Jornal do Comércio - Porto Alegre
JCEmpresas
Segunda-feira, 25 de julho de 2011
& Negócios
COM A PALAVRA
Cesar Leite
5
O Brasil deve
assumir seu
protagonismo global
O chão dele é administrar
empresas. É isso que o empresário Cesar Leite faz desde que
tinha 17 anos. E foi com um olhar
diferenciado para o mundo dos
negócios e sempre focado no
crescimento das pessoas com
quem trabalha que ele conseguiu transformar o Grupo Processor, empresa que fundou,
numa das três maiores de Tecnologia da Informação (TI) do Rio
Grande do Sul. “As pessoas são
importantes e o crescimento delas dentro do grupo é algo não
negociável”, costuma dizer. Com
42 anos, Cesar Leite é formado
em Administração de Empresas
e Análise de Sistemas, e fez uma
especialização em Psicologia, na
Rússia. Essa visão humanista,
mesmo atuando em uma área
eminentemente técnica, ajuda a
explicar os bons resultados que
a empresa gaúcha vem tendo em
toda a América Latina.
O prazer de estar em constante aprendizado ele leva também para os momentos de lazer.
Para se aprimorar como gestor,
realiza cursos de liderança em
diferentes escolas. Para relaxar,
pratica esportes e viaja. Se os
destinos incluírem vinho e música, melhor ainda. “Só nesse
ano já fui a mais de 30 shows”,
revela.
JC Empresas & Negócios Como o Brasil está posicionado
diante de um cenário de competição cada vez mais global?
Cesar Leite - Vivemos um
momento muito bom, com a economia forte e estruturada de forma
consistente. Mas não temos ainda a
percepção exata que o País tomou
no mundo. O Brasil hoje é destaque
sobre qualquer critério na visão
de mercado internacional. É uma
nova realidade. Até então éramos
considerados terceiro mundo, mas
hoje essa expressão não faz sentido. Não somos mais um país do futuro, somos do presente. Isso significa que não seremos mais tratados
pelos grandes como mais um e sim
como iguais, o que vai gerar outro
patamar de competição. Os espaços que temos serão disputados
a ferro e fogo e temos que ocupá-
los rapidamente. Isso nos obriga a
vencer desafios óbvios, como os de
infraestrutura, saúde e educação,
mas, principalmente, a entender
qual é a nossa vocação.
Empresas & Negócios - Quais
os desafios na preparação de um
ambiente de negócios propício
ao desenvolvimento?
Leite - O grande risco é que
atualmente a quantidade de legislações e regras criadas transcenda
o razoável em termos de cenário
apto para a realização de negócios.
Para nos desenvolvermos, preci- a entender melhor como o celular e
samos criar mecanismos que fa- o tablet podem fazer parte do concilitem os negócios. Isso tem a ver texto de trabalho. A dificuldade de
com legislação trabalhista, cenário crédito também deve ser consideeconômico sólido, acesso a crédito, rada. Enfim, é preciso avançar e
fomento aos negócios e redução endereçar melhor algumas quesde barreiras que dificultem essa tões. Independentemente disso,
nova realidade. O que nos trouxe em termos tecnológicos e de coaté aqui foi importante, mas não é nhecimento, o momento é positivo.
mais suficiente para os próximos
Empresas & Negócios passos. Temos uma posição de Qual o segredo para se permaprotagonista na América Latina e necer no mercado de tecnoloprecisamos assumi-la. A distribui- gia diante de tantas mudanças
ção geográfica hoje envolve os ou- e competição?
tros países do Brics, a América do
Leite - O mercado de TI não
Norte, Europa e Ásia. Mas, do lado tem barreiras geográficas. O munde cá, nós é que somos o grande do acontece pela internet. É uma
player. Precisamos de uma nova fase para os negócios, a partir de
inteligência diplomática que saiba questões como cloud computing,
trazer junto os parceiros da Amé- a proliferação das tecnologias mórica Latina para um crescimento veis e das redes sociais e os novos
sustentável de todos. O Brasil vai modelos de trabalho. A grande
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Como a TI pode se beneficiar porque já estão acostumadas com
desse cenário?
a competição. Não existe empresa
Leite - O Brasil é um dos líde- relevante no mercado internaciores no uso de tecnologia. Temos o nal que não esteja aqui no Brasil.
melhor sistema bancário do mun- Já competimos com todos. Como
do, excelentes soluções de softwa- esse mercado vive uma onda de
re e grande capacidade vocacional expansão de 10% a 15% ao ano
no segmento de TI. Entretanto, nos dez últimos anos, por enquanexistem barreiras. Hoje, por exem- to está acomodando todo mundo.
plo, não é possível atuar dentro Mas, no momento em que houver
do modelo de cadeia produtiva, um resfriado mais forte, pode ser
como acontece em outros setores; diferente. O critério para a contia legislação é incompatível com nuidade no mercado continuará
home office e, só agora, começa-se sendo a capacidade adaptativa às
MARCELO G. RIBEIRO/JC
Patricia Knebel
novas realidades relacionadas à
legislação, gestão, produtos, tecnologia, recursos humanos e verticalização da entrega.
Empresas & Negócios – De
que forma a verticalização da
entrega influencia o mercado?
Leite - Cada vez mais as
pessoas serão específicas nas
suas demandas. O consumidor
de TI entende melhor o que ele
quer, seja o corporativo ou pessoa física. E a forma com que a
tecnologia está chegando a ele
lhe dá uma imensa capacidade
de escolha. Basta fazermos uma
analogia com a televisão. Um dia
a gente tinha seis ou sete canais.
Com a TV a cabo, chegamos a
quase 100. Em qual deles a pessoa vai ficar? Provavelmente naquele que tiver uma orientação
específica. O consumidor é, ao
natural, segmentado. As empresas precisam ter foco e serem
boas para serem percebidas. Ou
ficam sendo uma empresa de nicho ou, se não tiverem escala, se
tornam irrelevantes.
Empresas & Negócios - Como
a Processor está se estruturando
para atender esse mercado cada
vez mais dinâmico?
Leite – Vivemos uma fase
muito boa sob a ótica de um mercado que tem nos dado a honra
de nos escolher. Temos procurado qualificar nossos serviços e
simplificá-los. A ideia é fazer com
que seja fácil a experiência dos
clientes se relacionarem conosco
e que aquilo que a gente entregue
seja cada vez melhor. Nunca ouvimos tanto o nosso cliente como
hoje. Criamos uma dinâmica na
qual o cliente coparticipa conosco
do desenvolvimento e versionamento de produtos, nos dê feedbacks, interaja conosco para dizer
Leite diz que a capacidade
adaptativa é que vai
definir a continuidade de
empresas no mercado
se estamos entregando aquilo que
ele deseja receber. Esse é o grande desafio do mercado para nós.
Demandamos muita mão de obra
qualificada e temos feito esforço
de trazer pessoas e trabalhá-las
para que entendam os espaços
que têm para crescer. Hoje somos
cerca de 300. Outro foco é integrar
as nossas soluções, como BI, ERP,
CRM e suporte, entre tantas outras. As empresas precisam que
os seus parceiros de TI integrem,
potencializem e otimizem suas
tecnologias, serviços e soluções.
Outro desafio é continuar o crescimento de forma saudável.
Empresas & Negócios – Expansões para novos mercados e
aquisições estão nos planos?
Leite - Estamos consolidando
nossas regiões de atuação, através
da nossa base no Rio Grande do
Sul, que será expandida. Temos
registrado grande crescimento nas
unidades do Rio de Janeiro e Santa Catarina e queremos avançar
mais em São Paulo, Paraná e Minas Gerais. Dar mais ênfase para
as nossas unidades no exterior,
como Chile e Colômbia, é outra
prioridade. Não pretendemos nesse momento expandir para outros
países, e sim garantir que todas
as operações sejam superavitárias
e rentáveis. Para atender essas
demandas, vamos aumentar em
25% a equipe esse ano. Nos últimos oito anos fizemos a aquisição de cinco operações e estamos
negociando para que, ainda em
2011, possamos investir em novas
operações, tanto no Brasil como
no exterior, agregando novas soluções para dentro do grupo.
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