Flávia Christina Azeredo Silva CONTRIBUIÇÕES DA FONÉTICA E DA FONOLOGIA AO ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: o caso das Vogais Altas Frontais e do Glide /jj / no Inglês e no Português Brasileiro Belo Horizonte 2004 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Flávia Christina Azeredo Silva CONTRIBUIÇÕES DA FONÉTICA E DA FONOLOGIA AO ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: o caso das Vogais Altas Frontais e do Glide /jj / no Inglês e no Português Brasileiro Dissertação apresentada ao programa de Pós-graduação em Estudos Lingüísticos, da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Lingüística Aplicada. Área de concentração: Lingüística Aplicada Linha de Pesquisa: F - Ensino/Aprendizagem de Língua Estrangeira. Orientador: Profa. Dra. Thaïs Cristófaro Silva Belo Horizonte Faculdade de Letras da UFMG 2004 (UFMG). Para Mamãe, papai, meus irmãos, Margaridinha e Gu. AGRADECIMENTOS Quero agradecer às pessoas que direta ou indiretamente participaram deste sonho com palavras ou gestos. Pessoas que foram companheiras, literalmente, nesta dura e muito importante jornada. Quero agradecer à Shirlene Oliveira, por ter entrado no programa do mestrado, por ela ter me dado tanta força e compartilhado comigo tantos domingos de estudo. À Profa. Dra. Heliana Mello, pelo carinho, pelas palavras sérias e decisivas e por sempre responder aos meus pedidos de socorro. À Profa. Dra. Laura Miccoli, por ter tomado decisões cruciais e ter sempre um sorriso amigo e confiante. Sem essas duas pessoas, hoje eu não estaria aqui escrevendo estes agradecimentos. OBRIGADA! Ao Prof. Dr. César Reis, que esteve sempre pronto para discutir minhas tão confusas análises e por ter me conduzido ao meu objetivo. Às pessoas do Pos-Lin, especialmente a Geralda Moreira. Nossa, como eu a atormentei! Obrigada pelas orientações e pela paciência! À FAPEMIG, pelo apoio financeiro. À minha família, por ter me dado tanto colo, por agüentar meu mau humor e não cobrar pelos inúmeros meses em que fiquei sumida estudando. À vovó, pela comidinha quentinha e gostosa e, a Margarida, por estar sempre pronta a me atender e, principalmente, ao Gustavinho, que doou um pouco de seu precioso tempo clareando minhas idéias confusas e, pacientemente, abdicou, por mim, de suas férias e finais de semana neste período. À minha mãe, por sempre ter me dado sábios conselhos. Ao Leandro Alves, o meu imenso obrigada por sua capacidade de tratar os meus resultados, mostrando-me melhores caminhos e análises possíveis. Ao Hudson Rúbio, por ler pacientemente várias vezes os meus rascunhos e me dar dicas valiosas. Muitas coisas acontecem na vida das pessoas sem elas esperarem. Assim, agradeço ao Prof. Dr. Kevin John Keys, por ter me mostrado a importância da lingüística aplicada e ter me iniciado na pesquisa. E o meu agradecimento maior é para a Profa. Dra. Thaïs Cristófaro, minha carinhosa desorientadora, por ter sido dura quanto necessário, por ter me dado a luz e o tempo de que eu precisava, por estar sempre de alto astral e servindo de exemplo para seus orientandos. Obrigada por ter confiado em mim. Sei que não fiz tudo o que precisava, mas me empenhei ao máximo para não decepcioná-la. Agradeço também à Sandra Teixeira, por sempre ter dito sim aos meus pedidos. Obrigada, Sandrinha. Acho que consegui! Agradeço aos meus informantes (alunos e amigos), pelas pacientes horas de espera para as gravações e instruções. Agradeço também ao grupo de pesquisa da Profa. Dra. Thaïs Cristófaro, por me dar tanto apoio, Daniela Oliveira (minha consultora na Teoria de Exemplares), Adelma Araújo, Sandro, Ana Paula e Raquel. Agradeço também à minha amiga Maristela, ao Rubens e ao José Maria Malta por terem tido tamanha paciência em me ajudar com a revisão do texto. Caso eu tenha me esquecido de alguém, OBRIGADA a todos. Obrigada a todos vocês mais uma vez. Uma coisa é ter consciência do melhor caminho a seguir, outra é acha-lo e conseguir segui-lo! Krashen, S. D. RESUMO Empregando-se um experimento com participação de 16 informantes, divididos em dois grupos, sendo um para teste e um outro controle, analisou-se a aquisição de pronúncia das vogais altas frontais e do glide /j/. Investigou-se a relevância da língua materna, no caso, o português brasileiro, para a aquisição de uma língua estrangeira, neste estudo, a língua inglesa. A partir da hipótese da conscientização dos aprendizes quanto aos parâmetros fonéticos e fonológicos, tanto da língua materna quanto da língua-alvo, buscou-se comprovar a importância da fonética e da fonologia para a aquisição de pronúncia do inglês como língua estrangeira. As vogais altas foram escolhidas, primeiramente, por figurarem em ambas as línguas, embora de maneiras distintas e, também, pela literatura postular a importância da distinção dos sons vocálicos para estabelecer uma comunicação inteligível. Este projeto examinou, ainda, o valor da instrução formal para a aquisição de habilidades de pronúncia, com o intuito de promover um aprendizado mais dinâmico e eficaz, bem como estimular a autonomia do aprendiz. Os dados obtidos apontam para a necessidade de um ensino diferenciado, a partir da conscientização dos aprendizes quanto ao detalhe fonético, ao sistema sonoro da língua materna e àquele da língua-alvo, traçando-se um ensino particularizado e não globalizante. Palavras-chave: Ensino de Pronúncia – Fonética e Fonologia – Produção Oral – Inteligibilidade – Conscientização. ABSTRACT This work investigates the acquisition of English high front vowels and the glide /j/ by Brazilian students of English. It aims to investigate the relevance of the mother tongue, Brazilian Portuguese, in the process of learning a foreign language - in this case English. From The hypothesis of awareness raising regarding the phonetic and phonological parameters of both languages, was tested for the acquisition of English as a foreign language. The experiment was performed with the help of 16 respondents, divided in a testing group and in a control group. The choice for high front vowels was made because although they occur in both languages, they are used in different ways, and also, because the literature postulates the importance of distinguishing vocalic sounds to establish intelligible conversation. This project also examines the value of formal instruction for the acquisition of pronunciation abilities, with the purpose of promoting more dynamic and effective learning, as well as encouraging learner’s autonomy. The data obtained point towards the need for student-oriented teaching, based on the learner’s awareness of phonetic detail, the sound system of the mother tongue and foreign language, thus supporting a non-generalizing teaching styles. Key words: Pronunciation Teaching – Phonetics and Phonology – Oral Production – Intelligibility - Awareness SUMÁRIO 1 2 3 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 01 1.1 Justificativa teórica da pesquisa ..........................................................................…....…. 03 1.2 Organização do trabalho ............……………………………....................................…... 12 1.3 Objetivos e hipóteses de pesquisa ......……………………….....................................….. 14 1.3.1 Objetivo geral ...................................................................................................…... 15 1.3.2 Objetivos específicos ........................................................................................…. 16 PERSPECTIVA TEÓRICA ...................................................................................................... 17 2.1 Introdução ...................................................................................................................….. 17 2.2 Panorama do ensino de pronúncia …................................................................................ 18 2.2.1 Análise dos materiais didáticos …........................................................................... 24 2.2.2 Abordagens empíricas: estudos sobre os efeitos da instrução na pronúncia …....... 29 2.3 Perspectiva teórica ...................................................................................................…..... 35 2.4 A teoria de interlíngua .............................................................................................…….. 43 2.5 Conclusões ........................................................................................................................ 47 METODOLOGIA DA PESQUISA ....................................................................................…. 49 3.1 Considerações teórico-metodológicas ................... .....................................................….. 49 3.1.1 - O modelo experimental ....................................................................................... 50 3.1.2 – Coleta de dados, análises qualitativa interpretativa e quantitativa estatística. …. 51 Desenvolvimento metodológico........................................................................................ 52 3.2.1 Informantes ...............…..................................................................................... 52 3.2.2 Instrumentos ...................................................................................................... 54 3.2.3 O experimento ...............….................................................................................. 55 3.2.4 Gravações dos dados ........................................................................................... 58 3.2.5 Equipamentos e materiais .................................................................................... 58 3.2.6 Análises dos dados............................................................................................... 58 Procedimentos metodológicos ......................................................................................... 59 ANÁLISE DOS RESULTADOS .............................................................................................. 62 4.1 Análises perceptivas das produções ..................................................................…........... 63 4.1.1 Considerações quanto à gravação zero ......................................................…....... 64 3.2 3.3 4 4.2 4.1.2 Considerações quanto à gravação final ................................................................ 72 Análises acústicas das produções ................................................................................... 84 4.2.1 Considerações quanto à gravação zero .........................................................….... 94 4.2.2 Considerações quanto à gravação zero e final: grupo-controle ......................…. 99 4.2.3 Considerações quanto à gravação zero e final: grupo-teste ...........................….. 108 4.2.4 Considerações quanto à gravação final ..........................................................….. 117 5 6 4.3 Duração das produções orais por segmento: grupos teste e controle ........................….... 122 4.4 Conclusões ........................................................................................................................ 125 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .......................................................................................... 127 5.1 Implicação teórica dos resultados ..............................................................................….. 127 5.2 Implicações metodológicas dos resultados ................................................................….. 128 5.3 Implicações pedagógicas dos resultados ....................................................................….. 128 5.4 Sugestões para futuras pesquisas ..............................................................................….. 131 CONCLUSÕES GERAIS DO TRABALHO ........................................................................... 133 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 136 APÊNDICES .............................................................................................................................. 142 LISTA DE FIGURAS Figura 1: O relacionamento entre os fonemas /i/ do português brasileiro e /i˘/ e /I/ do inglês e seus respectivos alofones. ... 07 Figura 2 - O fonema /i/ do português brasileiro e seus alofones. …………………………………......................................... 08 Figura 3 - Vogais altas frontais do inglês e o glide /j/. ................................................................................................................ 08 Figura 4 - Exemplos para o segmento /i˘/. ................................................................................................................................... 09 Figura 5 - Exemplos para o segmento /I/. .................................................................................................................................... 10 Figura 6 - Exemplos para o segmento /i/ neutralizado. ............................................................................................................... 10 Figura 7 - Exemplos para correlatos ortográficos. ...................................................................................................................... 10 Figura 8 - Exemplos para o segmento glide /j/. .......................................................................................................................... 11 Figura 9 - Proposta de conteúdo para currículo e procedimentos de ensino para instrução de pronúncia. ............................... 25 Figura 10 - Roteiro de instruções fonéticas e fonológicas para o segmento [i˘] ….................................................................... 56 Figura 11 - Exemplo de gravura para levantar dados. .........................................................................................……………… 57 Figura 12 - Número de acertos, erros e omissões (grupos teste e controle) para a gravação Zero …………………………... 64 Figura 13 - Informantes Iniciantes: teste zero X controle zero. .........................................................................................……. 66 Figura 14 - Informantes Avançados: teste zero X controle zero .........................................................................................…… 66 Figura 15 - Grupo-controle zero informantes: iniciantes x avançados. ..........................................................................…...…. 67 Figura 16 - Grupo teste zero informantes: iniciantes x avançados. ……………........................................................................ 68 Figura 17 - Número de acertos por segmento (grupos teste e controle) para a gravação zero .................................................. 70 Figura 18 - Informantes Iniciantes acertos: teste zero X controle zero ...................................................................................... 70 Figura 19 - Informantes avançados acertos: teste zero X controle zero ...................................................................................... 71 Figura 20 - Número de acertos, erros e omissões (grupos teste e controle) para a gravação final ...........................………... 73 Figura 21 - Informantes Iniciantes: teste final X controle final .........................................................................................…… 74 Figura 22 - Informantes Avançados: teste final X controle final ........................................................................................... 74 Figura 23 - Grupo-controle final informantes: iniciantes x avançados ................................................................................…. 75 Figura 24 - Grupo-teste final informantes: iniciantes x avançados .........................................................................................… 75 Figura 25 - Número de acertos para os grupos de controle e de teste na gravação final .......................................................… 77 Figura 26 - Informantes Iniciantes acertos: teste final X controle final .......................................................………………….. 78 Figura 27 - Informantes avançados acertos: teste final X controle final .......................................................………………….. 79 Figura 28 - Grupo-controle Zero X Grupo-controle Final .......................................................……………………………….. 81 Figura 29 - Grupo-teste Zero X Grupo-teste Final .............................................................................................................… 81 Figura 30 - Diagrama das Vogais Cardeais proposta ............................................................................................................… 84 Figura 31 - Considerações com relação à posição da língua e dos lábios para a produção da LA. ………………………….. 85 Figura 32 - Considerações com relação à posição da língua e dos lábios para a produção da LM …………………………. 85 Figura 33 - Diagrama das vogais do português brasileiro do dialeto de Belo Horizonte …………………………………….. 86 Figura 34 - Diagrama das vogais do inglês (RP) ……………………………………………………………………………… 86 Figura 35 - Diagrama das vogais do português brasileiro (Cristófaro-Silva, 1999) e do inglês britânico RP (Jones,1956) … 87 Figura 36 - Diagrama das vogais do espanhol, do japonês e do dinamarquês .......................................................…………… 88 Figura 37 - Relação entre os formantes 1 e 2 e a articulação .......................................................…………………………….. 89 Figura 38 - Representação da combinação acústica e auditiva para algumas vogais do inglês americano ………………….. 90 Figura 39 - Grupo-controle Zero: Médias Acústicas das Produções Femininas ………………………………………………. 95 Figura 40 - Grupo-teste Zero: Médias Acústicas das Produções Femininas ………………………………………………. 96 Figura 41 - Grupo-controle Zero: Médias Acústicas das Produções Masculinas …………………………………………….. 97 Figura 42 - Grupo-teste Zero: Médias Acústicas das Produções Masculinas ………………………………………………. 98 Figura 43 - Grupo-controle Zero e Final: /i˘/ informante feminino iniciante CIF1. …………………………………………... 100 Figura 44 - Grupo-controle Zero e Final: /i/ informante feminino iniciante CIF1. …………………………………………… 100 Figura 45 - Grupo-controle Zero e Final: /I/ informante feminino iniciante CIF1. …………………………………………….. 101 Figura 46 - Grupo-controle Zero e Final: /j/ informante feminino iniciante CIF1. ………………………………………….. 101 Figura 47 - Grupo-controle Zero e Final: /i˘/ informante masculino iniciante CIM1. ……………………………………… 102 Figura 48 - Grupo-controle Zero e Final: /i/ informante masculino iniciante CIM1. ………………………………………… 103 Figura 49 - Grupo-controle Zero e Final: /I/ informante masculino iniciante CIM1. …………………………………………. 103 Figura 50 - Grupo-controle Zero e Final: /j/ informante masculino iniciante CIM1. . …………………………………………. 103 Figura 51 - Grupo-controle Zero e Final: /i˘/ informante feminino avançado CAF1. ………………………………………… 104 Figura 52 - Grupo-controle Zero e Final: /i/ informante feminino avançado CAF1. ………………………………………… 105 Figura 53 - Grupo-controle Zero e Final: /I/ informante feminino avançado CAF1. ………………………………………… 105 Figura 54 - Grupo-controle Zero e Final: /j/ informante feminino avançado CAF1. ………………………………………… 105 Figura 55 - Grupo-controle Zero e Final: /i˘/ informante masculino avançado CAM1. ……………………………………… 106 Figura 56 - Grupo-controle Zero e Final: /i/ informante masculino avançado CAM1. ………………………………………. 106 Figura 57 - Grupo-controle Zero e Final: /I/ informante masculino avançado CAM1. …………………………………….. 107 Figura 58 - Grupo-controle Zero e Final: /j/ informante masculino avançado CAM1. ……………………………………… 107 Figura 59 - Grupo-teste Zero e Final: /i˘/ informante feminino iniciante TIF1. ………………………………………………. 109 Figura 60 - Grupo-teste Zero e Final: /i/ informante feminino iniciante TIF1. ………………………………………………. 109 Figura 61 - Grupo-teste Zero e Final: /I/ informante feminino iniciante TIF1. ………………………………………………. 110 Figura 62 - Grupo-teste Zero e Final: /j/ informante feminino iniciante TIF1. ………………………………………………. 110 Figura 63 - Grupo-teste Zero e Final: /i˘/ informante masculino iniciante TIM1. …………………………………………… 111 Figura 64 - Grupo-teste Zero e Final: /i/ informante masculino iniciante TIM1. ………………………………………….. 111 Figura 65 - Grupo-teste Zero e Final: /I/ informante masculino iniciante TIM1. …………………………………………… 111 Figura 66 - Grupo-teste Zero e Final: /j/ informante masculino iniciante TIM1. …………………………………………… 112 Figura 67 - Grupo-teste Zero e Final: /i˘/ informante feminino avançado TAF2. ………………………………………….. 113 Figura 68 - Grupo-teste Zero e Final: /i/ informante feminino avançado TAF2. …………………………………………… 113 Figura 69 - Grupo-teste Zero e Final: /I/ informante feminino avançado TAF2. …………………………………………… 114 Figura 70 - Grupo-teste Zero e Final: /j/ informante feminino avançado TAF2. …………………………………………… 114 Figura 71 - Grupo-teste Zero e Final: /i˘/ informante masculino avançado TAM2. ………………………………………… 115 Figura 72 - Grupo-teste Zero e Final: /i/ informante masculino avançado TAM2. ………………………………………… 115 Figura 73 - Grupo-teste Zero e Final: /I/ informante masculino avançado TAM2. ………………………………………… 116 Figura 74 - Grupo-teste Zero e Final: /j/ informante masculino avançado TAM2. …………………………………………… 116 Figura 75 - Grupo-controle Final: Médias Acústicas das Produções Femininas ……………………………………………… 118 Figura 76 - Grupo-teste Final: Médias Acústicas das Produções Femininas ………………………………………………. 118 Figura 77 - Grupo-controle Final: Médias Acústicas das Produções Masculinas …………………………………………….. 119 Figura 78 - Grupo-teste Final: Médias Acústicas das Produções Masculinas ………………………………………………. 119 Figura 79 - Grupo-controle Zero e Final: Médias da Duração das Produções Masculinas ………………………………….. 122 Figura 80 - Grupo-controle Zero e Final: Médias da Duração das Produções Femininas …………….……………………. 123 Figura 81 - Grupo-teste Zero e Final: Médias da Duração das Produções Masculinas ………………………………………. 124 Figura 82 - Grupo-teste Zero e Final: Médias da Duração das Produções Femininas ……………………………………….. 124 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Dados sobre os informantes................................................…………………………………………………..……… 54 Tabela 2 - Grupo Teste-Zero: porcentagem de acertos, erros e omissões. ……………………………………………….…… 72/79 Tabela 3 - Grupo Controle-Zero: porcentagens de acertos, erros e omissões …………………………………….....…………. 72/79 Tabela 4 - Grupo Teste-Final: porcentagem de acertos, erros e omissões. …………………………………………...……….. 80 Tabela 5 - Grupo Controle-Final: porcentagem de acertos, erros e omissões. ………………………………………..……….. 80 Tabela 6 - Médias dos dados das produções ……………………………………………….…………………………………… 82 Tabela 7 - Valores dos formantes 1 e 2 para a LA encontrados em Kent, 1992 ……………………………………...……… 92 Tabela 8 - Valores dos formantes 1 e 2 para a LA encontrados em Peterson e Barney (1952) apud Kent, 1992. …............….. 92 Tabela 9 - Valores dos formantes 1 e 2 para a LA encontrados em Ladfoged, 1993 ……………………………………............ 92 Tabela 10 - Valores dos formantes 1 e 2 para a LA encontrados em IPA, 1996 …………………………………………......... 92 Tabela 11 - Valores dos formantes 1 e 2 para a LA encontrados Picket, 1999 ………………………………………….......… 93 Tabela 12 - Valores dos formantes 1 e 2 para a LA obtidos neste trabalho. ……………………………………………….....… 93 Tabela 13 - Valores dos formantes 1 e 2 para a LM encontrados em Cagliari, 1977. ……………………………………........ 93 Tabela 14 - Valores dos formantes 1 e 2 para a LM encontrados em Matta Machado, 1981 ……………………………....... 93 Tabela 15 - Valores dos formantes 1 e 2 para a LM encontrados em Behlau, 1988. ………………………………………...... 93 Tabela 16 - Valores dos formantes 1 e 2 para a LM encontrados em Sousa, 1994. ………………………………………….... 93 Tabela 17- Resultados do teste de percepção grupo-controle. …………………………………………………………………. 120 Tabela 18 - Resultados do teste de percepção grupo-teste. ……………………………………………………………………. 121 LISTA DE SÍMBOLOS FONÉTICOS Os símbolos fonéticos utilizados neste trabalho seguem o The International Phonetic Association – IPA - de 1983 atualizado, em 1996. As transcrições fonéticas utilizadas para a língua inglesa foram extraídas do Cambridge International Dictionary of English (1995) e as do português brasileiro foram baseadas nos trabalhos consultados. A seguir, são apresentados os símbolos fonéticos dos segmentos investigados neste trabalho. Vogais investigadas do inglês i˘ Vogal anterior, alta, tensa (longa), não arredondada. I Vogal anterior (centralizada), alta, frouxa (breve), não arredondada. i Símbolo que representa a neutralização do segmento /i˘/ ou /I/. j Glide palatal / semivogal palatal ou aproximante 1. Vogais investigadas do português i Vogal alta, anterior, não arredondada oral. Alofones da vogal /ii/ [i˘] Vogal alta, anterior, não arredondada, alongada. [I] Vogal alta, centralizada, não arredondada. [i] Vogal alta, anterior, não arredondada oral, posição postônica. [j] Glide palatal / semivogal palatal ou aproximante. 1 Glide = um fonema vocálico breve (1) o qual funciona em algumas línguas como uma consoante (2). Os glides ingleses /j/ e /w/ como em yes e win são versões breves de [i] e [u]. Podem-se encontrar como notações equivalentes os símbolos [I, U] ou [y,w] – tradução da autora para Trask (1996:157). De acordo com Kent e Read (1992:136) os termos glide, semivogal ou aproximante são todos usados para descrever o segmentos /j/. Neste trabalho utilizar-se-á o termo glide. 1 1 INTRODUÇÃO De acordo com Baptista (2000:19), nos últimos anos, os educadores de segunda língua e língua estrangeira têm renovado seu interesse pelo sistema sonoro da língua inglesa, que, de agora em diante, passa-se a chamar de língua-alvo (LA). Pesquisadores no campo da aquisição de segunda língua consideram o sistema sonoro uma área intrigante de pesquisa. Este interesse é evidenciado pelo crescente número de manuais de pronúncia que têm sido publicados como, por exemplo, os de Morley (1979), Roach (1983) e as antologias dos estudos de aquisição da fonologia de segunda língua (JAMES e LEATHER, 1986, IOUP e WEINBERGER 1987). A área de fonética e fonologia, especificamente pronúncia, apresentam um visível crescimento considerando o número de pesquisas que vêm sendo publicadas. Contudo, a área de aquisição fonológica de língua estrangeira ainda possui muitas lacunas para serem preenchidas (BAPTISTA, 2000:20). Com o objetivo de contribuir neste sentido, o presente estudo pretende mostrar alguns aspectos relevantes da utilização da fonética e da fonologia para a aquisição de língua estrangeira. A relevância da fonética e da fonologia, tratadas em conjunto, para o ensino e aprendizagem de segunda língua, está no fato de uma completar a outra em função do estudo dos sons da fala. A fonética é basicamente descritiva e sua análise baseia-se nos processos de percepção e de produção dos sons. Já a fonologia é interpretativa, e sua análise baseia-se no comportamento dos sons dentro de uma língua. Assim, Cagliari (2002:18-19) afirma que o entrosamento entre a fonética e a fonologia representa a 2 exigência de adequação da interpretação gerada pelos modelos teóricos com os fatos concretos das línguas específicas.Tipicamente, a fonética representa os sons entre colchetes; [i]. A fonologia utiliza barras transversais para representar os sons: /i/. Dessa forma, o presente trabalho utilizou a fonética e a fonologia para estudar o sistema vocálico da LA e do português brasileiro, que, de agora em diante, tratar-se-á por língua materna (LM), com o intuito de investigar a produção de alguns segmentos vocálicos. Vogais são sons da fala humana produzidos por um fluxo de ar ininterrupto acompanhado de vibração das cordas vocais (JONES, 1956:12). Diferentes sons vocálicos podem ser produzidos, variando de forma contínua por meio de um número praticamente infinito de posições intermediárias da língua dentro da cavidade bucal. Assim sendo, uma pequena alteração na configuração da língua causa efeitos articulatórios, auditivos e acústicos significativos. Por ser o sistema vocálico complexo, qualquer mudança na articulação pode acarretar na produção de um outro segmento. A teoria das vogais cardeais é um sistema de pontos de referência para a classificação de vogais e foi primeiro esboçado por A. J. Ellis, em 1844. O termo Cardeal foi utilizado por A. M. Bell, em 1867, remetendo aos pontos cardeais. Daniel Jones, em 1917, na primeira edição do English pronouncing dictionary, classifica as vogais do inglês a partir desse método. A proposta de Daniel Jones foi desenvolvida, ao ponto em que se encontra atualmente, por Abercrombie (1967:151-162). O método das vogais cardeais é um dos mais utilizados para a descrição e interpretação dos segmentos vocálicos. Jones (1956), Abercrombie (1967), Kreidler (1989:295), Ladefoged (1993:219), Cristófaro-Silva (1999), todos os autores afirmam que esse método é 3 relevante por nos permitir caracterizar qualquer segmento vocálico de qualquer língua. Adicionalmente, admite relacionar os correlatos articulatórios, auditivos e acústicos. Esta dissertação investigou a hipótese de que a conscientização dos aprendizes quanto aos parâmetros fonéticos e fonológicos da língua materna e da língua estrangeira contribui para a proficiência desta última, além de promover uma relativa autonomia no aprendizado de pronúncia da língua-alvo. 1.1 Justificativa teórica da pesquisa Jones (2002:178) relata que Brazil, Coulthard e Johns (1980)2; Brown e Yule (1983)3 afirmam que o ensino de pronúncia está experimentando um novo momento, impulsionado pelo aumento da conscientização e da função comunicativa dos aspectos suprasegmentais como, por exemplo, ritmo e entonação no discurso falado. Percebe-se, contudo, que o nível segmental continua tendo sua relevância na aquisição do sistema sonoro da língua-alvo, principalmente se o segmento que ocorre na língua materna ocorre de forma similar na língua-alvo. Por exemplo, tanto no português quanto no inglês temos o som [i]. Porém este som, nas duas línguas, apresenta propriedades articulatórias diferenciadas, embora mostrem algumas semelhanças. Além disso, existem divergências em relação à existência de um modelo referencial de pronúncia que deva ser adotado, ou mesmo, se deve haver ou não um 2 BRAZIL, D., COULTHARD, M. e JOHNS, C. Discourse intonation and language teaching. London: Longman, 1980. 3 BROWN, G. e YULE, G. Teaching the spoken language. Cambridge: University Press, 1983. 4 modelo de pronúncia. Mas alguns parâmetros são independentes de tais questionamentos e devem ser observados para se atingir uma comunicação eficaz e inteligível na língua-alvo. Num estudo fonológico, Jenkins (2000:132), mostra uma lista de sete itens ligados à pronúncia que devem ser priorizados pelos falantes não-nativos da línguaalvo, para que atinjam uma comunicação inteligível em qualquer lugar do mundo. Dentre esses parâmetros estão: a duração das vogais, fusão de consoantes4, realização fonética, simplificação de encontro consonantal, acentuação de formas não acentuadas, grupos tonais e acentuação contrastiva. Como objeto de estudo deste projeto foi escolhida a qualidade da produção das vogais na língua-alvo, ou seja, a distinção entre as vogais longas (e também tensas) e vogais breves (e também frouxas). Também será realizado neste trabalho um estudo do glide /j/, por se tratar de uma semivogal, a qual é uma versão não silábica da vogal alta [I] (LADEFOGED, 1993:229). A escolha desses sons foi motivada pelo fato de o alongamento das vogais ser de difícil distinção por aprendizes brasileiros de inglês e também pelo fato de os segmentos em questão, em muitos casos, não ocorrerem na língua materna da mesma forma que acontecem na língua-alvo. Por exemplo, o [I] do inglês ocorre em posição tônica, como em sh[I]p, o que não acontece com o mesmo segmento na LM. Na LM, o segmento [I] se dá em sílaba átona, como em mol[I]. Outro exemplo é o glide [j] que, na língua-alvo, ocorre no início de palavras, seguido de vogal, como em [j]es. No português brasileiro, o glide [j] pode ocorrer da mesma forma que no caso anterior, mas 4 Tradução da autora da dissertação para os seguintes termos em inglês respectivamente : consonant conflations, phonetic realisations, consonant cluster simplification, prominence, weak forms, tonal groups, contrastive stress. 5 também alterna com uma vogal plena, o que não ocorre no inglês. Esses casos serão explicados com mais detalhes a seguir. De acordo com autores como Jones (1956), Abercombrie (1967) e Kreidler (1989), as vogais longas do inglês têm caráter distintivo em relação às vogais breves, ou seja, são consideradas fonemas5. Porém, no português, as vogais longas ou alongadas não têm caráter distintivo, logo, não são fonemas, mas são tratadas como alofones6 ou variantes das vogais correspondentes. Veja-se que no inglês há o contraste entre [i˘] e [I], como em sheep [Si˘p] (ovelha) e ship [SIp] (navio), caracterizando /i˘/ e /I/ como fonemas distintos do inglês7. Já no português brasileiro as vogais [i˘] e [i] alternam em casos como d[i˘]g[i]no e d[i]gno. A alternância entre [i˘] e [i] na LM é condicionada pelo fato de a vogal ocorrer em sílaba tônica e de acorrer ou não epêntese8 na sílaba seguinte. A alternância entre [i˘] e [i] é previsível na LM porque, os mesmos, são alofones do fonema /i/9. Azevedo (1981:60) realizou um estudo inverso ao que está sendo proposto neste projeto. Ele observou o falante nativo da língua inglesa aprendendo português. Azevedo (1981) fez algumas considerações em relação ao segmento /i/. O autor constatou que, para algumas palavras, o /i˘/ e o /I/ do inglês se encaixam perfeitamente 5 Entende-se por fonema um segmento que tem caráter contrastivo no sistema sonoro. Entendem-se por alofones segmentos que são variantes de um fonema. 7 Os símbolos diferem para caracterizar /i˘/ e /I/ refletem diferentes qualidades vocálicas. Esse tópico será abordado mais adiante. 8 Epêntese é um processo fonológico em que há a adição de um segmento ou som em uma palavra. No caso em questão, a vogal [i] é epentética. 9 Nos apêndices E e F encontram-se dois demonstrativos com as ocorrências das vogais altas frontais no português brasileiro e no inglês. 6 6 na produção do /i/ do português, como nas palavras citar do português e sitar (cítara) do inglês. A questão de empregar um segmento da língua materna na língua-alvo é denominada transferência (ODLIN, 1989 e KEYS, 2001). O fenômeno descrito acima representa isto, mas não cria problemas para os falantes ingleses de português brasileiro porque os segmentos [i] e [I] não têm caráter distintivo no português brasileiro, sendo que o contraste, com valor fonêmico, ocorre apenas no inglês: sh[I]p e sh[i˘]p (navio e ovelha) respectivamente. Keys (2001) afirma que o problema de transferência é o mesmo encontrado nos falantes brasileiros de inglês, fato este que é ilustrado na figura obtida por meio da inversão daquela proposta por Azevedo (1981). A figura 1 representa os segmentos /i˘/ e /I/ do inglês e o segmento /i/ do português brasileiro, com seus respectivos alofones. As setas indicam a correspondência entre os segmentos do inglês e os respectivos alofones no português brasileiro. 7 Português Inglês [ i˘ ] [i] = /i/ [ i] /ii/ = [I] [I] Legenda x x x x x y y y y y = = = = = x pode ser usado como um similar de y em quase todos os casos. x pode ser usado como y em certas posições específicas. x e y são alofones do mesmo fonema. x tende a ser incorretamente usado como y pelos falantes da L1 x e y são fonemas distintos. I/ do inglês e seus respectivos alofones, Figura 1 - O relacionamento entre os fonemas /i/ do português e /i˘˘/ e /I Fonte - Keys, 2001, p. 9. A correlação dos segmentos supracitados foi bem elaborada, mas não representa a realidade encontrada nos aprendizes brasileiros de inglês. Ou seja, o fato demonstrado acima não acontece de forma tão determinística. A realização desses segmentos, tanto no inglês quanto no português, é permeada por diversos fatores e situações. Na figura 2, será mostrado o contexto no qual o fonema /i/ do português brasileiro, mais especificamente do dialeto de Belo Horizonte, acontece e seus respectivos alofones. 8 posição tônica seguida de C ou V (obrigatório) p[i ]a V[i]da v[i]tal V[I]tal Final val[i] val[I] Medial ar[i]do Pretônica [i] /i/ posição átona seguida de C (opcional) Postônica posição pretônica precedida de V (opcional) v[ai]dade posição pretônica seguida de V (opcional) p[ia]da p[Ia]da posição postônica seguida de V (opcional) sáb[i]a sáb[I]a v[i]tal V[I]tal Final val[i] val[I] Medial ar[i]do Ar[I]do seguida de V sáb[i]a sáb[I]a p[ia]da p[Ia]da sáb[i]a sáb[I]a Pretônica [I] posição átona seguida de C (opcional Postônica [I] Ar[I]do posição pretônica seguida de V (opcional) posição postônica seguida de V (opcional) glide posi- posição pretônica seguida de V (opcional) ção posição postônica precedida de V (opcional) átona Posição postônica intervocálica v[aI]dade v[ai]dade v[aI]dade s[eI] va S[aI]a [i˘] posição tônica seguida de C1$C2 [V epentética] s[i˘]g[i]no [j] Formas com o infixo – sion- na[sjon]al Figura 2 - O fonema /i i/ do português brasileiro e seus alofones. Sendo V (vogal) e C (consoante). Fonte - Kikuchi, 2001, p. 87. Na figura 2 são apresentados todos os casos do fonema /i/ do português brasileiro, com suas respectivas alofonias, bem como a ocorrência do glide [j]. Na figura 3, é visto o contexto no qual os fonemas /i˘/, /I/ e glide /j/ do inglês acontecem. /i ˘/ Ocorre em sílabas abertas ou fechadas /i/ Ocorre em posição átona (neutralização, o segmento perde o contraste Happy – [»hQpi] fonêmico quando em sílaba átona ou quando seguido de outra vogal) Easy - [»i˘zi] /I/ Ocorre somente em sílaba fechada /j/ É interpretado como uma consoante. Ocorre no início de palavra Yes – [jes] seguido de vogal, precedido de consoante ou seguido da vogal /u˘/ Yell – [jEl] Figura 3 - Vogais altas frontais do inglês e o glide /jj/ Tea – [ti ˘] Eat - [i ˘t] It – [It] 9 De acordo com o que acaba de ser apresentado, podem-se encontrar os segmentos foneticamente similares aos do inglês no português brasileiro, acontecendo como alofones. Mesmo assim, os aprendizes brasileiros de inglês têm dificuldades em produzi-los. Algumas questões são apontadas como causadoras de problemas para os aprendizes brasileiros de inglês: • • • • a duração das vogais do inglês é uma característica que não ocorre da mesma forma no português brasileiro; o fato de o segmento existir na língua materna e ocorrer na língua-alvo com tonicidade diferente; a especificidade articulatória dos segmentos /I/ e /i˘/ na língua-alvo; os correlatos ortográficos dos segmentos não corresponderem à produção oral. Exemplos desses casos podem ser observados a seguir: 1. o primeiro caso é o do segmento /i˘/. Na língua-alvo, esse segmento é caracterizado como uma vogal longa como, por exemplo, na palavra seat [si˘t]. A vogal longa é relativa em relação à vogal curta. Os falantes ingleses têm duas categorias distintas. Observa-se que os aprendizes brasileiros de inglês, embora tendo o alofone [i˘] no português, como em d[i˘]g[i]no, tendem a não produzi-lo com a duração correta em inglês, realizando, como correlato de [i˘], um dos segmentos [i] ou [I]; Inglês Possível produção do falante do PB Seat [si˘t] [sit] [sIt] Sheep [Si˘p] [ Sip] [SIp] Figura 4 - Exemplos para o segmento /ii˘/. 2. outro caso é o fonema /I/ do inglês, que é uma vogal breve e apresenta qualidade vocálica semelhante à vogal [e] do português, como em v[e]z. A diferença crucial entre 10 [I] e [e] é que a primeira é frouxa e a segunda é tensa. Assim, o aprendiz brasileiro de inglês tende a produzi-la tipicamente como o segmento [i]10; Miss Inglês [mIs] Bliss [blIs] Possível produção do falante do PB [mis] [blis] Figura 5 - Exemplos para o segmento /II/. 3. esse caso faz referência à vogal [i] no final de palavra. Aprendizes brasileiros de inglês tendem a omitir o [i] átono em final de palavras do inglês ou tendem a pronunciálas com um som muito breve, que se assemelha a [I]; Inglês Possível produção do falante do PB Valley [vQli] [valI] [valei] Noisy [nçIzi] [nçizi] [nçiz] Figura 6 - Exemplos para o segmento /ii/ neutralizado. 4. em todos os casos acima, pode-se considerar que uma parcela dos problemas encontrados pelos aprendizes brasileiros de inglês pode ser causada devido aos correlatos ortográficos, em que uma seqüência de letras pode representar o mesmo som, duas ou mais letras um único som ou uma letra, um conjunto de sons11; Inglês Meat Meet Piano [mi˘t] [mi˘t] [pI»Qn´U] Possível produção do falante do PB [mitSi] [mitSi] [mit] [mit] [»pijanU] Figura 7 - Exemplos para correlatos ortográficos. 5. o último caso diz respeito ao glide palatal /j/ (som vocálico [i] como em yes, mas que, fonologicamente, corresponde a um som consonantal seguido de vogal). Em português, 10 (cf. item no. 4 página 10) Este caso pode refletir em grande parte a interferência da ortografia na aquisição da LA. Na grande maioria das vezes, temos a letra ‘i’ como correlato ortografico de [I]. Na LM a letra ‘i’ tem, sistematicamente, como correlato sonoro, a vogal [i]. Sendo assim, falantes do português brasileiro interpretam a letra ‘i’ como o som [i]. A investigação da interferencia de padrões ortográficos na aquisição da LA nos levaria muito além dos propósitos desta dissertação. Contudo, é tópico importante a ser investigado em pesquisas futuras. 11 11 o glide palatal /j/ acontece precedendo uma vogal (iemanjá, pianista). Nesse caso, quando o mesmo precede uma vogal, o glide pode alternar com a vogal alta correspondente ([j]emanjá x [i]emanjá). O glide pode também acontecer no meio de sílaba em formas como um infixo –sion (nacional). Na língua-alvo, este segmento pode suceder, como no caso do português, no início de palavra seguido de vogal, como em yes, mas, diferente do português brasileiro, não há alternância entre o glide e a vogal, ou seja, [j]es mas não [i]es. Em inglês, o glide /j/ também ocorre precedido de consoante e seguido da vogal [u˘], como em tune. A produção do glide /j/ na LA é em continuidade à vogal que o segue e, no português brasileiro, pode ser produzido tanto em continuidade à vogal que o segue como em duas sílabas. Assim, os aprendizes brasileiros de inglês tendem a produzir a semivogal inicial alternando com a vogal alta correspondente [jes] x [ies] e não como uma consoante e uma vogal, por exemplo: Yes Yellow Inglês [¡¡jes] [jel´U] Possível produção do falante do PB [ies] [iel´U] Figura 8 - Exemplos para o segmento glide /jj/. De acordo com o que foi apresentado, o nível de distinção de alongamento entre vogais tensas e frouxas, o conhecimento do sistema sonoro de ambas as línguas, bem como questões articulatórias comprometem a comunicação na língua-alvo, merecendo, assim, maior atenção nos estudos de aquisição fonológica de segunda língua. Portanto, os benefícios deste trabalho seriam contribuir futuramente para o aprimoramento do ensino de pronúncia, em termos de insumo pedagógico em relação à articulação e ao relacionamento entre os sons do inglês e do português brasileiro. Objetiva-se também contribuir, ainda que de forma incipiente, para um futuro 12 desenvolvimento de uma metodologia mais adequada para o ensino da pronúncia das vogais do inglês como língua estrangeira. 1.2 Organização do trabalho Este trabalho está dividido em seis capítulos, o capítulo 1 é introdutório e da uma visão geral do trabalho. O capítulo base é o de número 2, no qual se esboça a perspectiva teórica. Nesse capítulo, apresenta-se o panorama do ensino de pronúncia a partir de um levantamento das abordagens e metodologias utilizadas até os dias de hoje. Discute-se o ensino de pronúncia atualmente, com a abordagem comunicativa, e também faz-se uma investigação da interação entre abordagens empíricas e produção de material didático. Nesse mesmo capítulo, apresenta-se uma seção que discute a interface entre a fonética e a fonologia. Áreas estas que estão diretamente relacionadas à aprendizagem de pronúncia. Ainda, no capítulo 2, apresentam-se aspectos quanto às questões cognitivas que permeiam o processo de aprendizagem de segunda língua, questões ligadas à conscientização (SCHMIDT, 2001). No capítulo 3, expõe-se a metodologia utilizada neste trabalho. Apresenta-se o desenvolvimento metodológico, bem como os procedimentos utilizados. Salienta-se que, para a realização deste trabalho, foram utilizados trabalhos descritivos de outros autores, que tratam das vogais altas frontais e do glide /j/, em contraste com os dados encontrados nesta pesquisa. A escolha desses sons se deu, primeiramente, pelo fato de 13 que, embora /i/, /i˘, I, j/ ocorram como sons individuais, tanto no português quanto no inglês, a distribuição de tais sons é particular a cada uma das línguas em questão. Esta escolha é corroborada pelas afirmações de pesquisadores como Ladefoged (1993), Mayor (1994) e Jenkins (2000). Esses autores afirmam que, dentre outros itens, a qualidade na produção das vogais é importante para estabelecer uma comunicação inteligível na língua-alvo e também pelo fato de muitos estudos de pesquisadores como Odlin (1989), Ladefoged (1993) e Pennington (1996) apresentarem possíveis problemas que aprendizes de inglês, como língua estrangeira ou segunda língua, podem encontrar na produção da LA, sem, contudo, discutir soluções para eles. Os dados aqui coletados são de aprendizes brasileiros de inglês de Belo Horizonte. A pesquisa considerou tanto a produção da língua materna quanto da línguaalvo. Neste trabalho, não se fazem considerações quanto ao sotaque dos aprendizes, ou seja, não é relevante se o aprendiz tem uma pronúncia parecida com a do inglês britânico (Received Pronunciation – RP) ou com a do inglês americano (General American – GA). O que é relevante é a qualidade da produção do segmento e o quão inteligível o mesmo se mostra. No capítulo 4, apresentam-se os resultados dos testes de produção. Os testes realizados foram perceptivos e acústicos. Chama-se de teste perceptivo, neste trabalho, a avaliação das produções, na qual três pessoas ouviram as gravações e julgaram as produções corretas ou incorretas. Os testes acústicos compreendem a investigação dos 14 formantes12 1 e 2 e também a investigação da duração de cada segmento produzido. No capítulo 5, discutem-se os resultados considerando suas implicações teóricas, metodológicas e pedagógicas. No último capítulo, capítulo 6, são apresentadas as conclusões gerais do trabalho e são formuladas algumas considerações quanto ao ensino e aprendizagem de pronúncia de língua estrangeira. 1.3 Objetivos e hipóteses de pesquisa Um aprendiz de línguas passa por várias etapas com relação a seu desenvolvimento lingüístico e cognitivo até chegar à produção oral da língua-alvo. Assim sendo, este projeto visa investigar a eficácia da instrução formal quanto aos parâmetros fonéticos e fonológicos, dentro do processo de aquisição de segunda língua ou língua estrangeira, mais especificamente, a produção oral. A relevância deste projeto está no fato de o sistema sonoro da língua-alvo ser distinto daquele da língua materna, mas apresenta alguns segmentos semelhantes, fato este que cria dificuldades aos aprendizes brasileiros de inglês para a produção oral da língua-alvo. Daí a necessidade de realizarem-se mais pesquisas nessa área com o intuito de investigar a aquisição do sistema sonoro de línguas distintas. 12 É chamado de formante o nível de freqüência no qual um determinado som é produzido. As vogais são determinadas por três níveis de formantes. 15 Este projeto tem um objetivo geral, detalhado sob a forma de objetivos específicos. 1.3.1 Objetivo geral O objetivo geral deste trabalho é investigar a hipótese da relevância da conscientização dos aprendizes quanto aos parâmetros fonéticos e fonológicos da LM e da LA para um aprendizado dinâmico e uma maior proficiência na L2. Para tal projeto, investigou-se a produção oral das vogais altas frontais [i˘, I, i] e o glide [j] do inglês e do português brasileiro, visando comprovar a relevância da conscientização de parâmetros articulatórios e funcionais para melhorar o desempenho quanto à aquisição da pronúncia de língua estrangeira. Este projeto utilizou como substrato teórico trabalhos descritivos de alguns pesquisadores, como Kikuchi (2001), que tiveram como foco as vogais do inglês e do português como base para avaliar a aprendizagem dos segmentos aqui estudados. Este objetivo geral será detalhado em objetivos específicos subjacentes. 16 1.3.2 Objetivos específicos Como objetivos específicos deste trabalho apontam-se: apresentar a relevância da fonética e da fonologia para a aquisição da língua-alvo, a partir da conscientização de parâmetros articulatórios e funcionais; investigar a influência da língua materna na aquisição das vogais altas frontais da língua-alvo; investigar a importância do detalhe fonético para a aquisição e aprendizagem da LA; testar a hipótese de que a conscientização dos aprendizes quanto aos parâmetros fonéticos e fonológicos contribuem para a aprendizagem mais eficaz da língua-alvo; contribuir com dados para a discussão do processo de ensino de pronúncia de inglês atualmente; apresentar, mesmo que de maneira incipiente, insumo pedagógico para o aprimoramento do ensino da pronúncia do inglês, com relação às vogais altas frontais e o glide /j/. 17 2 PERSPECTIVA TEÓRICA 2.1 Introdução Existem vários aspectos que permeiam a aquisição de língua estrangeira. Dentre eles, a sintaxe, a morfologia, a semântica e a fonologia. Neste estudo, abordam-se o ensino e a aprendizagem de pronúncia, por ser esta uma área menos provida de pesquisas empíricas e por ter sido considerada, ao longo de muitos anos, uma área de menor importância em relação às outras acima citadas. Afirma-se, a priori, que este capítulo tem um caráter ilustrativo. Visa-se, aqui, apresentar as principais teorias, as pesquisas empíricas mais relevantes e os materiais didáticos que geralmente são utilizados no ensino e aprendizagem de pronúncia. Na seção 2.2, apresenta-se um panorama do ensino de pronúncia, fazendo uma revisão dos métodos e abordagens de ensino de segunda língua ou língua estrangeira. Mostra-se, também, uma investigação do ensino de pronúncia que é oferecido nos materiais didáticos atuais. Na seção 2.3, estão as teorias que foram utilizadas como suporte para o desenvolvimento deste projeto. Finalmente, na seção 2.4, estuda-se o desenvolvimento das pesquisas voltadas à transferência lingüística até a teoria de interlíngua, o qual é um aspecto importante para o desenvolvimento da aquisição do sistema sonoro da LA. Na seção 2.5, faz-se uma conclusão geral do capítulo. Desse modo, este capítulo tem como objetivo contextualizar essa pesquisa dentro da grande 18 área da fonética e da fonologia, bem como mostrar a relevância dessas áreas para a referida investigação. 2.2 Panorama do ensino de pronúncia É apresentada, nesta seção, uma breve revisão bibliográfica sobre o ensino de pronúncia do inglês como segunda língua, observando-se várias abordagens e metodologias. Assim, faz-se um levantamento de como o assunto tem sido tratado pelos manuais de pronúncia e pelos materiais didáticos. Leather (1999:1) afirma que a pronúncia é um aspecto dentro da aquisição de segunda língua no qual os aprendizes têm muita consciência de sua necessidade e, às vezes, até clara motivação para aprendê-lo, porque sabem da implicação social de um sotaque. Contudo, por muitos anos, o ensino de pronúncia foi considerado desnecessário por algumas teorias e abordagens, tais como, o método direto e as abordagens naturalísticas. Segundo Morley (1994:66), tal comportamento foi devido à crença de que a pronúncia não era importante, não poderia ser ensinada e, sim, adquirida pelos aprendizes durante seu aprendizado. Nesse momento salienta-se a distinção entre aquisição e aprendizagem. Basicamente, a aquisição é tida como inconsciente, inerente à vontade do indivíduo, e aprendizagem, por outro lado, é consciente. Assim, aquisição se dá no nível do subconsciente, uma função que o cérebro não pode evitar cumprir ao ser exposto aos impulsos auditivos identificados como mensagem codificada em língua. Aprendizagem, por sua vez, significa saber as regras e ter consciência delas. Carioni 19 (1988:52) sintetiza como aquisição se saber “usar” a língua e aprendizagem saber “sobre” a língua. Gradativamente, o interesse no ensino de pronúncia vem aumentando, sendo este reconhecido como um ponto importante no currículo de ensino e aprendizagem de segunda língua. Pennington (1994:104), em conclusão sobre ensino e aprendizagem de pronúncia, afirma que a instrução desempenha um papel importante no sentido de ajudar o aprendiz a desenvolver sua competência perceptiva e produtiva, dando-lhe motivação para desenvolver novos conceitos sobre a língua-alvo. A fim de apresentar o desenvolvimento do ensino de pronúncia, far-se-á uma revisão das abordagens mais importantes já utilizadas para o ensino de inglês como segunda língua ou língua estrangeira. Esta revisão foi baseada na obra de Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (1996:2-11) e será apresentada resumidamente nesta seção. O Método Direto e as Abordagens Naturalísticas de acordo com Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (1996), no método direto o ensino de pronúncia é realizado intuitivamente, a partir da imitação do professor ou de uma gravação em áudio. O aprendiz faz o seu melhor para aproximar-se da produção do modelo. Este método foi desenvolvido a partir da observação do aprendizado da LM. O sucessor do método direito foi a abordagem naturalística. Os métodos naturalísticos dedicam-se a fornecer insumo auditivo ao aprendiz, sem que o mesmo realize qualquer produção oral. Dessa forma, afirma-se que o aprendiz terá a oportunidade de internalizar o sistema sonoro da LA e, quando estiver preparado para a produção oral, acredita-se que sua pronúncia 20 estará desenvolvida ainda que não tenha recebido nenhuma instrução explícita de pronúncia. Dentre as abordagens naturalísticas incluem-se a Resposta física total (Total Physical Response) de Asher (1977)13 apud Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (1996) e a Abordagem Natural (Natural Approach) de Krashen e Terrell (1983)14 apud CelceMurcia, Brinton e Goodwin (1996). O Movimento de Reforma foi, conforme Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (1996) a primeira contribuição lingüística para o ensino de pronúncia. Surgiu no final do século XIX como parte do Movimento de Reforma no ensino de línguas, influenciado diretamente por fonólogos criadores da Associação Internacional de Fonética (International Phonetic Association – IPA) e elaboradores do alfabeto fonético. Esse movimento proporcionou grandes mudanças no ensino de pronúncia, já que seu objetivo principal, a produção oral, era enfatizado desde o início da aprendizagem. Acreditava-se que a pronúncia deveria ser salientada e ensinada explicitamente com a ajuda do alfabeto fonético. Os professores recebiam sólido treinamento fonético, que, posteriormente, o passava para os aprendizes. De acordo com Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (1996) esse movimento veio influenciar muito o ensino atual de pronúncia. A Abordagem Audiolíngual e a Abordagem Oral da mesma forma que na proposta anterior, a pronúncia é considerada primordial e é ensinada explicitamente desde o início do processo de aprendizagem. Conforme, Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (1996) a metodologia de ensino utilizada é similar ao Método Direto em que 13 ASHER, J. J. Learning another language through actions: the complete teachers’ guide book. Los Gatos, CA: Sky Oaks Productions, 1977. 14 KRASHEN, S. D. e TARRELL, T. D. The Natural Approach. Hayward: Alemany Press, 1983. 21 ocorre a repetição ou imitação de um modelo (professor ou gravação). Por outro lado, há também a repetição de pares mínimos de palavras e a utilização de informações fonéticas, como transcrições e detalhes articulatórios dos sons, com o intuito de ajudar os aprendizes na aquisição do componente sonoro da LA. Segundo, Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (1996), nos anos 60, com a efervescência da abordagem cognitiva e influenciada pela Gramática GerativaTransformacional de Chomsky (1959, 1965) e também pela psicologia cognitiva, o ensino de pronúncia que, por muitos anos ocupou um papel relevante no currículo de ensino de segunda língua, entrou em declínio. Isso ocorreu devido à crença dos gerativistas quanto à linguagem ser governada por regras e não pela formação de hábitos, os quais eram propostos pelas abordagens de ensino anteriores. Dessa forma, a idéia vigente desse período, quanto ao ensino de pronúncia, é que a mesma seria uma perda de tempo, uma vez que não se poderia aprendê-la. Seria melhor, portanto, aproveitar o tempo aprendendo estruturas gramáticas. Apesar dessas mudanças na proposta do ensino de pronúncia, esta reaparece com o Silent Way mas tratada de maneira bem diferente. Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (1996), afirmam que como a abordagem audiolíngual, o Silent Way propõe que o ensino de pronúncia seja desenvolvido desde o início da aprendizagem. Acredita-se que a instrução explícita de pronúncia pode melhorá-la. São enfatizadas particularidades como elisões, acentuação e entonação. A diferença do audiolingual para o Silent Way está no fato de que, no Silent Way, a atenção do aprendiz é direcionada para o sistema sonoro, sem ter que aprender o alfabeto fonético. Outra inovação nessa abordagem é o tipo de 22 metodologia utilizada em que o professor fala pouco e utiliza muitos recursos visuais para indicar o que o aprendiz deve fazer. Aprendizagem coletiva de língua15: esse método relatado por Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (1996:7), combina técnicas novas e tradicionais como, por exemplo, tradução, gravações e reflexões sobre a pronúncia dos aprendizes. A abordagem sugere, ainda, que os aprendizes tomem a direção do seu aprendizado, decidindo o programa do curso e o que eles gostariam de aprender. Assim as aulas são ministradas com os aprendizes sentados em volta de uma mesa e o professor/instrutor ficando atrás deles. Os aprendizes decidem o que vai ser trabalhado naquele dia, e o professor/instrutor, a partir da solicitação dos aprendizes traduz para a LA, frases, palavras ou expressões idiomáticas, divididas em partes. Os aprendizes vão reconstruindo essas expressões até produzi-las corretamente na língua-alvo. Quando isso acontece, os mesmos são gravados em áudio. Na segunda parte da aula, os aprendizes escutam a fita e o professor/instrutor traduz palavra por palavra. Com relação à pronúncia, os aprendizes é que decidem qual aspecto eles querem trabalhar e o professor/instrutor, como um computador humano, repete quantas vezes os aprendizes acharem necessário para que os mesmos memorizem. Esse papel imitativo e intuitivo do professor nessa abordagem assemelha-se ao Método Direto, mas a questão relacionada ao conteúdo que será desenvolvido e qual prática será realizada cabe ao aprendiz/cliente e não ao professor, nem ao livro didático. 15 Tradução da autora da dissertação para: Community Language Learning. 23 Abordagem Comunicativa: nesta última abordagem, novamente, a importância do ensino de pronúncia é reativado, mas não como nas abordagens anteriores. Agora a noção de ensino de língua é voltado, primordialmente, para a comunicação. Assim, de acordo com Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (1996:7-11), o ensino de pronúncia se faz necessário porque, mesmo quando o aprendiz alcança o domínio da gramática e do vocabulário, pesquisas indicam que isso não garante o seu sucesso na comunicação oral (Hinofotis e Bailey, 1980)16 apud Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (1996). Salienta-se que a prioridade da abordagem comunicativa não é a aquisição de uma pronúncia nativa, mas, sim, um nível satisfatório de inteligibilidade. Os primeiros seguidores dessa abordagem preferiam focar o ensino nos itens supra-segmentais. Atualmente, reconhece-se a importância tanto dos itens supra-segmentais como os segmentais para o ensino de pronúncia, visando a comunicação oral inteligível. Dessa forma, reconhece-se que tanto a distinção de sons com alto valor funcional, como os segmento /i˘/ em l[i˘]st (least – o mínimo) e /I/ em l[I]st (list – lista) quanto o estudo de aspectos supra-segmentais como entonação e acentuação distintiva em palavras ou frases. A metodologia utilizada nessa abordagem está em constante desenvolvimento. Para atingir os objetivos da comunicação, utilizam-se meios tecnológicos, atividades interdisciplinares, fatores sociopsicológicos e, também, considera-se a participação ativa do aprendiz no processo de aprendizagem como um todo. 16 HINOFOTIS, F. e BAILEY, K. M. American undergraduates’ reactions to the communication skills of foreign teaching assistants. In: FISCHER, J. C.; CLARKE, M. A. e SCHACHTER, J. (Eds).TESOL’ 80. Alexandria, VA: pp. 120-135, 1980. 24 Embora tenha-se reconhecido a importância do ensino de pronúncia a partir de uma técnica comunicativa, tanto os professores quanto os produtores de material didático que seguem essa abordagem admitem ser uma tarefa difícil incorporar aspectos comunicativos em suas práticas e produções. 2.2.1 Análise dos materiais didáticos Nesta seção, discutir-se-á o ensino de pronúncia proposto por cinco livros didáticos mais populares no Brasil. Além das investigações realizadas neste trabalho, acrescentar-se-ão resultados da investigação realizada por Silveira (2002). Silveira (2002) realizou uma investigação em alguns livros didáticos, observando como os mesmos tratavam o componente de pronúncia. Os materiais investigados foram Headway (Soars e Soars, 1987); Interchange e sua nova versão, New Interchange (Richards, Proctor e Hull, 1990, 1997); American Dimensions (O’neill, Mugglestone e Anger, 1992) e Cambridge English for the World (Littlejohn e Hicks, 1996). Completa-se esta lista com um material que é muito utilizado em Belo Horizonte, que é a série English File (Oxeden, Seligson e Latham-Koenig, 1996, 1997, 1999). Alguns níveis dos livros didáticos foram analisados com relação à abordagem do componente de pronúncia observando duas categorias principais, propostas por Silveira (2002) para o currículo de inglês, os quais estão resumidos na figura 9: 25 Componente de pronúncia Procedimentos de ensino a) Discriminação dos sons a) Conectar o material de pronúncia com a linguagem de sala e o ambiente de trabalho b) Acentuação se palavra e frases b) Usar recursos visuais, como a boca e os lábios, para ilustrar a articulação dos sons c) Ritmo c) Oferecer instrução explicita quanto à pronúncia; incluindo a transcrição fonética d) Comparação entre a LM e a LA d) Entonação e) Reduções e) Revisões constantes dos pontos de pronúncia f) Conetivos f) Prover aos aprendizes atividades de indução e dedução de regras g) Apagamento g) Atividades de ouvir e repetir h) Substituição h) Exercícios de repetição de pares mínimos i) Comportamento não-verbal i) Pares mínimos contextualizados j) Conectar vocabulário e gramática j) Trava língua, rimas e poemas k) Flexão verbal (-s e –ed)17 k) Prática silenciosa l) Encontro consonantal l) Leitura em voz alta e recitar poemas m) Prática de substituição de vogais e mudança de acentuação m) Gravar amostra da fala dos aprendizes relacionada à afixação n) Praticar com palavra, frases e parágrafo o) Desenvolver atividades de auto-monitoração p) Contrastar ortografia e sons q)Trabalhar em pares ou em grupos de modo que os aprendizes recebam comentários em pares r) Trabalhar com uma fala natural como a usada por falantes nativos Figura 9 - Proposta de conteúdo para currículo e procedimentos de ensino para instrução de pronúncia. Fonte – Silveira, 2002, p. 102. Apresentar-se-ão, a seguir, de forma resumida, os dados da investigação realizada por Silveira (2002). A autora constatou que, nos materiais investigados, preocupa-se, primordialmente com o ensino de entonação, acentuação, contraste de vogais e flexão verbal. Dentre os materiais escolhidos, apenas o Cambridge Language for the World desconsidera o componente de pronúncia. As outras séries variam na forma com que a pronúncia é tratada e também quanto aos procedimentos adotados para a sua incorporação nos materiais. De acordo com Silveira (2002) a série Headway contém exercícios envolvendo a relação entre a escrita e o som, o que é o foco para muitos exercícios. A versão 17 Tradução da autora da dissertação para: inflectional endings. 26 intermediária da série não contém nenhuma atividade de pronúncia no livro. Em compensação, um material adicional como manual de pronúncia que foi elaborado por Bowler e Cunnigham (1990)18 apud Silveira (2002) acompanha o livro. O material de pronúncia não só oferece pronúncia, mas também retoma o conteúdo do livro didático, tratando de pontos gramaticais, vocabulário e outros tópicos, encontrados na mesma seqüência do livro didático. O manual contém figuras ilustrando as questões motoras (posição dos lábios e da língua). Outro ponto positivo, ponderado por Silveira (2002), é a tentativa dos autores do manual de pronúncia em apontar possíveis problemas, como o contraste entre certos segmentos, para aprendizes de uma LM especifica. Contudo os exercícios propostos não englobam todas as diferentes LM dos aprendizes, o que seria inviável para um manual, e o contraste entre os possíveis sons problemáticos não é apropriado para algumas LMs, além de um problema identificado para uma LM não ser o mesmo para um falante de outra LM. Por exemplo, embora o segmento /s/, seguido de outra consoante em início de palavra, seja de difícil produção para os falantes brasileiros de inglês, os autores afirmam ser um problema exclusivo dos aprendizes espanhóis, gregos, italianos e turcos de inglês. As técnicas de pronúncia mais utilizadas nesse material são (1) discriminação auditiva; (2) ouvir e repetir; (3) regras de dedução; e (4) prática controlada. A versão Upper-intermediate oferece exercícios de pronúncia em quatro das 12 unidades. A versão avançada promove a prática de pronúncia a partir do alfabeto fonético e chama a atenção para a relação escrita-pronúncia, incluindo alguns exercícios com homófonos, homógrafos, ritmo e acentuação. 18 BOWLER, B. e CUNNINGHAM, S. Headway: intermediate pronunciation manual. Oxford: OUP, 1990. 27 Assim como o Headway, a série American Dimensions, de uma maneira geral, também oferece exercícios relacionando o segmento com o som e a relação entre a acentuação e a classe de palavras, afirma Silveira (2002). O volume intermediário não oferece muitas informações extras sobre a pronúncia de vocabulário e de tópicos gramaticais que aparecem na mesma unidade da atividade de pronúncia. O conteúdo de pronúncia dos exercícios é revisado a cada duas unidades, em conjunto com a revisão de gramática e de vocabulário. O material não oferece instruções explícitas sobre o item de pronúncia e, geralmente, os aprendizes têm que realizar uma tarefa de discriminação (pares mínimos ou listas de palavras as quais contêm, cada uma, um som que difere do grupo), com o objetivo de os aprendizes elaborarem a regra para aquele evento. Outra atividade é ouvir e repetir após um modelo ou ler palavras, frases ou pequenos diálogos em voz alta. Da mesma forma que a série Headway, o American Dimensions aborda o componente de pronúncia com o foco nos aspectos lingüísticos e não nos aspectos comunicativos. Uma das séries mais populares no Brasil é o Interchange / New Interchange (Richard et al., 1990, 1998)19 apud Silveira (2002:105). O material oferece três livros, do básico (iniciante) ao intermediário. O componente de pronúncia é apresentado em quase todas as unidades. As tarefas de pronúncia são geralmente curtas e simples, consistindo, basicamente, na apresentação dos sons a partir de um modelo, discriminação auditiva, identificação, repetição e alguns exercícios que requerem do aprendiz a elaboração de exemplos a partir do modelo. Todos esses procedimentos são 19 RICHARDS, J., HULL, J. e PROCTOR, S. Interchange (book 1). Cambridge. CUP, 1990. RICHARDS, J., HULL, J. e PROCTOR, S. New Interchange (book 1). Cambridge. CUP, 1997. 28 os mesmos encontrados nos três livros da série e, também, questões como a acentuação, entonação, ligação e apagamento e a forma como esses itens são apresentados e praticados. O que realmente varia no material é o conteúdo gramatical das frases utilizadas e o vocabulário. A série Interchange / New Interchange como os outros materiais apresentados, Headway e American Dimensions também negligenciam os aspectos comunicativos. Uma série muito utilizada em Belo Horizonte é o English File. O material baseia-se em três livros que vão do iniciante ao intermediário.O componente de pronúncia é abordado em todas as unidades dos três livros, e o alfabeto fonético é trabalhado desde o primeiro livro. A maioria das atividades encontradas nos livros é de ouvir o modelo e repetir, discriminação dos sons, acentuação e entonação. Esses itens diversificam-se nos livros a partir do conteúdo gramatical e do vocabulário que está sendo aprendido. O nível intermediário além, das atividades dos níveis anteriores, traz atividades que tratam da acentuação contrastiva e da relação entre ortografia e oralidade. Porém a série English File apresenta uma lacuna com relação a não considerar a LM do aprendiz nem tão pouco questões motoras. A conclusão que se tira após a revisão realizada no material didático para o ensino de inglês como língua estrangeira, com relação ao componente de pronúncia, é de que existe uma necessidade de desenvolverem-se materiais que tenham como foco não só a questão lingüística, mas também a comunicação e a inteligibilidade, conclusão esta que é corroborada por Jones (2002:178) e também por Silveira (2002). Embora tenha-se constatado neste trabalho a necessidade de materiais didáticos mais 29 comunicativos para o ensino de inglês como língua estrangeira, foge ao escopo deste desenvolver e apresentar tais materiais. Espera-se, portanto, que a apresentação desses materiais seja realizada em trabalhos futuros decorrentes desta dissertação. 2.2.2 Abordagens empíricas: estudos sobre os efeitos da instrução de pronúncia Nesta seção, apresenta-se uma investigação com relação às pesquisas empíricas mais relevantes, considerando o valor das instruções de pronúncia. Como mostrado anteriormente neste trabalho, muitas abordagens de pronúncia não consideram o ensino de pronúncia importante, seção 2.2.Assim a pronúncia ocupava um lugar pouco privilegiado no currículo de ensino de inglês como língua estrangeira. Na verdade, as análises realizadas nos materiais didáticos baseados na Abordagem Comunicativa de ensino revelaram que a instrução de pronúncia é ainda tratada de forma superficial na maioria dos casos. Esta falta de comunicação entre métodos, abordagens, material didático e prática de ensino, talvez tenha impulsionado os pesquisadores a investigarem até que ponto as instruções de pronúncia são eficazes. Apresentar-se-ão, a seguir, de forma resumida, sete pesquisas cronologicamente organizadas, considerando a relevância de seus resultados para o ensino e aprendizagem de pronúncia por meio de instruções formais. O primeiro trabalho é o realizado por Neufeld (1978). O autor investigou a relevância da instrução para o desenvolvimento da proficiência em aspectos prosódicos (entonação) e articulatórios em três línguas não indo-européias (japonês, chinês e esquimó) desconhecidas para os seus informantes. O estudo envolveu 20 estudantes adultos, falantes nativos de inglês. O teste seguiu a 30 seguinte metodologia: no primeiro dia de instruções, os informantes não podiam produzir oralmente as línguas; apenas completar atividade de discriminação e, num segundo momento, sussurrar as línguas. Os resultados de Neufeld (1978) mostram que os informantes eram capazes de reproduzir, ou melhor, imitar as línguas com uma proficiência parecida com a nativa. Um outro trabalho é o de Strange e Dittman (1984)20, relatado por Silveira (2002:113). De acordo com a autora, Strange e Dittman (1984) elaboraram um experimento para testar a hipótese da validade da utilização do computador para a aquisição da distinção entre as líquidas /l/ e /r/. A investigação constou de dois grupos, um teste e um controle, contendo cada grupo quatro japonesas aprendizes de inglês. Os pesquisadores aplicaram um pré e um pós-teste, em que os informantes ouviam uma gravação de fala natural contendo pares mínimos e uma fala sintetizada, também com pares mínimos, como, por exemplo, (rock/lock), (rake/lake). O experimento consistiu em um treinamento quanto à discriminação desses segmentos, com a utilização do computador; os informantes recebiam o retorno imediato para as respostas corretas. A conclusão dos autores quanto aos resultados é de que o grupo experimental melhorou a performance para o estimulo sintetizado, mas o mesmo não aconteceu para o estimo de fala natural. 20 STRANGE, W. e DITTMANN, S. Effects of Discriminating Training on the Perception of /r/ and /l/ by Japanese Adults Learning English. Perception and Psychophysics, vol. 36, p. 131-145, 1984. 31 Os efeitos da instrução de pronúncia também foram investigados por Jamieson e Morosan (1986)21 apud Silveira (2002). Os mesmos investigaram os efeitos da instrução de pronúncia em aprendizes franceses de inglês na aquisição da distinção entre /T/ e /D/. De acordo com Jamieson e Morosan (1986), o objetivo era ter sucesso e, para atingir esse sucesso, os testes envolveram três componentes 1) treinamento acústico apropriado para fala natural; 2) treinamento de identificação com retorno imediato; 3) incerteza acústica causada pelo aumento da variabilidade do sinal acústico. Esse teste envolveu uma técnica denominada pelos pesquisadores apagamento. O treinamento perceptivo descrito pelos autores envolve uma técnica em que o primeiro estimulo dado ao informante é exageradamente claro, mostrando a distinção entre os segmentos e, ao longo do treinamento, vai se dificultando mas, devido a essa gradação, os erros são infreqüentes. Os resultados dessa investigação mostraram que o tipo de treinamento empregado contribui para a discriminação, pelos informantes, tanto para o estímulo sintetizado quanto para a fala natural. Um estudo relevante quanto à retenção de insumo a partir da instrução formal é o de Yule, Hoffman e Damico (1987)22 relatado por Silveira (2002). O estudo consistiu de um experimento controlado, envolvendo 56 aprendizes de nível intermediário de inglês como segunda língua. Os pesquisadores investigaram o quanto as técnicas e procedimentos de ensino têm efeitos benéficos na descriminação de certas fonemas. Os pesquisadores aplicaram um pré e um pós-teste e o experimento utilizou as seguintes atividades: a) um teste de discriminação de fonemas; b) uma escala de 5 a 1 para 21 JAMIESON, D. G. e MOROSAN, D. E. Training Non-native Speech Contrast in Adults: acquisition of the /D/ - /T/ contrast by Francophones. Perception and Psychophysics, vol. 40, no. 205, p. 205-215, 1986. 22 YULE, G.; HOFFMAN, P. e DAMICO, J. Paying Attention to Pronunciation: the role of self-monitoring in perception. In TESOL Quartely, vol. 21, p. 765-768, 1987. 32 descrever a certeza do informante em marcar a resposta. Assim, os indivíduos foram testados em três intervalos de tempo diferentes; 1) uma semana antes de começar as instruções; 2) oito semanas após terem começado as instruções e 3) quinze semanas após terem começado as instruções. Os resultados mostraram que alguns informantes pioraram sua performance após as sete semanas de instrução, depois melhoraram sua performance nas quinze semanas. Os autores concluem dizendo que, após as quinze semanas, os informantes ficaram mais confiantes com relação a produção dos segmentos. A investigação quanto aos efeitos da instrução formal suscitou um outro trabalho de Yule e Macdonald (1994). Nesse momento, os pesquisadores trabalharam com 23 informantes divididos em quatro grupos. Um grupo foi denominado condição de ensino (TEACH Condition), o professor conduzia atividades de repetição de palavras com retorno, o segundo grupo era condição de laboratório (LAB condition), os informantes ouviam uma fita e praticavam sozinhos a LA. O terceiro grupo realizava uma apresentação oral para um professor, que pedia esclarecimento quanto às palavraschaves perguntando O QUÊ? (WHAT condition). O último grupo foi denominado (SIRE condition), e os informantes treinavam silenciosamente sua apresentação, sem nenhuma interferência. Os grupos foram gravados antes das instruções, imediatamente depois da primeira instrução e dois dias após a última instrução. As produções dos informantes foram julgadas por falantes nativos de inglês. Os autores concluíram, a partir dos resultados obtidos que, aparentemente, nenhum dos três tipos de instrução utilizadas foi superior ao outro. Os mesmos chamam a atenção para a variável indivíduo, devido a diferentes atitudes e comportamentos individuais de aprendizagem observados. 33 A pesquisa de Elliot (1995)23, relatada por Silveira (2002), desenha um experimento para investigar os efeitos da instrução de pronúncia aplicada a certos segmentos do espanhol. De acordo com Silveira (2002). Elliot (1995) trabalhou com uma metodologia multi-modal com o intuito de atender aos vários estilos e estratégias de aprendizagem possíveis. O experimento envolveu três grupos de informantes, aprendizes americanos de espanhol, de nível intermediário, sendo três grupos experimentais com 43 informantes e um controle, com 23 informantes. Um pré e um pós-teste foram aplicados, em que os informantes tinham que imitar sons em palavras e frases e também foi investigada a questão de correlatos ortográficos. As atividades utilizadas consistiram em: 1) discriminação lingüística do segmento alvo (ponto e maneira de articulação); 2) diferentes maneiras de se apresentar o segmento (identificação do som, repetição e visualização); 3) uso de métodos dedutivo e indutivo; 4) uso de repetição e prática; 5) retorno imediato para prevenir cristalização. Os informantes dos grupos experimentais receberam 21 aulas de instrução, sendo de 10 a 15 minutos cada. As conclusões de Elliot (1995) quanto a seus resultados é que existe uma relação significativa entre desenvolvimento de habilidades de pronúncia e instrução. Em Silveira (2002), também foi encontrada a descrição do trabalho de Quijada (1997). Neste trabalho Quijada (1997)24 investiga os efeitos da instrução de pronúncia em crianças espanholas aprendizes de inglês. Quijada (1997) trabalhou com um 23 ELLIOT, R. A. Foreign Language Phonology: field independence, and the success of formal instruction in Spanish pronunciation. The Modern Language Journal, vol. 7, no. 4, pp. 530-542, 1995. 24 QUIJADA, J. A. Explicit Teaching of English Pronunciation to Spanish School Children. International Review of Applied Linguistics, vol.. 36, no. 2, p. 266-275, 1997. 34 experimento, envolvendo dois grupos, um experimental e um controle. Ambos receberam as instruções do mesmo professor, foram trabalhadas algumas vogais e consoantes, ritmo e entonação. No grupo experimental, foram utilizados aspectos fonéticos uma vez por semana por 50 minutos durante três períodos. A pronúncia dos informantes foi avaliada por três juízes com relação à autenticidade e inteligibilidade. Os resultados de Quijada (1997) quanto ao desenvolvimento dos informantes após as instruções não foram significativos, Quijada (1997), apud Silveira (2002) acredita que esse evento foi devido ao fato de não ter sido aplicado um pré-teste e também devido a problemas na coleta de dados. A conclusão que se tira dos trabalhos apresentados é que, devido à diversidade encontrada nos desenhos das pesquisas, tanto com relação à metodologia utilizada quanto ao objeto de pesquisa, ao número e idade dos indivíduos e à diversidade de LMs, fica difícil avaliar os resultados devido à impossibilidade de comparabilidade entre os trabalhos. Outro ponto, igualmente difícil de se avaliar nos trabalhos, é com relação ao tipo de instrução empregada e o tempo em que cada trabalho foi conduzido. Porém, observa-se que os resultados atingidos em cada trabalho foram, na maioria dos casos, positivos. Assim, deixa-se a ressalva quanto à necessidade de mais trabalhos voltados para os efeitos da instrução formal no desenvolvimento da pronúncia da LA. Mesmo não sabendo em que direção ir, nem o que deve ser priorizado na instrução de pronúncia, um aspecto, de acordo com Jones (2002), é relevante na instrução de pronúncia. O autor afirma que atividades que envolvam o aumento da conscientização dos aprendizes sensibilizando-os quanto às diferenças do sistema sonoro da L1 e da L2 e, também, quanto ao sistema lingüístico da L2, considerando sua própria 35 interlíngua, devem ser mais benéficos para o aprendiz do que a correção de erros (JONES, 2002, p. 181).25 Na seção seguinte, far-se-ão considerações quanto à relação fonética e fonologica para o ensino e aprendizagem de pronúncia de língua estrangeira, bem como a importância da conscientização. 2.3 Perspectiva teórica O número de pesquisas realizadas na área de fonética e de fonologia, principalmente na área de pronúncia, apresenta um consideravelmente crescimento, mas ainda há muito a ser feito. Analogamente, a pesquisa na área de aquisição fonológica de segunda língua apresenta ainda muitas lacunas a serem preenchidas (BAPTISTA, 2000:20). Com o objetivo de contribuir nesse sentido, o presente estudo explora alguns aspectos relevantes sobre a utilização da fonética e da fonologia, mais especificamente, da teoria das vogais cardeais, da teoria acústica da fala, da teoria de exemplares e o aspecto cognitivo da conscientização para o ensino e aprendizagem de língua estrangeira. Como foi apresentado, anteriormente, no capítulo introdutório. Cagliari (2002) afirma que a fonética e a fonologia são duas áreas que dialogam entre si no estudo dos sons da fala humana, afirmação essa que é corroborada por Callou e Leite (1990). A fonética é basicamente descritiva, já a fonologia tem uma abordagem interpretativa e, como enfoque, o comportamento dos sons dentro de uma língua. Assim, a fonética e a 25 Tradução da autora da dissertação para Consciousness-raising activities which sensitise learners to the differences between L1 and L2 systems and the L2 and their own interlanguage might be more beneficial than error correction. 36 fonologia são áreas que se relacionam com o ensino e aprendizagem de pronúncia de língua estrangeira. Como esta dissertação investiga segmentos vocálicos, optou-se por adotar a Teoria das Vogais Cardeais, descrita no capítulo introdutório, por nos permitir caracterizar qualquer segmento vocálico de qualquer língua. Adicionalmente, permitenos relacionar os correlatos articulatórios, auditivos e acústicos Abercrombie (1967), Jones (1956), Kreidler (1989), Ladefoged (1993) e Cristófaro-Silva (1999). Pennington (1996:25) afirma que segmentos não comuns entre a LM e a LA, com relação a seu inventário fonético ou detalhe fonético de pronúncia de um certo fonema ou mesmo variantes, são pontos que podem causar problema para os aprendizes da LA. No entanto, mesmo quando ambas as línguas têm os mesmos segmentos em comum, os sons de uma língua podem ser foneticamente diferentes, ou podem ser próximos, mas não idênticos, ao inventário fonético da língua que está sendo aprendida. Isso parece decorrer do fato de que a articulação de sons específicos é individual para cada língua (PIERREHUMBERT, 2001). Ou seja, [i], numa língua qualquer, tem propriedades acústicas e articulatórias específicas e bastante diferentes de [i] em outra língua. Sem estar consciente da especificidade fonética de um som em uma determinada língua, o aprendiz tende a substituir o som da LA pelo da LM. Por exemplo, no caso do aprendiz brasileiro de inglês, o inventário fonético do português brasileiro tem a vogal /i/ e, no inventário fonético da LA, têm-se os segmentos /i˘/ e /I/. O aprendiz brasileiro 37 tende a produzir ambos esses sons /i˘/ e /I/, como o segmento /i/ do português. Aprender a identificar e produzir estas distinções pode, até mesmo, significar a garantia de uma comunicação inteligível. A Teoria Acústica da Fala foi utilizada neste projeto primordialmente com a finalidade de averiguar a qualidade das vogais produzidas pelos informantes. As análises foram feitas por meio de um espectrograma digital, em que foram observados os valores relativos aos níveis dos formantes 1 e 2 para cada segmento investigado. Ladegoded (1993:297) define espectrograma como um gráfico feito pelo computador que representa os sons em termos de seus componentes de freqüência, em que o tempo está no eixo horizontal, a freqüência no eixo vertical e a intensidade de cada freqüência em relação ao tempo é representada pelas tarjas escuras, formantes. De acordo com Fry (1979:75), formante é o termo usado para representar picos de ressonância bem definidos dentro do sistema fonatório. Fry (1979) afirma que esse termo é originalmente alemão e foi utilizado pela primeira vez pelo cientista Hermann Helmholtz, na segunda metade do século XIX. Todos os sons vocálicos são tipicamente vozeados e, durante sua produção, as cordas vocais exibem pelo menos dois e, normalmente, três picos de ressonância bem definidos, que são os formantes vocálicos (FRY, 1979:111). O primeiro formante pode variar de 300 Hz a 1000 Hz. Quanto mais baixo o valor do F1, mais próxima a língua estará da abóbada palatina. Por exemplo, a vogal tensa /i˘/, como na palavra beet [bi˘t], tem um dos valores mais baixos de F1, aproximadamente 300Hz; em contraste, a vogal /ç˘/, como na palavra bought [bç˘t], tem o F1 mais alto, aproximadamente 950Hz. Por 38 outro lado, o segundo formante pode variar entre 850Hz a 2500Hz, e seu valor representa a antecedência ou posterioridade da língua durante a produção das vogais. Em conseqüência, os valores baixos de F2 significam lábios arredondados, e valores altos significam lábios não-arredondados. O exemplo anterior da vogal /i˘/ tem um F2 de 2200Hz, aproximadamente, o mais alto entre as vogais. Isto significa que, na produção desse segmento, a língua está bem à frente na cavidade bucal, e os lábios não estão arredondados. Já o segmento /u˘/, como na palavra boot [bu˘t], tem um F2 de aproximadamente 850Hz. Na produção desse segmento, a língua está muito recuada, e os lábios estão arredondados. Os espectrogramas são indicadores confiáveis da qualidade relativa de um segmento vocálico, e a qualidade vocálica depende das freqüências dos formantes (LADEFOGED, 1993). Assim, tanto a análise auditiva quanto a análise acústica segmental, utilizadas em conjunto, contribuem para identificar particularidades de um segmento vocálico. Apresenta-se um espectrograma e os valores dos formantes de um informante de nível avançado produzindo as palavras (key k[i˘] e kiss k[I]ss), respectivamente. 39 Observa-se nos espectrogramas a duração ou quantidade vocálica, característica distintiva entre os segmentos /i˘/ e /I/, respectivamente. O segmento /i˘/ é mais longo (tenso) que o segmento /I/, que é breve (frouxo), como nas palavras k[i˘] (chave) e k[I]ss (beijo). Os gráficos apresentam os valores do primeiro e do segundo formante para os segmentos tenso e frouxo, os quais são respectivamente F1 269 - F2 2740 e F1 431 - F2 2397. Em conjunto, a teoria das Vogais Cardeais e a teoria Acústica da Fala foram utilizados para investigar o desenvolvimento da interlíngua dos informantes. Brown (1993:203) define interlíngua como um processo gradual de tentativa e erro e de teste de hipóteses, no qual o aprendiz, lenta e penosamente, vai estabelecendo um sistema cada vez mais próximo àquele da língua-alvo (BROWN, 1993:203). De acordo com Brown (1993), o termo interlíngua surgiu de Interlingual de Weinreich (1953) e foi aprimorado para Interlanguage por Selinker (1972). Esse processo de ajustes na produção da línguaalvo será melhor explicado na seção seguinte. Por ser o sistema vocálico complexo e não existir uma delimitação clara de onde termina uma vogal e começa outra, qualquer mudança na articulação pode acarretar a 40 produção de um segmento diferente. Esta dissertação pretende investigar a hipótese de que a conscientização dos aprendizes quanto aos parâmetros fonéticos e fonológicos da língua materna e da segunda língua contribui para a proficiência dessa última, além de promover uma relativa autonomia no aprendizado de pronúncia da língua-alvo. Nesse sentido, salienta-se a importância da fonética e da fonologia, tanto para o professor quanto para o aprendiz. Conhecendo o sistema sonoro da língua-alvo e o da língua materna, o professor poderá ajudar o aluno a minimizar suas deficiências, conscientizando-o quanto às diferenças e similaridades das duas línguas, bem como proporcionar-lhe a oportunidade de se tornar mais independente no seu aprendizado. Algumas abordagens, como o Movimento de Reforma e o Silent Way, resumidos na seção anterior, propunham o ensino de pronúncia a partir de instruções explicitas de fonética e de fonologia, para aprimorar a produção oral do aprendiz, mas não propunham a consideração da língua materna do mesmo. Com o intuito de testar a hipótese levantada neste trabalho, elaboraram-se instruções formais, baseadas em regras fonéticas e fonológicas, visando proporcionar ao aprendiz um suporte maior para a aquisição de pronúncia da segunda língua. Este desejo é corroborado pela afirmação de Morley (1991:512) com relação à necessidade de desenvolver estudos voltados para o aprimoramento do aprendizado de pronúncia a partir de instruções específicas. 41 Sharwood Smith (1995) 26 apud Schmidt (2001:10) afirma que o insumo se torna mais factível para o aprendiz dependendo da maneira pela qual é exposto. De acordo com o autor, o papel principal da instrução explícita é ajudar o aprendiz a focar sua atenção na forma em relação ao significado. Dessa maneira, as instruções que têm como objetivo chamar a atenção do aprendiz para itens, os quais este tem grande probabilidade de não perceber ou não assimilar, são comprovadamente válidas (SCHMIDT, 2001:29). Sabe-se que a conscientização desempenha um papel muito importante na aquisição de segunda língua ou de língua estrangeira, tendo sido muito discutida e investigada pela psicologia. Schmidt (1990:132-133) propõe que a consciência é dividida em níveis e subníveis. Primeiro tem-se consciência como awareness, que se subdivide em percepção (perception), noticing27 e compreensão (understanding). Depois, tem-se consciência como intenção (intention) e, finalmente, consciência como conhecimento (knowledge) em que se encontra o conhecimento implícito e explícito28. De acordo com Schmidt (1995:1), nós temos níveis altos e baixos de consciência. O nível baixo, o qual é denominado noticing parece ser associado a todos os tipos de aprendizagem. Segundo o autor, o nível mais alto é denominado compreensão (understanding) envolve o contraste entre aprendizado explícito e implícito. Embora existam questionamentos quanto ao aprendizado acontecer ou não, dependendo do nível de atenção do aprendiz, um aspecto afirmado por Schmidt (1995) é 26 SHARWOOD SMITH, M. (1995) Input enhancement and a logic of input processing. Paper presented at 6th EUROSLA, Nijmegen, June, 1995. 27 Manteve-se o termo original por não encontrar nenhuma tradução adequada para o mesmo. 28 Aprendizado explícito é o aprendido com consciência. Aprendizado implícito é o aprendizado sem tomada de consciência (SCHMIDT, 2001). 42 o fato de que todo tipo de aprendizagem requer atenção. Assim, a quantidade de atenção empregada estaria diretamente relacionada à quantidade de aprendizagem adquirida29. O último ponto que permeia o assunto abordado neste trabalho é a Teoria de Exemplares (JOHNSON e MULLENNIX (1997), PIERREHUMBERT (2001)). Esta é uma teoria que dá uma nova perspectiva às pesquisas ligadas ao processamento da fala. A teoria de exemplares propõe uma nova abordagem a respeito das representações mentais e do mapeamento do sinal da fala. A visão tradicional defendia que as representações mentais eram simples, e o mapeamento, complexo, em outras palavras, essa visão desprezava a variabilidade do falante bem como a variação contextual. O modelo tradicional tem a noção de normalização, ou seja, a redução da variação irregular, portanto, o detalhe fonético não é importante (CRISTÓFARO-SILVA, 2003:203). O modelo de Exemplares não utiliza a normalização e considera a importância do detalhe fonético, o qual é processado pelo falante. Nessa nova proposta, considera-se que o falante não exclui as variações ao categorizar as formas lingüísticas. Ao contrário, as variações servem como fonte de informação. Nesse modelo, as palavras são armazenadas como feixes de exemplares, ou seja, num mapa cognitivo, e as redundâncias não são excluídas. Expandindo os pressupostos da Teoria de Exemplares para a aquisição de pronúncia em língua estrangeira, pode-se dizer que o detalhe fonético é imprescindível à compreensão da operacionalidade do sistema fonológico. Como conseqüência, prediz-se que a conscientização, em relação aos sistemas sonoros permite definir generalizações e aplicá-las a sistemas sonoros distintos. 29 Com certeza os aspectos cognitivos que permeiam a aquisição e a aprendizagem de língua estrangeira são muito relevantes, mas, porém fogem ao propósito desta dissertação, ficando para estudos futuros. 43 2.4 A teoria de interlíngua De acordo com Selinker (1992:8), embora o mesmo não tenha feito estudos científicos, Fries (1945) foi o primeiro a levantar hipóteses baseadas em análises contrastivas, ou seja, a comparação de dois sistemas lingüísticos diferentes, o da língua materna e o da segunda língua. Segundo Selinker (1992), Fries (1945) desenvolveu estudos a partir da comparação de sons e do léxico entre idiomas. Mas foi, de fato, Lado (1957) quem realizou as primeiras investigações cientificas com a Hipótese da Análise Contrastiva (HAC). Lado, em seus estudos, compara a LM do aprendiz com a LA, para prever possíveis erros que os aprendizes poderiam cometer no processo de aquisição da LA. A HAC teve seus princípios firmados nos behavioristas e nas abordagens estruturalistas, e sua principal afirmação com relação à aquisição de uma segunda língua foi quanto à interferência do sistema lingüístico da primeira língua (BROWN, 1993:193). Assim, a HAC tinha originalmente como objetivo explicar e prever as dificuldades que um aprendiz encontraria para aprender a segunda língua, bem como apontar os pontos que não deveriam causar problemas. Tal proposta propunha comparar todos os aspectos da língua materna com os da língua-alvo. Acreditava-se que a língua materna facilitaria a aquisição naqueles casos cujas estruturas lingüísticas fossem similares e interfeririam na aquisição em casos em que a língua-alvo fosse diferente, ou mesmo, quando nem existisse tal estrutura a ser adquirida. 44 A hipótese da análise contrastiva consistiu de uma versão forte e de outra fraca. Para a lingüística aplicada, a versão forte da HAC foi considerada irrealista e impraticável. Essa versão exigia que o lingüista compreendesse uma série de universais lingüísticos e que explicasse bem as teorias lingüísticas que envolvessem a sintaxe, a morfologia e a fonologia. A versão forte30 não teve êxito quanto a capacidade de prever o nível de dificuldade que os aprendizes encontrariam. Wardhaugh (1983:7) afirma que a HAC não poderia ser usada para prever todos os problemas de aprendizagem da língua-alvo, mas, sim, explicar a aprendizagem ou descobrir dificuldades, sendo rejeitada, assim, a versão forte. A versão fraca também teve o foco de atenção voltado para os erros, mas não os predizia; a análise dos mesmos era realizada somente após seu acontecimento. Em conclusão ao período da HAC, pode-se dizer que a mesma provou não ser funcional no que diz respeito à versão forte, mas, sem dúvida, a versão fraca continuará sendo útil enquanto a teoria lingüística estiver em desenvolvimento Wardhaugh (1983:13). Com relação a esse período, também podem-se definir como conceitos-chave a interferência, ou transferência negativa, que se refere a não correspondência entre formas de línguas diferentes. Oller e Ziahosseiny (1970:185) rejeitam as versões forte e fraca e propõem uma versão moderada, a qual teve sua base na análise de erros ortográficos. A versão moderada da HAC prediria erros intralingüísticos e interlingüísticos31, erros os quais acontecem no sistema de interlíngua. Mas, de acordo com Ellis (1994:19), a análise de 30 A HAC teve uma versão forte e uma versão fraca. Na versão forte, segundo Wardhaugh (1983:8), todos os possíveis problemas que um aprendiz pudesse encontrar no aprendizado da L2 deveriam ser previstos. Já na versão fraca, a qual é considerada mais plausível entre os linguistas, a existência de interferencia da LM é considerada mas os problemas são explicados após o seu acontecimento. 31 Entende-se por inter-lingual errors : erros causados pela interferência da LM; intra-lingual errors: erros na língua-alvo. 45 erro, como foi utilizada nos anos 60 e 70, também foi considerada não funcional, porque a mesma não era capaz de mostrar o tipo de estratégia que os aprendizes estavam utilizando e nem o que os aprendizes faziam corretamente. Ellis (1994) afirma que estudos como o de Schachter (1974), que se refere à estratégia do aprendiz da não utilização de certas formas da LA, a qual foi denominada avoidance, veio completar essa falha. Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (1996:20) afirmam que a hipótese da análise de erros também sofreu outras críticas, porque a mesma tinha o foco nos possíveis problemas enfrentados pelos aprendizes e, não, para as suas realizações, fortalecendo ainda mais os estudos voltados para a interlíngua. O termo interlíngua surgiu dos trabalhos de Selinker (1972)32 e se refere a um construto lingüístico provisório, desenvolvido por aprendizes de LA durante o processo de aquisição da mesma. Selinker (1972), em suas investigações, elabora também o conceito de fossilização, por alguns teóricos tratado como cristalização33, o qual é relativo a itens, regras ou subsistemas lingüísticos da LA que não são internalizados adequadamente por aprendizes e que fazem parte de sua interlíngua, ou seja, os aprendizes atingem um patamar de aprendizagem a partir do qual é difícil conseguir um progresso maior. A partir de uma crítica ao trabalho de Selinker (1972), Corder (1980:93) propõe uma nova perspectiva de interlíngua, vista como um contínuo de desenvolvimento progressista entre dois pólos: a primeira língua ou língua materna e a língua-alvo. O autor afirma que a interlíngua é um processo criativo, o qual desenvolve seu próprio 32 33 As referência Selinker (1972) são apud Selinker (1983). Tradução da autora da dissertação para o termo fossilization. 46 sistema. Assim Gass e Selinker (1994:87)34 apud Oliveira (2003:32) acreditam que não se pode excluir a LM totalmente do processo de aquisição da L2, sem antes explicar os processos seletivos que determinam sob que circunstância o conhecimento da LM é efetivamente empregado pelos aprendizes de L2. Num segundo momento, uma nova proposta surge com Adjemian (1976)35 apud Keys (2001a:157), em que o autor sustenta que a gramática da interlíngua é susceptível a análises lingüísticas da mesma forma que qualquer língua natural. Pois, segundo o autor, a interlíngua obedece a padrões lingüísticos e apresenta regras internas. Uma terceira abordagem é a defendida por Tarone (1979)36 apud Keys (2001a) em que a autora afirma que a variabilidade na interlíngua é dependente do contexto no qual esteja sendo utilizada. A autora identificou um ponto estável não sujeito à influência da LM, o qual aconteceria quando o aprendiz emprega uma maior atenção à produção oral. Ellis (1994:365-6) corrobora suas afirmações com as de Tarone (1979), em seu modelo de Competência Variável. O autor postula que padrões abstraídos da língua em uso coexistem competindo entre si, formando a interlíngua em qualquer momento, ou em forma sistemática (de acordo com a situação ou o contexto) ou em variação livre. Como variação livre, entende-se a maneira na qual novas formas são incorporadas a interlíngua. Gradativamente, as formas de variação livre vão sendo eliminadas e substituídas por formas com funções específicas. 34 GASS, S. M. e SELINKER, L. Second Language Acquisition: an introductory course. Hillsdale: Lawrence Erlbaum, p. 87, 1994. 35 ADJEMIAN, C. On the Nature of Interlanguage Systems. Language Learning, v. 26, p. 297-320, 1976. 36 TARONE, E. Interlanguage as Chameleon. Language Learning, 29, p. 181-191, 1979. 47 Os mais recentes estudos voltados para a teoria de interlíngua estão focados em responder perguntas como: o quão sistemático é o desenvolvimento da interlíngua, como a interlíngua é adquirida e qual é o papel desempenhado pela LM. Jenkins (2000:55) afirma que há muito tempo a interlíngua já foi reconhecida como uma língua natural, e que, como toda língua natural, é dinâmica. Assim, a interlíngua estaria sujeita a várias influências, as quais levariam a uma variação sistemática da linguagem, confirmando as afirmações de Adjemian (1976) e Tarone (1979). Jenkins (2000) afirma também que a interlíngua está voltada para a variabilidade entre aprendizes de LA de diferentes LMs, porque a abordagem de ensino e aprendizagem de segunda língua vigente no momento é a comunicativa, a qual visa a comunicação inteligível entre falantes. Em síntese, o ensino e o aprendizado de pronúncia de segunda língua a partir da teoria de interlíngua são um caso especial, fato que requer o suporte da comparação entre o inventário fonético da língua materna e da língua-alvo para, desse modo, poder sustentar qualquer prática de ensino relacionada ao desenvolvimento da competência fonológica para o desenvolvimento da produção oral e da percepção do aprendiz. 2.5 Conclusões Foi devido aos estudos da HAC que surgiu a necessidade da comparação entre idiomas. Esse tipo de proposta pode não ser plausível para outros aspectos que permeiam a aquisição de língua estrangeira, mas, para o ensino e aprendizagem de pronúncia, tal confronto faz-se necessário. A partir do confronto entre dois sistemas 48 lingüísticos, a língua materna e a língua estrangeira podem-se identificar e solucionar problemas que os aprendizes encontrariam na produção da LA. O ensino e a aprendizagem de pronúncia, em termos de teoria de interlíngua, requer o suporte da análise comparativa do inventário fonético da LM e da LA para servir como base para o desenvolvimento de uma metodologia mais adequada para o ensino e aprendizagem de pronúncia da LA. Objetivando-se o aprimoramento da competência fonológica dos aprendizes com relação à percepção e à produção oral da LA. Com relação às abordagens de ensino de LA aqui apresentadas, afirma-se que o ensino de pronúncia tem evoluído, mas o material didático não tem acompanhado seu desenvolvimento. As afirmações realizadas neste trabalho são corroboradas por Baptista (2000) e Jones (2002), os quais apontam que existe uma falta de integração entre pesquisa e material didático na área de ensino de pronúncia. E também pela afirmação de Silveira (2002) com relação aos materiais de pronúncia ignorarem a língua materna do aprendiz. Assim essa revisão mostrou a relevância da instrução formal, a partir da conscientização de aspectos fonéticos e fonológicos, em sala de aula de inglês como língua estrangeira e, também, o papel desempenhado pela língua materna no processo de ensino e aprendizagem de língua estrangeira. 49 3 METODOLOGIA DA PESQUISA Como o escopo do trabalho é analisar questões relativas à aquisição de língua estrangeira, especificamente aspectos que permeiam as relações fonéticas e fonológicas entre a língua materna e a língua-alvo, optou-se por utilizar o modelo experimental de pesquisa. A coleta de dados foi realizada a partir de técnicas qualitativas por meio dos seguintes instrumentos de pesquisa: questionário para selecionar os informantes e figuras para levantar dados. De posse dos dados, procedeu-se a uma análise qualitativa interpretativa e quantitativa estatística dos dados. Na seção 3.1, é feita uma consideração teórica sobre a metodologia descrita acima. Na seção 3.2, é apresentado o desenvolvimento metodológico que foi utilizado para realizar esta pesquisa e, finalmente, na seção 3.3 são mostrados os procedimentos de pesquisa realizados neste trabalho. 3.1 Considerações teórico-metodológicas Nesta seção, serão apresentadas algumas considerações sobre a justificativa teórica de se desenvolver a pesquisa a partir de um experimento (3.1.1), com análises por uma abordagem qualitativa interpretativa e quantitativa estatística (3.1.2). 50 3.1.1 O modelo experimental A opção por este desenho de pesquisa foi motivada pelo tipo de estudo que se pretendia realizar. Segundo Larsen-Freeman e Long (1991:21), a pesquisa experimental é muito rigorosa quanto a sua organização e é utilizada quando já se tem uma hipótese e se deseja confirmá-la a partir da aplicação de um experimento. Entende-se por experimento um trabalho de pesquisa que envolva pelo menos dois grupos no estudo, um grupo-controle e um grupo-teste, em que os sujeitos sejam selecionados aleatoriamente, e apenas o grupo teste receba o tratamento. Concluí-se, portanto, que o comportamento dos grupos diferirá em conseqüência do tratamento. Outro modo de assegurar a comparação entre os dois grupos, quando o número de indivíduos envolvidos na pesquisa é pequeno, é a aplicação de um pré e de um pós-teste. Dessa forma, se o grupo-controle e o grupo-teste se apresentam iguais no pré-teste e o que diferenciará os grupos é apenas o tratamento que os mesmos receberam, concluir-se-á que qualquer alteração no pós-teste pode ser atribuída ao tratamento aplicado. Larsen-Freeman e Long (1991:21) afirmam que um experimento bem controlado permite ao pesquisador fazer generalizações dos resultados, além daqueles obtidos dos sujeitos específicos do estudo, para a população da qual a amostra tenha sido retirada. Um exemplo de pesquisa realizada a partir de um experimento na área de aquisição de segunda língua é a de Henrichsen (1984) apud Larsen-Freeman e Long (1991), em que o pesquisador investiga os efeitos da variação do sândi na compreensão de insumo em inglês. 51 As variações do sândi referem-se a modificações fonológicas como, por exemplo, as contrações as quais reduzem a percepção do morfema. Henrichsen (1984) separou os indivíduos (nativos da LA e aprendizes de inglês como segunda língua com altos e baixos níveis de proficiência) aleatoriamente, em um dos dois grupos os quais receberiam o tratamento: presença ou ausência da variação do sândi. A significante interação encontrada entre os níveis de proficiência lingüística na língua inglesa e na presença/ausência da variação do sândi comprovou a hipótese do pesquisador. 3.1.2 Coleta de dados, análises qualitativa interpretativa e quantitativa estatística Foram utilizados para a coleta de dados os seguintes instrumentos de pesquisa: questionários para selecionar os informantes e figuras para levantar dados. As análises foram realizadas a partir da combinação, qualitativa interpretativa e quantitativa estatística. A escolha deste tipo de método e de paradigma foi motivada pelo fato que a união dos mesmos fornece os requisitos necessários para a realização deste trabalho, garantindo sua validade. De acordo com Larsen-Freeman e Long (1991:11-12), um estudo quantitativo é elaborado para testar uma hipótese por meio do uso de instrumentos objetivos e análises estatísticas. Já o paradigma interpretativista foi utilizado com o intuito de completar a coleta e a análise dos dados na qual foram considerados aspectos individuais dos sujeitos. De acordo com Larsen-Freeman e Long (1991:13) tal combinação é mesmo possível, resguardando, desse modo, a validade desse projeto. Em outras palavras, a análise 52 estatística não elimina a necessidade de um entendimento qualitativo uma vez que um modelo estatístico necessita de interpretação de seus resultados por meio do conhecimento qualitativo. Tal afirmação é corroborada por Allwright e Balley (1991:65), os quais afirmam que a combinação quantitativa e qualitativa para coleta e análise de dados é possível, considerando que esses modelos se interceptam. Não se pode deixar de salientar que ambos os métodos estão sendo usados com o mesmo propósito, ou seja, para investigar as duas dimensões de um mesmo problema, oferecendo, assim, contribuições complementares. 3.2 Desenvolvimento metodológico da pesquisa Considerando-se o que foi apresentado anteriormente, a fase de coleta de dados da presente pesquisa foi realizada conforme a descrição a seguir: 3.2.1 Informantes Foram selecionados, de forma aleatória, 16 alunos de duas escolas de línguas de Belo Horizonte, sendo oito alunos de cada uma das escolas. Para cada grupo de oito alunos, quatro pertenciam ao nível de iniciantes ou falsos-iniciantes (não-fluente) e cursavam o terceiro semestre do curso, ou o equivalente a 180 horas aula. Os outros quatro pertenciam ao nível avançado (fluente) desse mesmo curso e estavam no nono semestre, o equivalente a, aproximadamente, 480 horas aulas. 53 Utilizou-se a divisão natural das duas escolas de línguas para formar o grupo-teste e o grupo-controle. Cada um desses grupos foi composto por quatro alunos de nível iniciante e quatro de nível avançado, perfazendo um total de oito informantes. Desses 16 informantes, oito eram homens e oito mulheres, todos naturais de Belo Horizonte, com idades variando de 13 a 35 anos. Com relação ao tempo de exposição à língua-alvo (LA), a maioria dos adultos afirmou já haver freqüentado um curso de línguas anteriormente. De um modo geral, todos os informantes já apresentavam um conhecimento prévio de inglês adquirido no ensino médio ou em cursos livres. O tempo de exposição à LA desses informantes varia entre 17 meses a quatro anos e cinco meses. A escolha por informantes avançados (fluente) e iniciantes (não-fluente) foi devido ao nível de segmento que seria observado nesta pesquisa, em que se consideram aprendizes avançados, preparados para produzi-los, e aprendizes iniciantes, provavelmente não preparados. Salienta-se que todos os informantes foram orientados com relação ao que seja uma pesquisa científica e, também, foram assegurados quanto ao sigilo dos dados coletados. A tabela 1 apresenta informações a respeito dos referidos informantes. 54 Grupo-teste Sexo Idade Tempo de exp. à língua: horas/aula Grupo-controle Sexo Idade Tempo de exp. à língua: horas/aula TIF1 F 31 360 Tabela 1 Dados sobre os informantes TIF2 TIM1 TIM2 TAF1 TAF2 TAM1 TAM237 F M M F F M M 14 24 16 17 16 18 17 180 120 480 480 480 480 480 CIM1 CIM2 CIF1 M M F 13 14 14 180 120 180 CIF2 CAF1 CAF2 CAM1 CAM238 F F F M M 15 18 35 21 17 180 540 480 600 480 A escola a qual os informantes foram selecionados oferece professores, em sua grande maioria, não graduados em letras, ou seja, pessoas que têm outra formação superior e dão aulas de inglês. Por outro lado todos os professores têm certificado de proficiência na língua inglesa (Cambridge ou Michigan). A escola não oferece um curso de treinamento para ministrar as aulas, nem uma reciclagem semestral. 3.2.2 Instrumentos 1. Questionário: foi utilizado para investigar a naturalidade dos informantes, sua idade, o tempo de exposição à língua-alvo e também se os mesmos tinham algum amigo ou parente que freqüentava algum curso de línguas. Esse instrumento foi adotado para 37 Denominação dos informantes: (T) para grupo-teste (I) para informantes iniciantes, (A) para informantes avançados, (F) para feminino e (M) para masculino (TIF / TIM – TAF / TAM). 38 Denominação dos informantes: (C) para grupo-controle (I) para informantes iniciantes, (A) para informantes avançados, (F) para feminino e (M) para masculino (CIF / CIM – CAF / CAM). 55 assegurar-se que os informantes de um grupo não conheciam os informantes do grupo oposto. Um modelo desse questionário pode ser encontrado no apêndice G. 2. Exercícios estruturados: as atividades desenvolvidas para obter os dados constavam de apresentação de figuras que representavam palavras contendo os segmentos que seriam investigados na LA e na língua materna. O material para elicitação de dados pode ser encontrado no final deste trabalho, em forma de apêndices. As palavras as quais foram elicitadas por meio das figuras estão nos apêndices A e B. 3.2.3 O experimento É importante ressaltar que, antes de qualquer instrução, foi realizada uma gravação que se chamou de gravação-zero. Os informantes foram gravados individualmente, produzindo a LA e a LM. Essa gravação foi utilizada como referência na avaliação das gravações seguintes. A língua materna foi gravada apenas na gravação zero. Para atingir os objetivos mencionados na seção 1.3, bem como testar a hipótese levantada neste trabalho, foi desenvolvido um experimento o qual foi aplicado ao grupo-teste. O experimento consistiu de duas aulas de pronúncia focadas nos itens segmentais aqui investigados e tinha como objetivo conscientizar os informantes quanto aos aspectos fonéticos e fonológicos da LA e da língua materna. Nestas aulas, foram enfatizados aspectos motores (posição dos lábios e da língua), correlatos ortográficos, o detalhe fonético, noções de regras e a língua materna como referência para a produção da LA. Cada sessão de instrução durou aproximadamente 40 minutos. Na figura 10, é apresentado o roteiro de instruções fonéticas e fonológicas que foram passadas para os 56 informantes do grupo-teste quanto ao segmento [i˘]. No apêndice D encontra-se o roteiro completo das instruções de pronúncia ministradas. As sessões de instrução foram realizadas com todos os informantes de cada grupo, teste e controle, reunidos em suas respectivas unidades. O grupo-controle recebeu instruções que seguiram a abordagem tradicional encontrada nas aulas de língua, normalmente (apresentação dos sons e repetições). Como mencionado anteriormente o experimento foi aplicado apenas no grupo-teste. /i ˘ / - Foi mostrada a importância da distinção entre o [I] frouxo e o [i˘] tenso. Foi explicado que, em inglês, o referido segmento tem caráter distintivo como, por exemplo, nas palavras sh[I]p ship e sh[i˘]p sheep; o que não ocorre em português - Foi mostrado que, no português, temos vogais alongadas e não realmente longas. Por exemplo, Afta. A vogal [a] pode ser produzida como [a] ou [a˘] dependendo do falante e do dialeto e dependendo ou não da ocorrência da epêntese - Foi apresentada a questão motora, a posição dos lábios e da língua - Noções de regras foram dadas para que os informantes soubessem quando esse segmento poderia ocorrer e para que os mesmos soubessem quando alongar a vogal. Por exemplo, o segmento [I] só acontece em inglês, em sílaba fechada como em p[I]g; e o segmento [i˘] acontece tanto em sílabas abertas quanto fechadas: t[i˘] tea, m[i˘]t meat - Também foram explicadas questões sobre correlatos ortográficos. Por exemplo, um conjunto de letras pode representar um som, como, por exemplo, em p[i˘]ple people - Todos esses passos foram realizados com exemplos visuais - Por último, foram realizadas atividades para que os informantes pudessem praticar e tirar suas dúvidas, como ditado de pares mínimos e frases. Os informantes anotavam se estavam ouvindo o segmento tenso ou frouxo. Palavras como: eat – it / leek – lick / leave – live / beat – bit Figura 10 - Roteiro de instruções fonéticas e fonológicas para o segmento [ii˘]. Sete dias após cada seção de instrução, os informantes de cada grupo, respectivamente em suas unidades, foram solicitados a fazer gravações na língua-alvo. Cada gravação foi realizada individualmente e durou cerca de 20 minutos. No início de cada gravação, o informante recebia gravuras ilustrando o léxico que seria levantado. Um exemplo dessas gravuras está ilustrado na figura 11. 57 Figura 11 - Exemplo de gravura para levantar dados. Fonte - Amery e Cartwright, 1989. Cada gravura continha pontos específicos, marcados com setas vermelhas e amarelas. Para as setas vermelhas, os informantes falavam a palavra em inglês e, para as setas amarelas, em português, as quais foram utilizadas apenas na gravação-zero. A elicitação dos dados, como já mencionado, foi realizada por meio de figuras para que não houvesse interferência de correlatos ortográficos. O material completo utilizado para a elicitação dos dados encontra-se no apêndice C. Depois de encerradas todas as gravações, as mesmas foram analisadas perceptivamente. Análises acústicas também foram realizadas, observando-se o primeiro e o segundo formantes. De fato, os resultados desta pesquisa consideraram apenas a primeira gravação (gravação zero) e a última gravação (gravação final), devido ao interesse exclusivo no estado inicial e final do desenvolvimento de cada informante. 58 3.2.4 Gravações dos dados Foram realizadas três gravações (gravação-zero, gravação-inicial e gravação-final), tanto com o grupo-controle quanto com o grupo-teste. Todas as gravações foram agendadas previamente com os informantes e foram feitas em uma sala de aula fora do horário das aulas. Foi priorizada essa estratégia para não causar constrangimento aos informantes e evitar ruídos nas gravações. Todas as gravações foram realizadas individualmente e tiveram duração de cerca de 20 minutos cada uma. Foi estabelecido um intervalo de sete dias entre cada gravação. 3.2.5 Equipamentos e materiais Foram utilizados os seguintes equipamentos e materiais para realizar as gravações: • • • • • 3.2.6 um computador portátil Toshiba; um microfone unidirecional; programa de análise de voz: Speech Analyzer Tool, versão 1.06a, o qual gera arquivos .wav;. programa para análise acústica: Macquirer (versão 1.0); livro The first thousand words: a picture word book39, contendo as figuras com as quais o léxico foi obtido. Análises dos dados Os dados gravados dos dois grupos foram primeiramente passados em um teste de percepção. O teste envolveu três juízes, cada um, individualmente, ouviu cada gravação 39 AMERY, H. e CARTWRIGHT, S. The first thousand words: a picture word book. Usborne. 1989. 59 três vezes e fez considerações quanto as produções dos informantes, com relação aos segmentos investigados. Posteriormente, os dados gravados no computador portátil no programa Speech Analyzer Tool foram passados para um CD-ROM e analisados acusticamente em um outro programa (Macquirer, versão 1.0). Nas análises acústicas, foram observados o primeiro e o segundo formantes. Assim mediu-se o ponto central dos segmentos investigados, por ser considerado pela literatura o ponto mais estável para análise. Os valores encontrados para F1 e F2 referentes a LA encontram-se no apêndice J. Ainda como parte da análise acústica foi medida a duração dos segmentos investigados. A duração foi medida considerando o início da produção do segmento alvo até o final desta. Os valores referentes a duração destes encontram-se no apêndice Jz. De posse de todos os resultados, foram realizadas análises interpretativas e estatísticas seguidas de uma posterior triangulação dos resultados para se chegar aos resultados finais deste trabalho. As análises desta pesquisa serão explicadas em detalhes no capítulo que se segue40. 3.3 - Procedimentos metodológicos A partir da descrição anterior de todos os instrumentos e recursos que foram utilizados na elaboração da presente pesquisa, a seguir, apresentam-se os procedimentos nos quais a mesma foi conduzida. 40 Salienta-se que foram coletados dados tanto da LM quanto da LA, porém, devido ao tempo imposto para o curso de mestrado não chegou-se ao término das análises dos dados da LM. Os resultados destas serão apresentados em um artigo futuro. 60 O primeiro passo foi analisar os questionários e identificar possíveis informantes que atendessem a dois critérios preestabelecidos: ser natural de Belo Horizonte e não ter nenhum relacionamento com informantes do grupo oposto. Em seguida, os candidatos selecionados foram contatados com o intuito de explicar-lhes o que seria o projeto. Nesse primeiro encontro, foram acertadas as datas nas quais os informantes receberiam as instruções e fariam as gravações. Os informantes foram acompanhados por aproximadamente um mês, ao longo do semestre letivo41. Nesse período foram realizadas duas sessões de instruções e três sessões de gravações (gravação zero (0), gravação um (1) e gravação dois (2)). Cada gravação foi feita com um intervalo de sete dias aproximadamente. As mesmas foram realizadas tanto no grupo-controle quanto no grupo-teste. A primeira gravação, ou seja, a gravação-zero, foi realizada antes de qualquer instrução, em ambos os grupos, e funcionou como um pré-teste. Nessa gravação, os informantes foram gravados produzindo a língua-alvo (figuras), e a língua materna (figuras). Uma semana após, ambos os grupos, cada um em sua respectiva escola, recebeu a primeira instrução. O grupo-controle, como já mencionado anteriormente, seção 3.2.1, 41 Foi delimitado esse período de tempo devido à impossibilidade de acompanhar os informantes, longitudinalmente, durante todo o ano letivo, por se tratar de um curso semestral e devido à limitação de tempo imposta a um trabalho desta magnitude (dissertação de mestrado). 61 recebeu instruções tradicionais. E o experimento, também explicado anteriormente, seção 3.2.3, foi aplicado apenas no grupo-teste. Sete dias após a primeira instrução, os informantes foram gravados novamente (gravação-um). Nesse momento, os informantes foram gravados produzindo a língua-alvo. Essa mesma manobra foi realizada nas duas semanas seguintes, o que constituiu a segunda instrução e a gravação-dois. A etapa seguinte deste projeto consta das análises dos dados coletados que estão descritas no capítulo que se segue. 84 4.24 Análises acústicas das produções A Teoria de Análise Acústica da Fala representa uma maneira de entender e analisar a fala, considerando a relação entre os aspectos acústicos e articulatórios. De um modo geral, todos os segmentos pertencentes a um sistema sonoro podem ser classificados articulatória e acusticamente. A análise acústica segmental também permite identificar particularidades de um segmento, corroborando análises articulatórias e auditivas (MARUSSO, 2003:33). Para entender o sistema sonoro das línguas investigadas neste trabalho, utilizamos, como parâmetro articulatório do sistema vocálico, a Teoria das Vogais Cardeais de Jones (1956). Na figura 30, observam-se os pontos propostos por Jones (1956), para as vogais puras frontais e posteriores. A proposta do autor serve como parâmetro para identificar articulatoriamente vogais de qualquer língua natural. Figura 30 - Diagrama das Vogais Cardeais proposta por Jones (1956) Fonte – Jones, 1956, p. 21. 85 Descritivamente, os segmentos vocálicos da LM e da LA investigados neste trabalho definem-se de forma bem similar. Nas figuras 31 e 32, podem ser observadas as características de cada segmento com relação à posição articulatória e também com relação ao deslocamento da língua e à movimentação dos lábios. Posição da língua /i˘/ /I/ /i/ /j/ Vogal alta, fechada e longa Vogal alta, semiaberta e curta Vogal alta, fechada e alongada Semivogal anterior alta Posição dos lábios Bem alta e avançada Estendidos (boca quase fechada) Relaxada, um pouco mais baixa e mais recuada do que o /i˘/ Alta e avançada Estendidos (boca relaxada) Estendidos Características articulatórias da vogal /i˘/ Leve relaxamento dos lábios na passagem de [j] para a vogal seguinte Figura 31 - Considerações com relação à posição da língua e dos lábios para a produção da LA. Fonte - Mascherpe, 1970:45) /i/ [I] [i] [j] Vogal oral anterior Vogal oral anterior Posição da língua Posição dos lábios alta Alta e um pouco avançada Estendidos alta A produção é como o segmento /i/, mas produzida com a língua um pouco mais baixa e mais recuada Alta e um pouco avançada Estendidos (boca relaxada) Não arredondados Características articulatórias da vogal /i/ Leve relaxamento dos lábios na passagem de [j] para a vogal seguinte Vogal oral alta anterior Semivogal oral alta anterior Figura 32 - Considerações com relação à posição da língua e dos lábios para a produção da LM. Fonte - Mascherpe, 1970:50) Com base nas figuras 31 e 32, pode-se afirmar que, realmente, todos esses segmentos são articulatoriamente muito similares, a posição dos lábios e da língua são bastante semelhantes. A diferença básica entre eles é com relação ao ponto de articulação e à duração. O que foi observado neste trabalho, por exemplo, o segmento /i˘/ da LA apresenta uma duração maior do que o /i/ da LM, o mesmo se aplica à vogal [i] neutralizada da LA, que é mais longa do que o segmento similar da LM. As figuras 33 e 34 com base em 86 Cristófaro-Silva (1999) e Jones (1956) ilustram a distribuição das vogais do português brasileiro e do inglês. Da mesma forma, com base nos parâmetro das vogais cardeais, Cristófaro-Silva (1999) propõe a localização das vogais do português brasileiro do dialeto de Belo Horizonte, e Jones (1956) localiza as vogais do inglês britânico (RP). Figura 33 - Diagrama das vogais do português brasileiro do dialeto de Belo Horizonte Fonte - Cristófaro-Silva ,1999, p. 146. Figura 34 - Diagrama das vogais do inglês (RP) Fonte - Jones,1956, p. 23. Também aplicando o método das vogais cardeais, Marusso, 2003:19 cruza os dados de Cristófaro-Silva (1999) e Jones (1956) e propõe uma figura representando as vogais dos dois sistemas sonoros. A figura 35 ilustra a superposição de Marusso (2003). A mesma permite visualizar, de forma clara, as similaridades e diferenças entre os dois sistemas vocálicos. De acordo com a autora, as vogais contornadas por um círculo maior são as vogais do português brasileiro, e aquelas contornadas por um círculo menor são as do inglês britânico. Observa-se, na figura de Marusso (2003) que, de um modo geral, os segmentos frontais da LA são mais baixos que os da LM, exceto o segmento /i˘/ que é mais anterior. O 87 /i/ da LM é mais central do que o /i˘/ da LA, já o /I/ do português brasileiro é um pouco mais anterior que o da LA. Esses segmentos estão sendo ressaltados porque são o objeto de pesquisa deste projeto. Figura 35 - Diagrama das vogais do português brasileiro (Cristófaro-Silva, 1999) e do inglês britânico RP (Jones,1956) Fonte - Marusso, 2003, p. 19. Alguns outros exemplos, apresentados por Ladefoged (1993:224), ilustram a utilização do método das vogais cardeais aplicado a outras línguas naturais. A figura 36 representa as vogais do espanhol, japonês e do dinamarquês. 88 Figura 36 - Diagrama das vogais do espanhol, do japonês e do dinamarquês Fonte - Ladefoged, 1993, p. 224. Conclui-se que, mesmo sendo o método das vogais cardeais muito útil para identificar e localizar vogais de línguas naturais, muitas vezes, criam-se confusões devido à utilização de um mesmo símbolo para sons fonética e fonologicamente diferentes. Observase que, em todas as línguas anteriormente apresentadas, tem-se o segmento /i/, mas, para cada uma delas, esse segmento encontra-se com qualidade vocálica diferente. A diferença na qualidade vocálica pode ser expressa pela posição da língua e pode ser capturada na análise acústica da fala pelos valores dos formantes F1 e F2. As variações articulatórias dos segmentos se refletem nas características acústicas. As vogais altas frontais caracterizam-se por terem um F1 baixo e um F2 elevado. E, entre essas vogais, a vogal tensa tem um F1 mais baixo e um F2 mais alto em relação à vogal frouxa /I/, que tem um F1 mais alto e F2 mais baixo. Observa-se que o F1 e o F2 são inversamente proporcionais, para as vogais frontais. Observa-se, na figura 37, a relação das características articulatórias e acústicas nos valores dos formantes 1 e 2. 89 Vogais altas frontais F1 F2 F1 é inversamente relacionado à altura da língua em relação ao palato. Quanto mais alta a língua, mais baixos os valores do primeiro formante. Quanto mais baixa a língua, mais altos os valores do F1 F2 é relacionado à anterioridade ou posterioridade da língua, ou seja, os valores de F2 aumentam à medida que a língua se move para a frente da boca. O F2 está também relacionado ao arredondamento dos lábios, valores mais altos significam lábios estendidos, valores mais baixos significam lábios arredondados Figura 37 - Relação entre os formantes 1 e 2 e a articulação Fonte - Picket, 1999, p. 23 e Ball, 1999, p.166. Para o português brasileiro, como foi apresentado na figura 32 e nas figuras 33 e 35, os pontos articulatórios são um pouco mais baixos do que a LA. Desta forma os valores dos formantes também diferem. Na figura 38, pode-se observar uma combinação de aspectos acústicos com aspectos auditivos, relacionados por Ladefoged (1993:218) para as vogais do inglês americano. Nessa figura, pode ser constatado o que foi afirmado sobre o relacionamento entre questões articulatórias e valores dos formantes descritos na figura 37. Observa-se que, à medida que a língua se desloca para o interior da cavidade bucal, os valores de F2 vão diminuindo e, quanto mais baixa a língua estiver dentro da cavidade bucal, mais altos os valores de F1. 90 Figura 38 - Representação da combinação acústica e auditiva para algumas vogais do inglês americano Fonte - Ladefoged, 1993, p. 218. Além das características articulatórias apresentadas para realizar uma análise acústica, ainda se devem observar as variáveis gênero e idade. Os homens diferem das mulheres devido ao tamanho do trato vocal. O trato vocal masculino é tipicamente maior que o feminino, logo, a ressonância produzida é menor. Assim, os valores dos formantes dos homens são, normalmente, mais baixos do que os das mulheres e das crianças (Kent e Read, 1992:153-161) e (Picket, 1999:29). A análise acústica da fala, como mencionado anteriormente, foi utilizada para investigar as produções dos informantes com relação aos valores relativos ao primeiro (F1) e ao segundo (F2) formante e, também, quanto à duração da produção de cada segmento. Para investigar a produção oral dos informantes, os valores obtidos da produção desses, foi 91 comparado com os valores de um parâmetro baseado nos valores obtidos no trabalho de Peterson e Barney (1952) apud Kent e Read, 1992. Os valores dos formantes, para os segmentos /i˘/ e /I/ seguiram o trabalho de Peterson e Barney (1952)47. A vogal /i/ e o glide /j/, embora tenham sido observados os valores dos autores, obedeceram aos seguintes critérios: para o segmento neutralizado /i/, foram utilizados os mesmos valores da vogal /i˘/, por esses segmentos apresentarem semelhanças articulatórias e por diferirem apenas na variável duração. Quanto aos valores para o glide palatal, foram conservados os mesmos valores da vogal /I/, devido à similaridade articulatória e por se esperar um segmento mais baixo e mais recuado que a vogal /i˘/ e também com uma duração curta. Porém, existem controvérsias na literatura quanto aos valores relativos aos formantes deste segmento. Assim, a necessidade de se realizarem mais pesquisas na área com o intuito de obterem-se mais parâmetros comparativos. A utilização dos valores apresentados em Peterson e Barney (1952) foi motivada por serem eles os únicos, dentre os autores consultados, a apresentarem valores para os formantes 1 e 2 para homens e mulheres, separadamente. Considerou-se que, quanto mais próximos ao ponto representando o parâmetro, mais inteligíveis as produções, ou seja, maior proficiência era apresentada pelos informantes. 47 PETERSON, G. E. e BARNEY, H. E. Control methods used in a study of vowels. Journal of the Acoustical Society of America, 24, p. 175-184, 1952. 92 Relatam-se, agora, alguns valores referentes aos formantes 1 e 2 e para a duração, referentes aos segmentos vocálicos aqui investigados, apontados por autores relevantes tanto para a LA como para a LM. As tabelas de 7 a 12 referem-se à LA e as de 13 a 16 à LM. Salienta-se que a tabela 12 apresenta os resultados para a LA encontrados neste trabalho. Tabela 7 - Valores dos formantes 1 e 2 para a LA encontrados em Kent, 1992:181. Fala sintetizada F1 F2 Duração i: I i J 300 400 300 2200 2000 2200 160 130 80 Tabela 8 - Valores dos formantes 1 e 2 para a LA encontrados em Peterson e Barney (1952) apud Kent, 1992:95. Masculino F1 F2 i: I 270 400 2300 2000 ¡ - j - Feminino Duração - F1 F2 Duração - - 300 430 2800 2500 - - - - - - - - - - - Tabela 9 - Valores dos formantes 1 e 2 para a LA encontrados em Ladfoged, 1993:193. F1 Sem referência F2 Duração 2250 1920 - i - - - j - - - i: I 280 400 - Tabela 10 - Valores dos formantes 1 e 2 para a LA encontrados em IPA, 1996. Masculino F1 F2 Duração - i: I 280 400 2250 1920 i - - - j - - - - 93 Tabela 11 - Valores dos formantes 1 e 2 para a LA encontrados Picket, 1999:44. Masculino F1 F2 i: I 250 2150 - - - i - - - j - - - - Duração Tabela 12 - Valores dos formantes 1 e 2 para a LA obtidos neste trabalho. Masculino i: I i j Feminino F1 F2 Duração F1 F2 Duração 262 382 278 308 2184 2107 2356 2171 190 97 81 68 309 428 332 341 2628 2418 2509 2572 244 121 98 63 Tabela 13 - Valores dos formantes 1 e 2 para a LM encontrados em Cagliari, 1977. 48 Masculino i F1 F2 Duração 267 2191 - Tabela 14 - Valores dos formantes 1 e 2 para a LM encontrados em Matta Machado, 1981. Masculino i F1 F2 Duração 302 2647 - Tabela 15 - Valores dos formantes 1 e 2 para a LM encontrados em Behlau, 1988. Masculino i F1 F2 398 2456 Duração - Tabela 16 - Valores dos formantes 1 e 2 para a LM encontrados em Sousa, 1994. Masculino i F1 F2 292 2112 Duração - A seguir, na seção 4.2.1, far-se-ão considerações quanto à gravação zero, analisando o estado inicial dos informantes de ambos os grupo. Na seção 4.2.2, apresentar-se-ão os 48 Os dados valores de F1 e F2 aqui apresentados para o português brasileiro foram retirados do trabalho de Behlau (1984). 94 resultados quanto à gravação zero e final do grupo-controle e, na seção 4.2.3, tratar-se-á dos resultados do grupo-teste com relação às gravações zero e final. Será apresentado, na seção 4.2.2, o valor médio obtido para as produções dos segmentos de ambos os grupos com relação à gravação final, após o experimento e, finalmente, na seção 4.3, é realizada uma conclusão das análises, tanto perceptivas quanto acústicas. 4.2.1 Considerações quanto à gravação zero A partir das considerações tratadas anteriormente, apresentam-se os resultados da análise acústica, observando-se o primeiro e o segundo formantes, bem como a duração de cada segmento. Os dados foram cruzados, primeiramente, considerando-se o grupo-teste e o grupo-controle e a relevância do gênero dos informantes. Como já mencionado, levou-se em conta um parâmetro a partir dos dados de Peterson e Barney (1952) para se fazerem as análises dos resultados da LA. Os pontos nos gráficos representam os segmentos /i˘/, /i/, /I/ e /j/. O losango configura as entradas para o segmento /i˘/ em três situações encontradas na LA. Em sílaba aberta, como em sea s[i˘], b) em sílaba fechada, como em speak sp[i˘]k, c) em sílaba fechada, em meio de palavra, como em policeman pol[i˘]ceman. O segmento /i/ representado por um quadrado, em duas situações de ocorrência na LA, a) em final de palavra, em sílaba átona, como em happy happ[i] e, b) seguido de outra vogal como em radio rad[i]o. A vogal frouxa /I/, representada pelo triângulo, em duas situações: a) em 95 sílaba travada como em pig p[I]g; b) em sílaba travada, em posição tônica como em gorilla gor[I]lla. O último segmento, o glide /j/ representado pelo asterisco, ocorre no início de palavra seguido de vogal, como em yellow [j]ellow. As figuras de 39 a 42 ilustram a situação inicial de cada grupo, apresentando um valor obtido pelo cálculo da média para cada segmento produzido separadamente por homens e mulheres. Considerando-se os informantes do sexo feminino, figuras 39 e 40, observa-se que os grupos misturam a área de produção das vogais tensa /i˘/ e frouxa /I/, especialmente. F2 Grupo Controle zero : médias femininas 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 200 i: i I J 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 39 - Grupo-controle Zero: Médias Acústicas das Produções Femininas Legenda /i/ neutralizado como: 1) em final de palavra, em sílaba átona, como em happy happ[i] e, 2) seguido de outra vogal como em radio rad[i]o. /i˘/ tenso como em: 1) em sílaba aberta, como em sea s[i˘], 2) em sílaba fechada, como em speak sp[i˘]k, 3) em sílaba fechada, em meio de palavra, como em policeman pol[i˘]ceman. /I/ frouxa em duas situações como em: 1) em sílaba travada como em pig p[I]g; 2) em sílaba travada, em posição tônica como em gorilla gor[I]lla. * /j/ o glide no início de palavra seguido de vogal, como em yellow [j]ellow. 96 F2 Grupo Teste Zero : m édias fem ininas 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2 10 0 2000 19 0 0 18 0 0 17 0 0 16 0 0 15 0 0 i: i I J 200 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 40 - Grupo-teste Zero: Médias Acústicas das Produções Femininas Observa-se que o grupo-controle zero produz a vogal neutralizada [i] e a vogal frouxa [I] com valores referentes ao F1 invertidos. A vogal [i] foi produzida com valores de F1 que seriam relativos à vogal [I], e o mesmo é afirmado para a vogal [I], que apresenta valores relativos à vogal [i]. Esperam-se valores de aproximadamente 430 - 2500 Hz para a vogal [I] e de 300 – 2800 Hz para a vogal [i]. O grupo-teste zero produz a vogal tensa [i˘], cujos valores esperados são de 300 – 2800 Hz, como a vogal frouxa [I]. Já o glide [j] está relativamente na mesma produção, para ambos os grupos, sendo que os valores esperados são de aproximadamente 300 – 2800 Hz para o glide. O grupo-controle aproxima-se dessa produção com relação ao F2, como explicado na introdução da seção 4.2. Os valores obtidos para os formantes F1 e F2 refletem a articulação dos segmentos. Assim, para os informantes do sexo feminino dos dois grupos, pode-se afirmar que os mesmos não apresentam uma articulação distintiva para os segmentos investigados. 97 Os informantes masculinos dos dois grupos mostram uma situação semelhante à das mulheres. Pode ser observado, nas figuras 41 e 42, a seguir, primeiramente o segmento tenso, em azul, o qual parece ter uma produção mais definida, pelo menos com relação aos valores de F1. Por outro lado, o glide /j/ é produzido de forma totalmente distinta pelos dois grupos. Salienta-se que, nesse momento, nenhum dos grupos apresentou um ponto mais próximo à produção ideal. O segmento /I/, por sua vez, foi produzido por ambos os grupos com valores muito baixos de F1. Já com relação ao segmento /i/, o grupo-teste mostra valores de F2 satisfatórios. F2 Grupo Controle Zero: médias masculinas 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 200 i: i I J 250 300 350 400 450 500 F1 Figura 41 - Grupo-controle Zero: Médias Acústicas das Produções Masculinas 550 600 98 F2 Teste zero: médias masculinas 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 200 i: i I J 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 42 - Grupo-teste Zero: Médias Acústicas das Produções Masculinas Como foi ponderado anteriormente, com relação à questão da variabilidade existente entre os falantes, as médias dos valores encontrados quanto às produções apresentam uma generalização da visão geral dos grupos. Pode-se dizer que as médias aqui representadas não nos dão uma visão real dos fatos, os quais poderão ser observados quando se tratar dos resultados individuais dos informantes. De maneira geral, observa-se que os informantes, tanto do grupo-teste quanto do grupo-controle, tanto os femininos quanto os masculinos, não apresentam uma distinção nítida quanto à produção dos segmentos investigados, nem com relação aos valores de F1 nem aos de F2. Logo, pode-se afirmar que os mesmos não mostram ajustes articulatórios necessários para a distinção desses segmentos, não demonstrando consciência da importância fonológica dessas distinções. 99 4.2.2 Considerações quanto às gravações zero e final: grupo-controle Além dos resultados gerais de cada grupo, examinaram-se também os resultados de cada indivíduo. Afirma-se que a visão do grupo representa um panorama geral do objeto aqui investigado em relação aos aprendizes. Porém, almeja-se o tratamento individualizado do aprendiz, identificando seus pontos fortes e fracos, bem como o seu desenvolvimento durante a pesquisa. Devido ao grande número de análises realizadas, selecionou-se uma amostra para representar os resultados aqui encontrados. Escolheram-se, dentre os 16 informantes, oito informantes, quatro de cada grupo, dois masculinos e dois femininos, dois iniciantes e dois avançados, para representarem a situação encontrada nos resultados. O restante dos dados referentes as análises acústicas podem ser encontrados no apêndice I. Nas figuras de 43 a 46 , pode-se observar o desempenho de um informante iniciante, do sexo feminino, (CIF49) nos estágios inicial e final. Apresenta-se um gráfico para cada segmento investigado, e cada ponto representa uma instância de produção do informante. O parâmetro, triângulo cinza, o qual foi explicado anteriormente, serve de referência para as produções. 49 Denominação dos informantes: (C) para grupo-controle (I) para informantes iniciantes, (A) para informantes avançados, (F) para feminino e (M) para masculino (CIF / CIM – CAF / CAM). 100 F2 Comparação entre valores reais e esperados: /i:/ Informante CIF1 3000 2900 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 200 Controle zero Controle final Parâmetro 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 43 - Grupo-controle Zero e Final: /ii˘/ informante feminino iniciante CIF1. F2 Comparação entre valores reais e esperados: /i/ Informante CIF1 3000 2900 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 200 Controle zero Controle final Parâmetro 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 44 - Grupo-controle Zero e Final: /ii/ informante feminino iniciante CIF1. 101 F2 Comparação entre valores reais e esperados: /I/ Informante CIF1 3000 2900 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 Controle zero Controle final Parâmetro 200 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 45 - Grupo-controle Zero e Final: /II/ informante feminino iniciante CIF1. F2 Comparação entre valores reais e esperados: /J/ Informante CIF1 3000 2900 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 Controle zero Controle final Parâmetro 200 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 46 - Grupo-controle Zero e Final: /jj/ informante feminino iniciante CIF1. Este informante não apresenta uma mudança positiva entre a produção inicial e a final. Observa-se que, embora um ponto ou outro tenha se aproximado do parâmetro, a maioria deles está distante ou distanciando-se dele. Observando-se a figura 43, pode-se afirmar, com relação ao segmento tenso, que o informante ajustou o F2, ou seja, a parte mais alta da língua aproximou-se mais do ponto de articulação satisfatório, em relação à gravação zero, mas a maioria dos pontos ainda estão dispersos, variando tanto quanto aos 102 valores de F1 como aos valores de F2. O mesmo pode ser afirmado para todos os outros segmentos, exceto para o segmento /j/, figura 46 , que apresenta uma articulação mais ajustada, tanto para o F2 quanto para o F1. Para o informante iniciante masculino (CIM) do grupo-controle, apresentado nas figuras de 47 a 50, mostra-se o mesmo contraste entre a gravação zero e a final. O informante apresenta um domínio um pouco maior com relação à articulação, pelo menos no que se refere à altura da língua, valores de F1, sendo que o mesmo já era observado para a gravação inicial. Comparação entre valores reais e esperados: /i:/ Informante CIM1 3000 2900 2800 2700 2600 2500 F2 2400 Controle zero 2300 Controle final 2200 Parâmetro 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 200 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 47 – Grupo-controle Zero e Final: /ii˘/ informante masculino iniciante CIM1. 103 Conparação entre valores reais e esperados: /i/ Inform ante CIM1 3000 2900 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2 10 0 2000 19 0 0 18 0 0 17 0 0 16 0 0 15 0 0 Cont r ole zero Cont r ole f inal Par âmet r o 200 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 48 – Grupo-controle Zero e Final: /ii/ informante masculino iniciante CIM1. Com paração entre valores reais e esperados: /I/ Inform ante CIM1 3000 2900 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2 10 0 2000 19 0 0 18 0 0 17 0 0 16 0 0 15 0 0 Cont r ole zero Cont r ole f inal Par âmet r o 200 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 49 – Grupo-controle Zero e Final: /II/ informante masculino iniciante CIM1. Com paração entre valores reais e esperados: /J/ Inform ante CIM1 3000 2900 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2 10 0 2000 19 0 0 18 0 0 17 0 0 16 0 0 15 0 0 Controle zero Controle f inal Parâmet ro 200 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 50 - Grupo-controle Zero e Final: /jj/ informante masculino iniciante CIM1. 104 Esse leve ajuste de F1 é o mesmo observado nas figuras 49 e 50. A figura 48 apresenta uma leve movimentação da língua para a parte anterior da cavidade bucal. Far-se-ão, agora considerações quanto aos informantes avançados, femininos (CAF) e masculinos (CAM), também do grupo-controle, para as gravações zero e final. As figuras de 51 a 54 apresentam os resultados de um informante feminino. Tal informante mostra uma produção satisfatória para o segmento tenso, revelando um bom desempenho articulatório, da mesma forma, para o segmento /i/, sendo que esses dois segmentos apresentam características articulatórias similares. Porém, com relação aos outros segmentos, observa-se uma dispersão muito grande dos pontos, não sendo possível fazer afirmações. F2 Comparação entre valores reais e esperados: /i:/ Informante CAF1 3000 2900 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 200 Controle zero Controle final Parâmetro 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 51 - Grupo-controle Zero e Final: /ii˘/ informante feminino avançado CAF1. 105 F2 Comparação entre valores reais e esperados: /i/ Informante CAF1 3000 2900 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 200 Controle zero Controle final Parâmetro 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 52 - Grupo-controle Zero e Final: /ii/ informante feminino avançado CAF1. F2 Com paração entre valores reais e esperados: /I/ Inform ante CAF1 3000 2900 2800 2 70 0 2600 2 50 0 2400 2300 2200 2 10 0 2000 19 0 0 18 0 0 170 0 16 0 0 150 0 200 Controle zero Controle final Parâmetro 2 50 300 3 50 400 4 50 50 0 550 600 F1 Figura 53 - Grupo-controle Zero e Final: /II/ informante feminino avançado CAF1. F2 Com paração entre valores reais e esperados: /J/ Inform ante CAF1 3000 2900 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2 10 0 2000 19 0 0 18 0 0 17 0 0 16 0 0 15 0 0 200 Controle zero Controle final Parâmetro 250 300 350 400 450 500 550 F1 Figura 54 - Grupo-controle Zero e Final: /jj/ informante feminino avançado CAF1. 600 106 106 Observa-se, para as figuras de 55 a 58, um informante avançado masculino. O mesmo, assim como o informante feminino, apresenta maior proximidade com o parâmetro para os segmentos /i˘/ tenso e /i/ neutralizado. Tal evento é esperado, considerando-se a maneira de articulação similar dos dois segmentos. Por outro lado, o segmento /I/ e o /j/ apresentam uma certa linearidade com relação ao F2. F2 Comparação entre valores reais e esperados: /i:/ Informante CAM1 3000 2900 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 Controle zero Controle final Parâmetro 200 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 55 - Grupo-controle Zero e Final: /ii˘/ informante masculino avançado CAM1. F2 Comparação entre valores reais e esperados: /i/ Informante CAM1 3000 2900 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 200 Controle Zero Controle final Parâmetro 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 56 - Grupo-controle Zero e Final: /ii/ informante masculino avançado CAM1. 107 F2 Comparação entre valores reais e esperados: /I/ Informante CAM1 3000 2900 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 Controle zero Controle final Parâmetro 200 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 57 - Grupo-controle Zero e Final: /II/ informante masculino avançado CAM1. F2 Comparação entre valores reais e esperados: /J/ Informante CAM1 3000 2900 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 200 Controle zero Controle final Parâmetro 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 58 - Grupo-controle Zero e Final: /jj/ informante masculino avançado CAM1. O que pôde ser constatado, para os informantes iniciantes do grupo-controle, é que a produção oral dos mesmos apresenta-se um pouco dispersa e não existe uma definição clara com relação aos formantes 1 e 2 para cada segmento. O segmento tenso, mesmo mostrando uma dispersão, é, de modo geral, o que se revelou mais próximo do parâmetro. Salienta-se, porém, que tal afirmação vale para ambas as gravações, zero e final. Assim sendo, não se pode afirmar ser esse resultado devido à instrução tradicional. O pequeno ajuste observado para o segmento frouxo, para os iniciantes, 108 deu-se com relação aos valores de F1, ou seja, com relação ao abaixamento da língua em relação ao palato. Para os informantes avançados, como esperado, apresentam-se mais próximos ao parâmetro estabelecido para o segmento tenso do que os informantes iniciantes, principalmente com relação ao F2, anterioridade da língua e não arredondamento dos lábios. Para o segmento neutralizado /i/, também, observa-se uma aproximação, com relação ao F1. Já para o segmento frouxo /I/, não existe uma aproximação com o parâmetro. Os pontos estão muito dispersos e mais próximos ao segmento tenso. 4.2.3 Considerações quanto às gravações zero e final: grupo-teste Nesse momento, apresentam-se os resultados dos informantes do grupo-teste, grupo que recebeu o tratamento diferenciado quanto à pronúncia dos segmentos investigados. Contrasta-se a produção inicial, antes do tratamento e a produção final, após o tratamento. As figuras de 59 a 62 mostram um informante iniciante de sexo feminino (TIF)50, em relação à gravação inicial e ao parâmetro. Observa-se que o informante, após as instruções, aproxima-se mais do parâmetro proposto. A figura 59 representa o segmento tenso /i˘/, mostrando que, na gravação final, pontos rosa, aproximaram-se mais do parâmetro em relação à gravação inicial, pontos azuis. Não se pode afirmar que a produção esteja dentro da previsibilidade para a LA, mas observa-se uma freqüência 50 Denominação dos informantes: (T) para grupo-teste (I) para informantes iniciantes, (A) para informantes avançados, (F) para feminino e (M) para masculino (TIF / TIM – TAF / TAM). 109 nos valores de F1 e um aumento nos valores de F2, ou seja, o informante realizou ajustes, tanto com relação à anterioridade da língua quanto com sua altura. O mesmo é observado para o segmento frouxo, realizando-se uma aproximação com o parâmetro, em relação à gravação inicial e, um ajuste, tanto com relação à anterioridade da língua como com à sua altura. Assim, pelo menos articulatoriamente, pode-se afirmar que esse informante produz a distinção entre esses dois segmentos. F2 Comparação entre valores reais e esperados: /i:/ Informante TIF1 3000 2900 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 200 Teste zero Teste final Parâmetro 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 59 - Grupo-teste Zero e Final: /ii˘/ informante feminino iniciante TIF1. F2 Comparação entre valores reais e esperados: /i/ informante TIF1 3000 2900 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 200 Teste zero Teste final Valor Padrão 250 300 350 400 450 500 550 F1 Figura 60 - Grupo-teste Zero e Final: /ii/ informante feminino iniciante TIF1. 600 110 F2 Comparação entre valores reais e esperados: /I/ informante TIF1 3000 2900 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 200 Teste zero Teste final Parâmetro 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 61 - Grupo-teste Zero e Final: /II/ informante feminino iniciante TIF1. Com paração entre valores reais e esperados: /J/ Inform ante TIF1 3000 2900 2800 2 70 0 2600 2 50 0 2400 2300 2200 2 10 0 2000 19 0 0 18 0 0 170 0 16 0 0 150 0 200 Teste zero Teste final Parâmetro 2 50 300 3 50 400 4 50 50 0 550 600 F1 Figura 62 - Grupo-teste Zero e Final: /jj/ informante feminino iniciante TIF1. Em relação à gravação inicial, o informante iniciante masculino (TIM), figuras de 63 a 66, ajustou a produção dos segmentos com relação ao F1 para a vogal tensa, ou seja, com relação ao abaixamento da língua. Com relação à zona de articulação representada pelo segundo formante, houve um aprimoramento visível, mas a língua ainda permanece um pouco recuada, como indicam os baixos valores de F2. 111 F2 Com paração entre valores reais e esperados: /i:/ Inform ante TIM1 3000 2900 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 Teste zero Teste final Parâmetro 200 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 63 - Grupo-teste Zero e Final: /ii˘/ informante masculino iniciante TIM1. Com paração entre valores reais e esperados: /i/ Inform ante TIM1 3000 2900 2800 2 70 0 2600 2 50 0 2400 2300 2200 2 10 0 2000 19 0 0 18 0 0 170 0 16 0 0 150 0 200 Teste zero Teste final Parâmetro 2 50 300 3 50 400 4 50 50 0 550 600 F1 Figura 64 - Grupo-teste Zero e Final: /ii/ informante masculino iniciante TIM1. Comparação entre valores reais e esperados: /I/ Informante TIM1 3000 2900 2800 F2 2700 2600 2500 2400 2300 2200 Teste zero 2100 2000 1900 Teste final Parâmetro 1800 1700 1600 1500 200 250 300 350 400 450 500 F1 Figura 65 - Grupo-teste Zero e Final: /II/ informante masculino iniciante TIM1. 550 112 Comparação entre valores reais e esperados: /J/ Informante TIM1 F2 3000 2900 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 Teste zero Teste final Parâmetro 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 200 250 300 350 400 450 500 550 F1 Figura 66 - Grupo-teste Zero e Final: /jj/ informante masculino iniciante TIM1. A vogal /i/ apresenta uma dispersão em relação ao parâmetro, revelando um aprimoramento mínimo com relação ao F2. Já para o segmento frouxo, observou-se um desempenho, tanto com relação ao F1 como em relação ao F2, produzindo provavelmente a distinção entre os segmentos /i˘/ e /I/. Para o glide /j/, não se observou nenhum ajuste. Na gravação inicial, o F1 mostrou-se mais próximo ao parâmetro e, na gravação final, o F2 aproximou-se e o F1, não. Assim, temos comportamentos distintos. Os informantes avançados do grupo-teste apresentam, de um modo geral, um aprimoramento em relação ao estado inicial. As figuras de 67 a 70 ilustram os segmentos /i˘/, /i/, /I/ e /j/ respectivamente, para os informantes feminino e masculino. Observa-se que o informante feminino (TAF) aproximou-se do parâmetro em relação à gravação zero, tanto relativamente ao primeiro quanto ao segundo formante. O segmento tenso apresenta uma concentração de pontos, referentes à gravação final, próximos ao parâmetro, mas, em relação à gravação zero, os pontos estão distantes. 113 Observa-se uma aproximação, tanto em relação ao F1 como em relação ao F2, mas o F2 está um pouco mais baixo, ou seja, caracteriza uma vogal mais central. O segmento neutralizado apresenta um ajuste com relação ao F1, representando que a língua está alta em relação à abóbada palatina, mas não está projetada para frente da cavidade bucal. O segmento /I/ apresenta uma produção articulatoriamente satisfatória. O informante ajustou tanto a altura como a projeção da língua. Embora apresente uma dispersão com relação ao F1, a produção do glide /j/ também foi ajustada. F2 Comparação entre valores reais e esperado: /i:/ Informante TAF2 3000 2900 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 Teste zero Teste final Parâmetro 200 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 67 - Grupo-teste Zero e Final: /ii˘/ informante feminino avançado TAF2. F2 Comparação entre valores reais e esperados: /i/ Informante TAF2 3000 2900 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 200 Teste zero Teste final Parâmetro 250 300 350 400 450 500 F1 Figura 68 - Grupo-teste Zero e Final: /ii/ informante feminino avançado TAF2. 550 600 114 F2 Comparação entre valores reais e esperados: /I/ Informante TAF2 3000 2900 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 200 Teste zero Teste final Parâmetro 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 69 - Grupo-teste Zero e Final: /II/ informante feminino avançado TAF2. F2 Comparação entre valores reais e esperados: /J/ informante TAF2 3000 2900 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 200 Teste zero Teste final Parâmetro 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 70 - Grupo-teste Zero e Final: /jj/ informante feminino avançado TAF2. Para o informante masculino avançado, figuras de 71 a 74, afirma-se que o mesmo aprimorou-se visivelmente em relação ao seu estado inicial para os segmentos tenso /i˘/ e frouxo /I/. Para o segmento neutralizado /i/, observa-se que houve um ajuste no F2, anterioridade da língua, em relação à gravação inicial. Por outro lado, para o glide /j/, não foi observada nenhuma alteração em direção aos parâmetros previstos para a LA, de acordo com os valores dos formantes. Afirma-se que a produção desse segmento por esse informante foi similar à vogal /i˘/ mas com a duração um pouco 115 maior, representando um som vocálico e não um som consonantal em conjunto com a vogal que o segue. A questão da duração será discutida na seção 4.3. F2 Comparação entre valores reais e esperados: /i:/ Informante TAM2 3000 2900 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 200 Teste zero Teste final Parâmetro 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 71 - Grupo-teste Zero e Final: /ii˘/ informante masculino avançado TAM2. F2 Comparação entre valores reais e esperados: /i/ Informante TAM2 3000 2900 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 200 Teste zero Teste final Parâmento 250 300 350 400 450 500 550 F1 Figura 72 - Grupo-teste Zero e Final: /ii/ informante masculino avançado TAM2. 600 116 F2 Com paração entre valores reais e esperados: /I/ Inform ante TAM2 3300 3200 3 10 0 3000 2900 2800 2 70 0 2600 2 50 0 2400 2300 2200 2 10 0 2000 19 0 0 18 0 0 170 0 16 0 0 150 0 200 Teste zero Teste final Parâmetro 2 50 300 3 50 400 4 50 50 0 550 600 F1 Figura 73 - Grupo-teste Zero e Final: /II/ informante masculino avançado TAM2. F2 Comparação entre valores reais e esperados: /J/ Informante TAM2 3000 2900 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 200 Teste zero Teste final Parâmetro 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 74 - Grupo-teste Zero e Final: /jj/ informante masculino avançado TAM2. De maneira geral, todos os informantes do grupo-teste apresentaram um visível desenvolvimento em suas produções em relação à gravação zero. Observa-se que, na maioria dos casos, há um afastamento da gravação zero e uma aproximação da gravação final com o parâmetro estabelecido para a LA. Dentre os segmentos, o melhor desempenho observado foi com relação ao segmento tenso /i˘/, que apresentou um ajuste articulatório, tanto com relação à altura quanto a anterioridade da língua. Mesmo o segmento frouxo, que se mostrava mais distante do parâmetro estabelecido na gravação 117 zero, revelou uma proximidade na gravação final. O segmento /i/, embora um pouco disperso, apresenta valores relativos ao segmento tenso, o que é um ponto positivo, já que os dois mostram articulações semelhantes. Já o glide /j/ não revelou um aprimoramento significativo, sendo produzido, na maioria dos casos, como o segmento /i/, tendo por exemplo, [iEl´u] e não [»jEl´u]. Outro ponto que merece ser salientado, nesses resultados, é quanto à conscientização dos informantes. Observou-se, durante as gravações, que os informantes estiveram atentos para a produção, ou seja, mesmo não conseguindo produzir os segmentos com proficiência, estavam conscientes das diferenças fonológicas entre eles, principalmente entre /i˘/ e /I/. Constatou-se tal evento quando os informantes produziam uma palavra e, logo em seguida, produziam-na diferentemente tentando atingir o objetivo na LA. Nota-se, dessa forma, que os aprendizes estavam atentos ao detalhe fonético e possivelmente no que se refere as questões articulatórias. Mesmo não produzindo com proficiência, num primeiro momento, estarão fazendo tentativas até atingir o alvo. Tal afirmação é apoiada em Schmidt (2001), o qual afirma não existir aprendizado sem conscientização e, quanto mais consciente, maior será o desenvolvimento. 4.2.4 Considerações quanto à gravação final Apresentam-se as médias dos valores das produções de cada segmento investigado para o grupo-controle e para o grupo-teste, observando os informantes femininos e masculinos, respectivamente. As figuras 75 e 77, em oposição as figuras 76 118 e 78, mostram que os informantes, tanto masculinos quanto femininos, do grupo-teste, aprimoraram-se mais em relação aos informantes do grupo-controle. Observa-se que as mulheres do grupo-teste apresentam uma definição maior quanto à produção de todos os segmentos em relação às mulheres e aos homens do grupo-controle e, também, em relação aos homens do grupo-teste. Grupo Controle Final: médias femininas 2800 2700 2600 2500 2400 i: i I F2 2300 2200 2100 2000 J 1900 1800 1700 1600 1500 200 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 75 - Grupo-controle Final: Médias Acústicas das Produções Femininas Grupo Teste Final : médias femininas 2800 2700 F2 2600 2500 i: i I J 2400 2300 2200 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 200 250 300 350 400 450 F1 Figura 76 - Grupo-teste Final: Médias Acústicas das Produções Femininas 500 550 600 119 Os informantes masculinos do grupo-teste ajustaram sua produção em relação aos homens do grupo-controle, principalmente com relação aos segmentos /i˘/ e /I/ Observa-se, para o grupo-teste, que o segmento /i/ apresenta uma dispersão nos valores dos formantes e, para o grupo-controle, tal segmento mostra valores altos de F1. Grupo Controle Final : médias masculinas F2 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 i: i 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 200 I J 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 77- Grupo-controle Final: Médias Acústicas das Produções Masculinas F2 Teste Final: médias masculinas 2800 2700 2600 2500 2400 2300 2200 2100 2000 1900 1800 1700 1600 1500 200 i: i I J 250 300 350 400 450 500 550 600 F1 Figura 78 Grupo-teste Final: Médias Acústicas das Produções Masculinas A partir das análises acústicas fica mais visível observar o desempenho dos informantes quando da coletividade como também o desempenho individual de cada informante. Da mesma forma, com os resultados das análises acústicas, pode-se 120 confirmar os resultados obtidos nos testes de percepção com relação aos dois grupos. No geral, observou-se que houve um aproveitamento positivo dos informantes do grupo-teste em relação ao grupo-controle. Ficou constatado que, no grupo-teste, os informantes do sexo feminino sobressaíram em relação aos do sexo masculino. Outro aspecto importante observado é com relação ao fator individuo, que é muito relevante na relação ensino e aprendizagem, ou seja, em uma sala de aula, normalmente, tem-se um objetivo em comum a ser alcançado, mas pondera-se quanto ao desenvolvimento e necessidades individuais que realmente fazem a diferença. Observa-se, nas tabela 17 e 18 a situação dos informantes selecionados como amostra, para o grupo-teste e para o grupo-controle, iniciantes e avançados. As tabelas mostram o desempenho desses informantes antes e após os testes, os números nas tabelas significam: 0= omissão, 1= acerto, 2= erro. Tabela 17 Resultados do teste de percepção grupo-controle. CONTROLE: Gravação ZERO CONTROLE: Gravação FINAL Informantes Informantes Iniciantes Avançados CIM1 CIF1 CAF1 CAM1 Informantes Iniciantes CIM1 CIF1 Informantes Avançados CAF1 CAM1 /i˘/ 2 2 1 0 2 2 2 0 2 0 2 0 1 1 1 0 0 2 0 2 1 2 0 2 /i˘/ 1 2 1 0 2 2 1 2 2 2 2 2 2 2 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 /i/ 2 2 1 2 2 0 0 2 0 0 2 1 1 1 2 2 1 2 1 0 /i/ 2 2 1 2 1 2 2 2 2 2 2 2 1 1 2 2 2 2 1 2 0 0 1 2 2 0 2 2 1 2 0 1 2 2 2 2 0 0 2 2 0 2 1 1 2 2 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 1 2 2 /I/ /j / /I/ /j / 121 Tabela 18 Resultados do teste de percepção grupo-teste. TESTE: Gravação ZERO TESTE: Gravação FINAL Informantes Informantes Informantes Informantes Iniciantes Avançados Iniciantes Avançados TIF1 TIM1 TAF2 TAM2 TIF1 TIM1 TAF2 TAM2 /i˘/ /i/ /I/ /j / 0 2 0 0 2 2 2 2 2 1 0 0 1 0 2 0 1 2 0 2 0 0 2 1 2 2 0 0 0 0 2 2 0 2 0 0 0 0 2 1 2 2 2 2 2 2 2 2 0 1 0 2 2 0 2 2 2 2 2 2 0 0 1 1 /i˘/ /i/ /I/ /j / 1 1 1 1 1 1 2 2 2 1 1 0 2 1 2 1 0 2 1 2 2 2 2 2 1 1 2 1 1 1 1 2 1 2 1 2 2 1 2 1 2 1 1 2 1 1 2 1 1 1 1 1 2 2 2 1 1 1 1 1 1 0 1 1 Observa-se que, embora as instruções, tanto para o grupo-controle quanto para o grupo-teste, tenham sido ministradas em grupo, cada indivíduo apresentou um desempenho particularizado. Nos resultados, observam-se sinais de que as realizações foram diferentes entre um individuo e outro, ou seja, nota-se desempenho positivo em alguns casos e deficiências em outros. Assim, embora os resultados tenham mostrado que o grupo-teste apresentou um desempenho distintivo em relação ao grupo-controle, fica a ressalva com relação ao fator indivíduo. Nas tabelas pode-se observar que um mesmo indivíduo, apresenta oscilações na produção de um mesmo segmento. Dessa forma, concluí-se esta seção, mais uma vez chamado a atenção para a particularidade do falante, embora, muitas vezes, torne-se difícil em uma sala de aula observar o desenvolvimento de cada individuo e necessário estar atento ao fato, porque, freqüentemente, o resultado geral de um grupo pode mascarar as necessidades individuais. 122 4.3 – Duração das produções por segmento: teste e controle Um das principais características distintivas entre as vogais frontais altas da LA é a duração. O segmento tenso /i˘/ distingue-se do segmento frouxo /I/ por apresentar uma duração maior. A duração do segmento tenso é de aproximadamente 190 msecs e, a do segmento frouxo, de aproximadamente 130 msecs, de acordo com a fala sintetizada em Kent e Read, 1992:181. Os resultados encontrados apresentam ajuste na duração dos segmentos da gravação zero para a gravação final. As figuras de 79 a 83 mostram essa relação, considerando as variáveis grupo e o gênero dos informantes. Levando-se em conta os homens do grupo-controle, figura 79, observa-se não haver uma distinção significativa entre o estado inicial e o final e, dentro de cada estágio, pode-se afirmar que os informantes masculinos provavelmente não produzem a duração distintiva entre os segmentos /i˘/ e /I/. Examinando-se os informantes do sexo feminino, figura 80, o quadro é um pouco melhor em relação aos homens. Grupo Controle: m édias das durações (Masculino) 200 180 160 msec 140 120 Controle zero 100 Controle final 80 60 40 20 0 i: i I J i: i Figura 79 - Grupo-controle Zero e Final: Médias da Duração das Produções Masculinas I J 123 Grupo Controle: médias das durações (Feminino) 200 180 160 msec 140 120 Controle zero 100 Controle final 80 60 40 20 0 i: i I J i: i I J Figura 80 - Grupo-controle Zero e Final: Médias da Duração das Produções Femininas Para os informantes do grupo-teste, a seguir, observa-se um quadro inicial não distintivo para os informantes masculinos. Nota-se, nas figuras 81 e 82, que a gravação zero dos informantes masculinos apresenta uma curta duração para o segmento tenso, de aproximadamente 110 msec, e foi ajustada para a gravação final, para aproximadamente 180 msec e, quanto ao segmento frouxo, já na gravação zero revelava uma duração curta, a qual permaneceu na gravação final. O segmento neutralizado /i/ apresentou um ligeiro ajuste, de 65 msec, para 80 msec. As mulheres mostraram uma situação diferente na gravação inicial. As mesmas produziam todos os segmentos com uma duração muito longa, após as instruções, observa-se um ajuste nas durações. Constatouse um aumento na duração do segmento /i/ e uma distinção maior entre o segmento tenso /i˘/ e o segmento frouxo /I/. 124 Grupo-teste: médias das durações (Masculino) 240 220 200 180 msec 160 140 Teste zero 120 Teste final 100 80 60 40 20 0 i: i I J i: i I J Figura 81 - Grupo-teste Zero e Final: Médias da Duração das Produções Masculinas Grupo-teste: médias das durações (Feminino) 240 220 200 180 msec 160 140 120 100 80 60 Teste zero 40 Teste final 20 0 i: i I J i: i I J Figura 82 - Grupo-teste Zero e Final: Médias da Duração das Produções Femininas Com relação à variável duração, os resultados, de modo geral, apontam para o desempenho diferenciado dos informantes do grupo-teste. O relevante é salientar que, embora em alguns casos os informantes tanto do grupo-teste quanto do grupo-controle apresentassem uma distinção entre os segmentos investigados, a mesma era muito discreta e, também, pode-se dizer, sem segurança. Após o tratamento, os informantes 125 atentaram para o fato da distinção entre o /i˘/ e /I/ e também para um outro ponto que diz respeito a interferências da LM. Por não encontrarmos vogais alongadas no português brasileiros em final de palavras em posição átona, os aprendizes brasileiros tendem a não produzi-las na LA como nos casos de happy happ[i] e party part[i]. Observa-se que essa questão também apresentou um desempenho positivo após o tratamento. Contudo, afirma-se, principalmente no caso das mulheres, a produção era exagerada, exatamente para mostrar que elas sabiam que havia uma diferença e eram capazes de produzi-las. 4.4- CONCLUSÕES A hipótese da relevância da instrução fonética e fonológica e do papel da língua materna na aquisição do sistema sonoro de uma língua estrangeira foi corroborada pelos resultados experimentais obtidos. Os dados mostram que as instruções fonéticas e fonológicas desempenham um papel crucial na aquisição de pronúncia de uma língua estrangeira e que o conhecimento do sistema sonoro da língua materna é um elemento distintivo para promover a autonomia do aprendiz e propiciar seu desenvolvimento na pronúncia da língua-alvo. Este trabalho mostrou que os aprendizes de inglês de Belo Horizonte, investigados, apresentam dificuldades na produção dos segmentos [I], [i˘],[i] e [j] e que, após as instruções técnicas específicas, tais dificuldades foram minimizadas. Não se pode afirmar que os aprendizes tenham passado a produzir os segmentos da LA com 126 100% de acertos, mas, certamente, os mesmos estão mais conscientes da existência de propriedades segmentais específicas entre esses sons. Observou-se, também, que, após as instruções, os informantes do grupo-teste apresentaram uma produção mais distante da LM, o que pôde ser constatado pelos valores dos formantes 1 e 2 e um ajuste na duração dos segmentos, produzindo as características distintivas entre eles. 62 4 ANÁLISES DOS RESULTADOS Como pelo presente trabalho se pretendia analisar questões relativas à aquisição de língua estrangeira, especificamente aspectos que permeiam as relações fonéticas e fonológicas entre a língua materna e a língua-alvo, utilizou-se o modelo experimental de pesquisa, de forma sincrônica. De posse dos dados, procedeu-se às análises qualitativas interpretativas dos testes de percepção das produções dos informantes de cada grupo e quantitativas acústicas e estatísticas dos mesmos. As análises acústicas foram realizadas por meio de um espectrograma digital em que foram observados os valores relativos aos níveis dos formantes 1 e 2 para cada segmento investigado e, também, questões quanto à duração desses segmentos. Os espectrogramas são indicadores confiáveis da qualidade relativa de um segmento vocálico, e a qualidade vocálica depende das freqüências dos formantes (LADEFOGED, 1993). Assim, tanto as análises auditivas quanto as acústicas segmentais, conjuntamente utilizadas, contribuem para identificar particularidades de um segmento vocálico. Finalmente, de posse de todos os dados das análises, fez-se uma triangulação dos mesmos a partir de análises estatísticas e construção de gráficos representando os valores do cálculo da média, gráficos com valores absolutos, tabelas com valores relativos e absolutos para o grupo-teste e para o grupo-controle, instrumentos estes que foram 63 utilizados para se obter um panorama do que foi investigado, com o objetivo de se obterem os resultados finais deste projeto. 4.1 Análises perceptivas das produções Um aprendiz de línguas passa por várias etapas com relação ao desenvolvimento lingüístico e cognitivo até chegar à produção oral da LA. Assim sendo, este projeto se propôs a investigar a eficácia da instrução formal e explícita quanto aos parâmetros fonéticos e fonológicos, dentro do processo de aquisição de língua estrangeira, mais especificamente, a produção oral. Outro objetivo é contribuir, mesmo que, neste momento, de forma incipiente, para a investigação do papel da língua materna no desenvolvimento da interlíngua do aprendiz, observando o nível de desenvolvimento alcançado pelo mesmo, antes e depois das instruções recebidas. O terceiro objetivo proposto consiste em observar, dentre os segmentos investigados, qual deles apresentou o melhor e o pior desempenho pelos informantes na gravação zero, ou seja, antes das instruções e se tal quadro se mantinha na gravação final, após as instruções. 64 Apresentar-se-ão as análises perceptivas das produções do grupo-teste e do grupocontrole. Na seção 4.1.1, são realizadas considerações quanto à gravação zero, ou o estado inicial dos informantes e, na seção 4.1.2, são apresentadas às considerações quanto à gravação final. Salienta-se que, devido ao grande número de tabelas e gráficos, selecionouse uma amostra para ser incorporada nestas seções e o restante dos gráficos podem ser encontrados no apêndice H. 4.1.1 Considerações quanto à gravação zero A gravação zero mostra o nível de desempenho inicial dos informantes, antes de qualquer instrução. A figura 12 mostra a média do grupo-teste e do grupo-controle em relação à gravação zero, considerando os eventos acertos, erros e omissões42. Frequência Teste Zero x Controle Zero 140 120 100 80 60 40 20 0 128 106 68 50 44 Teste zero 24 Acertos Controle zero Erros Omissões Qui-quadrado = 2,169 Valor-P = 0,3380 Figura 12 - Número de acertos, erros e omissões (grupos teste e controle) para a gravação zero.43 42 Está-se usando o termo acertos, erros e omissões apenas como formalidade, não entrando no mérito de discussões no campo da língüistica aplicada. O termo acerto neste trabalho mostra apenas que o informante discriminou o segmento, erro que o informante não discriminou o segmento e omissões representam a não realização do item léxical. 43 Salienta-se que a diferença nos gráficos diz respeito ao fato que dois informantes do grupo-teste não compareceram para realizar a gravação-zero. Os dados deste trabalho foram tratados estatisticamente no programa Statview para Windows versão 5.0.1 e também no programa Excel versão 2000. 65 Pode-se afirmar que, nesse estágio, o grupo-teste e o grupo-controle estão estatisticamente equilibrados. Embora percentualmente o grupo-controle tenha apresentado maior freqüência para acertos, erros e omissões em relação ao grupo-teste. Contudo, como o parâmetro P=0,3380 do teste de distribuição do qui-quadrado44 mostrou que a diferença não é significativa, logo, não há interferência entre pertencer a um grupo ou a outro. Acredita-se, com relação às omissões, que se devam ao nervosismo dos informantes diante de uma situação de teste. Não se pode afirmar que os informantes não conheciam o léxico explorado. O corpus foi cautelosamente selecionado a partir de uma criteriosa pesquisa em material didático para ensino de inglês como língua estrangeira para alunos iniciantes. Num segundo momento, a relação entre as variáveis acertos, erros e omissões foi investigada observando-se a relação entre o grupo-teste e o grupo-controle, mas considerando-se a situação de ser informante iniciante ou avançado. Assim, cruzaram-se os dados entre informantes iniciantes do grupo-teste e do grupo-controle e dos informantes avançados também do grupo-teste e do grupo-controle. Observa-se, nas figuras 13 e 14, este cruzamento. 44 Teste Qui-quadrado de Pearson: o teste qui-quadrado pode ser utilizado para estudar independência dos fatores estudados ou homogeneidade entre os grupos comparados, ou seja, é um teste estatístico de significância. Os valores p < 0,05 ou 5% é significativo e valores p > 0,05 não é significativo à diferença. 66 Informantes Iniciantes: Teste Zero x Controle Zero 70 61 Frequência 60 43 50 40 30 28 26 Teste Zero 16 20 Controle zero 6 10 0 Acertos Erros Om issões Qui-Quadrado = 1,091 Valor-P = 0,58 Figura 13 - Informantes Iniciantes: teste zero X controle zero. Informantes Avançados: Teste zero X Controle zero 100 78 Frequência 80 Teste Zero 67 Controle Zero 60 40 28 24 25 18 20 0 Acertos Erros Omissões Qui-Quadrado =3,03 Valor-P = 0,22 Figura 14 - Informantes Avançados: teste zero X controle zero De acordo com os gráficos, observa-se que, na figura 13, referente a informantes iniciantes, o grupo-controle destaca-se em relação ao grupo-teste, com relação a todas as variáveis. Mas, com relação à figura 14, informantes avançados, os grupos parecem estar mais homogêneos. Para confirmar estatisticamente o que as figuras 13 e 14 nos mostram, o teste de significância estatística também foi realizado para ambas as situações. Em relação à 67 figura 13, a disparidade apresentada no gráfico não é estatisticamente significativa, ou seja, estatisticamente falando, os dois grupos são semelhantes. O valor p=0,58 do teste de significância comprova essa afirmação. O mesmo é afirmado para a figura 14, em que o valor de p= 0,22 do teste de significância também confirma que os informantes avançados dos dois grupos são estatisticamente equivalentes. Com o intuito de investigar a realidade dentro de cada grupo, cruzaram-se os dados referentes aos informantes iniciantes e avançados dentro de seu próprio grupo. As figuras 15 e 16 nos mostram tal relação. Frequência Grupo-controle zero informantes: inicantes x avançados 80 70 60 50 40 30 20 10 0 67 61 43 28 25 16 Acertos Iniciantes Avançados Erros Omissões Qui-quadrado = 8,31 Valor-P= 0,015 Figura 15 – Grupo-controle zero informantes: iniciantes x avançados. 68 Grupo-teste zero informantes: iniciantes x avançados 78 80 70 Frequência 60 50 40 28 30 26 24 18 Avançados 20 10 Iniciantes 6 0 Acertos Erros Omissões Qui-quadrado = 10,87 Valor-P = 0,0044 Figura 16 - Grupo teste zero informantes: iniciantes x avançados. Observa-se, nas figuras 15 e 16, que a diferença entre os informantes iniciantes e avançados é estatisticamente significativa. Porém, na figura 16, a diferença entre os mesmos é muito mais significativa do que na figura 15. Essa generalização quanto à diferença estatística entre informantes do nível iniciante e do nível avançado é expressa pelos valores P do teste de significância que são respectivamente 0,015 e 0,0044. A situação esperada seria que os informantes avançados apresentassem um desempenho melhor do que os informantes iniciantes, mas isso não aconteceu com esses grupos, embora em proporções diferentes. Os informantes avançados apresentaram um número maior de erros que os iniciantes. Acredita-se que esse quadro reflita o fato de os informantes avançados terem se arriscado mais que os iniciantes porque os acertos dos informantes iniciantes foram um pouco menores e, as omissões, um pouco maiores. 69 Apresentou-se uma análise generalizada, considerando-se as variáveis erros, acertos e omissões. Agora, apresentar-se-á uma análise do estado inicial dos grupos, examinandose o desempenho em relação a cada segmento investigado neste trabalho. Embora apresentem uma variação com relação à freqüência de cada segmento, os grupos mostram um comportamento semelhante, o que pode ser observado na figura 17. O valor P=0,7 do teste de significância estatística T45, comprava que a diferença visualizada no gráfico não é estatisticamente significativa. Esperava-se um maior número de erros com relação à vogal /I/ por esta nunca ocorrer na LM em sílaba tônica. Mas, de acordo com os resultados, tal situação não ocorreu. Na figura 17, observa-se que a vogal frouxa /I/ apresenta um número de acertos superior aos outros segmentos. Uma justificativa para esse fenômeno pode ser o fato de terem ocorrido menos omissões com relação aos itens lexicais selecionado para esse segmento. 45 Utilizou-se o teste T de verificação de significância estatística para tratar os dados segmentais, por ser mais adequados ao tipo de análise que se pretendia realizar, em relação ao teste do Qui-quadrado. 70 Frequência Acertos gravação zero: Teste x Controle 17 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 12 12 Teste Zero 10 Controle Zero 5 4 5 3 i: i I J T = 0,399 Valor-P= 0,7 Figura 17 - Número de acertos por segmento (grupos teste e controle) para a gravação zero. 46 Cruzaram-se os dados dos informantes iniciantes e dos avançados de cada grupo, investigando-se o desempenho dos mesmos, com relação aos segmentos individualmente. Observou-se especificamente a variável acertos, o qual é mostrado pelas figuras 18 e 19 nos mostram essas relações. Informantes iniciantes: Acertos Teste x Controle 12 10 Frequência 10 8 6 Teste Zero 2 2 Controle Zero 3 4 2 2 2 1 0 0 T = 1,19 Valor-P= 0,28 i: i I J Figura 18 - Informantes Iniciantes acertos: teste zero X controle zero 46 Símbolos fonéticos: devido aos recursos do programa de editoração dos gráficos (EXCEL versão 2000) não foi possível incluir os símbolos fonéticos. As letras utilizadas nos gráficos remetem a: i: = i˘ I =I J=j i=i 71 A figura 18 nos mostra os informantes iniciantes, ambos os grupos apresentaram um número relativamente parecido de acertos para o segmento /i˘/ e /i/, embora muito pequeno. Porém, para o segmento frouxo /I/, o grupo-controle apresentou um desempenho muito melhor em relação ao teste. Por outro lado, na figura 19, têm-se os informantes avançados. Observa-se um grupo muito heterogêneo e, de certa forma, tem-se uma situação inversa ao grupo de informantes iniciantes. Os informantes avançados apresentaram uma diferença maior, com relação aos segmentos /i˘/ e /i/. Informantes avançados : Acertos Teste x Controle 12 10 9 10 Frequência 8 Teste Zero 7 8 Controle Zero 6 4 3 3 3 3 2 0 i: i I J T = 1,19 Valor-P= 0,28 Figura 19 - Informantes avançados acertos: teste zero X controle zero De forma geral, os grupos não apresentam uma diferença estatisticamente significativa entre si como foi confirmado acima. O valor P= 0,28 do teste de significância estatística T é igual para ambos os grupos e maior que 0,05, mostrando que a diferença visualizada nos gráficos não é significativa. Contudo, os informantes iniciantes apresentamse mais homogêneos que os informantes avançados. Porém, entre os avançados, pode-se 72 observar um desempenho um pouco melhor dos aprendizes avançados do grupo-controle. Fato este que não é significativo e simplesmente expressa uma particularidade desse grupo. Como se optou por colocar alguns dos resultados em forma de apêndice para não se ter um trabalho muito extenso, as tabelas 2 e 3 resumem o estado inicial do grupo-teste e do grupo-controle, considerando separadamente informantes iniciantes e avançados e apresentando os resultados, em valores relativos, das variáveis acertos, erros e omissões. Tabela 2 Grupo Teste-Zero: porcentagem de acertos, erros e omissões. Tabela 3 Grupo Controle-Zero: porcentagens de acertos, erros e omissões. Teste Zero Controle Zero Acertos Erros Omissões Total Acertos Erros Omissões Total Iniciante 10% 47% 43% 100% Iniciante 13% 51% 36% 100% Avançado 15% 65% 20% 100% Avançado 23% 56% 21% 100% De acordo com as tabelas 2 e 3, observa-se que os informantes iniciantes apresentaram a menor diferença estatística entre si. Acredita-se que a intervenção de pronúncia, idealmente, deve se dar no nível iniciante porque a homogeneidade do grupo reflete aspectos, sobretudo de transferência da LM. Na seção seguinte, discutir-se-á o estado final do grupo-teste e do grupo-controle, ou seja, após o tratamento. 4.1.2 Considerações quanto à gravação final Os resultados da gravação final de ambos os grupos demonstram que, de um modo geral, ocorreu uma melhora acentuada no que se refere à discriminação entre os segmentos para o grupo-teste, ao contrário do que pode ser observado para o grupo-controle, que 73 permaneceu, estatisticamente, quase inalterado. O valor p=0 do teste do qui-quadrado comprova que, após as instruções diferenciadas, existe uma diferença entre pertencer ao grupo-teste ou ao grupo-controle, comprovando, assim, a hipótese desta pesquisa. A figura 20 representa o desempenho do grupo-teste e do grupo-controle com relação à gravação final. Teste final x Controle final Frequência 200 186 166 150 100 50 59 Teste final 34 15 20 Controle Final 0 Acertos Erros Qui-quadrado = 153,667 Valor-P = 0 Omissões Figura 20 - Número de acertos, erros e omissões (grupos teste e controle) para a gravação final Observa-se, com relação à variável acertos, que os mesmos aumentaram para o grupo-teste e diminuíram para o grupo-controle. Pondera-se, com relação à variável erros, que esses aumentaram para o grupo-controle devido aos informantes desse grupo terem omitido menos, mas, conseqüentemente, a produção dos mesmos converteu-se para erro e não para acertos. Pode ser claramente observado nas figuras 21 e 22, que o quadro se inverteu. O cruzamento dos dados entre os informantes iniciantes e avançados do grupo-teste e do 74 grupo-controle, após o tratamento, mostra que os informantes que receberam o tratamento diferenciado apresentam um desempenho de pronúncia distinto daquele do grupo-controle, que não recebeu o tratamento. Esse fato pode ser observado para todas as variáveis acertos, erros e omissões. Informantes Iniciantes : Teste final x Controle final 94 100 81 Frequência 80 60 Teste final 32 40 20 Controle Final 16 10 7 0 Acertos Erros Omissões Qui-Quadrado =89,42 Valor-P = 0 Figura 21 - Informantes Iniciantes: teste final X controle final Informantes Avançados : Teste final x Controle final Frequência 100 92 85 80 60 Teste final 40 24 27 Controle Final 20 8 4 0 Acertos Erros Omissões Qui-Quadrado =70,98 Valor-P = 0 Figura 22 - Informantes Avançados: teste final X controle final Mais uma vez, em ambos os casos, o teste estatístico de significância qui-quadrado apresenta um valor p=0 comprovando nossa hipótese. 75 O cruzamento dos dados de informantes iniciantes e avançados dentro de cada grupo, ilustrado pelas figuras 23 e 24, mostra, coincidentemente, que os grupos estão homogêneos. Contudo, devem-se considerar as variáveis. Na figura 23, grupo-controle, os acertos foram poucos em relação aos erros, que foram relativamente altos. Por outro lado, a figura 24, grupo-teste, apresenta uma situação distinta da anterior. Os acertos aumentaram, os erros diminuíram e as omissões também decresceram. Acredita-se que esse evento seja devido ao tratamento diferenciado recebido pelo grupo. Grupo-controle final informantes: iniciantes x avançados 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 94 92 Iniciantes 24 Avançados 16 10 4 Acertos Erros Omissões Qui-quadrado = 12,98 Valor-P = 0,0015 Figura 23 – Grupo-controle final informantes: iniciantes x avançados Grupo-teste finaI informantes: iniciantes x avançados 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 81 85 32 Iniciantes Avançados 27 7 Acertos Erros 8 Omissões Qui-quadrado = 0,587 Valor-P = 0,7454 Figura 24 - Grupo-teste final informantes: iniciantes x avançados 76 Pode-se observar, ainda, na figura 23, grupo-controle final, que a diferença entre informantes iniciantes e avançados é significativa quando se consideram as variáveis acertos e omissões. Os informantes iniciantes estão bem abaixo dos avançados com relação a variável acertos e acima com relação as omissões. Devido a essa diferença, o teste estatístico apresenta-se significativo. Por outro lado, na figura 24, o grupo-teste final apresenta uma homogeneidade entre os informantes iniciantes e avançados. Considera-se, de acordo com as instruções recebidas, que os iniciantes tiveram um desenvolvimento tão bom quanto os avançados. O teste estatístico mostra que a pequena diferença visualizada no gráfico não é significativa, o que é expresso pelo valor P=0,7454. Afirma-se que o tratamento recebido pelo grupo-teste mostrou ter surtido efeito. O grupo-teste final apresenta uma melhora em relação à gravação zero e, também, em relação ao grupo-controle. Mas observa-se um desenvolvimento mais acentuado para os informantes iniciantes, tanto que os mesmos quase se equipararam aos informantes avançados. Isso reforça o que foi dito anteriormente: a instrução formal de pronúncia deve ser feita desde o início da aprendizagem de língua estrangeira. Contudo, é comum instituições de ensino designarem professores com desempenho elementar de pronúncia para atuar nas turmas de nível básico, iniciantes. As investigações consideram, neste momento, os segmentos para as gravações finais. A figura 25 ilustra o número de acertos para cada segmento aqui investigado, considerando o grupo-teste e o grupo-controle. 77 Acertos gravação final: Teste x Controle 70 Frequência 60 58 51 50 36 40 30 20 Teste final 21 Controle Final 13 11 8 10 2 0 i: T= - 3,84 Valor-P= 0,0085 i I J Figura 25 - Número de acertos para os grupos de controle e de teste na gravação final Após as instruções, a situação relativa dos grupos mudou. Pode-se afirmar que o número de discriminações corretas produzidas pelos informantes do grupo-teste aumentou de forma significativa em relação ao grupo-controle. Observou-se um melhor resultado dos informantes do grupo-teste na produção de todos os quatro segmentos, sendo que a figura 25 demonstra que a melhora se mostrou mais acentuada com relação ao segmento tenso /i˘/. Acredita-se que tal fenômeno esteja relacionado à maior facilidade na articulação desse som pelo falante brasileiro de inglês e, também, pela distinção, nesse caso, estar no alongamento da produção da vogal. Verificou-se que o mesmo não aconteceu com o segmento frouxo /I/. Sua produção envolve detalhes tanto de duração quanto de articulação, o que, para os falantes brasileiros de inglês, parece ser mais complicado, devido à associação que fazem do segmento /I/ ao correlato ortográfico ou acústico [i] do português brasileiro. Comprova-se, portanto, a hipótese de Flege (1986), segundo a qual, quando 78 temos um segmento na LA similar a um da língua materna, é mais difícil para o aprendiz produzir a distinção entre os mesmos. As figuras 26 e 27 mostram a relação entre os informantes iniciantes e os avançados de cada grupo, investigando-se o desempenho dos mesmos com relação a cada segmento. Após as instruções, observa-se, em relação ao quadro que se tinha anteriormente, quanto ao segmento frouxo /I/, uma pequena mudança. Nos dados das gravações zero, os informantes apresentavam maior dificuldade na produção do referido segmento. Em contrapartida, nos dados da gravação final, os informantes do grupo-teste apresentam um desempenho melhor na produção /I/, com um progresso mais acentuado para os informantes avançados, possivelmente porque os mesmos já haviam percebido alguma diferença e por terem um vocabulário mais extenso. Estado final dos iniciantes: Acertos teste x controle 60 Frequência 50 40 32 30 Teste final Controle Final 24 16 20 9 10 4 4 1 1 0 i: T = -3,51 Valor-P = 0,013 i I J Figura 26 - Informantes Iniciantes acertos: teste final X controle final 79 Estado final dos avançados: Acertos Teste x controle 60 Frequência 50 40 30 27 26 20 20 7 10 9 7 Teste final Controle Final 12 1 0 i: i I J T = -3,95 Valor-p = 0,0075 Figura 27 - Informantes avançados acertos: teste final X controle final De forma geral, de acordo com as figuras 26 e 27, o grupo-teste e o grupo-controle, nesse momento, apresentam uma diferença estatisticamente significativa entre si. Os informantes iniciantes do grupo-teste apresentam um número de acertos um pouco menor que os informantes avançados, mas, considerando a relação teste e controle, os informantes do grupo-teste apresentam-se relativamente superiores aos do grupo-controle. As tabelas 4 e 5 nos mostram, em valores relativos, o que foi discutido nos gráficos com relação ao estado final do grupo-teste e do grupo-controle e, também, considerando informantes iniciantes e avançados. A título de comparação, retomam-se os dados das tabelas 2 e 3 referente à situação inicial dos informantes de ambos os grupos. Tabela 2 Grupo Teste-Zero: porcentagem de acertos, erros e omissões. Tabela 3 Grupo Controle-Zero: porcentagens de acertos, erros e omissões. Teste Zero Controle Zero Acertos Erros Omissões Total Acertos Erros Omissões Total Iniciante 10% 47% 43% 100% Iniciante 13% 51% 36% 100% Avançado 15% 65% 20% 100% Avançado 23% 56% 21% 100% 80 Tabela 4 Grupo Teste-Final: porcentagem de acertos, erros e omissões. Tabela 5 Grupo Controle-Final: porcentagem de acertos, erros e omissões. Teste Final Controle Final Acertos Erros Omissões Total Acertos Iniciante 68% 27% 6% 100% Iniciante Avançado 71% 23% 7% 100% Avançado Erros Omissões Total 8% 78% 13% 100% 20% 77% 3% 100% As tabelas 2 e 4 apresentam uma inversão nos resultados. No estado inicial, o grupo-teste apresentava-se com um número elevado de omissões e erros, tendo esses diminuído no estado final e convertendo-se para acertos que também aumentaram. Porém, o estado apresentado pelas tabelas 3 e 5, referente ao grupo-controle, mudou relativamente, mas em outros aspectos. No estado inicial, o grupo-controle apresentava um grande número de omissões tanto para os informantes iniciantes e um pouco menor para os avançados. No estado final, as omissões diminuíram, mostrando um número pequeno para os avançados. E essas omissões foram convertidas em erros, e o pequeno número de acertos realizados no estado inicial diminuiu ainda mais no estado final. Acredita-se que esse fato deva-se à falta de segurança dos informantes na produção dos segmentos investigados. Um panorama geral é demonstrado pelas figuras 28 e 29, considerando os estados iniciais e finais, do grupo-controle e do grupo- teste. 81 Controle zero x Controle final Frequência 186 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 128 Controle Zero Controle Final 68 44 34 20 Acertos Erros Om issões Qui-quadrado = 38,177 Valor-P =0 Figura 28 - Grupo-controle Zero X Grupo-controle Final 166 180 Teste zero x Teste final 160 Frequência 140 106 120 100 80 59 60 40 24 Teste Zero 50 Teste final 15 20 0 Acertos Qui-Quadrado =132,49 Valor-P = 0 Erros Omissões Figura 29 - Grupo-teste Zero X Grupo-teste Final Estatisticamente, existe uma diferença entre o estado inicial e final dos grupos. Para o grupo-teste, acredita-se que a diferença seja devida ao tratamento diferenciado recebido pelo grupo. Por outro lado, o grupo-controle apresenta uma diferença estatística da situação inicial para a final, mas a mesma não é positiva, a relação de acertos é muito pequena e os erros, altos. Talvez esse fenômeno seja devido à falta de direcionamento do grupo. Assim, as produções oscilam, ou seja, os informantes não expressam segurança nas suas 82 produções. Outra hipótese para o comportamento, visualizado no grupo-controle é que no estado inicial os informantes omitiram palavras, por desconhecerem ou não saberem pronunciá-las, e no controle-final eles familiarizaram-se com as palavras, mas o resultado, devido à falta de instrução, foi canalizado para erros. Isso novamente corrobora a importância da instrução. A tabela 6 apresenta uma média para cada uma das situações investigadas nesta seção. Mostra-se a média de erros, acertos e omissões para cada informante, dentro de cada grupo, em seu estado inicial e final. Tabela 6 Médias dos dados das produções Teste zero Teste final Controle zero Acertos 4 20,75 Erros 17,666667 omissões 8,3333333 30 Total Controle final 5,5 4,25 7,375 16 23,25 1,875 8,5 2,5 30 30 30 Observa-se, na tabela 6, que, para o grupo-teste, a média de acertos aumentou consideravelmente por indivíduo. O número de erros decresceu e o número de omissões também diminuiu. Para o grupo-controle, o número de acertos diminuiu um pouco, em uma diferença não muito significativa e o número de erros aumentou consideravelmente. Acredita-se que, devido ao fato de terem acontecido menos omissões, ou seja, os informantes arriscaram-se mais, essas produções transformaram-se em erros e não em acertos. 83 As conclusões tiradas a partir dos resultados desta primeira parte do trabalho refletem o valor da instrução formal tanto tratando-se de um objetivo geral, para o grupo, como individualizado, por informante. Ou melhor, acredita-se que a instrução formal explícita é uma forma de chamar a atenção do aprendiz para um fato lingüístico que, possivelmente, por si só ele não veria, facilitando, de certa forma, seu trabalho quanto na condição de aprendiz. Observou-se, nos resultados, que os informantes que receberam as instruções, embora não tendo atingido proficiência alta, apresentam-se mais conscientes para o fato do caráter distintivos dos segmentos na LA. E também se mostraram surpresos quanto à evidência da similaridade dos segmentos da LA com os da LM, dando-lhes mais confiança na produção da LA. Acredita-se que a questão da conscientização esteja diretamente ligada ao aumento da confiança que, na produção desta, gera maior proficiência na pronúncia da LA. Observou-se que o fator conscientização envolve até aprendizes tímidos, retraídos que têm medo de se expor, ficando mais participativos. 127 5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Os pontos fundamentais da pesquisa são a consideração da relevância da língua materna para o aprendizado da língua estrangeira e a consideração de que o aprendiz processa o detalhe fonético, premissas estas que não são geralmente consideradas para a produção de materiais didáticos atuais. Assim, a importância das descobertas desta pesquisa, bem como suas limitações, serão discutidas nos itens a seguir. 5.1 Implicação teórica dos resultados Os resultados deste trabalho confirmam a importância da descrição da fonética e da interpretação da fonologia para o aprendizado de pronúncia de língua estrangeira. A Teoria Acústica da fala oferece o instrumental para investigações especificas do sinal físico da fala. Por meio da análise acústica, pode-se perceber a variabilidade entre falantes e a variabilidade contextual (JOHNSON e MULLENNIX, 1997:2). Devido a essa enorme variabilidade, deve-se ter cuidado ao se fazerem generalizações a partir dos resultados da análise acústica. Por exemplo, não se pode prever que os valores de freqüência encontrados para um falante serão os mesmos para um outro. A freqüência pode variar também devido a características fisiológicas e articulatórias de indivíduos específicos. Outro ponto igualmente importante que foi abordado nesse trabalho é com relação a teoria de exemplares a qual abarca a questão da variabilidade lingüística do falante. Assim os aprendizes não descartam as redundâncias, estes as processam e as 128 armazenam como representações múltiplas, estabelecendo assim possíveis generalizações para serem aplicadas a sistemas sonoros distintos. 5.2 Implicações metodológicas dos resultados O que foi encontrado na literatura são pesquisas envolvendo a questão central da instrução formal, mas com metodologias muito diversificadas. Logo, fica impossível tirar conclusões a partir de comparações. Há importância de se terem mais pesquisas desenhadas como experimento, considerando aspectos similares para, assim, poder fazer comparações. Embora a literatura mostre a necessidade de trabalhos longitudinais (diacrônicos), foi impossível realizar um estudo longitudinal, devido à duração de um curso de mestrado. Acredita-se, porém, que um estudo sincrônico pode trazer frutos, talvez não respondendo a hipóteses existentes, mas contribuindo com hipóteses para futuras pesquisas. 5.3 Implicações pedagógicas dos resultados Os resultados deste trabalho apresentam uma nova direção para o ensino de pronúncia de inglês como língua estrangeira. Contrariando os aspectos políticos que pregam um mundo globalizado, aponta-se a necessidade de um ensino de pronúncia de língua estrangeira particularizado e não globalizante. A particularização, nesse caso, é devido ao fato de haver públicos diferenciados, com primeiras línguas diferenciadas e, 129 no caso deste trabalho, dialetos diferenciados. Um falante de português brasileiro de São Paulo, poderá ter dificuldades e acuidades diferentes para a aquisição da LA em relação a um falante de português da Bahia ou de Minas Gerais. Assim, pondera-se, quanto à relevância de se observarem as similaridades e diferenças entre dois sistemas sonoros e a particularidade da comunidade em que se está inserido para não fazer uso didático de aspectos que parecem ter pouca relevância e ignorarem outros relevantes. Por exemplo, aprendizes mineiros de inglês demostram ter dificuldades na produção do segmento /s/ em início de palavra, mas, por outro lado, não a têm na produção da distinção entre /f/-/v/ como os aprendizes espanhóis de inglês. Dessa forma, pondera-se a importância do conhecimento do sistema sonoro da LM para a aquisição do sistema sonoro da LA. Tal relevância não é só para os aprendizes, mas também para os professores, porque os mesmos poderão, a partir daí, promover um ensino e um aprendizado mais dinâmicos, levando em conta aspectos da LM, para o aprendizado da LA. Aspectos estes como o caráter distintivo de certos segmentos, detalhes fonéticos, ou seja, particularidades de cada segmento, a gradualidade fonética e, também, questões articulatórias. Assim, afirma-se que o professor/facilitador poderá otimizar os resultados equipando seu aprendiz com ferramentas necessárias para o desenvolvimento das habilidades de pronúncia. O que tem-se observado normalmente no Brasil são professores mais experientes ministrarem aulas para aprendizes de nível avançado e professores pouco experientes, para aprendizes iniciantes. De acordo com Flege (1986), modificar uma categoria 130 fonética é mais difícil do que estabelecer uma nova. Têm-se, portanto, dois problemas: o da interferência da LM no aprendizado e o fato do aprendizado equivocado. Tais aspectos dificultam a aquisição do aprendiz iniciante duas vezes. No caso dos segmentos que foram objeto de pesquisa neste trabalho, o aprendiz além de ter que modificar uma categoria fonética no estágio inicial, terá que fazê-lo também no estágio avançado, caso o aprendizado tenha sido ministrado de forma errônea. Daí, a necessidade de professores mais bem preparados, não só para cursos avançados, mas, talvez, principalmente, para os iniciantes. Outro ponto importante nesse sentido é como o componente fonético é incorporado às aulas de língua. Na grande maioria das vezes, observa-se a apresentação dos segmentos e repetições dos sons em palavras ou em frases. Com essa técnica, não se está promovendo a autonomia do aprendiz nem a sua conscientização quanto à importância da distinção entre segmentos, ou mesmo, contrapondo aspectos da LM com os da LA. Os resultados deste trabalho mostram a necessidade de instruções formais quanto à produção oral da língua-alvo e instruções que considerem tanto questões motoras, quanto o detalhe fonético da LM, fornecendo, ao aprendiz, ferramentas para que ele mesmo teste suas hipóteses e gerencie seu aprendizado. A autonomia no aprendizado deve ser o motor de acúmulo de conhecimento. Salienta-se, no entanto, que a ênfase nos aspectos segmentais não significa abandonar os aspectos comunicativos e prosódicos. Estes também têm sua relevância e devem ser igualmente tratados. 131 5.4 Sugestões para pesquisas futuras Acredita-se que esse tipo de trabalho seja importante para o ensino e aprendizagem de inglês como língua estrangeira. Considerando a amplitude dessa área e o limitado número de trabalhos voltados à lingüística aplicada, especificamente para o ensino de pronúncia, espera-se que trabalhos futuros levem em conta o papel da instrução formal para o dinamismo do processo de aprendizagem de pronúncia. Considera-se que a instrução formal não deva considerar só o sistema vocálico, mas sons consonantais e, também, aspectos supra-segmentais, incorporando aspectos da entonação e ritmo. Embora neste trabalho tenham sido feitas descobertas quanto à importância da conscientização dos aprendizes para a aquisição de uma língua estrangeira e, também, quanto ao papel da língua materna na aquisição do sistema sonoro da língua-alvo, não foi possível, contudo, abranger questões relativas à variável idade, quanto a variável sexo, se os fatores masculino e feminino exercem alguma influência no aprendizado, nem quanto à influência de fatores culturais e sociais no processo de aprendizagem e na motivação dos aprendizes. É importante salientar, também, o reduzido número de indivíduos avaliados nesta pesquisa, o qual não abarca o universo de estudantes de inglês como língua estrangeira. Contudo, acredita-se que este trabalho poderá fornecer subsídios para futuro desenvolvimento de uma metodologia mais adequada para o ensino de pronúncia do inglês como língua estrangeira. 132 Uma lacuna que percebemos no presente trabalho foi com relação à escolha dos itens léxicos utilizados. Para pesquisas futuras, fica a sugestão de selecionar um léxico obedecendo a certos parâmetros. Questões como segmentos precedentes e antecedentes, número de sílabas, se os segmentos encontram-se em monossílabos, em sílabas abertas ou fechadas, em sílaba tônica, aspectos os quais não foram bem controlados neste trabalho. Fica a sugestão para que futuras pesquisas controlem aspectos prosódicos como, por exemplo, a velocidade da fala e, também, que não utilizem apenas palavras isoladas, mas a fala contextualizada. Um outro ponto, igualmente importante, é a questão da inteligibilidade quando da interação entre falantes de inglês de diferentes línguas maternas (JENKINS, 2000). O presente trabalho não versou a questão longitudinal, fixando-se em um estudo sincrônico. De acordo com Baptista (2000:19), estudos sincrônicos têm seu valor, mas deixam a desejar com relação à sedimentação da informação pelo informante. Neste estudo, não ficou comprovado se o conhecimento adquirido durante a pesquisa foi realmente internalizado pelo aprendiz. Espera-se preencher tal lacuna em trabalhos futuros decorrentes desta pesquisa. 133 6 CONCLUSÕES GERAIS DO TRABALHO Retomam-se os objetivos específicos desta dissertação como forma de avaliar o que foi atingindo pelo presente projeto. Dentre os objetivos específicos, incluem-se: 1. apresentar a relevância da fonética e da fonologia para a aquisição da línguaalvo, a partir da conscientização de parâmetros articulatórios e funcionais; 2. investigar a importância do detalhe fonético para a aquisição de língua estrangeira; 3. testar a hipótese de que a conscientização dos parâmetros fonéticos e fonológicos contribuem para a aquisição mais rápida e eficaz da língua-alvo. Concluiu-se, com relação aos itens acima, que, com o auxilio da fonética e da fonologia, o aprendiz é capaz de avaliar os processos em andamento quando da aquisição da LA. Os mesmos fazem os ajustes necessários para a produção da língua estrangeira, tanto com relação à motricidade (articulação) quanto ao detalhe fonético. Salienta-se que, mesmo o aprendiz não atingindo 100% em seu aprimoramento na produção da LA, o que foi constatado neste projeto é que, com a conscientização das diferenças, das similaridades e das regras, o aprendiz estará equipado para continuar o seu aprendizado de pronúncia, tanto monitorado quanto de forma autônoma. Contudo não se pode afirmar que o aprendizado se dará mais rápido, considerando a variável indivíduo. 134 4. investigar a influência da língua materna na aquisição das vogais altas frontais e do glide /j/ da língua-alvo; A LM exerce uma grande influência na aquisição de uma língua estrangeira. Tal influência pode ser positiva ou negativa. O que foi confirmado no presente projeto é que, quando se têm os mesmos segmentos acontecendo em ambas as línguas de maneira articulatóriamente semelhantes, os aprendizes demonstraram maior dificuldade na aquisição da língua-alvo. No caso do que foi investigado neste trabalho, na produção das vogais altas frontais e do o glide /j/, todos os sons analisados acontecem em ambas as línguas, mas em contextos diferentes. Assim, os aprendizes têm que modificar categorias fonéticas já existentes. Seria importante avaliar a aquisição de sons que ocorrem na LA e não ocorrem na LM para avaliar o seu comportamento quanto uma categoria nova. Por exemplo, o segmento [i], que acontece no final de palavras, como em vale [vali] ou [valI] no português, e em happy [»hQpi] (feliz,) no inglês. Esse segmento é átono, tanto no inglês quanto no português, mas, no inglês, tem uma duração um pouco mais longa do que o segmento do português brasileiro. Há também a questão do segmento [I] que, no inglês, tem uma duração curta e no português pode alternar com a vogal [i], que não haverá alteração de significado. Ou seja, no inglês, esse segmento tem caráter distintivo, como em live [»lIv] (morar), o que não acontece com o português. Casos como esses requerem a conscientização dos aprendizes para maior precisão, na produção da LA. 135 5. contribuir com dados para a discussão do processo de ensino de pronúncia de inglês atualmente; 6. apresentar, mesmo que de maneira incipiente, insumo pedagógico para o aprimoramento do ensino da pronúncia do inglês, com relação às vogais altas frontais e o glide /j/ . Conclui-se, para esses itens, que existe a necessidade de um ensino particularizado e um forte investimento na formação de profissionais e também no desenvolvimento de material didático que não deixe de considerar a LM do aprendiz. Afirma-se, ainda, com relação aos resultados obtidos neste trabalho, que os aprendizes do grupo-teste, que receberam as instruções, direcionaram-se, destacadamente, mais em relação ao objetivo do que os aprendizes do grupo-controle. Assim, a instrução formal e explícita facilita o aprendizado do aluno. Não se pode afirmar, porém, que o aprendiz que não recebeu a instrução não aprenderá, mas talvez se deva asseverar que levará mais tempo e possivelmente não terá ferramentas que poderiam lhe proporcionar um aprendizado autônomo. 136 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABERCROMBIE, D. Elements of general phonetics. Edinburgh: Edinburgh University Press, 1967. ADJEMIAN, C. On the nature of interlanguage systems. Language Learning, v. 26, p. 297-320, 1976. ALLWRIGHT, D. e BAILEY, K. M. Focus on the language classroom. Cambridge: Cambridge University Press, 1991. ASHER, J. J. Learning another language through actions: the complete teachers’ guide book. Los Gatos, CA: Sky Oaks Productions, 1977. AZEVEDO, M. M. A contrastive phonology of Portuguese and English. Washington: GeorgeTown University Press, 1981. BALL, M. J. e RAHILLY, J. Phonetics: the science of speech. New York: Oxford University Press, 1999. BAPTISTA, B. O. The acquisition of English vowels by Brazilian-Portuguese speakers. Florianópolis: Pallotti, 2000. BEHLAU, M. S. Uma análise das vogais do português brasileiro falado em São Paulo: perceptual espectrográfica de formantes e computadorizada de freqüência fundamental. Dissertação de Mestrado. São Paulo, 1984. BOWLER, B. e CUNNINGHAM, S. Headway: intermediate pronunciation manual. Oxford: OUP, 1990. BROWN, H. D. Principles of language learning and teaching. 3rd. Englewood Cliffs, New Jersey: Prentice Hall, 1993. CAGLIARI, L. C. Análise Fonológica: introdução à teoria e à prática com especial destaque para o modelo fonêmico. Campinas: Mercado das Letras, 2002. CALLOU, D. e LEITE, Y. Iniciação à Fonética e à Fonologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990. CARIONI, L. Aquisição de segunda língua: a teoria de Krashen. In: BOHN, H e VANDRESEN, P. (Org) Tópicos de lingüística aplicada: o ensino de línguas estrangeiras. Florianópolis: Editora da UFSC, pp. 50-74, 1988. CELCE-MURCIA, M.; BRIGTON, D. M. e GOODWIN, J. M., Teaching pronunciation: a reference for teachers of English to speakers of other languages. Cambridge: UK, Cambridge University Press, 1996. 137 CHOMSKY, N. Aspects of the theory of syntax. Cambridge, MA: MIT Press, 1965. CORDER, S. P. Error analysis and interlanguage. Oxford: Oxford University Press, 1980. CRISTÓFARO-SILVA, Thaïs. Descartando fonemas: a representação mental na Fonologia de Uso. In: HORA, D. e COLLISCHONN, G. (Org.) Teoria lingüística: fonologia e outros temas. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, pp 200-231, 2003. CRISTÓFARO-SILVA, Thaïs. O método das vogais cardeais e as vogais do português brasileiro. Revista de Estudos Lingüísticos. vol. 8, no. 2. pp. 127-153, jul./dez., Belo Horizonte, 1999. ELLIOT, R. A. Foreign language phonology: field independence, and the success of formal instruction in Spanish pronunciation. The Modern Language Journal, vol. 7, no. 4, pp. 530-542, 1995. ELLIS, R. The study of second language acquisition. Oxford: Oxford University Press, 1994 FLEGE, J. E. Effects of equivalence classification on the production of foreign language speech sounds. In: JAMES, A. e LEATHER, J. (Eds.). Sound patterns in second language acquisition. Dordrecht: Foris, 1986. FRANÇA, J. L.; VASCONCELOS, N. C.; MAGALHÃES, M. H. A. e BORGES, S. M. Manual para normalização de publicações técnico-científicas. 4a. ed. Belo Horizonte: editora UFMG, 1998. FRY, D. B. The physics of speech. Cambridge: Cambridge University Press, 1979. GASS, S. M. e SELINKER, L. Second language acquisition: an introductory course. Hillsdale: Lawrence Erlbaum, 1994. HINOFOTIS, F. e BAILEY, K. M. American undergraduates’ reactions to the communication skills of foreign teaching assistants. In: FISCHER, J. C.; CLARKE, M. A. e SCHACHTER, J. (Eds).TESOL’ 80. Alexandria, VA: pp. 120-135, 1980. IOUP, G. e WEINBERGER, S. H. (Eds.). Interlanguage phonology: the acquisition of a second language sound system. Cambridge: Newbury House, 1987. JAMES, A. e LEATHER, J. (Eds.). Sound patterns in second language acquisition. Dordrecht: Foris, 1986. JAMIESON, D. G. e MOROSAN, D. E. Training non-native speech contrast in adults: acquisition of the /D/ - /T/ contrast by francophones. Perception And Psychophysics, vol. 40, no. 205, pp. 205-215, 1986. 138 JENKINS, J. The phonology of English as an international language: new models, new norms, new goals. Oxford: Oxford University Press, 2000. JOHNSON, K. e MULLENNIX, J. W. Talker variability in speech processing. San Diego: Academic Press, 1997. JONES, Daniel. The Pronunciation of English. 4th ed., rev. and enl. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 1956. JONES, Rodney H. Beyond “listen and repeat”: pronunciation teaching materials and theories of second language acquisition. In: RICHARDS, J. C., RENANDYA, W. A. (org.) Methodology in language teaching: an anthology of current practice. USA: Cambridge University Press, 2002. KENT, R. D. e READ, C. The acoustic analysis of speech. San Diego: Singular, 1992. KEYS, K. J. Transfer processes in L2 phonological acquisition and normative criteria: data from a Brazilian study. [s.l.] 2001. KEYS, K. J. State of the art: interlanguage phonology – factors and processes in the development of a second language phonology. Rev. Brasileira de Lingüística. Vol. 1, No. 1, pp. 155-190, 2001a. KIKUCHI, L. Vogais altas e glides no português brasileiro – Dissertação de Mestrado. UFMG, 2001. KRASHEN, S. D. e TARRELL, T. D. The Natural Approach. Hayward: Alemany Press, 1983. KREIDLER, Charles. The pronunciation of English. Oxford, UK: Blackwell, 1989. LADEFOGED, P. A course in phonetics. 3rd ed. New York: Harcourt Brace College, 1993. LADO, R. Linguistics across cultures. Applied Linguistics for Language Teachers. Ann Arbor: University of Michigan Press, 1957. LARSEN-FREEMAN, D. e LONG, M.H. An introduction to second language acquisition research. New York: Longman, 1991. LITTLEJOHN, A. e HICKS, D. Cambridge English for the world. Cambridge: CUP, 1996 LEATHER, J. Second-language speech research: an introduction. In LEATHER, J. (ed) Phonological issues in language learning (Ed.) Oxford: Blackwell Publishers, 1999. MARUSSO, A. S. Redução Vocálica: estudo de caso no português brasileiro e no inglês britânico. Tese de Doutorado. UFMG, 2003. 139 MASCHERPE, M. Análise comparativa dos sistemas fonológicos do inglês e do português.Tese de Doutorado. São Paulo, 1970. MORLEY, J. The Pronunciation component in teaching English to speakers of other languages. In: Tesol, vol 25. no. 3, pp. 481-521. 1991. MORLEY, J. A multidimensional curriculum design for speech pronunciation instruction. In: MORLEY, J. (Ed) Pronunciation pedagogy and theory: new views, new directions. Bloomington, Illinois: USA, Pantagraph Print, pp. 64 -90, 1994. MAYOR, R. C. Current trends in interlanguage phonology. In:YAVAS, H. (Ed.) First and Second Language Phonology. San Diego: Singular, pp 238-303, 1994. NEUFELD, G. On the acquisition of prosodic and articulatory features in adult language learning. In: IOUP, G. e WEINBERGER, S. H (Eds). Interlanguage Phonology: the acquisition of a second language sound system. Massachusetts: Newbury House, pp. 321-332, 1978, 1987. ODLIN, T. Language transfer, cross-linguistic influence in language learning. Cambridge: Cambridge University Press, 1989. OLIVEIRA, A. A. A aquisição do Present Perfect em contexto de língua estrangeira. Dissertação Mestrado. UFMG, 2003. OLLER, J. W. e ZIAHOSSEINY, S. M. The contrastive analysis hypothesis and spelling errors. Language Learning: A journal of applied linguistics, vol. XX, no. 2, pp. 183197, 1970. O’NIEL, R.; MUGGLESTONE, P. e ANGER, L. American Dimensions (intermediate). Essex: Longman, 1992 OXENDEN, C.; SELIGSON, P. e LATHAM-KOENIG, C. English File 2. Oxford: Oxford University Press, 1996. OXENDEN, C. e SELIGSON, P. English File 1. Oxford: Oxford University Press, 1997. OXENDEN, C. e LATHAM-KOENIG, C. English File Intermediate. Oxford: Oxford University Press, 1999. PENNINGTON, M. C. Recent research in L2 phonology: implications for practice. In: MORLEY, J. (Ed) Pronunciation Pedagogy and Theory: new views, new directions. Bloomington: Pantagraph Print, pp. 92-107, 1994. PENNINGTON, M. C. Phonology in English language teaching: an international approach. London: Addison Wesley Longman, 1996. 140 PIERREHUMBERT, J. B. What people know about sounds of language. Studies in the Linguistics Sciences 29 (2). LSA Forum talk, 7/99, Universidade de Illinois, UrbanaChampaign. 2001. PETERSON, G. E. e BARNEY, H. E. Control methods used in a study of vowels. Journal of the Acoustical Society of America, 24, pp. 175-184, 1952. PICKETT, J. M. The acoustics of speech communication: fundamentals, speech perception theory and technology. Needham Heights: Allyn and Bacon , 1999. QUIJADA, J. A. Explicit teaching of English pronunciation to Spanish school children. International Review of Applied Linguistics, vol. 36, no. 2, pp. 266-275, 1997. RICHARDS, J.; HULL, J. e PROCTOR, S. Interchange (book 1). Cambridge. CUP, 1990. RICHARDS, J.; HULL, J. e PROCTOR, S. New Interchange (book 1). Cambridge. CUP, 1997. ROACH, P. English phonetics and phonology – a practical course. 2nd edition. Cambridge: Cambridge University Press, 1991. ROCHA, Luiz Carlos de A. Como elaborar trabalhos acadêmicos. Belo Horizonte: Ed. Do Autor, 2001. SCHACHTER, J. An error in error analysis. Language Learning 24.2, pp. 205-213, 1974. SCHMIDT, R. Attention. In: ROBINSON, P. Cognition and second language instruction. Cambridge: Cambridge University Press, pp. 3-32, 2001. SCHMIDT, R. The Role of Consciousness in Second Language Learning. Applied Linguistics. Vol. 11, no. 2, Oxford University Press, pp. 129-157, 1990. SCHMIDT, R. Consciousness and foreign language learning: a tutorial on the role of attention and awareness in learning. In: SCHIMIDT, R. (ed.), Attention and Awareness in Foreign Language Learning. (Technical Report #9) Honolulu: Hawai’i, pp. 1-63, 1995. SELINKER, L. Interlanguage. In: ROBINETT, B. e SCHACHTER, J. Second language learning: contrastive analysis, error analysis and related aspects. Ann Arbor: The University of Michigan Press, 1983. SELINKER, L. Rediscovering Interlanguage. New York: Longman, 1992. SILVEIRA, R. Pronunciation instruction classroom practice and empirical research. In: Linguagem e Ensino, Pelotas, vol 5, no. 1, pp 93-126, 2002). SOARS, J. e SOARS, L. Headway (intermediate, upper-intermediate and advanced). Oxford. OUP, 1987 141 STRANGE, W. e DITTMANN, S. Effects of discriminating training on the perception of /r/ and /l/ by Japanese adults learning English. Perception and Psychophysics, vol. 36, pp. 131-145, 1984. TARONE, E. Interlanguage as Chameleon. Language Learning, 29, pp. 181-191, 1979. TRASK, R. L. A Dictionary of Phonetics and Phonology. London: Routledge, 1996. WARDHAUGH, R The Contrastive Analysis Hypothesis. In: Robinett, B. e Schachter, J. (1983) Second Language Learning: contrastive analysis, error analysis and related aspects. Ann Arbor: The University of Michigan Press, pp. 6-14, 1983. YULE, G.; HOFFMAN, P. e DAMICO, J. Paying Attention to Pronunciation: the role of self-monitoring in perception. In: TESOL Quartely, vol. 21, pp. 765-768, 1987. YULE, G. e MACDONALD, D. The Effects of Pronunciation Teaching. In: MORLEY, J. (Ed) Pronunciation Pedagogy and Theory: new views, new directions. Illinois: Pentagraph, pp. 109-118, 1994 IPA–International Phonetic Association.1996. http://www.arts.gla.ac.uk/IPA/ipachart.html Acessado em Janeiro de 2004.