QUESTÕES RETIRADAS DE VESTIBULARES ANTERIORES
LIVRO POEMAS ESCOLHIDOS, JOSÉ MIGUEL WISNIK
1. Leia atentamente o poema:
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
(MATOS, Gregório de."Poemas escolhidos" São Paulo: Cultrix, 1997. p. 317.)
Todas as afirmativas que se seguem inserem o autor e seu texto em uma visão do mundo
de século XVII, EXCETO:
a) A retomada de elementos da natureza e da melancolia identifica o soneto com a produção
poética de inspiração byroniana.
b) A aproximação de sentimentos contrastantes, como a tristeza e a alegria, confirma a
tendência paradoxal da poesia do século XVII.
c) O poema explora a inconstância dos bens mundanos através de um jogo de idéias e palavras
que tanto motivou o escritor barroco.
d) O poeta baiano vale-se da linguagem figurada para persuadir o leitor e convencê-lo da
instabilidade da beleza e da felicidade.
e) O traço temático caracteristicamente barroco presente no texto é o caráter fugidio das coisas
do mundo.
(UNIFAS) Para as questões 2, 3 e 4, considere os textos:
Texto 1
Soneto
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís de CAMÕES. Lírica: redondilhas e sonetos/ Camões; introdução de Geir Campos e notas
de Massaud Moisés. – Rio de Janeiro: Ediouro; São Paulo: Publifolha, 1997. Pág.99.
Texto 2
Soneto
Ardor em firme coração nascido;
Pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido:
Tu, que um peito abrasas escondido;
Tu, que em um rosto corres desatado;
Quando fogo, em cristais aprisionado;
Quando cristal, em chamas derretido.
Se és fogo, como passas brandamente,
Se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai, que andou Amor em ti prudente!
Pois para temperar a tirania,
Como quis que aqui fosse a neve ardente,
Permitiu parecesse a chama fria.
GREGÓRIO DE MATOS, Poemas Escolhidos/Gregório de Matos; Seleção, introdução e notas
de José Miguel Wisnik.- São Paulo: Editora Cultrix. Pág.218.
2. Avalie as seguintes afirmações:
I) Camões (autor renascentista) e Gregório de Matos (autor barroco), nos poemas em questão,
valem-se de uma modalidade poética (o soneto) criada e codificada na Antiguidade Clássica
(cultura greco-latina).
II) Tanto Camões como Gregório de Matos tentam explicar as razões da natureza contraditória
do amor.
III) Ambos os autores elaboraram seus textos por um jogo de contrastes; observando-se,
todavia, que enquanto, para isso, Camões utiliza antíteses, Gregório de Matos se serve de
paradoxos.
IV) O sentimento focalizado por Camões é enunciado já no primeiro verso de seu soneto, ao
contrário de Gregório de Matos, que o revela apenas na 3ª estrofe.
V) Os dois textos evidenciam o chamado paralelismo, através do qual se dispõem períodos com
construções sintáticas idênticas ou semelhantes.
a) todas corretas, sem exceção.
b) todas corretas, com única exceção.
c) todas corretas, exceto I e II.
d) todas incorretas, exceto II e V.
e) todas incorretas, exceto IV e V.
3. Analise as afirmações a seguir.
I) Tanto em Camões quanto em Gregório de Matos, apalavra “Amor” é grafada com inicial
maiúscula, visto que tal sentimento é personificado, revelando ressonâncias clássicas, pois
sugere ações de Cupido (ou Eros), deus do amor.
II) O emprego da segunda pessoa do singular revela, no soneto de Gregório de Matos, a
presença de um interlocutor, que inexiste no texto de Camões.
III) Observa-se, no texto de Gregório de Matos, a ocorrência da ordem inversa (ou indireta),
recurso recorrente na estética barroca, mas, como se nota no texto de Camões, ausente na
estética clássica (ou renascentista).
IV) Os dois sonetos são de natureza reflexiva, com uma diferença básica; enquanto Camões
procura definir o amor, Gregório de Matos busca conceituá-lo.
V) Gregório de Matos, nesse soneto, compromete, ao contrário de Camões, a característica
barroca identificada como UNIVERSALISMO, que considera os valores gerais mais
importantes que os de ordem pessoal, particular.
a) todas corretas, sem exceção.
b) todas corretas, exceto III e IV.
c) todas incorretas, exceto I e II.
d) todas incorretas, exceto I e V.
e) todas incorretas, exceto III e V.
4. Sobre os autores dos sonetos em estudo, são feitas as seguintes afirmações:
I) Gregório de Matos produziu, basicamente, três tipos de poesia: lírica, religiosa e satírica. Foi
nessa última modalidade, contudo, que se afastou do espírito essencialmente barroco, refletindo
muito pouco (ou quase nada) as tensões desta estética. Além disso, emprega nessa vertente, uma
linguagem mais “abrasileirada”, com o poeta voltado mais para a realidade circundante.
II) Embora seja um poeta profundamente identificado com o espírito renascentista, Camões, em
sua obra lírica, esquiva-se de colocar o amor num plano platônico ou espiritualizado, preferindo,
como se vê no soneto em estudo, refletir sobre seus aspectos contraditórios.
III) “Transforma-se o amador na coisa amada, / Por virtude de muito imaginar; / Não tenho logo
mais que desejar, / Pois em mim tenho a parte amada.” Esses versos de Camões contrariam o
que se afirma na alternativa anterior dessa mesma questão.
IV) “Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado, / Da vossa alta clemência me despido; /
Porque, quanto mais tenho delinqüido / Vos tenho a perdoar mais empenhado.” Com esses
versos, Gregório de Matos mostra-nos que a voz poética do texto reconhece que sua condição de
pecador constitui empecilho para fazê-lo merecer a clemência divina.
V) “Os Lusíadas” (1572), a grande obra épica de Camões, embora reflita o espírito renascentista
que norteia sua elaboração, ostenta um conflito típico da época: glorifica as conquistas
humanas, mas, ideologicamente, ainda se prende ao teocentrismo medieval.
a) todas corretas, sem exceção.
b) todas corretas, exceto II e III.
c) todas incorretas, exceto I e II.
d) todas incorretas, exceto IV e V.
e) todas incorretas, exceto I e III.
5. (PUC-SP)
“Que falta nesta cidade? – Verdade.
Que mais por sua desonra? – Honra.
Falta mais que lhe ponha? – Vergonha.
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.”
Pode-se reconhecer nestes versos, de Gregório de Matos:
a) o caráter de jogo verbal próprio do estilo Barroco, a serviço de uma crítica, em tom de sátira,
do perfil moral da cidade da Bahia.
b) o caráter de jogo verbal próprio da poesia religiosa do século XVI, sustentando piedosa
lamentação pela falta de fé do gentio.
c) o estilo pedagógico da poesia neoclássica, por meio da qual o poeta se investe das funções de
um autêntico moralizador.
d) o caráter de jogo verbal próprio do estilo Barroco, a serviço da expressão lírica, do
arrependimento do poeta pecador.
e) o estilo pedagógico da poesia neoclássica, sustentando em tom lírico as reflexões do poeta
sobre o perfil moral da cidade da Bahia.
6. (UEL) Leia o poema abaixo, de Gregório de Matos Guerra, que faz parte da poesia
lírica barroca, com temática religiosa.
A Jesus Cristo Nosso Senhor
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido;
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história,
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na nossa ovelha a vossa glória.
Sobre o poema, é INCORRETO afirmar:
a) O poema apresenta-se em forma de soneto, com uma linguagem plena de artifícios de
versificação, o que faz ressaltar o conteúdo temático, que é o arrependimento do eu lírico de
seus pecados, em busca do perdão de Jesus Cristo.
b) A forma de expressão poética do eu lírico, neste poema, é marcada pela tensão e reflete os
conflitos do homem do período barroco, que vivia as contradições entre o teocentrismo
medieval e o antropocentrismo clássico.
c) Percebe-se neste poema a preocupação com a forma característica ao período barroco, em que
o poeta faz uso de muitos processos técnicos e expressivos, dentre eles a rima bem marcada dos
versos e o uso freqüente de antíteses e inversões sintáticas.
d) O poema apresenta ideais divergentes entre o humano e o divino em decorrência da oposição
que havia, na época, entre a mentalidade pagã da burguesia portuguesa e a religiosidade católica
da sociedade brasileira.
e) O poema todo estrutura-se como uma evocação lírico-religiosa, em que o eu lírico confessa
ser um pecador, no início do poema, para a seguir estabelecer um confronto de ideias entre a
culpa do pecador e a clemência de Jesus, e somente no final, como último apelo, nomear-se uma
"ovelha desgarrada", evocando o perdão divino.
7. (FEI)
"Em tristes sombras morre a formosura,
em contínuas tristezas a alegria"
Nos versos citados acima, Gregório de Matos empregou uma figura de linguagem que
consiste em aproximar termos de significados opostos, como "tristezas" e "alegria". O
nome desta figura de linguagem é:
a) metáfora
b) aliteração
c) eufemismo
d) antítese
e) sinédoque
8. Leia o soneto de Gregório de Matos.
Triste Bahia
Triste Bahia! ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote
Oh se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote.
SPINA, Segismundo. A Poesia de Gregório de Matos. São Paulo: Edusp, 1995.
empenhado: endividado.
trocou-te: segundo José Wisnik tem o sentido de “comerciou contigo e te modificou”.
máquina mercante: navios comerciantes.
abelhuda: termo irônico para curiosidade vaidosa.
simples: drogas, remédios.
brichote: estrangeiro, corruptela de british, inglês.
capote de algodão: indica a renúncia ao luxo.
I- Percebe-se, na primeira estrofe, uma comparação entre o estado anterior do eu lírico e da
cidade de Salvador, e o momento atual. No estado anterior, o eu lírico vivia em abundância e a
cidade era rica. No momento atual, o eu lírico se encontra endividado e a cidade está pobre.
II- A decadência da cidade, segundo o eu lírico, ocorre em função dos negócios que nela são
feitos e dos negociantes que nela atuam. Justifica sua opinião com o exemplo do comércio do
açúcar, feito com os estrangeiros em troca de drogas inúteis.
III. O eu lírico deseja que a cidade renuncie a tantos negócios que visam ao luxo, voltando à
sisudez de um simples capote de algodão.
A opção CORRETA a respeito do texto é:
a)apenas I.
b) apenas II.
c) apenas III.
d) I e III.
e) I, II e III.
9. (UFPR) Considerando a poesia de Gregório de Matos e o momento literário em que sua
obra se insere, avalie as seguintes afirmativas:
1. Apresentando a luta do homem no embate entre a carne e o espírito, a terra e o céu, o presente
e a eternidade, os poemas religiosos do autor correspondem à sensibilidade da época e
encontram paralelo na obra de um seu contemporâneo, Padre Antônio Vieira.
2. Os poemas erótico-irônicos são um exemplo da versatilidade do poeta, mas não são
representativos da melhor poesia do autor, por não apresentarem a mesma sofisticação e riqueza
de recursos poéticos que os poemas líricos ou religiosos apresentam.
3. Como bom exemplo da poesia barroca, a poesia do autor incrementa e exagera alguns
recursos poéticos, deixando sua linguagem mais rebuscada e enredada pelo uso de figuras de
linguagem raras e de resultados tortuosos.
4. A presença do elemento mulato nessa poesia resgata para a literatura uma dimensão social
problemática da sociedade baiana da época: num país de escravos, o mestiço é um ser em
conflito, vítima e algoz em uma sociedade violentamente desigual.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras.
b) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras.
e) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras.
10. (UFPR 2012)
Considere o soneto a seguir, de Gregório de Matos:
Descreve com galharda propriedade o labirinto confuso de suas desconfianças
Ó caos confuso, labirinto horrendo,
Onde não topo luz, nem fio achando;
Lugar de glória, aonde estou penando;
Casa da morte, aonde estou vivendo!
Oh voz sem distinção, Babel* tremendo;
Pesada fantasia, sono brando;
Onde o mesmo que toco, estou sonhando;
Onde o próprio que escuto, não o entendo;
Sempre és certeza, nunca desengano;
E a ambas pretensões com igualdade,
No bem te não penetro, nem no dano.
És ciúme martírio da vontade;
Verdadeiro tormento para engano;
E cega presunção para verdade.
*Babel: bíblico, torre inacabada por castigo divino; quando de sua construção os homens viram seus
idiomas se confundirem, gerando o desentendimento que os obrigou a se dispersarem. Por extensão,
desentendimento, confusão.
(MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. Seleção e organização: José Miguel Wisnik. São Paulo: Companhia das
Letras, 2010. p. 219.)
O soneto transcrito apresenta características recorrentes da poesia de Gregório de Matos
e do período literário em que ele o escreveu, o Barroco. Acerca desse soneto, é correto
afirmar:
a) O poema descreve um labirinto e, de modo semelhante à imagem descrita, utiliza uma
linguagem em que a ideia central só se apresenta no fim do texto.
b) O poema se apropria de duas imagens, Babel e labirinto, com a intenção de tematizar um
sentimento conturbado: a presunção.
c) O poema se estrutura como um soneto típico, em que a ideia central está apresentada no
primeiro quarteto.
d) As figuras de linguagem utilizadas associam ideias contrárias, o que se contrapõe às imagens
do labirinto e de Babel.
e) O poema apresenta nos quartetos duas imagens concretas, dissociadas das abstrações
apresentadas nos tercetos.
Gabarito
01
A
02
D
03
E
04
A
05
A
06
D
07
D
08
E
09
C
10
A
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1. Leia atentamente o poema: Nasce o Sol, e não dura mais que um