ANAIS
ANÁLISE DO CONTEÚDO DOS RELATÓRIOS DE SUSTENTABILIDADE DE
EMPRESAS PREMIADAS POR SUAS PRÁTICAS DE RESPONSABILIDADE
SOCIOAMBIENTAL
MAGDALENA INGLÊS DA COSTA ( [email protected] )
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
ALESSANDRA VASCONCELOS GALLON ( [email protected] , [email protected] )
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC
LUCIANA SILVA TORRES ( [email protected] )
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC
RESUMO
Este artigo objetiva analisar o conteúdo da divulgação de informações das dimensões da
sustentabilidade empresarial – econômica, social e ambiental – nos Relatórios de
Sustentabilidade (RS) de empresas premiadas por suas práticas de responsabilidade
socioambiental. Trata-se de estudo descritivo, de natureza qualitativa, utilizando-se da
pesquisa documental para a coleta e da técnica Análise de Conteúdo para a análise dos dados.
Os resultados apontam a preponderância da dimensão social, especialmente social externa e
do tipo de disclosure quantitativo não-monetário, e sugerem a natureza da atividade e a
composição do capital como fatores condicionante da extensão da evidenciação nos RS das
empresas pesquisadas.
Palavras-chave: Evidenciação voluntária, Análise de conteúdo, Relatório de Sustentabilidade
(RS), Dimensões da sustentabilidade, Tipo de disclosure, Empresas premiadas.
1 INTRODUÇÃO
Os incentivos governamentais e as inúmeras premiações que contemplam à
Responsabilidade Social Corporativa (RSC) fomentam a transformação do modelo de gestão
tradicionalista da empresa, com uma visão mais direcionada para resultados internos e
pecuniários, em uma gestão corporativa que preconiza preceitos da sustentabilidade,
observando o impacto da sua existência na sociedade.
Além de fatores de pressão positiva e negativa, a demanda de alguns agentes é
fundamental no incentivo dado às empresas para evidenciar voluntariamente informações
socioambientais (RIBEIRO; VAN BELLEN, 2008). De acordo com Gray e Bebbington
(2001), entre os principais agentes de influência relacionados à iniciativas voluntárias na
evidenciação socioambiental de uma empresa, destacam-se: Nações Unidas (ONU), Global
Reporting Initiative (GRI), Comitês de desenvolvimento, Associações industriais, Ecolabelling (proteção de efeito semelhante ao das barreiras técnicas ao comércio) e Prêmios
socioambientais (fator considerado na pesquisa).
Para o reconhecimento das práticas de responsabilidade social e ambiental realizadas
pelas empresas torna-se imprescindível a publicação de instrumentos eficazes e com boa
qualidade informativa. Vanstraelen, Zazerski e Robb (2003) afirmam que o processo decisório
deve ter como apoio um conjunto de informações que retratem a real situação da empresa.
Dessa forma, a discussão acerca da extensão das informações voluntárias, sobretudo de
natureza social e ambiental, gera dúvidas sobre o que e quanto deve ser divulgado, devido à
inexistência de parâmetros previamente definidos.
Segundo Menezes, Cunha e De Luca (2010, p. 2), a evidenciação de informações
sociais, “abrangendo os segmentos socioeconômico e ambiental, pode ter caráter qualitativo e
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quantitativo, e visa mostrar, a colaboradores, parceiros internos e externos e à sociedade, as
ações da empresa relacionadas aos projetos voltados para a proteção do meio ambiente.” Os
autores informam que a divulgação de informações de natureza social e ambiental “se dá por
meio de um documento denominado Balanço Social ou do Relatório de Sustentabilidade
Empresarial, embora não haja um consenso sobre o modelo ideal e seu conteúdo”
(MENEZES; CUNHA; DE LUCA, 2010, p. 2).
Do exposto, este estudo procura investigar a associação de duas temáticas distintas – a
Evidenciação voluntária e a Sustentabilidade empresarial –, de maneira a responder ao
seguinte questionamento: Como vêm sendo divulgadas as informações das dimensões da
sustentabilidade empresarial – econômica, social e ambiental – nos Relatórios de
Sustentabilidade (RS) de empresas premiadas por suas práticas de responsabilidade
socioambiental? Para tal questionamento têm-se como objetivo geral: analisar o conteúdo da
divulgação de informações das dimensões da sustentabilidade empresarial – econômica, social
e ambiental – nos Relatórios de Sustentabilidade de empresas premiadas por suas práticas de
responsabilidade socioambiental. Com base erguida na obtenção desse objetivo, foram
delineados os seguintes objetivos específicos: 1) caracterizar as empresas pesquisadas em
termos de setor de atividade, natureza da atividade, porte, composição do capital e segmento
de listagem da BM&FBovespa; 2) examinar o nível de evidenciação sobre as dimensões da
sustentabilidade e tipo de disclosure adotado pelas empresas pesquisadas; e 3) identificar
possíveis fatores condicionantes da extensão da evidenciação sobre as dimensões da
sustentabilidade nos RS das empresas pesquisadas.
Para tanto, a análise de conteúdo dos RS de 2007, 2008 e 2009 das empresas, que
considerará o número de sentenças como unidade de análise, contemplará dois campos de
observação: (i) as dimensões da sustentabilidade empresarial – econômica, social (divida em
social interna e social externa) e ambiental; e (ii) o tipo de disclosure – tipo 1: sentença
declarativa; tipo 2: sentença quantitativa não monetária; tipo 3: sentença quantitativa
monetária.
A escolha das empresas premiadas no Guia Exame de Sustentabilidade (2009) e das
vencedoras do Prêmio ECO da AMCHAM e do Valor Econômico (2007, 2008 e 2009) se
justifica pelas duas premiações considerarem como critério de avaliação as principais
referências de indicadores de sustentabilidade empresarial no Brasil e no mundo. Acredita-se
que os achados desta pesquisa, sobre o comportamento da divulgação de informações sobre as
dimensões da sustentabilidade empresarial nos RS de empresas socialmente responsáveis
proeminente do prêmio recebido, consideradas neste estudo como referencial (benchmark),
poderão servir de parâmetro para outras empresas que não fazem parte desse universo.
O estudo está estruturado em cinco seções, incluindo esta introdução. A seguir,
apresenta-se a revisão da literatura, contextualizando-se a divulgação de informações
socioambientais pelas empresas e estudos empíricos anteriores sobre a temática. Na
sequência, vem o proceder metodológico, seguindo-se os resultados da pesquisa. Na última
seção, apresentam-se as considerações finais.
2 A DIVULGAÇÃO DE INFORMAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS PELAS EMPRESAS
E ESTUDOS EMPÍRICOS ANTERIORES SOBRE A TEMÁTICA
Segundo Rezende e Santos (2006), a adesão das empresas à sustentabilidade, que
equivale a um compromisso com a integridade do meio ambiente e com os princípios da
responsabilidade social, fez com que o mercado financeiro, por meio das instituições
financeiras, introduzisse mudanças institucionais. Essas mudanças dizem respeito à aderência
das organizações a um projeto de comprometimento social. Contudo, Coral (2002) adverte
que as três condições básicas da sustentabilidade (economia, meio ambiente e sociedade) são
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muitas vezes vistas como conflitantes no modelo da economia neoclássica, onde as maiores
preocupações dos gestores continuam sendo as questões econômicas e tecnológicas.
Como mencionam Anderson e Frankle (1980), a divulgação pública de um conjunto
de informações sobre o envolvimento da empresa, com a comunidade, funcionários, meio
ambiente e benefícios dos produtos oferecidos é conhecida como disclosure social. Rezende e
Santos (2006, p. 3) afirmam que a preocupação com o “meio ambiente mediante um
desenvolvimento sustentável, além de outras medidas responsáveis, como responsabilidade
social e práticas de governança corporativa, está criando uma demanda, dentro do mercado
financeiro para produtos voltados a esse nicho”. Isso é, devido à crescente exigência da
sociedade, instituições financeiras e investidores, as empresas se vêem obrigadas a preocuparse em melhor evidenciar suas informações referentes às suas ações sociais e ambientais
(RIBEIRO; GASPARINO, 2006).
O disclosure social se dá, essencialmente, por meio do Balanço Social ou do Relatório
de Sustentabilidade Empresarial (MENEZES; CUNHA; DE LUCA, 2010) embora não haja
um consenso sobre o modelo mais adequado. Vale salientar que no Brasil não há
obrigatoriedade na divulgação de demonstrações de natureza social pelas empresas, exceto às
companhias de capital aberto que são obrigadas a evidenciar a Demonstração do Valor
Adicionado (DVA), conforme a Lei nº 11.638/2007. Ressalta-se que esse relatório contábil,
em termos socioambientais, apresenta somente a distribuição do valor adicionado (riqueza
gerada) pela empresa em um determinado exercício entre os stakeholders.
Diante da importância do tema, a indagação acerca da divulgação de informações
voluntárias sobre as práticas de responsabilidade social e/ou ambiental por empresas
brasileiras gerou uma série de pesquisas nos últimos anos, muitas das quais apresentaram
resultados contraditórios e, algumas vezes, inconsistentes.
Entre os estudos que abordaram a temática destacaram-se os realizados por Rezende
(2007), Milani Filho (2008), Cunha e Ribeiro (2008), Rezende, Junqueira e Medeiros (2008),
Lucena e Travassos (2009), Rover e Murcia (2010), Teixeira e Nossa (2010) e Menezes,
Cunha e De Luca (2010).
Rezende (2007) investigou os fundos de investimentos socialmente responsáveis, e
verificou se a rentabilidade e performance dos fundos de investimento socialmente
responsáveis e das empresas que os integram é semelhante aos investimentos convencionais.
As evidências encontradas no estudo revelam que apesar dos fundos socialmente responsáveis
possuírem uma carteira diferenciada, a hipótese de que sua rentabilidade é semelhante aos
outros fundos de ações foi confirmada. Porém, os resultados do estudo sugerem que as
empresas que integram esses fundos possuem melhor performance que as empresas que não
são consideradas socialmente responsáveis.
Milani Filho (2008) analisou se as empresas que se declaram socialmente responsáveis
divulgam informações financeiras específicas sobre os recursos gastos em benefício público
(investimento social privado) e, se há diferença significativa da dimensão desses gastos entre
empresas cujos produtos estão associados a externalidades negativas e as organizações
participantes do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da BM&FBovespa. Os
resultados apontaram que nem todas as organizações que declaram realizar investimentos
sociais evidenciam tal fato. Foi constatado que 11,8% das empresas integrantes da carteira do
ISE e 72,2% das empresas vinculadas a externalidades negativas, não divulgam informações
financeiras sobre o valor de gastos sociais, gerando dúvidas sobre a existência ou a dimensão
dos investimentos à comunidade.
O trabalho de Cunha e Ribeiro (2008), que teve como objetivo investigar os incentivos
das companhias negociadas no mercado de capitais brasileiro para divulgar voluntariamente
informações de natureza social, tendo como período de análise os anos de 2004 a 2006,
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concluiu que a divulgação voluntária de informações de natureza social está associada
positivamente ao nível de governança corporativa, ao desempenho, ao tamanho e à divulgação
em período anterior.
Rezende, Junqueira e Medeiros (2008) analisaram as práticas de responsabilidade
social empresarial de empresas brasileiras premiadas no Guia Exame de Sustentabilidade de
2007 e constataram que em todas as empresas existe uma responsabilidade social orientada do
âmbito interno para o externo, de tal modo que visam desenvolver em seus funcionários uma
consciência com relação a trabalhos voluntários e ambientais. Além disso, foi observado que
há lacunas em áreas importantes, por isso, aspectos éticos, legais e filantrópicos precisam ser
melhores desenvolvidos em algumas organizações.
A pesquisa realizada por Lucena e Travassos (2009) buscou identificar as diversidades
comportamentais e de evidenciação, em relação às questões sócio, econômico e ambiental,
das empresas brasileiras que adotam as diretrizes do Global Reporting Initiative (GRI). Os
autores constataram que o padrão de elaboração nos Relatórios de Sustentabilidade emitidos
pelas empresas é compatível com o modelo preconizado pelo GRI, fato que favorece a
disseminação do conhecimento sobre o que a empresas está fazendo para administrar sua
atuação social e ambiental.
Rover e Murcia (2010) analisaram se o nível de disclosure voluntário econômico e
socioambiental influencia o custo de capital próprio de empresas brasileiras, considerando o
nível de disclosure das empresas em relação à informação natureza econômica, social e
ambiental. Os resultados da pesquisa apontam que o nível de disclosure voluntário influencia
o custo de capital das empresas. Porém, não foi aceita a hipótese de que quanto maior o
disclosure voluntário, menor o custo de capital.
O estudo de Teixeira e Nossa (2010), que teve como objetivo investigar se a forma de
financiamento das empresas é afetada pela sua participação no índice de sustentabilidade
empresarial (ISE), e se há relação entre o ISE e o risco, averiguou que empresas que
sinalizaram responsabilidade social corporativa (RSC) tiveram uma relação negativa com o
endividamento e risco quando comparadas com aquelas que não sinalizaram.
Menezes, Cunha e De Luca (2010) investigaram a evidenciação voluntária de
informações sociais de empresas do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste do Brasil,
segundo os indicadores de RSC contidos no Guia da ONU e constataram que os indicadores
mais evidenciados são aqueles exigidos pela legislação vigente no país, contrariando a ideia
da evidenciação social voluntária, e que os indicadores menos evidenciados são os de caráter
não financeiro.
Becchetti, Di Giacomo e Pinnacchio (2005) ressaltam que essas diferenças de
resultados encontradas em estudos empíricos não necessariamente refletem erros, mas
implicam diferenças nas perspectivas (períodos de observação, empresas selecionadas,
medidas de desempenho e abordagens metodológicas). Contudo, como pesquisas têm
revelado diferenças significativas, busca-se analisar o conteúdo da divulgação de informações
das dimensões da sustentabilidade empresarial (econômica, social e ambiental) nos Relatórios
de Sustentabilidade de empresas premiadas por suas práticas de responsabilidade
socioambiental, consideradas neste estudo como benchmark.
3 METODOLOGIA
Levando-se em conta o objetivo do estudo, a pesquisa, do tipo descritiva, adota os
procedimentos bibliográfico e documental. O estudo tem natureza qualitativa, já que, segundo
Richardson (1999), esse tipo de pesquisa caracteriza-se pelo não emprego de instrumental
estatístico como base no processo de análise de um problema.
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Para responder à questão de pesquisa, a seleção das empresas que compuseram a
amostra se deu a partir da população de empresas premiadas no Guia Exame de
Sustentabilidade, no ano de 2009, e vencedoras do Prêmio ECO da AMCHAM e do Valor
Econômico, nos anos de 2007, 2008 e 2009 – premiações sobre a temática estudada que
consideram como critério de avaliação das empresas as principais referências de indicadores
de sustentabilidade empresarial no Brasil e no mundo –, conforme exibe o Quadro 1.
Guia Exame de Sustentabilidade
Empresas vencedoras (2009)
Critérios de análise
AES Tietê S.A., Alcoa Alumínio S.A., Amanco
- Critérios ambientais utilizados para todas as etapas do
Serviços e Participações Ltda, Anglo American
processo produtivo;
Brasil Ltda, Banco Bradesco S.A., BRF - Brasil
- Empresas que possuem projetos com o desenvolvimento
Foods S.A., Bunge Alimentos S.A., Cia.
de metas para redução de consumo de água;
Energética do Ceará – Colce, CPFL Energia S.A.,
- Publicação dos relatórios de sustentabilidade;
EDP - Energias do Brasil S.A., Fibria Celulose
- Estabelecimento de metas de melhoria de desempenho e
S.A., Itaú Unibanco S.A., Masisa do Brasil Ltda,
prestação de contas dos compromissos assumidos no ano
Natura Cosméticos S.A., Philips do Brasil Ltda,
anterior;
Promon S.A., Serasa S.A., Suzano Papel e
- Investimentos das companhias em sustentabilidade para
Celulose S.A., Tetra Pak Ltda e Wal Mart Brasil
enfrentar a última crise mundial, entre outros.
Ltda.
Prêmio ECO da AMCHAM e do Valor Econômico
Empresas vencedoras (2007, 2008 e 2009)
Categorias de premiação e Critérios de análise
ABN AMRO Real S.A., Banco Santander Brasil - Categorias: Sustentabilidade no modelo de negócios;
S.A., Bradesco Capitalização S.A., BrasilPrev Sustentabilidade em novos projetos; Sustentabilidade em
Seguros e Previdência S.A., Carbocloro S.A. processos; e Sustentabilidade em produtos.
Indústrias Químicas, Cia. de Desenv. dos Vales - Critérios de análise: Relevância para o negócio; As
do São Francisco e do Parnaíba – CODEVASF, contribuições de melhorias no desempenho da empresa;
Eco Negócios Sustentáveis Ltda, E-TAB Resultados sociais e ambientais obtidos com a Inovação;
Teconologia e Gestão Ltda, INTELCAV Cartões Gestão da Inovação relatada; Possibilidade de
Ltda, Itaipu Binacional, Microsoft Brasil e disseminação ou replicação; Qualidade das informações
prestadas; Grau de inovação.
Multiplus Comercial de Alimentos Ltda.
Quadro 1 – População da pesquisa
Fonte: Dados da pesquisa.
Conforme apresenta o Quadro 1, a população da pesquisa compreende 32 empresas,
sendo 20 vencedoras do Guia Exame de Sustentabilidade (2009) e 12 vencedoras do Prêmio
ECO da AMCHAM e do Valor Econômico (2007, 2008 ou 2009). De acordo com Voss,
Pfitscher e Cruz (2010, p. 4), “os prêmios buscam de forma comum uma maior transparência
e participação com a comunidade e meio ambiente na visão de encontrar uma situação que
seja melhor para todos: governo, sociedade, empresários, cidadãos, natureza e para o futuro.”
No Quadro 2 delimita-se a amostra da pesquisa, a partir do critério de elaboração e
publicação nos sites da empresa dos Relatórios de Sustentabilidade (RS) dos anos de 2007,
2008 e/ou 2009.
Relatório de Sustentabilidade (RS)
2007 2008 2009 Modelo adotado
Não Não Não
Sim Sim Sim
GRI
Não Sim Sim
GRI
Não Sim Sim
GRI
Sim Sim Sim
GRI
Sim Sim Sim
GRI
Sim Sim Sim
GRI
Não Não Não
Não Sim Sim
Próprio
Empresa
ABN AMRO Real S.A.
AES Tietê S.A.
Alcoa Aluminio S.A.
Amanco Serviços e Particip. Ltda
Anglo American Brasil Ltda
Banco Santander Brasil S.A.
Banco Bradesco S.A.
Bradesco Capitalização S.A.
BrasilPrev Seguros e Previd. S.A.
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BRF - Brasil Foods S.A.
Bunge Alimentos S.A.
Carbocloro S.A. Ind. Químicas
Cia. Energética do Ceará - Coelce
Cia. de Desenv. dos Vales do São Francisco e do Parnaíba - Codevasf
CPFL Energia S.A.
Eco Negocios Sustentaveis Ltda
EDP - Energias do Brasil S.A.
E-TAB Teconologia e Gestão Ltda
Fibria Celulose S.A.
INTELCAV Cartões Ltda
Itaipu Binacional
Itaú Unibanco S.A.
Masisa do Brasil Ltda
Microsoft Brasil
Multiplus Com. de Alimentos Ltda
Natura Cosméticos S.A.
Philips do Brasil Ltda
Promon S.A.
Serasa S.A.
Suzano Papel e Celulose S.A.
Tetra Pak Ltda
Wal Mart Brasil Ltda
Sim
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Sim
Sim
Sim
Não
Não
Não
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Sim
Sim
Sim
Não
Sim
Sim
Sim
Não
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Sim
Sim
Sim
Não
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Não
Sim
GRI
GRI
GRI
GRI
GRI
GRI
GRI
GRI
GRI
Próprio
Próprio
GRI
GRI
Próprio
GRI
GRI
GRI
GRI
Quadro 2 – Amostra da pesquisa: empresas com elaboração e publicação do RS
Fonte: Dados da pesquisa.
Com base no Quadro 2 verifica-se que 25 empresas (ou 78,13% da população)
elaboraram e disponibilizaram os seus Relatórios de Sustentabilidade (RS) em pelo menos um
dos anos delimitados pela pesquisa (2007, 2008 ou 2009), sendo: 19 empresas em 2007, 24
em 2008 e 23 em 2009. Observa-se que a maioria das empresas adotou a metodologia da
Global Reporting Initiative (GRI) – organização internacional que reúne representantes de
governos, empresas e entidades civis – na elaboração dos RS.
Após a definição do universo amostral do estudo, partiu-se para a análise do conteúdo
dos Relatórios de Sustentabilidade (RS) das empresas dos anos de 2007, 2008 e 2009. No que
tange à análise de conteúdo, observou-se as três fases do método, conforme Bardin (2004): (1)
pré-análise; (2) exploração do material, que, nesse caso, consistiu dos Relatórios de
Sustentabilidade; e (3) tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Para garantir
maior confiabilidade dos resultados, a análise dos documentos foi realizada, em um primeiro
momento, por um dos pesquisadores, sendo posteriormente revisada por outros dois.
Cabe esclarecer que nesta pesquisa, optou-se pela utilização de sentenças (frases),
como unidade de análise, para a codificação e para a quantificação da evidenciação. Para a
realização da análise de conteúdo, procedeu-se à contagem de sentenças relacionadas aos
campos de observação – dimensões da sustentabilidade empresarial: econômica, social
interna, social externa e ambiental, e tipo de disclosure: tipo 1- sentença declarativa, tipo 2sentença quantitativa não monetária e tipo 3- sentença quantitativa monetária – nos RS, do
período de 2007 a 2009, das empresas premiadas no Guia Exame de Sustentabilidade (2009) e
das vencedoras do Prêmio ECO da AMCHAM e do Valor Econômico (2007, 2008 e 2009).
Destaca-se que a análise de conteúdo aplicada se inicia de forma qualitativa, por meio
de leitura e interpretação das mensagens dos textos, e prossegue de forma quantitativa, a partir
da codificação e quantificação (contagem da frequência) de cada elemento de evidenciação
observado. Os tipos de evidenciação considerados para este estudo, em consonância com a
proposta de Nossa (2002), são: Tipo 1) Evidenciação declarativa – quando a informação
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qualitativa é descrita e expressa em termos exclusivamente descritivos; Tipo 2) Evidenciação
quantitativa não-monetária – quando a informação quantitativa é descrita e expressa em
números de natureza não financeira; e Tipo 3) Evidenciação quantitativa monetária – quando
a informação quantitativa é descrita e expressa em números de natureza financeira.
O Quadro 3 apresenta alguns exemplos de sentenças divulgadas nos RS analisados por
dimensão da sustentabilidade e tipo de disclosure.
Dimensões da
Tipo de
sustentabilidade disclosure
Tipo 1
Econômica
Tipo 2
Tipo 3
Tipo 1
Social Interna
Tipo 2
Tipo 3
Tipo 1
Social Externa
Tipo 2
Tipo 3
Tipo 1
Ambiental
Tipo 2
Tipo 3
Exemplos de sentenças enquadradas nas dimensões da sustentabilidade
por tipo de disclosure evidenciadas nos RS das empresas
É a Instituição líder dos conglomerados financeiro e econômico-financeiro
perante o Banco Central do Brasil (Santader, RS 2008).
Possui 60 unidades industriais no Brasil e outras três no exterior (Argentina,
Inglaterra e Holanda), exporta seus produtos para mais de 110 países e detém
um portfólio superior a 3.000 itens ( BRF-Brasil Foods, RS 2009).
As vendas da Companhia na região alcançaram o recorde de US$ 2,9 bilhões e
lucro líquido de US$ 475 milhões (Alcoa, RS 2008).
A Coelce foi destacada entre as melhores empresas para se trabalhar no
ranking organizado pelas revistas Exame e Você SA (Coelce, R.S. 2009).
AES Tietê registrou 1.502 participações de colaboradores em cursos, em um
total de 20.428 homem-hora de treinamento (AES Tietê, RS 2007).
Em 2006, distribuiu para seus colaboradores, por meio dos três programas,
cerca de R$ 35,52 milhões (Bunge Alimentos, RS 2007).
As atividades da Companhia movimentam uma grande cadeia produtiva que
alavanca o desenvolvimento socioeconômico das regiões onde atua (Fibria, RS
2007).
A CPFL Leste Paulista doou 143 geladeiras de alta eficiência energética e
4.950 lâmpadas, enquanto a CPFL Mococa doou 120 geladeiras e substituiu
3.180 lâmpadas (CPFL, RS 2007).
Programas socioculturais apoiados e promovidos pela EDP no Brasil
receberam investimentos de R$ 8,5 milhões, com foco em iniciativas nas áreas
de educação e desenvolvimento local (EDP , RS 2009).
A companhia estabelece uma estrutura que permita que seu compromisso vá
além das medidas ambientais legais, promovendo formas de ampliar sua
participação na manutenção e na preservação da biodiversidade local (Anglo
American, RS 2008).
Redução do consumo de água (8,91%) e de energia (16,88%) nas operações
industriais, por unidade faturada (Natura, RS 2008).
Investimos mais de R$ 2,5 milhões nas unidades florestais (Suzano, RS 2008).
Quadro 3 – Exemplificação de sentenças divulgadas nos RS das empresas sobre as dimensões
da sustentabilidade, por tipo de disclosure
Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos Relatórios de Sustentabilidade das empresas.
Dessa forma, os tipos de evidenciação mutuamente excludentes e exaustivos
considerados para este estudo são: declarativo, quantitativo não-monetário e quantitativo
monetário, referentes às dimensões da sustentabilidade empresarial, encontrados nos
Relatórios de Sustentabilidade (RS) das empresas pesquisadas.
Cabe destacar que uma das limitações do estudo diz respeito à análise do nível de
evidenciação das informações, a qual baseou-se em um instrumento voltado para avaliar
apenas a quantidade de informação, e não a sua qualidade.
4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Para a consecução do objetivo do estudo, o presente tópico apresenta os resultados da
pesquisa no tocante a seus três objetivos específicos. Para melhor compreensão, os dados
foram agrupados em quadros, tabelas e figuras.
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4.1 Caracterização das empresas pesquisadas
O Quadro 4 apresenta a caracterização das 32 empresas participantes da população da
pesquisa – vencedoras do Guia Exame de Sustentabilidade (2009) e vencedoras do Prêmio
ECO da AMCHAM e do Valor Econômico (2007, 2008 ou 2009) – em termos de setor de
atividade, natureza da atividade, porte, composição do capital e segmento de listagem da
BM&FBovespa.
Empresa
Setor de atividade
Natureza da
atividade
Porte
ABN AMRO Real S.A.*
Finanças
Não poluente Grande
AES Tietê S.A.
Energia
Poluente
Grande
Alcoa Alumínio S.A.
Siderurgia/metalurgia
Poluente
Grande
Amanco Serv. e Particip. Ltda
Ind. da construção
Poluente
Grande
Anglo American Brasil Ltda
Mineração
Poluente
Grande
Banco Santander Brasil S.A.
Finanças
Não poluente Grande
Banco Bradesco S.A.
Finanças
Não poluente Grande
Bradesco Capitalização S.A.
Seguros/previdência Não poluente Pequeno
BrasilPrev Seg. e Previd. S.A.
Seguros/previdência Não poluente Médio
BRF - Brasil Foods S.A.
Bens de consumo
Poluente
Grande
Bunge Alimentos S.A.
Bens de consumo
Poluente
Grande
Carbocloro S.A. Ind. Químicas
Petroquímica
Poluente
Médio
Cia. Energ. do Ceará - Colce
Energia
Poluente
Grande
Cia. Des. dos Vales S. Fco. e
Utilidade Pública
Não poluente Médio
Parnaíba - Codevasf
CPFL Energia S.A.
Energia
Poluente
Grande
Eco Negócios Sustent. Ltda
Serviços
Não poluente Pequeno
EDP - Energias do Brasil S.A.
Energia
Poluente
Grande
E-TAB Teconol. e Gestão Ltda
Serviços
Não poluente Pequeno
Fibria Celulose S.A.
Papel e celulose
Poluente
Grande
INTELCAV Cartões Ltda
Serviços
Poluente
Médio
Itaipu Binacional
Energia
Poluente
Grande
Itaú Unibanco S.A.
Finanças
Não poluente Grande
Masisa do Brasil Ltda
Madeira
Poluente
Grande
Microsoft Brasil
Informática
Não poluente Grande
Multiplus Com. de Alim. Ltda
Bens de consumo
Não poluente Pequeno
Natura Cosméticos S.A.
Bens de consumo
Poluente
Grande
Philips do Brasil Ltda
Eletroeletrônico
Poluente
Grande
Promon S.A.
Serviços
Não poluente Grande
Serasa S.A.
Serviços
Não poluente Grande
Suzano Papel e Celulose S.A.
Papel e celulose
Poluente
Grande
Tetra Pak Ltda
Embalagens
Poluente
Grande
Wal Mart Brasil Ltda
Varejo
Não poluente Grande
Segmento
Composição
de listagem
do capital
da bolsa
Aberto
Aberto
MT
Fechado
Fechado
Fechado
Aberto
N2
Aberto
N1
Fechado
Fechado
Aberto
NM
Fechado
Fechado
Aberto
MT
Fechado
-
Aberto
Fechado
Aberto
Fechado
Aberto
Fechado
Fechado
Aberto
Fechado
Fechado
Fechado
Aberto
Fechado
Fechado
Fechado
Aberto
Fechado
Fechado
NM
NM
NM
N1
NM
N1
-
Quadro 4 – Caracterização das empresas
Fonte: Dados da pesquisa. Nota: *- Fusão do Banco Real S.A. com o Banco Santander S.A. em 2008.
Legenda: MT – Mercado Tradicional; N1 – Nível 1 de Governança; N2 – Nível 2 de Governança; NM – Novo
Mercado.
Com base nas informações do Quadro 4, verifica-se que os setores predominantes
entre as empresas premiadas por suas práticas de responsabilidade socioambiental
pesquisadas são: Energia e Serviços, com cinco empresas cada um, seguido de Finanças e
Bens de consumo, com quatro empresas cada um. Quanto à natureza da atividade,
diferentemente do que se esperava, nota-se que a maioria das empresas (18 empresas ou
56,25% do total) enquadra-se como Poluente. Verifica-se ainda que apesar da preponderância
8/16
ANAIS
de empresas de Grande porte entre as premiadas (24 empresas ou 75% do total), apenas 12
empresas ou 37,50% do total é de Capital aberto, e desse número nove são Listadas nos níveis
diferenciados de governança corporativa da BM&FBovespa (N1, N2 ou NM). Diante do
percentual pouco expressivo de empresas de capital aberto em relação à população estudada,
percebe-se que não apenas as empresas listadas em bolsa – a fim de atrair investidores – mas
também as empresas de capital fechado estão assumindo em sua gestão a realização, o
controle e a divulgação de práticas de responsabilidade social e ambiental.
4.2 Nível de evidenciação sobre as dimensões da sustentabilidade empresarial e tipo de
disclosure adotado pelas empresas pesquisadas
A Tabela 1 apresenta a quantidade de sentenças dos evidenciada sobre as dimensões
da sustentabilidade empresarial nos Relatórios de Sustentabilidade (RS) de 2007, 2008 e 2009
das empresas premiadas pesquisadas.
Tabela 1 – Evidenciação sobre as dimensões da sustentabilidade empresarial nos RS
Dimensões da
sustentabilidade
empresarial
Econômica
Social Interna
Social Externa
Ambiental
Total
Média por empresa
Fonte: Dados da pesquisa.
2007
Nº de
Percentual
sentenças
2.193
20,76%
2.530
23,94%
2.976
28,17%
2.867
27,13%
10.566
100,00%
556 sentenças
2008
Nº de
Percentual
sentenças
2.995
21,46%
3.452
24,74%
3.766
26,98%
3.744
26,82%
13.957
100,00%
581 sentenças
2009
Nº de
Percentual
sentenças
2.901
24,76%
2.863
24,43%
3.209
27,39%
2.744
23,42%
11.717
100,00%
509 sentenças
Com base nas informações disponibilizadas na Tabela 1, nota-se que apesar do
número de sentenças evidenciadas sobre as dimensões da sustentabilidade ter aumentado de
2007 para 2008, em 2009 verifica-se a menor extensão dos Relatórios de Sustentabilidade das
empresas, de maneira que não se pode afirmar que houve evolução na quantidade informativa
dos RS no período em análise. Isso pode estar associado ao fato de boa parte das empresas
pesquisadas ter sido premiada pelo Guia Exame de Sustentabilidade 2009, o qual levou em
conta, entre outros fatores, a análise dos RS de 2008 das empresas participantes.
No que se referem às dimensões da sustentabilidade empresarial, verifica-se que a
dimensão Social Externa foi a mais evidenciada nos três períodos analisados, seguida em
2007 e 2008 pela dimensão Ambiental, e em 2009 pela dimensão Econômica. Considerando
conjuntamente, a dimensão Social representa 52,11%, 51,72% e 51,82% da evidenciação
sobre as dimensões da sustentabilidade empresarial em 2007, 2008 e 2009, respectivamente.
A dimensão Econômica é a menos expressiva nos dois primeiros anos de análise, revelando
que o Relatório de Sustentabilidade foi utilizado pelas empresas como instrumento de
evidenciação essencialmente de suas práticas de responsabilidade socioambiental.
A Figura 1 ilustra o comportamento da evidenciação sobre as dimensões da
sustentabilidade empresarial nos Relatórios de Sustentabilidade (RS) de 2007, 2008 e 2009
das empresas premiadas pesquisadas.
9/16
ANAIS
4000
3500
3000
2500
2007
2000
2008
1500
2009
1000
500
0
Econômica
Social Interna Social Externa
Ambiental
Figura 1 – Comportamento da evidenciação sobre as dimensões da sustentabilidade nos RS
Fonte: Dados da pesquisa.
A Figura 1 revela que a dimensão Ambiental foi a que apresentou a maior queda no
número de sentenças evidenciadas nos Relatórios de Sustentabilidade das empresas, fato que
influenciou o declínio da evidenciação geral das dimensões da sustentabilidade no documento
ao longo do período analisado.
Em linhas gerais, os resultados desta pesquisa quanto à preponderância da dimensão
Social corroboram Rezende, Junqueira, Medeiros (2008), que ao analisarem as práticas de
responsabilidade social de empresas brasileiras premiadas no Guia Exame de Sustentabilidade
de 2007, constataram que em todas as empresas existe uma responsabilidade social orientada
do âmbito interno para o externo, de tal modo que visam desenvolver em seus funcionários
uma consciência com relação a trabalhos voluntários e ambientais.
A Tabela 2 demonstra a quantidade de sentenças dos evidenciada considerando o tipo
de disclosure adotado sobre as dimensões da sustentabilidade empresarial nos Relatórios de
Sustentabilidade (RS) de 2007, 2008 e 2009 das empresas premiadas pesquisadas.
Tabela 2 – Tipo de disclosure das dimensões da sustentabilidade empresarial nos RS
Tipo de Disclosure
Tipo 1
Tipo 2
Tipo 3
Total
Média por empresa
Fonte: Dados da pesquisa.
2007
Nº de
Percentual
sentenças
4.205
39,80%
3.870
36,63%
2.491
23,57%
10.566
100,00%
556 sentenças
2008
Nº de
Percentual
sentenças
5.353
38,35%
5.648
40,47%
2.956
21,18%
13.957
100,00%
581 sentenças
2009
Nº de
Percentual
sentenças
4.339
37,03%
4.797
40,94%
2.581
22,03%
11.717
100,00%
509 sentenças
Com base na Tabela 2, observa-se que o tipo de disclosure predominante em 2007 foi
o Tipo 1 – Evidenciação declarativa, enquanto que em 2008 e 2009 predominou o Tipo 2 –
Evidenciação quantitativa não-monetária. Em todos os anos estudados, o disclosure do Tipo 3
– Evidenciação quantitativa monetária foi o menos empregado. Considerando conjuntamente,
a evidenciação quantitativa (monetária e não monetária) representa 60,20%, 61,65% e 62,97%
dos tipos de disclosure utilizados nos Relatórios de Sustentabilidade das empresas para
evidenciação sobre as dimensões em 2007, 2008 e 2009, respectivamente, revelando
crescimento no período de informações de natureza quantitativa.
A Figura 2 ilustra o comportamento do tipo de disclosure utilizado na evidenciação
sobre as dimensões da sustentabilidade empresarial nos Relatórios de Sustentabilidade (RS)
de 2007, 2008 e 2009 das empresas premiadas pesquisadas.
10/16
ANAIS
6000
5000
4000
2007
3000
2008
2009
2000
1000
0
Tipo 1
Tipo 2
Tipo 3
Figura 2 - Comportamento do tipo de disclosure adotado pelas empresas para evidenciação
sobre as dimensões da sustentabilidade nos RS
Fonte: Dados da pesquisa.
Com base na Figura 2, nota-se que o Tipo 1 de disclosure (Evidenciação declarativa)
foi o que apresentou a maior queda em termos de número de sentenças evidenciadas nos
Relatórios de Sustentabilidade entre 2008 e 2009. Esse fato diverge dos achados de Menezes,
Cunha e De Luca (2010), que ao investigarem a evidenciação voluntária de informações
sociais de empresas do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, listadas na
BM&FBovespa, segundo os Indicadores do Guia da ONU, verificaram que os indicadores
menos evidenciados foram os de caráter não financeiro.
A Tabela 3 apresenta a intercessão das informações das Tabelas 1 e 2 com vistas a
apresentar o tipo de disclosure adotado para a evidenciação de sentenças relacionadas a cada
uma das dimensões da sustentabilidade empresarial nos Relatórios de Sustentabilidade (RS)
de 2007, 2008 e 2009 das empresas premiadas pesquisadas.
Tabela 3 – Dimensões da sustentabilidade empresarial, por tipo de disclosure
Dimensão Econômica
2007
Nº de
Percentual
sentenças
Tipo 1
770
35,11%
Tipo 2
805
36,71%
Tipo 3
618
28,18%
Total
2.193
100,00%
Dimensão Social Interna
2007
Tipo de disclosure
Nº de
Percentual
sentenças
Tipo 1
1.059
41,86%
Tipo 2
950
37,55%
Tipo 3
521
20,59%
Total
2.530
100,00%
Dimensão Social Externa
2007
Tipo de disclosure
Nº de
Percentual
sentenças
Tipo 1
1.260
42,34%
Tipo 2
1.005
33,77%
Tipo 3
711
23,89%
Total
2.976
100,00%
Dimensão Ambiental
Tipo de disclosure
2008
Nº de
Percentual
sentenças
940
31,39%
1.217
40,63%
838
27,98%
2.995
100,00%
2009
Nº de
Percentual
sentenças
890
30,68%
1.073
36,99%
938
32,33%
2.901
100,00%
2008
Nº de
Percentual
sentenças
1.493
43,25%
1.385
40,12%
574
16,63%
3.452
100,00%
2009
Nº de
Percentual
sentenças
1.061
37,06%
1.091
38,11%
711
24,83%
2.863
100,00%
2008
Nº de
Percentual
sentenças
1.393
36,99%
1.460
38,77%
913
24,24%
3.766
100,00%
2009
Nº de
Percentual
sentenças
1.262
39,33%
1.430
44,56%
517
16,11%
3.209
100,00%
11/16
ANAIS
2007
Nº de
Percentual
sentenças
Tipo 1
1.116
38,93%
Tipo 2
1.110
38,72%
Tipo 3
641
22,36%
Total
2.867
100,00%
Fonte: Dados da pesquisa.
Tipo de disclosure
2008
Nº de
Percentual
sentenças
1.433
38,27%
1.636
43,70%
675
18,03%
3.744
100,00%
2009
Nº de
Percentual
sentenças
1.126
41,03%
1.203
43,84%
415
15,13%
2.744
100,00%
A partir das informações da Tabela 3, nota-se que, de modo geral, no período
analisado, para a evidenciação de informações relacionadas à dimensão Econômica as
empresas adotaram prioritariamente o Tipo 2 de disclosure (Evidenciação quantitativa nãomonetária). O mesmo acontece com as dimensões Social Externa e Ambiental nos anos de
2008 e 2009. Por sua vez, para a dimensão Social Interna há preponderância de informações
do Tipo 1 de disclosure, corroborando com os resultados de Gallon e Ensslin (2008).
Observa-se ainda que entre as quatro dimensões da sustentabilidade analisadas, as
informações sobre a dimensão Econômica foram as mais mensuradas e as informações sobre a
dimensão Ambiental as menos mensuradas em termos de valores financeiros (R$), o que pode
apontar a dificuldade das empresas em relação ao reconhecimento e mensuração de ativos,
passivos, custos e despesas ambientais.
4.3 Identificação de possíveis fatores condicionantes da extensão da evidenciação sobre
as dimensões da sustentabilidade nos RS das empresas pesquisadas
Cabe esclarecer que para a consecução do terceiro objetivo específico da pesquisa –
identificar possíveis fatores condicionantes da extensão da evidenciação sobre as dimensões
da sustentabilidade nos Relatórios de Sustentabilidade (RS) das empresas pesquisadas – a
análise realizada considerou a evidenciação no RS de 2009. Dessa forma, participaram da
análise as 23 empresas participantes da amostra da pesquisa que elaboraram e
disponibilizaram no site o RS referente ao exercício de 2009.
Para a análise foram considerados os seguintes possíveis fatores condicionantes: Setor
de atividade, Natureza da atividade, Porte, Composição do capital e Segmento de listagem da
BM&FBovespa. Esses fatores foram selecionados por terem sido considerados em outros
estudos sobre a temática da evidenciação voluntária, como em Cunha e Ribeiro (2008).
A Tabela 4 apresenta o número de sentenças evidenciadas sobre as dimensões da
sustentabilidade empresarial, estratificado entre os possíveis fatores condicionantes da
extensão da evidenciação nos RS do ano de 2009.
Tabela 4 – Possíveis fatores condicionantes da extensão da evidenciação no ano de 2009
Fatores
Setor de atividade
Bens de consumo
Eletroeletrônico
Energia
Finanças
Indústria da construção
Informática
Madeira
Mineração
Papel e celulose
Evidenciação das dimensões da sustentabilidade empresarial
Nº de
Média
Social
Social
empresas Econômica
Ambiental Total
por
Interna Externa
Empresa
3
1
5
3
1
1
1
1
2
300
94
785
858
42
9
92
87
272
549
118
803
398
87
35
103
49
341
12/16
613
124
742
457
82
145
127
66
333
481
97
811
284
90
52
133
105
303
1.943
433
3.141
1.997
301
241
455
307
1.249
647
433
628
665
301
241
455
307
624
ANAIS
Seguros e previdência
Serviços
Siderurgia e metalurgia
Varejo
Natureza da atividade
Poluente
Não poluente
Porte
Grande
Médio
Composição do capital
Capital aberto
Capital fechado
Segmento listagem da bolsa
MT
N1
N2
NM
Fonte: Dados da pesquisa.
1
2
1
1
118
190
34
20
55
235
32
58
39
288
69
124
8
191
68
121
220
904
203
323
220
452
203
323
15
8
1.706
1.195
1.722
781
2.156
1.053
2.088
656
7.672
3.685
511
460
22
1
2.901
118
2.863
55
3.209
39
2.744
8
11.717
220
532
220
11
12
2.002
899
1.770
1093
1.849
1360
1.538
1.206
7.159
4.558
650
379
2
3
1
5
316
385
598
703
339
454
130
847
335
524
110
880
254
413
30
841
1.244
1.776
868
3.271
622
592
868
654
Inicialmente, cabe enfatizar que algumas análises realizadas sobre os possíveis fatores
condicionantes da extensão da evidenciação no RS 2009 ficaram comprometidas, em virtude
da concentração de algumas empresas em determinadas categorias, como Porte (concentração
de empresas de Grande porte), a pulverização das 23 empresas analisadas em 13 setores de
atividade e o número restrito de empresas participantes dos segmentos de listagem da
BM&FBovespa. Contudo, independentemente das limitações das análises, os principais
resultados elucidados na Tabela 4 são apresentados a seguir.
Com relação ao setor de atividade, em linhas gerais da evidenciação de informações
sobre as dimensões da sustentabilidade empresarial, pode-se verificar que as empresas dos
setores Finanças, Bens de Consumo, Energia e Papel e Celulose são as que apresentaram os
melhores níveis de evidenciação, e as empresas dos setores Siderurgia e metalurgia, Seguros e
previdência e Informática as que apresentam os piores níveis de evidenciação. Em alguns
setores observa-se a preponderância de informações relacionadas à algumas dimensões da
sustentabilidade empresarial, como nos setores Energia, Mineração e Varejo com a dimensão
Ambiental, e nos setores Bens de consumo, Energia, Informática, Papel e celulose, Serviços e
varejo com a dimensão Social Externa.
No que tange à natureza da atividade das empresas, observa-se que os Relatórios de
Sustentabilidade de 2009 das empresas consideradas como Poluentes são mais extensos e
priorizaram evidenciar informações relacionadas às dimensões Social Externa e Ambiental,
diferentemente das empresas caracterizadas como Não poluente, que apresentam nível mais
baixo de evidenciação e evidenciaram mais informações da dimensão Econômica, apontando
a Natureza da atividade como fator condicionante da extensão e do foco da evidenciação das
dimensões da sustentabilidade nos RS. No trabalho de Milani Filho (2008) foi constatado que
11,8% das empresas integrantes da carteira do ISE e 72,2% das empresas vinculadas a
externalidades negativas, não divulgam informações financeiras sobre o valor de gastos
sociais, gerando dúvidas sobre a existência ou a dimensão dos investimentos à comunidade.
Em relação ao porte das empresas, pode-se observar que as empresas de grande porte
apresentaram maior nível de evidenciação médio do que a empresa de médio porte analisada.
Fato interessante a ser ressaltado se refere à análise da evidenciação quanto à composição do
capital das empresas, onde é possível verificar que as empresas de Capital aberto apresentam
nível de evidenciação bastante superior em relação as de Capital fechado, sugerindo a
Composição do capital como fator condicionante da extensão da evidenciação das dimensões
13/16
ANAIS
da sustentabilidade nos RS das empresas. Lins e Silva (2009) discorrem sobre a importância
da divulgação de informações socioambientais para atração de investidores já que o
disclosure possui papel essencial na redução da assimetria informacional entre os gestores e
aqueles que possuem interesses na empresa.
Por fim, apesar das limitações da análise por Segmento de listagem das 11 empresas
listadas na BM&FBovespa, em virtude da pulverização das empresas entre os diversos
segmentos, pode-se inferir que não há correspondência evidente entre o Segmento de listagem
na BM&FBovespa da empresa e o nível de evidenciação de informações sobre as dimensões
da sustentabilidade empresarial nos RS, especialmente por dois motivos: (i) as empresas
participantes do Mercado tradicional apresentam maior número médio de sentenças
evidenciadas que as empresas participantes do Nível 1 de Governança Corporativa da
BM&FBovespa; e (ii) as empresas do Nível 2 de Governança Corporativa apresentam maior
número médio de sentenças evidenciadas que as empresas do Novo Mercado da
BM&FBovespa, contrariando a expectativa inicial. Esses fatos divergem a afirmação da
BM&FBovespa de que: as empresas listadas nesses segmentos especiais oferecem melhores
práticas de governança corporativa, ampliando os direitos societários dos acionistas
minoritários e aumentam a transparência das companhias, com divulgação de maior volume
de informações e de melhor qualidade, facilitando o acompanhamento de sua performance.
Os resultados refutam o estudo de Cunha e Ribeiro (2008) que ao investigar os incentivos das
companhias negociadas no mercado de capitais brasileiro para divulgar voluntariamente
informações de natureza social, concluiu que a divulgação voluntária de informações de
natureza social está associada positivamente ao nível de governança corporativa.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa teve como objetivo principal analisar o conteúdo da divulgação de
informações das dimensões da sustentabilidade empresarial – econômica, social e ambiental –
nos Relatórios de Sustentabilidade de empresas premiadas por suas práticas de
responsabilidade socioambiental. Para tanto, realizou-se um estudo descritivo, com
abordagem qualitativa dos dados, realizado por meio de pesquisa documental (Relatórios de
Sustentabilidade de 2007, 2008 e 2009) para a coleta e da técnica Análise de Conteúdo para a
análise dos dados. A Análise de Conteúdo dos Relatórios de Sustentabilidade das empresas
considerou o número de sentenças como unidade de análise e contemplou dois campos de
observação: as dimensões da sustentabilidade empresarial e o tipo de disclosure adotado.
De modo geral, os resultados obtidos possibilitaram verificar que a maior parte das 32
empresas participantes da população da pesquisa – vencedoras do Guia Exame de
Sustentabilidade (2009) e vencedoras do Prêmio ECO da AMCHAM e do Valor Econômico
(2007, 2008 ou 2009) – é de grande porte, de capital fechado, atuante nos setores de Energia,
Serviços, Finanças e Bens de consumo, e apresenta natureza da atividade caracterizada como
Poluente.
Com relação ao nível de evidenciação sobre as dimensões da sustentabilidade e ao tipo
de disclosure adotado pelas empresas pesquisadas nos Relatórios de Sustentabilidade (RS),
não se pode afirmar que houve uma evolução na quantidade informativa dos RS no período
em análise. Em linhas gerais, foi possível observar que a dimensão Social Externa foi a mais
evidenciada nos três períodos analisados, seguida em 2007 e 2008 pela dimensão Ambiental.
A dimensão Econômica é a menos expressiva nos dois primeiros anos analisados, revelando
que o RS foi utilizado pelas empresas como instrumento de evidenciação essencialmente de
suas práticas de responsabilidade socioambiental. Quanto ao tipo de disclosure, verificou-se
que em 2007 o Tipo 1 – Evidenciação declarativa preponderou, enquanto que em 2008 e 2009
predominou o Tipo 2 – Evidenciação quantitativa não-monetária. Observou-se, em todos os
14/16
ANAIS
anos estudados, que o disclosure do Tipo 3 – Evidenciação quantitativa monetária foi o menos
empregado e, considerando conjuntamente, a evidenciação quantitativa (monetária e não
monetária) representa 60,20%, 61,65% e 62,97% do tipo de disclosure utilizados nos RS das
empresas para evidenciação sobre as dimensões em 2007, 2008 e 2009, respectivamente,
revelando crescimento no período de informações de natureza quantitativa.
No que tange à identificação de possíveis fatores condicionantes da extensão da
evidenciação sobre as dimensões da sustentabilidade nos RS das empresas pesquisadas,
apesar das limitações das análises realizadas, constatou-se que: (i) as empresas dos setores
Finanças, Bens de Consumo, Energia e Papel e Celulose são as que apresentaram os melhores
níveis de evidenciação, e as empresas dos setores Siderurgia e metalurgia, Seguros e
previdência e Informática os piores níveis de evidenciação; (ii) os fatores Natureza da
atividade e Composição do capital foram apontados como condicionantes da extensão de
informações sobre as dimensões da sustentabilidade empresarial nos RS das empresas; (iii)
não há correspondência evidente entre o Segmento de listagem da empresa na BM&FBovespa
– Mercado tradicional ou Níveis diferenciados de governança corporativa – e o nível de
evidenciação de informações sobre as dimensões da sustentabilidade nos RS das empresas.
Por fim, torna-se importante lembrar que a análise realizada, mesmo que embrionária,
sinalizou importantes pontos sobre a evidenciação voluntária das dimensões da
sustentabilidade empresarial nos Relatórios de Sustentabilidade de empresas premiadas por
suas práticas de responsabilidade socioambiental, consideradas como referencial (benchmark)
para outras empresas que não fazem parte desse universo. Especificamente sobre a
identificação dos fatores condicionantes Setor de atuação, Natureza de atividade e
Composição do capital para a maior extensão da evidenciação, cabe elucidar que apesar do
rigor científico aplicado salienta-se a importância de que em estudos futuros sejam
empregadas técnicas estatísticas robustas, a fim de discernir não somente sobre fatores
condicionantes, mas sobre fatores explicativos da extensão da evidenciação voluntária de
informações socioambientais nas empresas brasileiras.
REFERÊNCIAS
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analysis. The Accounting Review, v. 55, n. 3, p. 467-479, Jul. 1980.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2004.
BECCHETTI, L.; DI GIACOMO, S.; PINNACCHIO, D. Corporate social responsibility and
corporate performance: evidence from a panel of US listed companies. Research Paper
Series, v. 26, n. 78, p. 1-56, 2005.
BRASIL. Lei nº 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei nº
6.404, de 15 de dezembro de 1976, e da Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e estende às
sociedades de grande porte disposições relativas à elaboração e divulgação de demonstrações
financeiras.
Disponível
em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20072010/2007/Lei/L11638.htm>. Acesso em: 6 dez. 2010.
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