REFLEXÕES SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE EDUCAÇÃO INCLUSIVA E A EDUCAÇÃO CAPITALISTA Bruna Nathaly Silveira1 Daniela Fiorese2 Introdução O presente artigo tem como tema a educação inclusiva e objetiva refletir sobre as relações da escola no capitalismo e a proposta de educação inclusiva. Parte das discussões baseadas no livro “Educação para além do Capital” de Isteván Mészáros (2008), realizadas nas reuniões do projeto sobre inclusão “Preconceito em relação aos ‘Incluídos’ na Educação Inclusiva”. De início, pensa-se a escola como um importante espaço de socialização onde são compartilhados, tanto conhecimentos científicos quanto valores que paulatinamente vão se legitimando em cada sociedade. Assume, portanto, um papel que é social, político e econômico. E na sociedade de mercado, a educação é cortada pelo interesse da classe dominante, que determina os saberes, valores, enfim, a ideologia a ser transmitida para que uma massa populacional adaptada às necessidades de mercado seja formada, seja “educada”. Para tanto, a escola no capitalismo é explicitamente marcada pela exclusão própria da estrutura do (mesmo) sistema. É uma escola seletiva, que distingue aqueles que se adaptam ao mercado daqueles que não se encontram no limiar do ritmo preestabelecido para e por este mercado. Considerando esta realidade socialmente construída pelo sistema capitalista, inúmeras reformas educacionais com políticas para inclusão destes que estão à margem das exigências mercantilistas, ou seja, inclusão dos diferentes, e nesta reflexão, mais especificamente, de crianças com necessidades educacionais especiais, tem sido apresentada à sociedade, como alternativas quase que paliativas a uma questão com raízes profundas, como 1 Bruna Nathaly Silveira – Acadêmica do curso de Psicologia pela Pontifica Universidade Católica do Paraná – PUCPR, Campus Toledo - PR; e Serviço Social pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Campus Toledo – PR; 2 Daniela Fiorese – Acadêmica do curso de Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR, Campus Toledo – PR. soluções ilusórias, que trazem uma aparente solução imediatista para esta realidade exclusiva, que não é uma falha a ser tapada ou superada, mas é peça constitutiva à engrenagem do capital. A escola no capitalismo sempre foi espaço de exclusão, como afirma Ghirardi (2000 apud COSTABILE; BRUNELLO, 2005, p.124), a “prática do sistema educacional é classificatória e tem sido historicamente mais responsável por promover a exclusão social do que propriamente fomentar a inclusão”. As políticas de inclusão hoje propostas funcionam como uma espécie de sistema tampão de uma questão, que logo se irrompe de outras formas, explicitando por outro viés aquilo que é raiz. Tais políticas propõem que se perpetuam as relações já existentes, considerando que não se relacionam com o sistema educacional em si, mas com indivíduos. E, embora a proposta de incluir em sala de aula regular o aluno que historicamente foi excluído teoricamente suscite outras implicações, na prática apenas a permanência em sala e aula já se denomina erroneamente inclusão. Se estamos falando de uma questão estrutural, em específico a exclusão que aparece no sistema educacional, partindo da concepção de que esse movimento é historicamente construído, é possível que se date o momento histórico em que a inclusão educacional passa a ser uma medida proposta pelo sistema capitalista. De acordo com Costabile e Brunello (2005, p.125) em meados das décadas de 1950 e 1960 se dá o início da criação das chamadas escolas especiais, que posteriormente se tornaram as classes especiais dentro da escola regular. Nos anos 1970 surge a preocupação com as crianças com deficiência e seu processo de aprendizagem, embora ainda pautada na idéia de que é o aluno que deveria se adaptar ao modelo escolar. A partir de 1980 surgem movimentos pela inclusão de crianças com necessidades educacionais especiais no ensino regular, várias leis foram promulgadas defendendo a equidade no sistema educacional. No Brasil, o compromisso foi registrado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996, que assegurou o direito à educação a toda criança e adolescente, resguardando a proposta da inclusão educacional. A partir dessas iniciativas, esforços têm sido feito para que as propostas se concretizem, porém sem transcender a ordem legitimada e supostamente inalterável, como afirma Mészáros (2008, p.37). Se a questão parte da base do modo de produção capitalista seria impossível pensar que apenas uma mudança no sistema educacional seria suficiente para a questão da exclusão e inclusão na educação, pede-se uma mudança no contexto social no qual estas práticas educacionais são gestadas. Ciente desta realidade, aqui se pretendeu discutir as relações da educação no sistema capitalista, assim como a própria sociedade de mercado, e as propostas de educação inclusiva, com base em pesquisa bibliográfica. Inclusão na educação para o mercado Nas últimas décadas, o tema da educação inclusiva tem sido debatido em diversas áreas. Ao poucos, minorias que antes eram segregadas vêm sendo incorporadas na educação, sem negar os limites para esta inclusão. Ao longo dos anos se obteve significativos avanços na sociedade brasileira. Entretanto, esses avanços se dão majoritariamente no âmbito legislativo, enquanto que, na prática cotidiana, superações mais profundas ainda são necessárias para que de fato uma educação que se diga inclusiva possa ser concreta. Parte-se do entendimento de educação inclusiva como aquela que é centrada na criança, que atenda a diversidade total das necessidades educacionais dos alunos, baseando-se num sistema educacional no qual todas as crianças conseguem aprender, todas as crianças freqüentam classes regulares adequadas à sua idade em suas escolas locais, recebem programas educativos adequados, recebem um currículo relevante às suas necessidades, participam de atividades cocurriculares e extracurriculares, e beneficiam-se da cooperação e da colaboração entre seus lares, sua escola e sua comunidade (Brunswick, 1994 apud PACHECO, 2007, p. 14) e para tanto, uma escola que supere a lógica do capital, que ultrapasse o lucro e a competitividade postos na base desse processo, enfim, que eduque além do mercado de trabalho. É necessário compreender que o modelo educacional que hoje tem sido empregado não o é ao acaso, é fruto de uma construção histórica que advém e acompanha o desenvolvimento e as modificações do capitalismo. É parte de um processo concreto, que se materializa na vida cotidiana, preparada para que este movimento se perpetue. Pensar em uma educação que ultrapasse tais limites impostos pelo capital implica pensar no próprio capitalismo e na sua estruturação. O capital se gesta sob a contradição, no antagonismo de classes que opõe capital e trabalho. De um lado se colocam os possuidores dos bens materiais e dos meios de produção, e do outro a grande massa populacional dona da força de trabalho necessária à extração da mais-valia, de onde parte a mercadoria e o lucro, objetivos finais do processo de produção capitalista e chaves que completa e reinicia o ciclo do capital. Este modo de produção se sustenta na exploração e, portanto, tem a exclusão como base. De acordo com Martins (1997 apud CROCHÍK, 2006, p.3) a sociedade capitalista exclui para posteriormente incluir precariamente. Entende-se que [...] a exclusão é um processo multifacetado, uma configuração de dimensões materiais, políticas, relacionais e subjetivas. É processo sutil e dialético que só existe em relação à inclusão como parte constitutiva dela. Não é uma coisa ou um estado, é processo que envolve o homem por inteiro e suas relações com os outros. Não tem uma única forma, nem é uma falha do sistema, devendo ser combatida como algo que perturba a ordem social, ao contrario, ele é produto do funcionamento do sistema (Sawaia, 2006 apud CROCHÍK, 2006, p.4). . Esse processo se reproduz por meio de campos sociais partilhados nesta sociedade, não se restringe apenas a esfera da produção, mas se dissemina por todas as esferas da sociedade, visto que, é uma questão estrutural da sociedade de mercado. “Um sistema que se apóia na separação entre trabalho e capital, que requer a disponibilidade de uma enorme massa de força de trabalho sem acesso a meios para sua realização, necessita, ao mesmo tempo, socializar os valores que permitem a sua reprodução” (MÉSZÁROS, 2008, p.15). O capital e a sua necessidade de manutenção a produção e reprodução do seu ciclo é concreto, é material, mas se sustenta na subjetividade dos homens, precisa formar um tipo psicológico preparado para sua lógica, que se aliena, se acomoda, se conforma e se adapta a essa realidade. E o faz sumariamente pela escola. A educação que poderia ser uma alavanca essencial para a mudança, tornou-se instrumento daqueles estigmas da sociedade capitalista: fornecer os conhecimentos e o pessoal necessário à maquinaria produtiva em expansão do sistema capitalista, mas também gerar e transmitir um quadro de valores que legitima os interesses dominantes, [...] tornou-se uma peça do processo de acumulação de capital e de estabelecimento de um consenso que torna possível a reprodução do injusto sistema de classes. Em lugar de instrumento de emancipação humana, agora é mecanismo de perpetuação e reprodução desse sistema. A natureza da educação – como tantas outras coisas essenciais nas sociedades contemporâneas – está vinculada as destino do trabalho (MÉSZÁROS, 2008, p.15). É de conhecimento que dentro dos moldes capitalistas há evidente desigualdade em todas as esferas. Segundo Martins (1997 apud CROCHÍK, 2006, p.3), tais moldes capitalistas propriamente implicam na exclusão podendo afirmar que já há, dentro desta lógica, um movimento de inclusão que marginaliza, característico do seu funcionamento desigual sendo, portanto, um fator intrínseco ao próprio capital, onde se exclui para incluir. Quanto à diferença, ela sempre foi alheia aos parâmetros do mercado, quando se trata da diferença marcada fisicamente ou intelectualmente, a exclusão apenas se explicita. O próprio slogan vendido no século XXI “seja diferente, pense diferente, se comporte diferente” já cria uma grande massa de diferentes que se igualam pelo pensamento transmitido propositalmente, reforçam a grande massa necessária à reprodução do ideal de mercado. As contradições do sistema que esta em vigor não possibilitam que indivíduos desenvolvam autonomia libertadora de pensamento para o entendimento de sua lógica e de seus processos. Indivíduos são educados para não pensar, mas para reprodução mecânica dos interesses dominantes. Educa-se para o trabalho e não pelo trabalho. A educação se transforma também em mercadoria. E que o espaço se destina a crianças com necessidades educacionais especiais em uma escola que ensina um determinado ritmo de vida necessário à produção material da sociedade que a sustenta, massifica as pessoas em um ritmo para o trabalho, desconsiderando as diferenças do ser humano enquanto ser único dono de uma capacidade única de pensar, agir e de aprender, e se questiona: como incluir numa sociedade que é por estrutura excludente? “Se compreendermos o sistema como sendo social, a critica a exclusão e aos limites da inclusão deve ser remetida à sociedade” (CROCHÍK, 2001, p.4). Não é o individuo em si que causa a exclusão, mas há uma estrutura que a provoca, e então como pensar uma educação que abarque a diferença como sendo algo próprio do ser humano, em maior ou menor grau, que esteja pronta a trabalhar pela emancipação humana e não como preparadora para o mercado. Assim como afirma Mészáros (2008, p.9): “[...] a educação não é uma mercadoria [...], não deve qualificar para o mercado, mas para a vida”. Ele alerta também que O simples acesso à escola é condição necessária mas não suficiente para tirar das sobras do esquecimento social milhões de pessoas cuja existência só é reconhecida nos quadros estatísticos. E que o deslocamento do processo de exclusão educacional não se dá mais principalmente na questão do acesso à escola, mas sim dentro dela, por meio das instituições da educação formal. O que está em jogo não é apenas a modificação política dos processos educacionais – que praticam a agravam o apartheid social –, mas a reprodução da estrutura de valores que contribui para perpetuar uma concepção de mundo baseada na sociedade mercantil (MÉSZÁROS, 2008, p.12). Partindo desse raciocínio, coloca-se a educação do sistema vigente como mera transferência de conhecimento, de modo instrumental e tão somente para a vocação, estando determinada, quel acaba por reforçar o estigma daqueles que estão sendo incluídos pela e na sociedade. Pode-se pensar que, teoricamente estão incluídos, porém, dentro das salas de aula tais indivíduos acabam sendo inferiorizados, depreciados e muitas vezes humilhados por não terem as características ou capacidades que condizem ao padrão adjacente à existência de valores fortemente enraizados na sociedade. Coloca-se como uma inclusão que exclui, mesmo em sala de aula os alunos inclusos são segregados, discriminados e alvo do preconceito. De acordo com Crockíc (2006, p. 12), quando se discute educação inclusiva deve-se entendê-la como um processo que abriga a diversidade em sala de aula e um sistema de ensino suficiente para esta diversidade, desqualificando a segregação tão marcada em sala de aula, envolve a questão das diversas diferenças. E, não se pode pensar que este processo significa esvaziamento pedagógico, ele requer especialização e preparo. Enquanto estão sendo inseridos, estes estudantes demandam desempenho pedagógico que atenda a suas necessidades, não obstante, em oposição, tem-se intrínseco o preconceito que pode assumir aspecto não intencional daquele que a pratica, pertinente a estigmatização. Para León (1994 apud CROCHÍK, 2001, p. 11) há dificuldade dos professores com alunos com necessidades educacionais especiais e estes, se vêem restritos diante de tais situações, necessitando de suporte para a execução de um trabalho digno e competente. Não somente pelo fato da política de inclusão como todas as “[...] reformas educacionais que propusessem para remediar os piores efeitos da ordem reprodutiva capitalista estabelecida sem, contudo, eliminar os seus fundamentos causais antagônicos e profundamente enraizados” (MÉSZÁROS, 2008, p.26), mas também por essa educação ser restrita a salas de aula, reprodução passiva e conformada de conhecimento e princípios dominantes, esvaziada de compreensão, ausente de percepção de mundo e entendimento de que o ser humano também se reconhece e identifica-se na diferença, não apenas na igualdade. Incluir uma criança com necessidades educacionais especiais em uma instituição de ensino regular através dessa política não garante que ela vá ter os subsídios necessários para sua emancipação, fatos como esses consistem em configurações encobertas da lógica no sistema capitalista e de uma ideologia que mascara e desvia o indivíduo da sua condição de autonomia, discriminando e deixando este a margem do conhecimento. Da mesma forma, não adquirindo a educação adequada, esse cidadão estará excluído do mercado de trabalho, ficando novamente à margem, necessitando, pela mesma razão, ser constantemente incluído por sempre ser excluído da sociedade, devido à estrutura desigual que constitui o funcionamento da dialética contraditória capitalista, em seus diversos âmbitos. Pensado nesse ciclo em que a sociedade de mercado se apresenta, aparentemente parece sem alternativas de rompimento. Entretanto, o lócus pelo qual a mudança necessária à inclusão está sobre a própria educação. O mesmo sistema que reproduz o ideal burguês é o mesmo espaço em que grandes mudanças podem ser operadas. “Uma das funções principais da educação formal nas sociedades é produzir tanta conformidade ou 'consenso' quanto for capaz, a partir de dentro e por meio dos seus próprios limites institucionalizados e legalmente sancionados” (MÉSZÁROS, 2008, p.45), mas como parte sumariamente importante no processo que legitima o capital é a lacuna pela qual se introduz mudanças de pensar. A educação inclusiva só pode ser pensada sobre o próprio sistema educacional, que quando supera os limites que a dirigem ao preparar para o mercado de trabalho, abre possibilidades de uma política que eduque para a vida, e então desvendando o homem para suas próprias limitações enquanto ser humano, único e diferente, entendido como totalidade histórica social, possibilitando um sistema educacional preparado a abarcar as diferenças. De acordo com Mészáros (2008), a questão não está na reforma do sistema educacional, mas está naquilo que se legitima dentro do espaço educacional pela internalização. Aqui a questão crucial, sob domínio do capital, é assegurar que cada indivíduo adote como suas próprias metas de reprodução objetivamente possíveis do sistema. Em outras palavras, no sentido verdadeiramente amplo do termo educação, trata-se de uma questão de 'internalização' pelos indivíduos […], da legitimidade da posição que lhes foi atribuída na hierarquia social, juntamente com suas expectativas 'adequadas' e as formas de conduta 'certas', mas ou menos estipuladas nesse terreno”(MÉSZÁROS, 2008, p.44). “Portanto, seja em relação à 'manutenção', seja em relação à 'mudança' de uma dada concepção do mundo, a questão fundamental é a necessidade de modificar, de uma forma duradoura, o modo de internalização historicamente prevalecente” (MÉSZAROS, 2008, p.52). A internalização é o ponto chave, é o processo que precisa ser confrontado para que mudanças aconteçam. As mudanças necessárias para que a inclusão educacional de fato ocorra depende da substituição das formar de pensar dominantes e enraizadas na sociedade, que é a educação para o trabalho. A educação significa o processo de 'interiorização' das condições de legitimidade do sistema que explora o trabalho como mercadoria, para induzi-los a aceitação passiva. Para ser outra coisa, para produzir insubordinação, rebeldia, precisa redescobrir suas relações com o trabalho e com o mundo do trabalho, com o qual compartinha, entre tantas coisas, a alienação (MÉSZAROS, 2008, p.17). Contudo, Mézáros (2008) propõem que, para não ser excludente, a educação deve ser continuada, para toda a vida. Gerar consciência em sua compreensão mais ampla, bem como promover a liberdade e emancipação do indivíduo como um todo, não apenas servindo de mercadoria para a troca de sua sobrevivência e dignidade. Promover entendimento e não explicação: “Explicar é reproduzir o discurso midiático, entender é desalienar-se, é decifrar, antes de tudo, o mistério da mercadoria, ir além do capital” (Emir Sader in MÉSZÁROS, 2008, p. 18). Ou seja, ela deve ser fundamentalmente essencial, gerando assim, mudança. “É por isso que, também no sistema educacional, as soluções não podem ser formais; elas dever ser essenciais” (MÉSZÁROS, 2008, p.45). Mudança essa em seu significado não só individual, mas também social. Pois Mézáros (2008) assegura que apenas uma mudança de caráter essencial, com fundamentos na universalização da educação – para todos – seria capaz de alterar os parâmetros do sistema, os quais não são passíveis de reestruturação, muito menos de atualização por seguirem uma lógica incorrigível. A política de inclusão deve ser buscada em um olhar crítico desse sistema para não cair no engano do discurso de senso comum que é empobrecido de reflexão e embasamentos teórico e histórico. Educação não pode funcionar suspensa no ar, ela precisa estar empenhada com o meio social, com o trabalho, para este não ser alienante, mas sim uma atividade humana auto-realizadora. Conclusão Pensar em educação inclusiva implica pensar a educação como luta emancipatória, e esta pede que se reatem os laços entre educação e trabalho, que se eduque pelo trabalho. Em Mészáros (2008), na lógica capitalista, educação e trabalho estão subordinados a mesma dinâmica. As determinações da sociedade de marcado marcam profundamente todos os aspectos da educação formal e estão disseminados em todos os processos sociais, não podendo funcionar sem um sistema social que lhe dê suporte. Sem dúvida, a educação formal é um processo importante no sistema que legitima o capital, porém, ela não é a primazia que consolida este modo de produção e, portanto, sozinha não oferece possibilidade de uma educação emancipadora, e consequentemente, inclusiva. Na concepção de educação continuada esclarecida por Mészáros (2008), o processo de aprendizado se situa em grande parte fora da educação formal, é em todo processo da vida humana, desde as concepções de consciência moral, política, sociais, o surgimento da criticidade, entre outros fenômenos da vida cotidiana. Uma pequena parte desse processo está na educação formal, a aprendizagem é a vida cotidiana. Isso significa que o processo da educação inclusiva ultrapassa a questão das instituições formais de educação, e muito menos, seus equívocos observados são de responsabilidade da própria escola, dos professores, dos demais alunos, da família e comunidade que envolve estas relações individualmente. E, embora a legislação assegure os direitos e regras de funcionamento necessários à educação inclusiva, as práticas pedagógicas sejam reestruturadas, tente-se capacitar profissionais de ensino para estas políticas, tudo isso seria apenas um curativo a questão, e o preconceito, discriminação e segregação dos alunos inclusos continuaram a se perpetuarem dentro das salas de aula. A questão é: a sociedade não legitima a inclusão da diferença, porque reproduz a homogeneidade necessária ao movimento e ciclo da sociedade de mercado. A educação formal é a porta de entrada por onde esse processo de internalização e legitimação de novos valores que abrem a possibilidade de inclusão de crianças com necessidades educacionais especiais no ensino regular se faz possível. Esse processo implica o rompimento dos valores vigentes, rompimento com a lógica da sociedade de mercado, e para isso, a “[...] a história deve então ser reescrita [...]” (MÉSZÁROS, 2008, p.37), e esta é uma nova questão a ser refletida. Referências Bibliográficas COSTABILE, Camila; BRUNELLO, Maria Inês Britto. Repercussões da inclusão. Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo, v. 16, n. 3, p. 124-130, set./dez., 2005. CROCHÍK, José Leon. Preconceito em relação aos ‘Incluídos’ nas Educação Inclusiva. São Paulo: Programas de Pós Grad. Em Psic. Social e Em Educação História Política Sociedade, 2008. MARTINS, J. de S. Exclusão e a nova desigualdade. São Paulo: Paulus, 1997. MÉSZÁROS, Isteván. A Educação para além do Capital. 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2008. MICHELS, Maria Helena. Gestão, formação docente e inclusão: eixos da reforma educacional brasileira que atribuem contornos à educação escolar. Revista Brasileira de Educação, v.11, n. 33, p. 406-421, set/dez. 2006. PACHECO, José. 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