Manifesto SomosTodosUmSó
Tenho a convicção de que a causa raiz de todos os nossos problemas é a desconexão. Para atender ao nosso vício cartesiano de
rotular e separar as coisas em caixinhas, podemos dividir essa desconexão em duas: a desconexão social e a desconexão com a
Natureza. Mas fato é que ninguém sabe realmente definir onde as fronteiras do social terminam e as do ambiental começam,
justamente porque eles são intrinsecamente relacionados e sobrepostos. A desconexão social se manifesta na nossa incapacidade de compreender que somos todos interligados. Todos os dias morrem
seres humanos de fome e isso nos parece algo alheio e distante. Mas a maneira como operamos, nossos modelos mentais, as ideias
que deles emergem, assim como as nossas atitudes ou a nossa falta de atitudes (!) contribuem para manter ou para superar esta
situação vergonhosa. Para mim, se o indivíduo não é parte da solução, ele é parte do problema! Desculpe, mas não existe posição
neutra. Ou você combate ou você contribui para uma dada situação. É sua escolha se vai fazê-lo ativa ou passivamente, mas esta é
a sua contribuição.
Não importa se você goste ou aceite, mas nós seres humanos somos todos interligados. O sofrimento de uma pessoa é fruto das
contribuições de todos (incluindo aquele que sofre) e impactará, em maior ou menor grau, a todos. Do mesmo modo, o amor e a
felicidade de uma pessoa irão contagiar o todo. Somos incapazes de nos ver como uma única comunidade humana, interconectada
e interligada porque continuamos a rodar o sistema operacional errado em nossos cérebros. Esse sistema que nos robotiza
operando no “cada um por si” é a causa e o alimento da nossa desconexão social. Dele decorrem nossas ações egoístas que geram
os problemas sociais. Desde problemas pequenos como o cara “esperto” que fura a fila até os mais bizarros como as guerras, a fome
e a miséria.
Desconexão com a Natureza é apenas mais uma face deste sistema operacional em operação. Nós, humanos, nos percebemos como
algo separado da Natureza. Isso é 100% estúpido e um menino de 3 anos de idade pode lhe ensinar isso. Pior ainda, nos vemos
como superiores à Natureza! Lutamos contra ela!
Quando começamos, há mais ou menos 6 mil anos atrás, a utilizar ferramentas e fogo combinados com a vida comunitária,
iniciamos esse processo que nos levou ingenuamente a acreditar que poderíamos dominar a Natureza. Começamos a nos ver como
algo separado (superior?) à Natureza. Isso aconteceu apenas nos últimos 6 milímetros de uma jornada de 3,8 km (3,8 bilhões de
anos) da Vida neste Planeta. Desde então, iniciamos nossa luta contra a Natureza e passamos a dedicar nossos melhores esforços
para dominá-la e explorá-la. Esta abordagem dominionística e exploratória nos conduziu a todos os problemas ambientais que hoje
enfrentamos.
O dinheiro é apenas a cereja do bolo, reforçando essas desconexões. Inicialmente criado com um bom propósito – facilitar a troca
de mercadorias – o dinheiro se tornou nosso mestre, nosso rei supremo, nossa meta maior e todos os tipos de atrocidades foram e
são cometidas como consequência desta nossa submissão.
Eu sonho com o dia em que seremos capazes de reestabelecer o sistema operacional correto. Nesse dia passaremos a usar todas as
nossas habilidades, inteligência e capacidade de amar em favor das outras pessoas e em favor da Natureza, simplesmente porque
assim estaremos agindo em favor de nós mesmos. A Vida cria condições que conduzem a mais Vida! Nós temos uma escolha, ou
nos ajustamos ao sistema operacional da Vida ou seremos reciclados.
Nossa abordagem reducionista não é capaz de lidar com o mundo complexo e interdependente em que vivemos. Severn Suzuki,
então com 12 anos, em seu discurso proferido na Conferência da ONU Rio 92, alertou os adultos da plateia sobre os nossos
impactos ambientais: "Se você não sabe como consertar, por favor, pare de quebrar!” Aprender com a genialidade da Natureza, com
Sua criatividade e plasticidade infinitas é a única maneira de parar de quebrar o que não somos capazes de consertar e, portanto, a
única forma de nos perpetuarmos como espécie. Para isso, não precisamos negar nem abdicar de todo o progresso que
conquistamos, tampouco parar de usar nossas ferramentas ou nossa inteligência. Nós apenas precisamos parar de lutar contra a
Natureza e contra nossos irmãos humanos e não-humanos. Precisamos de um modelo de desenvolvimento que seja a favor da Vida. Temos os software da humildade, da compaixão, da
empatia, do amor, da criatividade, da curiosidade e da inteligência instalados, basta parar de rodar o pequeno malware que nos
mantém escravizados acreditando que na Vida é uma eterna competição, uma luta do mais forte contra o mais fraco. A Vida é
quase 100% colaboração! Competição é algo marginal e pontual na Natureza. Quando você vir um animal competindo com outro,
lembre-se que há zilhões de proteínas, células, órgãos, neurônios e músculos atuando orquestrada e conjuntamente para que
ocorra esse evento isolado de competição. Todo um ecossistema e, em última instância , todo o Planeta e o Sistema Solar precisam
colaborar de alguma forma para criar as condições para que esse evento isolado de competição aconteça. Inclusive, muita
colaboração ocorre no seu corpo para que os seus olhos vejam e para que o seu cérebro interprete erroneamente como sendo a
competição o padrão predominante. Vamos atualizar nosso software! Esqueça essa idiotice do “cada um por si” e “da lei do mais
forte”.
Vá para a Natureza, seja mais curioso e livre. Faça como o nosso amigo de 3 anos, se surpreenda, se inspire e aprenda as lições que
a nossa Mãe generosa e pacientemente nos ensina. Ela está aqui há muito mais tempo. Ela vem nutrindo cada um e todos nós
durante toda a jornada da Vida neste Planeta. Um mundo sustentável já foi inventado! Ela tem todas as respostas e soluções. Ela te
ama! Ela é você! Somos Todos Um Só! SomosTodos umSó! Somos TodosUm Só! SomosTodosUmSó! Ricardo Rodrigues Mastroti
São Paulo, 10 de julho de 2015 
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