Tecnologia de Produção do Poliestireno Expansivo Irani Maria da Silva Oliveira, Mestre, professora da Faculdade Guararapes Sandro Severino de Oliveira, professor e coordenador da Faculdade Boa Viagem Resumo Este artigo analisa, sob a ótica da Teoria da Empresa, o sistema de produção de uma indústria de produtos em polestireno expandido-EPS, popularmente conhecido como isopor®, identificando sua função de produção, seus custos fixos, custos varáveis, custos totais, custos médios, custo marginal, custo de oportunidade e resultado econômico. Percebeu-se que a empresa estudada deve reduzir seus custos fixos e aumentar sua participação no mercado para obter um resultado econômico satisfatório. Palavras-Chaves: Teoria da Empresa, Teoria da Produção, Função de Custos, Resultado econômico. abstract This article analyses, (according to company theory), the production system of a company of products made of expanded polystyrene isopor®, identifying its production function, fix costs, variable costs, total costs, average costs , marginal costs, opportunity costs and the economic results. The Company analyzed should reduce its fix cost and raise its participation on the market to obtain a satisfactory economic result. Key-words: company theory, production theory, costs function, economic result 1INTRODUÇÃO As pequenas e médias empresas são de fundamental importância para o desenvolvimento da economia brasileira. São elas que empregam grande parcela da mão-de-obra não qualificada. Administrar corretamente estas empresas concorre para o desenvolvimento da economia além de colaborar para o aumento do emprego e renda. 2 Este artigo tem o objetivo de analisar o processo produtivo e suas funções de custos de uma industria de produtos à base de poliestireno expandido-EPS, popularmente conhecido como isopor(®, marca registrada pelo concorrente introduzida no nordeste na década de 70. Além da atividade de produção a empresa atua na área de logística para distribuição de produtos de terceiros, a inserção da empresa neste segmento deveu-se ao fato da atividade de produção apresentar prejuízo econômico, tal fato ensejou o presente artigo na busca de uma possível solução e entendimento sistematizado do problema. Este trabalho restringe-se à atividade de produção industrial. A análise do seu processo produtivo e funções de custos indicou que o resultado econômico apresenta-se negativo em virtude dos custos de oportunidade terem sido inseridos nos custos econômicos. O resultado deste artigo indica que a empresa deverá aumentar sua participação no mercado e/ou diminuir seus custos fixos para que no longo prazo possa continuar atuando em seu segmento. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 A ESTRUTURA DE MERCADO As diferentes estruturas de mercado estão condicionadas a três variáveis: a) número de firmas no mercado; b) diferenciação de produto; c) existência de barreiras à entrada de novas empresas. No mercado de bens e serviços as formas de mercado de acordo com estas características são as seguintes: a) concorrência perfeita; b) monopólio; concorrência monopolística (ou imperfeita); d) oligopólio. 2.1.1 Mercado de Concorrência Perfeita ou Altamente Competitivo A concorrência perfeita é uma situação hipotética. Seu conceito foi introduzido pelos economistas clássicos; num mercado de concorrência perfeita ou totalmente competitivo, todas as empresas produzem um produto idêntico e são tão pequenas em relação ao setor que suas decisões de produção não têm impacto sobre os preços. (Pindyck e Rubinfeld, 2006). Imaginemos um mercado de concorrência perfeita numa cidade cuja economia está baseada no comércio de laranjas, existe uma grande quantidade de vendedores, todos de pequeno porte e outra grande quantidade de compradores, nenhum destes agentes têm a capacidade de influir nos preços devido à homogeneidade do produto e à acirrada competição. Qualquer pessoa poderia entrar ou sair do comércio de laranjas sem nenhuma dificuldade, não existiria propaganda para vender as laranjas já que são absolutamente iguais em termos de sabor, tamanho, cor e de acidez. “Portanto, num certo sentido, a concorrência perfeita descreve um mercado no qual existe uma ausência completa de concorrência direta entre os agentes econômicos (Ferguson, 1996, p. 276). Apesar da sua concepção teórica, “as conclusões derivadas do modelo de concorrência perfeita têm amplamente permitido explicações e previsões exatas de fenômenos do mundo real” (Ferguson, 1996, p.279). São 3 quatro as condições que determinam o mercado de concorrência perfeita: a) Existe grande número de compradores e vendedores; no mercado de concorrência perfeita os agentes econômicos (compradores e vendedores) são pequenos, em relação a todo o mercado. Dessa forma, o comprador é tão pequeno em relação ao mercado que sua decisão de compra não irá influir na obtenção de preço que lhe seja mais favorável e o produtor é tão pequeno que sua decisão de produzir mais ou menos não irá também influenciar no preço do produto, ele acredita que sua curva de demanda é horizontal, porque considera o preço fixo, devendo apenas se preocupar com a quantidade a ser produzida. Tanto o comprador como o vendedor são tomadores de preço, ou seja eles aceitam o preço do mercado, (...) “um mercado é perfeitamente competitivo se todas as empresas partirem do pressuposto de que o preço de mercado independe de seu nível de produção”(grifo do autor, Varian, 2000, p.402). b) Produto homogêneo: os produtos são homogêneos, isto é, são substitutos perfeitos entre si, isto significa que o consumidor é indiferente a origem ou à firma que os produziu e que os preços são iguais em virtude da homogeneidade do produto; c) Livre mobilidade dos recursos: novas empresas podem entrar ou sair do setor sem dificuldade, permitindo que as firmas menos competitivas saiam do setor e outras possam entrar livremente: d) Perfeito conhecimento: existe informação completa sobre o preço do produto, os agentes têm conhecimento do preço e custos, como também sobre o futuro do mercado. 2.1.2 Mercado Monopolista O monopólio é um mercado no qual existe apenas um vendedor, mas para muitos compradores, o monopólio reconhece sua influência sobre o preço de mercado e escolhe o nível de preço e de produção que maximize seus lucros totais, porém sofre restrição pelo comportamento do consumidor, se escolher um preço muito alto a empresa só conseguirá vender uma quantidade pequena. O setor monopolista é a própria empresa, por ser a única no mercado, pelo mesmo motivo a demanda e oferta do setor é o da firma. Como exemplo de monopólio, podemos citar a indústria farmacêutica, quando do lançamento de uma nova droga, a proprietária da patente é a única com direito de produção da mesma. Em linhas gerais, monopólio significa ausência de concorrência e existência de um único fornecedor. No monopólio, o fornecedor de produtos pode impor qualquer preço para suas mercadorias, mas como afirmado acima fica sujeito ao nível de vendas em razão do preço por ele fixado. Deve-se destacar que o modelo monopolista é o mais indicado para alguns setores em virtude do volume de investimento necessário à sua exploração e retorno a longo prazo, como a canalização e distribuição de água ao consumidor. As hipóteses do monopólio são: setor constituído por uma única firma; a firma produz um produto para o qual não existe substituto próximo; existe concorrência entre os consumidores; e, a curva da receita média é a curva de demanda do mercado. Para poder maximizar seus lucros, o monopolista deve determinar seus custos e as características da demanda do mercado, o conhecimento adequado dos custos e da equação da demanda do mercado é crucial para a maximização do lucro, de posse destas informações, o monopolista decide então qual será a sua produção. A receita média do monopolista é exatamente a curva da demanda de mercado (Pindyck e Rubinfeld, 2006). 2.1.3 Mercado Oligopolístico 4 O oligopólio é uma estrutura de mercado que combina as características do monopólio e da concorrência perfeita. Caracteriza-se pela existência de reduzido número de produtores, fabricando bens que são substitutos próximos entre si, existindo uma interdependência entre eles. Para Pindyck e Rubinfeld (2006) oligopólio é um mercado no qual apenas algumas empresas competem entre si e a entrada de novas é impedida. Em alguns setores oligopolistas, ocorre a cooperação entre as empresas, noutros a competição é acirrada, obrigando as empresas a estudar a melhor estratégia que maximize seus lucros, levando em conta as estratégias adotadas pelos concorrentes. Portanto, os oligopolistas irão determinar sua produção e preço, levando em consideração o comportamento dos seus concorrentes. São exemplos de oligopólios no Brasil: as indústrias de cimento e as companhias de transportes aéreos, e no mundo: as indústrias aeronáuticas. “A essência de um oligopólio é que cada firma tem de considerar como suas ações afetam as decisões do seu número relativamente pequeno de rivais (Begg, 2003, p.66)” Sabe-se que o mercado competitivo e o monopólio, encontram seu equilíbrio quando o custo marginal é igual à receita marginal (CMg = RMg), atendendo a esta equação, as empresas estarão maximizando seu lucro, ou fazendo o melhor que podem. No mercado oligopolista, cada empresa procura fazer o melhor que pode em função do que seus concorrentes estão fazendo, o matemático John Nash descreveu este equilíbrio que ficou denominado como equilíbrio de Nash: “Conjunto de estratégias ou ações em que cada empresa faz o melhor que pode em função do que suas concorrentes estão fazendo”(Pindyck e Rubinfeld, 2006). Para facilitar o estudo do mercado de oligopólio os economistas supõem que o setor possui duas empresas, passando a se chamar duopólio. Veremos, então, o ponto de vista de Cournot, Stackelberg e Bertrand. Modelo de Cournot Supõe-se que as empresas produzam um produto semelhante e conheçam a curva da demanda do mercado. As empresas integrantes do duopólio deverão tomar a decisão da quantidade que será produzida e devem tomar estas decisões simultaneamente, levando em consideração a produção de seu concorrente. O Modelo de Cournot entende que cada empresa considera fixo o nível de produção de seu concorrente e então toma sua própria decisão a respeito da quantidade que produzirá. Modelo de Stackelberg As premissas do Modelo de Stackelberg é de que as empresas produzem um produto semelhante e conhecem a curva da demanda do mercado. Estas deverão tomar a decisão da quantidade que será produzida, porém uma das empresas determina seu nível de produção “antes” que seus concorrentes o façam. Levando em conta a quantidade produzida pela primeira empresa, as demais decidem qual será seu nível de produção. Modelo de Bertrand Neste modelo, as empresas também produzem um produto semelhante e tomam decisões ao mesmo tempo, no entanto as empresas determinam seus preços em vez da quantidade. No Modelo de Bertrand, as empresas produzem uma mercadoria homogênea, sendo que cada uma delas considera fixo o preço de seus concorrentes e todas decidem simultaneamente para qual preço mudar. 5 A Teoria da empresa tem o propósito de estudar como as empresas tomam decisão de produção com base na minimização dos custos e como seus custos variam com o volume produzido. Seu conhecimento permite que se conheça as características do mercado, sendo de fundamental importância conhecer a teoria da produção e custos para uma boa administração econômica da empresa. Nos tópicos a seguir iremos analisar a função de produção e custos e como delas resultam a maximização dos resultados, ou seja maximização dos lucros. 2.2 FUNÇÃO DE PRODUÇÃO Para Vasconcelos (2002) produção é o processo pelo qual a firma transforma os fatores de produção (capital, trabalho e terra) em bens ou serviços para venda no mercado. Dessa forma, a firma é uma intermediária tendo em vista que adquire insumos (fatores de produção) combina-os em um processo de produção que resulta num produto que será vendido. Dada uma determinada disponibilidade de fatores de produção (trabalho, capital e matéria-prima), uma função de produção indica o produto máximo (volume de produção), q, que uma empresa produz para cada combinação específica de insumos (Pindyck e Rubinfeld, 2006). Pode-se, então, escrever a função de produção como: Q = f ( K, L) onde: Q= quantidade do produto, f = quantidade dos fatores de produção, K= capital físico, L = mão de obra, sendo que geralmente K é um valor fixo. Os fatores de produção podem ser fixos ou variáveis e, segundo Vasconcelos (2002), são fixos aqueles que permanecem inalterados quando a produção varia, enquanto os fatores de produção variáveis se alteram, com a variação da quantidade produzida. 2.3 FUNÇÃO DE CUSTOS No nível microeconômico, existe uma diferença entre custos contábeis e custos de oportunidade. Os custos contábeis envolvem dispêndio monetário, considerado na contabilidade chamados também de custos históricos. Os custos de oportunidade são custos implícitos, que não envolvem desembolso. Os custos de oportunidade privados são os valores dos insumos que pertencem à empresa e são usados no processo produtivo, e que são estimados a partir do que poderia ser ganho, no melhor uso alternativo. CUSTOS TOTAIS Os custos totais são o resultado da soma dos custos variáveis com os custos fixos, podemos inferir que o Custo Total é: CT = q(cv) + CF, onde CT= custos totais; q= quantidade produzida; cv= custos variáveis e cf = custos fixos, no gráfico 1, observa-se o comportamento dos custos em relação à quantidade produzida. 6 Gráfico 1 – Custos totais Custos Totais R$ CT= CVT + CFT CV CF Fonte: Vasconcelos, 2002 q (quant.produzida) CUSTOS TOTAIS MÉDIO O custo total médio seria os custos totais dividido pela quantidade produzida, ou seja, CTMe = custos totais / quantidade produzida = CT / q, dessa forma o custo variável médio (CVMe) é representado pelo custo variável total (CVT) dividido pela quantidade produzida ( CVT/q) e o custo fixo médio (CFMe): custo fixo total dividido pela quantidade produzida (CFT/q). No gráfico 2 observa-se que o CFMe tende a zero à medida que q tende ao infinito e que o aumento de q tende a igualar CVMe com CTMe. Gráfico 2 – Custos médios Custos Médios CTMe CVMe CFMe Fonte: Vasconcelos, 2002 q CUSTO MARGINAL 7 Os custos marginais referem-se às variações de custos, quando se altera a produção, segundo Vasconcelos (2002) a maximização do lucro de uma empresa dependerá mais dos custos e receitas marginais do que dos custos (e receitas) médios. Custo Marginal (CMg) = Variação do CT = Variação em q ou ∆ CT = ∆q d CT dq Ou seja, é o custo de se produzir uma unidade extra do produto. Em termos matemáticos é também definido como a derivada primeira da curva de custo total. Como ∆CFT = 0, temos que CMg = (∆CVT + ∆CFT) / ∆q = ∆CVT / ∆q, ou seja os custos marginais não são influenciados pelos custos fixos, que são invariáveis a curto prazo. No gráfico 3, tem-se a relação entre a curva do custo marginal (CMg) e dos custos médios total e variável. Observase que se o custo marginal superar o custo médio, este último crescerá, analogamente se custo marginal for inferior ao médio este poderá cair. Conclui-se, portanto, que quando o custo marginal for igual ao custo médio, o marginal estará cortando com o médio no ponto mínimo do custo médio(Vasconcelos, 2002). Gráfico 3 – Relações entre Custo Marginal e custos médios total e variável CMg Custos Médios CTMe CVMe CFMe q Fonte: Vasconcelos, 2002 Vimos que o custo marginal é quanto custa produzir uma unidade a mais, ou seja é a variação do custo unitário. Para melhor entendimento, suponha que uma empresa produza 10 unidades com custo total de R$ 3.000,00; assim o custo médio é de R$ 300,00, se para produzir a 11ª. unidade o custo adicional(marginal) for de R$ 200,00, o custo médio cairá para R$ 290,90 (3200/11). Porém, se o custo adicional para produzir a 11ª. unidade fosse de R$ 400,00, o custo médio subiria para R$ 309,09 (3400/11). Fica claro, então, que, enquanto o custo marginal for menor que o custo médio, o médio estará caindo e, quando o custo marginal for superior ao médio, o custo médio estará crescendo. 2.4 MAXIMIZAÇÃO DO LUCRO 8 É natural pensarmos que os empresários buscam a maximização dos lucros, no entanto para Pindyck e Rubinfeld (2006) este é um tema controverso, visto que nas empresas menores, administradas pelos proprietários, o interesse no lucro provavelmente dominará todas as decisões da empresa. Para eles, nas grandes empresas, há um afastamento dos administradores com os proprietários e os administradores poderão priorizar outros aspectos da administração, tais como maximização da receita ou podem estar preocupados com a maximização dos lucros no curto prazo pensando em receber bônus em detrimento dos lucros no longo prazo. Para maximização do lucro a empresa deverá estabelecer o nível de produção que seja capaz de maximizar o lucro. O lucro é obtido a partir da diferença entre receita total e custos ou seja: Л = R(q) – C(q), onde Л = lucro, R=total das receitas e C= custo total (fixo + variável), no gráfico 4 temos a situação de maximização de lucro no curto prazo onde a empresa escolhe o nível de produção q* de forma a maximizar o lucro. Observa-se que a curva da receita é uma linha curva que reflete o fato de que a empresa só consegue vender um nível maior de produto reduzindo o preço. A inclinação dessa curva é a receita marginal (RMg), que mostra em quanto varia a quando o nível de produção aumenta em uma unidade. Vemos também a curva de C é positiva quando a produção é zero porque há custos fixos, a inclinação dessa curva mostra o CMg, que como vimos mostra o custo adicional da produção de uma unidade. Observamos, ainda, que, no ponto onde a receita é menor que o custo, a empresa apresenta lucro negativo ou seja prejuízo, porque a receita é insuficiente para cobrir os custos. À medida que a produção aumenta, a receita aumenta mais rápido que o custo e o lucro torna-se positivo, continuando a crescer até o nível de produção q* unidades. Nesse ponto, a receita marginal (RMg) e o custo marginal (CMg) são iguais e a distancia vertical entre receita e custo atinge seu cumprimento máximo. Note-se que a partir do nível de produção q* o custo cresce mais rápido que a receita, isto é o custo marginal é maior que a receita marginal, assim o lucro tornase menor do que o máximo possível quando o produto cresce além de q*. A regra de que o lucro é maximizado quando a RMg = CMg é válida para qualquer empresa, em qualquer estrutura de mercado. O lucro, L=R-C, é maximizado no ponto em que um incremento adicional no nível de produção mantém o lucro inalterado (Ito é, ∆lucro/∆q = 0), desta forma podemos concluir que o lucro é maximizado quando RMg = CMg, conforme Pindyck e Rubinfeld (2006). 9 Gráfico 4 – Maximização de lucros Custo, Receita, lucro CUSTOS RECEITA Produção (unidades) q* LUCRO 3 OBJETO DE ESTUDO A empresa objeto deste estudo está estabelecida na Cidade de Olinda em Pernambuco e atua há mais de 30 anos no ramo de fabricação de produtos em poliestireno expandido(EPS), produto conhecido popularmente como isopor® (marca do concorrente introduzida no nordeste na década de 70), produzindo mais de duas centenas de tipos de produto. A empresa possui 79 empregados e 02 diretores, de modo que a figura 1 de seu organograma apresenta uma estrutura enxuta. Diretoria Gerente Financeiro Auxiliares Gerente Comercial Auxiliasres Gerente Produção Encarregados Auxiliares Auxiliasres Figura 1 – Organograma da empresa em jan/2007. Fonte: Pesquisa de campo Produção Oficina Auxiliares Expedição 10 A função de suas receitas apresenta sazonalidade demonstrando um forte crescimento das vendas no período entre os meses de agosto e fevereiro e baixa no entre os meses de março de julho de cada ano. Sendo que o período de maior alta é nos meses de dezembro e janeiro. De acordo com a classificação de porte de empresa adotada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), em sua circular no. 64/02, a firma está enquadrada como de médio porte. Os dados aqui analisados referem-se ao período produtivo de 01 a 31 de dezembro de 2006. 3.1 ESTRUTURA DE MERCADO DO SETOR O setor de EPS no Estado de Pernambuco apresenta características oligopolistas em virtude de existir apenas duas empresas atuando neste seguimento. A empresa em questão atua no modelo de oligopólio proposta por Cournot, tendo em vista conhecer a demanda do mercado e ao determinar seu volume de produção leva em conta a produção do seu concorrente. Assim, ela entende que seu concorrente irá atender uma determinada parcela da demanda do mercado e em consonância com seu planejamento estratégico determina seu volume de produção. 3.2 PROCESSO PRODUTIVO O processo de produção da indústria estudada é deflagrado a partir do planejamento de produção baseada no objetivo estratégico da empresa e estudo do mercado, função de produção pode ser representada por q = f (quantidade de produtos é igual a quantidade de fatores de produção) como vimos uma função de produção pode ser dada como: Q = f (K, L) onde: Q= quantidade do produto, f = quantidade de fatores de produção, K= capital físico, L = mão-de-obra, sendo que geralmente K é um valor fixo. Ocorre que a indústria estudada apresenta a peculiaridade do fator de produção de mão-de-obra como um dado fixo, para Martins (2003) o custo será fixo se a quantidade consumida não depender da quantidade de bens produzidos, podemos inferir que, em virtude de tal fato, a função de produção desta indústria será dada por: Q = f(K, L, M), onde Q= quantidade do produto, f = quantidade de fatores de produção, K= capital físico, L = mão-de-obra, e M = matéria-prima, sendo que devido à peculiaridade da mão-de-obra ser fixa temos K e L considerado fixo, ou seja o nível de produto varia apenas em função de alterações da matéria-prima utilizada. De acordo com os dados obtidos na empresa, os fatores de produção utilizados são os seguintes: capital(K), na forma de máquinas e equipamentos, mão-de-obra dos trabalhadores(L) e matéria-prima(MP), apresentando a seguinte equação: Q= f(K+L) + f(MP), onde K (capital) e L (mão-de-obra) são fixos e MP(matéria-prima) é variável. 11 DESCRIÇÃO DO PARQUE INDUSTRIAL O parque industrial é composto por quatro máquinas moldadoras, uma pré-expansora, uma caldeira, dois compressores, três máquinas para embalagem, um túnel de encolhimento e um pantógrafo(Máquina de corte do EPS). Todas as máquinas estão totalmente depreciadas exceto o pantógrafo que possui menos de um ano de uso. Seu parque industrial está avaliado em aproximadamente R$ 1.600.000,00 (hum milhão e seiscentos mil reais). INSUMOS E MATÉRIA-PRIMA Os insumos abrangem a matéria-prima, mão-de-obra especializada e não especializadas e capital na forma de máquinas e equipamentos. DESCRIÇÃO DO PROCESSO PRODUTIVO A partir da determinação do volume de produção é solicitado o polímero poliestireno expandido (EPS) que apresenta-se em quatro tipos, definidos por sua granolometria, são eles: extra-fino que varia de 0,4 à 0,7 mm; fino que varia de 0,7 à 1,0 mm; médio que varia de 1,1 à 1,5 mm e o grosso que varia de 1,2 à 2,1 mm. O tipo de polímero utilizado dependerá da função da relação da densidade do produto e a espessura da parede do produto final. Esta matéria-prima vem acondicionada em bags de 1100 kg. Antes do EPS seguir para a etapa seguinte é verificado se o produto final desejado é branco, em caso negativo ele receberá a pigmentação desejada, essa em proporção de 0,01% de pigmento, que é mistura ao EPS em um misturador mecânico tipo betoneira. O EPS, então, é sugado para a máquina pré-expansora onde é aplicado 0,5 kg/f de pressão de vapor. Em seguida o produto expandido ficará em repouso entre 2:00 à 24:00 horas para adquirir resistência mecânica, a depender da densidade que se deseja obter, em média repousa por 8 horas, o resultado desse procedimento gera um produto chamado pérola. Após o repouso, as pérolas passam para o processo de moldagem que consiste numa máquina moldadora de EPS, esta máquina suga a pérola e a injeta num molde, que tem forma e volume do produto desejado, esse molde é fabricado em alumínio naval para evitar desgaste precoce pelo motivo do mesmo trabalhar em constante contato com água. Nesta etapa, é aplicado 1 kgf de vapor para soldar as pérolas dando uniformidade ao produto moldado que em seguida vai para a etapa de resfriamento, quando é aplicado água seguido de vácuo para resfriamento e retirada do excesso de água. Passa-se para o desmolde e embalagem do produto. 3.3 CUSTOS DE PRODUÇÃO Observa-se que os economistas tratam os custos de forma diferente dos contadores, estes estão preocupados em retratar o desempenho passado da empresa, já o economista tende a ter uma visão das perspectivas futuras da empresa (Pindyck e Rubinfeld, 2002). Para os contadores, os custos explícitos são importantes porque envolvem 12 pagamentos feitos diretamente pela empresa a outras empresas ou pessoas com os quais ela faz negócios. Os economistas consideram os termos custos econômicos e custos de oportunidades como sinônimos. Os custos de oportunidades estão associados às oportunidades perdidas quando os recursos de uma empresa não são utilizados de forma que produza o maior valor possível. CUSTOS FIXOS E VARIÁVEIS Alguns custos das empresas variam com o nível de produção, enquanto outros permanecem sem modificação mesmo que eles não estejam produzindo nada. Os custos fixos são pagos pelas empresas em funcionamento, independentemente do seu nível de produção. Em relação à empresa estudada, seus custos fixos são: salários de todos os empregados, observando que a mão-de-obra direta é considerada como um custo fixo, o custo de oportunidade do aluguel do imóvel, depreciação dos equipamentos e instalações, tudo conforme tabela 1. Os custos variáveis são aqueles que variam de acordo com o nível de produção neste caso: energia elétrica, gás, água, e o EPS. Neste ponto, é importante ressaltar que toda a água consumida na empresa provém de um poço cujo investimento está totalmente amortizado dessa forma este estudo considerou o custo de oportunidade da utilização da água se esta fosse utilizada para outros fins. Foi considerado também como um custo fixo valor correspondente a 10% do patrimônio para fins de substituição dos equipamentos que venham a ser considerados obsoletos. Em relação aos tributos incidentes sobre vendas optou em estipular o regime de lucro presumido para o imposto de renda (IR) e contribuição social sobre o lucro liquido (CSLL), com percentual de 1,20% e 1,08%, respectivamente. Para o imposto estadual de circulação de mercadorias (ICMS), alíquota de 17%; para o programa de integração social (PIS): 0,65% e, para a contribuição social: 3,00%, o imposto sobre produtos industrializados (IPI): 10%. A sistemática de cobrança dos tributos IPI e ICMS é apurado pela não cumulatividade sou seja o tributo resultante da aplicação da alíquota por ocasião da venda tem seu valor diminuído pela importância paga pelo mesmo tributo na compra da matéria-prima. A matéria-prima adquirida pela empresa estudada sofre uma tributação em sua compra no valor correspondente a 5% e 7% relativos a IPI e ICMS respectivamente. DEMONSTRATIVO DOS CUSTOS FIXOS(CF), CUSTOS VARIÁVEIS(CV), CUSTOS VARIÁVEIS MÉDIO(CVMe), CUSTOS FIXOS MÉDIO (CFMe), CUSTO MARGINAL(CMg), TRIBUTOS INCIDENTES SOBRE VENDA, RECEITA TOTAL(RT), RECEITA MARGINAL(RMg) e RESULTADO ECONÔMICO. CUSTOS FIXOS Na tabela 1, tem-se a demonstração do cálculo dos custos fixos, note-se que, nele, estão inseridos custos ocultos e não registrados pela contabilidade, ou seja os custos de oportunidade tais como: reserva para reposição das máquinas e equipamentos na ordem de 0,33% ao mês, resultando na troca dos equipamentos em 25 anos. 13 Tabela 1 – Custos fixos em dezembro/2006 CUSTOS FIXOS(1) Valor em R$ Aluguel 1.200,00 Folha de pagamento e obrigações sociais 72.172,00 Reserva para reposição de equipamentos 4.950,00 Terceirização da contabilidade 450,00 Manutenção dos computadores 800,00 Material de expediente 1.050,00 Licença para uso de software 1.400,00 Uso de energia da administração 1.200,00 Pro labore 1.405,00 Depreciação de equipamentos 683,00 Depreciação da edificação Total dos custos fixos 26.600,00 111.910,00 Fonte: pesquisa de campo, 2006 Na tabela 2, tem-se a demonstração da folha de pagamento e seus encargos sociais, incluindo as provisões para férias e 13º. Salários e obrigações tributárias sobre as mesmas. Tabela 2 – Folha de pagamento e encargos socias em dezembro/2006 Folha de pagamento e obrigações sociais Folha de pagamento – 79 empregados Valor em R$ 42.535,20 13º. Salário 3.544,60 Férias 4.714,32 F.G.T.S. (8,5%) 4.317,50 Previdência social (27,5) Fardamento Refeições Total da folha e obrigações sociais 13.968,38 466,00 2.626,30 72.172,00 Fonte: pesquisa de campo, 2006 Nos custos variáveis, demonstrados na tabela 3, foram considerados 53980 kg de EPS adquirido a R$ 5,60, comissão sobre vendas na ordem de 6%; observar na tabela 2 que os gastos com água foram considerados 1423,30 m3 conforme medidor da empresa, o preço do custo de oportunidade da água foi calculado a R$ 2,21 que é o preço cobrado pela companhia pública que fornece água (COMPESA). O Cálculo dos tributos estão demonstrados na 14 tabela 3. Um ponto importante a considerar é que a industria está estabelecida numa área que não dispõe de saneamento público e este fato pode ser visto como uma vantagem sobre a concorrência, fica porém o alerta quanto à necessidade de estimar este custo Tabela 3 – Custos variáveis em dezembro/2006 CUSTOS VARIÁVEIS (2) Valor em R$ Energia 20.800,00 Gás 24.000,00 Consumo de Água (custo oportunidade) 3.152,12 Matéria-prima (EPS) 302.288,00 Impostos sobre vendas 139.446,97 Comissão sobre vendas 21.017,28 Total dos custos variáveis 521.704,38 Fonte: pesquisa de campo, 2006 Na tabela 4, tem-se a demonstração dos tributos a serem pagos. Em decorrência das vendas, as alíquotas utilizadas foram: ICMS 17% menos os 7% pagos na aquisição da matéria-prima; IPI 10% menos os 5% pagos na aquisição da matéria-prima; PIS: 0,65%, COFINS: 3,00%, IR 1,20% e CSLL 1,08%. Lembrando-se que a opção de do imposto de renda é baseada no lucro presumido. Tabela 4 – Cálculo dos tributos, dezembro/2006 Tributos Entrada (-) Saída (+) Valor devido R$ IPI 15.114,40 53.362,14 38.247,74 ICMS 21.160,16 90.715,64 69.555,48 PIS/COFINS 19.477,18 19.477,18 IR/CSLL 12.166,57 12.166,57 Total dos tributos 139.446,97 Fonte: Pesquisa de campo, 2006 Na tabela 5, tem-se os custos totais(CT), custos fixos(CF), custos variáveis(CV), custo marginal(CMg), custo fixo médio(CFMe), custo variável médio(CVMe) e custo total médio, além da produção mensal no mês de dezembr0/2006. Tabela 5 – Tabela comparativa dos custos Produção Kg CF 0,00 111.910,00 CV CT 0,00 111.910,00 CMg CFMe CVMe CTMe 15 41.047,80 111.910,00 521.704,38 633.614,38 12,71 2,73 12,71 15,44 Fonte: pesquisa de campo, 2006 A produção final apresentada foi de 41047,80 kg que serão vendidos ao preço de R$ 13,00, totalizando uma receita de R$ 533.621,00. Por definição, sabe-se que receita marginal(RMg) é a inclinação da curva da receita, ou seja ela mostra quanto varia a receita quando o nível de produção aumenta em uma unidade, podemos inferir então que a receita marginal(RMg) é igual ao preço(P) (RMg = P). RECEITA MARGINAL(RMg) A receita marginal (RMg) é a variação na receita resultante de um aumento do produto em mais uma unidade, segundo Pindyck e Rubinfeld (2002) a regra de que o lucro é maximizado quando a receita marginal é igual ao custo marginal é válida para todas as empresas, competitivas ou não. A empresa estudada atua num mercado oligopolista no entanto ela é aceitadora de preços visto que sua produção não influencia os preços, conforme demonstrado no gráfico 5, assim podemos entender que sua RMg é igual ao preço, que é de R$ 13,00. Gráfico 5 – curva da demanda (receita) preços Fonte: pesquisa de campo, 2006 q RESULTADO ECONÔMICO O resultado econômico é obtido pela equação Л = R – C, onde Л = lucro, R=total das receitas e C= custo total (fixo + variável), o resultado econômico da empresa estudada é calculado a partir dos seguintes dados: receita total R$ 533.621,00; custo total = custo fixo + custo variável: 521.704,38 + 111.910,00 = 633.614,38 ou seja: Lucro ou Prejuízo = 533.621,00 - 633.614,38 = -99.993,38 Observa-se que a empresa apresenta prejuízo econômico no valor de R$ 99.993,38 (noventa e nove mil, novecentos e noventa e três reais e trinta e oito centavos). 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS 16 A empresa atua num mercado olipolístico porém sua produção não influencia nos preços, ela opera com sua RMg (R$ 13,00) ligeiramente acima do CMg (R$ 12,71), tal fato demonstra que no curto prazo sua receita marginal cobre seus custos variáveis. Para Pindyck e Rubinfeld (2002) as empresas devem escolher seu nível de produção de tal forma que o seu custo marginal seja igual ao preço, independentemente da estrutura de mercado em que estejam atuando, deve-se observar que esta regra é para determinação do nível de produção. A empresa sabe que o preço do mercado é de R$ 13,00 e que seus custos totais importam em R$ 633.614,38. A partir destes dados, poderá determinar o nível de produção que irá manter em equilíbrio sua produção e a demanda do mercado. O nível de produção poderá ser obtido a partir da seguinte equação: Demanda = Oferta, que é igual a Preço x Quantidade = Custo total de produção; ou seja 13,00 X Q = 633.614,38, resultando na quantidade ótima de Q = 48.739,57 Kg. Assim 48.739,57 kg seria o nível de produção ideal para a empresa absorver todo o custo e obter lucro econômico igual a zero Observa-se, ainda, que o CMg de R$ 12,71 está abaixo do CTMe de R$ 15,44. Este fato indica que a empresa está tendo prejuízo, visto que sua RMg não cobre os custos fixos, apesar da Regra do Produto indicar que a empresa deve produzir num nível em que RMg = CMg; a Regra de Fechamento determina que a empresa deve fechar se o preço do seu produto é menor do que o custo econômico médio de produção que maximiza seus lucros. Observou-se que a empresa apresenta prejuízo econômico, agravando o prejuízo contábil e que a este aumento deve-se ao fato de que a contabilidade não leva em consideração os custos de oportunidade, como remuneração do capital e utilização de vantagens com custo contábil zero, como por exemplo a água potável. 5 CONCLUSÃO É necessário que a empresa estudada elabore um estudo detalhado dos seus custos operacionais e dos seus custos de oportunidade refinando e melhorando os aspectos estudados neste artigo, levando em consideração seus custos de oportunidade e remuneração do capital investido no negócio. Apesar da mesma estar operando com preço abaixo do seu custo total médio ainda poderá reagir seja aumentando sua participação nas vendas do mercado, seja diminuindo seus custos fixos. Conclui-se que, no curto prazo, a RMg cobre seus CMg este fato diminui o impacto dos seus custos fixos reduzindo o valor dos custos fixos médio (CFMe), a empresa pode então optar em produzir mais e atuar agressivamente no mercado de forma a aumentar sua participação no mesmo, além de diminuir seus custos. REFERÊNCIAS 17 BEGG, David; FISCHER, Stanley; DORNBUSCH, Rudiger. Introdução à economia: para cursos de administração, direito, ciências humanas e contábeis. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. BRASIL. Banco Nacional de Desenvolvimento(BNDES). Micro, pequenas e médias empresas: porte de empresa. Disponível em: < http://www.bndes.gov.br/clientes/porte/porte.asp >. Acesso em: 10 fev. 2007. FERGUSON, C. E. Microeconomia. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense 1996. MARTINS, Eliseu. Contabilidade de custos. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2003. PINDICK, R.S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. 5. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002. ______. ______. 6. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2006. VASCONCELOS, Marco A. S. de. Economia: micro e macro: teoria e exercícios. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002.