ASSEMBLEIA NACIONAL INTERVENÇÃO DO DEPUTADO DO MPD, MIGUEL MONTEIRO, POR OCASIÃO DA INTERPELAÇÃO AO GOVERNO SOBRE O EMPREGO – FACTOR DE ESTABILIDADE SOCIAL E DA DIGNIDADE HUMANA Exmo Sr. Presidente da Assembleia Nacional Srs. Membros do Governo, Caros Colegas deputados No passado mês de Março o INE - Instituto Nacional de Estatísticas, publicou os dados sobre o Emprego, relativos ao ano de 2014. Foi exactamente 4 anos após a divulgação dos dados do Censos 2010, que ocorreu em Março de 2011, altura das eleições legislativas. Desta forma, temos claramente um ponto de partida, para medirmos e avaliarmos a eficiência e eficácia do Governo, na resolução deste problema. Esta é pois, uma análise dos resultados da governação; uma interpelação de balanço! E o que os dados nos diziam em 2011? Nessa data tínhamos 177.297 pessoas empregadas, 21.168 desempregadas e a população inactiva ascendia a 137.584 cabo-verdianos. Em 2014, a população empregada chegou a 182.831, os desempregados aumentaram para 34.327 e a população inactiva explodiu para os 157.591. Ou seja, enquanto assistimos a um crescimento débil de 3,1% de pessoas empregadas, o crescimento da população inactiva atinge os 14,5%, e a população desempregada aumentou 62,2%, pois este Governo conseguiu "produzir" mais 13.159 desempregados face ao início da legislatura. Resumindo, e levando em conta os desempregados, sub-empregados e desencorajados que já desistiram de procurar emprego temos perto de 108.000 (107.450) cabo-verdianos, que sofrem diariamente neste país. São 108.000 cabo-verdianos que i) sofrem porque vêem os seus anseios adiados, ii) sofrem porque muitos são jovens e têm de adiar o seu futuro, iii) sofrem porque a sua auto-estima é abalada, iv) sofrem porque não conseguem adquirir a sua independência e autonomia, v) sofrem porque são 108.000 almas que se vêem excluídas do desenvolvimento deste país. Este era um resultado esperado face ao contínuo crescimento anémico da economia, face ao mau ambiente de negócios, testemunhado pelos rankings do Doing Business, ou pelas constatações feitas também por entidades internacionais no país. Mas o que esperar de um governo que não implementa, na prática, mecanismos de financiamento às empresas? O que esperar de uma governação onde a máquina fiscal considera os contribuintes como impostores, mas entretanto não devolve os impostos devidos por mais de 7 anos? O que esperar de um país onde o governo carrega a carga fiscal, com a criação constante de novos impostos e taxas? O que esperar de um país que define um Regime Especial para Micro e Pequenas Empresas, mas que passados 5 meses após a suposta entrada em vigor, o regime continua a ser letra morta? O que esperar de um governo, que das 100 medidas previstas no Programa "Mudar para Competir", publicado desde Maio de 2012 em BO, apenas 5 estavam "completamente executadas" em Março de 2015, ou seja quase 3 anos depois? O que esperar de um país onde a justiça não funciona e que tem mais de 100.000 processos pendentes em Tribunal? O que esperar de um país onde a criminalidade é um sentimento constante na sociedade e tema diário na comunicação social? O que esperar de um país que apesar dos milhões investidos na infra-estruturação, o sector da construção definha, com empresas a fechar dia-a-dia? O que esperar de um país, que um dia, um membro do Governo sobe as taxas dos vistos, e praticamente no dia seguinte outro membro do Governo, reduz novamente essas mesmas taxas? O que esperar de um país onde uma transportadora aérea desrespeita e desautoriza o regulador, colocando os preços que bem entende nas passagens aéreas? O que esperar de um país onde se periga a galinha dos ovos de ouro que é o turismo? O que esperar de um país em que os transportes inter ilhas são diminutos, caros, irregulares, muitas vezes inexistentes, e perigosos para a integridade física? O que esperar de um país que paga uma indemnização de mais de 1 milhão de contos, por uma obra cujo resultado final é inferior a metade do previsto? O que esperar de um país em que uma ponte cai, e a culpa morre solteira? O que esperar de um país onde se paga a energia e água mais cara do mundo, conforme constatação feita pelo próprio regulador? O que esperar de um país onde os médicos são mal remunerados, e o governo lhes diz que podem ir embora, caso não estejam de acordo? O que esperar de um governo, em que um membro pede demissão por ter perdido eleições internas, mas que outro membro, apesar da perda de vidas humanas se mantém no governo? Uma coisa sabemos. Deste governo, desta maioria, pouco ou nada podemos esperar!!!! Estes são apenas alguns exemplos que demonstram, entre outras coisas, que o mau ambiente de negócios, descrito nos relatórios Doing Business e referido por entidades externas, não é resultado da crise, mas resulta sim, da inacção e incapacidade deste Governo em projectar, definir, realizar prioridades e de fazer a economia do país crescer e assim criar empregos. Face a esta falta de expectativas no mercado de trabalho, em que 108.000 caboverdianos padecem da falta de visão, engajamento e capacidade deste Governo, e estando no último ano de mandato, vem o Grupo Parlamentar do MpD interpelar o Governo sobre as seguintes questões: - Como se encontra o Pacto para o Emprego, documento que foi socializado, mas que não se conhece resultados práticos? - O que pretende fazer o Ministério do Emprego para reverter a tendência de destruição de postos de trabalho, pois em 2014 temos menos 5.073 postos de trabalho, face aos números de 2012? - Sendo o desemprego jovem, extremamente elevado (35,8% 15-24 anos) quais as medidas previstas para o debelar? O MpD, convicto e consciente da importância que o emprego e o rendimento tem para os cabo-verdianos e em especial os jovens, apresenta esta interpelação ao governo com o objectivo de obter as respostas e responsabilizações para os maus resultados no emprego e de ouvir as propostas do governo para combater este flagelo durante este último ano de mandato que lhe falta. Sr. Presidente, muito obrigado.