11 a 14 de dezembro de 2012 – Campus de Palmas AVALIAÇÃO MACROSCÓPICA E MICROSCÓPICA DAS LESÕES VISCERAIS EM MATADOURO/FRIGORÍFICO NA REGIÃO DE ARAGUAÍNA-TO Melo Junior, L. M.1; Ramos, A. T.2 1 Aluno do Curso de Medicina Veterinária; Campus de Araguaína; e-mail: [email protected] “PIBIC/UFT” 2 Orientador do Curso de Medicina Veterinária; Campus de Araguaína; e-mail: [email protected] RESUMO O presente estudo teve por objetivo o acompanhamento de lotes de matadouros regionais, relacionando o aparecimento de lesões com dados epidemiológicos como: raça, sexo, idade e origem dos animais, de forma a determinar os agentes causadores de tais lesões. Sendo realizado através de analises de 181 amostras de órgãos condenados pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF) em frigorífico/matadouro na microrregião de Araguaína-TO, em que acompanhou-se lotes completos de bovinos provenientes de municípios da região norte do estado do Tocantins. O material obtido foi identificado e classificado conforme a patogenia em: idiopática, multicausal, infecciosa, parasitária, não-lesão e tecnopatia. Para as lesões de origem infecciosa foi empregado o exame microbiológico para determinação do agente agressor. Pela classificação etiológica, as lesões parasitárias foram as de maior expressividade, acometendo principalmente o intestino. Neste mesmo sentido, o fígado foi o órgão de maior índice de condenação (45,9%), apresentando principalmente abscesso hepático, sendo lesão comum em vários municípios, com exceção de Araguanã. O cultivo em Agar sangue das amostras de fígado permitiu o crescimento de: Aspergillus sp, presente em 58,3% das amostras; Enterobacter sp, 50,0%; Escherichia coli, em 16,7%; Pasteurella sp, Streptococcus sp, Enterococcus sp e Pinicillium sp presente em 8,3%. Palavras-chave: Inspeção; condenação; etiologia; microbiologia. INTRODUÇÃO A intensificação na produção de carne bovina tem gerado grandes mudanças na pecuária brasileira, resultando em crescimento da atividade, consolidando o Brasil no mercado internacional de carnes (ABIEC, 2008). Tornando o segundo maior produtor de carne bovina do mundo (CNPC, 2010). Por outro lado, a região norte do Brasil apresentou-se no ano de 2010 com um rebanho de bovinos próximo a 37 milhões de cabeças, sendo responsável por 16,4% dos bovinos abatidos no Brasil. O estado do Tocantins apresentou-se como terceiro maior 11 a 14 de dezembro de 2012 – Campus de Palmas produtor da região, com efetivo próximo a 7 milhões de cabeças, abatendo cerca de 1,2 milhões de animais (ANUALPEC, 2010). Frente à importância da pecuária no âmbito regional, nacional e internacional, faz se necessário o conhecimento das patologias que acometem os bovinos da região norte do estado do Tocantins, bem como mapear os municípios de maior incidência. Melo Junior & Ramos (2011) apontaram como principais causas de condenações de fígados a cirrose, abscesso e teleangiectasia, sendo esses classificados de acordo com sua etiologia em multicausal, infecciosa e idiopática, respectivamente. Condenações dadas como multicausal podem ter origens variadas, necessitando de exames complementares como a análise microscópica, cultura e isolamento microbiológico dos agentes para sua possível identificação. Pela necessidade de produção de carne bovina de qualidade, é desejável a padronização dos tipos de lesões, para que os auxiliares da linha de inspeção tenham maior segurança na avaliação dos órgãos e carcaças, conferindo destino confiável aos mesmos. No mesmo sentido, a determinação das áreas com maiores incidências de animais acometidos por processos mórbidos pode permitir a elaboração e adoção de medidas que visem minimizar sua ocorrência. Neste sentido, o presente trabalho teve por objetivo o acompanhamento de lotes no matadouro, relacionando o aparecimento das lesões com dados epidemiológicos como: raça, sexo, idade e origem dos animais e classificação das lesões quanto à patogenia. MATERIAL E MÉTODOS As amostras para o presente estudo foram obtidas de órgãos e visceras condenadas por processos morbidos, de bovinos abatidos nos frigoríficos/matadouros da microrregião de AraguaínaTO, em três indústrias sob regime do SIF. As amostras foram condenadas por profissionáis da linha de inspeção por avaliação macroscópica, seguindo critérios de coloração, textura e forma dos órgãos. As coletas foram realizadas semanalmente em sistema de rodízio, acompanhando lotes completos, de forma a identificar os municípios de origem, sendo coletados fragmentos de todos os órgãos e visceras lesiondos, com excessão de condenações por contaminação. Os processos infecciosos foram encaminhados ao Laboratório de Microbiologia Alimentar, para isolamento e cultivo em Agar sangue. As amostras obtidas foram encaminhadas ao Laboratório de Patologia Animal da Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia (EMVZ) da Universidade Federal do Tocantins (UFT), onde foram processadas para coloração de hematoxilina/eosina. Sendo então classificadas de acordo com sua 11 a 14 de dezembro de 2012 – Campus de Palmas patogenia em: idiopática, onde a causa é desconhecida; multicausal, onde a causa não pode ser determinada; infecciosa, apresentando infiltrado inflamatório de causa indefinida; parasitária, sendo a lesão proveniente da ação de parasitas; tecnopatia, lesões resultante do processo de abate; não-lesão, sem alteração patológica. A indústria frigorífica informou a procedencia, a quantidade abatida e o sexo dos animais, sendo feito uma análise quantitativa dos dados. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram obtidas 181 amostras de órgãos e vísceras de bovinos condenados pelo SIF, provenientes de municípios da microrregião de Araguaína-TO. Acompanhado o abate de 17 lotes de bovinos, totalizando 604 animais, onde 87,08% (526/604) eram machos e 12,91% (78/604) fêmeas. Os lotes acompanhados eram dos municípios de Araguaína, Araguanã, Arapoema, Bernardo Saião, Pequizeiro, Piraquê, Santa Fé do Araguaia e Xambioá. De acordo com a análise etiológica, as lesões parasitárias foram as de maior expressividade, representando 29,83% das condenações. Já as ocorrências idiopáticas, infecciosas e multicausal representaram 22,65%, 2% e 14,9%, respectivamente. Ao confrontar estes resultados com os apresentados por Melo Junior e Ramos (2011) observa-se elevação nas condenações por ocorrência parasitária (16,54%) e processos idiopáticos (16,91%). Quantitativamente o intestino aparece com maior ocorrência de lesões, acometido por Oesophagostomum spp, com 28,8% (52/181), apresentando maior prevalência no início do período chuvoso. Na avaliação microscópica foram detectados quadros de enterite em grau moderado a acentuado em todas as amostras, estando relacionado ao manejo sanitário e controle parasitário ineficaz, presente em 62,5% dos municípios listados, uma vez que, Araguanã (13/52 – 25%) e Santa Fé (23/52 – 44,23%), foram às localidades com maior índice de infestação deste parasita. As lesões hepáticas representam 45,9% (83/181) das causas de condenação pelo SIF, sendo que destas 36,14% (30/83) foram lesões de origem infecciosa, onde o principal achado foi abscesso hepático (22/30 – 73,3%), lesão comum em vários municípios, com exceção de Araguanã. Estes valores são superiores aos descrito por Mendes e Pilati (2007) relatando frequência de 18% de condenação por abscesso hepático. A avaliação microbiológica foi empregada em 15 amostras de processos infecciosos, tendo 12 fígados acometidos por abscesso, 2 rins lesionados por nefrite e 1 pulmão diagnosticado com abscesso. O cultivo em Agar sangue das amostras de fígado permitiu o crescimento de: Aspergillus sp, presente em 58,3% (7/12) das amostras; Enterobacter sp, observada em 50,0% (6/12); 11 a 14 de dezembro de 2012 – Campus de Palmas Escherichia coli, vista em 16,7% (2/12); Pasteurella sp, Streptococcus sp, Enterococcus sp e Pinicillium sp presente em 8,3% (1/12). Nos rins foi identificado Enterobacter sp, e no pulmão com abscesso foi visualizado Leveduras e Aspergillus sp. Os abscessos hepáticos são geralmente relacionados às ruminites em quadros de acidose ruminal, instalando de forma ascendente, que acomete animais de todas as idades e sexo (NORONHA FILHO, 2011). Nacaraja e Lechtenberg (2007) relatando isolamento Corynebacterium pyogenes, Pasteurella sp, Sthaphylococcus sp e Streptococcus sp, como agentes causadores dos abcessos hepáticos, corroborando com os dados obtidos no presente estudo. Por outro lado a alta prevalência de órgãos lesionados por fungos como Aspergillus sp e leveduras, são compreendidas pelos achados de McGavin e Zachary (2009), onde é descrito a ocorrência de ruminites micóticas, originadas por fungos do gênero Aspergillus sp. Lima et al. (2007) relata a frequência de condenação por cirrose hepática de 0,75%, observando elevação considerável nestes percentuais para este estudo (4,3% - 26/604). Por ser uma lesão crônica de causas variadas seu diagnóstico é pouco provável (BARROS, 2011), estando presente em 7/8 dos municípios avaliados, sendo o município de Piraquê o de maior número de perdas de fígados (9/26). LITERATURA CITADA ABIEC. Disponível em: http://www.abiec.com.br. Acesso em: 14 dez. 2008. ANUALPEC: Anuário da Pecuária Brasileira. São Paulo, FNP Consultoria & Agroinformativos, 2010. BARROS, C. S. L. Patologia Veterinária – Fígado, vias biliares e pâncreas exócrino. São Paulo: Roca, 2010. CNPC – Conselho Nacional da Pecuária de Corte. Balanço da pecuária bovídea de corte. Site corporativo. Disponível em http://www.cnpc.org.br Acesso em 16 de fev. 2010. LIMA, M. F. C.; SUASSUNA, A. C. D.; AHID, S. M. M.; FILGUEIRA, K. D. Análise das alterações anatomopatológicas durante a inspeção Post mortem em bovinos no abatedouro frigorífico industrial de Mossoró, Rio Grande do Norte. Ciência Animal, 17(2):113-116, 2007. McGAVIN M.D. & ZACHARY J.F. Bases da Patologia em Veterinária. 4º Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. MELO JUNIOR, L. M.; FRANÇA JUNIOR, A. A.; MILHOMEN, A. B.; MARIANO DE SOUSA, D. P.; BARBOSA, S. M.; MARUO, V. M.; RAMOS, A. T. Avaliação microscópica das alterações 11 a 14 de dezembro de 2012 – Campus de Palmas encontradas em órgãos de bovinos em frigoríficos na região de Araguaína-TO. 15° Encontro Nacional de Patologia Veterinária, Goiânia, Brasil, 2011. MELO JUNIOR, L. M.; RAMOS, A. T. Implicações das lesões encontradas em matadouros/frigoríficos na região de Araguaína-TO, Brasil. 7° Seminário de Iniciação Científica da Universidade Federal do Tocantins, Palmas, 2011. MENDES, R. E.; PILATI, C. Estudo morfológico de fígado de bovinos abatidos em frigoríficos industriais sob inspeção estadual no Oeste e no Planalto de Santa Catarina, Brasil. Ciência Rural, Santa Maria, v.37, n.6, p.1728-1734. 2007. NACARAJA, T. G.; LECHTENBERG, K. F. Liver abscess in feedlot cattle.Veterinary Clinics Foof Animal, n. 23, p. 351-369, 2007. NORONHA FILHO, A. D. F. Acidose ruminal bovina. Universidade Federal de Goiás. Goiânia, 2011. AGRADECIMENTOS O presente trabalho foi realizado com o apoio da UFT. O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq – Brasil (Processo CNPq: 481601/2010-4)"