EDUCAÇÃO INFANTIL E SÉRIES INICIAIS REGINA MARIA RODRIGUES ROSILENE APARECIDA PALMA LIMA A CRIANÇA, O BRINCAR E A ESCOLA NA SOCIEDADE MODERNA: UMA RELAÇÃO CONTURBADA NA EDUCAÇÃO INFANTIL LONDRINA 2012 REGINA MARIA RODRIGUES ROSILENE APARECIDA PALMA LIMA A CRIANÇA, O BRINCAR E A ESCOLA NA SOCIEDADE MODERNA: UMA RELAÇÃO CONTURBADA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Monografia apresentada ao curso de Especialização em educação infantil e anos iniciais – perspectivas contemporâneas do Centro Universitário Filadélfia – Unifil. Orientadora: Profª Tavares da Silva LONDRINA 2012 Doutora Anilde Tombolato REGINA MARIA RODRIGUES ROSILENE APARECIDA PALMA LIMA A CRIANÇA, O BRINCAR E A ESCOLA NA SOCIEDADE MODERNA: UMA RELAÇÃO CONTURBADA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Monografia apresentada ao Centro Universitário Filadélfia – Unifil para obtenção do Título de Especialização em Educação Infantil e Anos Iniciais – perspectivas contemporâneas. COMISSÃO EXAMINADORA ______________________________________ Centro Universitário Filadélfia – Unifil ______________________________________ Centro Universitário Filadélfia – Unifil ______________________________________ Centro Universitário Filadélfia – Unifil Londrina, _____ de __________ de 2012. A Deus, pela oportunidade da vida e do aprendizado. Aos meus pais e a todos os meus queridos... Companheiros de todas as horas... AGRADECIMENTOS À Deus, por nos dar a vida, saúde, inteligência, disposição, vontade de aprender e melhorar, sempre; Aos nossos familiares pelo apoio, confiança e motivação; Ao Reitor Eleazar Ferreira, à todos os professores, orientadores, e funcionários desta Instituição, que sempre deram o melhor de si; À nossa orientadora Anilde Tombolato Tavares da Silva, pelas valiosas sugestões e pelo apoio que nos proporcionou durante a condução deste trabalho. "Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem." (Carlos Drummond de Andrade) RODRIGUES, Regina Maria. LIMA, Rosilene Aparecida Palma. A criança, o brincar e a escola na sociedade moderna: uma relação conturbada na educação. 2012. 37 p. Monografia. (Especialização Educação Infantil e Anos Iniciais – perspectivas contemporâneas) - Centro Universitário Filadélfia de Londrina – UNIFIL. Londrina – PR. RESUMO O presente artigo apresenta reflexões de como se manifesta o brincar e a infância na contemporaneidade e analisa o modo como este se manifesta no espaço educacional. Busca também conhecer qual a dimensão dada ao brincar na ação pedagógica, ouvindo o que dizem as crianças sobre o brincar na educação infantil. Procura também compreender quais formas de brincar vêem sendo instituídas na educação infantil e suas contribuições na constituição da criança na contemporaneidade. Trata-se de um estudo importante para compreender a amplitude do tema, como ele foi se desenvolvendo e suas conseqüências. Para isso foram utilizadas obras de livros que abordam o assunto, onde destacamos a evolução do brincar até os dias de hoje. Também realizamos uma discussão bibliográfica a fim de discutir a questão tendo como referência o contexto histórico. Também foi feito o relato e a experiência de uma professora da instituição infantil sobre um projeto para analisarmos o seu trabalho e mudanças dos espaços do brincar na sociedade atual. Com base nesse percurso percebemos que há um grande interesse por parte da escola na discussão sobre o assunto. Entre os aspectos destacados nesse estudo que se pode dar relevância temos a entrada dos brinquedos eletrônicos para a criança. Palavras-chave: brincar, infância contemporânea, educação infantil. RODRIGUES, Regina Maria. LIMA, Rosilene Aparecida Palma. A criança, o brincar e a escola na sociedade moderna: uma relação conturbada na educação. 2012. 37 p. Monografia. (Especialização em Séries Iniciais e Educação Infantil) – Centro Universitário Filadélfia de Londrina – UNIFIL. Londrina – PR. ABSTRACT This paper presents some insights on how contemporary playtime emerges in childhood and analyses how it can be promoted in educational settings. Moreover, this paper seeks to understand the extent of playtime during pedagogical activities by listening to what children have to say about their playtime in school. It becomes thus relevant to understand which forms of playtime are being used in contemporary educational institutions, as well as their contributions to children's education. To this end, a literature review helped explain the evolution of playtime over the years. A discussion about state-of-art books addressed the subject from a historical standpoint. In addition, empirical experiences from an infant teacher were gathered to analyze her work and the spaces available for playtime in contemporary society. Based on the interview, it was noted that the school has a great interest in discussing the subject. An interesting finding of this paper is the entrance of electronic toys in the child's context. Keywords: playtime, contemporary infancy, infant education. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 09 2. A HISTÓRIA DO BRINQUEDO ............................................................................ 12 2.1 Aspecto Histórico ................................................................................................ 12 3. O BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA ...................................... 15 4. O BRINCAR NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: o desafio dos brinquedos industrializados ....................................................................................... 19 4.1 Infância Contemporânea ..................................................................................... 19 4.2 Relato de observação.......................................................................................... 21 5. A ESCOLA E O BRINCAR: A experiência do CEI Santo Antonio ....................... 25 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 28 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 29 ANEXOS ................................................................................................................... 31 1. INTRODUÇÃO Vivemos numa sociedade em constante transformação e com um intenso avanço das tecnologias no nosso cotidiano. As tecnologias de informação e comunicação (TICs) mudam numa velocidade maior do que podemos absorver. Aliado a este processo, nos deparamos com a mulher cada vez mais presente no mercado de trabalho, onde seu tempo passa a ser mais curto para desenvolver seu papel de mãe e dar a devida atenção que seu filho necessita. As transformações que a sociedade foi sofrendo historicamente, inevitavelmente interferem na constituição das novas formas de se pensar a família, a mulher e a criança no mundo moderno. A família, a criança, o aluno e a escola mudaram juntamente com as inovações tecnológicas que transformam a forma de brincar na sociedade contemporânea. Quase não se vê crianças brincarem na rua, jogando bola ou pulando amarelinha. A criança de hoje está relacionada aos jogos industrializados, interativos e tecnológicos, como os videogames e jogos de computador. Jogos em que a única companhia da criança é a própria máquina. Não há mais necessidade de ter um ―coleguinha‖ pra brincar. A interação vai se fazendo através de uma máquina e a criança moderna vai se tornando cada vez mais solitária. Quando nos referimos ao brincar, tendemos a levar nosso pensamento para a infância onde viajamos em lembranças no tempo, e ao brincar internalizamos os conhecimentos da cultura e desenvolvemos o relacionamento social. Nosso parâmetro sempre é nossa experiência, nossa história, nossa vivência. É este processo que nos faz pensar na relação entre infância e o brincar nos tempos atuais. Tantas mudanças nos fazem pensar num estudo sobre o tema proposto. O papel do educador infantil é o de tomar consciência da importância da criança participar de diferentes atividades, levando-a a um saber construído pela cultura. O brincar ocupando um lugar privilegiado na educação infantil, contribui no processo de socialização e ajuda a criança no processo de aprendizagem. Oliveira citado por Paschoal e Machado (2002) ressalta que: É importante que tenhamos claro que quanto mais a criança brinca, mais é levada a organizar os seus processos de pensamento, ao mesmo tempo em que conquista as mudanças qualitativas mais significativas em sua personalidade. Assim, é importante buscar condições para garantir que o brincar ocupe espaço privilegiado em nossa atividade docente na escola da infância. (p.1) 9 Diante da constatação de que o brincar livre e tradicional está se distanciando da população infantil, e que, as crianças estão desde cedo com uma sobrecarga de atividades, tais como: aula de inglês, futebol, natação, ballet e outros, as famílias estão cada vez mais deixando o brincar e por sua vez as escolas estão se preocupando mais com as crianças. As brincadeiras livres, embora pareçam simples, são fontes de estímulo ao desenvolvimento cognitivo, social e afetivo da criança e é onde ela tem oportunidades de se expressar. Poucos adultos sabem da importância do brincar, considerando apenas um simples passatempo. Para Teles (1997) o brincar se coloca ―num patamar importantíssimo para a felicidade e a realização da criança, no presente e no futuro.‖ E continua ao afirmar que ao brincar, a criança (...) explora o mundo, constrói o seu saber, aprende a respeitar o outro. Desenvolve o sentimento de grupo, atua na imaginação e se autorealiza, coloca ainda, um olhar muito interessante sobre a brincadeira, ao afirmar que ―assim como o trabalho, a profissão é indispensável para o adulto, também as brincadeiras o são para as crianças‖. (TELLES, 1997, p.13-14) Por isso, se faz importante o estudo sobre o tema brincar. E neste sentido, nosso objetivo é compreender e analisar a relação entre a criança e o brincar na sociedade contemporânea e o papel da escola neste processo. Se considerarmos que o brincar é um dos processos mais importantes no desenvolvimento saudável da criança, não podemos desconsiderar o papel da escola neste processo, pois cada vez mais é notória a participação da escola na vida da criança, já que ela está freqüentando este espaço cada vez mais cedo. É preciso refletir qual a participação da escola no brincar, pois é importante lembrar que as crianças estão ficando na escola uma média de 6 horas por dia e o tempo de brincar livremente fica condicionado ao ritmo da rotina estabelecido pela escola. Muitas vezes, as crianças ficam confinadas na sala de aula utilizando papel e lápis para fazerem suas atividades, considerando isso um caminho para sua aprendizagem. Precisamos superar essa idéia e construir um pensamento de que as crianças estão aprendendo todo o tempo, principalmente brincando, e não forçando ela a aprender. Primeiramente a criança precisa sentir prazer em fazer, as crianças ao brincar demonstram um prazer. O que parece é que os adultos querem acelerar o conhecimento das crianças para se desenvolver rapidamente e infelizmente não percebe que ao brincar o seu desenvolvimento é mais saudável. 10 Para o desenvolvimento deste trabalho, nos propomos fazer um percurso pela história do brinquedo, através dos escritos de Walter Benjamin e outros autores que contribuíram para esta temática. Seguiremos nosso percurso pela compreensão do brincar no desenvolvimento infantil para chegarmos ao ponto que mais nos interessa que é a incursão pelo mundo contemporâneo dos brinquedos, analisando a influência dos brinquedos tecnológicos no encurtamento do espaço e das relações entre as crianças do mundo moderno. Além disso, finalizamos com uma análise sobre o papel da escola neste processo. 11 2. A HISTÓRIA DO BRINQUEDO 2.1 Aspectos Históricos Muito se tem buscado sobre o brinquedo e o ato de brincar através dos tempos em objetos, fotografias e pinturas. Segundo Cristina Von (2001), esta é tão antiga quanto a história do homem. Segundo a autora, em alguns museus existem exemplares de brinquedos encontrados em escavações de diversas partes do mundo, oriundos de épocas bastante remotas. Isso nos leva a pensar sobre o quanto o brinquedo e o ato de brincar tem sido importante no contexto histórico dos diversos grupos sociais. O fato de encontrar bolas, bonecas, chocalhos, piões e peça de jogos desde as mais remotas idades, demonstram que muitas brincadeiras infantis mantêm-se durante o passar dos tempos. Ao falar da história dos brinquedos, podemos citar Walter Benjamin (2002) em ―Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação‖, que nos relata como os brinquedos antigos tornaram-se significativos em muitos aspectos e nos conta a importância da exposição de brinquedos no Märkische Museum em Berlim, em 1928, em que Benjamin faz uma análise da exposição e das relações de adultos e crianças com os velhos brinquedos e diz que o brinquedo quebrado, rasgado, estragado não se encontra na exposição. Mas devemos ter em mente que: (...) jamais são os adultos que executam a correção mais eficaz dos brinquedos - sejam eles pedagogos, fabricantes ou literatos - mas as crianças mesmas, durante as brincadeiras. Uma vez perdida, quebrada e reparada mesmo uma boneca principesca transforma-se numa eficiente camarada proletária na comuna lúdica das crianças. (p. 87) Segundo Benjamin, citado por Meira (2003, p. 79), não podemos deixar nos museus brinquedos tão importantes como bonecas de porcelana, soldadinhos de chumbo, marionetes e outros. Segundo ATZINGEN (2001), a história dos brinquedos, vem desde os tempos antigos e tiveram importante papel na vida da criança. Foram os mais variados tipos, as bolinhas de gude, por exemplo, foram usadas por crianças no continente africano, há milhares de anos. Já na Grécia Antiga e no Império Romano, eram comuns brinquedos como barquinhos e espadas de madeira entre os meninos, e bonecas entre as meninas. Na Idade Média, eram usados fantoches. No Brasil, os brinquedos chegaram pela família lusitana Rebelo. A história nos conta, segundo a autora, que, até o final do século XIX, a maioria dos brinquedos eram fabricados artesanalmente em casa. Hoje, são 12 industrializados, produzidos em massa, sinalizando uma idéia de homogeneização do brincar. Todas as crianças acabam por ter os mesmos brinquedos e criando as mesmas brincadeiras. Para percorrer um pouco mais a história, de acordo com Benjamin (2002), pode-se observar que no final do século XVIII e XIX, a Alemanha era o centro geográfico no terreno dos brinquedos. Segundo o autor, foi no contexto alemão que ocorreu uma ruptura com o modelo de fazer e ver os brinquedos. Antes do século XIX, sua produção não era função de uma única indústria, e sim das oficinas manufatureiras, estas só podiam produzir aquilo que competia ao seu ramo específico de material, no qual era especialista. Segundo o autor, os brinquedos não ficavam em lojas especializadas, e sim, dividiam estantes com outros produtos do mesmo material. Temos como exemplo: o soldadinho de chumbo, fabricado no sul da Alemanha e comercializado em lojas de ferragens em Berlim, em confeitarias estavam bonecas e corações de açúcar que guardavam provérbios e poesias. Ao surgir o comércio intermediário, surgiram também os exportadores de brinquedos, que tinham acesso a manufaturas de diferentes cidades e as pequenas indústrias domésticas começaram a distribuir os brinquedos em pequenos comércios. Tudo isso nos leva a industrialização dos brinquedos e quanto mais avança, mais o brinquedo se subtrai ao controle da família. Estes adquirem novos tamanhos, materiais, cores e formas. Demorou muito tempo até que os adultos se dessem conta que as crianças não são homens e mulheres em dimensões reduzidas. Benjamin (2002) quer nos lembrar que, mais que o conteúdo imaginário que está no brinquedo, está que a criança cria seu brinquedo a partir de seu próprio imaginário na hora de brincar, ou seja, no ato de brincar os objetos podem ganhar dimensões e formas variadas, não determinadas por seus fabricantes: ―A criança quer puxar alguma coisa e torna-se cavalo, quer brincar com areia e torna-se padeiro, quer esconder-se e torna-se bandido ou guarda‖ (p. 76-77), a busca de uma especialização do brinquedo leva para uma relação pré-estabelecida antes mesmo de a brincadeira começar, ―quanto mais atraentes, no sentido corrente, são os brinquedos, mais se distanciam dos instrumentos de brincar; quanto mais ilimitadamente a imitação se manifesta neles, tanto mais se desviam da brincadeira viva‖ (p. 93). Podemos concluir que, pensar o lúdico dos brinquedos como algo acabado, sem perspectivas de criatividade, é tirar o sentido do brincar. 13 Segundo Atzingen (2001), somente a partir da segunda metade do século XX, que começa a preocupação com a segurança física da criança e para esta proteção criaram-se leis para regulamentar os brinquedos considerados perigosos à saúde da criança, tendo que ser avisados por conterem materiais tóxicos ou partes que se soltam facilmente, sendo avisados na embalagem quando não recomendado a determinada faixa etária. 14 3. O BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA É importante se ter em mente que o brincar na Educação Infantil não pode ser considerado apenas um passatempo. Segundo Moyles (2002), é brincando que as crianças aprendem, pois é por meio da brincadeira espontânea que elas criam, interagem, imitam, jogam, experimentam. Portanto, o brincar deve estar presente na Educação Infantil. O papel do professor também é de fundamental importância nesse processo, pois é através dele que o espaço da sala de aula vai ser organizado, além de propor atividades lúdicas de acordo com os interesses e expectativas da turma. Sabe-se que ser pai ou ser mãe não é uma tarefa fácil. Vê-se a preocupação destes em relação ao tempo que seus filhos gastam em frente a televisão ou ao videogame, o problema é que não sabem o que fazer. Muitas vezes, sem ter tempo para ficar em casa e acompanhar seus filhos, estes acabam por fazer o que está mais acessível. Muitos pais conscientes de seus deveres arrumam tempo para brincar com seus filhos. As autoras Tuttle e Paquette (1993) nos auxiliam sobre a importância dos pais passarem mais tempo com seus filhos de maneira criativa. As autoras citadas acima relatam a importância da presença dos pais na vida de seus filhos, pois, além de desenvolver o pensamento criativo, eleva a auto-estima e este se sente mais integrado à família. Goulart (2006, p.52) ressalta que a escola deve ser um lugar de brincar, correr, pular onde a criança possa alegrar se está triste, desenhar, aprender a interagir e a usar os instrumentos culturais básicos de nossa sociedade e, acima de tudo, que possibilite às crianças o conhecimento de si próprio e do mundo que as cerca, pois é ―[...] nessa comunidade educativa que terão chances de ampliar a sua visão de mundo para além das fronteiras do cotidiano da família, do seu bairro e de sua comunidade‖. O brincar é considerado como fonte inspiradora para o desenvolvimento e o aprendizado um fator fundamental para a criatividade, crítica, prazer, conhecimento, alegria, autoconfiança, identidade. A criança ao brincar se desenvolve com mais tranqüilidade. Com tantas mudanças no meio social e tantas novidades o brincar está sendo deixado de lado, principalmente as brincadeiras de rua, no quintal, nas praças por causa do perigo e da violência, ocupando as crianças com videogames, computador, televisão e até mesmo aulas aleatórias e seu olhar está sendo mais voltado para preparar as crianças para competir no mercado de trabalho. Kishimoto (2005) considera que se tem que ter como ponto de partida o lúdico, tais como: brincadeiras cantadas, de roda, cabana, casinha do faz de conta, com espelhos, com brinquedos que provocam prazer e alegria, e assim têm maior 15 liberdade para expressar seus sentimentos, movimentando-se como quiserem, desenvolvendo a sociabilidade com outras crianças, e no brincar encontrarão momentos para construir conhecimentos, identidade e culturas. Pode-se perceber que na casinha do faz de conta, a imitação está sempre presente, é o que diz a autora citada acima: ―No brincar, o envolvimento é intenso, a criança não se distrai, despende energia, um clima propício para aprendizagem.‖ (Kishimoto, 2005). Para Kishimoto (2006, p.21), jogo, brinquedo, brincadeira têm suas especificidades. No ―(...) jogo, por exemplo, segundo a autora, este assume a imagem, o sentido que cada sociedade lhe atribui‖, por isso, dependendo do lugar e da época, os jogos assumem significações distintas. Um arco e flecha para uma sociedade pode representar um brinquedo, enquanto para outra, instrumento para a arte de caça e da pesca. Já o brinquedo, segundo a mesma autora, ―(...) o brinquedo contém sempre uma referência ao tempo de infância do adulto com representações veiculadas pela memória e imaginação. (...). é o estimulante material para fazer fluir o imaginário infantil‖. A brincadeira seria a ação desempenhada. Segundo Salgado (2011), através do brincar a criança pode desenvolver sua coordenação motora, suas habilidades visuais e auditivas, seu raciocínio criativo e inteligência. Está comprovado que a criança não tem grandes oportunidades de brincar e as crianças com quem os pais raramente brincam, sofrem bloqueios e rupturas em seus processos mentais. Conta-se que Einstein, até os três anos de idade, não conseguia falar e usava blocos de construção e quebra-cabeças para comunicar-se. Brincando, ela começa a entender como as coisas funcionam, o que pode e não pode ser feito, aprende que existem regras que devem ser respeitadas. A autora e educadora Adriana Friedmann (2004), autora dos livros A Arte de Brincar e Desenvolvimento da Criança através do Brincar, nos alerta sobre a importância do "brincar" na vida da criança, e acrescenta que: "Brincar é fundamental na infância por ser uma das linguagens expressivas do ser humano. Proporciona a comunicação, a descoberta do mundo, a socialização e o desenvolvimento integral", afirma. Para a autora (2004), o homem sempre brincou nas ruas, praças, feiras e outros. Com o passar do tempo, as formas, os espaços, os tempos e os objetos de brincar e os brinquedos foram se modificando. Segundo ainda a autora (2004), o brincar sempre foi importante para o ser humano, mas isto vem se perdendo ao longo do tempo por vários fatores, tais como: o crescimento das cidades, a falta de locais públicos voltados para o lazer, a falta de 16 tempo por conseqüência de atividades extracurriculares, a falta de segurança e a inserção da mulher no mercado de trabalho, diminuindo o tempo das crianças perto da família. Tudo isso faz com que a criança tenha menos tempo e condições para brincar. Para que isso não se perca é necessário que aja um agente que traga as brincadeiras para ele, tais como esconde-esconde, amarelinha e outras. É necessário que este seja incentivado a brincar, de forma saudável e adequado para cada faixa etária, pois cada idade exige um tipo diferente de brincadeira, por isso tem-se que estar atenta a ele. Em nosso país, por várias razões, desde os tempos mais remotos, o trabalho foi valorizado em detrimento do ócio e brincar foi, e ainda é considerado por alguns grupos como pura ―perda de tempo‖. Essa postura causa inúmeros prejuízos ao desenvolvimento de crianças e jovens, sendo inclusive um dos motivos que tornam difícil a erradicação do trabalho infantil, pois ainda existem pessoas que compartilham do paradigma de que é melhor trabalhar do que ficar ―sem fazer nada‖. Quando falamos em uso do tempo, fica claro que não podemos dispor do tempo de ninguém, pois ele está intrinsecamente relacionado à vida de cada um e ao sentido que se dá a ela. Se considerarmos que o brincar é a maneira pela qual as crianças estruturam o seu tempo, ou seja, suas vidas precisaram reconhecer que falamos de direitos humanos e brincar é, antes de tudo, um direito da criança. A Declaração dos Direitos Humanos, da qual o Brasil é signatário, foi adotada pela Assembléia da ONU, em 20 de novembro de 1959, tendo em consideração a necessidade de proporcionar à criança uma proteção especial, sendo o direito de brincar explicitado no Artigo 31, cujo texto diz: 1. Os Estados Partes reconhecem o direito da criança ao descanso e ao lazer, ao divertimento e às atividades recreativas próprias da idade, bem como à livre participação na vida cultural e artística. 2. Os Estados Partes respeitarão e promoverão o direito da criança de participar plenamente da vida cultural e artística e encorajarão a criação de oportunidades adequadas, em condições de igualdade, para que participem da vida cultural, artística, recreativa e de lazer. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) preconiza no seu artigo 4º: ―É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária.‖ 17 E, no Artigo 16, parágrafo IV: ―O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: brincar, praticar esportes e divertir-se.‖ É neste contexto que a organização assume um papel de grande importância no Brasil, enquanto defende o acesso à cultura e ao brincar, como um direito não só da criança como de toda a família. 18 4. O BRINCAR NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: o desafio dos brinquedos industrializados 4.1 Infância Contemporânea Segundo Meira A. M. (2003) trabalhando sobre o eixo de contribuições de Walter Benjamin sobre os brinquedos, criança e educação estão ligados. A singularidade, a ―plastificação‖ dos brinquedos cerca a era social que Benjamin aponta como próprio do capitalismo que avança revelando seus contornos inclusive no campo da infância. Segundo ainda o autor, (2003, p.75) ―a infância contemporânea apresenta traços que nos remetem a pensar acerca do que se encontra apagado no brincar, hoje‖. As bonecas de porcelana foram trocadas pelas Barbies ocorrendo na contemporaneidade com a globalização, hoje ocorre também o consumo de brinquedos em séries. Isso tudo vem acontecendo com a mudança, devido a tanta influência da mídia e até mesmo nos programas dirigidos à criança, onde em seguida encontramos no comércio já todo pronto e muito chamativo pelas crianças sempre com novidades. A criança ao brincar entra num mundo de sonhos, segundo Freud, citado por Meira (2003) e acrescenta ainda que, este sonho encontra-se movido pelas imagens e palavras que conformam sua vida na promessa da felicidade em um biscoito, uma boneca Barbie, sapato da Carla Perez, para os meninos Bem 10 em camisetas, sandálias, toalhas, mochilas e outros. Na infância contemporânea o brincar vem se modificando com a presença de brinquedos industrializados e com isso a criança vem se afastando cada vez mais das brincadeiras e jogos tradicionais. Müller (2007) citado por Meira diz que as transformações na sociedade alteraram também o modo de viver e compreender a infância. No século XX, segundo Stinberg e Kinchehoe (2001) citado pela autora, a criança se torna público alvo da indústria cultural, a qual passa a veicular sua ideologia e mercadorias visando formar o futuro consumidor e o sujeito adaptado à ordem alheia e a estrutura social. Os brinquedos, os jogos, as concepções, os valores e o conceito modificaram. Para Volpato (2002), citado por Meira, na Idade Média a maioria deles eram compartilhados por adultos e crianças em diferentes situações do cotidiano. 19 Conforme Machado (2007) citado pela mesma autora, os brinquedos tradicionais como a pipa, bola, pião, entre outros, possuem caráter de interagir com as crianças, desenvolvendo experiências para a construção da identidade infantil, estimulando a criatividade, imaginação e fantasia e assim para Benjamin (2002) citado por Meira: ―Não há dúvida que brincar significa sempre libertação, as crianças quando brincam encontram-se e criam seu próprio mundo. Wartofsky (1999, p. 123), nos diz que: (...) os seres humanos, no decurso de sua evolução cultural, criam-se e modificam-se a si mesmo por meio das mudanças que introduzem nas modalidades de sua atividade prática e de sua auto compreensão. Isto significa que a suposta ―natureza humana‖ é em si mesma um artefato que ela é historicamente construída, isto significa que ela não é uma essência invariável, mas sim que muda ou desenvolve-se com mudanças nas modalidades de práticas cognitivas tais como produção social, língua e formas de interação social tais como família, economia, estado, educação e outros. A infância atualmente tem que ter muito cuidado, pois é um período na vida que a atenção deve ser direcionada pelo adulto, conforme os fatores sócio-econômico, a liberdade de poder ir à escola sozinha, de brincar nas praças, as relações homemhomem, homem-mundo vão se modificando a cada dia. Para Kohan: (...) a partir de um longo período, e, de um modo definitivo, a partir do século XVII, se produz uma mudança considerável; começa a se desenvolver um sentimento novo com relação à ―infância‖. A criança para a ser o centro das atenções dentro da instituição familiar. A família gradualmente vai organizando-se em torno das crianças, dando-lhes uma importância desconhecida até então: já não se pode perdê-la ou substituí-las sem grande dor, já não se pode tê-las em seguidas, precisa-se limitar o seu número para poder atendê-las melhor. (Kohan, 2005, p.66) Vivemos em uma época em que as crianças não têm mais a liberdade de brincar como antigamente, nas ruas, nas praças, seja por segurança ou por falta de espaço. Desta forma as crianças de hoje passam a brincar menos gastando assim boa parte do seu tempo na escola, no computador, em vídeo games, em aulas aleatórias. Hoje, os brinquedos industrializados, os jogos eletrônicos e a televisão passam a ter uma atenção e uma disputa pelas crianças. Segundo Marcelino (1990, p. 55): Na nossa sociedade e particularmente nas grandes cidades, ainda que por razões bem diferentes, as crianças não tenham tempo e espaço para a vivência da infância. Caracterizada pela brincadeira, a infância nas cidades grandes já sofreu e continua sofrendo modificações. Devido a fatores como desenvolvimento urbano e violência, as ruas que já foram verdadeiros palcos para as brincadeiras acontecerem, já não cumprem mais esse papel. Sair de casa? Só acompanhado por adulto. 20 4.2 Relato de observação As praças já fizeram mais sentido na vida das pessoas do que fazem hoje, onde existiam opções de lazer para a população, eram sempre cheias, principalmente no final do dia e finais de semana, eram visitadas por pessoas das mais diversas localidades, com os mais diferentes objetivos. Sendo locais de encontros, namoros, convívio dos mais velhos, lazer das crianças, protestos, manifestações, local também para passear com o cachorro, andar de skate, de bicicleta, de brincar com seus filhos, buscando distração e liberdade fora de casa, principalmente de quem mora em apartamento, onde o espaço é impossível. Hoje, as praças são usadas como academia, pela preocupação com a saúde, por causa dos excessos causados no dia a dia pelo trabalho. E a noite, nem sempre é conveniente ficar nelas, pois, normalmente passa a ser um espaço perigoso, muitas vezes mal iluminado, onde dá acesso a pessoas marginalizadas entregues aos vícios e ao ócio de ver a vida passar. É pertinente lembrar que faltam locais de lazer e diversão para crianças, principalmente com segurança. Campos e Souza (2003, p.12) alerta a maneira pela qual ―a contemporaneidade tem-se caracterizado pelas relações de produção e de consumo permeando as interações sociais‖. Pode-se perceber que a relação adulto/criança se modificou e a mídia vem transformando nossa sociedade numa sociedade de consumo, alterando assim, suas relações a partir das influências que esta e a cultura do consumo exercem sobre nós. A preocupação está em o que esta sociedade de consumo está fazendo com as crianças e o que isto pode afetar nelas. As autoras Campos e Souza (2003) citam Postman (1999) e alerta que na sociedade americana o que diferencia infância e adulto está se modificando e acrescenta ainda que na cultura ocidental contemporânea o mesmo vem acontecendo, como exemplo a autora cita que as: (...) crianças se vestem cada vez mais como adultos; as brincadeiras se modificam (especificamente as brincadeiras de rua nos grandes centros urbanos); há um aumento da incidência de crimes envolvendo menores; meninas de 12, 13 anos fazem sucesso na carreira de modelo etc. (13) Pode-se acrescentar ainda que a preocupação hoje esteja baseada na inserção da criança no mercado de trabalho e com isso a preocupação dos pais está mais em colocá-lo em cursos onde este mais tarde pode ter uma carreira mais promissora, tais como: inglês, informática, esporte e outros, ocupando-os assim, para justificar sua falta. Para isso estes trabalham cada vez mais, pois a mulher também 21 entrou para a divisão desse orçamento tão alto e para poder arcar com todas estas despesas. Isso tem feito com que os pais fiquem mais tempo longe dos filhos, consequentemente tendo menos diálogo. Percebe-se que o adulto, a criança e a constituição das famílias também vêm se modificando. As autoras citam Postman (1999) e nos alertam que: (...) não só a idéia de infância está em declínio. Paralelamente a esse processo, há também o adulto infantilizado que se alimenta de junkfood, que tem dificuldade em assumir sua prole e familiares idosos, apresentando pouco compromisso com a educação dos filhos. Os limites que separam crianças e adultos estão desaparecendo, pois as diferenças entre essas duas categorias não são enfatizadas. (13) As autoras citam ainda que para Sarlo (1997, p.14) a infância ―praticamente desapareceu, pois se encontra espremida por uma adolescência bastante precoce e uma juventude que se prolonga até os 30 anos‖. Para alguns autores, a mudança está no desenvolvimento da tecnologia, dando cada vez mais facilidade ao acesso a informações. No entendimento de Campos e Souza (2003) ao citar Postman (1999) nos diz que: O telégrafo foi o precursor das mudanças que o seguiram: prensa rotativa, fotografia, telefone, cinema, rádio, TV (e, mais recentemente, a Internet), tornando impossível o controle da informação, modificado em sua forma, havendo hoje uma preponderância de imagens (14). Tudo isso, trouxe conseqüências para a infância, dando facilidade ao acesso a qualquer imagem e informação a um público de todas as idades. A criança e o adolescente de hoje nasceram imersas no mundo com telefone, fax, computadores, televisão, etc. TVs ligadas a maior parte do tempo, assistidas por qualquer faixa etária, acabam por assumir um papel significativo na construção de valores culturais. A cultura do consumo molda o campo social, construindo, desde muito cedo, a experiência da criança e do adolescente que vai se consolidando em atitudes centradas no consumo. (Campos e Souza, 2003, p.14) As autoras nos advertem que a Tv primeiramente ―não requer treinamento para apreender sua forma; segundo porque não faz exigências complexas nem à mente nem ao comportamento, e terceiro porque não segrega seu público‖(14). É como se todos independentes da idade estivessem preparados para ver, interpretar e ouvir qualquer coisa em sua frente, dando acesso a tudo, como se tudo fosse possível ser contado, desde que a criança nasce, mesmo que estas estejam sozinhas, pois os pais estão fora, para prover seus gastos. É necessário que se reveja o papel da mídia, na construção da identidade tanto para crianças, quanto para jovens e também para os adultos a partir de uma 22 cultura de consumo, pois esta se utiliza de todos os artifícios para atrair o público o qual ela quer atrair para atingir seus objetivos. Segundo as autoras: ―o valor das mercadorias e dos objetos substitui o valor do homem, ele próprio transformado em mercadoria, definindo uma nova ética no campo das relações sociais‖. (15) Para Baudrillard (1995) citado pelas autoras (Campos e Souza, 2003, p.15), ―o que prepondera é a ilusão de que podemos realizar escolhas autênticas, pois de fato, todas as escolhas já estão previstas pelo sistema‖. O problema está que, a construção da identidade da cultura de consumo está sendo utilizada de maneira errônea, pois vemos objetos e mercadorias sendo usados para ―demarcar as relações sociais e determinam estilos de vida, posição social, além da maneira das pessoas interagirem socialmente‖. As autoras citam Canclini (1997) e nos alerta sobre um descontentamento próprio do mundo globalizado que torna tudo obsoleto a todo instante, nas palavras da autora, que: (...) supõe uma interação funcional de atividades econômicas e culturais dispersas, bens e serviços gerados por um sistema com muitos centros, no qual é mais importante a velocidade com que se percorre o mundo do que as posições geográficas a partir das quais se está agindo (p. 17). Segundo Campos e Souza (2003), o mercado escolhe quem fará parte do grupo que pode consumir, gerando assim, exclusão e nos passam a idéia de que somos todos iguais. O problema é que as mercadorias estão sempre mudando e logo surge outro e aquele já comprado, se torna obsoleto. Isso leva todos a querer consumir a todo instante, independente de faixa etária, pois o mercado trabalha em todas elas. A infância na cultura do consumo, assim como adolescentes e adultos, a tornam insatisfeitas, passando seu lugar social para o de consumidor, fazendo disto uma forma de inserir-se no mundo. Os valores que a família e a escola tentam passar, não coincidem com os que são passados pela mídia. Tem-se que admitir a forte influência que a TV exerce na vida de todos para o bem e para o mal. Por isso a importância da presença dos pais acompanhando seus filhos no que assistem ou jogam e isso nem sempre está sendo suficiente, fazendo com que a criança escolha seus programas e jogos e formando seus próprios valores. Meira (2003, p.76) nos alerta para o que vem passando na televisão e sua influência na vida da criança: ―(...) a publicidade desfila suas cenas nos intervalos apresentando uma série interminável de brinquedos e objetos de consumo ―a serem 23 desejados pela criança‖, prometendo-lhes o acesso a um gozo sem fim‖. E acrescenta ainda que, este excesso de estímulos fragiliza o próprio brincar, exigindo sempre novidade em função do consumo. A autora acrescenta ainda sobre os games e jogos virtuais, que não precisam da presença do outro e nem da materialidade do brinquedo e sim de uma máquina com a qual a criança está sempre em contato e o social fica sem ter a devida importância. 24 5. A ESCOLA E O BRINCAR: Experiência do CEI A cada dia são mais recorrentes os estudos que apontam a importância dos primeiros anos de vida para o desenvolvimento da criança. É na primeira infância que se dá o desenvolvimento biológico. As crianças passam a ter seu cotidiano regulado numa instituição educativa, sendo então, um lugar de socialização, de convivência, de trocas, de interações, de afetos, de ampliação e inserção sociocultural, onde se dá a constituição da identidade e subjetividade. Um lugar onde são partilhadas situações, experiências, culturas, rotinas, cerimônias institucionais, regras de convivência, sujeitos a tempos e espaços coletivos, bem como a graus diferentes de restrições e controles dos adultos. Entrevista com a professora do Projeto Brincar, desenvolvido no CEI Santo Antônio: 1. Qual seu nome? Aline Guilhen da Silva 2. Qual sua profissão? Professora 3. Sempre trabalhou como educadora? Sim 4. Há quantos anos trabalha nessa instituição? Há 4 anos, porém procurando sempre melhorar o meu conhecimento e inovando cada dia mais minha forma de agir e de pensar. 5. Qual sua formação? Sou formada no curso de Pedagogia e também sou pós graduada. 6. Nessa instituição sempre foi implantado o Projeto Brincar? Como já relatei, atuo nesta instituição há 4 anos e tenho conhecimento que esta instituição desenvolve o Projeto Brincar desde que esta deixou de ser orfanato, mais ou menos 18 anos. No período que estive aqui tenho dado primordial atenção ao Projeto. 7. Como ele é desenvolvido? O Projeto Brincar se desenvolve em todos os eixos, sendo adaptado nas diversas áreas e é dada uma especial atenção a faixa etária da criança. 8. Qual a sua visão do Projeto Brincar? Minha visão vai muito além, pois vivenciando o Projeto Brincar, tenho a plena convicção de que o Brincar é importante na vida da criança. Desta forma, os 25 planejamentos que desenvolvo são baseados no dia-a-dia dando prioridade ao Brincar. 9. O que você percebe quando as crianças brincam livremente e com brinquedos? Percebo não somente com a faixa etária da criança que trabalho, como também com as outras crianças a que tenho acesso, pois é através do brincar livremente que a criança elabora brincadeiras para solucionar problemas de angústia, elaboração de pensamentos, socialização e brincadeiras até mesmo sem o objeto brinquedo, elaborando brincadeiras criativas, porém quando a criança utiliza o objeto brinquedo, percebo que consegue também trabalhar sua angústia, pensamento, raciocínio e até mesmo a sua vivência do lar. 10. Você vem acompanhando esse Projeto e qual a visão dos pais das crianças? A instituição procura fazer reuniões administrativas e pedagógicas com os pais para que eles possam ter mais conhecimento sobre o nosso propósito, porém existe ainda algumas resistências de alguns pais não dando importância no Brincar, porém, esses pais vivenciando o crescimento de seus filhos, começam a se interessar e também percebem mudança e o crescimento que seus filhos demonstram. 11. Os objetivos são alcançados na sua visão? Como? São. Pois tenho internalizado que o Projeto Brincar se vê em uma criança até mesmo brincando com uma formiguinha no chão. Consigo diferenciar o crescimento da criança em cada detalhe das brincadeiras, ainda acredito que ainda pode se ter uma visão mais ampla do que tenho. É importante que a pessoa que avalia o Projeto Brincar, vivencie esse projeto, internalizando e procurando cada vez mais buscar detalhes de crescimento da criança nas brincadeiras. 12. Você trabalha o resgate das brincadeiras tradicionais, as crianças demonstram dificuldades? Sim. Tento trazer para dentro do meu planejamento algumas brincadeiras que pude vivenciar em minha infância e hoje com o meu conhecimento e vivência, resgato e dou importância a essas brincadeiras. Existe por exemplo, algumas brincadeiras que irei citar de extrema importância eobjetivos, tais como: alerta, balança caixão, bola atrás, cabra cega, coelhinho sai da toca, duro ou mole, lenço atrás, m~es da rua, cavalinho de pau, corrida com bastão, com jornal, com obstáculos, peteca, jogos de agilidade tais como bolinha de gude, e 26 saquinho de areia e outros. Desta forma, quando se aplica estas atividades acima citadas, as crianças demonstram desconhecimento, até serem introduzidas no espaço pedagógico. A partir do conhecimento a criança internaliza e pede para brincar mais. 27 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao entender a Educação Infantil e o Centro de Educação Infantil como um espaço de importância para o desenvolvimento integral da criança que ali convive e socializa seus fazeres e saberes; acredita-se que este trabalho deva ser realizado tendo como foco principal a cultura infantil, o brincar, a diversidade, o lúdico e o direito de ser criança com toda sua plenitude. Muitas escolas começam a acordar para esta importância do brincar, mas vêse a dificuldade que têm de fazer entrar o brincar no dia a dia. O mais importante é a consciência que os educadores precisam ter para criar oportunidades e espaços/tempos para este brincar em todas as idades. Não é raro encontrar pais que desvalorizam a pré-escola, dizendo que a criança vai lá somente para brincar, que gasta muito material e que não aprende nada. Na realidade, as brincadeiras das crianças deveriam ser consideradas suas atividades mais sérias. Ao querermos entender nossas crianças, precisamos entender suas brincadeiras. Ao observar uma criança brincando, podemos compreender como ela vê e constrói o mundo, como ela gostaria que fosse e entender que, brincar é importante porque quando brinca, a criança nutre a sua vida interior, descobre sua vocação e busca um sentido para a vida. O brincar e sua criatividade para a criança é altamente gratificante, pois esta as realiza, desenvolvendo também, sua fala e desempenho. É no brincar que a criança fantasia a realidade em que vive, para isso, precisa de um objeto seja ele brinquedo, sucata, outros, para representar o seu conhecimento, seus sentimentos e suas atitudes. 28 REFERÊNCIAS ARRUDA, Fabiana Moura. Indústria Cultural e Brinquedos Industrializados: as implicações para o imaginário infantil na sociedade contemporânea. Revista Espaço Acadêmico. Nº118. Março, 2011. Ano X – SSN 1519-6186. ATZINGEN, Maria Cristina Von. A história do brinquedo – Para as crianças se conhecerem e os adultos se lembrarem. São Paulo: Alegro, 2001. BENJAMIN, Walter. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a Educação. São Paulo: Editora 34, 2002. CAMPOS, Cristiana Caldas Guimarães de. SOUZA, Solange Jobim e. Mídia, Cultura do Consumo e Constituição da Subjetividade na Infância. 14 14UTC fevereiro 14UTC 2010 — Grupo Papeando. Psicologia Ciência e Profissão, 2003, 23 (1), 12-21. Disponível em: HTTP://www.revistacienciaeprofissao.org/artigos/23-01/pdfs/23 .art 02.pdf FRIEDMANN, Adriana. A arte de brincar: brincadeiras e jogos tradicionais. Editora Vozes. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. FRIEDMANN, Adriana. Brincar no Cotidiano da Criança. ......................... GOULART, Maria Inês Mafra. A criança e a construção do conhecimento in Desenvolvendo a Aprendizagem. Cap. 3 Editora UFMG. BH. 2006. (colocar na bibliografia KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 2006. Kohan, Walter Omar. Infância - Entre educação e filosofia. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. 29 MEIRA, Ana Marta. Benjamin, os Brinquedos e a infância contemporânea. Psicologia & Sociedade; 15(2): 74-87; jul./dez.2003. MOYLES, Janet R.. Só Brincar? O papel do brincar na educação infantil. Porto Alegre: Artmed Editora, 2002. (colocar na bibliografia) PASCHOAL, Jaqueline Delgado. MACHADO, Maria Cristina Gomes. As brincadeiras e as Linguagens da Criança na Proposta de Jardim de Infância de Rui Barbosa, (1883). Acesso em: 10-09-2011. Disponível em: http://alb.com.br/arquivomorto/edicoes_anteriores/anais16/sem13pdf/sm13ss11_05.pdf SALGADO, Elizabeth. A importância do brincar. Acesso em: 09-09-11. Disponível em: http://www.elisabethsalgadoencontrandovoce.com/importancia_brincar.htm TUTTLE, Cheryl Gerson. PAQUETTE, Penny. Invente jogos para brincar com seus filhos. Editora: Edições Loyola São Paulo, 1993 30 ANEXOS Entrevista e relato da professora: 1. Qual seu nome? 2. Qual sua profissão? 3. Sempre trabalhou como educadora? 4. Há quantos anos trabalha nessa instituição? 5. Qual sua formação? 6. Nessa instituição sempre foi implantado o Projeto Brincar? 7. Como ele é desenvolvido? 8. Qual a sua visão do Projeto Brincar? 9. O que você percebe quando as crianças brincam livremente e com brinquedos? 10. Você vem acompanhando esse Projeto e qual a visão dos pais das crianças? 11. Os objetivos são alcançados na sua visão? Como? 12. Você trabalha o resgate das brincadeiras tradicionais, as crianças demonstram dificuldades? 31 Fotos das brincadeiras elaboradas pelas professoras do Projeto Brincar: Figura 1 - Crianças brincando com reciclável Figura 2 - Criança brincando com o jogo da memória 32 Figura 3 - Criança brincando com quebra cabeça Figura 4 - Criança brincando com dobradura 33 Figura 5 - Crianças desenhando em grupo Figura 6 - Boneca feita de materiais recicláveis 34 Figura 7 - Crianças brincando com blocos de madeira Figura 8 - Crianças brincando com jogos de raciocínio 35 Figura 9 - Crianças em contato com a natureza 36