SOU MAIS QUE SEUS OLHOS PODEM VER. ERIVÂNIA OLIVEIRA Eu estou em todos os lugares, eu vivo por meio de você, eu me comunico, eu sinto, eu já estava aqui antes de você nascer e vou continuar existindo depois que você se for. Você me usa, me sente, se apropria de mim, vive em mim, mas não só vive, você não vive sem mim, mas sequer me reconhece. O tempo passa, a vida passa, o homem passa e eu, ah! Eu continuo aqui me adaptando, vivendo, modificando, adequando, estou sempre na moda entre os jovens e estou sempre ultrapassada entre os idosos, sou correta para quem me compreende, sou estranha, sou esquisita, mas na maioria das vezes sou apenas eu, a minha história muda com a humanidade, meus valores mudam com as experiências individuais e coletivas, eu vivo, eu existo, muitos me usam e poucos me compreendem, quem sou eu ? Muitos me conhecem por Linguagem, eu estou em todos os lugares, em todas as casas, nas cidades e nos campos, eu sou universal, mas vivo em cada ser deste planeta, no homem selvagem ao homem civilizado, eu sou a Linguagem, eu estou nas escolas, nos governos, nas placas de trânsito, nos pratos exóticos, sou eu a pura linguagem humana. De tão pura muitos me definem como social, ideológica, consciente, eu apenas sou. Represento o meio entre o “tu” e o “eu”, eu sou os valores, eu sou as metáforas, eu sou a Linguagem, existo de diversas maneiras, para um lingüista eu sou a língua, para um homem eu sou a fala, eu sou tudo e não sou nada, eu estou em tudo. Sou decifrada quando o homem me conhece, ele se encanta, se apaixona pois eu sou reveladora, transformadora e todos aqueles que convivem comigo estão sempre aprendendo, pois como eu já disse eu sou viva. Vários cientistas me estudam de diversas maneiras, sou dissecada, sou minuciosamente descrita, eu vivo através dos tempos, pois muitos me encantam, tantos me observam como uma criação perpetuada atividade do espírito humano. Eu vivo a tanto tempo no meio dos homens que me sinto parte de cada homem e sou, por alguns minutos ou dias inteiros, eu estou no homem, no seu olhar, ah! No olhar doce e brando que caminha do revoltado ao revelador, eu estou no sentir da mais leve brisa que toca com leveza a beleza de um rosto no final da tarde, pois tudo é expressão humana e em todas essas expressões lá estou eu. Mas num belo dia tive um encontro que mudou minha concepção de vida, de existência, foi um encontro transformador, conheci um grande professor/pesquisador que resolveu me reestudar, isto mesmo, me reestudar, por que muitos outros grandes homens já vinham inúmeras vezes me estudando, mas este homem em exclusivo, me entendeu, me sentiu, foi um tal de Saussure, que me enxergou a ponto de me seduzir e extrair de mim segredos que nem eu mesmo conhecia. Ele me dividiu, pegou uma parte de mim, na hora não entendi, como esta parte mudaria a concepção dos homens, ganhei uma modalidade na ciência, esta parte meu grande amigo a intitulou de estudo da lingüística, neste momento virei ciência, e olha que eu já tinha sido muita coisa em outros momentos históricos. Porém este homem me virou do avesso, disse-me que esta parte tinha um significado, que eu era mais do que aparentava ser, eu era universal, cósmica, espiritual, eu era um signo lingüístico, era a “língua” e também era a “fala”, naquele momento além de história eu era a ciência...minhas lágrimas não contive, era fantástico agora eu era um objeto de estudo ou pelo menos uma parte de mim. Saussure foi tão fundo em meu âmago, me estruturou, analisou-me por meio do tempo, que por minha causa foi dividido em sincrônico e diacrônico, enxergou minhas dicotomias. Olha me senti valorizada, pensei comigo, muitos agora me conhecerão, aos poucos é claro, mas me conhecerão, pois como já disse eu sou encantadora. Este meu amigo professor e cientista Saussure foi me dividindo tanto que chegamos juntos ao estudo da “língua”, perspicaz este meu amigo. Como já havia comentado eu estou em todos os lugares, eu sou múltipla, sou tão grandiosa que diversos cientistas me dividiram para melhor me compreender, pois eu vivo no homem, mas nem todos me conhecem. Os anos passaram conheci novos apaixonados como Charles Bally, Albert Sechechaye, Bloomfield , Chomsky entre outros, mas um filósofo me chamou a atenção foi um tal de Bakhtin, que resolveu estudar-me de maneira diferente, não mas como um sistema como meu amigo Saussure havia feito, mas como um fenômeno mais que social, porém com uma concepção também no individual, descobri por meio deste novo amigo e filósofo que eu tenho ideologia, que eu sou exterior ao homem, agora eu também sou a “fala”. Nossa como eu sou inspiradora, eu sou tudo e vivo em tudo. Eu sou a linguagem que você expressa, até sem quere você vive em mim, quando conquista novos amores é a mim que você recorre, quando tira aquele “dez” na prova é a mim que você utiliza, quando inventa uma nova palavra, uma nova gíria ou resigna um novo conceito é a mim que você busca, eu me sinto privilegiada, quando a “língua” que é social, que é um belo sistema, olha eu aí já influenciada pelo meu amigo Saussure, mas voltando ao assunto esse sistema se junta comigo, para enfim sermos únicas, sinto-me tão feliz, quando a “fala” que é individual utiliza-me como um recurso, eu sou mesmo maravilhosa. Porém se eu ficar aqui falando dos feitos que a humanidade me acrescentou, ficaria dias e dias para explica tudo o que sou, então vou findando por aqui... “gerundiando” a minha eternidade, espero que com este meu dialogo você também tenha se apaixonado por tudo o que eu sou e tudo o que eu represento. Pois a Linguagem é a compreensão do mundo e eu estou nele deste da história do homem, ou da minha própria história.