XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA ZOOTEC 2015 Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015 Avaliação do bem estar de frangos de corte durante a apanha, o transporte e o desembarque para o abate na mesorregião de Belém do Pará¹ Evaluation of welfare from broilers during the capture, the transport and the landing to the slaughter in the mesorregion of Belém, Pará 1°Silas Santiago Rodrigues Filho2, 2°Valdelice de Lourdes Corrêa Pinheiro3, 3°Andrea Viana da Cruz4, 4°Rosa Maria Souza Santa Rosa5, 5°Carissa Michelle Goltara Bichara5, 6°Fernando Elias Rodrigues da Silva5 1 Parte do Estágio Supervisionado do primeiro autor. Mestrando do Programa de Saúde e Produção na Amazônia, Universidade Federal Rural da Amazônia, bolsista Capes. 3 Médica Veterinária Residente em Inspeção Higiênico-Sanitária de Produtos de Origem Animal, Universidade Federal Rural da Amazônia, bolsista MEC. 4 Graduanda em Zootecnia pela Universidade Federal Rural da Amazônia. Email: [email protected] 5 Docentes da Universidade Federal Rural da Amazônia 2 Resumo: O Brasil é o terceiro maior produtor de carne de frango do mundo, respondendo por 12,64% da produção. Os esforços da avicultura brasileira devem ser direcionados para a redução das perdas ao longo do processo e isso deve ser feito com mudanças no processo produtivo pautadas no contexto de bem estar animal. Este estudo objetivou identificar as etapas e os fatores que indicam a ausência de bem estar animal, durante o manejo, o transporte e o desembarque de frangos de corte para um matadouro frigorífico localizado na mesorregião de Belém do Pará. Foram estudadas duas granjas, uma localizada em Santa Bárbara do Pará e outra em Santo Antônio do Tauá. Avaliou-se as etapas de apanha, engradamento e carregamento. A equipe da apanha nas duas granjas era composta por 12 indivíduos do sexo masculino. A granja A realizou o método de apanha pela asa, enquanto que a granja B utilizou dois métodos: pela asa e pelo pescoço. Os frangos eram transportados em caminhões até o matadouro frigorífico e neste ocorriam as etapas de engradamento e carregamento. Foram identificados três frangos mortos na chegada procedentes da granja A, porém não foram observadas condenações por contusões e fraturas. Em relação a granja B, foram identificados 43 frangos mortos no total e 4 condenações por fratura na asa. Diante desses resultados, é importante destacar a necessidade de investimento em capacitação e treinamento das equipes que realizam o pré-abate. Abstract: Brazil is the third largest chicken meat producer in the world with 12.64% of the production. The Brazilian poultry industry effort should be directed to the reduction of losses in the process and this must be done with changes grounded in the animal welfare context. This study aimed to identify the steps and factors that indicate the absence of animal welfare during the handling and transport of broilers to the slaughter in the mesorregion of Belém, Pará. It was studied two farms located in Santa Bárbara do Pará and Santo Antônio do Tauá. It was analyzed the steps of capture, lairage and loading. The capture team was formed by 12 men. The farm A performed the method of catching by the wing while the farm B performed it by the wing and by the neck. The chickens were transported by truck to the slaughterhouse and at the truck it was performed the steps of lairage and loading. It was identified three dead chickens from the farm A on arrival, but it was not observed convictions for bruises and fractures. In relation to the farm B it was identified 43 dead chicken in total and 4 convictions for wing fracture. From these results, it is important to highlight the need for investment in capacity and training of teams who perform the pre-slaughter. Palavras–chave: avicultura, manejo pré-abate, produção Keywords: aviculture, pre-slaughter management, production Introdução A avicultura é um setor de fundamental importância para a economia brasileira. O Brasil é o terceiro maior produtor de carne de frango do mundo, respondendo por 12,64% da produção. Uma das preocupações mais urgentes da avicultura brasileira refere-se às perdas ao longo do processo. Assim, os esforços devem ser direcionados para a redução dessas perdas e isso deve ser feito com mudanças no processo produtivo pautadas no contexto de bem estar animal (Petracci et al., 2010). Página - 1 - de 3 XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA ZOOTEC 2015 Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015 Segundo Chauvin et al. (2010), o bem estar de um indivíduo é o seu estado em relação às tentativas de se adaptar ao seu ambiente. Lesões nas carcaças, estresse fisiológico e elevados índices de mortalidade estão associados principalmente ao manejo pré-abate e ao transporte das aves como consequência do desrespeito ao bem estar animal. Tendo em vista isso, o objetivo do presente estudo foi identificar as etapas e os fatores que indicam a ausência de bem estar animal, durante o manejo e o transporte de frangos de corte para um matadouro frigorífico na mesorregião de Belém do Pará. Material e Métodos Este trabalho foi desenvolvido em duas granjas, denominadas como granja A e B localizadas em Santa Bárbara do Pará e em Santo Antônio do Tauá respectivamente, e em um matadouro frigorífico registrado no Serviço de Inspeção Estadual com o número 022, localizado no município de Benevides – Pará. Este estudo destacou a apanha, o engradamento e o carregamento. Na granja A, acompanhou-se as operações pré-abate no horário compreendido entre 7 h às 9 h, e na granja B entre 1 h às 6 h. Não houve o acompanhamento na etapa de abate das aves, somente foram avaliados os dados fornecidos pela Agência Estadual de defesa Agropecuária do Estado do Pará (ADEPARÁ) sob a mortalidade na chegada. Resultados e Discussão Em ambas as granjas notou-se a presença de ventiladores, exaustores e lonas para o controle da ventilação, o que é importante para as aves, visto que estas não se adaptam aos extremos de temperatura. De acordo com Rocha et al. (2008), entre todas as operações pré-abate, a apanha é a que mais gera estresse e injúria física as aves, consequentemente, acarretando maior prejuízo. A equipe da apanha nas duas granjas era composta por 12 indivíduos do sexo masculino. Na granja A, antes de realizada a apanha, era feita a contenção dos animais com o auxílio de placa de compensado, diminuindo a zona de fuga e evitando a aglomeração dos mesmos. Além disso, os bebedouros e comedouros eram suspensos para evitar a ocorrência de acidentes com a equipe. Tal prática não foi observada na granja B. Foi observada apenas uma apanha na granja A (com início às 7h28) e três na granja B (a 1ª com início das atividades às 2h10, a 2ª às 3h08 e a 3ª às 3h55). Foram utilizados sacos de ráfia para a colocação dos frangos, o que está em desacordo com as normas do bem estar, segundo a qual estas deveriam ser agrupadas com o auxílio de gaiolas de transporte (Aristides et al., 2007). Na granja A, o método de apanha realizado foi pela asa, enquanto que na granja B, utilizaram-se dois métodos: pela asa e pelo pescoço. Estes métodos não são recomendados pela União Brasileira de Avicultura e sim o método da apanha pelo dorso. No momento da apanha, observou-se que os animais vocalizavam bastante e se aglomeravam indicando desconforto. No caminhão ocorreram concomitantemente as etapas de engradamento e carregamento. Os engradados encontravam-se higienizados, o que diminui o risco de contaminação cruzada e em boas condições, oferecendo segurança para a operação e evitando injúria as aves. Porém, os frangos eram transferidos para dentro dos engradados de forma abrupta, com uma densidade de seis frangos por engradado. A densidade de aves por caixa é definida conforme o peso médio das aves e a estação do ano. No entanto, o excesso de aves por caixa (acima de oito aves), interfere nas trocas térmicas das aves, aumentando o estresse térmico do lote (Petracci et al., 2010). Após o carregamento foi realizado o transporte dos frangos até o matadouro frigorífico. Como a granja A localizava-se à 15 km do matadouro frigorífico, a viagem foi concluída em 25 minutos, com saída às 8h20. Da granja B até o matadouro, a distância era de 40 km, considerada relevante para o trajeto com os animais. Por isso, todos os dias em que se realizavam a apanha, fez-se em horários em que o clima encontrava-se ameno, iniciando às 00h e terminando às 6h, o que reduz o estresse térmico e diminui a mortalidade na chegada. A viagem teve duração média de uma hora. Após a chegada ao estabelecimento, os caminhões passavam pela balança, eram pesados e a carga identificada. Por conseguinte, o veículo era estacionado e a carga molhada por jatos d’água. Depois, o caminhão era direcionado para o galpão de espera. A área de descanso possuía ventiladores para proporcionar o bem estar, removendo o calor de dentro dos engradados e oferecendo uma boa circulação de ar a fim de evitar que as aves sofressem estresse térmico ou viessem ao óbito devido ao calor excessivo. O caminhão originário da granja A chegou ao matadouro às 8h45, entretanto, o abate só ocorreu por volta das 14h. Os animais que se encontravam no caminhão estavam expostos à desidratação, pois encontravam-se em jejum prolongado, além das 3 h recomendadas (Rui et al., 2011). Página - 2 - de 3 XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA ZOOTEC 2015 Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015 A mortalidade na chegada foi obtida do mapa mensal referente ao abate do mês de junho de 2013. Foram identificados três frangos mortos na chegada procedentes da granja A, porém não foram observadas condenações por contusões e fraturas nos animais procedentes dessa granja. Em relação a granja B, foram identificados 16 frangos mortos na chegada do primeiro caminhão. Observou-se um frango com condenação por fratura na asa. Do segundo caminhão foram identificados 13 frangos mortos na chegada, sem serem observadas contusões e fraturas. Foram identificados 14 frangos mortos na chegada do terceiro caminhão e em relação às condenações por contusões e fraturas, foram observados três frangos com fratura na asa. O maior índice de mortalidade da granja B se deve, possivelmente, ao maior trajeto percorrido, que propicia maior contato das aves com os fatores estressantes (Abreu & Abreu, 2011). Conclusões O método de apanha realizado nas granjas não é o recomendado pelos autores citados neste trabalho. O engradamento e carregamento foram feitos de forma abrupta. Os frangos foram dispostos de forma rápida, vocalizaram bastante e não foram identificados cuidados mínimos em relação ao bem estar dos animais. Porém, respeitou-se o tamanho e a quantidade de frangos por engradados nas duas granjas. Os animais da granja A esperaram muito tempo até serem abatidos, o que contribui para o desconforto dos animais e a perda de peso devido ao jejum. Devido à granja B ser distante do matadouro, as apanhas foram realizadas nos horários com temperaturas mais amenas para promover um transporte com maior bem estar, evitando o estresse térmico ao qual as aves são susceptíveis. É importante destacar a necessidade de investimento em capacitação e treinamento das equipes que realizam o pré-abate. Literatura citada ABREU, V.M.N.; ABREU, P.G. Os desafios da ambiência sobre os sistemas de aves no Brasil. Revista Brasileira de Zootecnia, v.40, n.256, p. 1 – 14, 2011. ARISTIDES, L.G.A.; DOGNANI, R.; LOPES, C.F.; SILVA, L.G.S.; SHIMOKOMAKI, M. Diagnóstico de condenações que afetam a produtividade da carne de frangos brasileira. Revista Nacional da Carne, v.22, n.368, p. 22 – 28, 2007. CHAUVIN, C.; HILLIONS, S.; BALAINE, L.; MICHEL, V.; PERASTE, J.; PETETIN, I.; LUPO, C.; LE BOUQUIN, S. Factors associated with mortality of boilers during transport to slaughterhouse. The Animal Consortion, v.2, n.5, p. 287 – 293, 2010. PETRACCI, M.; BIANCHI, M.; CAVANI C. Pre-slaughter handling and slaughtering factors influencing poultry product quality. World’s Poultry Science Journal, v.10, n.66, p.17 – 26, 2010. ROCHA, J.S.R.R.; LARA, L.J.C.; BAIÃO, N.C. Produção e bem estar animal: Aspectos éticos e técnicos da produção intensiva de aves. Ciência Veterinária nos Trópicos, v.11, n.30, p. 49 – 55, 2008. RUI, B.R.; ANGRIMANI, D.R.S.; SILVA, M.A.A. Pontos críticos no manejo pré-abate de frangos de corte: jejum, captura, carregamento, transporte e tempo de espera no abatedouro. Revista Ciência Rural, v.10, n.25, p. 28 - 32, 2013. Página - 3 - de 3