Qual o real custo da produção agropecuária? José Luiz Domingues As notícias que nos chegam, referentes à produção agropecuária, mostram que em geral esse setor vai bem, pois apresenta saldos positivos para a balança comercial. Muitos técnicos e autoridades federais apresentam esses números com orgulho e projetam ainda um potencial de crescimento fabuloso. Argumentam que esse crescimento é bom para o país, mas não falam e nem entendem o seu custo. Quem esteve recentemente na região da Chapada dos Guimarães ou na Bacia do Alto Paraguai, no Pantanal Brasileiro ou na região de Marabá, constatou o grande crescimento das cidades e da atividade agropecuária em poucos anos. Tem soja, cana e pasto como nunca. É um mar verde que dá lucro para poucos, enquanto o prejuízo é garantido para todos. De que forma? O impacto ambiental do crescimento explosivo desse modelo de agronegócio não é considerado nessas explorações. O desequilíbrio climático, a perda das populações animais e vegetais nativas, a eliminação e a contaminação de cursos e fontes de água são fatores sempre ignorados e tratados como se não afetassem a produção, os animais e as pessoas que vivem ali. Segundo a Conservação Internacional, 17% das áreas com cobertura vegetal original do Pantanal já foram destruídas. Segundo o Instituto de Pesquisas da Amazônia, mais de 12% dessa floresta foi derrubada nas últimas décadas. Pelos dados da Agência Nacional de Águas (ANA), cerca de 70% dos cursos de água entre o Rio Grande do Sul e a Bahia, região que concentra a maior parte da produção agrícola do país, estão contaminados por agrotóxicos e outros produtos químicos. A contaminação em alimentos, águas, solos e pessoas é cada vez mais frequente. Na maior parte das vezes a culpa é da ignorância, da falta de treinamento e de fiscalização e principalmente de respeito às indicações de uso. O aumento na produção de carnes e grãos parece bom, mas e os recordes no consumo de defensivos e na poluição das águas? O crescimento na produção de aço parece bom, mas e o aumento no consumo de carvão, que leva à eliminação da vegetação nativa, já que os reflorestamentos não atendem o consumo? Em vários segmentos vemos repetidos esses exemplos. Considerando os argumentos ambientais, sabemos que a produção agropecuária irresponsável e a ocupação irracional das terras dão um grande prejuízo. Prejuízo que não é contabilizado, mas que é perceptível, pela perda da qualidade de vida, da água e pelas mudanças recentes no clima.