NÍVEIS DE ALIMENTAÇÃO E FREQÜÊNCIA ALIMENTAR NA
LARVICULTURA DE Lophiosilurus alexandri
José Cláudio Epaminondas dos Santos, Ronald Kennedy Luz* e Nilo Bazzoli
*
Dep. de Zoologia de Vertebrados PUC Minas, Belo Horizonte, MG. E.mail: [email protected]
Resumo
Com o objetivo de estudar a larvicultura de Lophiosilurus alexandri, foram realizados
dois experimentos: no primeiro, foram testados diferentes níveis diários de náuplios de
Artemia/larva, durante os primeiros 15 dias de alimentação; no segundo experimento as larvas
foram estocadas em um sistema de recirculação de água e alimentadas com o melhor nível de
alimentação do experimento 1 nas freqüências alimentares de duas e três vezes ao dia. Os
diferentes níveis de alimentação influenciaram o crescimento dos animais. No entanto, as
diferentes quantidades de alimento não afetaram a sobrevivência e a mortalidade das larvas.
No experimento 2, a freqüência alimentar de três vezes ao dia proporcionou maiores valores
de comprimento das larvas, mas sem efeitos nos demais parâmetros avaliados. O uso de
náuplios de Artemia como primeiro alimento de L. alexandri proporcionou altas taxas de
sobrevivência e evitou a ocorrência de canibalismo.
Introdução
Durante as fases iniciais de criação a quantidade diária de alimento e a freqüência
alimentar merecem especial atenção por serem manejos que podem afetar o crescimento, a
sobrevivência, o canibalismo e a mortalidade das larvas.
O objetivo deste trabalho foi avaliar diferentes níveis de alimentação e duas
freqüências alimentares na larvicultura de pacamã Lophiosilurus alexandri, espécie nativa da
Bacia do Rio São Francisco de expressiva importância ecológica e econômica.
Material e Métodos
Foram conduzidos dois experimentos na Estação de Hidrobiologia e Piscicultura de
Três Marias-CODEVASF, MG. No primeiro, foram utilizadas larvas de pacamã com oito dias
após a eclosão e comprimento total e peso de 14,3±0,4mm e 25,0±1,9mg, respectivamente. As
larvas foram estocadas na densidade de 15 larvas/L em 18 aquários com volume útil de 3 L
cada e dotados de aeração constante (OD > 5,0mg/L). A temperatura da água foi de
25,2±1,6°C e 25,4±1,3°C nos períodos da manhã e tarde, respectivamente. Os tratamentos
consistiram no fornecimento de seis níveis diários de náuplios de Artemia/larva (Tabela 1),
com três repetições cada, em um delineamento inteiramente casualizado. A alimentação foi
oferecida em três refeições, às 9h, 13h e 17h.
Diariamente, antes da primeira alimentação, os aquários foram sifonados para limpeza,
sendo renovado aproximadamente 60% do volume total. Neste momento foram quantificadas
larvas mortas.
Tabela 1. Níveis diários de alimentação (N)* fornecidos às larvas de pacamã nos diferentes
tratamentos, durante o período de 15 dias de alimentação.
Níveis de alimentação
N100
N400
N700
N1.000
N1.300
N1.600
1 - 5 dias
100
400
700
1.000
1.300
1.600
Período de alimentação
6 - 10 dias
150
600
1.050
1.500
1.950
2.400
11 - 15 dias
200
800
1.400
2.000
2.600
3.200
*(N) - número diário de náuplios de Artemia/larva.
Para o segundo experimento, foi montado um sistema de recirculação de água
constituído de: i) biofiltro; ii) filtro mecânico; iii) filtro de luz ultravioleta; iv) tanque de
tratamento de água de 500L; v) seis tanques circulares com volume útil de 25 L cada; e vi)
bomba centrífuga. Larvas com sete dias pós-eclosão, pesando 21,0±2,9 mg e com
comprimento total de 13,0±0,8 mm, foram estocadas na densidade de 8 larvas/L seguindo o
esquema alimentar N1.600. O fluxo de água nos tanques foi de 200mL/min, com temperatura
de 27,1±0,7°C e de 27,0±0,7°C nos períodos da manhã e tarde, respectivamente. A
alimentação diária foi dividida em três refeições (F3), às 9h, 13h e 17h, em três tanques, e em
duas refeições (F2), às 9h e 17h, nos outros três tanques, num delineamento com dois
tratamentos e três repetições.
Ao final de 15 dias de alimentação, em ambos os experimentos, foram determinadas a
sobrevivência, mortalidade, canibalismo e avaliado o crescimento dos animais.
Aos dados do experimento 1 foram aplicados a Análise de Variância paramétrica pelo
teste F e posterior teste Tukey, ao nível de 5% de probabilidade. No experimento 2, os
resultados foram analisados pelo teste T de “Student”. Para as análises estatísticas, os dados
percentuais sofreram prévia transformação arco-seno.
Resultados e Discussão
O uso de náuplios de Artemia mostrou-se ótima alternativa na larvicultura de pacamã
desde a primeira alimentação, pois em ambos os experimentos não foram registrados a
ocorrência de canibalismo. Este alimento vem apresentando resultados promissores na
larvicultura inicial de outras espécies de água doce que apresentam canibalismo (Luz &
Zaniboni Filho, 2001; Luz & Portella, 2005; Feiden et al., 2006).
A sobrevivência e a mortalidade das larvas de pacamã foram semelhantes (P>0,05)
nos diferentes tratamentos. No entanto, o crescimento em comprimento e peso foi
influenciado pelos diferentes níveis de alimentação (Tabela 2). Resultados semelhantes foram
registrados para o trairão Hoplias lacerdae (Luz, 2004).
Tabela 2. Valores médios (± DP) de sobrevivência, mortalidade, peso e comprimento total de
larvas de pacamã submetidas aos diferentes níveis de alimentação, após 15 dias.
Níveis de
alimentação
N100
N400
N700
N1.000
N1.300
N1.600
Sobrevivência
(%)
99,1±1,5 a
91,9±2,7 a
92,8±6,2 a
93,6±4,1 a
90,9±6,8 a
92,8±6,2 a
Mortalidade
(%)
0,9±1,5 a
8,1±2,7 a
7,2±6,2 a
6,3±4,1 a
9,1±6,8 a
7,2±6,2 a
Peso (mg)
82,4±5,7 e
135,5±10,1 d
182,5±11,1 c
230,2±16,3 b
257,0±28,1 b
309,1±25,8 a
Comprimento total
(mm)
21,1±0,6 e
24,4±0,7 d
26,3±0,5 c
27,2±0,9 bc
28,0±1,2 b
29,6±1,3 a
Letras diferentes na vertical indicam diferenças significativas pelo teste Tukey (P<0,05).
Na criação em sistema intensivo, a freqüência alimentar de três vezes ao dia
proporcionou maiores valores de comprimento total (P<0,05). Por outro lado, os demais
parâmetros avaliados não sofreram influência (P>0,05) da freqüência alimentar (Tabela 3),
podendo-se adotar o a freqüência alimentar de duas vezes ao dia para esta espécie, durante os
15 primeiros dias de alimentação. Para o trairão, a alimentação em duas, três ou quatro vezes
ao dia também não afetou os parâmetros de crescimento e produção das larvas (Luz &
Portella, 2005), sendo recomendado pelos autores o manejo alimentar de duas vezes ao dia.
Tabela 3. Valores médios (±DP) de sobrevivência, mortalidade, peso e comprimento total de
larvas de pacamã submetidas às diferentes freqüências alimentares, após 15 dias.
Parâmetros
Sobrevivência (%)
Mortalidade (%)
Peso (mg)
Comprimento (mm)
Freqüência alimentar
F2
93,8±2,4 a
6,1±2,4 a
140,3±12,6 a
24,7±0,5 b
F3
96,0±0,2 a
3,9±0,2 a
146,3±10,0 a
25,9±0,3 a
Letras diferentes na horizontal indicam diferença significativa pelo Teste T “Student”.
Conclusões
O nível de alimentação inicial influenciou o crescimento das larvas de pacamã, mas
sem efeitos na sobrevivência e na mortalidade.
Larvas de pacamã podem ser alimentadas duas vezes ao dia sem prejuízos nos
parâmetros de produção.
Agradecimentos
Ao convênio CODEVASF/CEMIG e a FAPEMIG, pelo apoio financeiro.
Referências
FEIDEN, A.; HAYASHI, C.; BOSCOLO, W.R. Desenvolvimento de larvas do surubim-doiguaçu (Steindachneridion melanodermatum) submetidas a diferentes dietas. Revista
Brasileira de Zootecnia, v.35, p.2203-2210, 2006.
LUZ, R.K. Aspectos da larvicultura do trairão Hoplias lacerdae: manejo alimentar,
densidade de estocagem e teste de exposição ao ar. 120p. 2004. Tese (Doutorado) Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Jaboticabal.
LUZ, R.K.; PORTELLA, M.C. Frequência alimentar na larvicultura do trairão (Hoplias
lacerdae). Revista Brasileira de Zootecnia, v.34, p.1442-1448, 2005.
LUZ, R.K.; ZANIBONI FILHO, E. Utilização de diferentes dietas na primeira alimentação do
mandi-amarelo (Pimelodus maculatus, Lacépède). Acta Scientiarum, v.23, p.483-489, 2001.
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