AS PROBLEMÁTICAS NO USO DOS RECURSOS TECNOLÓGICOS NAS TURMAS DE ENSINO MÉDIO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA) NAS ESCOLAS DE EUNÁPOLIS/BA Marlécia Ferreira SANDERS Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia - Campus Eunápolis Rosicler Teresinha SAUER Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia - Campus Eunápolis RESUMO: Este artigo se propõe a investigar as problemáticas envolvidas na utilização das TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação) nas escolas estaduais de nível médio no Município de Eunápolis; bem como detectar as necessidades e dificuldades dos educadores com relação à utilização das novas tecnologias. Para a totalidade da pesquisa delimitamos como campo empírico as escolas estaduais que oferecem a educação de jovens e adultos no ensino médio do município de Eunápolis, extremo sul da Bahia. A finalidade é compreender quais são os recursos disponíveis e como os mesmos são utilizados para que se dê a inserção do estudante trabalhador da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no mundo tecnológico, tão essencial na vida das pessoas. PALAVRAS-CHAVE: Recursos Tecnológicos; Educação; EJA. 1. Introdução Diante do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA) que está sendo implantado, nas redes de ensino municipal, estadual e federal e nos diversos níveis de ensino, entendemos que são necessárias análises sobre as condições de infra-estrutura, formação docente, entre outros aspectos relevantes no campo da EJA, oferecendo reflexões teóricas e práticas sobre essa temática. Dessa maneira, diante da revolução tecnológica que vem definindo novas formas de socialização e trazendo novas identidades individuais e coletivas modificando as relações de trabalho, da escola e pessoais, faz-se importante uma análise sobre a inserção dos alunos ao uso das novas tecnologias no ensino e para o trabalho. Visto que, O dia a dia da maioria das pessoas, seja no trabalho, seja no lazer, é um constante defrontar-se com uma realidade que não permite mais passar ao largo do necessário enfrentamento com equipamentos e processos que demandam conhecimentos relacionados à tecnologia digital. (BIANCHETTI, 1998, p.133) Partindo deste pressuposto, algumas inquietações surgem, tais como: os alunos estão sendo inseridos no mundo tecnológico? As instituições estão se preocupando em disponibilizar esses recursos aos alunos? Os professores sentem-se à vontade para trabalhar com os recursos tecnológicos e foram qualificados para tal utilização? Enfim, várias são as questões envolvidas nesta problematização, e para adentrar nesta seara e tentar desvendar 1 alguns aspectos vivenciados por alunos, professores e gestores nos propomos a discutir essas questões no universo escolar. Para essa discussão consideramos recursos tecnológicos o uso de computadores, acesso à internet, data-show, televisão, DVD, som, celular e similares. Para esta pesquisa delimitamos como campo empírico as escolas estaduais que oferecem a educação de jovens e adultos no ensino médio do município de Eunápolis, extremo sul da Bahia. Temos como finalidade compreender quais são os recursos disponíveis e como os mesmos são utilizados para que se dê a inserção do aluno no mundo tecnológico, tão essencial na vida das pessoas. Pretende verificar as problemáticas para a utilização dos laboratórios de informática, salas de multimídias e os recursos tecnológicos nas escolas estaduais de nível médio no Município de Eunápolis; bem como detectar as necessidades e dificuldades dos educadores e educandos com relação ao aprendizado e a utilização das novas tecnologias. Para tanto, é preciso entender a situação em que as escolas se encontram e como se dá a atuação dos sujeitos envolvidos neste processo com os recursos tecnológicos disponíveis. Para Savianni, Em geral, está também muito pouco discutido o problema da articulação do sistema de ensino com a necessidade de inserção do cidadão no processo tecnológico. Para relacionar o sistema educativo (relacionar e não subordinar) às necessidades da nação, torna-se necessário ter um entendimento muito concreto do que significa o processo tecnológico. (SAVIANI,1994. p. 147) Para um melhor entendimento sobre o processo tecnológico, será realizado um estudo embasado na análise de documentos e leis que contemplam a utilização dos recursos tecnológicos para auxiliar no processo de ensino-aprendizagem. A inserção das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) no mundo do trabalho tem levado os trabalhadores a buscar novas qualificações, visto que o mundo, antes, movimentava-se de forma diferente em relação à forma como se desenvolvia o trabalho. O fato de os conhecimentos cooperativo e tácito também poderem ser produzidos e partilhados à distância é o novo efeito potencial da multimídia comparada com as ferramentas de comunicação anteriores. (BIANCHETTI, 1998, p.141) Segundo Bianchetti, com o surgimento das novas TICs no processo do trabalho, novos elementos começam a ser inseridos, e a partir daí acontecem mudanças na cultura organizacional, ou seja, novas formas de organização do trabalho começam a ser revistas. Para entender essas questões relacionadas com o universo escolar o presente estudo será realizado através da análise das problemáticas para utilização dos laboratórios de informática e os recursos tecnológicos, desse modo pretende-se realizar visitas nos setores 2 administrativos responsáveis pela educação no referido município. A seguir realizar entrevistas e observações nas escolas que oferecem EJA ensino médio em Eunápolis para compreender a real situação do parque tecnológico e investigação da infra-estrutura física nas escolas. Fazer um levantamento para prosseguir à investigação na prática docente. Para apurar dados com relação ao uso e domínio dos recursos tecnológicos junto aos alunos será aplicado um questionário e a observação em sala de aula. Assim poderá ser abordada uma análise crítica sobre o universo investigado nas referidas escolas. Assim espera-se compreender como está acontecendo a inserção dos alunos no mundo tecnológico e apontar um mapeamento das problemáticas que envolvem o uso das tecnologias nas escolas estaduais no município de Eunápolis para a implantação do PROEJA. 2. Uso dos Recursos Tecnológicos na Educação de Jovens e Adultos O ensino-aprendizagem com a utilização das novas tecnologias deve proporcionar a inserção e o amadurecimento tecnológico do aluno da educação de jovens e adultos ao mundo do trabalho. Formar cidadãos e profissionais capazes de compreender e vivenciar um mundo tecnológico, no qual ele esteja inserido, é fundamental para o sucesso profissional deste aluno. Uma vez que os recursos tecnológicos, em muitas escolas, não são utilizados de forma adequada, os alunos ficam desamparados e alheios ao mundo tecnológico desde a sua formação dentro do universo escolar. Mas, essa inclusão tecnológica trabalhada de forma coerente desde a escola favorecerá a posterior inclusão desse jovem e adulto ao mundo do trabalho e tecnológico. Os saberes devem ser construídos na escola e na convivência social em que o encontro dos diferentes tipos de conhecimentos lança um novo olhar diante do mundo das diferenças. Desta forma, o aprendizado das novas tecnologias deve ser experimentado pelos alunos da EJA, apoiado pelos professores e incentivado pelos gestores, para que, assim, favoreça aos jovens e adultos além do preparo para o mundo do trabalho, a sua real inserção no mundo tecnológico. De acordo com Bianchetti (1998), é preciso familiarizar-se com a apreensão e o uso ferramental teleinformático, pois o mesmo já extrapola os limites do “chão de fábrica”. Os alunos-trabalhadores concluem seus estudos de ensino médio e ainda assim, podem não ser incluídos no universo tecnológico durante o processo escolar. Mas, ele deve ser inserido 3 no mundo do trabalho que, por sua vez está, em sua grande maioria, quase totalmente informatizado. Para tanto, entendemos que o professor deve escolher diferentes formas de abordagem para trabalhar os assuntos a serem tratados e aliar a isso as opções tecnológicas disponibilizadas pelas escolas, já que não se deve acomodar-se com o uso dos materiais educativos prontos. De acordo com o documento base, vimos que Entende-se por materiais educativos todos os recursos de apoio à mediação pedagógica baseados no uso das tecnologias de comunicação e interação para a produção e veiculação das propostas pedagógicas. O material poderá ser desenvolvido sob a responsabilidade das instituições proponentes e parceiras, envolvendo alunos e professores participantes do projeto, considerando a realidade local e o projeto político-pedagógico. Os materiais produzidos por alunos e professores serão de posse pública e poderão ser socializados em ambientes impressos e eletrônicos voltados para os participantes do PROEJA. . (Documento Base p.61) Ainda segundo o Documento Base (p.63), é de responsabilidade da SETEC a viabilização de ambiente virtual e colaborativo de aprendizagem que sirva de suporte à mediação pedagógica e de gestão para as instituições participantes (chat, fórum, lista de discussão). Percebe-se assim, que o corpo pedagógico das instituições de ensino deve ter apoio didático e pedagógico, além de formação docente voltada para a Modalidade da Educação de Jovens e Adultos. Esse suporte é fundamental para propiciar segurança aos professores, quanto ao uso dos recursos tecnológicos disponíveis no universo escolar e no mundo do trabalho. Neste contexto, segundo Silveira (2002), torna-se importante a compreensão das linhas pedagógicas que orientam o trabalho escolar, as quais se diferem uma das outras. Nesse universo está relacionada a “Escola Tradicional” onde o ensino se fundamenta na memorização, transmissão e repetição. Todo processo é inteiramente dependente do professor, pois que ele é o principal agente, é o responsável pela motivação, exposição, explicação, é aquele que sabe e é o que vai fazer com que o aluno possa saber também. Esta é a escola que ainda predomina no ensino brasileiro na qual o professor é o centro de decisões na sala. Encontra-se, também a “Escola Skinneriana” onde o ensino consiste, nesta concepção, de um arranjo de situações para que os alunos aprendam ou adquiram comportamentos que, não apareceriam, ou só seriam assumidos muito lentamente. O importante está no sentido de resolver os entraves que se apresentam. Assim o ensino se 4 desenvolve na seqüência de estímulos e respostas. Uma característica dessa proposta se relaciona com a avaliação que deve ser contínua, sistemática e empírica, a fim de que se detecte o caminho a ser percorrido, seja pelo aluno ou pelo professor. A apresentação imediata dos resultados se configura como uma necessidade básica da proposta, a fim de alimentar o processo, refazer-se a programação. Outra proposta é a “Escola Rogeriana”, na qual o ensino é centrado no aluno. Neste contexto consideram-se fatores importantes o respeito ao aluno, à sua liberdade e à sua autodeterminação, uma vez que ele como ser humano é capaz de se auto dirigir. As implicações para o ensino-aprendizagem são acentuadas, pois o professor deve se preocupar em colocar à disposição do aluno instrumentos e condições com os quais ele possa produzir a sua experiência e sua aprendizagem. O professor deve estar totalmente à disposição do aluno. Mais uma proposta é “O enfoque sistêmico da Instrução”. As atividades de ensino envolvem muito freqüentemente, conhecimentos interdisciplinares e prefere-se falar em instrução ao invés de ensino. Para o sistema de instrução é fundamental a clareza dos objetivos, tal proposta pedagógica organiza-se a partir de levantamentos de necessidades, de análise de coerções dos sistemas educacional e social e estudos dos recursos disponíveis. Tem-se, ainda, a “Pedagogia de Paulo Freire”, na qual a preocupação primeira é a conscientização, a elevação social e a transformação da realidade e dos seres humanos para consecução da sua humanização. Os fundamentos da pedagogia Paulo Freire, encontram-se na análise da sociedade de classes, conforme visto em Silveira (2002). E, tem-se, também, a Pedagogia Histórico-Crítica que, segundo Saviani (2003, p.88), empenha-se em compreender a questão educacional com base no desenvolvimento histórico objetivo, ou seja, a compreensão da história a partir do desenvolvimento material, da determinação das condições materiais da existência humana. A pedagogia crítica implica uma clareza dos determinantes sociais da educação, é preciso compreender as contradições da sociedade e como isso afeta a educação. Com tal entendimento o aluno da Educação de Jovens e Adultos obtém meios de melhor compreender a sua realidade, e a partir do aprendizado escolar, com o apoio dos recursos tecnológicos, promovendo seu incentivo e estímulo e proporcionando sua inserção ao mundo tecnológico o aluno acaba por melhor se adequar ao mundo do trabalho, a compreensão do grau em que as contradições da sociedade marcam a educação e, conseqüentemente, como é preciso se posicionar diante dessas contradições e desenredar a educação de visões ambíguas, para perceber claramente qual é a direção que cabe imprimir à questão educacional. 5 A concepção histórico-crítica está fundada no conceito geral de realidade, que envolve a compreensão da realidade humana como sendo construída pelos próprios homens, a partir do processo de trabalho, ou seja, da produção das condições materiais ao longo do tempo, pauta-se no método dialético, compreendendo que deve fazer o aluno ler criticamente a prática social na qual vive. Por isso, nessa perspectiva metodológica, a instituição escolar é um importante espaço de luta social pela hegemonia, já que se torna um espaço reservado para se trabalhar as diferenças sociais e onde a inclusão social poderia acontecer. A negação dessa inclusão favorece a exclusão do aluno da Educação de Jovens e Adultos ao ambiente escolar deixando-o à margem da sociedade e provocando a alienação deste aluno contrariando a proposta fundamental da pedagogia histórico-crítico, na qual devese favorecer a emancipação humana do aluno da EJA. A viabilidade da inclusão acontece de acordo com a participação dos alunos em atividades escolares e nesse ponto sugere-se a inclusão dos recursos tecnológicos para auxílio das aulas, propiciando sua inclusão como sujeito inerente ao mundo tecnológico. Caso não exista a motivação includente por parte dos docentes e da instituição de ensino, a exclusão tornar-se-á um mal inevitável. Robert Castel (1999, p. 32 e 33) considera que o uso impreciso do conceito exclusão oculta e, ao mesmo tempo, traduz o estado atual da questão social, pois se detém nos efeitos mais visíveis e imediatos da crise, reduzindo-a erroneamente a aspectos pontuais e não a um processo geral de desestabilização da condição salarial. Diante dessas nuances, não é possível continuar estacionário, as escolas precisam modificar, atualizar e proporcionar ao professor e aluno novas formas de se construir o aprendizado. O mundo atual é exigente e busca profissionais criativos, com capacidade de aprender, de trabalhar em equipe, de conhecer o seu potencial intelectual e ser capaz de estar em constante aprendizado. Essas atitudes devem ser desenvolvidas por cada indivíduo, ou seja, deve ser fruto de um processo educacional em que o sujeito vivencie situações que lhe permitam construir e desenvolver essas competências. Para as mudanças ocorrerem na Educação de Jovens e Adultos, é necessário que se avance e rompa-se com antigos paradigmas da educação, mas como ser tão flexível se o sistema de ensino atual ainda é fundamentado em uma pedagogia tradicional que dificulta o acesso à mudanças? Esse é o grande entrave, sabemos que não é fácil transformar, mas temos que buscar estratégias e recursos de ensino que favoreçam o processo de ensino-aprendizagem para esse público específico. 6 Os diversos meios tecnológicos existentes hoje estão sendo utilizados por vários segmentos da educação como otimizadores do processo ensino-aprendizagem. O trabalho com essas diferentes tecnologias, tais como, computadores e softwares educacionais em salade-aula, tem preocupado vários autores, que procuram sistematizar o processo de aprendizagem, para que os professores possam atuar com segurança junto aos alunos. Na pesquisa realizada em nosso estudo encontramos vários tipos de tecnologias, tais como episcópio, retroprojetor, aparelho de DVD, som e televisão, computador, datashow e TV pendrive. O episcópio é um aparelho de projeção de documentos, que provê a ampliação das imagens na parede, tornando-o indicado para a apresentação de documentos de pequenas dimensões. Mas não é muito utilizado porque exige o completo escurecimento da sala, e isso possibilita a quebra do ritmo da comunicação entre professor e aluno. O retroprojetor foi idealizado para projetar documentos de grande formato a curta distância, sem perda sensível de qualidade. Não é necessário alterar a luz ambiente da sala de formação. No entanto o funcionamento do retroprojetor passa pelo bom estado dos seus componentes. Este, também, praticamente, já entrou em desuso por ter que ordenar a posição dos slides no carregador antes da projeção e dificuldades na elaboração e impressão dos slides. Os sistemas multimídia com som, DVD e TV conjugam a utilização de várias formas de "mídia" para a apresentação da informação, compostos de som, imagens, cor, movimento, etc. O datashow é um equipamento que nos permite a projeção da imagem de um computador para uma tela. As suas principais vantagens residem na possibilidade de ampliação da imagem, de forma a permitir a sua visualização a grandes audiências, porém seu custo é elevado e seu uso está vinculado a um computador. A TV pendrive é uma TV na qual você pode levar para sala objetos de aprendizagem produzidos em outras mídias como: computador, filmadoras, máquinas fotográficas e em diversas plataformas. O ambiente de apoio à aprendizagem se expande para além dos microcomputadores, DVD-players, projetores multimídias, retroprojetores, etc. Ao se trabalhar com o computador e os outros recursos tecnológicos na educação alguns pontos devem ser considerados, tendo em vista que existem computadores modernos e outros já ultrapassados, professores que dominam a máquina e outros que apresentam certa resistência ao uso da mesma, alunos que sabem usar os recursos multimídias e outros que estão sendo apresentados às TICs no momento da aula e assim, outros fatores que dificultam o completo desenrolar de uma aula. Mas, é preciso vencer os desafios, mesmo com computadores ruins, com dificuldades de se trabalhar com tal ferramenta, o estímulo é muito importante e estar disposto a enfrentar novos desafios é fundamental para vencer as barreiras 7 surgidas durante o ensino-aprendizagem. O uso das Tecnologias da Informação e Comunicação no ambiente escolar prepara o aluno para o ambiente profissional, sem que o mesmo perceba. Através das novas tecnologias os professores obtêm rapidamente informação sobre recursos instrucionais, facilitando, assim, a busca contínua sobre novos assuntos e conteúdos disciplinares. Com o uso da Internet pesquisas podem ser feitas em inúmeras fontes, participar de listas de discussões, fazer trabalhos em grupos, facilitando a vida do professor porque pode tornar suas aulas mais dinâmicas e motivadas. O acesso à multimídia, que é a utilização de textos, gráficos, sons, imagens, animações entre outros e os jogos educativos também propiciaram o favorecimento das atividades escolares, auxiliando os professores no quesito alternativas de recursos didáticos. Além de proporcionar o autoconhecimento, o professor desempenha tarefas diante dos alunos, mesmo com o pouco tempo disponibilizado para pesquisas e estudo. Ele precisa dedicar-se no preparo das aulas, oferecendo desafios e questões interessantes aos alunos, explorando da melhor maneira possível os recursos que o computador lhe oferece; alguns alunos apresentam dificuldades diante das novas tecnologias, e nesse caso, o professor deve dar bastante atenção ao aluno, para que ele não ache a aula ruim e acabe desmotivado, cabe a ele também estimular a reflexão crítica e competência dos alunos, pois quanto mais desafiados os alunos se sentem, mais eles vão exercitar a memória para desenvolver uma solução plausível para o problema apresentado. Além de tudo, também é preciso fazer um trabalho de conscientização aos alunos para que tenham ciência da importância em manter os recursos tecnológicos bem conservados e também, com relação à possibilidade de se encontrar erros lingüísticos durante uma aula com o uso da Internet. Mesmo com os pontos positivos do uso do computador como recurso didático, ainda existem professores que apresentam uma certa resistência ao uso do computador para preparar uma aula. Mas isso pode ser contornado, basta interesse e força de vontade por parte do professor e da direção das escolas. O estudante da Educação de Jovens e Adultos precisa ter um convívio assíduo com as ferramentas tecnológicas e cabe ao professor, com a infra-estrutura da escola proporcionar esse acesso aos alunos, mesmo com as dificuldades enfrentadas no dia-a-dia. O professor deve vencer suas barreiras e contornar os problemas e dificuldades apresentadas no momento da aula, sugerindo alternativas aos alunos. Explorar bem o imenso potencial das novas tecnologias nas situações de ensinoaprendizagem pode trazer contribuições tanto para os estudantes quanto para os professores. 8 Mas de quê adiantaria a presença de todo o recurso tecnológico no dia-a-dia das pessoas, se não souberem utilizar e aproveitar as vantagens proporcionadas por ela? Não se pode esperar milagres dessas novas tecnologias se poucas alterações e aproveitamentos forem observados. Sendo assim, é preciso saber utilizar os recursos que estão disponíveis para melhoria da qualidade de vida e aprimoramento das tarefas cotidianas. Dessa forma, para que as TICs transformem a prática pedagógica é preciso que os professores que vão usar essa tecnologia tenham em mente uma nova escola, caso contrário, os recursos tecnológicos existentes não surtirão efeito na vida dos alunos da EJA e as aulas continuarão sendo meras repetições das práticas tradicionais de ensino-aprendizagem vistas em inúmeras escolas em tempos passados. Desafios precisam ser apresentados aos alunos para motivá-los a se envolvê-los ativamente na aprendizagem, o ideal é forçar os estudantes a realizar reflexões que proporcionem um uso mais elaborado da memória. O indivíduo não é um ser isolado, ele está inserido num ambiente que deve ser cooperativo, ou seja, existe um relacionamento entre colegas, amigos, pais, professores e, pode usar todos esses elementos sociais como fonte de idéias, de conhecimentos ou de problemas a serem desenvolvidos através do uso do computador. (VALENTE, 1996) O computador é uma ferramenta que pode ser explorada de diversas formas e isto não seria diferente no processo educacional, no qual pode ser empregado como uma ferramenta de ensino, cuja finalidade didática pode ser tanto ensinar como fazer aprender. As novas tecnologias de uso do computador na educação apontam para uma nova direção: o uso desta tecnologia não como “máquina de ensinar”, mas como uma nova mídia educacional; o computador passa a ser uma ferramenta educacional, uma ferramenta de complementação, de aperfeiçoamento e de possível mudança na qualidade do ensino. (VALENTE, 1993). Dentre cada classe citada por Valente, em se tratando do uso do computador como máquina de ensinar, os programas educacionais podem ser classificados em: programas tutoriais (ensinam através de instrução programada), programas de exercício e prática (trabalha a memorização de conteúdos de materiais que envolvem repetição), jogos educacionais (usado no aprendizado de conceitos abstratos, aumenta a capacidade de elaborar estratégias, desenvolvimento de habilidades motoras e cognitivas), programas de 9 simulação (retratam situações do mundo real, permite ao aprendiz testar novas situações, analisar resultados etc). De acordo com Correia (2005), na classe do computador como ferramenta educacional, este pode ser visto como uma ferramenta pela qual o aluno desenvolve algo. Tipos de programas: programas de manipulação da informação (informatizam o ensino tradicional por intermédio de editores de texto, uso de planilhas eletrônicas construção de banco de dados, editores gráficos editores de apresentação, e outros), computador tutelado (o aprendiz é estimulado a resolver problemas ensinando ao computador como realizar tarefas) e robótica pedagógica (forma de explorar o conhecimento e levar o indivíduo a solucionar problemas através da montagem de equipamentos e modelos, como robôs). No uso do software educativo, os recursos de som, imagem, movimento, cor, animação, tornam as informações mais agradáveis e compreensíveis, mas é importante lembrar que a multimídia não faz mágicas, não se pode esperar resultados irreais de um sistema interativo de aprendizagem. Nesse processo o professor é fundamental pois, dele depende o desenrolar da união do conteúdo a ser trabalhado com os recursos multimídia. Existem softwares que realmente atendem à proposta de software educacional, eles desafiam a inteligência do usuário do computador, oferecem situações (problemas) que instigam o aluno, a todo momento, a usar seu raciocínio e conhecimentos previamente adquiridos com o objetivo de solucionar os desafios propostos. Para que um programa desenvolva o objetivo geral da instrução é preciso promover a aquisição de conhecimento, explorar a inteligência do aluno, os conhecimentos prévios do aluno da EJA devem ser explorados, os objetivos da aprendizagem devem ser significativos e a atividade deve estar situada em um contexto realista, proporcionando a criação de oportunidades objetivando a construção social do conhecimento; a compreensão profunda, mostrando ao aprendiz que ele deve prestar atenção em seus próprios pensamentos. Sendo assim, os programas devem fornecer suporte para a reflexão, encorajar a flexibilidade no uso de estratégias e criar oportunidades para considerar suas idéias, fornecer feedback rico e explicativo, explorar erros como oportunidades para desenvolver a aprendizagem, explorar diferenças individuais de interesse, conhecimento e habilidades, além de fornecer medidas significativas de avaliação. Segundo Brandão (2000) é necessário encontrar nos softwares educacionais características que assegurem uma maior probabilidade de sucesso no âmbito educacional. A seguir são consideradas algumas características para análise de software educacional: documentação, item importante, pois diz respeito ao material que acompanha o software; 10 currículo, refere-se ao currículo previsto para o desenvolvimento de atividades escolares com a ferramenta; aspectos didáticos, os quais são subdivididos em clareza dos conteúdos (informações claras, consistentes e com boa legibilidade); assimilação e acomodação, que diz respeito ao tratamento do software com relação às diferenças individuais e aos conhecimentos anteriores dos alunos; recursos motivacionais, se o software desperta e mantém a atenção do aluno; avaliação do aprendizado (o software deve apresentar recursos para a verificação do aprendizado); carga educacional que se refere à quantidade de informações apresentadas e, para finalizar, o tratamento das dificuldades e tratamento do erro, ou seja, se são apresentadas mensagens de erro que possibilitem ao usuário ver onde ele errou e sugestões para a superação do erro. (BRANDÃO, 2000) A idéia é passar para o professor os meios que ele pode adotar para variar suas aulas, sair do cotidiano, deixar de ministrar sempre aula expositiva, mudar, utilizar alternativas, aulas mais agradáveis, aulas mais dinâmicas, em que o aluno da Educação de Jovens e Adultos participe espontaneamente, pesquise e aprenda apenas consultando o professor em caso de dúvidas. As atividades com animações são alvos de discussões, alguns professores apóiam outros não, pode ser agradável ou até mesmo atrapalhar o real objetivo da aula, sendo assim, cabe ao professor analisar a viabilidade das TICs, tempo, turma, conteúdo entre outros, antes de aplicá-los aos seus alunos, mesmo tais atividades proporcionando benefícios, como a vivência com os recursos tecnológicos. Segundo Paulo Freire (1996), o professor deve saber exercer sua curiosidade, A construção ou a produção do conhecimento do objeto implica o exercício da curiosidade, sua capacidade crítica de “tomar distância” do objeto, de observá-lo, de delimitá-lo, de cindi-lo, de “cercar” o objeto ou fazer sua aproximação metódica, sua capacidade de comparar, de perguntar”. (FREIRE, 1996) Por fim, acreditamos que os professores devam ser curiosos e pesquisarem sobre suas atividades pedagógicas, enfatizando assim, o uso de todos os recursos tecnológicos disponíveis na escola. 11 3. Primeiras Aproximações com o Objeto de Estudo Como já mencionado anteriormente, para esta análise foi proposta uma investigação inicial no Colégio Estadual Armando Ribeiro Carneiro em Eunápolis/BA, a fim de se compreender as problemáticas envolvidas no uso dos recursos tecnológicos no dia-a-dia dos professores e diretores relacionados com a Educação de Jovens e Adultos no ensino médio desta instituição de ensino. Posteriormente, dar-se-á prosseguimento à investigação nas demais escolas estaduais que promovem a EJA no ensino médio, bem como expandir a pesquisa aos estudantes trabalhadores desta modalidade de ensino. Foram realizadas comunicações orais com diretores e professores e aplicação de um questionário onde foi revelado os recursos tecnológicos existentes na escola, os quais já foram mencionados anteriormente e, novamente, são listados a seguir: episcópio, retroprojetor, aparelho de DVD, som e televisão, computador, datashow e TV pendrive. Foi feita uma abordagem a vários professores e vice-diretora sobre as TICs existentes na escola, sua utilização, trabalhos realizados, dificuldades entre outros. De acordo com a conversa com a vice-diretora, já existiu um laboratório de informática com dezoito computadores e que, “na época, foi muito utilizado, foi excelente”. Na época da implantação deste laboratório foi uma inovação para os professores e eles o utilizavam muito, haviam estagiários e articuladores que prestavam manutenção e orientação aos professores quanto à sua utilização. Com o tempo, os computadores começaram a quebrar e não havia técnico e manutenção in loco, dessa forma, o laboratório foi sucateado e atualmente entrou em desuso. Basicamente pode-se dizer que não se tem mais laboratório de informática. Em suma, o laboratório de informática foi abandonado por falta de manutenção técnica diária e pessoal de apoio para sanar os problemas deste laboratório. De acordo com a vice-diretora, “as TICs são usadas, embora pudessem ser utilizadas muito mais. Tem TV pendrive, datashow, computador, DVD, TV, som, retro e episcópio, mas os professores poderiam usar muito mais. A sala de vídeo é o mais utilizado com muito bons filmes e também a biblioteca”. Ainda segundo sua fala, “a maioria dos professores já teve três etapas para formação com o uso das TICs mais ou menos em 2004. Acho interessante ter novamente outros cursos.” Quando indagado sobre quais dificuldades e facilidades você percebe no tratamento das TICs em sua escola, pelos(as) professores(as), foi respondido que “alguns 12 professores não dominam, não se sabe se eles não sabem ou se não tem interesse mesmo no uso, por exemplo, do PC. As TVs pendrive tem alguns problemas e não se sabe qual é o problema dela”. Percebe-se que esse é um recurso de fundamental importância, a TV Pendrive, foi instalada em todas as salas de aula e para alguns professores é muito útil, embora para outros não ajude muito, tendo em vista alguns problemas vivenciados de acordo com o que foi diagnosticado pela nossa investigação. Em suma, segundo a vice-diretora, o uso das tecnologias contribui muito no processo ensino-aprendizagem mas precisa-se que os professores utilizem mais os recursos que se tem disponíveis, porque os alunos adoram as aulas com tais recursos. A segunda etapa da entrevista foi com os professores. Segundo uma professora, “tá faltando a assistência de um técnico que dê treinamento. Um colega deu treinamento para o uso da TV pendrive e assim eles usam, mas tem pendrive que não funciona em uma TV e funciona em outra. Faltam pilhas, extensão, tem cadeados, um molho de chaves que até se achar a chave do seu televisor demora tempo”. Todos se preocupam com a formação para o uso das TICs em sua disciplina específica e as consideram de grande importância, embora exista uma professora que não as utilizam devido à dificuldade vista por ela, e outros que dizem que as TICs ainda são pouco utilizadas. Em uma pergunta do questionário aplicado, foi questionado sobre as condições oferecidas pela escola para o uso das TICs pelos professores, e a resposta dos professores foi “a escola não nos oferece condições práticas, há muitos contratempos”, e “muito reduzido, às vezes por falta de capacitação”. Outro relatou que anteriormente eles tiveram maior apoio e um projeto específico para trabalhar e assim por diante. O que se pôde constatar é que a escola tem os recursos, mas não oferece treinamento aos professores e não tem pessoal capacitado para dar apoio aos mesmos. Em geral todos responderam que os alunos da EJA utilizam as TICs para ajudar na compreensão dos conteúdos, e para apresentação de trabalhos. O relato de um professor foi que “de uma certa maneira os alunos, embora convivam com as tecnologias, até mais que os professores, ainda não conseguem absorver que as TICs tornaram-se apoio para as aulas, mas, ainda com um pouco de receio ele aceitam e se habituam a elas. Mesmo assim, a maioria dos professores disse que quando utilizadas, os alunos da EJA gostam muito do uso das TICs. Quanto à importância da formação geral para o uso das TICs todos foram unânimes em concordar que é de fundamental importância “devido ao suporte que será dado 13 ao trabalho do professor”, “porque aos poucos vamos fazendo parte da realidade e das exigências do mundo moderno”, e “para que possamos viabilizar amplamente todo trabalho de pesquisa nas várias áreas” entre outros. Com base no que foi constatado até o presente momento, já podemos tecer algumas considerações sobre o objeto investigado. 4. Considerações É importante evidenciar que esta investigação ainda encontra-se em andamento, portanto, será melhor aprofundada após sua completa análise com relação às problemáticas que envolvem o uso dos recursos tecnológicos como estratégias inovadoras no processo ensino aprendizagem, contribuindo para a inserção do estudante trabalhador no mundo do trabalho. Com a incorporação das TICs no mundo do trabalho, o trabalhador deve se especializar-se cada vez mais para realização de suas tarefas. Com base nesse novo processo de produção, o estudante trabalhador deve preocupar-se em ser inserido neste universo tecnológico para que não continue à margem da sociedade. Assim, a Educação de Jovens e Adultos deve ser tratada com atenção especial para que este aluno não abandone a sala de aula por conta do trabalho ou porque continua alheio ao mundo do trabalho ou ao mundo tecnológico, e nesse sentido percebemos que a utilização das TICs pela escola deve ser evidenciada e explorada por todos os sujeitos envolvidos no processo escolar. Foi possível observar que quanto mais familiaridade os professores possuem com as TICs, mais eles conseguem envolver os estudantes com o aprendizado e suas aulas tornam-se mais interativas e diversificadas. Percebemos, também, que no ambiente escolar, as TICs podem ao mesmo tempo aproximar e afastar professores e diretores e alunos. O que tem faltado é incentivo em sua utilização, capacitação profissional, disponibilidade para aquisição de novos conhecimentos, investimento financeiro e pessoal qualificado para melhor apoiar os sujeitos envolvidos no processo ensino-aprendizagem na instituição de ensino. Promovendo, por meio de tais artifícios, a elevação e emancipação do estudante da Educação de Jovens e Adultos. 14 5. Referências BIANCHETTI, Lucídio. Da chave de fenda ao laptop: um estudo sobre as qualificações dos trabalhadores na Telecomunicações de Santa Catarina (Telesc) (Tese). São Paulo: PUC, 1998. BRANDÃO, E. J. R.; Teixeira, A. C. Software Educacional o Complexo Domínio dos Multimeios. Passo Fundo, RS: Material didático, Universidade de Passo Fundo, 2000. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica. 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