SUMÁRIO EXECUTIVO Na medida em que instituições financeiras internacionais investem no hemisfério sul do planeta, elas dependem cada vez mais de regimes de salvaguardas dos próprios países investidos para prevenir e mitigar violações dos direitos humanos e danos ambientais. O Brasil é um exemplo de um país no qual presume-se que haja um forte regime de salvaguardas. Em princípio, grandes projetos de infraestrutura no Brasil devem atender a vários critérios de direitos humanos, assim como à salvaguardas ambientais e sociais para serem considerados viáveis. Essas salvaguardas incluem uma complexa teia de legislação nacional, acordos internacionais, normas voluntárias e políticas de bancos. O estudo de dois casos emblemáticos dos últimos anos – os projetos de usinas hidrelétricas do Rio Madeira e de Belo Monte - demonstra as dificuldades de aplicação dessas salvaguardas na prática. Tais projetos parecem ter sido implementados fora do regime de salvaguardas do Brasil, regime esse que foi estabelecido democraticamente e é composto por acordos internacionais e normativas, leis, procedimentos, compromissos voluntários e o aparato institucional correspondente. Estes casos apontam para práticas incompatíveis com o Estado de Direito, o respeito das instituições democráticas e as práticas administrativas adequadas. Desta forma, para ser eficaz, o regime de salvaguardas do Brasil requer melhorias em vários níveis. O primeiro capítulo do presente artigo discorre sobre salvaguardas e sua aplicação, oferecendo um quadro conceitual que inclui definições de salvaguarda, de modelos e regimes de salvaguardas. Na sequência, são apresentados exemplos de modelos e sistemas nacionais de salvaguardas. O segundo capítulo introduz o regime de salvaguardas no Brasil. O terceiro capítulo apresenta uma seleção de casos emblemáticos. O desempenho do regime de salvaguardas brasileiro aplicado nesses casos emblemáticos é analisado no capítulo quatro. O capítulo cinco extrai principais lições e conclusões. Com base nessas análises, o último capítulo deste trabalho apresenta recomendações que visam melhorar a efetividade do financiamento do desenvolvimento. Além de recomendações gerais, o artigo inclui recomendações específicas para fortalecer o quadro institucional, a implantação, a execução e a supervisão das salvaguardas existentes. O objetivo final do artigo é melhorar o regime de salvaguardas do Brasil e fornecer aprendizados para a comunidade internacional de financiamento do desenvolvimento no uso crescente de sistemas nacionais. EXECUTIVE SUMMARY As international institutions make investments in the Global South, they increasingly rely on countries' own safeguard regimes to prevent and mitigate human rights violations and environmental damage. Brazil is one example of a country that is presumed to have a strong safeguard regime. In principle, major infrastructure projects in Brazil must meet several human rights, environmental, and social safeguards to be viable. These safeguards include a complex web of domestic legislation, international agreements, voluntary standards, and bank policies. The study of two emblematic cases from recent years — the Rio Madeira and the Belo Monte dams — demonstrates the difficulties of implementing these safeguards in practice. Such projects appear to be implemented outside of Brazil’s safeguard regime composed of democratically established, applicable international agreements and domestic norms, rules, laws, procedures, voluntary commitments and the corresponding institutional apparatus. These cases point to a practice that is incompatible with the existing rule of law, respect of democratic institutions and sound administrative practice. Therefore, in order to be effective, Brazil’s safeguard regime requires improvements on various levels. The first chapter of this paper on safeguards and their application offers a conceptual framework that includes definitions of safeguards, safeguard frameworks and a safeguard regime. Building on that, it provides examples of safeguard frameworks and country systems. The second chapter introduces the safeguard regime in Brazil. The third chapter presents a selection of emblematic cases. The performance of Brazil’s safeguard regime in these cases will be analysed in chapter four. Chapter five draws key lessons and conclusions. Building on that, the last chapter of this paper presents recommendations that are intended to enhance the effectiveness of development finance. In addition to general recommendations, the paper includes specific recommendations to strengthen the institutional framework, implementation, enforcement and supervision of existing safeguards. The ultimate goal of this paper is to improve Brazil’s safeguard regime and provide lessons learned for the international development community in the growing use of country systems.