Entrevista com José Claudio Cardoso, da
Abrate: linhas para eólicas precisam de
regulação específica
GAGLIANO, Matheus. “Entrevista com José Claudio Cardoso, da Abrate: linhas para
eólicas precisam de regulação específica”. Agência CanalEnergia. Rio de Janeiro, 25
de Abril de 2012.
As linhas de transmissão para atender às usinas eólicas precisam de uma regulação
específica, já que muitas vezes estes empreendimentos são conectados por meio de
linhas considerada de distribuição. De acordo com o presidente da Associação
Brasileira das Grandes Empresas de Transmissão de Energia Elétrica, José Claudio
Cardoso, este é um tema delicado.
“Este é um assunto delicado e que vai exigir uma regulamentação específica. As
eólicas normalmente são integradas ao sistema por meio de linhas consideradas de
distribuição, por vezes sem conhecimento da transmissora local. Esta configuração
pode afetar o desempenho do sistema, agravando as consequências de um
desligamento de maior porte ou comprometendo a seletividade da proteção”, analisou.
Estas serão algumas das questões que serão debatidas por Cardoso durante o Enase
2012 - 9º Encontro Nacional dos Agentes do Setor Elétrico, que acontecerá entre os
dias 8 e 9 de maio, no Hotel Sofitel, no Rio de Janeiro. O Enase é promovido pelo
Grupo CanalEnergia, em parceria com a ABCE (concessionárias), Abdib (Indústria de
Base), Abiape (autoprodutores), Abrace (grandes consumidores), Abraceel
(comercializadores), Abrage (geradores), Abragef (geração flexível), Abraget
(geradoras termelétricas), Abrate (transmissoras), Anace (consumidores), Apine
(produtores independentes), Abragel (geração limpa), ABCM (carvão mineral),
ABEEólica (energia eólica), Abdan (nuclear), Abradee (distribuidores) e Cogen
(cogeração). Leia abaixo a entrevista com José Claudio Cardoso:
Agência CanalEnergia - Quais as perspectivas para os leilões de transmissão
neste ano?
José Claudio Cardoso - As condições são muito propícias e os leilões constituem um
sucesso já comprovado. A atratividade do negócio de transmissão não foi afetada e o
baixo risco de inadimplência continua sendo fator importante na decisão de
investimento. A participação relativa dos diversos tipos de agentes nos leilões não
deverá sofrer modificações sensíveis em 2012.
Agência CanalEnergia - Como a associação analisa a entrada de empresas
chinesas no mercado brasileiro?
José Claudio Cardoso - A Abrate vê com bons olhos a participação das empresas
chinesas na expansão do sistema, já que contribui para o aumento da competição e
consequente otimização dos custos, com vantagens para os consumidores finais. Por
enquanto, a participação das empresas chinesas tem se dado em consórcio com
tradicionais concessionárias brasileiras, o que permitirá um ganho sinérgico de
interesse para todas as partes.
Agência CanalEnergia - Qual a avaliação que a entidade faz com relação à
questão do descasamento da transmissão e alguns projetos de geração?
José Claudio Cardoso - A situação é considerada grave e já vem merecendo a
atenção dos órgãos do governo. O descasamento, com atraso na implantação das
linhas e subestações, tem ocorrido em consequência do tempo excessivo para a
concessão das licenças ambientais. Aumentar a antecedência da construção das
obras de transmissão não seria lógico, uma vez que isso seria equivalente a antecipar
desnecessariamente um investimento. O esforço tem que ser aplicado no sentido
certo, ou seja, na redução dos prazos para emissão das licenças ambientais.
Agência CanalEnergia - Como o senhor vê o andamento dos projetos de conexão
das grandes hidrelétricas, como as linhas de Belo Monte, Teles Pires e
Complexo do Madeira?
José Claudio Cardoso - A expansão da capacidade de geração no sistema brasileiro
vai depender da utilização dos recursos da região amazônica, exigindo, portanto, a
implantação de linhas de tensão mais elevada e grande extensão. Na verdade já
temos muita experiência neste campo. É exemplo o amplo sistema de transmissão
construído na região sudeste na década de 1970 para levar para os centros de carga a
geração das usinas da região oeste. Outro exemplo é o sistema de transmissão
associado à Itaipu. A implantação dos novos troncos deverá ser tão bem sucedida
como outras obras de caráter pioneiro.
Agência CanalEnergia - Como observa a contratação de empreendimentos de
transmissão para conexão das usinas eólicas?
José Claudio Cardoso - Este é um assunto delicado e que vai exigir uma
regulamentação específica. As eólicas normalmente são integradas ao sistema por
meio de linhas consideradas de distribuição, por vezes sem conhecimento da
transmissora local. Esta configuração pode afetar o desempenho do sistema,
agravando as consequências de um desligamento de maior porte ou comprometendo a
seletividade da proteção.
Agência CanalEnergia - Quais os investimentos necessários para a expansão do
sistema de transmissão?
José Claudio Cardoso - Segundo os estudos da EPE, o investimento total no
segmento de transmissão entre 2011 e 2020 será de R$ 46,4 bilhões, sendo R$ 30
bilhões em linhas e R$ 16,4 bilhões em subestações. Isto corresponde a um
investimento médio anual de cerca de R$ 5 bilhões, o que parece ser bastante
razoável.
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