Segunda-feira _24 de setembro de 2012. Diário de Notícias ARTES_TENDÊNCIAS 47 Amores no masculino e no feminino na tela CINEMA O Festival Gaye Lésbico de Lisboaexibe hoje dois filmes dacompetição de longas-metragens: ‘She Monkeys’ e‘North SeaTexas’ CENTRAL PRESS/GETTY IMAGES Forest Yeo-Thomas, comandante do primeiro esquadrão da RAF, espião de Sua Majestade Descoberto o espião que inspirou o 007 de Fleming Literatura.Yeo-Thomas foi o agente britânico da II Guerra Mundial destemido e charmoso cujas aventuras inspiraram Ian Fleming Aidentidade do homem que inspirou a personagem James Bond de Ian Flemingfoi alvo de especulação durante décadas, que teráfinalmente terminado: o comandante do primeiro esquadrão da Royal Air Force (RAF) ForestYeoThomas foi o modelo para o mais famoso espião do mundo. Yeo-Thomas foi um dos mais importantes espiões dos serviços secretos britânicos MI6 durante a Segunda Guerra Mundial e tinha métodos de ação semelhantes aos de 007 – que incluia estar sempre rodeado de mulheres bonitas. Isto é o que se descobre em Churchill’sWhiteRabbit:TheTrue StoryofaReal-LifeJamesBond, da historiadora Sophie Jackson. Enquanto analisavadocumentos do tempo daguerrarecentemente divulgados pelo Arquivo Nacional britânico, Sophie Jackson descobriu que Ian Fleming, o criadorde 007, teráaproveitado algumas das aventuras do espião para os seus romances. Yeo-Thomas tinha o nome de código ‘White Rabbit’ e cumpriu três missões como paraquedista durante a ocupação francesa, até ter sido traído e torturado pela Gestapo. Os documentos analisados pela historiadoraincluemumanotade 1945 onde Fleming – que trabalhou também nos serviços secretos britânicos durante a Segunda Guerra Mundial – informava os colegas da fuga de Yeo-Thomas das garras daGestapo. Umaligação entre os dois nun- catinhasido pensadaporque pertenciam a unidades diferentes. Mas a historiadora defende que, mesmo sem ter conhecido pessoalmenteYeo-Thomas, Fleming inspirou-se nas suas aventuras. Tal como 007,Yeo-Thomas era destemido e desafiador dos seus inimigos, mulherengo e charmoso. No primeiro romance da saga James Bond, Casino Royale, 007 é torturado da mesma forma que PERFIL O BOND DOS LIVROS › Filho do escocês Andrew Bond e da suíça Monique Delacroix, que o deixaram orfão aos 11 anos › Foi viver em Kent com a tia, Charmian Bond, que o enviou para Eton, donde foi expulso por envolvimento com camareira › Em 1946 cumpriu a sua primeira missão ao serviço do MI6 e foi o sétimo agente com licença 00: permissão para matar › A sua ‘vida’ deu 12 livros, que inspiraram dezenas de filmes. Mas a primeira vez que ganhou rosto foi nas BD do jornal Daily Express, a partir da descrição do autor (na foto) Yeo-Thomas foi pela Gestapo: sucessivas imersões em recipientes com água gelada até quase ficarem inconscientes. E tal como acontece com o espião das páginas escritas, o comandante da RAF foi obrigado a utilizar técnicas de fuga perigosas, como lançar-se de comboios emandamento. Acenade FromRussiaWithLove em que James Bond janta no ExpressodoOrientecomumagente russo que se faz passar por aliado será uma recriação de um jantar de Yeo-Thomas com o nazi Klaus Barbie, que dirigiu a Gestapo emLyon, enquanto viajavam de comboio pela então ocupada França. Em Paris,Yeo-Thonas – tal como James Bond – terá aindaalvejado uminimigo e saltado aseguirparao rio Sena. Após a II Guerra Mundial, o espião britânico do MI6 foi umadas testemunhas-chave em vários processos dos Julgamentos de Nuremberga que condenaram muitos nazis pelos crimes cometidos durante o regime. O comandante ForestYeo-Thomas morreuem1964, aos 62 anos, em Paris. Apesar de ter passado a vidarodeado de mulheres bonitas, viveu os últimos anos com uma companheira, Barbara, que mudou o seu apelido paraYeo-Thomas mesmo não sendo casada. Resta saber se ele terá alguma vez percebido que foiainspiração para o mais famoso espião do mundo e um dos maiores clássicos daliteraturado século XX. OQueerLisboa–16.ºFestivaldeCinemaGaye Lésbico de Lisboaexibe hoje, no seuquarto dia, dois filmes dacompetição de longas-metragens de ficção. Os espectadores terão oportunidade de ver(emrepetição, às 17.15) NorthSeaTexas, doartistaplástico,fotógrafoerealizador belga Bavo Defurne, e She Monkeys(projeçãoúnica,às22.00), dasuecaLisaAschan(ambosserão exibidosnaSalaManoeldeOliveira doCinemaSãoJorge). Vencedordoprémiomáximono Festivalde Gotemburgo de 2011 (e de umamenção especialno FestivaldeBerlim),SheMonkeys,darealizadora sueca de 34 anos Lisa Aschan,éumdramaquesepropõe serumaespéciedewesternmoderno.Ofilmecentra-senosjogoseróticos e psicológicos entre duas jovens mulheres: Emma(Mathilda Paradeiser), umnovo elemento de umaequipade volteio (acrobacias equestres),eCassandra(LindaMolin),umasuacondiscípulaatraente e vigorosa. Comenquadramentos cuidados, boafotografiae desempenhos bem balanceados, She Monkeys é um bom exemplo de um delicado (homo)erotismo no feminino. Paraquemapreciafilmesvisualmentecriativosecomumalinguagemprópria,NorthSeaTexaséaescolhaideal.SeSheMonkeyséprosa competente,NorthSeaTexasépoesiaenvolvente. Decerto umdos filmesmaisfortesdacompetiçãodeste ano, NorthSeaTexascontaahistóriade Pim(Jelle Florizoone), um adolescente sonhadorde 16 anos que vive comasuaautocentradae desatentamãe(outroraumarainha dabeleza,masagorasolteiraeobesa), numapequenalocalidade na costabelga, nos anos 1970. Introvertidoesonhandoumaoutravida, Pimvive umprimeiro amorcomo seuvizinhoGino,umjovemmotard dois anos mais velho do que ele. Umarelação que parece condenadaaofracasso… Primeiraobrade Bavo Defurne (artistaplástico que vive perto de Ostend,naBélgica),NorthSeaTexas é umcoming-of-ageque oscilaentre umcerto realismo fantasistae o tomevocativodeumaidadedavida ao mesmo tempo fascinante e dolorosa(aadolescência). Um filme “maisinspiradopelabelezadoque pelo realismo social” (como disse umcrítico internacional, que é como quemdiz, mais inspirado pela arte e pelapoesiado que poresse reduto,tantasvezesentediante,dos que não têm imaginação nem mundo interior próprio, que é o “realismo social”, género tão em voga…). NUNO CARVALHO ‘She Monkeys’, da sueca lisa Aschan EM CENA Programa de curtas e outras fitas › O Queer Lisboa propõe também, para hoje, um programa de“curtas” (às 19.30, na Sala Manoel de Oliveira), que inclui os filmes ‘Bleu Piscine’,‘The Wilding’,‘A Arte de Andar pelas Ruas de Brasília’ e curta-metragem portuguesa‘Fratelli’, de Alexandre Melo e Gabriel Abrantes. Pela sala 3 do São Jorge passarão ainda‘Teus Olhos Meus’, longa-metragem do brasileiro Caio Sóh (mostra Queer Brasil, às 17.00), o documentário ‘No Gravity’, um retrato na primeira pessoa da engenheira espacial Silvia Casalino (às 19.15) e‘In their Room’, deTravis Mathews, antecedido pelas “curtas”‘IWant Your Love’ e‘Forbidden Cigarette’ (às 21.30).