XXIII CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de outubro a 01 de novembro de 2014 Todas as informações contidas neste trabalho, desde sua formatação até a exposição dos resultados, são de exclusiva responsabilidade dos seus autores AVALIAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS REOLÓGICAS DE MAIONESE SUBMETIDA AO PROCESSO DE CONGELAMENTO BÁRBARA JORDANA GONÇALVES1, ISIS CELENA AMARAL2, JACYARA THAIS TEIXEIRA3, TALES MÁRCIO OLIVEIRA GIAROLA4, JAIME VILELA DE RESENDE5 RESUMO: O conhecimento reológico é indispensável para a medida de qualidade, projetos de processos industriais, determinação da vida de prateleira, entre outros. O presente trabalho teve como objetivo estudar o comportamento reológico de maionese antes e após o congelamento, por meio dos modelos de Casson, Herschel-Bulkley, Ostwald-de-Waele e Mizrahi & Berk. As medições foram realizadas, antes e após o congelamento, na temperatura de 25°C, em reômetro rotacional de cilindros concêntricos, utilizando-se um adaptador para pequenas amostras e sensor de cisalhamento coaxial. As análises foram obtidas com a variação da taxa de deformação de 0,22 a 4,62 s-1 (curva ascendente) versus tensão de cisalhamento, com tomada de 11 pontos, sendo o experimento realizado em triplicata. As amostras apresentaram índice de comportamento de fluxo (n) inferior a 1, caracterizando um comportamento não newtoniano com caráter pseudoplástico, visto que a viscosidade das mesmas diminuiu em função do aumento das taxas de deformação aplicadas. A maionese após o congelamento apresentou maior índice de consistência (k) que antes do congelamento, possivelmente devido à coalescência dos grânulos de gordura. O modelo de Ostwaldde-Waele foi o que melhor se ajustou aos dados experimentais, sendo os coeficientes de correlação (R²) iguais ou maiores que 98,8, evidenciando um bom ajuste dos pontos experimentais com o modelo proposto. Palavras-chave: Reologia, Congelamento, Taxa de Deformação, Tensão de Cisalhamento. INTRODUÇÃO A manutenção da estabilidade do produto ou sua estrutura durante a estocagem é descrita pela reologia, principalmente para emulsões e outras dispersões. Na ciência dos alimentos, a reologia é usada para o estudo da estrutura dos alimentos como resposta à aplicação de força ou deformação. Várias são as razões para se conhecer as propriedades reológicas dos alimentos, dentre elas: efetuar o controle de qualidade de matérias-primas de processo ou fabricação de produtos finais, estudar a influência de componentes da formulação e relacionar a estrutura dos produtos com as suas características reológicas (STEFFE, 1996). A investigação das propriedades reológicas está estreitamente relacionada com o desenvolvimento de produtos alimentares e é determinante nos processos de desenvolvimento desses produtos no intuito de atender as exigências do consumidor (FISCHER; WINDHAB, 2011). O comportamento reológico ocupa posição de grande destaque, sendo útil não só como medida de qualidade, mas também em projetos, avaliação e operação dos equipamentos processadores de alimentos, tais como as bombas, sistemas de agitação e tubulações (IBARZ et al., 1996; QUEIROZ et al., 1996). O presente trabalho teve como objetivo estudar o comportamento reológico de maionese antes e após o congelamento, além de caracterizar o comportamento da maionese através do ajuste de modelos reológicos. REFERENCIAL TEÓRICO Criada em 1928 por E. C. Bingham, a reologia é definida como a ciência que estuda a resposta de um material à aplicação de uma tensão ou deformação (CORREA et al., 2005). 1 Doutoranda , DCA/UFLA, [email protected] Doutoranda, DCA/UFLA, [email protected] 3 Doutoranda, DCA/UFLA, [email protected] 4 Doutorando, DCA/UFLA, [email protected] 5 Professor Associado, DCA/UFLA, [email protected] 2 XXIII CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de outubro à 01 de novembro de 2014 Todas as informações contidas neste trabalho, desde sua formatação até a exposição dos resultados, são de exclusiva responsabilidade dos seus autores O comportamento reológico representa o comportamento mecânico dos materiais quando em processo de deformação. Importantes nos fenômenos relacionados à transferência de massa que tem lugar nos processos industriais, as características reológicas são também imprescindíveis na otimização, no controle e nos cálculos de processos. Esses conhecimentos servem, igualmente, para o desenvolvimento de produtos e correlação de parâmetros físicos e sensoriais, além de serem importantes no controle de qualidade e testes de tempo de armazenamento de produtos (TABILOMUNIZAGA; BARBOSA-CÁNOVAS, 2005). As medidas reológicas são consideradas como uma ferramenta analítica, a qual fornece uma melhor compreensão da organização estrutural dos alimentos. Vários fatores afetam o comportamento reológico, destacando-se entre estes, a temperatura (HOLDSWORTH, 1971; VITALI; RAO, 1984), sólidos solúveis (HERNANDEZ et al., 1995) e o tamanho das partículas (AHMED et al., 2000). Em função do seu comportamento de escoamento, os fluidos podem ser basicamente classificados como newtonianos, quando a viscosidade do sistema independe da taxa de deformação aplicada, ou não-newtonianos, que podem depender ou não do tempo de cisalhamento. O comportamento mais comum de fluidos alimentícios não-newtonianos independentes do tempo é do tipo pseudoplástico, quando a viscosidade do material diminui com o aumento da taxa de deformação (BHATTACHARYA, 1999; FREITAS, 2002; SHARMA, 1996). A crescente necessidade e procura dos parâmetros reológicos para os diversos fluidos manipulados nas indústrias de processamento está ligada também a grande importância econômica que estes fluidos e equipamentos de manipulação representam atualmente (VIDAL, 2000). Muitas das propriedades texturais que os humanos percebem quando consomem alimentos são basicamente reológicas na natureza, isto é, cremosidade, suculência, maciez, suavidade e dureza. A estabilidade e aparência dos alimentos frequentemente dependem das características reológicas (VANDRESSEN, 2007). Os alimentos apresentam comportamento reológico variado, devido à sua complexa estrutura e composição (TABILO-MUNIZAGA e BARBOSA-CÁNOVAS, 2005). A descrição desse comportamento é feita através de modelos que relacionam tensão de cisalhamento e taxa de deformação, facilitando assim, os cálculos de engenharia. MATERIAL E MÉTODOS As medidas reológicas da maionese foram realizadas, antes e após o congelamento, na temperatura de 25°C, em um reômetro rotacional com sistema de medida de cilindros concêntricos Brookfield, modelo DVIII Ultra (Brookfield Engineering Laboratories, Stoughton, USA), utilizandose um adaptador para pequenas amostras 13R/RP (19,05 mm de diâmetro e profundidade de 64,77 mm; Brookfield Engineering Laboratories, Stoughton, USA) e o sensor de cisalhamento coaxial SC425 (4,78 mm de diâmetro e 17,70 mm de comprimento; Brookfield Engineering Laboratories, Stoughton, USA). As análises reológicas foram obtidas com a variação da taxa de deformação de 0,22 a 4,62 s-1 antes e após o congelamento (curva ascendente), com a tomada de 11 pontos para cada curva. Assim, obteve-se o reograma de cada amostra. Os experimentos foram realizados em triplicata, onde para cada repetição utilizou-se uma nova amostra, igual a anterior, para evitar possíveis efeitos de tempo. Os modelos testados foram Ostwald-de-Waele (Lei da Potência), Herschel-Bulkley, Mizrahi & Berk e Casson. Porém, para obtenção dos parâmetros reológicos e para a determinação do seu comportamento, utilizou-se o modelo de Ostwald-de-Waele (Equação 1), devido ao seu melhor ajustamento aos dados experimentais. onde: τ- tensão de cisalhamento (Pa); γ- taxa de deformação (s–1); k – índice de consistência (Pa.sn ); n- índice de comportamento do fluido (adimensional). XXIII CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de outubro à 01 de novembro de 2014 Todas as informações contidas neste trabalho, desde sua formatação até a exposição dos resultados, são de exclusiva responsabilidade dos seus autores RESULTADOS E DISCUSSÃO A maionese analisada antes e após o congelamento apresentou comportamento de fluido não-Newtoniano (Figura 1). Os parâmetros reológicos obtidos antes e após o congelamento, através do modelo de Ostwald-de-Waele estão demonstrados na Tabela 1 e Tabela 2, respectivamente. Os coeficientes de correlação (R²) foram iguais ou maiores que 98,8 para as amostras, evidenciando um bom ajuste dos pontos experimentais com o modelo proposto. Tabela 1 - Parâmetros reológicos da maionese antes do congelamento, obtidos utilizando-se o modelo de Ostwald-de-Waele. Parâmetros reológicos antes do congelamento Índice de consistência, K (Pa s) 75182 Índice de comportamento de fluxo, n 0,19 R² 98,8 Fonte: Elaboração dos autores (2013). Tabela 2 - Parâmetros reológicos da maionese após o congelamento, obtidos utilizando-se o modelo de Ostwald-de-Waele. Parâmetros reológicos após o congelamento Índice de consistência, K (Pa s) Índice de comportamento de fluxo, n R² 89705,5 0,15 99,3 Fonte: Elaboração dos autores (2013). O índice de consistência (K) é um parâmetro que indica o grau de resistência do fluido diante do escoamento. De acordo com os dados apresentados, nota-se que a maionese após o congelamento apresentou maior índice de consistência que a amostra de maionese antes do congelamento. Verifica-se que o valor do índice de comportamento (n), apresentou-se maior que 0 e menor que 1 (0,15 e 0,19) para ambas as amostras, mostrando que a maionese apresenta comportamento reológico não-newtoniano pseudoplástico (n<1). Este comportamento também é observado na Figura 1, devido a relação não-linear da taxa de deformação com a tensão de cisalhamento. Figura 1 - Relação entre a taxa de deformação e a tensão de cisalhamento descrita pelo modelo de Ostwald-de-Waele para as amostras de maionese antes e após o congelamento. Tensão de cisalhamento [mPa/s] 120000 100000 80000 60000 Maionese antes do congelamento 40000 Maionese após o congelamento 20000 0 0 1 2 3 4 Taxa de deformação [1/s] Fonte: Elaboração dos autores (2013). 5 XXIII CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de outubro à 01 de novembro de 2014 Todas as informações contidas neste trabalho, desde sua formatação até a exposição dos resultados, são de exclusiva responsabilidade dos seus autores Na Figura 2, observa-se um decréscimo da viscosidade aparente à medida que se aumenta a taxa de deformação para as amostras de maionese. Figura 2 - Relação entre a viscosidade e a taxa de deformação da maionese antes e após o congelamento. 300000 Viscosidade [mPas] 250000 200000 Maionese após o congelamento 150000 Maionese antes do congelamento 100000 50000 0 0 1 2 3 4 5 Taxa de deformação [1/s] Fonte: Elaboração dos autores (2013). De acordo com Vidal-Bezerra (2000), esse comportamento se deve às modificações da estrutura das moléculas com o aumento do gradiente de velocidade. As cadeias de moléculas tendem a se alinhar, paralelamente às linhas de corrente, o que contribui para a diminuição da resistência ao escoamento. Segundo Horne (1998) e Lucey (2002), a diminuição da viscosidade aparente das amostras, com o aumento da taxa de cisalhamento, pode ter ocorrido devido à destruição das fracas ligações físicas existentes e à diminuição da energia de interação entre as moléculas. Horne (1998) define a energia de interação das moléculas como o somatório da repulsão eletrostática e da interação hidrofóbica, portanto, a queda na viscosidade aparente das amostras com o aumento da taxa de deformação poderia ser resultado da destruição destas interações. Segundo Vidal (2006), esta diminuição da viscosidade colabora com o decréscimo dos custos de potência com bombeamento e custos energéticos, devido a menor perda por escoamento, e pode ser explicada pelo aumento do gradiente de velocidade responsável por modificar a estrutura das moléculas. CONCLUSÃO O modelo de Ostwald-de-Waele resultou em bons ajustes dos dados experimentais de tensão de cisalhamento em função da taxa de deformação para a maionese antes e após o congelamento. O índice de comportamento de fluxo (n) foi inferior a 1 para as amostras, caracterizando um comportamento não newtoniano com caráter pseudoplástico, visto que a viscosidade das mesmas diminuiu em função do aumento da taxa de deformação aplicada. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de Minas Gerais (FAPEMIG), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo financiamento da pesquisa. XXIII CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de outubro à 01 de novembro de 2014 Todas as informações contidas neste trabalho, desde sua formatação até a exposição dos resultados, são de exclusiva responsabilidade dos seus autores REFERÊNCIAS AHMED, J.; SHIVHARE, U. S.; RAGHAVAN, G. S. V. Rheological characteristics and kinetics of colour degradation of green chilli puree. Journal of Food Engineering, Essex, v. 44, p. 239-244, 2000. BHATTACHARYA, S. Yield stress and time-dependent rheological properties of mango pulp. Journal of Food Science, v. 64, n. 6, p. 1029-1033, 1999. CORREA, N. M,; CAMARGO JÚNIOR, F. B., IGNÁCIO, R. F.; LEONARDI, G.R. Avaliação do comportamento reológico de diferentes géis hidrofílicos. Braz. J. of Pharm. Sci.v. 41, n. 1, p.73-78, 2005. FISCHER, P.; WINDHAB, E. J. reogoly of food materials. Current opinion in Colloid & Interface Science, v. 16, p. 36-40, 2011. FREITAS, I. C. Estudo das interações entre biopolímeros e polpas de frutas tropicais em cisalhamento estacionário e oscilatório. Campinas, 2002. Tese (Doutor em Engenharia de Alimentos) - Faculdade de Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Campinas. HERNANDEZ, E.; CHEN, C. S.; JOHNSON, J.; CARTED, R. D. Viscosity changes in orange juice after ultra-filtration and evaporation. Journal of Food Engineering, Essex, v. 25, p. 387-396, 1995. HOLDSWORTH, S. D. Applicability of rheological models to the interpretations of flow and processing behavior of fluid food products. Journal of Texture Studies, [S.l.], v. 2, p. 393-418, 1971. HORNE, D. S. Casein interactions: casting light on the Black Boxes, the structure in dairy products. International Dairy Journal, Barking, v.8, n.3, p.171-177, 1998. IBARZ, A.; GONÇALVES, C.A.; EXPLUGAS, S. “Rheology of clarified passion fruit juices”, Fruit Processing, v. 6, p. 330-333, 1996. LUCEY, J. A. Formation and physical properties of milk protein gels. Journal of Dairy Science, Champaign, v.85, n.2, p. 281-294, 2002. QUEIROZ, A. J. M.; VIDAL, J. R. M.; GASPARETTO, C. A. Influência dos sólidos suspensos na reologia do suco de abacaxi. In: ENCONTRO SOBRE ESCOAMENTO EM MEIOS POROSOS, 14., 1996, Uberlândia, MG. Anais... Uberlândia: UFU, 1996. p. 49-53. SHARMA, S. K. et al. Effect of composition on the rheological properties of tomato thin pulp. Food Research International, v. 29, n. 2, p. 175-179, 1996. STEFFE, J. F. Rheological methods in food process engineering. Michigan: Freeman Press, 2a ed, 1996. 418 p. TABILO-MUNIZAGA, G.; BARBOSA-CÁNOVAS, G.V. Rheology for the food industry. J. Food Eng., Essex, v. 67, p. 147-156, 2005. VANDRESSEN, S. Caracterização físicoquímica e comportamento reológico de sucos de cenoura e laranja e suas misturas.Florianópolis, 2007. 134f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Alimentos). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis XXIII CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de outubro à 01 de novembro de 2014 Todas as informações contidas neste trabalho, desde sua formatação até a exposição dos resultados, são de exclusiva responsabilidade dos seus autores VIDAL, J.R.M.B.; Comportamento Reológico da Polpa de Manga (Mangífera indica L-Keit). 2000. 120p. Tese de Doutorado, FEA/UNICAMP. Campinas, (SP). VIDAL, J. R. M. B.; SIERAKOWSKI, M. R.; HAMINIUK, C. W. I.; MASSON, M. L. Propriedades reológicas da polpa de manga (Mangifera indica L. cv. Keitt) centrifugada. Ciênc. Agrotec. Lavras, n. 30, n. 5, p. 955-960, set./out. 2006. VITALI, A. A.; RAO, M. A. Flow properties of low-pulp concentrated orange juice: effect of temperature and concentration. Journal of Food Science, Chicago, v. 49, p. 882-888, 1984.