Saude19_art03.fm Page 21 Tuesday, September 19, 2006 9:48 AM NOA PEREIRA PRADA DE SOUZA, ET AL. ORIGINAL /ORIGINAL Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica em Obesos sob Tratamento ou Não Binge-Eating Disorder in Obese People under Treatment or Not RESUMO A obesidade no Brasil e no mundo é alarmante. Encontra-se em constante crescimento, quase sempre acompanhada de transtornos alimentares (TA), particularmente do Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP), e documentada sobretudo em indivíduos em tratamento. O objetivo deste estudo foi avaliar a ocorrência de TCAP entre pessoas obesas que não procuram tratamento para obesidade e compará-la à ocorrência entre as que procuram. Ele foi realizado no município de Piracicaba e região com adultos com Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 30 kg/ m2, idade entre 39 e 40 anos, sendo 42 usuários do Ambulatório de Nutrição da Universidade Metodista de Piracicaba (oito homens e 34 mulheres) e 35 obesos escolhidos ao acaso na comunidade (oito homens e 27 mulheres). Para avaliação da prevalência de TCAP entre os grupos, foi aplicado o Questionário sobre Padrões de Alimentação e Peso Revisado. Validado em outros estudos, esse questionário avalia a relação do indivíduo com a alimentação e com a imagem corporal. Quanto à presença desse transtorno, não se observou diferença significante entre os grupos (28,57% vs. 22,86%). Já em relação à influência da imagem corporal, foi perceptível uma maior preocupação dos obesos em tratamento que dos obesos fora de tratamento. Fica a pergunta se a preocupação com a imagem corporal é um efeito do tratamento ou o motivo da sua procura. Palavras-chave OBESIDADE – COMPORTAMENTO ALIMENTAR – TRANSTORNO DA COMPULSÃO ALIMENTAR – IMAGEM CORPORAL. NOA PEREIRA PRADA DE SOUZA Mestranda pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas (Unesp/SP) MARIA RITA MARQUES DE OLIVEIRA* Professora do Curso de Nutrição – Faculdade de Ciências da Saúde (UNIMEP/SP) DENISE GIACOMO DA MOTTA Professora do Curso de Nutrição – Faculdade de Ciências da Saúde (UNIMEP/SP) * Correspondências: Rod. do Açúcar, km 156, FACIS, 13400-911, Piracicaba/SP [email protected] ABSTRACT Obesity in Brazil and all around the world is alarming. It is growing constantly, usually followed by eating disorders, especially BingeEating Disorder (BED), that has been documented on individuals in treatment. The goal of this study was to evaluate BED occurrence among obese individuals that do not seek obesity treatment and compare this group to people that do seek treatment. The study took place in Piracicaba (state of Sao Paulo) and proximities with adults that presented a Body Mass Index (BMI) over 30 kg / m2, aged between 39 and 40 years, where 42 of them were patients from the Nutrition Ambulatory of the Methodist University of Piracicaba (8 males and 34 females), and 35 obese individuals randomly chosen within the community (8 males and 27 females). To evaluate prevalence of BED between the groups, the Revised Questionnaire on Eating and Weight Patterns was applied. The related questionnaire, validated in other studies, evaluates the relationship between the individual, nourishment and body image. About the presence of this disorder, it was not observed any significant difference between the groups (28,57% vs. 22,86%). As for body image influence relationship, a bigger concern was noticed of the people under treatment than from those out of treatment. The question if the concern about body image is a treatment effect or the cause for treatment search remains. Keywords OBESITY – FEEDING BEHAVIOR – BINGE-EATING DISORDER – BODY IMAGE. Saúde em Revista TRANSTORNO DE COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA EM OBESOS SOB TRATAMENTO OU NÃO 21 Saude19_art03.fm Page 22 Tuesday, September 19, 2006 9:48 AM NOA PEREIRA PRADA DE SOUZA, ET AL. INTRODUÇÃO A obesidade pode ser considerada uma epidemia mundial, conforme parecer da Organização Mundial da Saúde (OMS), e a sua tendência é a de constante crescimento.1, 2 Notavelmente, a obesidade no Brasil, entre 1975 e 1989, cresceu 70% e, mesmo no século XXI, há alarmantes aumentos em seus indicadores.1 Ela não é por si só tida como um transtorno alimentar (TA), mas existe alta prevalência de Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) entre indivíduos obesos.3 Alguns estudos sugerem que a alta ocorrência de psicopatologia entre os obesos pode estar relacionada a um subgrupo de indivíduos com TCAP.4 A prevalência de TCAP é de 2% a 3% da população, variando de 5% a 30% nos pacientes que buscam tratamento.5, 6 Relatos de pacientes com TCAP indicam que eles apresentam um início mais precoce da obesidade, maior obesidade e pior resposta aos regimes de tratamento, além de gastar um percentual maior de tempo com dietas do que os indivíduos não portadores de TCAP.1, 4, 6 Foi notado que a dieta para emagrecer é um comportamento precursor, que normalmente antecede o aparecimento de um TA.7 Mas, isolada, não é suficiente para desencadear TA, sendo necessária a interação entre os fatores de risco e demais eventos precipitantes. A própria restrição alimentar propicia o aparecimento das compulsões alimentares.7 Portanto, é sabido que a etiologia dos TA é multifatorial, porém, pouco se conhece sobre a etiopatogenia. Por essa razão, os transtornos alimentares são descritos como transtornos, e não como doenças.7, 8 Isso se deve a poucos anos de estudo dos TA, particularmente do TCAP, descrito apenas em meados do século XX9 e elevado a categoria diagnóstica em 1994, ao ser incluído no apêndice B do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – 4.ª edição (DSM-IV).6 Essa questão é visível na disparidade das publicações nacionais sobre binge eating disorder (BED), nas quais encontram-se diferentes definições para transtorno de compulsão alimentar, por exemplo, transtorno da compulsão alimentar periódica, transtorno da compulsão alimentar episódica, transtorno do comer compulsivo, transtorno do comer impulsivo e transtorno do descontrole alimentar episódico.5 Compulsão, segundo o Compêndio de Psiquiatria,3, 10 constitui “um impulso incontrolável para 22 realizar um ato repetitivamente”, condizendo com a definição proposta pelo DSM-IV.4 A compulsão alimentar é um comportamento caracterizado por ingestão de uma quantia de comida (num período delimitado – duas horas ou menos) claramente maior que a maioria das pessoas consumiriam em tempo similar, acompanhada de sensação de perda de controle sobre o episódio.4 Pode-se afirmar que os comedores compulsivos abarcam pelo menos dois elementos: o subjetivo, caracterizado pela sensação de perda de controle, e o objetivo, referente à quantidade do consumo de alimentos.6 Tais episódios ocorrem pelo menos em dois dias da semana, por um período de seis meses, sendo que, depois deles, há presença de grande angústia. Eles são quantificados em dias, pelo fato de os portadores de TCAP apresentarem dificuldades para aferir sua contagem, por conta da falta de métodos compensatórios subseqüentes ao comer compulsivo.4, 8 Além disso, para se caracterizar a compulsão alimentar (CA), três ou mais dos critérios a seguir devem estar presentes: 1. comer mais rápido que o normal; 2. comer até se sentir inconfortavelmente cheio; 3. comer sozinho, por sentir vergonha da quantia de comida ingerida; 4. após os episódios, apresentar sentimentos depressivos e culposos.4 Nota-se, atualmente, um crescente interesse quanto aos transtornos alimentares.6 E observase que a prevalência do TCAP é maior que outros TA: cinco vezes mais comum que a anorexia nervosa e duas vezes maior que a bulimia nervosa em mulheres.11 Entretanto, há um problema recorrente na pesquisa populacional de TA, que acaba limitando a maioria dos estudos: o recrutamento majoritariamente de pessoas em clínicas de tratamento, e não na comunidade.9, 11 O objetivo deste estudo foi avaliar e comparar a ocorrência de TCAP entre pessoas obesas que não procuram tratamento para obesidade em relação às que procuram. CASUÍSTICA E MÉTODO O estudo foi realizado no município de Piracicaba e região, com a população-alvo composta por 42 indivíduos obesos em atendimento no Ambulatório de Nutrição da Universidade Metodista de Piracicaba (oito homens e 34 mulheres) e por 35 indivíduos obesos da comunidade que não procuravam tratamento para a obesidade (oito SAÚDE REV., Piracicaba, 8(19): 21-26, 2006 Saude19_art03.fm Page 23 Tuesday, September 19, 2006 9:48 AM NOA PEREIRA PRADA DE SOUZA, ET AL. homens e 27 mulheres). Foram selecionados indivíduos com Índice de Massa Corpórea (IMC) acima de 30 kg/m2. Excluíram-se indivíduos, de ambos os sexos, menores de 21 anos eutróficos12 – segundo classificação da Organização Mundial de Saúde de 1998 – e aqueles que não concordaram em assinar o termo de consentimento livre e esclarecido, solicitado e obtido no momento da entrevista. A seleção dos participantes que não procuravam tratamento para a obesidade foi visual e ao acaso. Os indivíduos, assim que avistados, eram abordados e convidados a participar do estudo. Logo após o convite era feita a entrevista, durante a qual aplicava-se o Questionário sobre Padrões de Alimentação e Peso Revisado (QEWP–R). Esse questionário constitui, até o momento, o único instrumento elaborado especificamente para o diagnóstico do TCAP13 e apóia-se em critérios do DSM-IV, com 28 perguntas a respeito de episódio de compulsão alimentar, indicadores de perda de controle sobre o comer, história de peso e de dieta de emagrecimento, influência da imagem corporal na autopercepção e dados demográficos básicos.9 A análise estatística e a representação dos dados desenvolveram-se com o auxílio dos seguintes programas: Microsoft Excel para Win- dows 98 versão 9.0 e SigmaStat para Windows 98 versão 2.0. Todas as variáveis foram tabuladas como percentagem ou média ± desvio-padrão. As diferenças entre médias obtidas de cada variável tiveram avaliação pelo teste t student ou pelo teste Qui-Quadrado, conforme a natureza dos dados. A probabilidade de significância considerada foi de p < 0,05 em todas as comparações efetuadas. RESULTADOS Conforme observado na tabela 1, não se notaram diferenças entre a média de idade dos grupos, nem quanto à altura, ao peso atual e ao maior peso atingido pelos participantes. Conseqüentemente, não houve diferença nas medidas de IMC entre os grupos. Predominaram, em ambos os grupos, o sexo feminino (80,95% dos obesos em tratamento e 77,14% dos obesos fora de tratamento) e a cor da pele branca (83,33% e 97,14%). Quanto à presença de TCAP entre esses grupos, mesmo com uma porcentagem aparentemente maior nos obesos em tratamento, não foi observada diferença significante (28,57% dos indivíduos em tratamento vs. 22,86% dos fora de tratamento). Tabela 1. Média e desvio-padrão de idade, peso, altura, IMC e idade em que teve o primeiro sobrepeso dos indivíduos em tratamentos e dos indivíduos da comunidade. VARIÁVEL Idade (anos) Altura (metros) Peso Atual (kg) Maior peso (kg) IMC (kg/m2) Maior IMC (kg/m2) OBESOS EM TRATAMENTO (N = 42) 40 ± 12 1,62 ± 0,09 109 ± 25,3 113,8 ± 26,4 41,44 ± 9,27 43,27 ± 9,46 OBESOS FORA DE TRATAMENTO (N = 35) 39 ± 11,36 1,66 ± 0,087 104,83 ± 17,64 111,03 ± 20,92 38,08 ± 7,48 40,42 ± 9,11 Todas variáveis dessa tabela foram p > 0,05 nas comparações pelo teste t student entre obesos em tratamento e fora de tratamento. Tabela 2. Distribuição segundo sexo e raça dos indivíduos em tratamento e dos indivíduos da comunidade. OBESOS EM TRATAMENTO (N = 42) OBESOS FORA DE TRATAMENTO (N = 35) Sexo feminino (%) 80,95 77,14 Cor da pele (%): Branca Negra Parda 83,33 14,29 2,38 97,14 2,86 0 VARIÁVEL Não houve diferença estatística na distribuição dos resultados avaliados pelo Qui-Quadrado. Saúde em Revista TRANSTORNO DE COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA EM OBESOS SOB TRATAMENTO OU NÃO 23 Saude19_art03.fm Page 24 Tuesday, September 19, 2006 9:48 AM NOA PEREIRA PRADA DE SOUZA, ET AL. Tabela 3. Distribuição dos obesos em tratamento e dos obesos fora de tratamento em relação à influência do peso e a forma do corpo no modo como o indivíduo se avalia. PESO E FORMA DO CORPO NA AUTO-AVALIAÇÃO OBESOS EM TRATAMENTO (N = 42) OBESOS FORA DE TRATAMENTO (N = 35) 21,43% 19,05% 23,81% 35,71% 28,57% 51% 11,43% 8,57% Não tiveram muita influência Tiveram alguma influência Alguns dos principais fatores Fatores que mais influenciaram P < 0,05 na avaliação da distribuição dos resultados pelo Qui-Quadrado. Figura 1. Ocorrência de TCAP em obesos em tratamento e em obesos fora de tratamento. A influência da imagem corporal foi avaliada pelo QEWP-R, ao questionar sobre a importância do peso e da forma do corpo no modo como o indivíduo se avalia como pessoa, tanto no nível pessoal quanto profissional. De acordo com a tabela 3, verifica-se uma maior preocupação dos obesos em tratamento com o peso e com a forma do corpo que dos obesos fora de tratamento. DISCUSSÃO A amostra deste estudo foi predominantemente do sexo feminino, possivelmente pelo fato de as mulheres procurarem mais tratamento para a obesidade. Isso se deve ao ideal de magreza significar beleza – cultura essa ocidental imposta sobretudo ao sexo feminino.14 Becker et al.15 sugerem que a mídia cause um impacto negativo diante do interesse na perda de peso. Para Adams,16 os indivíduos não atraentes são claramente discriminados pelo mundo social, numa série de situações cotidianas importantes. No que diz respeito às pessoas obesas em tratamento nutricional para a obesidade, o presente trabalho verificou que o TCAP apresentou-se em 28,57% desses indivíduos. Tal percentagem assemelha-se às encontradas em diversas pesquisas e estudos.17, 4, 13 O de Matos,4 por exemplo, desen24 volvido em 2002, encontrou uma freqüência significativa de TCAP (36%) em pacientes obesos mórbidos que procuraram tratamento na Clínica de Endocrinologia da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (Unifesp – EPM). Outros pesquisadores, como Appolinário, Coutinho e Borges, encontraram prevalência de TCAP entre 15% a 22% em pacientes que procuravam tratamento para emagrecer.13 Cordás relata uma prevalência muito próxima à deste estudo: quase 30% em obesos em tratamento,5 mesma porcentagem observada por Spitzer et al. em participantes de programas para perda de peso.17 Entre indivíduos obesos fora de tratamento, verificou-se aqui um percentual de 22,86%. Não foram encontrados estudos sobre a prevalência de TCAP em obesos fora de tratamento. Em pesquisa realizada nos Estados Unidos, Spitzer et al. perceberam uma prevalência de TCAP em 2% da população e, na França, Basdevant et al. descobriram 0,7% de TCAP em mulheres da comunidade.17 Em outros trabalhos, a porcentagem de 4% de TCAP na população feminina demonstra que esse sexo parece ser mais propenso ao transtorno, que afeta aproximadamente 8% dos indivíduos com sobrepeso.11 Torna-se perceptível a diferença de percentual encontrada neste estudo (22,86%) com a dos citados acima (2%, 0,7%, 4% e 8%), podendo ser explicada pelas características das amostras examinadas. Spitzer et al. englobaram indivíduos eutróficos. As amostras de Basdevant et al. e de outros pesquisadores restringiram-se ao sexo feminino e também não excluíram os indivíduos eutróficos. Num estudo de base populacional, observou-se forte influência do IMC sobre os transtornos alimentares, além de que o risco de comportamentos alimentares anormais era duas vezes maior entre mulheres com IMC de sobrepeso/obesidade.17, 18 Já no presente trabalho incluíram-se apenas indivíduos obesos, que parecem SAÚDE REV., Piracicaba, 8(19): 21-26, 2006 Saude19_art03.fm Page 25 Tuesday, September 19, 2006 9:48 AM NOA PEREIRA PRADA DE SOUZA, ET AL. mais propensos a apresentar TCAP, discutindo-se inclusive a inclusão da questão do status de peso no diagnóstico desse transtorno.5, 19 Infelizmente, percebe-se que há uma limitação nas pesquisas sobre TCAP, ou seja, a realização delas, na grande maioria, entre indivíduos em clínicas de tratamento, conhecendo-se pouco as características desse transtorno entre indivíduos da comunidade.11 Já quanto à influência do peso e da forma corporal na auto-avaliação, observouse aqui uma diferença significativa entre os obesos em tratamento em se preocupar mais com tais aspectos, usando-os como referência na própria avaliação como pessoa, em relação aos obesos fora de tratamento. O conceito de imagem corporal envolve três componentes, um dos quais perceptivo, em que há uma percepção da própria aparência e uma estimativa do tamanho do corpo e do peso.14 A insatisfação ou distorção da imagem corporal parece estar presente em muitos quadros psiquiátricos, mas é nos transtornos alimentares que se observa uma relevância no seu prognóstico e no seu papel sintomatológico.14 Uma explicação possível para uma maior influência do peso e da forma corporal na auto-avaliação entre indivíduos em tratamento de obesidade em relação aos que não procuraram tratamento é que, naqueles primeiros, a condição de obeso encontra-se freqüentemente em questão. Claudino et al.17 relataram que a auto-avaliação com base no peso e na forma do corpo tem sido sugerida como um novo critério para o TCAP, uma vez que esse aspecto parece diferenciar obesos com esse transtorno dos que não o apresentam.6, 5, 20 Essa maneira de auto-avaliação tem sido mais associada ao transtorno do que à obesidade em si, sendo observado que a preocu- pação com a forma corporal parece contribuir para a manutenção dos transtornos alimentares.6, 21 O IMC parece não estar correlacionado, por exemplo, com a evitação do uso de roupas que os fazem ficar cientes de suas formas corporais, podendo explicar-se pelo fato de que, uma vez que a pessoa é obesa, a preocupação com a imagem corporal não continua crescendo com o aumento do IMC.21 Outra razão para uma maior influência do peso e da forma corporal na auto-avaliação de indivíduos que procuram tratamento para obesidade seria a própria percepção negativa em si, que os tenha feito procurar ajuda com maior freqüência. O QEWP-R, neste estudo, foi aplicado em usuários que freqüentavam o ambulatório, impossibilitando a resposta a essa questão. CONCLUSÃO A ocorrência de TCAP não apresentou diferença entre os grupos de obesos em tratamento e fora de tratamento. A porcentagem de TCAP entre os obesos em tratamento mostrou-se condizente com as porcentagens relatadas por outros estudos. Quanto à influência do peso e da forma do corpo como referência na auto-avaliação como pessoa, notou-se uma maior porcentagem de preocupação com a imagem corporal no grupo de obesos em tratamento, quando comparados com o de obesos fora de tratamento. Ainda não está claro se a maior preocupação com o peso e a forma do corpo entre obesos sob tratamento é a causa ou o efeito da procura por esse tratamento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Dobrow IJ, Kamenetz C, Devlin MJ. Aspectos psiquiátricos da obesidade. Revista Brasileira de Psiquiatria 2002;24 Suppl 3:63-7. Perusse L. 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