UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO MAX WEBER DE MENEZES CALASANS Ocorrência de Cysticercus cellulosae e Cysticercus bovis em Matadouro-Frigorífico no Estado de Sergipe RECIFE- PE 2009 MAX WEBER DE MENEZES CALASANS Ocorrência de Cysticercus cellulosae e Cysticercus bovis em Matadouro-Frigorífico no Estado de Sergipe Monografia apresentada à Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), como exigência final para obtenção do título de especialização em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal. Orientador: Prof. Dr. Elmo Rampini de Souza – UFF. RECIFE – PE 2009 Ficha catalográfica preparada pelo setor de classificação e catalogação da Biblioteca “Orlando Teixeira” da UFERSA C143o Calasans, Max Weber de Menezes. Ocorrência de Cysticercus celulosae e Cysticercus bovis em Matadouro- Frigorífico no Estado de Sergipe. / Max Weber de Menezes Calasans. – Mossoró, 2009. 28f. Monografia (Especialização em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal) – Universidade Federal Rural do Semi-Árido. Orientador: Prof. Dr. Elmo Rampini de Souza . 1.Suínos, 2.bovinos, 3.Cisticercose, 4.Tênia. Bibliotecária: Keina Cristina Santos Sousa e Silva CRB15 120 I.Título. CDD 636.4 MAX WEBER DE MENEZES CALASANS Ocorrência de Cysticercus cellulosae e Cysticercus bovis em Matadouro-Frigorífico no Estado de Sergipe. Monografia apresentada à Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), como exigência final para obtenção do título de especialização em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal. APROVADA EM ____/____/____ BANCA EXAMINADORA ___________________________________________ Prof. Presidente __________________________________________ Prof. Primeiro Membro ___________________________________________ Prof. Segundo Membro AGRADECIMENTOS A todos os professores, coordenadores da Equalis pela dedicação e entusiasmo demonstrado ao longo do curso. Aos colegas de classe pela espontaneidade e alegria nas trocas de informação e materiais numa rara demonstração de solidariedade. A minha família pela paciência em tolerar minha ausência. E finalmente, a Deus pela oportunidade e privilégio que me foi dado, ao freqüentar este curso, e pela família que tenho que sempre me apoiou. “Nunca diga para Deus que você tem um grande problema, diga sim, para seu problema que você tem um grande Deus.” RESUMO O objetivo do trabalho foi realizar uma análise da prevalência de cisticercose em carcaças de bovinos e suínos e as localizações mais comumente atingidas em exames usuais de inspeção post mortem. Para atingir este objetivo foram analisados relatórios de abate do Serviço de Inspeção Federal (S.I.F) no Estado de Sergipe. Foram examinados 28.020 carcaças de bovinos e 2.453 suínos. Em bovinos foram detectados cisticercose em 0,05% das carcaças, 100% destas estavam calcificados e localizados no coração. Nos suínos não foram detectados cisticercos. A cisticercose suína e bovina aparentemente está controlada, o que não descarta a possibilidade que persista nos abates clandestinos. PALAVRAS CHAVE: Suínos; bovinos; cisticercose. ABSTRACT The aim of this paperwork was accomplish an analysis of the prevalence of cysticercoids in cattle and pigs and the most common locations reached in usual post mortem inspection exams. To achieve the objective, slaughter reports from the Federal Inspection Service (FIS) were analyzed in the State of Sergipe. A number of 28.020 cattle carcass and 2.453 pigs carcass were examined. In cattle was detected cysticercoids in 0,05% of the carcass, and 100% of them were calcified and located in the heart. There weren`t any sing of cysticercoids in pigs. The cisticercoid that affects pigs and cattle is apparently controlled, although this fact doesn`t discard the possibility of perseverance of the disease on clandestine slaughter. KEY-WORDS: Pigs, cattle, cysticercoids. LISTA DE TABELA Tabela 1 –. Número de bovinos abatidos, nº de animais infectados, localização e forma dos cisticercos inspecionados pelo Serviço de Inspeção Federal (S.I.F) no período de janeiro a agosto de 2008 em Sergipe............................................................ 22 Tabela 2 – Prevalência de cisticercose em carcaça suína no Estado de Sergipe, no período de janeiro a agosto de 2008................................................................................... 23 LISTA DE SIGLAS S.I.F – Serviço de Inspeção Federal. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................. 11 2 REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................... 2.1 AGENTES ETIOLÓGICOS E MORFOLOGIA......................................................... 2.2 MODO DE TRANSMISSÃO...................................................................................... 2.3 SINAIS CLÍNICOS..................................................................................................... 2.3.1.Teníase humana......................................................................................................... 2.3.2. Cisticercose.............................................................................................................. 2.3.2.1.Enfermidade humana............................................................................................. 2.3.2.2 Enfermidade animal............................................................................................... 2.4 IMPORTÂNCIA DO COMPLEXO TENÍASE-CISTICERCOSE............................. 12 12 13 14 14 14 14 15 15 3 OBJETIVOS.................................................................................................................. 3.1. GERAL....................................................................................................................... 3.2 ESPECÍFICOS............................................................................................................. 18 18 18 4 MATERIAIS E MÉTODOS........................................................................................ 19 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................................. 20 6 CONCLUSÃO............................................................................................................... 24 REFERÊNCIAS............................................................................................................... 25 11 1 INTRODUÇÃO O complexo teníase-cisticercose pode afetar de forma muito grave a saúde publica, essa parasitose ocorre principalmente em regiões com deficiência de saneamento básico, condições sócio culturais e econômicas que predispõem uma maior ocorrência dessa enfermidade, por exemplo: falta de regras básicas de higiene alimentar, cuidados com o solo e criações precárias de suínos em fundo de quintal. Essa parasitose representa um verdadeiro antropozoonótico, no qual o homem é um hospedeiro definitivo e essencial disseminador da doença, e os animais vertebrados agem como hospedeiro intermediário (SILVA et al., 2003). A teníase e cisticercose são duas entidades mórbidas distintas, causado pelo helminto T. solium e T. saginata, suas respectivas formas larvares são Cysticercus cellulosae e Cysticercus bovis. Sua transmissão ocorre quando o suíno ou bovino ingerem ovos da tênia através de alimentos contaminados com fezes humanas contendo ovos do parasito, desenvolvendo dessa forma em seu organismo a forma larval que se instala principalmente na musculatura esquelética, o homem ao se alimentar de carnes mal cozidas desses animais com cisticercos vivos, desenvolve a teníase. A tênia na sua fase adulta localiza-se no intestino do homem, estes liberam ovos no meio ambiente através das fezes, os ovos podem contaminar água e alimentos consumidos pelos animais e seres humanos. Quando ingeridos podem desenvolver a fase larval (cisticercose) no ser humano, bovino e suíno. Podem ocorrer casos de auto-infecção, costuma ocorrer por falta de higiene ao defecar ou em casos de vômitos ocasionados por movimentos retrógrados do conteúdo do intestino. As duas espécies de tênias são endêmicas no Brasil Teania saginata e Teania solium. A prevalência deste parasita pode ser dividido em três grupos: 1- altamente endêmica em países ou regiões com prevalência, na população humana, acima de 10%; 2- moderada prevalência com taxa de infecção entre 0,1 e 10% e baixa prevalência, com taxa de infecção inferior a 0,1% ou mesmo livres da endemia. (PALWLOSKI & SCHULTZ, 1972). Países da America do Sul são considerados de moderada prevalência (GEMMELL et al., 1983; FLISSER et al., 1977). Apesar das limitações, a inspeção ainda continua sendo um método importante e especifico de identificação da infecção do animal. Essa técnica identifica carcaças com infecção maciças e leves e serve como advertência precoce do grau de infecção em uma comunidade ou propriedade. As criticas feitas às limitações da inspeção de rotina são baseadas em trabalhos experimentais usando técnicas de fatiamentos não rotineiras no serviço 12 de inspeção, além do que esta técnica inviabilizaria a comercialização da carne (KYVSGARD et al., 1991; MINOZZO et al., 2002). O presente trabalho foi realizado em um matadouro-frigorífico fiscalizado pelo Serviço de inspeção Federal (S.I.F), localizado no Estado de Sergipe, dos registros de inspeção foram coletados dados sobre a prevalência dessa parasitose em carcaças de bovinos e suínos, buscando determinar qual das duas espécies teve um maior índice de infecção por cisticercose e qual a localização de maior predileção do cisticerco na carcaça. Programas educativos e profiláticos de combate ao complexo teníase/ cisticercose são de grande importância para o esclarecimento e diminuição de casos na população, os programas devem ser incentivados tanto pelos órgãos públicos como privados. 13 2 REVISÃO DE LITERATURA A cisticercose foi descrita pela primeira vez em suínos pelo pensador grego Aristóteles. A partir de então, gerou-se um conceito equivocado que considerava o porco como transmissor da tão temida doença, o que sérvio de base para associação às proibições religiosas judaicas – mulçumana, para o repúdio ao consumo de carne suína em grande parte dos povos antigos. Um exemplo deste fato pode ser encontrado em 300 a.C., época em que os primeiros escritos judeus já proibiam o consumo desse tipo de carne, sob pena de prisão (MENDES, et al. 2005). Aristófanes (384 a.C.) em sua poesia faz referência à inspeção de carnes destinadas ao consumo em seu livro Nuees, menciona algumas enfermidades que atacam os bovinos entre elas a cisticercose (SAIZ MORENO et al., 1990). Segundo Antoniok (1994), Joana D`ark após ser queimada na fogueira, foi submetida à necropsia e encontrado em seu cérebro cisticercos calcificados que provavelmente era o que causava as alucinações auditivas e visuais. 2.1 AGENTES ETIOLÓGICOS E MORFOLOGIA Os cestódeos Taenia solium e Taenia saginata são responsáveis pela teníase humana. O gênero Taenia pertence à família Taenidae, à classe Cestoidea e à ordem Cyclophyllidea. As respectivas formas larvais (Cysticercus cellulosae e Cysticercus bovis, denominação sem valor taxonômico) produzem a cisticercose. (PFUETZENREITER; ÁVILA-PIRES, 2000; PAWLOWSKI; SCHULTZ, 1972). Os hospedeiros intermediários da T. solium são os suínos, javalis e raramente caninos, felinos, ruminantes, eqüinos e o homem; enquanto os da Taenia saginata são bovinos, raramente ovinos e caprinos e excepcionalmente o homem (FORTES,1993; FUNASA, 2000). Morfologicamente a T. saginata varia de 8 a 9 m de comprimento, escolex ou cabeça excepcionalmente não apresenta rostelo nem ganchos, já a T. solium pode atingir até 3 metros, apresenta rostelo Guarnecido com duas fileiras concêntrica de ganchos. O colo dessas Tênias situadas logo abaixo, sem segmentação, está em constante atividade reprodutiva, dando origem a proglotes jovens e o estróbilo forma o corpo da tênia formado por proglotes 14 que são subdivididos em jovens, maduras ou grávidas, sendo que cada uma apresenta individualidade alimentar e reprodutiva. Cada proglote apresenta órgãos genitais masculino e feminino aptos para fecundação. Como característica a proglote da T. saginata é retangular apresentando até 160 mil ovos e a T. solium quadrangular com 80 mil ovos cada.(LIMA et al., 2004). O cisticerco da T. solium é constituída de escólex com quatro ventosas, rostelo e colo e uma vesícula membranosa contendo liquido em seu interior. O cisticerco da T. saginata apresenta a mesma morfologia da T. solium diferenciando apenas pela ausência do rostelo (SILVA et al., 1995). A largura do corpo cresce de uma extremidade à outra, como se fosse um triângulo muito estreito e muito longo. O ápice do triangulo pode ser considerado, para comodidade de descrição, como sendo anterior. A cor é geralmente branca, de aspecto leitoso, outras vezes levemente amarelada ou rosada, devido a substâncias diversas absorvidas pelo verme. A superfície é lisa e brilhante, mas por vezes enrugadas ou marcadas por sulcos longitudinais devido a contraturas da parede. Goteiras transversais marcam os limites das proglotes (REY, 1973). 2.2 MODO DE TRANSMISSÃO O homem parasitado portador da tênia, elimina as proglotes grávidas cheia de ovos para o meio exterior. Ocasionalmente estas podem se romper no próprio intestino chegando ao meio externo. Um hospedeiro intermediário (bovino e suíno) ingere os ovos, o qual sofre ação das enzimas em seu estômago, se rompem no intestino e liberam os embriões, os quais penetram nos tecidos, permanecem lá por um tempo e longo após penetram nas vênulas. Na corrente sanguínea, os embriões são transportados a todos os órgãos e tecido do organismo. Os embriões se desenvolvem para cisticercos em qualquer tecido mole, mas apresentam maior predileção pelos músculos cardíacos e o cérebro onde permanecem viáveis neste por alguns meses (SILVA et al., 1995). O homem quando ingere a carne crua ou mal cozida de suíno ou bovino infectado, o cisticerco sofre ação do suco gástrico, prende-se através do escólex na membrana intestinal delgada, onde se transforma em tênia adulta, três meses após a ingestão inicia-se a eliminação das proglotes grávidas (SILVA et al., 1995). O portador libera milhões de ovos, diariamente livre nas fezes ou como segmento intacto de proglotes. (FUNASA, 2000). 15 A resistência desses ovos no meio externo é bastante grande, suportam alguns tratamentos de água residual, são encontrados no liquido decantado dos tanques de sedimentação e suportam o processo fermentativo que se desenvolve no ‘sistema de lodos ativos’ que podem ser usados como fertilizantes orgânicos (REY, 1973). A cisticercose humana é o resultado principalmente da ingestão inadvertida de ovos de Taenia solium através das mãos de portadores crônicos que manipulam os alimentos como verduras e frutas mal lavadas e através da ingestão de água não tratada. Os fatores socioeconômicos são citados na literatura cientifica como sendo as condições fundamentais para adquirir teníase e cisticercose, pessoas com baixo nível de escolaridade, condições precárias de moradia e falta de noções básicas de higiene são fatores que predispõe ao aumento de casos dessa enfermidade (DAVISA, 1983; GONZALEZLUARCA, 1984; VIANNA et al, 1986). A classificação da transmissão da cisticercose é dividida em três tipos heteroinfecção, autoinfecção externa e interna. A heteroinfecção ocorre com a ingestão de ovos em alimentos contaminados, ou menos prováveis quando um paciente é submetido a uma transfusão sanguínea com sangue coletado no momento em que os cisticercos estejam na fase de disseminação. A autoinfecção externa é caracterizada por ovos que chegam à boca do hospedeiro por falta de hábitos higiênicos. A autoinfecção interna ocorre por causa de vômitos e movimentos retroperistauticos do intestino, fazendo com que os proglotes cheguem até o estômago e depois voltem até o intestino, liberando os ovos no meio externo (PESSOAS; MARTINS, 1982). 2.3 SINAIS CLÍNICOS 2.3.1 Teníase humana Segundo Lima et al (2004), a teníase é uma zoonose que manifesta no homem sob duas formas clínicas: parasitose intestinal (teníase) que causa retardo no crescimento e no desenvolvimento das crianças e baixa produtividade nos adultos, a sintomatologia mais freqüente é a de dores abdominais, náuseas, debilidade, perda de peso, flatulência, diarréia e constipação em adultos. O prognostico é bom (excepcionalmente é causa de complicações 16 cirúrgicas), resultado do tamanho do parasita ou de sua penetração em estruturas do aparelho digestivo tais como apêndices, colédono e ducto pancreático. Na maior parte dos casos, o indivíduo somente toma ciência da infecção quando observa a liberação das proglotes, fato este que só é notado muito tempo após a infecção. Conseqüentemente o doente pode disseminar a doença por um período bastante longo antes de suspeitar que está contaminado (BRASIL, 2002). 2.3.2 Cisticercose. 2.3.2.1 Enfermidade humana Veronesi et al (1991) enfatizam que a importância da cisticercose na patologia humana está na dependência da localização do parasita em tecidos nobres, como globo ocular e do sistema nervoso central, sendo que outras localizações, como subcutânea, a muscular e a visceral, o cisticerco representa via de regra achado sem grande significância. Porém a presença de cistos nessas localizações é um indicador de uma possível presença de cistos nos tecidos nobres. A neurocisticercose ocorre quando o cisticerco se instala principalmente no sistema nervoso central, sendo a causa mais comum de epilepsia e de hidrocefalia em adultos no Brasil. O globo ocular é um local de grande importância por causa da redução da visão, exofitalmia, irites, uveites, renites e conjuntivites, alguns estudos apontam que quando um cisticerco intra-ocular que se desintegram causam um efeito danoso mais acentuado ao paciente. O cisticerco pode também se instalar nos músculos ou tecido subcutâneo apresentando em alguns poucos casos dores musculares, câimbras e cansaço (VERONESI et al, 1991). Apesar de ter distribuição universal, é característica de regiões com precárias condições sanitárias, a exemplo de vários países da América Latina, Ásia, África e Leste Europeu e países industrializados que recebem imigrantes de áreas endêmicas. 17 2.3.2.2 Enfermidade animal A cisticercose bovina, em termos de econômicos, não é uma doença de importância em nível de criação, pois os animais apresentam infecções moderadas, com ausência de sintomatológica. Os prejuízos ocorrem na fase final da exploração de corte, após o abate representando principalmente pela condenação de carcaças cisticercoicas determinada pela fiscalização veterinária (PAWLOUSKI; SCHULTZ, 1972). Segundo Acha & Szyfre (1989), a cisticercose não se manifesta de forma clínica, mas a infecção experimental de bovinos com altas doses de ovos de Taenia saginata, pode produzir febre, debilidade, sialorréia, anorexia, rigidez muscular e até a miocardite. Em casos isolados os suínos infectados podem apresentar hipersensibilidade, paralisia da língua e convulsões epileptiformes, manifestações neurológicas, estas que são dificilmente notadas devido ao pouco tempo de vida desse animal. 2.4. IMPORTÂNCIA DO COMPLEXO TENÍASE-CISTICERCOSE Para diagnosticar a cisticercose em carnes bovinas e suínas a Inspeção Federal, Estadual e Municipal dependem do exame macroscópico apoiado rotineiramente em localizações classicamente denominadas preferenciais, como o coração, músculo da mastigação, língua, diafragma e seus pilares entre outros (REY, 1991; VILLA, 1995). A fiscalização da carne visa reduzir, ao menor nível possível, a comercialização e o consumo de carnes com o parasita e orientar o produtor sobre medidas de aproveitamento da carcaça (salga, congelamento e graxaria, conforme a intensidade da infecção), reduzindo perdas financeiras e dando segurança ao consumidor (SILVA et al., 1995). Um dos grandes problemas é que a maioria dos trabalhos que relatam à ocorrência de cisticercose suína no Brasil são antigos e baseados em dados de abatedouros sob Serviço de Inspeção Federal (S.I.F). Entretanto estes não refletem a realidade brasileira devido à existência de “criações de fundo de quintal” em periferia de cidades e em áreas rurais. (VILLA, 1995). 18 Segundo Rey, (1991), os métodos de exame post mortem não são eficientes e podem deixar escapar parte significativa da carcaça parasitada, particularmente em casos de infecções leves comuns em carcaças bovinas, porem pouco usuais entre os suínos. A cisticercose suína apresenta-se de forma disseminada na carcaça, dessa forma dificilmente uma carcaça apresentando essas características passará despercebido pela fiscalização, com isso é possível afirmar que a probabilidade de um indivíduo adquirir T. sagita é maior do que a T. solium. Os métodos de inspeção tradicionais num futuro próximo poderão ser substituídos por métodos de avaliação da prova de evaginação em metacestódeos que auxiliara para dar o destino às carcaças uma vez que este verifica a viabilidade dos cisticercos. (SILVA et al, 2003). Apesar do grande conhecimento que o homem tem sobre o complexo teníase cisticercose, sua prevalência ainda é muito grande, relata vários autores. Isso ocorre devido ao grande número de abates sem inspeção, problemas de saneamento básico e falta de conhecimento das classes menos favorecidos. A fiscalização de produtos de origem vegetal tem uma grande importância na prevenção, através de ações em irrigações de hortas e pomares com água de rios e córregos, que recebem esgoto ou outras fontes de água contaminada, evitando sua comercialização e uso de vegetais contaminados com ovos de tênia. (DAVISA, 1983; SILVA et al, 1995). As principais causas de ingestão acidental de ovos de Tânia são causadas por água e vegetais contaminados com ovos do parasita, dessa forma os trabalhos de fiscalização são indispensáveis. No México, a neurocisticercose chega a ser a terceira indicação mais comum de neurocirurgia. No Brasil, não há estudos epidemiológicos de grande escala, de maneira que não é possível determinar a incidência e prevalência desta parasitose (AGAPEJEV, 2003). Na opinião de Villa, (1995) a situação de parasitismo no Brasil não era claramente identificada devido à carência de dados organizados e falta de notificação compulsória das internações medicas. Ungar & Germano (1992) enfatizam a necessidade de se implantar um programa de controle no Estado e Municípios. A cisticercose é um problema de saúde público e não pode ser desconsiderado nem pelos órgãos públicos (fiscalizadores) nem pela comunidade (consumidores). Uma das medidas mais eficazes no controle da teníase-cisticercose é a promoção de extenso e permanente trabalho educativo para população. Aplicação pratica dos princípios 19 básicos de higiene pessoal e os conhecimentos dos principais meios de contaminação constituem medidas importantes de profilaxia (FUNASA, 2000). 3 OBJETIVOS 3.1 GERAL Estudar a prevalência de Cysticercos cellulosae e do Cysticercos bovis na carcaça suína e bovina respectivamente detectada no Estado de Sergipe e seu reflexo na saúde pública. 3.2 ESPECÍFICOS • Determinar qual das duas espécies animal estudada teve um maior infecção por cisticercose; • Avaliar área de maior predileção de cisticercos; • Avaliar a gravidade desse parasita para saúde pública do estado de Sergipe; • Informar sobre métodos profiláticos. 20 4 MATERIAIS E MÉTODOS Os dados obtidos utilizados para esta pesquisa, referentes à cisticercose bovina e suína, foram colhidos de relatórios de abate de um Matadouro Frigorífico sob regime de Inspeção Federal (S.I.F.) situado no Estado de Sergipe. O período utilizado da coleta de dados foi de janeiro a agosto de 2008. Os métodos utilizados pelo S.I.F para pesquisa de cisticercose e condenação seguem normas do regulamento de Inspeção Industrial e Sanitário de Produtos de Origem Animal (RIISPOA) do Ministério da Agricultura (Brasil, 1980). Os dados coletados foram colocados em tabela que expressa o número de animais abatidos, número de animais infectados, a localização e a forma que o cisto se apresentava durante a inspeção. Durante o período, foram abatidos sob inspeção do S.I.F, um total de 28.020 bovinos e 2.453 suínos. Os animais abatidos neste frigorífico 97% eram do próprio Estado de Sergipe e apenas 3% tiveram sua origem de outros Estados. 21 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO No presente trabalho, foram examinadas 28.020 carcaças bovinas e 2.453 suínos e os seguintes resultados foram obtidos: TABELA 1- Número de bovinos abatidos, nº de animais infectados, localização e forma dos cisticercos inspecionados pelo Serviço de Inspeção Federal (S.I.F) no período de janeiro a agosto de 2008 em Sergipe. MÊS/2008 ANIMAIS ABATIDOS JANEIRO FEVEREIRO MARÇO ABRIL MAIO JUNHO JULHO AGOSTO 3.533 3.300 3.164 3.406 3.776 3.701 3.740 3.400 Nº DE ANIMAIS LOCALIZAÇÃO COM DOS CISTICERCOSE CISTICERCOS 1 Coração 1 Coração 1 Coração 2 Coração 3 Coração 0 0 6 Coração C.CALCIFICADOS C.VIVOS Calcificado Calcificado Calcificado 2 Calcificados 3 Calcificados 6 Calcificados Todos os cisticercos foram encontrados no coração e todos estavam calcificados, dos 28.020 animais abatidos, somente 0,05% apresentaram cisticercos calcificados. Numa pesquisa realizada por Pereira et al (2006), onde 494.620 bovinos foram abatidos pertencentes a 38 municípios do Estado do Rio de janeiro, 9.656 (1,95%) apresentaram o parasitismo por cisticercos sp, possuindo cisticercos vivos (0,8 a 1%) e calcificados (99%), no período de 1997 a 2003. A pesquisa acima citada mostrou um percentual elevado de cisticercose em relação a pesquisa realizada no matadouro frigorífico de Sergipe, essa diferença de resultados ocorreu principalmente por causa do número de carcaças pesquisadas e as diferentes regiões estudadas. Segundo Souza et al (2007), em uma pesquisa realizada no matadouro-frigorífico em São José das Pinhas – PA mostrou que 4,1% das carcaças foram consideradas infectadas, os músculos da cabeça com 57,11% e o coração com 39,65%. 81% dos cistos viáveis estavam alojados nos músculos da cabeça e 17% no coração já os cistos inviáveis 52,11% se alojaram no músculo cardíaco 47,88% destes no músculo da cabeça. O trabalho acima citado mostrou um elevado número de cisticercos vivos na cabeça, porém na presente monografia não foi encontrado nenhum parasita na região citada. 22 No trabalho de Souza et al, (2007) também mostrou um resultado semelhante com a presente monografia em relação aos cistos calcificados encontrados, já que a maioria foi detectada no músculo cardíaco, mostrando uma maior predileção do parasita para esse local. A pesquisa de Minozzo et al, (2004) onde 11 bovinos foram infectados experimentalmente com ovos de T. saginata, 10 apresentaram C. bovis nos tecidos. O décimo primeiro animal foi considerado negativo na inspeção de rotina e quando feitos cortes paralelos dos tecidos foram encontrados 11 cistos. Do total de cistos recuperados, 47,54% eram vivos e 52,45% estavam caseosos ou calcificados. O trabalho acima mostra que os métodos de pesquisa de rotina de cisticercose é falho, portanto existe a possibilidade de carcaças infectadas serem aprovadas para o consumo, como o presente trabalho em Sergipe usou o método de pesquisa convencional a incidência de cisticercose pode ser maior que o resultado encontrado. Os 2.453 suínos abatidos no matadouro-frigorífico no Estado de Sergipe tiveram sua origem em granjas tecnificadas, essas granjas apresentam estruturas que garantem uma segurança sanitária adequada. Na pesquisa desenvolvida no período de janeiro á agosto de 2008 não foi detectado a presença de cisticercos nas carcaças. Com esse resultado é possível afirmar que as modernas técnicas de comercialização, criação e abate garantem a segurança do alimento (tabela 2). TABELA 2- Prevalência de cisticercose em carcaça suína no estado de Sergipe, no período de janeiro a agosto de 2008. MÊS/2008 NÚMERO DE ANIMAIS ABATIDOS NÚMERO DE ANIMAIS COM CISTICERCOS Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto 306 305 315 273 314 322 307 311 0 0 0 0 0 0 0 0 A criação de suínos em fundo de quintal é uma problemática muito grave para saúde pública. Em uma pesquisa realizada por (GOTTSCHALK, 2006) onde de um total de 551 suínos pesquisados, 113 foram soropositivos para anticorpos antimetacestóides de T. 23 solium pela prova de ELISA indireta, obtendo-se uma soroprevalência de 20,5% sendo essa região considerada endêmica. A região de criação em fundo de quintal, o índice de cisticercose é muito elevada devido a condições higiênicas inadequadas, já nas criações tecnificadas a prevalência de cisticercose, como já foi visto, foi de 0% de casos. Em uma pesquisa realizada por Alves (2000), onde os frigoríficos A e B são do Serviço de Inspeção Federal e cada um abateu respectivamente 525.000 e 250.000 suínos; os frigoríficos C e D são de são do Serviço de Inspeção Estadual, cada um abateu respectivamente 9.024 e 875 suínos, todos localizados no Vale do Jataí – SC totalizando 784.899 animais abatidos. Nesse trabalho foi observado que apesar do grande número de animais pesquisados, não foram encontrados animais positivos para cisticercose. Cabe salientar que todos esses animais independentes do tipo de inspeção, tiveram sua origem em granjas tecnificadas, com boas instalações, higiene e manejo (ALVES, 2000). O trabalho acima citado mostrou o mesmo resultado da presente monografia, com ótimos resultados, demonstrando que essa enfermidade pode ser controlada. Em suma, a criação intensiva de suínos garante a segurança e qualidade da carne para consumo, pois: a) impede o contato entre os animais e os dejetos humanos; b) é alvo da vigilância e inspeção oficial de carcaças como o (S.I.F), (S.I.E) e (S.I.M); respeita padrões internacionais de produção e comercialização da carne (ALVES, 2000). Segundo Silva et al (2007) em uma pesquisa realizada no município de BatalhaCE durante o período de 6 de março a 7 de abril de 2004. A inspeção das carcaças de 85 suínos revelou que quatro animais (4,7%) apresentaram cisticercos, todos provenientes de criações classificadas como chiqueiro. Das quatro carcaças parasitadas, três (75%) apresentaram cisticercos em todos os músculos inspecionados e uma, somente no coração. Nelas observaram-se 58 cisticercos. A língua, o coração e o pernil foram os locais de maior quantidade desse parasito (64% do total). O trabalho acima mostrou que a maior incidência de infecção por cisticercose são os locais de inspeção de rotina com exceção do pernil, este resultado mostra que a inspeção nos locais de rotina são insuficientes para garantir a segurança alimentar e mostra que criação de suínos em fundo de quintal aumentam as chances de infecção dos animais por cisticercose. Em relação à prevalência de cisticercose suína em Sergipe, não se pode dizer que não existe risco a saúde pública, pois existem abates clandestinos e matadouros municipais que funcionam sem inspeção, além de varias criações de suíno de fundo de quintal. 24 6 CONCLUSÃO A espécie animal com maior prevalência de cisticercose foi o bovino com apenas 0,05% dos 28.020 animais abatidos. O único local onde foi encontrado cisticercose no bovino foi o coração, porém todos foram considerados inviáveis ou calcificados. A prevalência de cisticercose no Estado de Sergipe está aparentemente controlada, pois apresentou baixo índice de cisticercos nas carcaças, porém esses resultados podem não revelar a realidade devido à existência de abates clandestinos e funcionamento de vários matadouros municipais em condições precárias e sem inspeção permanente. Uma medida de grande importância para profilaxia dessa enfermidade é o extenso e permanente trabalho informativo e educativo, principalmente para população carente, noções básicas de higiene e dos principais meios de contaminação. 25 REFERÊNCIAS ACHA, P.N.Y; SZYFRES, B. Teniasis y Cisticercosis n: Zoonosis y enfermedates transmissibles comins AL hombre y a los animales comins al hombre y a los animales. Washington: Organizacion Panamericans de la Sauld, p. 763-74, 1989. AGAPEJV, S. Aspectos clínicos – epidemiológico da neurocisticercose no Brasil: Análise crítica. Arq. Neuropsiquiatria, 2003, p. 822-828. ALVES, L. A. 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