaçu, Januaria/MG, onde o Programa Água Brasil atua pelo eixo Água e Agricultura. 7 A análise de quatro cadeias produtivas de produtos agropecuários presentes na pauta de exportação brasileira (soja, carne bovina, cana-de-açúcar e madeira), financiadas pelo sistema de crédito rural e que impactam o capital natural é extremamente relevante em um período de mudanças tão grandes como o compreendido entre RIO92 e RIO+20. Essas cadeias produtivas apresentam aspectos técnicos, produtivos, institucionais, geográficos e comerciais distintos o suficiente para que se alcance uma visão abrangente das interfaces entre setor financeiro, atividade agropecuária, comércio externo e capital natural. Tudo isso evidencia a importância das análises e dos resultados do estudo sobre Políticas Públicas para o Setor Financeiro que promovam a Conservação do Capital Natural no Setor Agropecuário: Brasil, da Rio92 à Rio+20 com uma Visão Prospectiva da Rio+50. PROGRAMA ÁGUA BRASIL O conhecimento segmentado destacado no estudo 8 A agropecuária brasileira parece ter iniciado uma transição de um sistema agropecuário fundamentado em recursos naturais para um sistema fundamentado em ciência no período analisado. Na verdade essa transição tem um claro componente regional: em algumas áreas, o uso intensivo do capital natural ainda é o principal insumo/fator de produção; em outras regiões, a agropecuária intensiva predomina, com intenso uso de sementes melhoradas, fertilizantes, produtos químicos e maquinário. Há ainda aqueles pontos do território onde o sistema fundamentado em recursos naturais experimenta uma transição para o sistema fundamentado em ciência. Essas três situações podem também ser encontradas nas cadeias produtivas analisadas, com a soja e a cana mais próximas a sistemas fundamentados em ciência, a pecuária fundamentado em recursos naturais e a madeira em um sistema em transição. 9 O sistema oficial de crédito rural recuperou sua dimensão financeira durante o período sob análise, após uma crise profunda na década de 80. Apesar de novas regras para fontes e usos de recursos, o crédito rural oficial mantém algumas das suas características do próspero período anterior. Uma dessas características é a desigual distribuição entre regiões e entre atividades produtivas. Outra tendência que se mantém é a criação de “linhas especiais de crédito” para atender regiões, atividades e clientela não contempladas pelas regras gerais do sistema. Chama a atenção do analista, por outro lado, a significativa redução da importância relativa do crédito rural oficial quando comparada ao valor da produção agropecuária. 10 Apesar do incremento do comércio internacional de produtos agropecuários, o crescimento das trocas internacionais é ainda freado por uma série de barreiras impostas pelos países compradores, em geral países de elevada renda. Essas barreiras recebem atenção detalhada na Parte III do estudo. Não obstante, nossas análises também evidenciaram alguns obstáculos internos ao aumento das exportações agropecuárias brasileiras. Elas acabam sendo negativamente influenciadas por outras políticas (de câmbio e tributárias), por problemas sanitários ainda não equacionados (relacionados ao controle de enfermidades animais) ou pela ausência de definições de política pública (caso da cana-de-açúcar e, em especial, da madeira). 11 Ao longo dos 20 anos entre a RIO92 e a RIO+20 o capital natural recebeu atenção crescente de formuladores e implantadores de política pública. Impressiona o analista a quantidade de políticas ambientais aprovadas e implantadas no país. No entanto, outro aspecto também chama a atenção: a política brasileira de uso e conservação do capital natural continua essencialmente baseada em instrumentos de comando e controle (ICC), tais como: leis, instruções, normas, licenciamentos, zoneamento. Instrumentos econômicos (IE) e instrumentos proativos/voluntários (IV) continuam presentes nos discursos e ausentes na prática da gestão do capital natural no Brasil. O conhecimento combinado destacado no estudo 12 As interfaces entre produção agropecuária e capital natural são complexas em uma realidade de transição de um sistema agropecuá- 6 © WWF-Brasil / Cacalos Garrastazu PROGRAMA ÁGUA BRASIL Boas práticas de produção agrícola em Lençóis Paulista/SP, onde o Programa Água Brasil atua pelo eixo de Água e Agricultura. rio baseado em recursos naturais para um sistema baseado em ciência. Essa realidade exige conhecimento técnico-científico mais aprofundado e linhas de financiamento e de crédito mais abundantes e de longo prazo. Se, por um lado, um sistema agropecuário baseado em ciência libera a produção agropecuária dos limites impostos pelo capital natural, por outro lado impõe um novo conjunto de restrições a essa mesma produção. A intensificação da produção agropecuária tem acelerado o processo de degradação do solo e de poluição dos recursos hídricos, assim como incrementado a resistência das pragas e das patogêneses aos métodos usuais de controle. 13 O final do século XX, em especial os anos imediatamente posteriores à RIO92, também seria palco de uma crescente intranquilidade quer com os impactos sobre o capital natural das externalidades geradas pela produção agropecuária mais intensiva (em alguns locais, com os impactos de um 7 padrão ainda de crescimento extensivo da produção), quer com o crescimento da demanda por amenidades ambientais rurais, derivado do incremento da renda per capita e da elevada elasticidade-renda da demanda por serviços ambientais, tais como ausência de poluição e de degradação. A partir do início dos anos 90 começava a ficar evidente que o redirecionamento do esforço produtivo, técnico e científico para um caminho induzido por um menor estresse ambiental seria elemento essencial em qualquer esforço para alcançar consistência entre demandas muitas vezes conflitantes por maior disponibilidade de alimentos e por mais serviços ambientais. 14 Na década da RIO92 (1990 a 1999) houve aumento do volume produzido com redução da área plantada em praticamente todas as lavouras brasileiras. Entre as culturas selecionadas no estudo, cana-de-açúcar e soja elevaram o volume da produção combinado com o aumento da área plantada. PROGRAMA ÁGUA BRASIL Isso sinalizava o rompimento do padrão tradicional de crescimento com base essencialmente na expansão da área cultivada, já que os aumentos da produção física das lavouras estavam associados ao incremento da produtividade, seja por meio de novas técnicas agrícolas ou pelo uso da Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) de nossos centros de investigação científica. 15 No período imediatamente subsequente (1999-2006), em um contexto de expansão acelerada do agronegócio, houve elevação vertiginosa da produção de algumas lavouras, que voltou a ser acompanhada pelo aumento da área plantada combinada com ganhos de produtividade. No entanto, isso não significou um retorno ao tradicional padrão extensivo, uma vez que se estava diante de um processo de intensificação da modernização dos diversos sistemas produtivos, com adoção progressiva de tecnologias mais produtivas. O período mais próximo à RIO+20 (2006-2011) apresentou um padrão semelhante ao primeiro período, ou seja, praticamente em todas as lavouras brasileiras houve aumento do volume produzido com redução da área plantada. 16 Em termos de políticas públicas explícita ou implicitamente relacionadas às atividades agropecuárias brasileiras, há uma clara impressão de que não foram percebidas ainda as profundas mudanças ocorridas no setor agropecuário nacional. As quatro cadeias produtivas aqui estudadas têm tido a incorporação da variável ambiental de maneira míope. Por exemplo, uma das ações para conservar o capital natural em relação à expansão da cultura da soja é conhecida como a Moratória da Soja. Outro exemplo: o deslocamento da fronteira da produção pecuária para a região Centro-Oeste e, mais recentemente, para a região Norte gerou diversos protestos da área ambientalista em relação à atividade, que acarretaram a conhecida Moratória da Carne de 2009. 17 Não se podem negar (pelo menos ainda não se podem negar) os efeitos positivos dessas Moratórias sobre uma redução no ritmo de desmatamento de atividades caracterizadas por um sistema produtivo baseado em recursos naturais. No entanto, para um sistema baseado em ciência, como é o caso de parte significativa da soja, os efeitos da Moratória são nulos em termos de redução das externalidades negativas da produção sobre o capital natural. Mais relevante ainda é o fato de que parte relevante do crédito rural oficial é obtida pelos produtores de soja baseados em ciência e não pelos baseados em recursos naturais. 18 A eficácia ambiental se amplia no caso do Protocolo Agroambiental do Setor Sucroalcooleiro. Esse Protocolo, de adesão voluntária, estabeleceu uma série de princípios e diretivas técnicas, de natureza ambiental, a serem observados pelos produtores de cana-de-açúcar. Entre as diversas diretrizes, destaca-se aquela que antecipa os prazos estabelecidos para o fim da colheita da cana-de-açúcar com o uso prévio do fogo nas áreas cultivadas pelas usinas. Essa prática agrícola, denominada “queima controlada da palha da cana” é necessária para a sua colheita manual, sem o emprego de máquinas. Em fevereiro de 2008, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente de São Paulo informou que 141 empresas de açúcar e etanol já haviam aderido ao Protocolo, recebendo o respectivo “Certificado de Conformidade Agroambiental”. Essas adesões correspondem a mais de 90% do total de cana produzida no território paulista. 8 PROGRAMA ÁGUA BRASIL © WWF-Brasil / Eduardo Aigner natural no Brasil nos últimos vinte anos. Os documentos resultantes da Conferência RIO92 desconsideraram, em essência, o setor financeiro e o papel que ele poderia desempenhar na busca de um padrão de desenvolvimento sustentável, conceito-chave da Conferência. As alusões feitas a recursos financeiros naqueles documentos se restringiam a promessas de transferências financeiras dos países ricos aos países pobres a fim de auxiliá-los na busca de um padrão sustentável de desenvolvimento. Essas transferências ficaram no terreno das muitas promessas não cumpridas ao longo das duas décadas seguintes. 21 Igarapé Santa Rosa na Bacia do Rio Acre, Xapuri/AC, onde o Programa Água Brasil atua pelo eixo Água e Agricultura. 19 O setor madeireiro apresenta uma clara indefinição em termos de suas interfaces com o setor financeiro, o setor exportador ou o capital natural. O setor está incluído na Política Nacional sobre Mudança do Clima que inclui a redução do desmatamento e o reflorestamento de 5,5 milhões de hectares, sendo 2 milhões de florestas nativas. Além de dúvidas sobre a localização geográfica do reflorestamento vis-a-vis a do desmatamento, não há preocupação explícita de diversificar as espécies usadas nos reflorestamentos brasileiros que se concentram em algumas poucas espécies mais rentáveis. O conhecimento adicionado destacado no estudo 20 Alterações marcantes ocorreram nos setores financeiro e agropecuário e nas suas interfaces com o uso e a conservação do capital 9 A incorporação da sustentabilidade ao comportamento tático ou estratégico do setor financeiro voltado para agropecuária é ainda mais recente. A intermediação financeira, ao transferir recursos entre aqueles que poupam e aqueles que investem, é reconhecida como fundamental ao desenvolvimento humano pelos economistas há mais de um século. Apesar dessa importância, o setor financeiro só foi incorporado ao discurso do desenvolvimento sustentável – assim como incorporou esse conceito ao seu discurso – muito recentemente, há pouco mais de duas décadas. É uma elogiável incorporação que ao analista mais atento deixa, entretanto, a impressão de que a sustentabilidade ambiental está mais no discurso do que na prática do setor financeiro brasileiro. O setor continua sendo mais reativo às determinações e ações de órgãos ambientais do que proativo, nunca se antecipando às exigências ambientais legais. 22 As instituições financeiras, a exemplo de empresas em quaisquer setores da economia, podem apresentar condutas que reflitam preocupação sobre os impactos das suas atividades produtivas sobre o capital © WWF-Brasil / Gilmar Felix PROGRAMA ÁGUA BRASIL Voluntária na bacia do rio Pipiripau, Planaltina / DF, onde o Programa Água Brasil atua pelo eixo Água e Agricultura. natural. As razões para essas condutas são diversas. Pode-se assinalar, porém, que estão relacionadas àquelas mesmas apontadas para os demais segmentos empresariais: busca por maior competitividade e sinergia com outras ações voltadas à eficiência operacional. No entanto, a intermediação financeira gera especificidades para a motivação ambiental. Além da busca por ativos mais valorizados nos diversos mercados de investimento, o principal motivo para que os bancos comerciais, em particular, estejam mais envolvidos com as questões ambientais está relacionado ao crédito direcionado a tomadores com menor passivo ambiental. 23 A regulamentação que trata da responsabilidade ambiental do setor financeiro acrescentou, ao longo do período de 20 anos entre as duas conferências sobre meio ambiente e desenvolvimento, mais um componente aos riscos tradicionais e inerentes ao negócio bancário. O risco ambiental pode perpassar todos os usuais tipos de riscos das atividades bancárias (riscos de mercado, legal, de crédito e operacional). Não obstante, o risco de crédito inflado pelo impacto que um devedor pode causar ao capital natural é aquele que tem merecido maior atenção por usuários e gestores do setor financeiro e pela opinião pública em geral. 24 Essa preocupação tem lentamente alcançado o sistema oficial de crédito rural. Por um lado, as instituições financeiras fazem aquilo que a elas cabe legalmente: ao conceder o crédito, o tomador deve demonstrar obediência à legislação ambiental vigente. Há uma ênfase referente à “obediência à legislação ambiental vigente” no entendimento de que se deve obedecer ao estabelecido no “código florestal”, às exigências do licenciamento ambiental e, quando for o caso, à outorga para o uso da água bruta. Assim procedendo, as instituições 10 PROGRAMA ÁGUA BRASIL financeiras brasileiras, como destacado anteriormente, têm apresentado um comportamento reativo à legislação ambiental no que concerne à concessão de crédito rural. Não obstante, a legislação ambiental brasileira ampliou-se significativamente ao longo das últimas duas décadas, como evidenciado no estudo. 25 Por outro lado, retoma-se uma antiga prática da política de crédito rural brasileira. Para atender às necessidades específicas de determinados segmentos da atividade rural, o governo lança mão do sistema de segmentação do mercado de crédito rural. Dessa forma, gera as distorções inerentes a esse procedimento. Essa é a herança para tratar da incorporação de objetivos, salvaguardas ou riscos ambientais das atividades agropecuárias: estabelecer linhas de créditos explicitamente ambientais (reflorestamento, produtores orgânicos, produtores em espaços geográficos ambientalmente sensíveis, entre outros). Essas linhas de crédito ambientalmente corretas envolvem montantes de recursos significativamente menores do que os montantes de recursos para crédito ou para financiamento agropecuários que só apresentam as usuais salvaguardas ambientais. 26 Permanece, portanto, uma evidente ambiguidade no financiamento da atividade agropecuária. Os recursos creditícios para a produção agropecuária em que são consideradas apenas as usuais restrições ambientais (“código florestal”, licenciamento, outorga) são muito superiores aos recursos creditícios para a produção agropecuária sustentável ou verde. Por falta de crédito, a terra é subutilizada. Terra subutilizada não cumpre sua função social, logo, pode ser desapropriada. Diante da falta de crédito, os recursos naturais passam a ser empregados como “substitutos” do capital. Não 11 dispondo de capital para intensificar a produção, a incorporação de novos recursos pode ser uma alternativa aos agricultores. Os cerca de 20 milhões de hectares – equivalentes a toda a área plantada com soja atualmente no país - de áreas em vários graus de degradação na região dos Cerrados e da Amazônia demonstram que a oportunidade não passou despercebida aos agricultores brasileiros. 27 Alguns programas governamentais visam a estimular linhas de créditos especificamente ambientais. Entre elas estão alguns fundos constitucionais e linhas de crédito agroambientais. Em 2010 é criado pelo governo federal o Programa para Redução da Emissão de Gases de Efeito Estufa na Agricultura (Programa ABC) que incentiva e disponibiliza recursos para que os produtores rurais adotem técnicas agrícolas sustentáveis. A ideia é que a produção agrícola e pecuária garanta mais renda ao produtor, mais alimentos para a população e aumente a proteção ao meio ambiente. O programa previu, para a safra 2011/2012, um total de R$ 3,150 bilhões em recursos. Os resultados iniciais do programa superaram as metas inicialmente estabelecidas e podem atuar como um indicador da crescente importância do capital natural na equação produtiva dos produtores brasileiros. O conhecimento totalizador. 28 De fato avançamos muito nos últimos 20 anos. Preocupações com o uso e a conservação do capital natural difundiram-se para segmentos sociais que não as contemplavam na época da RIO92. Sustentabilidade ambiental passa a ser acessória às decisões estratégicas de instituições públicas e corporações privadas. Não obstante, sustentabilidade ainda continua sendo um PROGRAMA ÁGUA BRASIL © Cacalos Garrastazu / WWF-Brasil econômica. Se ele não o for, a problemática ambiental continuará a gerar apenas moratórias, protocolos, apêndices a decisões privadas e públicas. Sustentabilidade como componente usual de escolha será o objetivo a ser alcançado até a RIO+50, também para as decisões do sistema financeiro brasileiro, em especial em sua relação ao crédito e ao financiamento das atividades agropecuárias do país. Por que esse objetivo é relevante? Será ele factível? 30 Lençóis Paulista / SP, onde o Programa Água Brasil atua pelo eixo Água e Agricultura. apêndice, um complemento, e não um componente integrante e permanente de escolhas e de decisões individuais ou coletivas. A proliferação de “moratórias” e “protocolos” para esverdear atividades agropecuárias é apenas uma evidência dessa preocupação complementar com o uso do capital natural. Essa complementaridade também é a realidade atual das decisões das instituições financeiras brasileiras em relação às suas decisões de concessão de crédito e financiamento ao setor agropecuário nacional. 29 Qual o caminho para a RIO+50 daqui a 30 anos, em 2042? Sustentabilidade terá que ser componente usual do processo de escolha, da mesma maneira que utilidade, rentabilidade, lucratividade, entre outros critérios, são componentes essenciais atualmente. Esse é o objetivo a ser alcançado. Somente se ele for alcançado teremos certeza de que a problemática ambiental terá a mesma relevância da problemática social, política e A agropecuária mundial terá de atender a uma demanda em ascensão por alimentos, decorrente do crescimento da população e da sua renda nas próximas três décadas. Ao mesmo tempo, ocorrerão preocupações também ascendentes sobre a qualidade de recursos e serviços derivados do capital natural. Isso exigirá que as comunidades de formuladores e implementadores de política pública e de cientistas tenham uma adequada compreensão das forças que determinam as causas, a velocidade e a direção das mudanças necessárias da atual realidade das atividades agropecuárias. Isso é particularmente verdadeiro para a agropecuária brasileira que deverá ser protagonista de destaque no cenário mundial. 31 Entre as mudanças prováveis uma parece evidente: a insustentabilidade de um “caminho dependente” de materiais e energia derivados de hidrocarbonetos, que reflete a falha de desenhar e implantar incentivos compatíveis com um caminho técnico alternativo. Para correção dessa falha é essencial a definição de um novo caminho tecnológico, crédito, financiamentos e investimentos em infraestrutura compatível com um crescente valor de bens e serviços derivados do capital natural e compatibilidade entre políticas ambientais explícitas e políticas setoriais que implicitamente afetam o uso e a conservação do capital natural. 12 PROGRAMA ÁGUA BRASIL 32 Verifica-se ao longo do estudo que não é simples definir o que têm sido as políticas agrícola e ambiental brasileiras. O que se observa são conjuntos de medidas isoladas de estímulo à agricultura e medidas isoladas de defesa do meio ambiente, tomadas sob pressão, seja de grupos de interesse ou das circunstâncias. Em alguns momentos, há o “esverdear” de políticas agrícolas; em outras, o “desenvolver” incorporado às ações ambientais. Conjuntos coerentes de medidas são a exceção, não a regra. A coerência é construída ao longo do tempo, à medida que as falhas ficam tão gritantes que o ônus político de não fazer nada supera o das medidas corretivas. 33 A proteção do capital natural é de interesse coletivo. A pressão é, portanto, difusa. É investimento de longo prazo. O valor descontado dos benefícios pode ser pequeno, se a taxa de desconto social for pouco maior do que zero. As maiores interessadas, as gerações futuras, são claramente sub-representadas nas decisões presentes. Em contraposição, o crescimento de um setor particular da economia, como o agropecuário, é de interesse específico de determinado grupo. A pressão é direta, bem focada, eficaz. Os benefícios do crescimento são imediatos. Se os objetivos de proteção ambiental e crescimento agrícola têm dimensões temporais distintas, os impactos fiscais dos dois conjuntos de políticas também são opostos. Em curto prazo, enquanto a política de crescimento é fonte de receita tributária, a proteção do meio ambiente produz despesas para o Tesouro Nacional e custos para o setor privado. 34 Assim, embora, teoricamente, o trade-off entre crescimento e preservação seja nítido, no jogo das pressões políticas o espaço para a barganha é quase inexistente. É como se os contendores operassem em arenas dis13 tintas. Nessas circunstâncias, a proteção ao meio ambiente permeia todas as políticas, mas não tem preeminência em nenhuma. Na melhor das hipóteses, é vista como uma restrição adicional a limitar a expansão da economia. E essa percepção, por mais reducionista que possa ser, acaba se refletindo em diversos componentes de políticas públicas. Ela se reflete também na política de crédito e no comportamento do setor financeiro. Há “linhas de crédito” para o “desenvolvimento sustentável” agropecuário, mas a maioria esmagadora de recursos disponíveis para financiamento agropecuário traz as usuais salvaguardas ambientais entre os critérios utilizados na análise do risco de crédito. A simples obediência à legislação ambiental vigente (especificamente, “código florestal”, licenciamento, outorga) tem um efeito marginal em termos de minimização do risco ambiental do crédito rural. 35 É exatamente isso que tem de ser mudado nos próximos 30 anos. Internalizar a conservação do capital natural nas decisões e nas escolhas é o próximo degrau a ser escalado, logo após termos alcançado o degrau da internalização das externalidades negativas do atual caminho, escolhido com base nos atuais critérios de decisões e escolhas. Em um cenário otimista, na RIO+50 avaliaremos o sucesso da internalização de componentes ambientais nos procedimentos de avaliação de pedidos ou de projetos para a obtenção de crédito e de financiamentos agropecuários pelas instituições financeiras brasileiras. Ficará claro, então, que a eliminação de escolhas isoladas e fragmentadas em nível de microdecisões é etapa fundamental para eliminar, em nível de macrodecisões de política pública, “medidas isoladas de estímulo à agricultura e medidas isoladas de defesa do meio ambiente”. Também nesse nível, o setor financeiro teria desempenhado papéis fundamentais nos trinta anos entre 2012 e 2042. PROGRAMA ÁGUA BRASIL 36 Mudanças na atuação do setor financeiro são condições necessárias para, por exemplo, incrementar a eficácia de políticas ambientais explícitas. Na agricultura, o requisito legal de maior impacto são as áreas de exclusão, que incluem as “unidades de conservação” (Lei 9.985, de 2000), “reservas legais” e “áreas de preservação permanente”, essas últimas definidas no Código Florestal Brasileiro (Lei 12.651, de 25 de maio de 2012, alterada pela Lei 12.727, de 17 de outubro de 2012). As dificuldades de se fazer respeitar as áreas de exclusão decorrem dos elevados custos de sua demarcação e dos custos ainda mais elevados de fiscalização. No caso das reservas legais – áreas de exclusão dentro dos limites do estabelecimento agrícola –, o custo que representam para os agricultores e a fragilidade dos critérios técnicos para a definição das áreas induzem ao aumento da resistência à determinação legal. Embora a exclusão de áreas de reconhecido valor ambiental seja indispensável ao crescimento sustentável da agricultura, a aplicação da lei é complexa e dispendiosa. 37 Novos esquemas de financiamento e crédito rural serão essenciais para que a promoção do desenvolvimento agrícola sustentável ou da economia agrícola verde possa ser eficaz. Essa promoção envolverá a adequação das tecnologias agrícolas às restrições ambientais. O primeiro passo nessa direção seria o melhor conhecimento de tais restrições. Os “zoneamentos ecológicos econômicos”, apesar de ineficazes como meios de controle burocrático, podem ser, todavia, fontes de informações importantes para os produtores. O segundo passo seria a identificação e a divulgação de atividades e tecnologias recomendadas para cada ambiente natural. Partindo do pressuposto de que os agricultores têm interesse em proteger seus próprios recursos naturais, informações sobre tecnologias e culturas recomendadas a cada região terão impacto salutar sobre o meio ambiente. Não se pode esquecer, no entanto, que as decisões dos agricultores são influenciadas mais pelos incentivos de mercado do que pela aptidão agronômica de uma região. É o clássico conflito entre “ótimo técnico”, “ótimo financeiro” e “ótimo econômico” tão presente tanto na literatura técnica quanto na científica. 38 Os conflitos reais ou potenciais entre crescimento econômico e conservação do capital natural só terão solução favorável no caso das tecnologias ambientalmente benignas. Na medida em que o retorno econômico dessas tecnologias superar o retorno de opções menos favoráveis à natureza, a sustentabilidade do crescimento será assegurada, pois lucro privado e ganhos sociais caminharão na mesma direção. Tecnologia ambientalmente benigna não é uma dádiva, ela exige recursos humanos, físicos e financeiros para o seu desenvolvimento. Difusão de tecnologia ambientalmente benigna depende, além de sua rentabilidade, de estímulos humanos, físicos e financeiros para que ocorra a uma taxa mais acelerada do que se a sua difusão dependesse apenas do livre funcionamento das forças de mercado. 39 Espera-se, assim, que na RIO+50 estaremos, então, destacando uma nova dependência de caminho tecnológico, um caminho criado pela inovação de técnicas agropecuárias altamente produtivas, rentáveis e, em especial, ambientalmente amigável. Será destacado também o papel crucial desempenhado pelo setor financeiro na determinação do ritmo de inovação e difusão dessas novas tecnologias. A aproximação dos setores de pesquisa e difusão tecnológica, financeiros e de produção agropecuária brasileiros será apontada como exemplo a ser seguido por outros 14 © Alexandre Roger de Aquino Carvalho PROGRAMA ÁGUA BRASIL Bacia do Rio Acre, Xapuri/AC, onde o Programa Água Brasil atua pelo eixo Água e Agricultura. mudanças também na política de crédito e no comportamento do setor financeiro. Reduziram-se as “linhas de crédito” para o “desenvolvimento sustentável” agropecuário. Critérios de sustentabilidade seriam usados na definição dos usos a serem priorizados para os recursos disponíveis para financiamento agropecuário. O risco ambiental passaria a ser parte integrante do risco de crédito. © Fernanda Melonio / WWF-Brasil países que ficaram retardatários ao longo dos trinta anos posteriores à RIO+20. Além disso, a combinação de setor financeiro com tecnologia com produção agropecuária teria conseguido em 2042 aquilo que parecia muito difícil em 2012: aumentar a produção de alimentos e de bioenergia com redução significativa das externalidades negativas de um sistema agropecuário baseado em ciências. Comentários Conclusivos 40 Em 30 anos, entre 2012 e 2042, teremos conseguido uma mudança fundamental: a proteção ao meio ambiente não será tratada mais como um apêndice; ela continuará permeando todas as políticas, com preeminência em muitas delas. Não será apenas uma restrição adicional a limitar a expansão da economia, mas sim um dos instrumentos para acelerar a expansão dessa economia. Isso não teria sido possível sem 15 Boas Práticas Pecuárias em Xapuri/AC, onde o Programa Água Brasil atua pelo eixo Água e Agricultura PROGRAMA ÁGUA BRASIL 41 A sociedade brasileira ainda é ambígua em relação ao crescimento econômico e suas consequências sobre o capital natural. Ao mesmo tempo em que festeja a expansão da soja e o crescimento da produção de cana, lamenta as queimadas no Centro-Oeste e os impactos das estradas na Amazônia. Se por um lado o país apresenta hoje uma agricultura de baixo carbono que é um exemplo internacional, por outro, as recentes mudanças do Código Florestal são consideradas como contra os interesses ambientais nacionais. Apesar da significativa mudança na direção de uma maior preocupação com a conservação do capital natural, o fato inquestionável é que proteção à natureza ainda não ocupa a posição que necessitaria ter na escala de prioridades e no nível de disposição a pagar da sociedade nacional. 42 Reiteramos que, em um cenário otimista, na RIO+50, avaliaremos o sucesso da internalização de componentes ambientais nos procedimentos de avaliação de pedidos ou de projetos para a obtenção de crédito e de financiamentos agropecuários pelas instituições financeiras brasileiras. A eliminação de “medidas isoladas de estímulo à agricultura e medidas isoladas de defesa do meio ambiente” é etapa para mudanças na atuação do setor financeiro, condições necessárias para, por exemplo, incrementar a eficácia de políticas ambientais explícitas. Para conhecer o estudo na íntegra, acesse: www.bb.com.br/sustentabilidade e www.blogaguabrasil.com.br 16 © WWF-Brasil / Eduardo Aigner PROGRAMA ÁGUA BRASIL Serra dos Matões, em Carnaúba, Pedro II (PI), onde o Programa Água Brasil atua pelo eixo Água e Agricultura. 17