Depois do jogo do Brasil contra o Chile, fiquei incomodado com a reação negativa de alguns setores
da imprensa e da sociedade, ao questionarem o choro de alguns jogadores do Brasil na hora do
Hino Nacional.
Foi um caça as bruxas, uma inquisição tão aquecida que
incendiou seus protagonistas, e me leva a uma pergunta. O
ser humano que joga profissionalmente não pode se
emocionar ao sentir um estádio com milhares de pessoas
cantar o Hino de seu país? Na minha visão vimos um time que
já vinha sem convencer, desmoronar de vez, pois a única
coisa que os unia era a emoção. Será que a critica não foi
equivocada? Será não deveríamos chorar pela falta de
estratégia, planejamento e maturidade do nosso futebol e do
nosso pais?
O que vimos com a campanha da Alemanha culminando na
conquista da copa, foi um povo antes considerado insensível,
duro e sem sentimentos, se mostrar humano e eficiente. No
campo ou nos lugares onde passaram se mostraram
humanamente simpáticos, alegres, interativos, com emoção,
e nem por isso deixaram de ser eficientes, disciplinados e
competitivos.
O que nos faz diferentes de animais é a razão aliada à
emoção. Razão sem emoção nos torna insensíveis, e emoção
sem razão nos torna passionais. Então a solução é unir a duas
para deixarmos fluir nossa humanidade como fez a Alemanha.
A atual crise mundial é resultado de líderes apenas racionais que ao longo de séculos vem ditando
um modelo de gerir famílias, empresas e países apenas com a razão, sem emoção, sem
sensibilidade, sem humanidade. Sem emoção não somos completamente humanos, somos
máquinas implacáveis que não tem a capacidade de envolver, empolgar, engajar, e sem isso não
existe equipe. Numa equipe temos colaboração, coletividade e produtividade, e forças para superar
dificuldades e inseguranças. O time do Brasil não foi uma equipe, mas a culpa não foi dos
jogadores, mas sim das lideranças nada inspiradoras que temos no comando do futebol brasileiro,
que seguem o mesmo estilo de liderança também nada inspiradora do país, com uma visão de
curto prazo predatória, gananciosa e individualista.
Precisamos valorizar o “soft power” que o povo brasileiro mostrou ao recepcionar os visitantes que
vieram ao nosso pais. “Soft power” é emanar poder através da sedução, ao contrário do “hard
power” que se estabelece através da coerção. Essa é nossa essência, não precisamos ser “hard”
para sermos eficientes, seja na convivência ou em transações comerciais. Ser alegre, simpático e
solidário, vende mais, fideliza mais, é sustentável e duradouro.
Precisamos ser leves e competentes no futebol, nas instituições e no país. Chega de planos “hard”
de curto prazo, que visam apenas os resultados objetivos como ganhar uma copa, e olharmos para
resultados com propósitos mais elevados como o da Alemanha. O responsável pelo projeto de
futebol alemão ao ser perguntado no esporte espetacular sobre a possibilidade de perderem a copa
respondeu: “É importante ganharmos a copa, porém o mais importante é cuidarmos do futebol do
nosso país”. Nos falta esse propósito maior de fazer pelo prazer de ver bem feito. Dinheiro é
fundamental, mas sem um objetivo maior é ganancia, que é individualista, insensível e
insustentável.
Nenhuma ação mais complexa de curto prazo tem tempo de evoluir, e por isso é insustentável,
enquanto as de longo prazo vão se transformando ao longo do tempo, e permanecem como um
legado para seus idealizadores, mantenedores e usuários. Ganhar dinheiro desta forma faz sentido,
e nos faz humanos e não seres predatórios, como animais brigando desesperadamente pela
carniça.
O hemisfério norte se inspirou em nossa forma “soft” de ser e ver o mundo, e a complementou com
a racionalidade e, como resultado, obteve um modelo colaborativo e inspirador. Isso é sustentável.
Sustentabilidade é manter a produção e lucratividade de forma equilibrada e saudável no longo
prazo, através de gestões “soft power”, e não “hard power” que nos faz adversários de tudo e todos,
numa competição tensa, alienante, desmotivada e nada saudável.
No mundo corporativo também não é permitido chorar. Mas isso precisa mudar, sob pena de
continuarmos a ter empresas desumanas, apesar de composta por humanos. Estamos lidando com
pessoas que têm fragilidades, medos e desequilíbrios. Profissionais que adoecem ou que têm
familiares doentes, filhos com problemas, dívidas e mais dívidas. Mostrar estas fragilidades coloca
em cheque a confiança dos seus pares. Mostrando suas dores a pessoa queda perante as
intempéries da vida. Ao quedar, chora. Mas não é permitido chorar nas empresas. Sinal de
fraqueza. É humano demais. O mundo corporativo também é cruel, nesse sentido. Mas é preciso
repensar esse tipo de postura. Compreender o humano e as questões do humano tornará a vida
nas empresas mais saudável. Aqui também é permitido chorar para ganhar o jogo. Emocionar a
equipe. Contar com a ajuda do outro para vencer e alcançar os objetivos.
É hora de sentir e chorar, mas também de aprender a planejar o longo prazo, educar nossa
população e instituições, tornar eficiente a aplicação de nossas leis, e reciclar de forma profunda
os legisladores de nosso país, das prefeituras ao governo federal passando por confederações
esportivas e empresas.
Chorar e ser eficiente para ganhar o jogo da vida de forma alegre, duradoura, humana e planejada,
isso é possível! A Alemanha nos mostrou isso. A Alemanha chorou.
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