PREDOMINÂNCIA DO SEXO FEMININO SOBRE O MASCULINO NA SALA DE AULA: ESTUDO DE CASO FEITO NO 7º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL PÚBLICO X PRIVADO Antonio Carlos Souza da Silva Universidade Estadual da Paraíba-UEPB Resumo O presente trabalho tem como objetivo analisar a questão de gênero na sala de aula de duas instituições de ensino, sendo uma de âmbito particular e a outra pública. Buscamos entender quais fatores influenciam na predominância de um determinado gênero sobre o outro. As séries que foram observadas são do 7º ano do ensino fundamental, ambas localizadas na cidade de Mamanguape, Paraíba. A problemática fundamenta-se na necessidade de discutir os motivos pelos quais, a quantidade de alunos do sexo masculino é diminuta, sabendo que na escola pública a principal causa detectada e que pudemos observar no decorrer da pesquisa, foi à necessidade dos mesmos trabalharem para ajudar nas despesas pessoais e da família, sendo que fatores como violência, drogas, também são influenciadores desse processo de evasão, além do mais, a maior parte destes alunos são oriundos da classe baixa, e como é de entendimento de uma parte da sociedade, as oportunidades para se ter uma boa educação em instituições públicas no país ainda é um caso problemático. Essa conjuntura não explica a realidade da redução do gênero masculino na escola privada, mas, o número de meninos ainda é bem menor se comparado às meninas. Desta forma, a análise contribuirá para um espaço de discussão e compreensão de tal questão. Palavras-chave: Educação. Evasão. Gênero. Introdução Esta produção realizou-se em duas escolas na cidade de Mamanguape-PB. Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Senador Ruy Carneiro da rede pública e Instituto Moderno da rede privada. O interesse de realizar esta surgiu a partir de um trabalho acadêmico da disciplina de Estágio Supervisionado I, no curso de licenciatura plena em geografia da Universidade Estadual da Paraíba – Campus Guarabira, que se realizou na Escola Senador Ruy Carneiro, através dos dados coletados feito a partir de 1 um questionário sócio-educativo aplicado na sala de aula, constatou-se que o número de alunas é superior ao número de alunos. Nessa instituição é bem visível que a problemática no que tange essa redução de meninos na sala de aula se faz devido às circunstâncias que muitos enfrentam no que se refere ao local onde residem, ou seja, são famílias de baixa renda, e os filhos exercem o papel de auxiliar no custo de vida da casa, trabalhando e trazendo uma renda extra para ajudar nas despesas. Com relação à escola particular, foi visto também que o número de meninos é atenuado, porém, a realidade dos alunos dessa instituição se faz diferenciada, pois a condição de vida dos que lá estudam são “melhores”. A pesquisa foi constituída através de diálogos com professores da rede privada e pública, e com alunos e alunas, pôde-se observar que a discussão sobre a predominância feminina em relação ao sexo masculino é instigante. O método pelo qual foram coletados os dados foi à utilização de um questionário aplicado com os alunos de ambas as redes, além de entrevista oral com os alunos, professores e coordenador pedagógico, onde desta forma as informações obtidas me auxiliaram para o desenvolvimento desta temática. A problemática em estudo vem sendo analisada nas séries do 7º ano fundamental nas duas escolas, a fim que se possa observar a realidade de cada uma, visto que as duas se encontram na mesma cidade, ou seja, são escolas e alunos de realidades distintas. E o objetivo será distinguir quais os fatores que justificam a existência desta predominância, fazendo uma discussão sobre gênero e suas perspectivas para educação. Desta forma, abrirá um espaço para maiores discussões no que se refere à questão de gênero e suas peculiaridades. Gênero na Sala de Aula Para as ciências sociais e humanas, o conceito de gênero se refere à construção social do sexo anatômico, (...) gênero significa que homens e mulheres são produtos da realidade social e não decorrência da anatomia de seus corpos, ela foi criada para distinguir a dimensão biológica da dimensão social baseando-se no raciocínio que 2 há machos e fêmeas na espécie humana, no entanto, a maneira de ser homem e ser mulher é realizada pela cultura1. Os diferentes sistemas de gênero – masculino e feminino – e formas de operar nas relações sociais de poder entre homens e mulheres são decorrência da cultura e não das diferenças naturais instaladas nos corpos de homens e mulheres. Não faltam exemplos demonstrativos de que a hierarquia de gênero, em diferentes contextos sociais, é em favor do masculino. A ideia de “inferioridade”, feminina foi e é socialmente construída pelos próprios homens e pelas mulheres ao longo da história. Por exemplo, o fato de as mulheres, em razão da reprodução, ser tidas como mais próximas da natureza, tem sido apropriado por diferentes culturas como símbolo de sua fragilidade ou de sua sujeição à ordem natural, que as destinariam sempre a maternidade. É comum encontrar em reportagens que comparam à posição de homens e mulheres no mercado de trabalho as desigualdades existentes: grande parte dos postos de direção ocupados por homens (como no próprio sistema escolar), significativas diferenças salariais entre homens e mulheres, maiores concentração de homens em áreas como engenharia, informática, enquanto as mulheres se concentram em atividades de ensino e cuidado. Desde os primórdios da humanidade, que se determinou o lugar social da mulher, como diz Simone de Beauvoir2 “não se nasce mulher: torna-se mulher. Referente a isto, percebe-se que os seus deveres são instituídos pelos meios sociais, culturais, políticos e religiosos. O sistema patriarcal ainda é muito forte na sociedade, as mulheres apesar de suas campanhas de auto-afirmação ainda sofrem divergências, seja no trabalho, no lar, na escola, em fim, em um conjunto da realidade. Mary Del Priori em seu livro A história das mulheres no Brasil, enfoca a história das mulheres em suas diferentes épocas entre elas e seu tempo, entre elas e a sociedade nas quais estão inseridas: 1 GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA: formação de professoras/es em gênero. Orientação sexual e relações étnico-raciais. Livro de conteúdo. Versão 2009. – Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: SPM, 2009. P-39 2 Escritora, filósofa existencialista e feminista francesa. 3 Trata-se de desvendar as intricadas relações entre a mulher, o grupo, e o fato, mostrando como o ser social, que ela é articula-se com o fator social que ela também fabrica e do qual faz parte integrante. (DEL PRIORI, 1994) No livro de Guacira Lopes Louro Mulheres na escola, ela se refere, a discussão que nos leva a compreender o processo de saída da mulher do lar para freqüentar a sala de aula. Assim relata que: Os primeiros ensinamentos consistiam em aprender a ler, escrever e contar, saber as quatro operações e as noções da doutrina cristã, mas a partir daí apareciam às distinções, para os meninos era ensinado noções de geometria, para as meninas noções de bordado e costura. (LOURO, 1994, p-446) Como foi dito, as mulheres tiveram que passar e ainda passam por processos excludentes, inferiorizados, que limitam as suas funções, mas que com políticas feministas estão conseguindo uma posição igualitária, como se tem visto, mulheres ascendendo na política, e em cargos direcionados exclusivamente para homens, sendo que ainda há muito que mudar. Nesta perspectiva, as mulheres têm uma ascendência superior que os homens na educação brasileira. Ultrapassam os homens em número de estudantes em sala de aula a partir da 5ª série. Elas só perdem para os meninos no início da vida estudantil. Da primeira a 4ª série do ensino fundamental, eles são quase um milhão a mais que as meninas. O esforço das mulheres em levar os estudos adiante não representa igualdade de gênero. Para a gerente de projetos da Secretaria Especial da Política para Mulheres (SPM), Dirce Groz, ser maioria na educação não significa participação efetiva nas decisões da sociedade. O problema é como essas mulheres aprendem as práticas pedagógicas. Transferem para o meio social as atribuições de casa. Os livros didáticos representam a mulher mais nos espaços domésticos, e pouco nos públicos. O diretor de estatística e avaliação da educação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Dilvo Ristoff, reconhece que o fato das mulheres estarem em maior número em sala de aula não significa garantia de direitos iguais. Ainda mantemos conceitos históricos que colocam a diferença de 4 gêneros ligada à questão de valores sociais. O homem é tido como provedor, enquanto as mulheres são protegidas, afirma. À predominância de mulheres em salas de aula da quinta série do ensino fundamental à faculdade revela um dado preocupante: é grande a evasão escolar do sexo masculino. O quadro deveria ser o contrário, já que os meninos são maioria no início da vida estudantil e na população com até 20 anos de idade. Violência e necessidade de contribuir com o sustento da família são apontadas pelas autoridades em educação como justificativas para o abandono dos estudos pelos rapazes. Mas, para os especialistas na área, o modelo escolar rígido não contempla a necessidade de consumo dos jovens. Não é agradável ir à escola, e os meninos agüentam menos a cobrança disciplinar porque não veem benefício em continuar os estudos, afirma a professora Wivian Weller, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília. Por uma questão cultural e de formação, a mulher é mais tolerável e se adapta melhor ao esquema de ensino atual. Para o presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), Fernando Silva, os meninos estão mais vulneráveis às explorações no mercado de trabalho. Eles são as maiores vítimas do trabalho infantil. As meninas só são maioria no trabalho infantil doméstico, conta. De acordo com Fernando, as mortes de jovens por causas externas como os casos de violência é outro dado a ser considerado na ausência dos homens na escola 3. No tocante a discussão diante dos motivos pelos quais a quantidade de alunos do sexo masculino é atenuada, percebeu que na escola pública a principal causa detectada, foi à necessidade dos mesmos trabalharem para ajudar nas despesas pessoais e da família, sendo que fatores como violência, drogas, também são influenciadores desse processo de evasão, além do mais, a maior parte destes alunos são oriundos da classe baixa, e como é de entendimento de uma parte da sociedade, as oportunidades para se ter uma boa educação em instituições públicas no país ainda é um caso problemático. Essa conjuntura não explica a realidade da redução do gênero masculino na escola privada, mas, o número de meninos ainda é bem menos se comparado às meninas. Isto dar-se – diante da pesquisa realizada – por uma questão cultural, pelo fato 3 Texto encontro no site: http://www.administradores.com.br/noticias/elas_dominam_o_saber/6443/ Acessado em 13-09-09 5 dos pais investirem mais nas filhas, porque dizem que as mesmas, demonstram um interesse mais significativo na questão educacional. Assim relatou: Acho que a predominância de mulheres no ensino fundamental devese ao fato do homem apresentar certa preguiça de estudar e os pais não querem investir em alguém que talvez não der um retorno esperado, lembro que isso não é uma máxima generalizada, é o que vejo e ouço enquanto professora. (Lidiane Moreira de Brito – professora da rede pública e privada do ensino fundamental e médio) Em cima disto, percebe-se no relato da professora, que os poucos meninos na sala de aula de escola privada, não estão dando um devido valor ao ensino, nem tão pouco interesse, tem a oportunidade de está dentro de uma instituição privada, com um ensino melhor que a pública, mas, o valor não se faz presente, visto que na pública, os que gostariam de está estudando, não podem, pois as condições sócio-econômica e cultural não permitem. Durante, a entrevista foi perguntado aos alunos e alunas se eles saberiam explicar o porquê da predominância feminina na sala de aula. O resultado foi diversificado, um dos meninos (José Felix – 12 anos) alegou que os meninos são mais burros, em outras opiniões foi dito que as mulheres absorvem os conteúdos melhores que os homens; os homens são mais preguiçosos e não se esforçam nas aulas; não participam das aulas, só pensam em brincar, namorar, etc. Já as meninas relataram que se desenvolvem melhor nas aulas, ou seja, o esforço para estudar é maior. Estas perspectivas foram observadas nas duas instituições, o que fez o diferencial na entrevista, foi que na escola pública alguns relataram – o que venho tentando colocar como ponto importante – que o trabalho para ajudar à família e outras atividades contribuem para esse processo de evasão. Portanto, foi visto que fatores como o trabalho, a violência, as drogas, a falta de interesse para com as atividades escolares, o não incentivo das famílias, contribuem para que a evasão escolar referente ao sexo masculino se torne crescente. No que se refere entre a diferenciação das instituições em estudo, é notório que há pontos convergentes, onde o ensino da escola privada tem uma boa estrutura e oferece um ensino mais comprometido com a sua clientela, já na pública há um problema no que 6 diz respeito à quantidade de alunos nas turmas, o número é sempre maior do que a sala de aula pode comportar e isso é um fator negativo, pois numa sala com mais de cinquenta alunos, a aprendizagem não será igualitária para todos e todas. No mais, são escolas situadas na mesma cidade, e os alunos vivem no mesmo contexto, no que tange a economia local, mas é notório que a realidade social e financeira dos mesmos é diferenciada. Considerações finais Diante dos expostos acima, pôde-se constatar que a mulher vem em um processo contínuo, se adaptando melhor ao modelo educacional atual na busca por autonomia e reconhecimento na sociedade, seja pela sua capacidade, ou pela conscientização do seu papel enquanto sujeito social. No que se refere à temática de gênero, é papel fundamental de a escola fornecer subsídios para que esta discussão seja efetivada, dando vez tanto aos homens, quanto as mulheres, que apesar das circunstâncias são iguais por direitos, mesmo que na realidade não se usufrua deste modo. Assim, as escolas pesquisadas me deram um referencial para que se possa pensar qual educação, enquanto futuro educador devo propiciar aos meus alunos, contribuindo para que esse processo de diferenciação entre os sexos seja mais discutido, pondo em foco que as transformações estão acontecendo a todo momento, e que como a sociedade muda, mulheres, homens mudam em conjunto. Portanto, as mulheres, buscaram meios para ter acesso às escolas, passaram por períodos difíceis no decorrer da história, lutaram e lutam para ter sua ascendência, e o fato delas serem em número maior nas escolas em pesquisa, significa que está tendo interesse para uma possível profissionalização, e o que cabe agora, para evitar a evasão do sexo masculino nas escolas, é um ensino voltado para realidade dos mesmos, onde atenda as necessidades e consideram seus conhecimentos. Referências 7 DEL PRIORI, Mary. História Companhia da Letras, 1994. das mulheres no Brasil. São Paulo: Gênero e diversidade na escola: formação de professoras/es em gênero. Orientação sexual e relações étnico-raciais. Livro de conteúdo. Versão 2009. – Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: SPM, 2009. LOURO, Guacira Lopes. Uma leitura da história da educação sob a perspectativa do gênero. Projeto História, São Paulo. Nº 11, novembro, 1994. 8